gestação; no período pós-natal, na infância, na adolescência, na idade adulta e no processo de envelhecimento.
O exercício físico aumenta o número de neurônios numa região do cérebro chamada hipocampo, que abriga as chamadas células-tronco, que possuem a capacidade de diferenciação e de autorrenovação, podendo dar origem a uma variedade de tipos teciduais.
A produção de novos neurônios ocorre durante toda a vida, sendo mais proeminente na fase inicial e menor nas fases mais tardias. Podemos notar que tudo que acontece nas outras fases da vida também acontece no envelhecimento. Na velhice, o indivíduo não perde a capacidade de adaptação. Mesmo apresentando alguma deficiência motora, visual ou auditiva, não se perde a capacidade de tornar o cérebro plástico de forma positiva. Portanto, estímulos físicos e cognitivos contribuem em todas as fases da vida para a saúde cerebral.
Para se ter uma ideia da influência do movimento constante do corpo ou de atividades motoras programadas, sempre que uma informação é enviada de uma área motora cerebral para o músculo contrair, outras áreas não motoras são ativadas também. Assim, várias áreas cerebrais são ativadas durante um estímulo motor ou cognitivo.
Antigamente, acreditava-se que todos os benefícios para a saúde cerebral induzidas pelo exercício físico ocorriam pela ação de substâncias liberadas no próprio cérebro, melhorando as conexões entre os neurônios e fortalecendo essas comunicações. Hoje sabemos que essas alterações plásticas ocorrem não somente por meio da ativação dessas substâncias no sistema nervoso central, mas também ativando substâncias de órgãos periféricos.
Entre as substâncias liberadas durante a contração muscular estão as miocinas (miokynes). Elas são liberadas na corrente sanguínea e chegam ao sistema nervoso central, estimulando fatores neurotróficos que aumentam a formação de novas células, vasos sanguíneos e outras funções celulares, contribuindo assim para maior neuroplasticidade. Essa comunicação entre cérebro e músculo é chamada de cross-talking. Nesse sentido, qualquer exercício físico, como caminhada, corrida, ou diferentes atividades esportivas, é benéfico para a saúde cerebral e a neuroplasticidade. Não somente os exercícios físicos, mas também os exercícios cognitivos, como ler, fazer palavras-cruzadas, assistir a um filme, aprender algo ou realizar outros tipos de atividade intelectual.
Podemos dizer que uma pessoa que se exercita aprende mais? O que acontece é que a atividade física regular prepara o cérebro para você absorver melhor as informações. O exercício físico estimula áreas do cérebro relativas à memória, melhorando a cognição.
Um estudo nos Estados Unidos mostrou que crianças apresentavam melhor desempenho acadêmico após uma caminhada de vinte minutos em relação as que não tinham se exercitado. Realizar atividades rotineiras de maneira não tradicional também pode colaborar para a melhora da função cerebral.
Vale lembrar que quanto mais ativa a pessoa e quanto mais estímulos externos receber, maior será o grau de plasticidade. Descer uma rampa, rolar, dar cambalhotas, ou realizar atividades motoras lúdicas estimulam áreas sensoriais, motoras e cognitivas. Atividades esportivas que exigem planejamento, tática, técnica e antecipação ativam
muitas áreas cerebrais, liberando mais substâncias, como fatores neurotróficos, neurotransmissores e outras moléculas.
Em uma pesquisa com os atletas olímpicos de judô, foi observado o aumento significativo de uma proteína chamada de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), maior do que o obtido com uma corrida em esteira. Essa proteína está relacionada a vários aspectos da neuroplasticidade, como o de sobrevivência e crescimento neuronal e o da modulação de neurotransmissores, essenciais para o aprendizado e a memória, entre outras funções. Atividades motoras, como a dança, exercem efeitos similares. A dança é uma das formas mais primitivas de comunicação e expressão humana. Dançar envolve perceber e atuar: quando alguém ouve música, seu compasso é marcado com dedos, mãos, pés, corpo ou internamente. Essa inerente inclinação para a sincronização inconsciente é a essência da dança, através da confluência de movimentos, ritmos e representações emocionais e gestuais. A combinação de exercícios físicos e o enriquecimento sensorial durante a dança, como a integração de informações sensoriais e controle motor, tem sido sugerida para induzir estímulos cerebrais positivos ampliados em relação àqueles conseguidos em atividades físicas que exigem menos do nosso cérebro.
Ainda, o meio em que a pessoa se encontra vai influenciar a forma como ela se movimenta. Se a pessoa está sempre no mesmo local com poucos estímulos, ela vai se acomodando em sua resposta motora. Dessa forma, atividades como manipular objetos, cuidar do jardim, cozinhar ou realizar diferentes tarefas, influenciam positivamente neste contexto. Vale ressaltar que, no processo de envelhecimento, é muito importante que se busque um estilo de vida mais ativo que contribua para uma melhor qualidade de vida. Ter o aparelho locomotor em atenção representa um saldo bastante positivo na saúde física e mental.
Conclusão: manter o corpo ativo e praticar atividades físicas em todas as idades prepara o cérebro para ser mais resiliente ao comprometimento cognitivo e, consequentemente, nos protege de eventos estressantes, prevenindo ou minimizando diversas doenças neurológicas.