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bienal TlaífS do braSil Guia do aprendiz de arte naíf


bienal TlaífS do bra i Guia do aprendiz de arte naíf 19 de agosto 112 de dezembro | 2010


O homem sonha e a obra nasce, disse certa vez o poeta português Fernando Pessoa. Mas para que a obra e a arte aconteçam, além de uma boa dose de sonho e imaginação, o artista precisa saber misturar:

pensar sobre o seu dia-a-dia, sobre suas crenças, sobre seu país e realizar a pintura. Povoar a tela de figuras e paisagens de um novo mundo que as cores invadem e transformam.

Neste caderno, estão algumas reproduções destas obras e experiências para você pensar e conhecer a arte Naif e a cultura popular brasileira.

Repare na intensidade das formas e cores, nos traços. Aproveite a impressão deste mundo dos sonhos; às vezes, o que parece fantástico para você é a história da vida dos artistas contada de maneira diferente.

Conte a sua também. Bem vindo à arte Naif!

SESC São Paulo


ARTE NAÍF: ESPONTÂNEA E LIVRE A criação artística acompanha o homem desde a sua origem, como um

fazer vital e presente em qualquer época e lugar. Riscar, pintar, esculpir,

desenhar, modelar: são tantas as possibilidades de expressão e tantos os resultados que a arte passou a ser classificada por estilos, técnicas,

culturas e linguagens. Arte Barroca, Rococó, Acadêmica, Popular, Naífe tantas outras: cada termo explica um pouco as características especiais que acompanham as obras, como uma maneira de entendermos melhor esta particularidade humana de comunicar através de cores,

formas e sons.

No caso da arte naTf esbarramos primeiro nesta pequena palavra, estranha para o brasileiro. Você sabe o que é naTf e qual a sua origem? Pois ela vem da França e significa ingênuo, espontâneo ou natural. Foi

usada para um tipo de pintura feita sem as regras que aprendemos nas academias e escolas de arte. Os artistas, neste caso, desenvolvem o seu jeito próprio de criar, livres para compor aquilo que sentem vontade.

O artista naTf prefere os temas comuns, como as paisagens de sua terra, as figuras religiosas, as festas populares, as lendas, os mitos e as notícias de jornais. Eles são parecidos com os contadores de histórias, mas, ao invés de contá-las ou cantá-las com o violão, eles narram através da pintura. Assim, somos convidados a perceber as coisas do mundo sob o olhar dos artistas, onde os significados são transmitidos não por palavras, mas por cores, traços, pontos e texturas.

Oh meu Deus! Iwao Nakajima


Oh meu Deus! Iwao Nakajima

Como alguém que registra a rotina das pessoas à sua volta de maneira espontânea, o artista naif parece muitas vezes com o jornalista. Observe a imagem: o que está acontecendo ali? O que as personagens estão fazendo? Há movimentação ou a cena é tranquila?

Repare que a enchente, que é comum em várias regiões brasileiras, foi retratada como um problema, mas com certo tom de suavidade. Há nesta obra alguns elementos que quebram um pouco a seriedade do assunto, mostrando um pouco de humor até nas dificuldades: bóias, prancha de surf e tartaruga, por exemplo. As expressões nos rostos revelam uma mistura de medo e diversão. Outras coisas nâo sâo tâo óbvias e estio um pouco escondidas. Observe atentamente a obra e siga as pistas abaixo:

1. Qual seria a cidade representada na imagem? 2.0 que o artista coloca como engraçado ou irônico no meio da confusão? 3. Que atitude simples poderia evitar esta situação?

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Resistindo à Modernidade Marcelo Schimaneski

Vamos tentar descobrir o que pode nos contar um quadro? Diferente de muitas

pinturas naTfs, nesta podemos perceber o uso da perspectiva tanto nas casas, que vão ficando menores para dar a ideia de distância, quanto na rua, que é o eixo central do quadro e nos faz um convite para entrar na cena e fazer parte dela. Outra coisa chama a atenção neste quadro: você reparou quantos meios de transporte

estão representados? Há helicóptero, carros, moto, bicicleta, carroça e skate. Cada um deles nos leva a uma diferente direção, como se estivessem se movendo de verdade

e nós também, através de nossos olhos que acompanham este movimento. Há ainda outros elementos relacionados à locomoção: placas de sinalização, cones, faixa de pedestres e rampas para acesso de pessoas em cadeira de rodas, representando e incluindo mesmo quem não está presente. Algo muito presente nesta pintura é a vida pulsando. Há muita gente nas ruas, as suas casas são coloridas e convidativas com portas e janelas abertas.

Também há muitas coisas acontecendo: pessoas conversando, comendo, trabalhando, etambém animais, flores, pipas... Seria uma resistência à modernidade? Ou esta cidade

representaria a medida certa entre a agitada vida moderna e a vida mais pacata? Já que você foi convidado a “entrar" na obra, pode refletir sobre qual seria a cidade ideal para você. A Sereia da Barra, Clóvis Dias Júnior


A Sereia da Barra Clóvis Dias Júnior

Os mitos e as lendas existem desde que o ser humano passou a criar símbolos e

histórias para explicar aquilo que ele não conseguia entender. Antigamente, ele não sabia de onde vinha a chuva, como o vento funcionava ou por que os rios e os mares

enchiam de vez em quando. Assim, o homem começou a acreditar que existiam seres que controlavam a natureza e que ele poderia se comunicar com estas criaturas.

Observe a imagem: como é o corpo da figura que está no meio da com posição?

Este corpo diría alguma coisa sobre o lugar onde ela mora? As sereias são seres lendários conhecidos em quase todo o mundo, famosas pelo canto suave que atraía pescadores e moradores de beira de rio. Elas guardam os segredos das águas e comandam todos os animais que ali vivem. Você conhece alguma história sobre sereias?

Amanhecer na Fazenda, Miguel Sampaio de Souza e Silva


Amanhecer na Fazenda

Miguel Sampaio de Souza e Silva

Analisando de cima para baixo, podemos perceber os diversos planos nesta pintura: o sol lá atrás, seguido pelo plano onde há uma montanha e água, depois outra montanha

onde está a fazenda, e, mais próximo do espectador, em primeiro plano, ainda outra montanha. Eles também têm relação com as cores que variam do bem darinho ao

verde mais vivo.

O que há de incomum nesta imagem? Primeiro, há um tipo de textura no

céu diferente do que conhecemos, além de ser verde e amarelo. Apesar do dia estar nascendo, o verde faz com que a luz não se faça presente com muita força. Aliás, o

verde não está só do céu, mas presente em toda a paisagem. Este tipo de liberdade é bastante comum na arte naif. No espaço da pintura, as

cores podem ser trocadas, experimentadas, divertidas. Nós reconhecemos a

paisagem, porém, ela só existe na arte, pois a natureza é um pouco diferente.

Doí do Sol, Jacinto Diogo Correia Neto


Boi do Sol

Jacinto Diogo Correia Neto

A primeira coisa que chama atenção nesta pintura é a sua riqueza de detalhes. Quantas cores diferentes você consegue identificar? E as formas, quais imagens são facilmente reconhecidas? A história representada pertence ao nosso folclore e conta um caso curioso sobre um boi de estimação.

Tudo aconteceu por causa do desejo de uma mulher grávida de comer língua de boi.

Seu marido, querendo agradar a amada, resolve matar o de estimação do patrão. Depois, com medo da vingança do rico fazendeiro, o rapaz busca ajuda de feiticeiros

e consegue ressuscitar o boi. Por mais absurda que possa parecer a história do Boi-Bumbá, ela é apenas uma de tantas que dão graça e colorido às nossas tradições. Como no

mundo da arte, tudo é possível nas lendas folclóricas brasileiras.

Brasil e Portugal na Copa de 2010, Helena Maria Costa Rodrigues


Brasil e Portugal na Copa de 2010

Helena Maria Costa Rodrigues

O que vimos nesta copa de 2010 pelas ruas de todo o país foi festa, alegria e celebração,

afinal, o futebol é uma das representações populares mais fortes no Brasil. Repare nesta pintura colorida e com tanta gente. O tema central é o futebol como esporte ou como oportunidade de aproximação entre as pessoas? A esperança de vitória, presente nesta obra é mostrada no contraste entre a expressão

no rosto dos jogadores brasileiros e portugueses. Repare também na torcida: quais

sentimentos parecem bem marcados ali? Onde nós, espectadores e torcedores, estamos em relação ao quadro? O campo de futebol é visto de cima, mas os jogadores são vistos de frente. O que importa aqui, mais do que a representação fiel da realidade, é a atmosfera da jogo. Nos trechos da música “É Uma Partida de Futebol” do grupo Skank, podemos confirmar que este esporte é, para nós brasileiros, muito mais do que um simples jogo:

O tapete da realeza é verde Olhando para bola eu vejo o sol Que coisa linda, é uma partida de futebol Brincadeiras de ontem, Cacilda Aparecida Alves


Brincadeiras de ontem

Cacilda Aparecida Alves

Observando a pintura, quantas brincadeiras você consegue identificar? Qual a relação entre o título e as brincadeiras representadas pelo artista? Há alguma que você não reconhece?

No mundo dos computadores, muitas tradições do passado ficaram adormecidas, até mesmo algumas relacionadas ao ato de brincar. Bolas de gude, escondeesconde, pipas e cirandas: elas fazem parte de sua vida?

Repare que o artista realiza um painel com vários quadros separados, como se quisesse registraromáximodeinformações.Comoumcontadordehistórias.opintornaTftambém nosajudaalembrardascoisas.amantertudovivonamemória.Vamosbrincardequê?

Arcos da Lapa, Ana Beatriz Cerisara


Arcos da Lapa Ana Beatriz Cerisara

O que define a linguagem pintura? Inicialmente, ela é bidimensional, ou seja,

é feita em uma superfície plana que recebe as tintas para compor os temas desejados pelos artistas. Ela também é uma forma de imagem estática, com as cenas parecendo congeladas. Repare que as personagens estão paradas, como em um clique de uma máquina fotográfica. Para que haja a sensação de movimento, o pintor precisa de um toque bastante especial: a imaginação do espectador. Observe os sambistas se divertindo com a música, diante dos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. O bondinho passa neste exato momento, atrás das três personagens.

Este efeito de movimento somente é possível porque nós completamos a obra. Sabemos que a música tocada é agitada e, dependendo de nossa imaginação, conseguimos até

mesmo escutar o batuque. Assim, a pintura consegue ser muito mais que uma tela plana, acionando todos os nossos sentidos.

A noite, Vânia Mignone


A norte

Vânia Mignone

Imagine uma noite comum, do seu dia a dia. Quais as cores mais presentes nela? Apagando todas as luzes as coisas ficariam escuras, quase pretas? Agora, observe a imagem, cujo tema é a noite. O que aparece de estranho na composição? Primeiro, a artista nos mostra o título escrito no quadro e percebemos que somente na arte uma

noite vermelha seria possível. Além da escrita, quantos elementos você identifica na obra? O que faz a personagem? Observe que mesmo sendo um quadro quase inteiramente vermelho, não vemos a linha

do horizonte. Assim, perdemos a noção mais real de espaço, como se estivéssemos no escuro.

A arte naif geralmente mostra quadros com diversos detalhes, em uma explosão de cores e formas. Mas isto não é uma regra. Alguns artistas preferem a simplicidade, representando poucos elementos. Mesmo assim estas obras possuem força justamente por serem contidas, nos convidando a pensar sobre seus significados.

A Vida dos Seres Humunos e Seres Vivos, Alex dos Santos


A Vida dos Seres Humanos e Seres Vivos Alex dos Santos

SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Quando pensamos em pintar, geralmente imaginamos os materiais normais, ou seja, a tela, os pincéis e as tintas. Olhe atentamente a imagem e identifique o objeto que o

artista usou como tela. Pode parecer estranho pintar em um colchão, mas a arte naíf

é livre e gosta de experiências. Observe que no meio de tantas imagens aparecem muitas palavras. Quais as relações entre o que está escrito e as figuras? Você consegue encontrar alguma parte que funcione como o início do tema? Há uma história sendo narrada em sequência ou a obra mostra o seu conteúdo de uma só vez?

Há muitas maneiras de representar o tema em uma pintura. Alguns artistas usam as personagens para contar fatos, acontecimentos e situações do cotidiano. Outros preferem apresentar símbolos para que o espectador investigue os significados. Observe na exposição outras obras e perceba como cada artista conta a sua história.

Abram Szajman OIRETOR OO DEPARTAMENTO REGIONA Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDÊNCIAS técnico-social Joel Naimayer Padula comunicação social Ivan Giannini

GERÊNCIAS ação cultural Rosana Paulo da Cunha adjunto Flávia Carvalho assistentes Juliana Braga. Kelly Teixeira. Nilva Luz. Paulo Sabino

estudos e desenvolvimentos Marta Colabone adjunto Andréa de Araújo Nogueira artes gráficas Hélcio Magalhães assistentes André Macedo, Karina Musumeci. Ubiratan Nunes Rezende projeto gráfico guia do aprendiz de arte naif Lourdes Teixeira Benedan

Sesc Piracicaba José Roberto Ramos adjunto José Henrique Osoris Coelho

Cu<a 00 aprendiz OE ARTE N.ir Projeto educativo: Sapoti Projetos Culturais Coordenoção geral: Daniela Chindler Produção: Flávia Rocha Consultono: Alexandre Diniz, Gustavo GaviJo, Patrícia Merchesoni e Tatiana Henrique Caderno Educativo Edição: Daniela Chindler Textos: Patrícia Marchesoni e Gustavo GaviJo


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