Revista Intercâmbio 2012

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ISSN 2236-7616

Revista Intercâmbio

revista

A revista Intercâmbio é uma publicação quadrimestral direcionada ao aperfeiçoamento das equipes técnicas do SESC. Para recebê-la gratuitamente em sua casa, o servidor deverá preencher o formulário em:

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publicação quadrimestral criada por e para os servidores do SESC como um canal para difusão de estudos, metodologias, pesquisas e contribuições, visando o desenvolvimento e a expansão da entidade.

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A revista Intercâmbio é uma

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Em consonância com o papel de representante da consciência social do empresariado, o SESC busca meios de incentivar a formação acadêmica, o estudo, a pesquisa, a sistematização de referenciais teóricos, a difusão de metodologias e de resultados exitosos com o objetivo de manter a excelência nos serviços oferecidos a seus beneficiários e a todos os brasileiros. Ao contemplar a produção dos servidores e aperfeiçoar a ação institucional, a Revista Intercâmbio reitera a concepção presente no SESC desde sua origem: de que o investimento no ser humano é o que de mais importante pode ser feito para o

Capa: detalhe da obra de Nuno Ramos, Sem título, 1989 (340 x 280 cm) Esta obra ilustra o material educativo da exposição “Só Lâmina” do Projeto ArteSESC, que circula pelos Departamentos Regionais desde 2008.

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progresso da sociedade em que se insere.

Antonio Oliveira Santos Presidente do Conselho Nacional do SESC

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SESC | Serviço Social do Comércio Presidência do Conselho Nacional

Antonio Oliveira Santos Departamento Nacional Direção-Geral

Maron Emile Abi-Abib Divisão Administrativa e Financeira

João Carlos Gomes Roldão Divisão de Planejamento e Desenvolvimento

Álvaro de Melo Salmito Divisão de Programas Sociais

Nivaldo da Costa Pereira Consultoria da Direção-Geral

Juvenal Ferreira Fortes Filho

COORDENAÇÃO EDITORIAL Gerência de Estudos e Pesquisas/DPS

Mauro Lopez Rego

Christiane Caetano

Conselho editorial

Álvaro de Melo Salmito Nivaldo da Costa Pereira Secretário-executivo

Mauro Lopez Rego Assessoria editorial

Andréa Reza

PRODUÇÃO EDITORIAL Assessoria de Divulgação e Promoção/DG Supervisão editorial

Fernanda Silveira Projeto gráfico

Ana Cristina Pereira (Hannah23) Editoração

Livros

Livros | Susan Johnson

Revisão de texto

Clarisse Cintra Tathyana Viana Produção gráfica

Celso Mendonça Estagiários

Adonis Nóbrega (produção editorial) Thiago Oliveira (design)

©SESC Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5555 – Jacarepaguá Rio de Janeiro – RJ CEP: 22775-004 Telefone: (21) 2136-5555 www.sesc.com.br Impresso em junho de 2012. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 9/2/1998. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito do Departamento Nacional do SESC, sejam quais forem os meios e mídias empregados: eletrônicos, impressos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Revista Intercâmbio / SESC, Departamento Nacional – Vol. 1, n. 1 (jun. 2011)Rio de Janeiro : SESC, Departamento Nacional, 2011, v. : il. ; 30 cm. Quadrimestral ISSN 2236-7616

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1. Ciências Sociais - Brasil. 2. SESC. Departamento Nacional. 1. SESC. Departamento Nacional. CDD 306

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Diante da complexa missão que recebeu, em toda a sua história o SESC preservou uma inquietação permanente em favor de seu aperfeiçoamento. Não poderia ser diferente, uma vez que o conceito sobre o bem-estar humano se aprofunda tão logo concebida a ação que lhe é destinada. Além disso, as exigências para a qualidade de vida se ampliam à medida que os progressos sociais e econômicos tomam forma e dimensão. Compreender as possibilidades de atender a essas exigências requer uma cultura de revisão contínua acerca dos fundamentos e propósitos de nossas práticas. É nesse ambiente e com esse fim que se insere a Revista Intercâmbio, retomando projeto anterior, datado do fim da década de 1960 e materializado em 68 edições até os anos iniciais de 1990. Renova-se a linha editorial e seu reconhecimento como um instrumento de evolução do SESC. Difundir reflexões, propostas, relatos; dar voz à contribuição individual de aprofundar conhecimentos e ultrapassar obstáculos; permitir que a releitura do SESC aconteça em cada equipe técnica: esses são objetivos da Revista Intercâmbio, criada para fortalecer, como tantas outras ações, o autodesenvolvimento organizacional.

Maron Emile Abi-Abib Diretor-Geral do Departamento Nacional do SESC

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SUMÁRIO

Apresentação

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Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Armando Daltro Caldeira de Oliveira Cultura organizacional como identidade social

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Bárbara Cristina dos Santos Carvalho Análise da aplicação de um programa alternativo de ensino-aprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

40

Márcia Miranda Sustentabilidade: uma nova ordem corporativa

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Mario Henriques Saladini Tecnologia e educação corporativa no SESC: uma visão socioeducativa e humanizadora

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Rosilene Souza Almeida Mensuração do capital social na comunidade de São Pedro de Joselândia

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Vera Lucia da Silva Augusto do Nascimento

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APRESENTAÇÃO

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Com o objetivo de promover e estimular a disseminação de produção técnica e científica em torno de sua ação programática, o SESC apresenta a Revista Intercâmbio, um veículo de transmissão de estudos, pesquisas e contribuições dos servidores para o desenvolvimento e a expansão da entidade.

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Esta publicação abrange a sistematização de projetos e metodologias, bem como de seus resultados, de forma a oferecer uma contribuição ao conhecimento e ao aperfeiçoamento da ação do SESC, por meio do fomento ao diálogo permanente e qualificado entre servidores de suas áreas fim e meio.

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Pós-graduado em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Bacharel em Ciências Estatísticas pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) e Licenciado em Matemática pela Universidade Cândido Mendes (Ucam). É Assessor Técnico IV da Seção de Estatística/GEP/DPD do Departamento Nacional do SESC.

ARMANDO DALTRO CALDEIRA DE OLIVEIRA

Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

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Os Departamentos Regionais do SESC (DDRR) atuam diariamente atendendo seu público. O público do SESC é denominado clientela e categorizado como comerciários, dependentes e usuários segundo as Normas gerais para habilitação no SESC (2011). Os gestores nos DDRR necessitam conhecer esse público e suas necessidades para atendê-los de maneira eficiente e satisfatória. E é nesse momento que a pesquisa possibilitará a análise e o planejamento. As pesquisas fornecem dados quantitativos e/ou qualitativos que devem ser tratados e analisados para se transformarem em informação. É a informação que trará aos gestores o conhecimento necessário para a realização de um bom trabalho.

A importância da informação na tomada de decisão A atividade de gestão pode ser entendida como um conjunto de processos que englobam operações de planejamento, organização, direção, distribuição e controle de recursos de qualquer natureza, visando à racionalização e à efetividade de determinado sistema, produto, serviço. Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Nessa perspectiva, a informação se coloca em consonância com os objetivos estratégicos e operacionais das organizações empresariais, incrementando a competitividade e os processos de modernização organizacional. De modo contraditório, entretanto, verifica-se, em diferentes campos empresariais, baixa sistematicidade na produção e utilização de dados para tomada de decisão. Exemplo disso é relatado por Clancy e Krieg (2008), afirmando que a maioria das decisões de marketing ainda é tomada somente baseada em feeling. Não se pode dizer que profissionais experientes, conhecedores de sua área, não possam acertar em suas decisões sem informações suficientes, porém é sabido que a informação tornou-se um diferencial nas organizações. As informações devem ser bem coletadas, analisadas e organizadas para que não sejam utilizadas de maneira equivocada. Pode-se, por exemplo, ter um ótimo banco de dados e extrair informações ruins. As empresas precisam ter profissionais com conhecimento para transformar números e opiniões em informações úteis aos gestores.

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A disponibilização de informação adequada no momento oportuno é requisito fundamental de um sistema de gestão. Em linhas gerais pode-se afirmar que uma instituição que tenha um bom mecanismo de coleta e profissionais capacitados a transformarem dados em informação tem grande chance de conhecer bem seu público e planejar suas atividades com foco nos anseios deste. Cassaro afirmou em 2003 que “um conceito universal válido para qualquer sistema físico é o de que um sistema é um conjunto de partes e componentes, logicamente estruturados, com o intuito de atender um objetivo”. Em uma empresa, um sistema é um conjunto de funções estruturadas que devem atender um objetivo, e o que move essa estrutura são as informações produzidas que possibilitam planejamento e controle das atividades. E, de acordo com Cassaro (2003), são os gerentes os responsáveis pelas decisões. Eles deverão decidir mesmo convivendo com a chance de cometer erros. Tomar decisões, o que implica correr riscos, é a função de um gerente que, consequentemente, deve ser quem mais se preocupa com a boa informação. A habilidade de tomar decisões Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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rápidas e certas depende diretamente da qualidade e velocidade com que as informações chegam. As instituições precisam de informações confiáveis e de boa qualidade, e as pesquisas quantitativas e qualitativas podem funcionar como um instrumento indispensável para uma boa gestão. No âmbito da gestão social, essa máxima assume ainda maior significado, uma vez que a soma de planejamento, avaliação e modelos próprios de atuação propiciam um maior alcance na qualidade assistencial de seus serviços.

Aplicação das pesquisas quantitativas e qualitativas Há algumas décadas, a pesquisa era utilizada principalmente na área científica, mas, com a concorrência e os riscos, as mais diversas organizações passaram a utilizar a pesquisa como ferramenta para a tomada de decisão. Esse caminho percorrido leva a uma compreensão de que a “pesquisa, no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de determinado conhecimento” (RUDIO, 1986, p. 9), caracterizando um processo sistemático e objetivo de obter informações que auxiliem na tomada de decisões (MALHOTRA, 2004).

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Elas fornecem informações que possibilitam aos gestores e administradores estarem em constante contato com os anseios e necessidades do seu público (clientela). No caso do SESC, a pesquisa pode ser utilizada em vários momentos, como, por exemplo, definição das ações que deverão ser realizadas durante um novo exercício nos cinco programas (Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência), assim como informar os gerentes se as ações planejadas foram executadas satisfatoriamente, fornecendo um feedback para avaliação e controle.

Tipos de pesquisa Serão abordados neste tópico os principais tipos de pesquisa por métodos quantitativos, qualitativos e mistos. Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Pesquisas quantitativas A primeira razão para se conduzir uma pesquisa quantitativa é descobrir quantas pessoas de determinada população compartilham uma característica ou um grupo de características. Ela é especialmente projetada para gerar medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística. Essa análise estatística é que irá transformar dados em informações. De acordo com Creswell (2010, p. 26) a “pesquisa quantitativa é um meio para testar teorias objetivas, examinando a relação entre as variáveis. Tais variáveis, por sua vez, podem ser medidas tipicamente por instrumentos, para que os dados numéricos possam ser analisados por procedimentos estatísticos”. As pesquisas quantitativas são estruturadas e fechadas e se baseiam em uma amostra de determinada população. As amostras podem ser probabilísticas e não probabilísticas. A amostragem probabilística utiliza métodos aleatórios para garantir uma amostra representativa da população-alvo e são as mais utilizadas por garantirem a qualidade de suas estimativas.

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Segundo Costa Neto (1994, p. 40), a utilização de uma amostragem probabilística é a melhor recomendação que se deve fazer no sentido de se garantir a representatividade da amostra, pois o acaso será o único responsável por eventuais discrepâncias entre população e amostra [...].

Dentre as amostras probabilísticas pode-se citar:

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Amostra aleatória simples: é a amostra cuja seleção é feita de maneira que cada unidade da população objeto de pesquisa tenha probabilidades iguais de ser selecionada.

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Amostra aleatória sistemática: é a amostra em que elementos da população se apresentam ordenados e a retirada dos elementos da amostra é feita periodicamente.

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Amostra aleatória estratificada: é uma técnica de amostragem que consiste em dividir a população em grupos (estratos), cujos elementos dentro de cada grupo sejam mais semelhantes entre si do que na população como um todo, ou seja, sejam homogêneos dentro do grupo e heterogêneos entre os grupos.

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Amostra por conglomerados: recorre-se à explicação de Costa Neto (1994, p. 42).

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Quando a população apresenta uma subdivisão em pequenos grupos, chamados conglomerados, é possível — e muitas vezes conveniente — fazer-se a amostragem por meio desses conglomerados, a qual consiste em sortear uma quantidade suficiente de conglomerados, cujos elementos constituirão a amostra. Ou seja, as unidades de amostragem, sobre as quais é feito o sorteio, passam a ser os conglomerados e não mais os elementos individuais da população. Esse tipo de amostragem é às vezes adotado por motivos de ordem prática e econômica.

Quanto à amostra não probabilística, será comentada a mais utilizada, principalmente nas pesquisas de marketing e opinião pública; ela é conhecida como amostra por cotas. A amostragem por quotas é utilizada quando não existe um cadastro da população que possibilite a realização do sorteio necessário à amostragem aleatória, mas existe informação suficiente sobre o perfil populacional das variáveis de controle da pesquisa (aquelas variáveis que supostamente mais influenciam as variáveis respostas). O tamanho da amostra por quotas é calculado como se a amostra fosse aleatória simples, em função do tamanho da população, da margem de erro e do nível de confiança desejados, bem como do tipo de parâmetros populacionais que se deseja estimar.

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Como o próprio nome sugere, a amostra por quotas é subdivida em estratos, um para cada cruzamento entre as categorias das variáveis de controle. Se tais variáveis não forem qualitativas, deverão ser categorizadas. A quota de cada estrato nada mais é que o tamanho da amostra no estrato. A quota será proporcional ao tamanho do estrato ou da proporção do estrato diante da população total. Se não existir informações acerca dos cruzamentos entre as variáveis de controle, pode-se supor que sejam independentes. Procedendo-se assim, o perfil amostral diante das variáveis de controle será muito semelhante ao perfil populacional. Esse fato permite afirmar empiricamente que a margem de erro não será muito maior que a de uma amostra aleatória de mesmo tamanho.

Pesquisas qualitativas A seguinte afirmação de Bauer e Gaskell (2000, p. 23) inicia a definição: “a pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações das realidades sociais [...]” e de fato ela está focada nas interpretações e

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percepções do entrevistado ou observado. Na pesquisa qualitativa não se tem como fazer afirmações baseadas em probabilidades, ou seja, não se pode expandir para o universo de uma população muito mais complexa, pois os erros de amostragem em função dos pequenos tamanhos de amostra são muito elevados. Seu objetivo é conhecer os dados de natureza qualitativa. Segundo Creswell (2010, p. 26) a “pesquisa qualitativa é um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano”. As amostras feitas nessas pesquisas são não probabilísticas, podendo usar recursos aleatórios para fixar a amostra. Segundo Triviños (2007, p. 132), essa modalidade de pesquisa busca “uma espécie de representatividade do grupo maior dos sujeitos que participarão no estudo”. A preocupação não reside na quantificação da amostragem, podendo, no lugar da aleatoriedade, decidir intencionalmente, “considerando uma série de condições (sujeitos que sejam essenciais), segundo o ponto de vista do investigador, para o esclarecimento do assunto em foco; facilidade para se encontrar com as pessoas; tempo dos indivíduos para as entrevistas etc.” (TRIVIÑOS, 2007, p. 132).

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As pesquisas qualitativas são muito úteis quando se quer criar categorias para uma futura pesquisa quantitativa ou para um aprofundamento em alguma questão levantada também em uma pesquisa quantitativa. É também utilizada para a elaboração de novas hipóteses, construção de indicadores qualitativos, variáveis e tipologias. De acordo com Minayo (2007, p. 57), [...] o método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. [...] as abordagens qualitativas se conformam melhor as investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos e de documentos.

Do ponto de vista operacional, tais pesquisas muitas vezes contam com voluntários ou até mesmo são feitas remunerações aos participantes. Nesse artigo serão abordadas duas técnicas utilizadas no mercado. Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Entrevista em profundidade: as entrevistas em profundidade são não diretivas (semiestruturadas). Nas entrevistas não diretivas se dá ao entrevistado ampla liberdade, sem fugir ao tema, para se expressar como quiser. Cabe ao entrevistador conduzir o entrevistado de volta ao tema caso tenha se afastado demais, de acordo com o roteiro semiestruturado idealizado. É preciso que o entrevistador saiba distinguir entre aparentes afastamentos do objetivo da pesquisa, que possam vir a trazer resultados interessantes e imprevistos, dos afastamentos improdutivos. O entrevistado pode tomar atalhos aparentemente não relacionados ao tema que se revelam férteis, e é aí que reside o maior valor das entrevistas não diretivas (SEBRAE, 2005, p. 101). Pesquisa de grupos focais (focus groups): essa técnica tem o objetivo de encorajar os membros de um grupo a falarem sobre temas que sejam familiares e relacionados aos objetivos da pesquisa. O grupo deve discutir suas experiências, percepções, atitudes, comportamentos, sentimentos, sensações e satisfação relativos a um dado tema ou produto.

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Entende-se que pessoas envolvidas em um mesmo problema tendem a discuti-lo em maior profundidade e com mais desenvoltura, expondo melhor seus sentimentos do que se tivessem sido entrevistadas isoladamente. Podem ser obtidos por esta técnica dados mais contextuais, ricos em novas percepções e hipóteses a serem testadas nas pesquisas quantitativas (com amostras probabilísticas). Resultados de pesquisas qualitativas por grupos focais não podem ser expandidos para o universo da pesquisa. Além dos erros de amostragem há possibilidade de surgirem nos grupos lideranças de opinião que influenciam os outros participantes, o que deve ser evitado pelo moderador. O moderador é quem conduz a discussão. Ele deve ter um perfil analítico e de raciocínio rápido para entender o que está acontecendo no grupo e direcionar o foco para o objetivo da discussão. As reuniões de focus group geralmente ocorrem em salas com espelho falso, e é por de trás deste que membros da empresa que contrata ou realiza a pesquisa se posicionam para acompanhar. Além de assistirem in loco, na grande maioria dos casos, a empresa recebe um CD e/ou um DVD com a gravação e a filmagem dos grupos realizados (SEBRAE, 2005, p. 104). Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Pesquisas mistas ou de método misto A pesquisa de método misto ou pesquisa mista se dá com o uso de duas ou mais estratégias, quantitativa e/ou qualitativa dentro de um único projeto de pesquisa. Dito de outro modo, métodos mistos se referem a um único estudo que utiliza estratégias múltiplas ou mistas para responder às questões de pesquisa e/ou testar hipóteses. Tais estratégias são concomitantes ou sequenciais, dependendo da necessidade no momento da idealização da pesquisa. As abordagens qualitativa e quantitativa não devem ser encaradas como extremos opostos ou dicotomias, pois representam fins diferentes em um contínuo (NEWMAN; BENZ, 1998). A pesquisa de métodos mistos reside nesse processo porque incorpora elementos das duas abordagens (CRESWELL, 2010, p. 26).

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De acordo com Creswell (2010, p. 27), A pesquisa de métodos mistos é uma abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura de duas abordagens em um estudo.

Dentre os tipos de pesquisas de métodos mistos pode-se citar: Sequenciais: é quando o pesquisador elabora ou expande os achados de um método. Isso pode envolver começar uma entrevista qualitativa para propósitos exploratórios e continuar com um método quantitativo, com uma amostra ampla, para que o pesquisador possa generalizar os resultados para a população. Como também se pode iniciar uma pesquisa quantitativa, no qual uma teoria ou conceito é testado, seguida por uma qualitativa que envolva uma exploração mais detalhada de alguns casos ou indivíduos. Concomitantes: é o método em que o pesquisador converge ou mistura dados quantitativos e qualitativos para realizar uma análise abrangente do problema da pesquisa. As duas formas de dados são coletadas ao mesmo tempo e depois as informações são integradas na interpretação dos resultados. Creswell (2010, p. 39) afirma que o qualitativo é responsável pelo processo enquanto o quantitativo pelos resultados.

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Dialogando com as práticas institucionais: pesquisa sobre o perfil da clientela comerciária em Goiânia Depois de abordar a importância da informação e comentar sobre os tipos de pesquisas que podem ser utilizadas, foi apresentado um questionário enviado por e-mail, em 15/4/2011, à servidora Lucimar Mota — Assessora Técnica na Assessoria de Planejamento (ASPLAN) do Departamento Regional de Goiás (DR/GO), responsável pelo planejamento estratégico do DR/GO e utilização das informações da pesquisa no auxílio ao planejamento das atividades do SESC junto aos técnicos das áreas de ação. Com essa entrevista qualitativa podese entender melhor a importância da realização de uma pesquisa e um bom trabalho realizado na transformação de dados estatísticos em informações úteis.

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O questionário foi fundamentado em duas perguntas feitas sobre uma pesquisa de Perfil da Clientela Comerciária em Goiânia realizada em março de 2009 pelo Departamento Nacional do SESC (SESC/DN) em conjunto com o DR/GO. As duas perguntas do questionário foram: Qual a importância da pesquisa sobre o Perfil da Clientela Comerciária em Goiânia para o Departamento Regional de Goiás? Quais informações foram utilizadas para auxiliar a assessoria de planejamento e as demais áreas do Departamento Regional de Goiás? Respondendo a primeira pergunta, um primeiro aspecto que se destaca no relato da entrevistada diz respeito à motivação do DR/GO, expressa pelo interesse em conhecer melhor o perfil da clientela. Bom, a última pesquisa realizada com clientela comerciária em Goiânia foi em 1986, de lá para cá não tínhamos nenhuma informação atualizada e contextualizada desses clientes, a não ser os dados dos Sistemas Central de Atendimentos e Dados Estatísticos. Quando nós aqui da Assessoria de Planejamento soubemos que o Departamento Nacional do SESC estava retomando este trabalho de pesquisa, especialmente sobre o perfil dos clientes SESC nas regiões metropolitanas, inclusive já com resultados divulgados da pesquisa realizada em Recife/PE e outra

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em andamento em Belém/PA, o nosso Diretor Regional contatou o Diretor-Geral do SESC/DN e expôs o nosso interesse nesta pesquisa. Assim, Goiás foi inserido no cronograma e fomos o terceiro Regional a realizar este trabalho.

Na resposta do questionário, evidencia-se a importância atribuída à pesquisa como recurso ao planejamento estratégico, subsidiando, inclusive, o diagnóstico da situação e a análise dos ambientes interno e externo — ponto de partida para a definição da postura estratégica do DR/GO. A pesquisa em Goiânia foi realizada no mês de março de 2009. Em julho iniciamos aqui no DR/GO a elaboração do nosso primeiro Planejamento Estratégico (fomos o Regional piloto na aplicação do Modelo Nacional do Sistema de Planejamento), e contávamos com os resultados desta pesquisa para favorecer as nossas reflexões, discussões e decisões neste processo, principalmente para a construção do diagnóstico de situação e análises dos ambientes internos e externos. Considerando que se 18

tratava de uma pesquisa grandiosa junto ao cliente em potencial, e que não teríamos os resultados finais em tempo, solicitamos ao SESC/DN disponibilizar antecipadamente, pelo menos, os resultados da tabulação dos dados. Com estes resultados preliminares em mãos foi possível promover uma reflexão e discussões riquíssimas junto ao grupo envolvido na elaboração do Planejamento Estratégico do DR/GO, inclusive alguns desses resultados foram contemplamos na nossa Matriz SWOT,1 especialmente relacionadas ao ambiente externo.

A segunda pergunta evidenciou a amplitude da contribuição da pesquisa para um melhor conhecimento do perfil de interesses e necessidades da clientela, em sua relação com as oportunidades e ameaças que caracterizam a análise diagnóstica e convocam o DR/GO em sua capacidade de gestão. Muitos dos resultados da pesquisa, embora não tenham sido contemplados no Plano Estratégico Participativo — PEP (Matriz SWOT e Mapa Estratégico) ou enquanto estratégias para a concretização dos objetivos estratégicos, foram tratados como iniciativas a serem tomadas pelas A Análise SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise dos ambientes interno e externo. O termo SWOT é uma sigla oriunda do idioma inglês, e é uma sigla de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats). 1

áreas (especialmente as áreas finalísticas do DR/GO).

Na Matriz SWOT, contemplamos, enquanto fatores de “Oportunidade”, os seguintes resultados:

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Uma predominância de comerciários com renda de até dois salários mínimos e renda familiar até quatro salários mínimos (é uma oportunidade, pois, nas diretrizes do SESC, estes são os clientes preferenciais).

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Foi constatado o interesse do cliente e de sua família por serviços de odontologia, cursos, esporte, excursões e passeios (é uma oportunidade, pois confirmou a demanda por serviços nos quais o DR/GO tem realizado grandes investimentos nos últimos anos).

Enquanto fatores de “ameaças”, a pesquisa nos trouxe os seguintes resultados:

˚

Foi constatado pela pesquisa que os comerciários que frequentam as atividades do DR/GO, não percebem que elas provocam mudanças em sua vida (é uma ameaça, pois se o SESC tem por finalidade uma ação educativa, propositiva e transformadora, o não reconhecimento do cliente, indica que a atuação do SESC não está no caminho certo).

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Os clientes (comerciários) fazem as suas matriculam no DR/GO, mas não frequentam as atividades desenvolvidas pelo DR/GO (é uma ameaça, pois para o DR/GO não interessa apenas “cumprir a meta de matrícula”, mas acima de tudo que este cliente usufrua dos nossos serviços).

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A importância da pesquisa para a tomada de decisões informada se expressa na diversificada gama de medidas tomadas com base nas informações geradas.

Diante desses resultados e de outros evidenciados na pesquisa do Perfil da Clientela Comerciária de Goiânia, o DR/GO tomou as seguintes medidas:

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Mesmo sem alterar a tabela de indenizações (taxas de serviços), por nove anos, decidiu por manter a tabela vigente sem alterações nos valores dos serviços, à exceção da educação, que somos, por lei, obrigados a receber, mas o DR/GO aplica um percentual bem inferior ao proposto.

˚

Ampliou a quantidade de vagas na educação básica para clientes de baixa renda no PCG.

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Em todas as nossas atividades o comerciário e seus dependentes têm prioridade no atendimento, reduzindo significativamente o índice de usuários.

˚

Alterou as normas e critérios para os serviços de hospedagem, dando prioridade para o cliente comerciário e seus dependentes, bem como prioridade para atender os clientes que nunca tenham ido à Unidade do SESC em Caldas Novas e à Unidade do SESC em Pirenópolis (os serviços de hospedagem tem grande demanda), e ainda passou a financiar estes serviços em até 10 vezes sem juros (Funac). Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Há propostas de novas programações para os clientes, baseadas nos resultados desta pesquisa (novos roteiros de excursões e passeios, novas modalidades esportivas e aumento de vagas nas modalidades de maior interesse do comerciário e seus dependentes).

˚

Maior abrangência da atuação do SESC nas cidades do interior, com novas Unidades Executivas (nas cidades de Jataí, Catalão e Rio Verde), novas instalações para a Unidade do SESC em Itumbiara com novos serviços.

˚

Eventos para lançamento dos grandes projetos, com objetivo de divulgar e estreitar os relacionamentos com os meios de comunicação.

˚ ˚

Elaboração e implantação do Plano de Divulgação Institucional.

˚

Estruturação das Centrais de Atendimentos, para favorecer um melhor atendimento ao cliente, já que, na maioria das vezes, é na Central de Atendimentos que o mesmo mantém o seu primeiro contato com o SESC.

˚

A disponibilização de canais de comunicação externos para que o cliente possa manter maior interação com a Entidade, inclusive para as reclamações, sugestões etc.

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Disponibilização do novo Portal do SESC em Goiás (para favorecer, entre outros aspectos, o cliente conhecer a Entidade e a programação do DR/GO).

A compreensão da pesquisa como recurso fundamental para o planejamento evidencia-se, também, pela intenção de continuidade das investigações suscitadas pela experiência aqui ilustrada. Os resultados imediatos apontados por esta pesquisa não se esgotaram nas medidas já adotadas anteriormente. Outras investigações, apontadas por ela, já estão em andamento, tais como a realização da primeira pesquisa de satisfação do cliente (período previsto: maio a julho/11). As respostas mostram a importância que o DR/GO dá à informação e o valor que tem a pesquisa, além do precioso auxílio do SESC/DN, possibilitando a realização da pesquisa com seu know-how e um corpo técnico qualificado. O SESC/DN já editou e divulgou o documento final desta pesquisa, com uma riqueza de dados e contextualização tamanha que o DR/GO o tem como objeto de estudos e fonte de referência para atuação/ intervenção para os próximos anos, considerando que os resultados de uma pesquisa dessa grandeza não se esgotam em curto prazo. Importância das pesquisas quantitativas e qualitativas nas tomadas de decisão nos Departamentos Regionais do SESC

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Conclusão Conhecer para atender melhor. Pode parecer slogan de alguma propaganda veiculada nas mais diversas mídias, porém é a frase que permeia a área de inteligência de todas as grandes organizações desse mundo globalizado. A informação é essencial para todos os tipos de empresa e elas têm pressa. Cada vez mais é necessário ter informações o mais rápido possível, é exigência do mercado: ou a organização se atualiza ou corre sério risco de não existir mais. Atualmente as empresas investem muito em informação, é cada vez menor o espaço para o feeling, e assim as pesquisas surgem como grande instrumento produtor de informação. Nas empresas mais bem geridas as decisões não são tomadas sem números e análises qualitativas do mercado. O governo, a indústria, o comércio e serviços, as multinacionais, as nacionais etc., fazem pesquisas, pois não se atua em qualquer área sem informação, sem conhecimento.

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O SESC também faz pesquisas. Foi apresentado neste artigo o caso do DR/GO, que apostou na pesquisa para conhecer sua clientela potencial. É preciso cada vez mais conhecer a clientela, seus anseios e necessidades. Este artigo abordou técnicas de pesquisas quantitativas e qualitativas que geram informações para tomada de decisão. O SESC atua em muitas áreas, tem muitos profissionais qualificados e as pesquisas ajudam a alocar melhor os recursos e auxiliam na tomada de decisão por gestores e técnicos nos DDRR.

Referências BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2000. BOLFARINE, Heleno; BUSSAB, Wilton. Elementos de amostragem. São Paulo: Edgar Blucher, 2005. CASSARRO, Antonio Carlos. Sistemas de informações para tomada de decisões. São Paulo: Pioneira, 1995. CASSARRO, Antonio Carlos. Sistemas de informações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

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CLANCY, Kevin; KRIEG, Peter. Marketing: muito além do feeling. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2008. CLANCY, Kevin; KRIEG, Peter. Marketing contraintuitivo. Rio de Janeiro: Campus, 2002. COSTA NETO, Pedro Luiz de Oliveira. Estatística. São Paulo: Edgar Blucher, 1994. CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e mistos. Porto Alegre: Artmed, 2010. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing. Porto Alegre: Bookman, 2004. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2007. NEWMAN, I.; BENZ, C. R. Qualitative-quantitative research methodology: exploring the interactive continuum. Carbondale: Southern Illinois University Press, 1998.

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RUDIO, FV. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis: Vozes, 1986. SEBRAE. Manual básico de pesquisa de mercado. Brasília, DF, 2005. SESC. DN. Normas gerais para habilitação no SESC. Rio de Janeiro, 2009. Documento interno. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2007.

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Mestranda em Psicanálise Saúde e Sociedade, MBA em Gestão de Recursos Humanos, pósgraduada em Psicossomática Contemporânea. Formada em Psicologia Clínica e Organizacional e em Administração de Empresas com Ênfase em Recursos Humanos. Assessor Técnico II da Divisão Administrativa e Financeira da Gerência de Recursos Humanos do Departamento Nacional do SESC.

BÁRBARA CRISTINA DOS SANTOS CARVALHO

Cultura organizacional como identidade social

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Introdução Dizer que estamos em uma época de mudança e de instabilidade parece redundância ou afirmação simplória. Contudo, à medida que o ambiente organizacional se torna mais instável e competitivo, como observado no mundo contemporâneo, maior a necessidade de opções diferentes para a solução dos problemas e situações que se alternam e se diferenciam de maneira crescentemente diversa. Tal dinâmica pode ser traduzida em três palavras: respeito às diversidades. Nesse cenário, quando o colaborador direciona sua individualidade, suas crenças e valores para um modelo de enquadramento, atendendo às exigências impostas pela cultura organizacional, vai se distanciando do seu referencial subjetivo, dando lugar a outros valores que são compartilhados, e que emergem para o contexto do ambiente de trabalho. Assim, torna-se importante abordar a influência da cultura organizacional no comportamento dos trabalhadores, trazendo à tona a discussão sobre a aderência dos seus membros ao ambiente corporativo. Este tema será tratado amiúde em outros tópicos em que será discutida a influência da função de Recursos Humanos, disseminadora desse processo. Cultura organizacional como identidade social

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Decerto que os objetivos dessa área estão a serviço do negócio da organização, para desenvolver novas estratégias, tecnologias e ferramentas que possam atrair, aplicar, desenvolver e reter talentos. O objetivo principal é a busca por elevar o desempenho da equipe de trabalho para a obtenção dos melhores resultados, e garantir não somente a competitividade da empresa, mas também a sua permanência no mercado. A força de trabalho vem se tornando cada vez mais heterogênea, nos variados segmentos das organizações, em termos de raça, etnia e gênero de seus componentes. Além desses grupos, também se incluem os deficientes físicos, a terceira idade e os homossexuais. Dessler (2003) acentua que um RH estratégico busca desenvolver culturas organizacionais que encorajam a inovação e a flexibilidade, alinhadas às metas e aos objetivos das empresas. De acordo com Henriquez (1997), as organizações têm imprimido em sua cultura normas e valores que orientam a conduta de seus membros, pois informam o papel de cada um dentro do coletivo. Este papel, muitas vezes, implica a renúncia aos valores individuais de seus membros. Assim, a empresa se torna o objeto do sujeito, desenvolvendo um controle afetivo e intelectual.

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A influência da cultura organizacional como moldadora de atitudes, ditam os seus elementos constituintes, propiciará a adequação do comportamento humano ao ambiente corporativo. As considerações que serão posteriormente apresentadas revisitarão o conceito de “cultura”, no contexto social, na perspectiva de dois autores: Zygmunt Bauman e Michel Foucault, que entendem a cultura como um controle necessário à manutenção da ordem social.

Formação do conceito de cultura Pretende-se percorrer os caminhos traçados por Zygmunt Bauman na construção do conceito de cultura surgido no século 18. Trata-se de um refinamento do conceito de civilização, no qual as atividades humanas se consolidariam enquanto organização. A ideia de cultura foi cunhada da prática do cultivo, uma ação combinada, com objetivo de extrair da terra o alimento necessário à subsistência do grupo, onde a sobra serviria como meio de troca, dando início a um Cultura organizacional como identidade social

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rudimentar tipo de comércio. Contudo, a necessidade de conjugar esforços com a chamada “ação civilizatória” requeria certo controle sobre as inatas predisposições instintivas das pessoas. Essas predisposições são traduzidas em agressividade e na busca da realização dos desejos individuais. Na visão de Bauman (1998), a noção de cultura foi configurada como controle e ajustamento da sociedade, de modo que todos os elementos formadores das relações humanas tivessem um funcionamento passivo de previsão. Pois, para o autor, determinada categoria de homem (servil) poderia ser descrita como algo selvagem, dirigida pelos “instintos” desnorteadores e perigosos para a civilização, portanto, necessitando de outra categoria (os líderes) que moldasse aquele homem para melhor se adaptar às condições sociais. O autor sustenta que a noção de cultura foi evidenciada, na época, segundo o modelo da fábrica de ordem. Assemelhando-a ao sistema de organização das fábricas, onde cada membro tem seu papel definido, no qual o todo combinado se ajusta, em um processo cooperativo.

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Bauman (1998) ressalta que essa concepção foi revista a partir da evolução histórica humana, atualizando o conceito, que, com o passar do tempo, apresentou os pressupostos de que:

˚ ˚

A cultura estabelece a ordem.

˚

Sendo a cultura um sistema coerente de prescrições e proscrições, só pode pertencer ao sistema de normas, elementos que possam retroalimentá-la.

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Se por um lado o sistema cultural tem uma “estrutura”, com uma variedade impessoal da composição encontrada em todas as fábricas de ordem, por outro apresenta um sistema de valores centrais que deverão ser considerados e aplicados em todo o sistema.

Suas normas são coerentes e não contraditórias, coadunantes com a ordem.

Portanto, para Bauman, na luta eterna entre a ordem e o caos, o lugar da cultura é inequivocadamente ao lado da ordem. No cenário organizacional, a cultura imputa ao sujeito mecanismos de controle similares que são introjetados e produzem comportamentos ditados pelo ambiente organizacional. Foucault (2005) enfatiza que a ordem só é mantida pelo “poder disciplinar”, tido como necessário à organização social. Este poder Cultura organizacional como identidade social

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imputa um padrão de comportamento, obtido pelo adestramento, cuja tática é composta pelas normas rígidas direcionadas aos resultados esperados. Para ele, tais regras normalizadoras, impostas pela disciplina, tentam assegurar um modelo de organização social onde as situações poderão ser “previstas” e “controláveis”, e os resultados, alcançados, posto que o surgimento da “cultura” marcaria a única condição para a transição da selvageria à condição civilizatória. Assim, para o autor, o “poder disciplinar” propicia a regulação e a vigilância, sobre constante controle daqueles que governam lugares, populações, indivíduos e corpos que estão em quartéis, escolas, empresas, hospitais e prisões. Sobretudo, consiste em manter a vida, as atividades, o trabalho, a felicidade ou infelicidade e o desejo sob a égide, seja da organização formal ou do conhecimento especializado de profissionais, desde que produza, enquanto resultado, o ser humano pacífico e dócil.

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Preconiza, ainda, que a história humana aponta para um estado de evolução e aperfeiçoamento, mostrando que a satisfação das necessidades humanas tem diferenciais, não podendo ser tratada com o mesmo padrão de interpretação, sendo a cultura constituída por escolhas arbitrárias dentre muitas possibilidades, o que amplia o conceito de “cultura”. Todavia, embora a palavra “cultura” tenha se derivado do processo de lavrar e desenvolver a terra, a ampliação desse conceito vai para além dessas ações e práticas que exigiam de cada elemento uma função determinada e combinada em um estado de cooperação, desenhando um padrão específico cultural, com seus conhecimentos, ideologia, valores, leis e rituais cotidianos. Isso reforça a ideia de que a cultura é um estabelecedor de conduta, considerada um sistema que como tal precede de normas e procedimentos indispensáveis à autorreprodução e autorregulação.

A influência do inconsciente na constituição da cultura Freud, em o Mal-estar da civilização (1997), postula que a cultura é constitutiva dos seres humanos em face das forças opostas às exigências de uma força pulsional e às da civilização. Cultura organizacional como identidade social

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A pulsão diz respeito à tentativa do indivíduo de satisfazer os seus desejos. A cultura impõe regras para conter essa energia, pois, do contrário, a sociedade estaria imersa em um caos. As regras, as normas e as leis são criadas para censurar o desejo e a agressividade que são inerentes à condição humana. Sendo assim, para que o homem possa evoluir, terá de pagar o preço da renúncia à satisfação pulsional. Entendendo a civilização como cultura, na perspectiva do autor, esta tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para as pulsões e manter suas manifestações sob o controle; entretanto salienta que todo o indivíduo é inimigo da civilização, já que em todos os homens existem tendências destrutivas, antissociais e anticulturais. De acordo com Fuks (2011), civilização e cultura articuladas entre si são designadas por Freud como “cultura humana”, onde a manifestação dos impulsos internos do sujeito, o estabelecimento de um código universal e a regulação das relações humanas a configuram.

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Parece que a constituição de uma civilização ocorre pela via da coerção e da repressão às pulsões, para que haja o controle social. Contudo, Freud (2011, p. 4) ressalta: “Se cessasse a coerção, a maioria dos seres humanos estaria preparada para empreender o trabalho necessário à aquisição de novas riquezas.” Ainda em o Mal-estar na cultura (FREUD, 2010), o autor aponta três fontes principais do sofrimento humano: “o poder superior da natureza”, “a fragilidade de nossos corpos” e “a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade”. No que se refere à ausência de controle do indivíduo sobre a natureza e a fragilidade de nossos corpos, só nos resta a submissão ao inevitável e o trabalho para amenizar os riscos e prolongar a vida humana. Mas para ele temos dificuldade de admitir a terceira fonte do nosso mal-estar, uma vez que não podemos entender por que “os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam proteção e benefício para cada um de nós” (FREUD, 2010, p. 38). Em O futuro de uma ilusão (FREUD, 1997), o autor enfatiza o necessário controle das massas por uma minoria (líderes), contudo a subserviência e a renúncia às pulsões implicam alguma compensação para o sujeito, sendo necessário reconciliá-lo com aqueles que necessariamente devem permanecer e fornecer-lhes esta compensação. Cultura organizacional como identidade social

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Só com a influência de indivíduos que possam fornecer um exemplo e a quem reconheçam como líderes as massas podem ser induzidas a efetuar o trabalho e a suportar as renúncias de que a existência depende. Tudo correrá bem se esses líderes forem pessoas com uma compreensão interna superior das necessidades da vida, e que se tenham erguido à altura de dominar seus desejos instintuais (FREUD, 1997, p. 5).

Sobretudo alerta para o fato de que a coerção regula as relações de poder frente às massas, sendo assim, o perigo estaria em ceder mais do que estas a eles. [...] existem duas características humanas muito difundidas, responsáveis pelo fato de os regulamentos da civilização (cultura) só poderem ser mantidos em certo grau de coerção, a saber, que os homens não são espontaneamente amantes do trabalho e que os argumentos não têm valia alguma contra suas paixões (FREUD, 1997, p. 5).

Contudo, para o autor, apesar de todos os esforços da sociedade para manter o controle sobre a humanidade, sempre existirá uma parte desta que, em função de alguma patologia ou excesso de pulsão (desejo), permanecerá associal.

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1 Segundo Ferdinand Saussure (apud, MALISKA), os signos linguísticos [...] são entidades em que sons ou sequências de sons — ou as suas correspondências gráficas — estão ligados com significados ou conteúdos. [...] Os signos são assim instrumentos de comunicação e representação, na medida em que, com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si; são formados pelo significado, a que corresponde um conceito e, pelo significante, a que corresponde uma imagem acústica ou gráfica do conceito.

Não cabe aqui aprofundar o conceito psicanalítico que trata do inconsciente, mas apenas enriquecer a compreensão de que o ser humano precisa atribuir significados às representações contidas na cultura organizacional que o identifique e o integre com o ambiente corporativo, minimizando o sofrimento advindo da renúncia a seus desejos. No inconsciente estão contidos todos os significantes e significados1 adquiridos pelo sujeito no decorrer de sua vida, e que constituem a sua identidade. Nesta perspectiva, as tendências para se perceber este ambiente estão relacionadas com os valores pessoais, morais e culturais, influenciadas, significativamente, pela linguagem (significados e significantes), responsável pelas traduções de suas percepções. Assim, a cultura adquire formas variadas, por meio da diversidade que se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos que constituem os recursos humanos de uma organização. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é tão necessária para o gênero humano quanto a diversidade biológica o é para a natureza.

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Construção da cultura organizacional A organização oferece uma cultura pautada em valores e normas, maneira de pensar e agir e um modo de apreensão de mundo estabelecido pela conduta do seu protagonista. Trata-se de uma série de representações sociais historicamente constituídas e interiorizadas. Assim, vai desenvolvendo a sua formação e a socialização dos diferentes atores de maneira que cada um se defina frente ao modelo ideal proposto. Tal modelo tem por objetivo selecionar comportamentos e atitudes mais adequados consoantes com a identidade da organização, sendo essa uma das funções de RH. Estudar a cultura na organização requer a imersão na análise de várias definições propostas por diversos autores; no entanto, cabe aqui restringir-se aos trabalhos desenvolvidos por Gareth Morgan, Stephen Robbins e Stuart Hall, que pensam a organização sob uma perspectiva ideológica, permeada por crenças, valores e ritos que promovem a identificação de seus integrantes e a atribuição de sentido ao que fazem. Dependendo, em linhas gerais, da relação instituída com o legado cultural do seu fundador. A história de vida trazida para dentro da organização traduz valores que perpetuam, mesmo quando este ator sai de cena.

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Segundo Robbins (2002), “o comportamento dos fundadores age como um modelo, encorajando os funcionários a se identificarem com ele e, dessa forma, introjetando seus valores, convicções e premissas”. Ao ser bem-sucedido em seus projetos, o fundador passa a ser parte integrante dessa cultura, pois se torna um referencial importante para seus membros e para a sociedade. A cultura afeta o desempenho e a satisfação dos funcionários, sendo maior o impacto quanto mais forte ela é. O autor coloca que pessoas cujos valores não se ajustam aos da empresa mostram-se pouco motivadas e com baixo comprometimento, sentindo-se insatisfeitas com seu trabalho e com a organização.

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Ao analisar os diferentes tipos de cultura é necessário ter prudência. Não existem empresas com modelos de cultura melhores ou piores, pois tais modelos vinculam-se às particularidades com as quais essas empresas foram criadas. Na buscar por reunir as várias tendências apresentadas pelos autores citados, no estudo da cultura, é importante destacar que a cultura deve: 1. Ser compreendida em uma abordagem ampla, englobando os valores e crenças, referenciados pelo ambiente organizacional. 2. Remeter ao foco dado à interpretação das representações, enquanto conjuntos de significados apresentados no ambiente corporativo. 3. Ser percebida como modelo de trabalho desenvolvido pelos integrantes, considerando a dimensão da importância do fator humano na sua dinâmica de funcionamento.

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A cultura organizacional pode ser caracterizada pelo estabelecimento de comportamentos e atitudes pautados em significados compartilhados por todos os membros de uma organização, que a personalizam e a diferenciam das demais. Constitui a maneira institucionalizada de pensar e agir de uma empresa. A essência desta cultura é expressa pela maneira como ela estabelece as relações com seus funcionários e clientes, o grau de autonomia ou liberdade para atuar nos departamentos e o nível de lealdade expresso pelos colaboradores com relação à organização (ROBBINS, 2002). Portanto, ela representa as normas informais (intrínsecas) e não escritas que orientam o comportamento dos seus membros no dia a dia e que direcionam suas ações para o alcance dos resultados. Sendo assim, ajuda a criar um entendimento mútuo da vida organizacional, pois dá aos membros uma identidade própria, pelo entendimento comum de procedimentos, valores e percepções, facilitando o compromisso coletivo, encorajando a permanente integração e cooperação entre seus membros.

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Função do mito nas organizações No cenário corporativo, a coesão é fortalecida pelo sistema simbólico e imaginário das instâncias míticas de rituais e heróis. As crenças são desenvolvidas a partir da história de criação da empresa, que se configura na imagem formada no ambiente externo. O mito fala da origem dessa história, situa sua ação sobre a essência da criação, assim fascina, provoca uma comunicação afetiva e encantadora, instiga comportamentos provocados pela narrativa dessa história. São os casos de sucesso, como o de Eike Batista, Steve Jobs e Bill Gates. Pois, segundo Enriquez (1997), o mito procura congregar a comunidade em torno do protagonista, criando nela uma identificação. Sob esta ótica, o mito é o estabelecedor do vínculo social, com base na admiração e na cumplicidade. Tal imagem, simbolicamente, retratará o perfil de seus membros. Nasce uma identidade compartilhada, que é permeada de múltiplos significantes. É este sistema simbólico que possibilita o controle afetivo e intelectual de seus membros.

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Após a identificação, nascem os valores responsáveis pela orientação do comportamento no ambiente do trabalho, onde a linguagem se traduz, especialmente, na maneira como as pessoas se comunicam, de como se vestem e de como se relacionam. É nesta via que a cultura organizacional vai se constituindo, a partir de seus símbolos e da transmissão dos valores culturais a seus integrantes. Entretanto, a aceitação tácita do mito pode significar a negação do interesse pela mudança e pela renovação de conceitos estagnados, pois os mitos podem permanecer, mas a sociedade evolui, assim como o mercado capitalista. Instituições que cultuam seus mitos por longos anos podem perecer pela acomodação e pela rejeição ao novo, cerceando seus membros do contato com o ambiente externo.

Funções da cultura na organização Os valores culturais estão sempre evidenciados na história da empresa e na linguagem da organização e podem ser comunicados, pela área de recursos humanos, em diversas formas ritualísticas: na entrada ou na saída do indivíduo da empresa; na integração, usada para construir vínculos comuns entre os membros da empresa e na

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intensificação, para incentivar o comprometimento com as normas e valores. Robbins (2002) ressalta que a cultura organizacional desempenha diversas funções dentro do ambiente corporativo, necessárias à criação e ao fortalecimento da sua representação no ambiente interno e social: 1. Define fronteiras, diferenciando-a das demais organizações. 2. Desenvolve uma identidade para os seus membros. 3. Fomenta um sentimento de coletividade que se sobrepõe ao individual. 4. Estabelece padrões que direcionam e orientam os modos de agir e de fazer, como mecanismo de coesão e controle, que governam o comportamento humano.

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Pretende-se considerar que o sentimento de pertencimento à determinada cultura corporativa é formado e transformado no interior de suas representações. Ao fazermos parte de uma corporação dizemos que somos a empresa X, Y ou Z e o setor A, B ou C; essa representação passa a ser o sobrenome do funcionário — sou fulano da X. Metaforicamente falando, essa identidade é inserida no sangue, compondo o nosso gene e se torna parte da nossa natureza. Em pouco tempo estamos praticando os mesmos ritos, utilizando a mesma linguagem e reproduzindo o comportamento estabelecido. Desse modo, quando a empresa entra em falência, ou o funcionário é demitido por motivos diversos ou se aposenta, o processo de luto é inevitável, pois a perda é significativa e muito forte. A organização não é apenas uma entidade política-social-econômica, mas algo que produz sentido, ou seja, um forte sistema de representação cultural que, também, faz parte da constituição do indivíduo. Traduz-se na concepção de uma comunidade simbólica que gera o sentimento de identidade e lealdade. Esses fatores apresentados remetem à construção de subculturas dentro da cultura predominante, que é maior e está pautada na figura do seu fundador, responsável pelos planos, ideais e valores que a constituíram, dando sentido a sua existência. Cultura organizacional como identidade social

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Subculturas no ambiente organizacional A cultura predominante é responsável pelos valores essenciais que dão à empresa a sua personalidade, como já tratado anteriormente. Contudo, as subculturas emergem pela identificação de problemas (pessoais ou corporativos), situações do cotidiano ou experiências comuns entre seus membros, criando “os guetos” organizacionais, favorecidos pelas divisões departamentais ou geográficas. Eleva-se, com isso, um sentimento de coletividade e de pertencimento. As atividades compartilhadas ou interdependentes estabelecem os vínculos corporativos de apoio mútuo, o que fertiliza o campo para o surgimento das subculturas. Morgan (1996) aponta para o fato de que com o surgimento do conceito de cultura, as organizações trazem crenças e valores diversificados, levando-a à fragmentação. Ou seja, uma organização é constituída por diversos tipos de manifestações advindas de múltiplas culturas; a tendência ao surgimento de subculturas é grande, mas o desafio está na maneira de administrar essa diversidade, para reunificá-la e harmonizá-la, direcionando-a para a sua missão. Pertencer a uma empresa requer um aculturamento e uma adequação do conhecimento e da prática advinda de uma experiência vivida no decurso da existência de cada um.

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De acordo com Morgan (1996, p. 131), “nas organizações existem frequentemente sistemas de valores diferentes que competem entre si e que criam um mosaico de realidades organizacionais em lugar de uma cultura corporativa uniforme”. Para o autor, divisões subculturais podem ocorrer porque seus membros têm sua lealdade dividida, há diferenciação na maneira de como se comprometem com a organização. Deve-se considerar que o ambiente corporativo tem dimensões hierárquicas, atividades diferenciadas, áreas de atuação com maior ou menor complexidade, grupos etários, étnicos e de gêneros diversos criando, na concepção do autor, minissociedades organizacionais com padrões distintos de funcionamento, mas subordinados à determinação dos conceitos da cultura organizacional predominante. Sendo assim, ela estabelece os padrões que devem ser partilhados, buscando a coesão do comportamento de seus membros. Cultura organizacional como identidade social

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Cultura organizacional e sua relação com o ambiente externo O constructo da cultura corporativa pode ser didaticamente decomposto em várias camadas que, no seu conjunto, parecem atuar de maneira desordenada, quase caótica. Ou seja, ao mesmo tempo em que toda empresa é impelida em uma direção (força motriz), são constantemente feitas referências a um conjunto de regras (ideologia central); em paralelo há elementos inconscientes (self ) e até mesmo conflitos. Isso sem falar na resistência às novidades e às mudanças (novos valores adjacentes), que é a maior dificuldade da revaloração da cultura organizacional (JOHANN, 2004), especialmente quando a empresa é bem-sucedida e prevalece o ditado de que “em time que está ganhando não se mexe”. Contudo, é da análise do ambiente externo que surgem os insumos necessários para uma revisão das ações e práticas organizacionais, tendo em vista que é desse universo que advém as ameaças e oportunidades mercadológicas.

36

Segundo Limongi-França (2008), “o self ”2 organizacional situa-se no ponto central do núcleo da cultura de uma organização, representando a interface entre os sistemas consciente e inconsciente e servindo como regulador da totalidade da cultura”. Este conceito reforça que a repetida interação entre as pessoas propicia, ao longo do tempo, a cristalização de um conjunto de atitudes que, atuando em nível consciente e, muitas vezes, inconsciente, formata a sua cultura, ditando os próprios modelos de trabalho. Segundo Jung (JOHNSON, 1997, p. 204), o principal arquétipo é o Si mesmo (ou Self). O arquétipo (símbolo) é um sistema autônomo, que pode ser mediado por um processo de conscientização e contato do homem com seus sentimentos, afetos e valores. O Si mesmo é o centro de toda a personalidade. Sociologicamente, “self é um conjunto relativamente estável de percepções sobre quem somos em relação a nós mesmos, aos outros e aos sistemas sociais”.

2

Esses funcionamentos ocorrem como sistemas abertos, regulados e intrinsecamente ativos. Tal como um organismo vivo, o self organizacional tece uma rede de relacionamentos entre indivíduos, grupos e o meio social, ou seja, um sistema aberto alimentado pelo ambiente externo e em constante processo de adaptação, com suas entradas (inputs) se transformando em saídas (outputs), reguladas pela retroalimentação, ( feedbacks). Esses processos fazem com que a organização se mantenha em desequilíbrio, como um sistema aberto, onde os mecanismos de feedback correspondem a respostas do ambiente externo, que provocam a desarmonia. Esta desarmonia ou desequilíbrio é importante para a revitalização dos seus processos internos e, consequentemente, da

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própria cultura. Pois as saídas do sistema e o feedback remetem a um tipo de sinalização e acompanhamento do funcionamento do sistema, com vistas a manter um estado de evolução e orientá-lo para uma meta específica. A regulação do feedback dá-se por causalidade linear e unidirecional, enquanto a regulação do sistema aberto se dá por meio de interação multivariável (LIMONGI-FRANÇA, 2008). Entretanto, os integrantes se adaptam rapidamente aos sistemas de regulação que lhes são impostos, pois a ligação afetiva e a de interdependência são estabelecidas, consubstanciando uma espécie de acordo informal, implícito e subjetivo e que, forçosamente, se ajusta às relações de trabalho, determinando a postura que o funcionário deverá adotar, a linguagem utilizada, a vestimenta, o tipo de leitura, o lazer etc. Assim, o comportamento dessas pessoas é influenciado de maneira gradativa (inconsciente), moldando e alimentando a cultura da organização.

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Considera-se relevante ressaltar que o processo de construção da cultura organizacional com seus ditames enfatiza as consequentes manifestações de conflitos, insatisfações e adaptações que se apresentam, face à internalização desses novos valores e crenças, onde as normas, a disciplina e a ordem são aceitas por seus membros, subjazendo ao desejo do indivíduo. Para Stuart Hall (2006), o indivíduo forma a sua identidade ao longo de sua existência e esta permanece sempre em construção, pois há uma incompletude que se tenta preencher a partir da relação com o mundo exterior.

Considerações finais De um modo geral, os conceitos apresentados são constantemente sentidos no dia a dia pelo colaborador nas organizações, mas pouco refletidos quanto à significativa influência que têm sobre sua vida pessoal e profissional. Os processos de formação de cultura estão impressos em nossa vida desde os primórdios, como essenciais à promoção da ordem e do controle. Com a evolução da humanidade e do próprio modelo de trabalho, seus mecanismos se tornaram mais complexos e sofisticados. A organização de trabalho contemporânea demonstra que a Cultura organizacional como identidade social

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cultura organizacional é produto de uma ideologia partilhada pelos seus membros, que estabelece comportamentos e atitudes pautados em significados que formam a identidade da empresa, diferenciando-a das demais. Constitui uma maneira institucionalizada de pensar e agir coletivamente, que se sobrepõe aos interesses individuais. As organizações possuem representações que se afiguram em um sistema simbólico (imaginário), pautado nas instâncias míticas de rituais e dos heróis que as fazem chegar ao sucesso. Sua história demonstra, por meio de símbolos organizacionais e dos múltiplos significantes, o controle efetivo e intelectual de seus membros, nos quais cria o sentimento de orgulho e pertencimento, fatores importantes nos processos motivacionais, e é esse controle que mantém a coesão do comportamento organizacional. Esse sistema imaginário é alicerçado por um repertório de princípios, valores e costumes, assim como as crenças e normas morais e institucionais que regulam a coletividade. 38

Quanto maior a aderência às características culturais da empresa pelos colaboradores, maior será a possibilidade de manter equipes comprometidas, felizes e motivadas para cumprir a sua missão com a eficácia pretendida.

Referências BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama, Claudia Martil. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998. DAVEL, Eduardo; VERGARA, Sylvia Constant (Org.). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 2001. DESSLER, G. Administração de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. ENRIQUEZ, Eugène. A organização em análise. Petrópolis: Vozes, 1997. FOUCAULT, M. As figuras do poder. São Paulo: Via Lettera, 2005. FOUCAULT, M. Poder: corpo. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1988. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.

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FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Rio de Janeiro: Imago, 1997. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997. FREUD, Sigmund. O mal-estar na cultura. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM, 2010. FUKS, Betty B. Freud e a cultura. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2011. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. JOHANN, Sílvio Luiz. Gestão da cultura corporativa: como as organizações de alto desempenho gerencial sua cultura organizacional. São Paulo: Saraiva, 2004. JOHNSON, A. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997. LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Psicologia do trabalho: psicossomática, valores e práticas organizacionais. São Paulo: Saraiva, 2008. 39

MALISKA, Maurício Eugênio. Entre linguística e psicanálise. Curitiba: Juruá, 2010. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

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Mestre em Educação Física (Universidade Gama Filho, 2004) com especialização em Esporte Educacional (UnB, 1999) e graduação em Educação Física (UnB, 1996). É professora no curso de graduação em Educação Física na Universidade Gama Filho e professora de Educação Física na Escola SESC de Ensino Médio.

MÁRCIA MIRANDA

Análise da aplicação de um programa alternativo de ensino-aprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

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Introdução Esse artigo versa sobre o desempenho e a aprendizagem motora dentro de uma perspectiva lúdico-funcional da aprendizagem de um esporte. O foco do estudo é a aprendizagem lúdico-funcional do tênis de campo entendida como a capacidade de o indivíduo jogar uma partida deste esporte utilizando-se dos fundamentos básicos de rebatida da bola com a palma da mão voltada para frente (tecnicamente denominado “forehand”), com as costas da mão voltada para frente (tecnicamente denominado “backhand”) e por meio do saque. A intenção pedagógica é a aquisição do domínio básico dos referidos movimentos de rebatida da bola com uma raquete, de modo a viabilizar a funcionalidade e o prazer de aprender e de jogar tênis de campo. Por funcionalidade do jogo entende-se a capacidade de os jogadores terem um domínio básico dos movimentos de rebatida da bola com o objetivo de, durante uma partida, haver trocas de bola com o intuito de consignar pontos vencedores em relação ao jogador oponente. Esse estágio de aprendizagem não se contrapõe aos interesses e às possibilidades de os indivíduos galgarem estágios mais complexos e

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qualificados de aprendizagem dos movimentos especializados, aplicados no contexto de estratégias táticas características deste esporte. O tênis de campo ainda está associado a uma imagem de esporte de elite, pois mesmo considerando a quantidade expressiva de indústrias que se dedicam à produção e à comercialização de implementos para sua prática, os equipamentos ainda apresentam valores elevados. No contexto brasileiro, o aumento de quadras de tênis de campo (MULLER; MIRANDA, 2005), aconteceu fundamentalmente em áreas privadas, restritas a um segmento privilegiado da população. Raros são os locais públicos com instalações e equipamentos próprios para a prática do tênis de campo. Além disso, o espaço de divulgação nos meios televisivos ainda está concentrado em canais de acesso exclusivo a assinantes, tornando-se uma barreira para sua divulgação junto aos segmentos sociais menos favorecidos. Acredita-se que uma das maneiras de superar o rótulo de esporte de elite do tênis de campo é mostrar a concreta possibilidade da prática do esporte em quadras poliesportivas, grama, jardins, estacionamentos, com materiais alternativos (bolas de borracha, raquetes de madeira, de plástico, redes com cordas), com a participação de mais jogadores em cada grupo de aprendizagem, possibilitando alternativas à dinâmica formal de ensino-aprendizagem. Isso não significa reduzir ou limitar as possibilidades de prática a uma perspectiva “rudimentar” de jogo. Avanços e manutenção nos níveis de habilidades e de exigências dependem dos níveis de desejo dos grupos de praticantes. Diferentes pessoas podem praticar um mesmo tipo de atividade físico-esportiva, motivados por diferentes objetivos específicos (saúde, lazer, estética, alto rendimento etc.). Tornar o jogo acessível e popular pressupõe a funcionalidade de se ter condições e habilidades básicas para jogar. Pedagogicamente, a perspectiva de popularização implica a adequação do jogo aos diferentes níveis de condições e de habilidades iniciais dos interessados.

42

Assim, realizou-se uma pesquisa sobre os efeitos de um programa que apresenta alternativa pedagógica de adaptações de regras, materiais e instalações, assegurando a aprendizagem do jogo a partir de uma estratégia dinâmica e lúdica. Uma proposta pedagógica em que os interessados aprendam a jogar, jogando. A intenção foi que as habilidades motoras básicas do esporte fossem dominadas e funcionalmente articuladas, a partir de uma sequenciação pedagógica de

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maneiras simplificadas do jogo-fim para que habilidades, funcionalidades e sentido do jogo estivessem presentes em todo o momento do processo de ensino-aprendizagem. O objetivo desta pesquisa é analisar os resultados, em termos de desempenho e de aprendizagem motora, de um programa alternativo de ensino-aprendizagem do tênis de campo desenvolvido metodologicamente em uma perspectiva lúdico-funcional, envolvendo crianças de 11 a 13 anos.

Suporte teórico As pesquisas sobre aprendizagem motora procuram desvendar como as pessoas aprendem e aperfeiçoam as habilidades motoras e, por meio de estudos, tentam identificar as variáveis que influenciam no melhor aproveitamento das experiências de aprendizagem (MAGILL, 2000; SCHMIDT, 1993; TANI et al., 1988; TANI, 2005; GALLAHUE; OZMUN, 2003).

43

É importante compreender que a aprendizagem é um processo interno não observável, caracterizado por mudanças comportamentais permanentes e estáveis. Ou seja, quando as pessoas aprendem, ocorrem mudanças relativamente permanentes, que subsistem a mudanças de outras condições ou à passagem do tempo, produzindo a aquisição de um conhecimento, seja de natureza conceitual, procedimental ou atitudinal. No caso da presente pesquisa, era preciso ter clareza de elementos indicadores e evidências suficientes para afirmar ou não a ocorrência da aprendizagem lúdico-funcional do tênis de campo. Era preciso ter certeza de que o que se observa é, de fato, resultado da aprendizagem. Portanto, a medição da aprendizagem e a avaliação dos progressos são importantes em todo processo de ensino. Não menos importante foi a determinação das habilidades motoras a serem avaliadas, determinando quais os principais golpes do tênis utilizados durante uma partida (VRETAROS, 2004). O processo que possibilita a determinação da ocorrência da aprendizagem de uma habilidade motora acontece em duas partes. À medida que a prática acontece continuadamente sob condições adequadas, diversas modificações ocorrem no desempenho das

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habilidades no aprendiz. Essas modificações indicam os estágios identificados no processo de aprendizagem. Tais modificações são afetadas pelo fenômeno da interferência contextual, como podemos analisar nos estudos de Pellegrini e Correa (1996) e Pellegrini (2000), que mostra a importância da prática no processo de aprendizagem motora. Podemos ainda observar que essa prática, quando realizada como estrutura de prática variada em situações reais de ensino-aprendizagem, obtém resultados mais satisfatórios, como é mostrado nos estudos de Meira Junior, Tani, Manoel (2001). Um estudo realizado por Freudenheim e Marinovic (2001), evidencia que a prática é realmente a melhor maneira de se alcançar a aprendizagem de uma habilidade motora, que no caso foi o saque no tênis de mesa, entretanto esse estudo não afirma ser a prática variada a melhor opção. Quando pensamos nos estágio de aprendizagem e observamos que

44

existe uma passagem de um sujeito inexperiente ao habilidoso, estamos considerando que passamos por estágios de aprendizagem que nos leva a níveis motores diferenciados. O experimento realizado por Goldfield, Kay e Warren (1993) apud Barela (1999) examinou a aquisição de movimentos saltatórios por crianças de 6 meses. O estudo comprovou que elas não tiveram qualquer instrução sobre para saltar e que com a prática começaram a explorar o que poderiam realizar de modo motor e evoluíram em relação aos estágios de aprendizagem. De acordo com Magill (2000), foi desenvolvida por Fitts e Posner, em 1967, uma teoria sobre os estágios da aprendizagem motora. O primeiro estágio é denominado de “cognitivo”, que representa o nível básico, onde o aprendiz está operando a parte inicial da aprendizagem de uma habilidade motora. Esse estágio caracteriza-se por erros grosseiros durante a prática, desempenho altamente inconsistente e necessidade de informação externa para corrigir o que se está fazendo de errado. O segundo estágio é denominado de “associativo”. Nele, muitos elementos básicos da habilidade foram parcialmente aprendidos. Os erros aqui são menos frequentes e menos grosseiros. O objetivo é o refinamento da habilidade. O aprendiz consegue detectar alguns de Análise da aplicação de um programa alternativo de ensinoaprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

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seus erros ao desempenhar determinada tarefa. A variação de desempenho começa a decrescer. O terceiro estágio chama-se “autônomo”. É o estágio final da aprendizagem. A habilidade torna-se quase automática. O aprendiz desempenha quase toda a habilidade sem pensar nela. Nesse estágio ele consegue não só detectar seus erros como realizar os ajustes necessários para corrigi-los. A variação de desempenho é muito pequena. O aprendiz consegue produzir uma resposta sem ter que se concentrar no movimento inteiro, liberando-o para outros aspectos que contribuirão para a melhora no seu desempenho. Termina a necessidade de dirigir a atenção para o ato motor.

Estrutura e características gerais do programa alternativo de ensinoaprendizagem do tênis de campo

45

O programa pressupôs uma abordagem de ensino-aprendizagem lúdica do jogo de tênis de campo, adequando regras, instalações e equipamentos às possibilidades funcionais e dinâmicas do jogo-fim. O método de ensino aplicado identifica-se com o “conceito recreativo do jogo” (DIETRICH; DURRWACHTER; SCHALLER, 1984), no qual as séries progressivas de jogos possibilitam aos principiantes experimentar um jogo desde o início em sua ideia fundamental e, com um conhecimento crescente, tentar maneiras mais difíceis. Utiliza-se de pequenos jogos os quais antecipam o jogo-fim e que podem ser denominados de modos básicos dos jogos esportivos. O programa alternativo de intervenção metodológica no ensinoaprendizagem do tênis de campo constou de 38 aulas em nível de iniciação, com duração de 50 minutos cada, enfocando a aprendizagem dos golpes básicos em uma perspectiva funcional e lúdica. O programa de ensino-aprendizagem foi planejado de modo que o aluno fosse capaz de “jogar um jogo de tênis” em condições semelhantes ao do jogo-fim. Análise da aplicação de um programa alternativo de ensinoaprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

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Quadro 1: Características do programa alternativo e da metodologia convencional de ensino-aprendizagem do tênis de campo.

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Indicadores

Programa alternativo

Metodologia convencional

Foco da aprendizagem

Aprendizagem lúdica do jogo de tênis de campo, adequando regras, instalações e equipamentos às possibilidades funcionais e dinâmicas do jogo-fim.

Aprendizagem progressiva dos elementos técnicos e táticos do tênis utilizando as regras, instalações e equipamentos padronizados do jogo-fim.

Método

Misto ou Recreativo do jogo (XAVIER, Parcial (XAVIER, 1986; DIETRICH; 1986; DIETRICH; DURRWACHTER; DURRWACHTER; SCHALLER, SCHALLER, 1984). 1984).

Metodologia de ensino

Identificadas com a concepção de ensino aberto às experiências de movimento (HILDEBRANT; LAGING,1986).

Características da concepção de ensino fechado às experiências de movimento (HILDEBRANT; LAGING, 1986).

Dimensão das turmas de aprendizagem

Grupos de médio porte

Individuais ou duplas

Instalações e equipamentos Adaptados

Oficiais

Método O delineamento metodológico da pesquisa foi do tipo pré e pós-teste, sem grupo de controle (único grupo) que, por sua vez, foi selecionado de modo não probabilístico. O delineamento metodológico da pesquisa utilizado pode ser assim configurado:

Quadro 2: Delineamento metodológico da pesquisa. Antes

Depois Tratamento experimental (38 aulas)

Grupo Experimental

Thm1

Grupo de controle

Não foi utilizado

Thm2

Depois Descanso da prática (72 horas)

Thm3

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Sujeitos O Grupo Experimental foi constituído por 12 crianças na faixa etária entre 11 e 13 anos, de ambos os sexos, sendo seis meninos e seis meninas. A idade-média do grupo foi aproximadamente de 12 anos. A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública do município do Rio de Janeiro, Escola Municipal Georg Pfisterer. As aulas aconteceram três vezes por semana em horário distinto daqueles em que as crianças frequentam suas aulas regulares.

Coleta de dados O Grupo Experimental foi constituído pela turma de crianças que participou da aplicação do programa alternativo de ensino-aprendizagem do tênis de campo. Thm1 representou a primeira aplicação do Teste de Habilidade Motora Específica do Tênis de Campo (pré-teste). A fase do tratamento experimental representou a aplicação do programa alternativo. Thm2 representou a segunda aplicação do Teste de Habilidade Motora Específica do Tênis de Campo (pós-teste — melhora no desempenho habilidoso) e Thm3 a aplicação do Teste de Habilidade Motora Específica do Tênis de Campo após um período de descanso da prática (teste de retenção — ocorrência ou não da aprendizagem).

47

Para a aplicação do Teste de Habilidade Motora Específica do Tênis de Campo foi utilizado um canhão de bola Tuttor Ball, na velocidade 4. Esse equipamento garante a mesma velocidade, direção e precisão de todas as bolas lançadas, eliminando, assim, o grau de variação dos lançamentos para a execução das crianças. Em todos os testes foram utilizadas bolas de tênis novas. O alvo foi delimitado por áreas, demarcado com linhas no chão. Para os testes livres não havia alvo, e nos outros a área se referia a uma demarcação na direção paralela ou cruzada na execução do forehand e backhand e igualmente área paralela e cruzada dentro da área de saque quando este era realizado. O Teste de Habilidade Motora Específica do tênis de campo foi qualitativamente validado por especialistas de tênis de campo, assim como a confiabilidade foi obtida por meio do sistema de aplicação teste e pós-teste.

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Tratamento estatístico Para análise dos dados foi utilizado o Teste T de Student adotando-se a tabela bicaudal, bem como estatísticas descritivas para demonstrar a variação dos desempenhos dos alunos. Os cálculos foram realizados no pacote estatístico SPSS 10.0 para Windows.

Resultados e discussões Resultados dos testes de execução da rebatida de forehand 1. Teste forehand (a) — alvo livre Conforme demonstra a tabela 1, no teste forehand (a) — alvo livre registrou-se um índice de acertos de 17,5% no Thm1 (pré-teste), enquanto que, no Thm2 (pós-teste), chegou-se a um índice de 79,1% de acertos. No Thm3 (teste de retenção), o índice de acertos obtido foi de 84,16%.

48

Tabela 1: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste forehand (a) — alvo livre, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste forehand (a) — alvo livre Alunos

Thm1 Acertos

Thm2 Erros

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

7

3

9

1

B

0

10

10

0

10

0

C

3

7

10

0

10

0

D

4

6

10

0

10

0

E

2

8

7

3

7

3

F

5

5

8

2

9

1

G

2

8

10

0

10

0

H

1

9

10

0

10

0

I

1

9

6

4

7

3

J

3

7

8

2

8

2

K

0

10

5

5

6

4

0

10

4

6

5

5

21

99

95

25

101

19

L Total

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2. Teste forehand (b) — alvo paralela O teste forehand (b) — alvo na paralela, teve como objetivo fazer uma verificar a eficácia na execução do golpe de forehand. Considerou-se o alvo como todo o lado direito da quadra (não havia alunos canhotos), independentemente de a bola ser curta ou longa. É muito importante esclarecer que no Thm1 não houve acertos nas rebatidas do teste forehand (b) — alvo paralela, conforme pode ser observado na tabela 2.

Tabela 2: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste forehand (b) — alvo paralela, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste forehand (b) — alvo paralela Alunos

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

8

2

8

2

B

0

10

10

0

10

0

C

0

10

10

0

10

0

D

0

10

10

0

10

0

E

0

10

10

0

10

0

F

0

10

8

2

8

2

G

0

10

10

0

10

0

H

0

10

10

0

10

0

I

0

10

5

5

3

7

J

0

10

8

2

8

2

K

0

10

10

0

10

0

L

0

10

2

8

2

8

Total

0

120

101

19

99

21

49

Os resultados indicam um índice de acertos de 84,1% no Thm2, enquanto que, no Thm3, verificou-se um índice de 82,5%. Percebe-se uma diferença negativa de 1,6%. Diante dos dados, verifica-se que no Thm2 registrou-se 101 rebatidas certas do total de 120 realizadas no teste, o que representa 84,16% de acertos nas rebatidas de forehand, com alvo na paralela. 3. Teste forehand (b1) — alvo cruzada Neste teste todo o lado esquerdo da quadra foi considerado alvo (não havia alunos canhotos), independentemente de a bola ser curta ou longa.

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Igual ao ocorrido no Thm1 — alvo paralela, no Thm1 — alvo cruzada, não foram registrados acertos nas rebatidas executadas (tabela 3).

Tabela 3: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste forehand (b1) —alvo cruzada, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste forehand (b1) — alvo cruzada Alunos

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Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

4

6

8

2

B

0

10

9

1

10

0

C

0

10

9

1

9

1

D

0

10

8

2

8

2

E

0

10

9

1

7

3

F

0

10

9

1

8

2

G

0

10

9

1

8

2

H

0

10

8

2

8

2

I

0

10

6

4

2

8

J

0

10

7

3

8

2

K

0

10

10

0

8

2

L

0

10

5

5

4

6

Total

0

120

93

27

88

32

Verificou-se um índice de acertos de 77,5% no Thm2, enquanto que no Thm3 chegou-se a um índice de 73,3% de acertos. O índice de acertos no Thm2 e no Thm3 deste teste foram menores do que os registrados no teste forehand (b) — alvo paralela (Tabela 3). Em tese, para rebater uma bola na cruzada, o ponto de contato da raquete com a bola deve ser mais à frente do corpo do que o ponto de contato para a rebatida na paralela. Sendo assim, é possível que alunos iniciantes, na faixa etária entre 11 e 13 anos, tendam a rebater a bola de forehand, respondendo mais lentamente ao movimento de rebatida e, com isto, recuando, sem intenção, o ponto de contato da raquete com a bola. Neste caso, a ação de recuar o ponto de contato da raquete com a bola tende a favorecer a rebatida na paralela.

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O teste T de Student dependente das diferenças entre as médias, para teste de forehand, indica que as médias de Thm2 e Thm1 não são semelhantes para testes forehand com alvo livre, paralela e cruzada, o que revela uma melhoria no desempenho na execução do forehand. O T calculado forehand para Thm3, comparado à Thm2, indica que as médias de Thm3 e Thm2 são estatisticamente semelhantes para os testes com alvo livre, paralela e cruzada, o que nos mostra que o desempenho dos alunos no Thm3 foi semelhante ao desempenho obtido no Thm2, o que sugere ser uma efetiva aprendizagem da habilidade motora alvo, considerando a inexistência de variabilidade negativa entre os resultados de Thm3 e Thm2.

Resultados dos testes de execução da rebatida de backhand 1. Teste backhand (a) — alvo livre Conforme demonstra a tabela 4, no teste backhand (a) — alvo livre, registrou-se um índice de acertos de 14,16% Thm1, enquanto que no Thm2 chegou-se a um índice de 79,16% de acertos. No Thm3 o índice de acertos obtido foi de 83,3%.

51

Tabela 4: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste backhand (a) — alvo livre, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste bakchand (a) — alvo livre Alunos

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

5

5

7

3

B

0

10

7

3

9

1

C

3

7

10

0

10

0

D

2

8

8

2

8

2

E

2

8

10

0

10

0

F

1

9

10

0

10

0

G

1

9

10

0

10

0

H

1

9

8

2

9

1

I

1

9

5

5

5

5

J

4

6

9

1

9

1

K

2

8

10

0

10

0

L

0

10

3

7

3

7

17

103

95

25

100

20

Total

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2. Teste backhand (b) — alvo paralela O teste backhand (b) — alvo na paralela, teve como objetivo verificar a eficácia na execução do golpe de backhand do tênis de campo. Considerou-se como alvo todo o lado direito da quadra (não havia alunos canhotos), independentemente de a bola ser curta ou longa. É muito importante esclarecer que no Thm1 não houve acertos nas rebatidas do teste backhand (b) — alvo paralela, conforme demonstra a tabela 5.

Tabela 5: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste backhand (b) — alvo paralela, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste backhand (b) — alvo paralela Alunos 52

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

5

5

5

5

B

0

10

8

2

8

2

C

0

10

10

0

10

0

D

0

10

10

0

10

0

E

0

10

10

0

10

0

F

0

10

10

0

10

0

G

0

10

10

0

10

0

H

0

10

9

1

9

1

I

0

10

5

5

3

7

J

0

10

8

2

8

2

K

0

10

10

0

10

0

L

0

10

1

9

1

9

Total

0

120

96

24

94

26

A tabela 5 revela um índice de acertos de 80% no Thm2, enquanto no Thm3 verificou-se um índice de 78,3%. 3. Teste backhand (b1) — alvo cruzada O teste backhand (b1) — na cruzada, manteve o objetivo de analisar a eficácia na execução do golpe de backhand. Considerou-se como alvo todo o lado esquerdo da quadra (não havia alunos canhotos), independentemente de a bola ser curta ou longa.

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Semelhante ao ocorrido no teste backhand (b) (Thm1) — alvo paralela, no teste em foco (Thm1 — alvo cruzada) não foram registrados acertos nas rebatidas.

Tabela 6: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste backhand (b1) —alvo cruzada, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste backhand (b1) — alvo cruzada Alunos

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

7

3

5

5

B

0

10

7

3

5

5

C

0

10

9

1

8

2

D

0

10

10

0

8

2

E

0

10

10

0

9

1

F

0

10

8

2

9

1

G

0

10

10

0

6

4

H

0

10

6

4

8

2

I

0

10

4

6

3

7

J

0

10

6

4

7

3

K

0

10

9

1

10

0

L

0

10

3

7

2

8

Total

0

120

89

31

80

40

53

Verifica-se um índice de acertos de 74,16% no Thm2, enquanto no Thm3 chegou-se a um índice de 66,6% de acertos. Outro dado interessante revelado pela tabela 6 é em relação ao fato de o índice de acertos do Thm2 e do Thm3 serem menores dos que os apresentados no teste backhand (b) — alvo paralela. Esses resultados sugerem que os alunos apresentaram mais controle na execução da rebatida de backhand na paralela do que na rebatida de backhand na cruzada, como detectado também para o golpe de forehand. Como já foi explicado quando da análise dos resultados obtidos no teste forehand (b1) — alvo cruzada, este fato pode ser decorrente da necessidade de se rebater a bola em um ponto de contato mais à frente do corpo do aluno executante. Alunos iniciantes, pela maior possibilidade de reagirem mais lentamente ao movimento de rebatida, tendem a tocar na bola em um ponto de contato mais atrás do que o necessário.

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O resultado de “T” calculado no teste de backhand permite inferir que as médias obtidas em Thm2 e Thm1 não são semelhantes, o que revela uma melhoria no desempenho na execução do teste backhand, considerando as condições apresentadas para os testes com alvo livre, paralela e cruzada. Também indica que as médias de Thm3 e Thm2 são estatisticamente semelhantes, o que sugere que o desempenho dos alunos no Thm3 foi semelhante ao desempenho obtido no teste realizado após o período da prática sistematizada (Thm2), que sugere que este desempenho é decorrente da aprendizagem da habilidade motora alvo (backhand alvo livre, paralela e cruzada), considerando a inexistência de variabilidade significativa entre os resultados de Thm3 e Thm2.

Resultados dos testes de execução da rebatida de saque 54

1. Teste de saque — lado direito O teste de saque — lado direito consistiu em executar a habilidade do golpe do saque, fazendo com que a bola caísse na área específica da outra meia quadra, tornando-o válido. O lado direito significa que os alunos estavam posicionados do lado direito da quadra no momento da execução do saque. A tabela 7 registrou um índice de acertos de 14,16% no Thm1 do teste de saque — lado direito, enquanto que, no Thm2, chegou-se a um índice de 80,83% de acertos. No Thm3 o índice de acertos obtido foi de 84,16%.

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Tabela 7: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste de saque — lado direito, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste de saque — lado direito Alunos

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

8

2

6

4

B

0

10

9

1

9

1

C

3

7

10

0

10

0

D

3

7

10

0

10

0

E

1

9

7

3

9

1

F

2

8

9

1

9

1

G

4

6

10

0

10

0

H

3

7

7

3

10

0

I

0

10

4

6

5

5

J

1

9

10

0

10

0

K

0

10

10

0

10

0

L Total

0

10

3

7

3

7

17

103

97

23

101

19

55

2. Teste de saque — lado esquerdo O teste de saque — lado esquerdo consistiu na execução do saque, golpeando intencionalmente a bola para que ela caísse na área específica da outra meia quadra. De acordo com a tabela 8, registrou-se um índice de acertos de 14,16% no Thm1, enquanto que no Thm2 chegou-se a um índice de 77,5% de acertos. No Thm3 o índice de acertos obtido foi de 76,6%. Esses resultados sugerem uma melhora da habilidade motora na execução do golpe de saque — lado esquerdo. Os dados indicam que houve um desempenho melhor da habilidade de execução do saque pelo lado direito, quando comparado com o desempenho obtido na execução do saque pelo lado esquerdo. Essa diferença pode ser explicada pelo posicionamento do jogador destro que, ao executar o saque do lado direito, apresenta um vetor de posicionamento que tende a facilitar a execução do saque, quando comparado com o posicionamento do jogador destro executando o saque do lado esquerdo. Essa relação se inverte para executantes sinistros.

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Tabela 8: Quantidade de acertos e de erros obtidos pelos alunos na execução do teste de saque — lado esquerdo, nos momentos Thm1, Thm2 e Thm3. Teste de saque — lado esquerdo Alunos

56

Thm1

Thm2

Thm3

Acertos

Erros

Acertos

Erros

Acertos

Erros

A

0

10

6

4

6

4

B

0

10

8

2

9

1

C

5

5

9

1

10

0

D

2

8

9

1

10

0

E

4

6

7

3

8

2

F

2

8

9

1

7

3

G

2

8

10

0

10

0

H

1

9

9

1

7

3

I

0

10

3

7

2

8

J

0

10

10

0

10

0

K

1

9

10

0

10

0

L Total

0

10

3

7

3

7

17

103

93

27

92

28

Comparando os acertos na execução do saque pelo lado esquerdo, levando-se em consideração os desempenhos obtidos em Thm2 e Thm3, tudo indica que, mesmo após um período sem a prática de atividades motoras específicas do tênis de campo, os alunos conseguiram manter um desempenho motor semelhante entre os dois testes. Os resultados obtidos para o “T calculado” em relação à diferença de médias entre Thm2 e Thm1, para o teste de saque — lado direito e lado esquerdo, indicam que as médias de Thm2 e de Thm1 não são semelhantes, o que revela uma melhora no desempenho da execução do saque nesses testes. Os resultados do T calculado no momento Thm3, teste de saque — lado direito e esquerdo indicam as médias de Thm3 e Thm2 são estatisticamente semelhantes, sugerindo que o desempenho dos alunos no Thm3 foi semelhante ao desempenho obtido no Thm2, apontando que esta melhora no desempenho é decorrente da efetiva aprendizagem da habilidade motora alvo, considerando a inexistência de variabilidade significativa entre os resultados de Thm3 e Thm2. Análise da aplicação de um programa alternativo de ensinoaprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

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Resultados sobre a execução do jogo de tênis de campo Considerando que, na presente pesquisa, não haveria a possibilidade de estabelecer correlações confiáveis entre os resultados do desempenho motor obtidos nos Testes de Habilidade Motora Específica do Tênis de Campo e o desempenho motor dos alunos, em termos de funcionalidade do jogo propriamente dito, decidiuse pela realização de uma espécie de torneio entre os alunos para verificar este objetivo. Neste teste os alunos foram organizados em dois grupos. Os alunos de cada grupo jogaram entre si, em partidas de quatro games. A distribuição dos alunos foi realizada em função dos níveis de habilidade demonstrados nos três testes de habilidade motora específica dos golpes de forehand, de backhand e de saque, de modo que a diferenciação de desempenhos não se tornasse um fator preponderante de desequilíbrio entre os alunos participantes.

57

É preciso levar em consideração que o propósito de um jogo de tênis de campo é dificultar a recepção e rebatida do jogador oponente, visando a obtenção do ponto. Entretanto, considerando o nível de habilidade inicial dos alunos envolvidos no programa alternativo, havia certo nivelamento entre eles de modo a não ter havido jogadas estratégicas deliberadas que pudessem dificultar a recepção e ocasionar assim o erro do adversário. Por meio de um “scout de jogo”, registrou-se a quantidades de golpes executados e o percentual de golpes válidos de cada aluno e para cada uma das habilidades específicas ensinadas durante o desenvolvimento do programa (forehand, backhand e saque). A tabela 9 revela que de um total de 413 golpes executados, por todos os alunos, durante os jogos realizados, obteve-se um total de 71,67% de execuções eficazes (ou seja, bolas rebatidas com acerto). Esse percentual sugere um bom desempenho funcional dos golpes aprendidos e executados

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Tabela 9: “Scout do jogo” — percentual de golpes efetuados e de acertos obtidos por aluno.

58

Habilidades

Saque

Alunos

N

Backhand % acertos

Forehand

% acertos

N

Total % acertos

N

% acertos

N

A

11

72,72

10

80,00

0

0

21

76,19

B

12

83,33

8

87,50

3

66,66

23

82,60

C

9

100

19

52,60

10

30,00

38

57,89

D

11

90,90

28

64,28

12

50,00

51

66,66

E

11

81,81

10

60,00

11

27,27

32

56,25

F

10

100

18

88,88

13

84,61

41

90,24

G

11

100

14

100

7

85,71

32

96,87

H

13

76,92

14

100

5

60,00

32

84,37

I

10

90,00

11

18,18

5

0

26

42,30

J

10

90,00

24

70,83

8

62,50

42

73,80

K

11

100

20

80,00

15

80,00

46

84,78

L

10

60,00

14

21,42

5

40,00

29

37,93

Total

129

86,82

190

68,94

94

56,38

413

71,67

O golpe de backhand foi o fundamento mais utilizado pelos alunos durante os jogos realizados (190 golpes, com 68,94% de acertos). Trata-se de um golpe que a maioria dos executantes realiza segurando a raquete com as duas mãos, o que possivelmente possibilita maior controle de força na execução. A habilidade motora com o maior percentual de acertos foi o saque (86,82%). Trata-se de um fundamento em que o executante, em tese, dispõe de maior controle da relação corpo-postura-equipamentos para a sua realização. A bola e a consequente rebatida não sofrem a influência direta do jogador oponente. No geral, os índices de desempenho obtidos pelo grupo de alunos sugerem, além do domínio das habilidades motoras específicas do tênis de campo, a habilidade de aplicá-las funcionalmente no contexto do jogo de tênis de campo. Considerando um grupo de alunos iniciantes que nunca praticaram ou vivenciaram este esporte, os resultados obtidos são indicadores inequívocos de que a proposta de programa alternativo de ensino-aprendizagem de tênis de campo, na perspectiva lúdico-funcional do jogo, é eficaz no sentido de viabilizar, em

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pouco tempo, a aquisição das habilidades motoras, a motivação para a prática e a funcionalidade do jogo.

Conclusão Comprovou-se a intenção pedagógica de aquisição do domínio básico dos fundamentos de forehand, backhand e saque, de modo a viabilizar a funcionalidade e o prazer durante o processo de ensino aprendizagem e o ato de jogar um partida de tênis de campo. Por meio dos resultados apresentados, sugere-se que o ideal proclamado por especialistas do tênis de campo em relação ao desenvolvimento da apreciação, bem como em relação à popularização dessa prática esportiva não requerem, necessariamente, uma via metodológica de ensino-aprendizagem pautada em processos didático-pedagógicos fechados e formalmente orientados.

59

A semelhança verificada no desempenho dos alunos durante o jogo e nos Testes de Habilidade Específica do Tênis de Campo sugere que a utilização do método recreativo do jogo no processo de ensino-aprendizagem, com a aplicação de atividades que preservam as características do jogo-fim, pode ter sido um importante fator de contribuição para a funcionalidade do jogo e motivação para a aprendizagem. O sentido lúdico e funcional do jogo não requer, na fase inicial de socialização do indivíduo com o esporte, a busca do domínio biomecânico dos fundamentos técnicos especializados do tênis de campo, nem a utilização de instalações e equipamentos convencionais. Existem, portanto, espaços pedagógicos para adaptações das instalações, dos equipamentos, das regras de execução e das habilidades motoras do esporte sem, no entanto, descaracterizar a lógica do jogo-fim. O grupo de alunos, em geral, está apto a, de acordo com seus interesses e suas possibilidades, continuar a praticar o jogo de tênis de campo em uma perspectiva funcional e recreativa, assim como poderão buscar estágios mais complexos de aprendizagem dos movimentos, em uma perspectiva de desenvolvimento de habilidades técnico-táticas específicas do esporte.

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Pode-se mostrar com os resultados da pesquisa, a concreta possibilidade da prática do esporte em quadras poliesportivas, em pátios ou estacionamentos, com materiais alternativos (bolas de borracha, raquetes de madeira, de plástico, redes com cordas), com a participação de mais jogadores em cada grupo de aprendizagem, possibilitando alternativas à dinâmica formal de ensino-aprendizagem do tênis de campo. Assim, contribui-se para a facilitação da sua prática, podendo aproximar suas possibilidades de jogo às condições disponíveis em cada realidade.

Referências BARELA, J. Aquisição de habilidades motoras: do inexperiente ao habilidoso. Revista Motriz, São Paulo, v. 5, n. 1, jun. 1999. DIECKERT, J.; DIETRICH, K.; BRODTMANN, D. Elementos e princípios da educação física: uma antologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986.

60

DIETRICH, K.; DURRWACHTER, G.; SCHALLER, H. Os grandes jogos: metodologia e prática. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984. FREUDENHEIM, A.; MARINOVIC, W. Prática variada: a melhor opção para a aquisição de uma habilidade motora? Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 103-110, jan./jun. 2001. GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor. São Paulo: Phorte, 2003. HILDEBRANDT, R.; LAGING, R. Concepções abertas no ensino da educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986. MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2000. MEIRA JUNIOR, C. M.; TANI, G.; MANOEL, E. A estrutura da prática variada em situações reais de ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 9, n. 4, p. 55-63, out. 2001. MULLER, J.; MIRANDA, M. Tênis. In: DACOSTA, L. (Ed.). Atlas do esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. p. 278. PELLEGRINI, A. A aprendizagem de habilidades motoras, I: o que muda com a prática? Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, p. 29-34, 2000. Suplemento 3.

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Análise da aplicação de um programa alternativo de ensinoaprendizagem do tênis de campo no contexto escolar

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Pós-graduado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), Graduado em Comunicação Visual pela UniverCidade, e certificado pela Global Report Initiative (GRI). Trabalha há 10 anos no Departamento Nacional do SESC, atualmente na coordenação das ações socioambientais desenvolvidas pelo ECOS — Programa de Sustentabilidade CNC-SESC-SENAC.

MARIO HENRIQUES SALADINI

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Ética, antropocentrismo e empresa O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos. — Albert Schweitzer (1875-1965)

Podemos considerar a ética um conjunto de valores que determinam o modo como um grupo ou uma pessoa pensa e conduz suas ações na vida privada e pública. Para Deleuze (2002), a ética diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas culturais, a ética busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano, o que define o caráter das pessoas. Contudo, o pensamento sobre a relação entre o homem e a natureza nunca foi de interdependência, mas sim de subserviência, que, baseada na exploração dos recursos naturais, tinha apoio na ideia de que a natureza apresentava a capacidade de regenerar-se rapidamente, provendo a sociedade de recursos infinitos que visavam atender às suas necessidades imediatas. Pode até ser que essa concepção seja inequívoca, porém no período antecedente à Revolução Industrial, em meados do século 18, quando não havia meios de produção de massa e a

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população mundial não chegava a 800 milhões de pessoas — cenário completamente diferente dos atuais 7 bilhões de habitantes e que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), alcançará os impressionantes 9 bilhões até 2050. Segundo Edgar Morin (1973), a antropologia é incapaz de explicar a relação dual antiética, que separa o homem da natureza e que cria o mito humanista do homem sobrenatural. Por isso, de acordo com o autor, a antropologia abstém-se de abordar essa questão, rejeitando o que, em determinado momento, seria inexplicável e, ainda, definindo o homem como oposto de animal: Ainda que objeto de ciência e dependente dos métodos próprios às outras ciências, o homem permanece insular e a filiação que o liga a uma classe e a uma ordem naturais — mamíferos, primatas — nunca é concebida como afiliação. Pelo contrário, o antropologismo define o homem como oposto de animal (MORIN, 1973, p. 19).

Contudo, para Jamieson (2010), essa dualidade insensata é necessária para que possamos entender a desproporcionalidade das ações antrópicas. Por exemplo, ao passo que somos monistas e todos somos parte da natureza, qual seria então a diferença entre uma onça, que caça para suprir suas necessidades, e o homem, que também se alimenta de outros animais?

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Por um lado, julgar a ação humana por um padrão diferente do que seria “natural” requer separar as pessoas da natureza; contudo, para convencê-las a viver modestamente, pode ser preciso convencê-las a se enxergarem como parte da natureza (JAMIESON, 2010, p. 22).

O convencimento de que pessoas e natureza são a mesma coisa talvez seja um dos maiores desafios que nos levam a questionar se temos uma relação ética com a natureza. Para Jamieson (2010), poderemos voltar a ter uma relação saudável com a natureza somente depois de reconhecer que essa tentativa de separação é insensata e destrutiva. No entanto, essa relação acontece, principalmente, sob sete perspectivas antropocêntricas: energia, construção, decoração, alimentação, vestuário, companhia e entretenimento. Usamos carvão, petróleo e todo tipo de biomassa pra gerar energia; utilizamos diversos recursos naturais para construir estruturas e fabricar produtos; recorremos às plantas e animais ornamentais para decorar nossas casas; matamos diversas espécies de animais para nos alimentarmos e nos vestirmos; compramos animais domésticos para nos fazer companhia; e pagamos ingressos para ver shows de animais. Sustentabilidade: uma nova ordem corporativa

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É estranho pensar que apenas uma espécie é a responsável pela extinção de outras inúmeras existentes no planeta. Segundo os relatórios da International Union for Conservation of Nature (IUCN), mais de 700 espécies já foram extintas e outras 45 mil correm risco de desaparecer da Terra. Esses números nefastos evidenciam o menosprezo pela vida e confirmam a ambivalência e o dualismo que separa os humanos e a natureza. Enquanto um único inocente morrer desnecessariamente por causa de danos ambientais causados por outros, haverá necessidade de reflexão ética (JAMIESON, 2010, p. 27).

Essa visão míope e insustentável perdurou por anos e consolidou valores que colocariam em risco a sobrevivência do próprio homem, o que vai de encontro ao ideal antropocentrista. Um exemplo notório desse conflito é a do povo Rapa Nui, na Ilha de Páscoa. A extração dos recursos naturais indiscriminadamente, principalmente para a construção dos enormes totens de pedra (moais) que homenageavam os líderes mortos das aldeias, foi determinante para a extinção dessa sociedade entre os séculos 16 e 17. O consumo perdulário, principalmente de madeira, para levar as imensas e pesadas pedras aos locais onde seriam erguidos os mais de 800 moais, teve um efeito dominó devastador: sem a madeira, a pesca foi impactada, pois não havia mais madeira para construir barcos e, além disso, a escassez de árvores desequilibrou o ecossistema local e fez com que espécies de animais e vegetais desaparecessem, resultando na falta de alimentos e, por consequência, no declínio dessa sociedade.

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Muitos biólogos acreditam que a sexta maior onda de extinção desde o princípio da vida na Terra está ocorrendo agora, e que esta, diferentemente das outras cinco, está sendo causada pela ação humana (JAMIESON, 2010, p. 24).

Quando questionamos o papel das empresas na sociedade, não podemos desconsiderar que estas são geridas, invariavelmente, por pessoas físicas, porém sob a égide de uma pessoa jurídica, com objetivos prioritariamente econômicos. Segundo o Institute for Policy Studies (IPS), que comparou a receita bruta das empresas com o PIB dos países, das 100 maiores economias do mundo, 49 são países e 51 são empresas privadas. Esse panorama evidencia o poder econômico e nos leva a refletir sobre a importância das empresas na disseminação de uma relação ética com as pessoas e a natureza. Percebemos então que, Sustentabilidade: uma nova ordem corporativa

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por pressão das partes interessadas (stakeholders1) conscientes de que a problemática socioambiental pode nos levar ao caos, ou até mesmo à extinção, muitas empresas começaram a migrar para um novo e mais ético modelo de gestão, orientado pelo tríplice resultado: econômico, social e ambiental. Michael Porter e Mark Kramer, no artigo para a Harvard Business Review, intitulado Criação de valor compartilhado, afirmam que “[...] nos últimos anos, a atividade empresarial foi cada vez mais vista como uma das principais causas de problemas sociais, ambientais e econômicos”. Porém, segundo os autores, uma empresa pode gerar valor econômico com a criação de valor socioambiental, o que denominam de valor compartilhado: “[...] faz a empresa se concentrar no lucro certo: o lucro que gera — em vez de reduzir — benefícios para a sociedade.” O momento para uma visão ampliada da geração de valor chegou. Uma 66

série de fatores, como a crescente conscientização social de trabalhadores e cidadãos e a crescente escassez de recursos naturais, abrirá oportunidades sem precedentes para a geração de valor compartilhado (PORTER; KRAMER, 2011).

A sustentabilidade nas corporações é o caminho lógico e ético para se atuar no mercado. Não há dúvidas de que, cada vez mais, o desempenho socioambiental será um dos fatores determinantes para a perenidade de qualquer negócio.

Bem-estar social e sustentabilidade corporativa Às vezes me perguntam por que invisto tanto tempo e dinheiro falando de amabilidade para com os animais quando existe tanta crueldade entre os homens? Ao que respondo: Estou trabalhando nas raízes. — George Thorndike Angell (1823-1909) Segundo tradução do livro Administração de marketing, de Philip Kotler (1998), os stakeholders são “[...] pessoas ou grupos que têm interesse pela organização. Podem ser funcionários, fornecedores, governo, comunidade, grupos de proteção ambiental etc.”. 1

A sustentabilidade é intrinsecamente ligada e condicionante ao bemestar social, uma vez que não podemos ter qualidade de vida sem um meio ambiente — natural ou urbano — saudável. Todos têm responsabilidades na tarefa de mitigar os impactos ambientais negativos que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas. Diante

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dessa perspectiva, é também importante compreendermos que “[...] o meio ambiente abrange não apenas o ambiente natural, mas também o ambiente construído pelo homem” ( JAMIESON, 2010, p. 17). Os conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade corporativa são relativamente recentes, porém as discussões sobre crescimento econômico e preservação ambiental são antigas. Desde 1968, com a criação do Clube de Roma, até 1972, quando, em Estocolmo, foi realizada a primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, das Nações Unidas, o assunto era discutido pelos países, porém, ainda de maneira incipiente. Somente a partir do início da década de 1980 o assunto começou a ter maior relevância e projeção internacional. O termo [sustentabilidade] se originou da conscientização crescente, durante a década de 1980, de que os países precisavam descobrir maneiras de promover o crescimento de suas economias sem destruir o meio ambiente ou sacrificar o bem-estar das futuras gerações (SAVITZ, 2007, p. 2).

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A ONU, por meio da criação, em 1983, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, retomou as discussões acerca da problemática ambiental. Em 1987, quando foram concluídos os estudos que apontavam para um modo de produção autodestrutivo, no qual estamos “[...] esgotando nossos recursos naturais e reduzindo a biodiversidade do planeta, rompendo a própria teia da vida da qual depende o nosso bem-estar” (CAPRA, 2002, p. 218), surgiu o primeiro documento que rompia com o paradigma de desenvolvimento e progresso vigentes. O documento Nosso futuro comum, mais conhecido como Relatório de Brundtland, foi o referencial que originou o termo amplamente difundido de desenvolvimento sustentável: A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável — de garantir que ele atenda às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras também atenderem às suas (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 9).

Em 1992, a Conferência Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, teve o objetivo de consolidar o conceito de desenvolvimento sustentável por meio de um modelo de crescimento econômico socialmente justo e ambientalmente correto. O principal resultado da conferência foi a finalização da Agenda 21, que começou a ser desenvolvida em 1989. Esse documento estabeleceu diretrizes que orientam para o caminho

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da sustentabilidade, reafirmando a importância da cooperação entre países, empresas, organizações não governamentais e todos os setores da sociedade civil. No Brasil, o conceito de desenvolvimento sustentável é contemplado na lei magna que estabelece os princípios políticos de nosso país, com vistas ao bem-estar da população. De acordo com o artigo no 225 da Constituição Federal de 1988, é função básica, tanto do governo como da sociedade em geral, cuidar do meio ambiente: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988, art. 225).

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Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. 2

Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 3

Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. 4

Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. 5

Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. 6

7 Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010.

A partir da premissa de que um governo democrático deve atender às necessidades do povo e garantir condições dignas à vida, o Poder Público tem a obrigação de criar políticas nacionais nesse sentido. Pode-se dizer que o Brasil tem uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo. Dentre as leis brasileiras, podemos citar o Código Florestal,2 que recentemente recebeu propostas de emendas controversas e polêmicas, a Lei de Crimes Ambientais,3 a Política Nacional de Educação Ambiental,4 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza,5 a Política Nacional de Mudanças Climáticas6 e, depois de 20 anos tramitando no congresso brasileiro, a Política Nacional de Resíduos Sólidos.7 A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei no 6.938 de agosto de 1981, logo em seu início, orienta para a preservação da natureza como mecanismo de promoção do bem-estar social: Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (BRASIL, 1981, art. 2).

Obrigadas a seguirem políticas ambientais públicas e atenderem às demandas dos públicos de interesse (stakeholders), as empresas também procuram desenvolver suas diretrizes e políticas de governança corporativa, que destacam uma série de princípios assumidos perante as questões socioambientais, com vistas ao bem-estar social.

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No mundo inteiro as pessoas estavam pedindo que seus governos protegessem o bem-estar do ser humano e do ambiente, dando preferência à saúde pública sobre os lucros empresariais (CAPRA, 2002, p. 235).

A sustentabilidade corporativa, baseada no tríplice resultado,8 surge então como uma excelente oportunidade para as empresas reverem seus processos internos e modernizar sua administração, gerando lucro, porém, com benefícios socioambientais (PORTER; KRAME, 2011). A ecoeficiência, por exemplo, gera benefícios socioambientais, ao passo que também contribui para a economia dos recursos da empresa, por meio de investimentos de médio e longo prazos. A ecoeficiência é o componente básico da sustentabilidade, que se aplica à gestão da empresa. Significa redução da quantidade de recursos utilizados para a produção de bens e serviços, aumentando os lucros das empresas e, ao mesmo tempo, reduzindo seu impacto ambiental (SAVITZ, 2007, p. 42).

No atual contexto, é pertinente que as empresas adotem o conceito de valor compartilhado, adequando-se às novas demandas e ao imperativo modelo de gestão sustentável, com o objetivo de deixar um legado positivo, que promova a qualidade de vida e bem-estar da sociedade. É nesse contexto que o movimento em prol da sustentabilidade expande-se a cada dia, conquistando diversos adeptos no mundo, todavia, é necessário que as políticas e diretrizes corporativas sejam coerentes com a prática da empresa, caso contrário, a imagem institucional corre sérios riscos de ser abalada por uma acusação de maquiagem verde. Uma acusação como essa pode ferir gravemente a reputação da empresa, cujos valores e ética passam a ser bastante questionáveis, ao passo que se aproveitam indevidamente da temática ambiental para autopromoção.

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A sustentabilidade gera benefícios intangíveis, em que se incluem a reputação da empresa, o moral dos funcionários e a boa vontade dos clientes. A sustentabilidade traça o curso para o sucesso duradouro (SAVITZ, 2007, p. 46).

O SESC, há mais de 60 anos, atua como protagonista na promoção do bem-estar social de sua clientela preferencial, oferecendo não apenas serviços nas áreas de cultura, saúde, educação e lazer, mas também serviços na área ambiental, com benefícios para a sociedade em geral. A instituição tem sólidos valores, consolidados por meio de diretrizes institucionais, e está compromissada com uma administração social e ambientalmente ética, ou seja, compromissada com a sustentabilidade

O conceito de tríplice resultado (triple bottom line), proposto por John Elkington, sugere que as empresas devem avaliar o sucesso não só com base no desempenho financeiro, mas também com base no desempenho ambiental e social. 8

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corporativa e a geração de valor compartilhado. Em 2004, quando foram criadas as Diretrizes Gerais de Ações — substituindo a antiga Ação Finalística —, o Departamento Nacional do SESC (SESC/ DN) deu um importante passo institucional ao definir como uma das características básicas da ação do SESC a responsabilidade ambiental: Estará o SESC, desta forma, ao assumir plenamente uma atitude de responsabilidade ambiental, contribuindo não somente para a melhoria da qualidade de vida de sua clientela e da sociedade em geral, como também, tornando-se exemplo e referência para todos que têm compromisso com o bem-estar social (SESC, 2009, p. 23).

Além de estar presente nas diretrizes gerais, a temática ambiental também é contemplada, com destaque, nas diretrizes quinquenais 2011-2015: Não pode o SESC, diante do compromisso com o bem-estar social de sua clientela e com a sociedade em geral, furtar-se, no âmbito de sua

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ação, em contribuir para a redução dos males que degradam o meio ambiente (SESC, 2010, p. 20).

Assim, a instituição sinaliza positivamente para o desenvolvimento sustentável do Sistema SESC, com o objetivo de estimular e encorajar a criação e implementação de ações que contemplem os três vieses da sustentabilidade (econômico, social e ambiental). O desafio agora é transformar esses referenciais institucionais em práticas corporativas permanentes.

Potencial transformador do SESC Não há nada mais difícil de controlar, mais perigoso de conduzir, ou mais incerto no seu sucesso, do que liderar a introdução de uma nova ordem. — Nicolau Maquiavel (1469-1527)

Em um cenário em que a sustentabilidade corporativa é uma tendência dominante e inevitável para a perenidade das organizações (SAVITZ, 2007), deve-se pensar constantemente nos passivos socioambientais, com a finalidade de executar ações que induzam a mudança de pensamentos, paradigmas, posturas e procedimentos internos, preconizados pelo desenvolvimento economicamente viável,

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socialmente justo e ecologicamente correto. A adoção da sustentabilidade como um novo modelo de gestão — uma nova ordem corporativa —, indica que a empresa evoluiu para um novo estágio de governança. A abertura da organização a novos conceitos, novas tecnologias e novos conhecimentos é um indício da sua vida, da sua flexibilidade e da sua capacidade de aprendizado (CAPRA, 2002, p. 128).

Não é de hoje que o SESC investe recursos para a preservação do meio ambiente, sinalizando a transição para uma economia verde. Logo após a Conferência Eco-92, o SESC/DN adquiriu antigas fazendas localizadas no sensível bioma pantaneiro. Lá foi criada, em 1996, a Estância Ecológica SESC Pantanal que, além de um centro de social de atividades e um hotel sustentável, abriga a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Brasil. Com 107.996 hectares — quase o mesmo tamanho do Estado do Rio de Janeiro, com 122.456 hectares — tem, segundo estudos,9 um estoque de 7,6 milhões toneladas de carbono sequestrado.

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Recentemente, ao identificar a necessidade estratégica de se atuar na gestão sustentável das instituições, foi criado o ECOS — Programa de Sustentabilidade CNC-SESC-SENAC. O programa, direcionado ao público interno das três instituições, tem como missão planejar, propor, executar e apoiar ações que induzam à prática intersetorial e colaborativa da sustentabilidade de suas atividades, com o objetivo de mitigar os impactos socioambientais e otimizar os recursos das instituições. Consiste em uma importante e necessária ferramenta para uma modernização administrativa ecoeficiente. Diferentemente de outros projetos implantados pontualmente, o ECOS sugere algo permanente, que possa ser melhorado continuamente, por meio de indicadores de sustentabilidade. A partir da análise desses indicadores é possível aferir a eficácia das ações implementadas, com resultados tangíveis que contribuem para aumentar o nível de informações gerenciais da instituição. Sem informações como a quantidade de lixo produzida e o consumo de água, energia e outros materiais que garantem a operacionalização do negócio, seria impossível diagnosticar a situação da organização e elaborar metas quantitativas de redução que, por consequência, determinariam se a empresa está, ou não, no caminho da ecoeficiência. Um bom exemplo, que demonstra como uma simples ação pode ter um impacto enorme na instituição,

SESC PANTANAL (2001).

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foi a redução do consumo de copos descartáveis: em 2008 foram consumidos 2.113.100 contra os 779.800 em 2011 (redução de 63%, ou aproximadamente R$ 70 mil).10 É válido lembrarmos que, desde 2010, a Controladoria Geral da União (CGU) insere requisitos ambientais nas auditorias realizadas no SESC. Esses requisitos dizem respeito, principalmente, à economia de recursos naturais, à gestão de resíduos, à aquisição de bens ou materiais de tecnologia da informação e à contratação de serviços e obras. Isso pode ser considerado um indício de que o poder público, pressionado pela sociedade, caminha no sentido de cobrar, cada vez mais, a atuação efetiva de órgãos públicos ou semipúblicos na mitigação de seus impactos e na compra de produtos e serviços que contemplem não só vantagens econômicas, mas, também, socioambientais. Presente nos 26 estados da União e no Distrito Federal, o SESC tem uma capilaridade incrível e cada vez mais atuará no sentido de ser um importante indutor de boas práticas. A sustentabilidade corporativa sinaliza aos usuários das unidades operacionais que o SESC se preocupa com o meio ambiente. A implantação da coleta seletiva nas unidades operacionais, por exemplo, não teria, além de coletar resíduos, um importante papel educativo e de conscientização da clientela e dos funcionários? É evidente que os benefícios intangíveis, como o nível de conscientização acerca da problemática ambiental — que é fator determinante para a mudança hábitos —, por mais que não possamos definir por números absolutos, são importantes legados da atuação de uma empresa junto à sociedade.

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Conclusão Seja a mudança que você quer no mundo. — Mahatma Gandhi (1869-1948)

Dados obtidos no Relatório Anual ECOS (SESC, 2011, p.27).

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Como vimos, a sustentabilidade tornou-se um componente básico para a construção de uma empresa orientada por princípios éticos, focada no tríplice resultado e no valor compartilhado. Cada vez mais as empresas estão destinando recursos financeiros e humanos exclusivos para atender à necessidade estratégica de se atuar na mitigação dos impactos ambientais negativos, com vistas ao bem-estar social.

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“Se sua empresa ainda não incorporou a sustentabilidade em sua descrição de cargos, trata-se de uma questão de tempo” (SAVITZ, 2007, p. 73). Mesmo com algum ceticismo resiliente, não há motivos para que uma empresa insista na procrastinação de algo que é imperativo como a sustentabilidade corporativa. É uma nova ordem e um caminho lógico, longo e sem volta a ser percorrido pelas empresas. Philip Kotler afirma que “no clima dos negócios de hoje, as empresas devem assumir cada vez mais a responsabilidade pelo meio ambiente” (KOTLER, 1998, p. 25). E é realmente isso que vai acontecer cada vez mais. Dessa maneira, as empresas priorizarão não apenas o forte desempenho econômico, mas a equidade intergeracional, com uma análise equilibrada dos objetivos sociais, econômicos e ambientais. As externalidades precisam ser internalizadas, pois os custos socioambientais não podem mais ser pagos pela sociedade. 73

A implementação de uma política ambiental (em consonância com os valores, as diretrizes e as idiossincrasias regionais do SESC) que possa ser assimilada pelas 432 unidades operacionais fixas do SESC e que proponha, por meio de seus princípios, internalizar a sustentabilidade como novo tipo de gestão, provavelmente resultará no principal instrumento teórico de apoio ao surgimento de projetos que, assim como o Programa ECOS e diversos outros, promoverão o uso parcimonioso dos recursos e a redução das possíveis externalidades negativas, decorrentes de suas atividades operacionais. Além disso, é importante destacar que a sustentabilidade corporativa pressupõe uma melhor e mais eficiente aplicação dos recursos e, por consequência, uma relação mais ética com os contribuintes compulsórios. Contudo, não será fácil migrar para um modelo de economia de baixo carbono enquanto a sustentabilidade for encarada como mais um custo ou, pior ainda, como filantropia. Aliás, esta abordagem revela um grande mal-entendido: “Sustentabilidade não é filantropia.” (SAVITZ, 2007, p. 28). É necessário insistir que a sustentabilidade é, na verdade, um ótimo negócio, pois é uma importante ferramenta gerencial que trabalha com valores tangíveis e intangíveis, determinantes para uma gestão empresarial estratégica. Portanto, a sustentabilidade está ditando — e ditará por muito mais tempo — uma nova ordem, de adequação imperativa, no mundo corporativo.

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Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atua na coordenação nacional do Projeto SESC LER com foco na alfabetização e escolarização de jovens e adultos. Foi professora do curso de pós-graduação em EJA, na Universidade Estácio de Sá e do Curso de Aperfeiçoamento a Distância em EJA na Diversidade, em parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Ministério da Educação. É coautora do livro Práticas de educação de jovens e adultos: complexidades, desafios e propostas, pela Editora Autêntica. Desde 1999 é membro do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado do Rio de Janeiro.

ROSILENE SOUZA ALMEIDA

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Uma das coisas mais lastimáveis para um ser humano é não pertencer ao seu tempo. É se sentir um exilado no tempo. Com isso quero te dizer que sou um homem da televisão, sou um homem do rádio, também. Assisto a novelas, por exemplo, e aprendo muito criticando-as (FREIRE, 2003 p. 24).

Possibilidades e limites da tecnologia: uma visão crítica O presente artigo aborda algumas reflexões acerca da tecnologia, seus limites e suas possibilidades, analisando as operações midiáticas da virtualidade, considerando que as distâncias geográficas não sejam mais empecilho para a interação entre os diferentes sujeitos, tomando como referência a acepção filosófica de Lévy (1999, p. 15), do virtual sendo o que existe em potência e não em ato, dialogando ainda com outros autores de referência da área. Outra perspectiva apresentada é o da experiência da educação corporativa do SESC, utilizando-se como recurso a tecnologia enquanto promotora de desenvolvimento profissional em um cenário de constantes mudanças e desafios, tendo como premissa a formação e qualificação de seu corpo funcional.

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As tecnologias invadem o nosso cotidiano. Essa é uma das frases mais utilizadas hoje em dia para se referir aos equipamentos com os quais lidamos em nossas atividades rotineiras. Pensadores contemporâneos e a mídia em geral falam que estamos em plena “sociedade tecnológica”. Essas referências encaminham-nos para um pensamento de oposição entre a nossa natureza humana e a “máquina”, maneira concreta com que a tecnologia é conhecida. Os romances e os filmes1 de ficção científica exploram esse antagonismo e assustam-nos com ameaças de domínio do homem e da Terra por robôs e outros equipamentos sofisticados, dotados de alto grau de inteligência, em muito superior à do “homem comum”. Se olharmos à nossa volta, boa parte daquilo que utilizamos em nossa vida cotidiana, pessoal e profissional — utensílios, livros, giz e apagador, papel, canetas, lápis, sabonetes, escovas de dente, talheres, televisor, telefone, máquina fotográfica, DVD, computador — são modos diferenciados de ferramentas. Quando falamos da maneira como utilizamos cada ferramenta para realizar determinada ação, referimo-nos à técnica. A tecnologia é o conjunto de tudo isso: a ferramenta e os usos que destinamos a ela, em cada época que vivemos, vivem e viverão outras pessoas.

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1 Assim acontece em filmes como Robocop e Exterminador do futuro, por exemplo. O homem comum torna-se uma espécie frágil. Surgem humanoides — mistura de homem e máquina que, com superpoderes, conseguem ir além das possibilidades humanas de sobrevivência em um mundo hostil, dominado pelas máquinas.

É preciso compreender a tecnologia como parte do acervo cultural de um povo e, como tal, se nutre das contribuições permanentes da comunidade social, em espaço, tempo e condições econômicas, políticas e sociais determinadas. A tecnologia existe como conhecimento acumulado, é produção constante e dinâmica. A cultura é um processo contínuo de criação coletiva, um fenômeno plural e multiforme. Ela não se manifesta apenas como produção intelectual e artística ou mesmo científica, estando presente nas ações cotidianas, no modo de comer, de vestir, de relacionar-se com o vizinho, de produzir e utilizar as tecnologias. As evidências de qualquer manifestação cultural são, portanto, realizações humanas. Evidencia-se a ampliação do acesso à tecnologia, pelos resultados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios — PNAD (IBGE, 2010): o acesso a bens duráveis vem crescendo, como o percentual de residências que têm computador (34,7% em 2009), internet (27,4%) e telefone celular (78,5%). Em 2001, apenas 12,6% dos domicílios tinham microcomputador, contando também com o crescimento dos que

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tinham esse equipamento com acesso à internet de 8,5% para 27,4%. A tecnologia da informação se tornou um tema permanente, e a pesquisa registrou que a quantidade de usuários de internet mais que dobrou, aumentando de 31,9 milhões em 2005 para 67,9 milhões em 2009. Não se pode negar que a tecnologia tem gerado muitos preconceitos, superstições e até mitos. Muitas vezes, parece que ela é perversa por si só ou o inverso, que ela sozinha resolverá os problemas existentes, em qualquer área. Essas duas tendências serviram de base para as categorias criadas por Eco (1968): “integrados” e “apocalípticos”. Os “integrados” atribuem aos avanços tecnológicos a solução dos problemas da humanidade. A tecnologia é neutra, objetiva, positiva em si mesma e científica. Incorporá-la é sinônimo de progresso. Já os “apocalípticos” denunciam que as máquinas, na medida em que se tornam cada vez mais sofisticadas, ocupam o lugar dos homens. Têm, consequentemente, uma visão crítica e contrária à presença da tecnologia nas ações humanas, indicando a possibilidade de uma catástrofe.

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A Educação a Distância — EAD, por suas peculiaridades, sobretudo em relação à mediatização das mensagens pedagógicas, coloca-se como uma modalidade em potencial para o desenvolvimento em várias áreas, mas é preciso não perder de vista também suas limitações. Mediatizar, na perspectiva do processo educacional, significa, segundo Belloni (2001, p. 64): [...] conceber metodologias de ensino e estratégias de utilização de materiais de ensino e aprendizagem que potencializem ao máximo as possibilidades de aprendizagem autônoma. Isso inclui desde a seleção e elaboração de conteúdos, a criação de metodologias de ensino e de estudo, centradas no aprendente, voltadas para a formação da autonomia, a seleção dos meios adequados e a produção de materiais, até a criação de estratégias de utilização de materiais e de acompanhamento do estudante, de modo a assegurar a interação do aluno com o sistema de ensino.

Portanto, é necessário compreender que a EAD não é apenas uma solução paliativa para atender alunos situados distantes geograficamente das instituições educacionais, nem trata da simples transposição de conteúdos e métodos de ensino presencial para outros meios telemáticos. Os programas de EAD podem ter o nível de diálogo priorizado ou não segundo a concepção epistemológica e respectiva abordagem pedagógica. Lévy (1999) nos conforta diante desse Tecnologia e educação corporativa no SESC: uma visão socioeducativa e humanizadora

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tecnicismo exacerbado quando destaca que o risco de substituição do professor é muito pequeno, (atrevo-me a dizer enfaticamente que é impossível) porque a aprendizagem é um processo social, e não um registro de informações, por isso a importância da relação dialógica. As interações entre educadores e especialistas, via EAD, devem ter como principal objetivo o estabelecimento de um ciclo de formação continuada, criando os meios para que esses educadores possam pesquisar e buscar outras informações e, a partir disso, teçam novos conhecimentos. Alves (1998) nos apresenta outro contexto cotidiano que vem surgindo no meio educativo, o da virtualidade, como um termo novo e ainda sendo apropriado, entendido como uma maneira de nos educarmos a partir de processos que aproximam fatos, lugares e histórias que antes, em geral, eram tão distantes de nós e que hoje tomam espaçotempo2 em nossa cotidianidade. Quanto a esse contexto, vários autores têm ressaltado o fracionamento e a velocidade, mas também as possibilidades de mudanças ainda não pensadas e os processos pedagógicos que podem acrescentar ao processo de ensinar e aprender.

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Um desses autores é Certeau (1994), que nos convida a pensar por outro viés, a concepção de que os sujeitos do cotidiano não só consomem os produtos que lhes são “fornecidos”, como fazem uso deles, conseguindo estar onde ninguém espera e captando no voo as possibilidades oferecidas por um instante. Entendemos dentro dessa perspectiva que a interatividade presente na EAD possibilita aos seus participantes “usar” e “tecer” diferentes modos de intervenção que constituem o processo de aprendizagem.

2 Tendo como referência Alves (1998), que discute o uso dessa expressão para dizer da unidade indissociável de seus dois componentes que, segundo a autora, “precisam ser entendidos como um só, na tentativa de superar a visão dicotomizada que herdamos da modernidade”.

Assim, a linearidade e a hierarquização, características do primeiro modo de pensar os processos de criação do conhecimento dão lugar, no presente, a múltiplas conexões e interpretações produzidas em zonas de contatos móveis (LEVY, 1993), sendo necessário incorporar diversos caminhos possíveis, o que traz à tona a exigência da complexidade como algo a ser incorporado. Para isso, é necessário compreender o conhecimento como nos ensinou Lefebvre (1995, p. 49): O conhecimento é um fato: desde a vida prática mais imediata e mais simples, nós “conhecemos” objetos, seres vivos, seres humanos. [...] O conhecimento é “prático”, [...] é “social” e [...] tem um caráter histórico. Por outro lado, todo pensamento é movimento. O pensamento que

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estanca deixa produtos: obras, textos, resultados ideológicos, verdades. No entanto, todo pensamento é um movimento de pensamento, mas também [...] todo pensamento verdadeiro é pensamento (conhecimento) de um movimento, de um devir.

Tomando por referência os estudos de Alves (2001) quando faz uma análise da importância da interação entre os sujeitos na tessitura do conhecimento pensando na EAD, estabelecida na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, permitindo a constituição de conhecimentos e da própria consciência. Cada um de nós entra na conversa/diálogo/relação/aula com conhecimentos tais que nos permitirão tecer3 conhecimentos com os outros que encontramos no mesmo espaçotempo. Aliás, só é possível criar esses “novos” conhecimentos porque havia algum anterior para que a rede pudesse ser trançada. Esteban (2001) nos faz entender que o que cada um sabe que sabe é muito menos do que aquilo que “quase sabe” e que vai se transformar em algo “sabido” na medida em que nos relacionamos com os conhecimentos dos outros, estabelecendo redes múltiplas de diferentes e diversos significados.

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É justamente essa maneira de conhecer que faz parte das redes que se formam no contato com os participantes de diversos estados e Unidades do SESC no Brasil, quando da realização dos cursos oferecidos pelo Departamento Nacional, pois há uma riqueza infindável de conhecimentos que são “trocados” a cada formação. Um espaço de educação, como das videoconferências, deve pressupor a construção de práticas que possibilitem aos sujeitos da ação educativa compreenderem criticamente o porquê, a finalidade, o objetivo e o para quê dessa nova realidade se inserir dentro de determinado contexto, para que, tendo esse aparato, possa fazer opções e escolhas e não aceitar o que vier como um mero “consumidor”, pois o que interessa é uma participação mais efetiva e ativa na realidade que está posta, contribuindo, assim, para uma formação profissional mais plena, efetivando o que rege o documento Diretrizes para o quinquênio 2006-2010 (SESC, 2006, p. 11): “[...] é uma entidade de prestação de serviços que, por isso mesmo, tem nos recursos humanos o seu capital mais importante [...] Da mesma forma, profissionais bem formados precisam sempre atualizar-se em face da velocidade de avanços da ciência e das técnicas.”

O verbo tecer vem sendo usado por Alves (2001) e outros pesquisadores como Alba Zaluar, Alice Ribeiro Lopes, dentre outros. Alves discute as dificuldades teórico-práticas existentes para se assumir a ideia de “construção quando se refere à criação de conhecimento no cotidiano, tendo, por isso, optado em usar os termos tessitura, tecer, trançado etc.” 3

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A partir dessa perspectiva, educar para a comunicação ganha um novo relevo no sentido de orientar a formação continuada com vistas à realização de análises mais coerentes, complexas e completas, acabando com o mito do desaparecimento do papel do professor enquanto sujeito do processo educacional. Nas palavras de Lévy (1999, p. 12), Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço no plano econômico, político, cultural e humano. Que tentemos compreendê-lo, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. Apenas desta forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista.

Nessa linha, Freire (2003) declarou ser impossível resistir à nova linguagem, à audiovisual. Não se deveria temer o fim da palavra escrita. A linguagem audiovisual acrescentará algo à outra, não a substituirá. Não haveria vias antagônicas, mas constantemente conciliáveis. A riqueza dessa conciliação é imensa. Destaca a ajuda da linguagem audiovisual à leitura do mundo; que a escrita e a leitura associam-se dinamicamente à leitura do mundo. Ferreiro (2003, p. 30) também nos alertou que com o advento da internet nasceu também o espaço mais intertextual e mais variado que existe.

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Papel da formação continuada do SESC com enfoque na educação corporativa A partir do momento em que o homem usa a linguagem para estabelecer uma relação viva com ele próprio ou com seus semelhantes, a linguagem já não é um instrumento, não é um meio; é uma manifestação, uma revelação da nossa essência mais íntima e do laço psicológico que nos liga a nós próprios e aos nossos semelhantes (BENJAMIM, 1994, p. 229).

Trazemos as contribuições do autor Charlot (2001) na tentativa de contribuir para procurar entender os sentidos do “aprender” presente nas concepções de formação continuada, quando o mesmo parte de uma proposição básica para uma primeira reflexão: aprender é

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um processo de apropriação do mundo. Para ele, a questão do aprender é mais ampla que a do saber já que pode envolver diferentes modos de aprender, por exemplo, a aquisição de um saber, o domínio de um objeto ou de uma atividade, o traquejo da sociabilidade. O fundamental é que aprender implica um modo de agir e todos que aprendem criam certos tipos de relações com a linguagem e o tempo, consigo mesmo e com o outro. Charlot vai tecendo as implicações da aprendizagem significativa: ela se exerce em uma atividade em situação, isto é, em determinado local, em certo momento da história do aprendiz e de outras histórias, a da espécie humana, a da linhagem que engendrou o sujeito, a da sociedade, do espaço no qual ele aprende; as dos professores, que não são apenas agentes institucionais, mas “antes de tudo”4 pessoas. O gesto de aprender retoma a relação do saber e a construção da identidade, pois quem aprende o faz a partir das suas referências, concepções de vida, expectativas, da imagem que tem de si mesmo e da que quer construir para os outros. Por todas essas questões apontadas pelo autor, refletir sobre as nossas práticas profissionais é uma maneira de interpelar o espaço em que construímos nossa identidade, que se caracteriza como lugar de conflitos e de elaboração de modos de ser e estar na profissão. Os cursos de formação continuada para as áreas de atuação do SESC: Educação, Saúde, Cultura, Lazer, Assistência e a própria áreameio,5 com as videoconferências promovidas pelo Departamento Nacional, revelam uma maneira de educação a distância que vem se ampliando cada vez mais. Essas videoconferências são organizadas pela ferramenta IPTV6 e veiculada na sede da Administração Nacional no Rio de Janeiro e transmitidas para todos os Departamentos Regionais do SESC7 no Brasil em tempo real, incluindo os vários municípios onde as Unidades Operacionais estão instaladas, com 152 pontos de transmissão receptiva e 28 de interatividade. O foco no desenvolvimento de seus profissionais é uma das diretrizes da Entidade, possibilitando a constituição no ano de 2002 de um órgão específico, Gerência de Desenvolvimento Técnico, para atender às necessidades relacionadas à capacitação técnica do seu corpo profissional, reafirmando a ênfase na ampliação e no aperfeiçoamento da Educação Corporativa, implantando em 2006 a Rede de Desenvolvimento Técnico centralizada no Departamento Nacional e com

4 Esse trecho foi incorporado por mim para dar um sentido mais explícito da necessidade do reconhecimento do humano que existe dentro de nós, portanto somos seres dotados também de sentimentos e emoções. O processo educativo lida o tempo todo com o cotidiano dos sujeitos que fazem parte deste processo, por isso a técnica não está em primeiro plano quando atuamos nesse contexto.

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5 Segundo o documento Verbetes do SESC (1969), são as atividades especificamente instrumentais, isto é, aquelas peculiares aos órgãos cuja função é a de aparelhar e instrumentalizar as atividades-fins, capaz de conduzir a uma educação social.

Consiste em um ambiente operacional que permite ao usuário acessar recursos como videoconferências, chats e mensagens entre todos os participantes, notificações, quadro digital, gerar e transmitir áudio e vídeo.

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7 Em cada Estado há uma Administração do SESC e suas Unidades localizadas tanto nas capitais como nos interiores.

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84 Figura 1: Momento de realização da capacitação em Governança Hoteleira, ministrada pela assessora Giovanna Bonnelli para as equipes da Atividade Turismo Social dos DDRR. Veiculada em maio de 2012.

8 Dados extraídos dos relatórios anuais da instituição, referente ao período de 2006 a 2010.

ramificações em todos os Departamentos Regionais com os Núcleos de Desenvolvimento Técnico. Desde o seu início, a média anual de participantes no quinquênio (2006 a 2010)8 foi de 7 mil em todo o Brasil, com 50 videoconferências organizadas, envolvendo diferentes temas das áreas de Educação e Ação Social, Saúde, Cultura, Lazer e Administração. Verifica-se um alcance significativo para muitos profissionais com poucos acessos, tendo em vista as dimensões territoriais do Brasil e a presença em muitos municípios do interior, desde o Oiapoque ao Chuí, traduzindo, assim, o investimento em uma educação corporativa, entendida, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como uma prática coordenada de gestão de pessoas e de gestão do conhecimento tendo como orientação a estratégia de longo prazo de uma organização, ou seja, a instituição concebe essa prática como uma proposta de qualificação de seus profissionais, articulando competências do seu fazer cotidiano e da concepção própria do SESC para que essa formação seja ampla e atenda às necessidades institucionais, assegurando o desenvolvimento das pessoas no ambiente de trabalho, de acordo com o expresso em suas diretrizes (SESC, 2010, p. 16): “[...] a qualidade do trabalho do SESC deve ser garantida, sobretudo, pela competência profissional

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de seu quadro técnico, em suas áreas de formação. Esse é o foco principal das ações de desenvolvimento técnico.”

Figura 2: Videoconferência oferecida para as equipes da Atividade Turismo Social nos DDRR.

Esse investimento é de grande dimensão, visto que, além de qualificar para o trabalho específico do profissional, traz em seu cerne outras perspectivas, como por exemplo o pensar para uma sociedade contemporânea e suas complexidades. Para fomentar essas discussões, tomemos como referência o pensamento de Derrida, citado por Duque Estrada (2008), quando nos revela a importância de estarmos abertos às novas aprendizagens e conscientes de nossa constituição como seres, formação caracterizada por muitos traços e rastros, é fruto de vivências e experiências cotidianas que traduzem a identidade de cada um. O primeiro (traços), sendo nossa marca enquanto indivíduos, nossa identidade como ser; e o segundo (rastros), como um caminho que traçamos como condição de existência que vai se fazendo ao longo de nossa história, são alguns exercícios de reflexão indispensáveis para a abertura a novos pensares, tomando como referência Derrida (1973, p. 58): “o rastro [traço], de que falamos, não é mais natural [...] que cultural, não mais físico do que psíquico, biológico que espiritual. E aquilo a partir do qual um vir-a-ser imotivado do signo é possível [...].” Tecnologia e educação corporativa no SESC: uma visão socioeducativa e humanizadora

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Estabelecendo uma relação com o momento da interatividade presente nos cursos a distância promovidos pelo Departamento Nacional, discutimos e apresentamos as marcas que nos constituem e, em um segundo momento, quando refletimos e tecemos conhecimentos, a partir dessas formações e de outras esferas de formação resultando em percursos formativos, criam-se novas possibilidades de pensar determinadas concepções, práticas, visões, nos apontando que o conhecimento não é estático, linear, e sim formado a partir de redes que se formam sistematicamente em nossa vida, portanto, é infinito e vai se fazendo, considerando a perspectiva de Carneiro (2006, p. 7): É um mundo que já não assimilamos totalmente nem podemos controlar. A tensão criada pela disparidade entre, de um lado, nossos belos modelos explicativos de como funciona o mundo e, de outro, a experiência generalizada de sincretismo, formula novas perguntas em áreas-chave da compreensão humana. Essas sas perguntas questionam o lugar da consciência humana — e de seu porvir no transcurso da história— e interpelam os 86

conceitos básicos da aprendizagem moderna, ao mesmo tempo em que desafiam nossas concepções educacionais do passado.

Desse caminho já construído, por meio das diversas formações realizadas com o recurso da videoconferência, cabe um estudo para avaliar os resultados desse investimento, visto que é necessário um refletir sobre esse fazer, apontando novos caminhos e possibilidades, de modo a aprimorar essa importante ferramenta que tem contribuído para que uma quantidade cada vez maior de profissionais tenha uma formação de qualidade com o apoio de especialistas renomados no meio educacional. O SESC tem a constante preocupação com a avaliação dos resultados de suas ações e processos, conforme expresso em suas Diretrizes para o quinquênio 2011-2015 (SESC, 2010, p. 15), há um “permanente aperfeiçoamento dos indicadores capazes de medir a intensidade das ações desenvolvidas por parte da Entidade, possibilitando assim o monitoramento sistemático do planejamento, de modo a aferir sua eficiência e eficácia”. Outra experiência que vale ressaltar de educação corporativa organizada pelo SESC refere-se aos cursos com foco em pensadores contemporâneos, como Derrida, realizados pela instituição desde 2007, que visa principalmente o exercício do pensar, do ler, do questionar, de ter como consequência, o intervir conscientemente no exercício profissional desenvolvendo os seus potenciais. Para o Departamento Nacional, o seu objetivo maior no investimento na educação corporativa de seus Tecnologia e educação corporativa no SESC: uma visão socioeducativa e humanizadora

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profissionais é de enriquecer suas especialidades de atuação com mais crítica e rigor no corpo social, foco de atuação do SESC, pois tendemos a enxergar aquilo que é somente específico da área e a filosofia vem contribuindo para nos ajudar a olhar de maneiras diferentes. A seguir, um momento de uma das séries do Curso “O pensamento do ser e outros desdobramentos pós-metafísicos” realizada em 2010:

Figura 3: Momento de uma das aulas da série Trilhas do pensamento contemporâneo, curso Schopenhauer e Nietzsche II, ministrado pelo prof. José Thomaz Brum (PUC-RJ), destinada a um grupo do corpo técnico do Departamento Nacional do SESC, realizada no dia 11 de maio de 2012.

O estudo é direcionado para um grupo do corpo funcional, visando contribuir com uma formação humanística e no refletir sobre questões atuais da contemporaneidade e as relações com o trabalho, possibilitando ações mais efetivas e humanas, a partir de uma sociedade em constante transformação. No ciclo de estudos sobre as teorias do sociólogo Jean Baudrilard, fomos motivados a pensar e discutir questões ligadas à contradição do discurso da “verdade absoluta” e que contribuem para o questionamento da situação de dominação imposta pelos complexos e contemporâneos sistemas de signos. Em seu livro A transparência do mal, reafirmou que as novas tecnologias de informação, comunicação e entretenimento, confrontam o indivíduo cotidianamente com a hiper-realidade, gerando mais angústias, dúvidas e medos. Neste mundo hiper-real das profundas revoluções tecnológicas, o estudo das ideias de Baudrillard nos deixou complexas interrogações, como por exemplo: “Sou um homem ou uma máquina?”; “Sou um homem ou um clone virtual?”; “Como podemos ser humanos?”. A participação nesses ciclos de filosofia tem nos levado a Tecnologia e educação corporativa no SESC: uma visão socioeducativa e humanizadora

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pensar a sociedade atual e seus desafios, sendo um ponto fundamental tentar compreender até que ponto nossas realizações e satisfações mais superficiais são contempladas, mas que jamais atenderão os aspectos mais profundos da vida humana como geralmente propõem. A partir de 2010 esses ciclos passaram a ser transmitidos por meio de videoconferência, também para os DDRR, em diferentes pontos de suas Unidades pelo Brasil, após uma avaliação sobre as importantes contribuições do curso de filosofia ao desenvolvimento do corpo funcional. Possibilidade essa que permitirá um alcance mais significativo das ideias do pensamento contemporâneo com foco na educação humanística, utilizando-se dos recursoso da tecnologia. Vivemos o tempo do discurso da busca incessante pela produtividade revigorando ainda mais o lugar do cálculo, que segundo Martin Heidegger, filósofo alemão do início do século 20, que estudou a compreensão do pensamento contemporâneo, é a ordem da razão técnico-científica em detrimento do ser humano em sua plenitude. Em outras palavras, é uma crítica a um traço preponderante do mundo atual: a técnica. De acordo com Heidegger (1999), a perplexidade com tudo aquilo que é teria sido o motivo pelo qual o homem se afastou da indagação sobre o sentido do ser. Partindo dessa premissa, o SESC busca retomar/ recuperar a questão do ser para refletirmos com o pensamento contemporâneo, face ao que vivenciamos da sociedade atual que incentiva à cultura do individualismo, fazendo com que a civilização criasse necessidades relativas que, muitas vezes, não podem ser distinguidas racionalmente. Na busca desenfreada por bens de consumo, percebemos em alguns momentos o homem alcançando a satisfação, mas não a felicidade. A troca do “ser” pelo “ter” e a necessidade do prazer imediato, levando ao aumento da intolerância e da exclusão nas relações entre as pessoas. O SESC, por meio de sua EC, tem investido no seu corpo funcional, na intenção de contribuir para o desenvolvimento pleno de potencialidades, aumentando o poder de ação e entendimento sobre o mundo e a relação entre os seres humanos.

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A tecnologia por vezes acalma, pois para tudo a nossa volta há uma solução e com isso ficamos inexoravelmente acomodados, confortados, visto que temos o “consumo” para sanar nossas “necessidades”, tem a terapia, os antidepressivos, ou seja, amanhã tudo se transforma. Portanto, a questão que se coloca é como podemos pensar novamente e saber conviver/lidar com o cálculo, com a tecnologia, com o consumismo, com os variados acessos que temos hoje e que teremos amanhã? E para esse começo de reflexão devemos pensar que o processo

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de aprendizagem que nos cerca é para a vida toda, portanto, condição da existência humana: desde sempre o ser humano quis descobrir as leis de funcionamento da vida, conhecer o mundo ao seu redor (incluindo a tecnologia) e transformá-lo. Não se aprende só quando é pequeno, mas a vida toda e ao longo da história da humanidade, porque somos seres inacabados em permanente estado de transformação, em estado de aprendizagem, concordando com Benjamim (1994) que “a linguagem já não é um instrumento, não é um meio; é uma manifestação, uma revelação da nossa essência mais íntima”. A EC do SESC é realizada por meio de práticas de gestão do conhecimento com o apoio de ferramentas específicas e um conjunto de diferentes mídias simultaneamente, como data show, material escrito, aulas expositivas, atividades de sensibilização e interação grupal. A prática das videoconferências permite uma interação acontecendo de maneira organizada, assim como se desenvolve em todas as relações sociais fora do ambiente on-line, para que a rede seja um instrumento de integração eficiente e produtiva. As videoconferências são geradoras de conteúdos para as diferentes atividades no âmbito da EC, imprimindo níveis mais elevados de eficiência no seu desenvolvimento. Outros tipos de EC estão: a participação da entidade no custeio dos cursos de graduação e pós-graduação, em eventos diversos ligados às áreas de atuação dos funcionários e os promovidos pela própria, curso de língua estrangeira, o incentivo à escrita em publicações da entidade na perspectiva de produção de conhecimentos, dentre outras.

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Dentre os objetivos das ações de EC do SESC estão: viabilizar a capacitação interna dos funcionários para aquisição de competências específicas; complementar e dar suporte à atividade de gestão do conhecimento dentro da organização e, por último, possibilitar o desenvolvimento, entre os colaboradores, de posturas relacionadas com a cidadania corporativa (missão, visão, objetivos e valores institucionais). Após a implantação da EC no SESC, alguns resultados podem ser visualizados no âmbito da instituição, tais como: aquisição por parte dos seus profissionais de competências em áreas técnicas perante suas necessidades e demandas evidenciadas; as equipes se tornaram capacitadas para atender às demandas decorrentes da adoção de novas práticas e/ou aperfeiçoamento de sua formação na perspectiva da ampliação de conhecimentos; facilitação dos processos de inovação de processo e de gestão. Identifica-se que a principal dificuldade no desenvolvimento da EC refere-se à infraestrutura dos meios de comunicação mais eficazes e softwares mais atualizados.

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Afinando a conversa Destacamos como proposta para aperfeiçoamento, desenvolvimento e implementação de novas iniciativas de EC no SESC: a realização de levantamentos específicos de avaliação das suas atividades nessa área para clarear aspectos não plenamente identificados; os dados precisam ser aprofundados buscando aferir uma visão mais ampliada dos participantes diretamente contemplados com as ações de EC e, por último, o desenvolvimento de metodologias e de indicadores de avaliação de resultados de impacto, eficácia, eficiência das atividades corporativas. O caminho percorrido até então nos possibilitou fazer essa breve análise, referendando uma concepção de gestão do conhecimento de transformar as condições de existência de seu corpo funcional, para conviver, para reconhecer o outro, para estabelecer relações, buscando-se, permanentemente, ser mais, ampliar os horizontes. 90

Referências ALMEIDA, Rosilene S. Inter@tividade: “navegando” no cotidiano do processo de formação de professores do projeto ‘Salto para o Futuro’: o que dizem as mensagens. Dissertação (Mestrado) – UERJ, Rio de Janeiro, 2004. ALVES, Nilda. Alternativas de formação de professores para a educação básica: novos caminhos. In: ALVES, Nilda. Trajetórias e redes na formação de professores. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho: o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. In: OLIVEIRA, Inês B.; ALVES, Nilda. A pesquisa no/do cotidiano: sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ALVES, Nilda. Sobre redes de conhecimento e currículo em rede. Revista de Educação da AEC, Brasília, v. 31, n. 122, p. 94-107, jan./mar. 2002. BAUDRILLARD, Jean. A transparência do mal: ensaios sobre os fenômenos extremos. 7. ed. Campinas: Papirus, 2003. BELLONI, M. L. O que é mídia: educação. Campinas: Autores Associados, 2001. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994, v.1. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário, Indústria e Comércio Exterior. O que é educação corporativa. Brasília, [2010]. Disponível em: <http://www. educor.desenvolvimento.gov.br/educacao>. Acesso em: 6 set. 2010.

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CARNEIRO, Roberto. A busca de sentido. Revista PRELAC, Santiago do Chile, n. 2, p. 6-11, fev. 2006. CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994. CHARLOT, Bernard. Os jovens e o saber: perspectivas mundiais. Porto Alegre: Artmed, 2001. DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1973. DUQUE-ESTRADA, Paulo Cesar (Org.). Espectros de Derrida. Rio de Janeiro: NAU Editora: Ed. PUC-Rio, 2008. ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 2001. ESTEBAN, Maria Teresa. O que sabe quem erra. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. FERREIRO, Emilia. Alfabetização e cultura escrita. Revista Nova Escola, São Paulo, p. 27-30, maio 2003. 91

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Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais (área de concentração amostragem) pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), especialista em Análise Ambiental e Gestão do Território pela Escola Nacional de Ciências Estatística (Ence), pós-graduada em Docência do Ensino Fundamental e Médio (Licenciatura em Matemática) pela Universidade Candido Mendes (Ucam), pós-graduada em Docência do Ensino Superior pelo Instituto Superior de Estudos Pedagógicos (Isep), bacharel em Ciências Estatísticas pela Escola Nacional de Ciências Estatística (Ence) e bacharel em Ciências Atuariais pela Universidade Estácio de Sá (Uesa). É também chefe da Seção de Estatística do Departamento Nacional do SESC e professora titular da Faculdade Béthencourt da Silva.

VERA LUCIA DA SILVA AUGUSTO DO NASCIMENTO

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Introdução Neste estudo foi mensurado o grau de acumulação do capital social pela construção de um índice (MARTINS, 2005) com base em 29 indicadores, utilizando como ferramenta para a coleta de informação o Questionário Integrado para Medir o Capital Social (QI-MCS), proposto por pesquisadores do Banco Mundial (GROOTAERT et al., 2003). Este instrumento permite medir a intensidade do capital social a partir de um conjunto de perguntas (questionário quantitativo) organizadas segundo as seis dimensões do capital social. O termo capital social foi mencionado pela primeira vez em 1916 pelo jovem educador Lyda Judson Hanifan. Ele utilizou esta expressão para descrever centros comunitários de escolas rurais, nas quais a grande pobreza era acompanhada pelo decréscimo da sociabilidade e das relações de confiança entre a população local. Ele achava que a comunidade poderia se beneficiar pela cooperação de todos e acreditava que quando as pessoas tinham o hábito de se relacionar, por razões sociais, econômicas ou de lazer, esse modo de relacionamento (“capital social”) poderia ser focado para o bem-estar da comunidade (D’ARAUJO, 2003).

1 Barão de Melgaço, no Mato Grosso.

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Segundo Melo Neto e Froes (2002), os fatores que determinam o capital social, são: organização, confiança, cooperação, iniciativa, solidariedade social e participação social. O acúmulo do capital social vai depender dos níveis de combinações de todos estes fatores. O autor mais amplamente mencionado no debate recente sobre capital social é Robert Putnam. Ele define capital social como traços da vida social — redes, normas e confiança — que facilitam a ação e a cooperação na busca de objetivos comuns (PUTNAM, 1993). Este trabalho se baseou na definição de capital social utilizada pelos pesquisadores do Banco Mundial — o capital social se refere às instituições, relações e normas que modelam a qualidade e a quantidade das interações sociais. O estudo de caso foi desenvolvido na comunidade de São Pedro de Joselândia (MT), comunidade vizinha a Estância Ecológica SESC Pantanal.

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O distrito rural de Joselândia faz divisa com a área de proteção da reserva do SESC e engloba quatro localidades: São Pedro, Retiro São Bento, Lagoa do Algodão e Pimenteira. A população do Distrito, de acordo com Censo de 2000 do IBGE, foi contabilizada em 2.483 habitantes, residentes em 592 domicílios (IBGE, 2000). Pertence geograficamente ao município de Barão de Melgaço, no estado do Mato Grosso, embora a população local não aceite a inclusão no município (há movimentos internos para serem vinculados administrativamente ao município de Poconé), uma vez que Barão de Melgaço não atende às suas expectativas no que refere ao fornecimento de serviços básicos (exemplo: energia elétrica, transporte coletivo e assistência médica). Em São Pedro de Joselândia observam-se as precárias condições econômicas de sua população e a quase ausência de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida e inclusão social. Existe somente uma escola financiada pelo governo estadual e algumas atividades promovidas pelo SESC, tais como: curso de pinturas para as mulheres, horta comunitária na escola, aproveitamento de frutas nativas para melhorar a renda e mutirão de assistência à saúde realizado uma vez por ano. Em situações de emergência (acidentes e casos graves de doenças, por exemplo) a população local é obrigada

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a pagar aviões particulares para o seu deslocamento até os grandes centros urbanos. A dinâmica da localidade é influenciada pelos períodos de seca e cheia do Pantanal Mato-Grossense. Fica a aproximadamente 170 km de Cuiabá. O acesso ao local pode ser feito de três modos: via terrestre, durante o período da seca; via aquática, durante as cheias e via aérea. As principais fontes de renda da comunidade são a pecuária, a pesca e, em menor grau, a agricultura, sobretudo de subsistência. A comunidade tem uma igreja, alguns estabelecimentos comerciais e a Escola Estadual Maria Silvino Peixoto Moura, onde são oferecidos cursos de Ensino Fundamental e Médio. O SESC, instituição que atua na área de estudo, tem a necessidade de procurar informação específica sobre a realidade de sua Reserva Particular do Patrimônio Natura — RPPN SESC Pantanal, com o objetivo de planejar seu manejo2 de modo seguro e eficiente, assim como monitorar o impacto do manejo e oportunamente tomar medidas corretivas. Com este intuito, são desenvolvidos trabalhos que visam contribuir para o conhecimento científico necessário ao estímulo para o desenvolvimento sustentável no entorno da reserva.

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Neste contexto, o SESC, preocupado em definir “políticas e modelos” específicos para suas atividades voltadas para o atendimento prestado à clientela e visando obter mais sustentabilidade nas ações desenvolvidas, parte do princípio que é necessário reunir e potencializar os recursos existentes (humanos, técnicos ou naturais) por meio dos diversos setores e atores que atuem em prol do desenvolvimento. A partir desta visão estratégica de construção coletiva, o SESC, como entidade social, procura promover a criação de grupos comunitários, por meio de suas atividades culturais, educacionais, de lazer, de saúde, de assistência e formação para o trabalho, visando à construção/consolidação do capital social nas localidades situadas no entorno de seus centros de atividades, como em São Pedro de Joselândia, no Mato Grosso. O presente estudo tem como público-alvo pesquisadores em geral interessados no tema, bem como a todos os servidores e gestores do Sistema SESC.

2 Manejo: Interferência planejada e criteriosa do homem no sistema natural, para produzir um benefício ou alcançar um objetivo, respeitando-se os mecanismos de sustentação ambiental dos ecossistemas.

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Referencial teórico Breve relato sobre a teoria do capital social e a diferença entre indicador e índice.

Capital social Atualmente, estudos sobre capital social vêm recebendo considerável atenção, particularmente entre sociólogos, economistas e cientistas políticos, além de organizações públicas e privadas. O autor mais amplamente mencionado no debate recente sobre capital social é Robert Putnam. Ele difundiu o conceito e pode reivindicar a responsabilidade por sua incorporação no discurso político dominante (ALBACLI; MACIEL, 2002). Ele se preocupa em buscar maneiras de regenerar a saúde política da sociedade, dando primazia para o papel das normas. Há também um claro compromisso com valores coletivos. Questiona o valor do capital humano quando dissociado de relações sociais mais amplas, desafiando o individualismo e a racionalidade das abordagens mais ortodoxas de capital humano.

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Putnam, em 1993 (apud ALBACLI; MACIEL, 2002), definiu capital social como “traços da vida social — redes, normas e confiança — que facilitam a ação e a cooperação na busca de objetivos comuns”. Esta definição vem dominando toda a discussão sobre o conceito da capital social na atualidade. Na definição do Banco Mundial, o capital social refere-se às instituições, relações e normas que modelam a qualidade e a quantidade das interações sociais, não devendo ser confundido com o capital humano (determinado pelos níveis de nutrição, saúde e educação de uma população). Existem cada vez mais evidências de que a coesão social é decisiva para que as sociedades cresçam economicamente e para que o desenvolvimento seja sustentável. O capital social não é somente o somatório das instituições que reforçam uma sociedade, é a liga que as mantém coesas. Uma visão estreita do capital social toma-o como um conjunto de associações horizontais entre pessoas, e que consiste em redes sociais e normais associadas que têm um resultado sobre

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produtividade e bem-estar da comunidade. Redes sociais podem aumentar a produtividade, reduzindo-se os custos de investimento. O capital social facilita a coordenação e cooperação (BANCO MUNDIAL, 2008). O capital social se refere à coerência interna, social e cultural da sociedade, as normas e valores que governam as interações entre pessoas e as instituições nas quais estão inseridas. Pode ser visto como um instrumento que cola, aglutina, conserva e junta a sociedade, e sem este recurso, não é possível pensar em desenvolvimento econômico ou bem-estar social. Apesar da interpretação sobre o que é efetivamente capital social ainda ser um espaço aberto para muitos debates, o seu conceito começa a convergir para três grandes categorias. Estes tipos de categorias variam conforme a posição das relações sociais, a saber: capital social comunitário, capital social extracomunitário e capital social institucional (WOOLCOCK; NARAYAN, 1999).

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Capital social comunitário ou capital social de conexão: está relacionado com organizações locais, grupos cívicos e redes informais que nutrem as normas de confiança e reciprocidade, necessárias para o comportamento cooperativo. Neste contexto, quanto maior a ligação interna do grupo é um sinal de maior capital social. As relações sociais desses grupos são fundamentadas em reciprocidade e confiança, além do grande potencial de organização que essas comunidades apresentam. Capital social extracomunitário ou capital social de ponte: mostra a relação entre os grupos sociais, os grupos compartilham informações e confiam uns nos outros. As pontes com outros grupos configuram a capacidade de interlocução com as realidades diferentes, permitindo que determinado grupo acesse fontes de recursos externas à sua composição, permitindo as trocas (relações de mercado) e o acesso às informações (conhecimentos) externas. Capital social institucional ou capital social de ligação: diz respeito especificamente ao acesso e à interferência que os grupos sociais têm sobre organizações formais, como o governo, sistema jurídico ou empresas. Ele agrega aos dois primeiros os aspectos políticos e sociais que dão forma à estrutura social e fazem com que as normas de cooperação e reciprocidade se desenvolvam. Isto é, além da coesão interna e da capacidade de relacionar para além de seus limites físicos, o engajaMensuração do capital social na comunidade de São Pedro de Joselândia

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mento com instituições formais é de grande importância para desenvolver a capacidade de o grupo social agir em prol de seus interesses coletivos. O capital social também pode ser desagregado em: estrutural e cognitivo. O capital social estrutural está associado aos diversos tipos de organização social e a instituições locais, tanto formais quanto informais, que atuam como instrumentos para o desenvolvimento comunitário, como por exemplo, papéis, regras e procedimentos, assim como as redes de relações sociais que favorecem a cooperação. Ele é construído por meio de associações horizontais/redes sociais que mantenham processos de tomada de decisão transparentes e coletivos, lideranças responsáveis e práticas coletivas. O capital social cognitivo é resultante de processos mentais reforçados pela cultura e ideologia de um grupo, mais especificamente, por normas sociais, valores, atitudes e crenças elementos que dão racionalidade a ação coletiva. Dentre esses valores incluem-se a confiança, solidariedade e reciprocidade, que, compartilhadas entre os membros do grupo, criam as condições para que os indivíduos trabalhem para o bem comum (UPHOFF, 2000).

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Pode-se observar no quadro 1 que, quanto mais bem distribuído estiver o estoque de capital social entre seus aspectos cognitivo e estrutural, maiores serão os fluxos de benefícios coletivos produzidos, ou maior será a possibilidade de comportamento cooperativo mutuamente benéfico (KRISHNA, 2000).

Quadro 1: Relação entre as categorias de capital social. Aspectos Estruturais

Aspectos cognitivos

Fortes

Fracos

Fortes

Fracos

(3) Associações tradicionais Desafio: introdução de regras, normas e procedimentos

(1) Alto capital social Desafio: estender o escopo das atividades

(1) Alto capital social Desafio: estender o escopo das atividades

(2) Organizações fortes Desafio: legitimação, estruturação das relações

(4) Anêmico, amoral, atomizado Desafio: auxiliar no estabelecimento de normas e estruturas

(2) Organizações fortes Desafio: legitimação, estruturação das relações

(3) Associações tradicionais Desafio: introdução de regras, normas e procedimentos

(4) Anêmico, amoral, atomizado Desafio: auxiliar no estabelecimento de normas e estruturas

Fonte: Krishna (2000).

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Indicador e índice Em uma análise superficial, índice e indicador parecem sinônimos, mas a diferença é que um índice é o valor agregado final de todo um procedimento de cálculo onde se utilizam, inclusive, indicadores como variáveis que o compõem. Pode-se dizer também que um índice é simplesmente um indicador de alta categoria (KHANNA, 2000). É importante salientar que um índice pode se transformar em um componente de outro índice. Neste estudo o índice de capital social foi construído agregando 29 indicadores cuja metodologia está descrita a seguir.

Metodologia O trabalho consistiu na aferição do capital social dos moradores de São Pedro de Joselândia. Para medir o capital social foi produzido um conjunto de indicadores com dados levantados por meio da aplicação do Questionário Integrado para Medir o Capital Social (QI-MCS), proposto por especialistas do Banco Mundial (GROOTAERT et. al., 2003). Este instrumento permite medir a intensidade do capital social em determinada localidade ou região, a partir de um conjunto de perguntas organizadas segundo as dimensões do capital social: Grupos e Redes; Confiança e Solidariedade; Ação Coletiva e Cooperação; Informação e Comunicação; Coesão e Inclusão Social e Empoderamento e Ação Política. O questionário foi aplicado em 2002 como estudo piloto na Albânia e na Nigéria, e vem sendo amplamente aplicado em vários países, como Tanzânia, Gana, Guatemala, Portugal, Brasil, entre outros, e pode ser adaptado segundo as especificidades de cada local.

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A partir dos indicadores foi calculado o Índice de Capital Social (ICS) com o método proposto por Martins (2005). Uma das vantagens desse método é que por meio de algumas variáveis, selecionadas previamente, pode-se coletar as informações necessárias e fazer os cálculos de uma maneira relativamente simples e rápida. Umas das desvantagens é que a ferramenta utilizada para coletar informações sobre o capital social foi desenvolvida para gerar

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dados quantitativos, e sabemos que para uma análise mais detalhada precisa-se também de informações advindas de dados qualitativos. Esta pesquisa faz parte do trabalho final da autora no curso de pósgraduação em Análise Ambiental e Gestão do Território ministrado pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas — Ence/IBGE.

Plano amostral A coleta de informações de toda a população é sempre o melhor instrumento para o levantamento de informações. Porém, a limitação de recursos (humano, material e de tempo) leva quase sempre à obtenção de informações a partir de uma amostra. Para o dimensionamento da amostra e cálculo da precisão e do erro a ser utilizado no estudo foi preciso saber algumas informações acerca do tamanho da população e quantas residências existiam em São Pedro de Joselândia. Por meio de um levantamento no local de estudo e conversas com o agente de saúde da comunidade chegou-se a um total de aproximadamente 1.500 habitantes (1.000 com 16 anos ou mais de idade, quantidade de eleitores na última eleição) e 300 domicílios.

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Considerando que o tempo para a coleta de dados seria de apenas três dias com três entrevistadores e que cada pessoa poderia fazer no máximo nove entrevistas por dia, chegou-se a uma amostra de 81 moradores. Este tamanho de amostra equivale a um plano de amostra aleatória simples com erro relativo de 3%, nível de precisão de 16% e nível de significância de 95% para determinada quantidade estimada, considerando uma população de 300 moradores responsáveis pelos domicílios pesquisados. Com a hipótese que, pesquisando os responsáveis pelos domicílios, pode-se ter uma boa noção do capital social de toda a comunidade. Para um melhor espalhamento da amostra foi aplicada uma seleção sistemática com passo 3, começando da terceira casa (no primeiro dia de trabalho foi feita uma varredura dos domicílios para sua enumeração — 1 a 300).

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Coleta de dados Os dados foram coletados por meio de questionário estruturado (Anexo), com perguntas fechadas aplicadas ao responsável pelo domicílio/família selecionado da comunidade de São Pedro de Joselândia. Os dados foram coletados em agosto de 2009, por três entrevistadores (a autora e dois servidores da Seção de Estatística do SESC).

Estimação A pesquisa foi realizada por amostragem probabilística. Assim sendo, cada unidade selecionada na amostra, além de representar a si própria, representa, também, outras unidades da população-alvo que não foram selecionadas. A cada unidade selecionada é associado um fator de expansão (peso), que representa, basicamente, o universo da sua probabilidade de seleção. Peso: wi =

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N n

Em que: n é o número de moradores responsáveis pelo domicílio selecionado na amostra. N é o número total de moradores responsáveis pelos domicílios na população.

Seleção e operacionalização dos indicadores e do índice Para a elaboração dos indicadores e do ICS foram consideradas variáveis que expressam as relações interpessoais entre membros da comunidade, além de sua participação em associações de caráter participativo e cooperativo. Foram considerados 29 indicadores divididos em seis dimensões do capital social, de acordo com o Grootaert e colaboradores (2003): Grupos e Redes; Confiança e Solidariedade; Ação Coletiva e Cooperação; Informação e Comunicação; Coesão e Inclusão Social e Empoderamento e Ação Política.

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Grupos e redes: esta dimensão abrange a participação da comunidade em grupos e redes locais e suas características. Ela é composta por oito indicadores:

˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚

Quantidade de grupos (que o entrevistado pertence) Diferença de religião (membros do grupo) Diferença de gênero (membros do grupo) Diferença de afazeres (membros dos grupos) Diferença de escolaridade (membros dos grupos) Interação com grupos externos (fora da comunidade) Quantidade de amigos próximos Disposição em prestar auxílio financeiro

Confiança e solidariedade: esta dimensão busca levantar dados sobre confiança e solidariedade na comunidade. Ela é composta por cinco indicadores:

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˚ ˚ ˚ ˚ ˚

Confiança interpessoal Nível de confiança no governo municipal Nível de confiança no governo federal Contribuição para um projeto da comunidade com tempo Contribuição para um projeto da comunidade com dinheiro

Ação coletiva e cooperação: esta dimensão investiga se os membros de uma comunidade têm trabalhado com outras pessoas de sua comunidade em projetos comuns e se existem consequências pela participação nessas atividades. Ela é composta por dois indicadores:

˚ ˚

Participação em atividade comunitária Cooperação para resolver um problema (p. ex., abastecimento de água)

Informação e comunicação: esta dimensão mostra se os membros de uma comunidade têm acesso a informações externas. Ela é composta por dois indicadores:

˚ ˚

Acesso a meios de informação Acesso a meios de comunicação

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Coesão e inclusão social: esta dimensão investiga como os membros da comunidade se relacionam. Ela é composta de oito indicadores:

˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚ ˚

Nível de semelhança entre as pessoas Diferenças que não causam problemas Problemas que não causam violência Interação entre vizinhos Interação com pessoas de outra situação econômica Interação com pessoas de outra posição social Interação com pessoas de outra religião Sensação de segurança

Empoderamento e ação política: esta dimensão investiga se os membros de uma comunidade têm controle sobre os processos que afetam diretamente o seu bem-estar. Ela é composta de quatro indicadores:

˚ ˚ ˚ ˚ ˚

103

Sensação de felicidade Poder de tomar decisões importantes para sua vida Engajamento para resolução de problemas da comunidade Participação na última eleição Depois de quantificadas as variáveis de cada indicador o próximo passo foi o cálculo do índice de capital social

Índice de capital social (ICS): para aferir a intensidade do capital social foi feita uma avaliação a partir de um índice resultante da agregação dos indicadores descritos anteriormente, da seguinte maneira (MARTINS, 2005):

ij

em que: ICS: Índice de Capital Social Eij: Escore do i-ésimo indicador, alcançado pelo j-ésimo morador I=1,...,m (indicadores) J=1,...,n (moradores) E maxi: Escore máximo do i-ésimo indicador Mensuração do capital social na comunidade de São Pedro de Joselândia

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A contribuição de cada um dos indicadores/Dimensão para a formação do Índice de Capital Social dos moradores foi obtido da seguinte maneira: ij

, Ci = contribuição do indicador/dimensão (i) no ICS dos moradores. O escore de cada indicador foi definido da seguinte maneira:

104

˚

Perguntas com respostas numéricas, como por exemplo, “número grupos a que pertence”: Atribuir o próprio valor respondido

˚

Perguntas com respostas dicotômicas, tipo SIM ou NÃO, foram atribuídos os valores: 0 para NÃO 1 para SIM, quando o SIM indicar aumento de capital social. 1 para NÃO 0 para SIM, quando o SIM indicar diminuição do capital social.

˚

Perguntas com respostas com gradação de escalas foram organizadas em ordem crescente de valores partindo-se da situação em que se observa o pior desempenho (com valor zero) até a melhor situação possível de ser verificada (podendo variar de 0 até 1).

˚

Podemos calcular um escore tanto para um indicador quanto para uma dimensão. O escore do indicador é o próprio valor a ele atribuído e o da dimensão é a soma dos escores dos seus respectivos indicadores.

Quanto mais próximo de 1, maior o valor do ICS na comunidade. Optou-se por utilizar o seguinte critério (padrão adotado por diversos índices):

˚ ˚ ˚

0,0 < ICV � 0,5 � Baixo nível de acumulação de capital social 0,5 < ICV � 0,8 � Médio nível de acumulação de capital social 0,8 < ICV � 0,1 � Alto nível de acumulação de capital social

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Resultados A maioria dos responsáveis pelos domicílios tem entre 25 e 55 anos, sendo que a maior parte compõe-se de homens, com pequena diferença para o percentual de mulheres (51% a 49%, respectivamente). Cerca de 78% dos entrevistados se declarou casado(a) ou tendo uma companheira(o). O fato de serem adultos, em sua maioria, justifica esta elevada percentagem de casados(as). Quanto ao nível de escolaridade, 178 entrevistados declararam ter o Ensino Fundamental incompleto (menos de 8 anos de estudo), representando 59% da população estudada. Dentre os entrevistados 69% declararam que o SESC exerce um papel importante no apoio a comunidade, 28% acham que não e o restante não soube responder.

105

Do total de entrevistados, 62% declararam que a instalação do SESC na região não influenciou o seu modo de vida e 32% afirmaram ele teve um papel importante na mudança de seu cotidiano. Pela análise da tabela 1, pode-se observar o estoque de capital social e a contribuição de cada dimensão/indicador na formação do índice. O valor obtido foi de aproximadamente 0,5, que indica um baixo estoque de capital social na comunidade. Observando a participação de cada dimensão, com seus respectivos indicadores, na composição do índice de capital social, pode-se notar que: Grupos e redes consideram a natureza e a extensão da participação de membros da comunidade em vários tipos de organização social e redes informais, assim como as contribuições dadas e recebidas nestas relações. Esta dimensão alcançou apenas 39,18% do seu valor máximo, contribuindo com 20,21% na construção do índice. Os indicadores que menos contribuíram nesta dimensão foram: quantidade de grupos que pertence, membros dos grupos com diferença nos afazeres, escolaridade e religião. Nesta comunidade não há uma rede formal engajada para o benefício de todos e sim uma rede informal (amigos), cujos membros se ajudam, em caso de necessidade. Conclui-se que há um baixo estoque de capital social estrutural.

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Com relação à confiança e solidariedade, os valores mensurados representaram 67,41% do máximo possível, fazendo com que esta dimensão tivesse uma importante representação na composição do índice (21,73% em termos relativos). Estes resultados mostram que os moradores de São Pedro de Joselândia de um modo geral têm confiança nas pessoas e uma predisposição para contribuir em projetos que ajudem a comunidade, mostrando um bom nível de capital social cognitivo.

Tabela 1: Índice de Capital Social – São Pedro de Joselândia (Barão de Melgaço – MT) – 2009 Índice Dimensões/indicadores

106

Valor máximo

Percentual Valor obtido

Obtido do valor máximo

Participação no índice

Grupos e redes Quantidade de grupos que pertence Diferença de religião (membros dos grupos) Diferença de gênero (membros dos grupos) Diferença de afazeres (membros dos grupos) Diferença de escolaridade (membros dos grupos) Interação com grupos externos (fora da comunidade) Número de amigos próximos Disposição das pessoas a emprestar dinheiro

0,2581 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345

0,1011 0,0043 0,0000 0,0190 0,0033 0,0182 0,0145 0,0196 0,0265

39,18 12,42 0,00 55,17 9,59 52,77 41,98 56,88 76,80

20,21 0,86 0,00 3,80 0,66 3,64 2,89 3,92 5,29

Confiança e solidariedade Confiança interpessoal Nível de confiança no governo municipal Nível de confiança no governo federal Contribuição para um projeto da comunidade com tempo Contribuição para um projeto da comunidade com dinheiro

0,1613 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345

0,1087 0,0195 0,0145 0,0205 0,0315 0,0227

67,41 56,59 42,15 59,48 91,24 65,83

21,73 3,90 2,91 4,10 6,29 4,54

Ação coletiva e cooperação Participação em atividade comunitária Cooperação para resolver problemas de abastecimento de água

0,0968 0,0345 0,0345

0,0222 0,0033 0,0189

22,94 9,53 54,86

4,44 0,66 3,78

Informação e comunicação Acesso a meios de comunicação Acesso a meios de informação

0,0645 0,0345 0,0345

0,0351 0,0153 0,0198

54,42 44,46 57,36

7,02 3,06 3,95

Coesão e inclusão social Nível de diferença entre as pessoas Diferenças que não causam problemas Problemas que não causam violência Interação com pessoas (vizinhos) Interação com pessoas de outra situação econômica Interação com pessoas de posição social diferente Interação com pessoas de outra religião Sensação de segurança

0,2581 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345

0,1509 0,0221 0,0267 0,0276 0,0104 0,0140 0,0122 0,0158 0,0221

58,47 64,10 77,38 80,18 30,03 40,60 35,30 45,89 64,10

30,16 4,42 5,33 5,53 2,07 2,80 2,43 3,16 4,42

Empoderamento e acão política Sensação de felicidade Poder de tomar decisões importantes para sua vida Engajamento para solução de problemas da comunidade Participação na última eleição

0,1613 0,0345 0,0345 0,0345 0,0345

0,0822 0,0295 0,0259 0,0030 0,0239

50,99 85,46 75,07 8,66 69,30

16,44 5,89 5,17 0,60 4,78

1,000

0,5003

50,03

100,00

ICS

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O mesmo não ocorre com relação à dimensão ação coletiva e cooperação, onde foi alcançado apenas 22,94% do valor máximo possível, representando o índice em 4,44%. Isso indica um baixo poder de ação coletiva por parte de seus moradores, apesar de se ter um alto nível de cooperação quando é preciso resolver algum problema que aflija a comunidade. A pobreza e o atraso devem-se, em grande parte, à incapacidade dos habitantes do local de agir em conjunto, objetivando o bem comum ou tendo em vista metas que transcendam aos interesses materiais imediatos da família nuclear (SABOURIN, 2002). O acesso à informação e a comunicação é importante para o capital social. Quando apresenta um valor baixo, traz certa preocupação, pelo fato de limitar o fluxo de troca de informação nas redes sociais, a percepção de “cidadania”, e pela pequena valorização da virtude cívica. Esta dimensão apresentou uma contribuição mediana na composição do Índice de Capital Social, tendo alcançado 54,42% do valor máximo, contribuindo com 8% na construção do índice. O acesso à informação e a comunicação é um ponto positivo na comunidade de São Pedro de Joselândia, pois espera-se que uma comunidade que tem acesso a informações e facilidade de comunicação com outras localidades tenha maior capacidade de gerar e acumular capital social.

107

A dimensão coesão e inclusão social obteve 58,47% do total, representando 30,16% na composição do índice. Nesta dimensão o que está sendo medido não é a coesão social propriamente dita e sim uma percepção dela. Neste sentido podemos observar, quanto a coesão social, que na comunidade existe pouca diferença entre as pessoas e os problemas ocasionados pelas pequenas diferenças não geram violência. Em relação à inclusão social, a comunidade se apresenta em uma situação mediana com a formação de grupos homogêneos, que pode ser reflexo de um baixo estoque de capital social estrutural. O ponto forte é a sensação de segurança existente. No que diz respeito ao empoderamento e ação política os indivíduos têm “autoridade” ou são “capacitados” (are empowered) na medida em que detêm certo controle sobre instituições e processos que afetam diretamente seu bem-estar (BANCO MUNDIAL, 2002). As questões desta dimensão buscaram averiguar o sentimento de felicidade, eficácia pessoal e capacidade dos membros do agregado doméstico para influenciar tanto eventos locais como respostas políticas mais amplas.

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Neste aspecto a comunidade estudada mostrou ter um alto grau de empoderamento, porém, isto não se traduz em ação no que se diz respeito à cooperação e à união para a solução de problemas. Nesta questão obteve-se 50,99% do seu máximo, sendo responsável por 16,44% do ICS. Segundo Krishna (2000), uma comunidade que apresenta aspectos cognitivos fortes e aspectos estruturais fracos se caracteriza por ter associações tradicionais (caso de São Pedro de Joselândia), onde o desafio para aumentar o estoque de capital social é a introdução de regras, normas e procedimentos, para que, com isso, consigam aumentar capital social estrutural e em consequência disto ter um maior estoque de capital social. O desenvolvimento humano e social sustentável, por meio do capital social, prioriza articulações e a formação de redes sociais fazendo a democratização das relações na base da sociedade e no cotidiano do cidadão, aliando o desenvolvimento, a conservação e/ou preservação ambiental e cultural, a manutenção das condições essenciais à vida, como saúde, educação, alimentação, segurança, liberdade e bem-estar social.

108

Conclusão Este trabalho analisou o capital social na comunidade de São Pedro de Joselândia. Os resultados indicam um baixo estoque de capital social, em razão principalmente da falta de um maior capital social estrutural (grupos formais com objetivo de desenvolver a comunidade), fazendo com que não se consiga boas medidas de resultado (ação coletiva), apesar de a comunidade apresentar um bom estoque de capital social cognitivo (confiança e solidariedade). Portanto, falta conectividade para produzir capital social. Recentemente, observa-se grande proliferação das pesquisas sobre capital social, mas persiste o desafio de mensurá-lo com precisão, em virtude da subjetividade de alguns de seus elementos, e a identificação de seus correspondentes empíricos. Conforme Woolcock (2002), uma das questões preocupantes nas pesquisas é identificar como diferentes disciplinas podem conceituar e mensurar o capital social. Embora exista certo consenso sobre a importância do capital social

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no desenvolvimento, persistem algumas dúvidas sobre a probabilidade de sua formação, e poucos trabalhos apontam procedimentos indicados para sua criação. A formação de grupos e redes, ação coletiva e cooperação e laços de confiança e solidariedade são fundamentais no processo de desenvolvimento comunitário, conforme abordado neste trabalho. Neste sentido, o SESC, como entidade preocupada com o desenvolvimento sustentável e que já exerce um papel importante no apoio da comunidade (69% da comunidade afirmaram isto), pode incentivar atividades que privilegiem a interação na comunidade de São Pedro de Joselândia, para reforçar esses laços e aumentar o estoque de capital social. Vale ressaltar que os resultados alcançados com a realização desta pesquisa representam uma visão na qual continua em processo de discussão e aprimoramento. Considerando-se que o tema capital social redunda em um amplo campo de pesquisa, o qual envolve múltiplos tipos de conceitos, abordagens, modelos, dimensões e variáveis, têm-se infinitas possibilidades de interações e relações sociais, responsáveis pela criação, existência e consolidação de capital social em dada localidade.

109

Este trabalho constituiu uma avaliação preliminar do capital social da comunidade de São Pedro de Joselândia, que poderá servir de base para trabalhos futuros relacionados ao tema.

Referências ALBACLI, S.; MACIEL, M. L. Capital social e empreendedorismo local. Rio de Janeiro: UFRJ/IE/RedeSist, 2002. Disponível em: <www.ie.ufrj.br/redesist>. Acesso em: 10 out. 2008. BANCO MUNDIAL. Conceitos disponíveis no site do Banco Mundial. Brasília, 2008. Disponível em: <http://worldbank.org>. Acesso em: 1 nov. 2008. D’ARAUJO, M. C. Capital social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. GROOTAERT, C. et al. Integrated questionnaire for the measurement of social capital (SC-IQ). Washington, D. C.: World Bank, 2003. IBGE. Censo demográfico 2000. Brasília, 2000. Disponível em: <www.ibge.gov. br/home/.../censo2000/default.shtm>. Acesso em: 30 ago. 2009.

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KHANNA, N. Measuring environmental quality: an index of pollution. Ecological Economics, v. 35, n. 2, p. 191-202, Nov. 2000. KRISHNA, A. Creating and harnessing social capital in Dasgupta e Serageldin “Social capital, a multifaceted perspective”. Washington, D.C.: The International Bank for Reconstruction and Development/The World Bank, 2000. MARTINS, J. C. V. Reflexos sociais, ambientais e econômicos da apicultura em assentamentos rurais do município de Apodi-RN. 2005. 108 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN, 2005. MELO NETO, F. de P.; FROES, C. Empreendedorismo social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. PUTNAM, R. D. The prosperous community: social capital and public life. The American Prospect, v. 4, n. 13, Mar. 21 1993. SABOURIN, E.; TEIXEIRA, O. (Org.). Planejamento do desenvolvimento dos territórios rurais: conceitos, controvérsia e experiências. Brasília: UFPB: CIRAD: EMBRAPA, 2002.

110

UPHOFF, N. Understanding social capital: learning from the analysis and experience of participation in Dasgupta e Serageldin “Social Capital, a Multifaceted Perspective”. Washington, D.C.: The International Bank for Reconstruction and Development: The WorldBank, 2000. WOOLCOCK, M.; NARAYAN, D. Social capital: implications for development theory, research an policy. 1999. Disponível em: <http://www.csae.ox.ac.uk/ conferences/2000-OiA/pdfpapers/woolcock.PDF>. Acesso em: 1 nov. 2008. WOOLCOCK, M. Social capital in theory and practice: where do we stand? In: Social capital and economic development: well-being in developing countries. Reino Unido: Edward Elgar, 2002. p. 18-39.

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Anexo: Questionário da pesquisa Módulo 1: Dados gerais sobre o entrevistado e a influência do SESC na comunidade 1) Idade: ________ 2) Sexo:  Feminino

 Masculino

3) Estado civil:  Casado(a)/companheiro(a)

 Solteiro(a)

 Viúvo(a)

 Separado (a)

 Desquitado (a)

 Não respondeu

4) Escolaridade  Sem instrução

 Alfabetizado

 Ensino Fundamental incompleto

 Ensino Fundamental completo

 Ensino Médio incompleto

 Ensino Médio completo

 Superior incompleto

 Superior completo

 Pós-graduação

 Não respondeu

111

5) No seu entendimento o trabalho que o SESC vem fazendo em defesa do Pantanal e em apoio a comunidade de Joselândia é importante?  Sim

 Não

6) O SESC tem influenciado de alguma maneira a sua vida?  Sim, influenciado positivamente  Sim, influenciado negativamente  Não

Módulo 2: Capital Social 7) Faz parte de algum grupo? (Pode ser formalmente organizado, ou apenas um grupo de pessoas que se reúnem regularmente para conversar/diversão.)  Sim

Quantos ___________ Qual o nome do que acha mais importante___________________

 Não

(Passe para a questão número 11)

8) No grupo que você considerou mais importante, a maioria das pessoas são: a) Da mesma religião

 Sim

 Não

b) Do mesmo sexo

 Sim

 Não

9) Os membros deste grupo têm, em sua maioria, os(a) mesmos(a) a) Afazeres (ocupação no sentido de subsistência)

 Sim

 Não

b) Escolaridade

 Sim

 Não

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10) Este grupo interage com outros grupos fora da comunidade  Sim, ocasionalmente  Sim, frequentemente  Não 11) Quantos amigos próximos você diria que tem hoje? ________ 12) Sem ser seus familiares ou parente próximos, algum amigo seu lhe prestaria auxílio em caso de necessidade? (Pode ser financeiro ou não.)  Sim

 Acho que sim

 Não

13) Falando em geral, você diria que: a) Podemos confiar na maioria das pessoas?

 Sim

 Não

14) Quanto você confia em.... a) Membros do governo local

b) Membros do governo federal

1 – Confio 2 – Confio mais ou menos

112

3 – Não confio 15) Se um projeto feito em sua comunidade não lhe desse nenhum benefício diretamente, mas trouxesse benefícios para outras pessoas, você contribuiria com seu tempo ou dinheiro para o projeto? a) Com tempo

 Sim

 Não

b) Com dinheiro

 Sim

 Não

16) Nos últimos 12 meses, você ou alguém de sua família participou de alguma atividade comunitária, em que as pessoas se reúnem para realizar algum trabalho em benefício da comunidade?  Sim

Quantas vezes, nos últimos 12 meses? ____________

 Não 17) Se houvesse um problema de abastecimento de água nesta comunidade, você acha que as pessoas cooperariam para tentar resolver o problema?  Sim

 Acho que sim

 Não

18) No último mês, quantas vezes você fez ou recebeu um telefonema/ carta? __________ 19) Quais são as três fontes de informação mais importantes a respeito do que o governo está fazendo? (Ler as opções que estão no fim do questionário.)  1ª opção

 2ª opção

 3ª opção

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20) Até que ponto você diria que as pessoas são muito diferentes na sua localidade?  Muito diferentes

 Relativamente diferentes

 Pouco diferentes

21) Algumas dessas diferenças causam problemas?  Sim  Não

=>

(Passe para a questão número 25)

22) Na sua opinião quais das duas diferenças que causam a maioria dos problemas? (Ler as opções que estão no fim do questionário.)  1ª opção

 2ª opção

23) Alguma vez esses problemas citados já levaram à violência?  Sim

 Não

24) Quantas vezes, no último mês você se reuniu com outras pessoas para conversar, em casa ou em algum lugar público? ___________ Caso afirmativo: Algumas dessas pessoas era: a) De outra situação econômica?

 Sim

 Não

b) Posição social diferente?

 Sim

 Não

c) De outra religião?

 Sim

 Não

113

25) Como você se sente com relação à violência quando está sozinho em casa?  Seguro

 Indiferente

 Inseguro

26) Em geral, você se considera uma pessoa...?  Feliz

 Nem feliz, nem infeliz

 Infeliz

27) Você se sente que tem poder para tomar decisões que podem mudar a sua vida?  Incapaz  Nem capaz, nem incapaz  Capaz 28) No último ano, pessoas de sua comunidade se reuniram para fazer algum pedido a líderes políticos para benefício da comunidade?  Sim

Quantas vezes _________________

 Não 29) Muitas pessoas consideram difícil sair para votar. Você votou na última eleição?  Sim

 Não

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Lista das perguntas 19 e 22. 19) Quais são as três fontes de informação mais importantes a respeito do que o governo está fazendo?  Parentes, amigos e vizinhos  Boletins da comunidade  Mercado local  Jornal local da comunidade  Jornal de circulação nacional  Rádio  Televisão  Grupos ou associações  Colegas de trabalho ou sócios  Líderes da comunidade  ONG 114

 Internet 22) Na sua opinião quais das duas diferenças que causam a maioria dos problemas?  Na educação  De posses de terras  De riquezas em geral (dinheiro)  De posição social  Entre homens e mulheres  Entre gerações (jovens e velhos)  Entre moradores (novos e antigos)  Entre tipos de religião

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NÚMEROS ANTERIORES Número 1 Concepção da infância e leitura como experiência coletiva

Claudia Santos de Medeiros Formação de competências como fator diferencial para as organizações

Edna Sá Ambrosio Mayrink A estratégia da gestão social

João Martins Ribeiro O olhar de quem aprende

Leonardo Pugliesi Figueiredo Reflexões sobre a relação entre exercício físico-esportivo, saúde e lazer

Monica da Silva Castro Desenvolvimento cultural local

Sidnei Cruz

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Esta publicação foi composta nas fontes Univers e Baskerville e impressa em papel pólen 70 g/m2 (miolo) e duodesign 240 g/m2 (capa) para o SESC.

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