REVISTA SÉRIE Z #22 (Série Z Olímpica #1)

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NOV. 2018 -- N.22

OS JUBS 2018 K EM PERFIS


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FINALMENTE, OLÍMPICO

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foco da Revista Série Z é o Futebol Alternativo, mas desde as Olimpíadas Rio 2016 que percebo (mais ainda) que o esporte no todo tinha muitas alternatividades: é o campeonato de hóquei no Brasil, o Mundial de raquetebol, o Acreano de handebol ou o Alemão de futebol americano. Tem muita coisa legal para conferir. A Revista Série Z não vai mudar, mas queria e os leitores também demonstraram interesse em ter uma edição especial de Esporte Alternativo. Feito! Pois bem, chegou o momento de deixar a ideia e partir para a prática. Em outubro desse ano, eu, Felipe Augusto, editor e criador da Revista Série Z, recebi um convite para trabalhar na cobertura dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) 2018, em Maringá (PR), como parte da organização da Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU) sem nenhum vínculo com a Série Z, mesmo que isso tenha ajudado. Gosto de esportes em geral, além do futebol e pude acompanhar atletas de alto rendimento em uma semana desportiva fantástica, com grandes nomes como Amandinha e Paulo

André Camilo e ótimas histórias, como a da mãe Iolene Rodrigues e a filha Alice. Dentre vários textos, contei a história de dez personagens do evento e resolvi colocá-los em uma revista especial e que serve como a estreia da Série Z Olímpica. A ideia de trazer os JUBs para a revista, de início, era para ser uma das pautas da edição #22, que iria decidir durante a cobertura, mas acabou que o material ficou bem legal, que após o evento defini (com a chancela da Fabiana Barcelos e o incentivo do Tiago Mathias, que me convidaram para o trabalho) fazer um número exclusivo para os perfis que escrevi. Assim, nasce a primeira edição voltada ao Esporte Alternativo, mesmo com grandes nomes aqui registrados. Essa é uma primeira experiência para algo que faremos pelo menos uma vez por ano. Já fizemos o Guia Alternativo das Olimpíadas Rio 2016 em uma edição meio a meio, aliada a cobertura alternativa diária do evento; pautas em edições normais da revista; publicações de esporte alternativo e, agora, também, com a criação de um Twitter voltado para essa versão extensiva (@seriezolimpica). Sejam bem-vindos a esse especial...



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NOSSO TIME EDITOR, PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO, REVISÃO, REDAÇÃO Felipe Augusto

Guilherme Amaral Gabriela Castro João Ricardo Camilo Thiago Crepaldi

CONTRIBUINTES CATARSE Leandro Mendes

FOTOGRAFIA Alzir Lima Felipe Herrmann Gabriel Moreira Thiago Duarte Equipe Kaizen Filmes

EQUIPE de IMPRENSA Fabiana Barcelos Tiago Mathias Clara Aguiar Rovilsso Júnior EQUIPE de APOIO Allana Luiza Ana Luíza Vargas

AGRADECIMENTOS CBDU - Confederação Brasileira do Desporto Universitário

onde estamos revistaseriez.org issuu.com/seriezrevista cdf/revistaseriez catarse.me/revistaseriez


escalação 10

AMANDINHA B X ADRIELSON E INGRIDH

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IOLENE RODRIGUES x 3 BEATRIZ E DÉBORA CARNEIRO

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PAULO ANDRÉ CAMILO \ x ISABELLA ANSOLIN

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FABIANO PEÇANHA \ 8 ARYELLE CARUZZO

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AMANDINHA A MELHOR DO MUNDO NO FUTSAL ESTEVE AQUI Aluna-atleta de Santa Catarina foi um dos principais destaques da edição

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66ª edição dos Jogos Universitários Brasileiros manteve a tradição da oferta de esporte de alto rendimento. Nessa edição, uma das principais atletas na disputa foi Amanda Lyssa, a Amandinha, que nas últimas quatro temporadas foi escolhida como melhor jogadora de futsal do mundo e que pela primeira vez participou dos JUBs. Amandinha, da UNIPLAC, de Lages (SC), se destaca pela liderança dentro e fora de quadra. No trajeto do hotel até o ginásio Chico Neto – para a estreia contra o CENESUP (PB) - que preferiram fazer a pé, para entrar em aquecimento e conhecer parte de Maringá, ela que comandava as ações sobre o trajeto com o celular na mão e guiando as companheiras sobre o caminho. É a segunda vez que Amandinha vem a Maringá. Em 2010, ela participou

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do Brasileiro Escolar. “A estrutura é maravilhosa. Eu acho Maringá linda e ainda bem que eu voltei aqui”. Grande referência da equipe, foi dela o primeiro e terceiro gol do torneio de futsal feminino, na vitória, por 5 a 0, comandando as principais ações de ataque. Cearense, nascida em Fortaleza, saiu de casa cedo, aos 15 anos rumo à Santa Catarina para trilhar o caminho do esporte, mas também para ter a oportunidade de se formar, algo que frisa como essencial. Na UNIPLAC, ela cursa fisioterapia, incentivada pelo pai e pela relação que criou com a profissão. “Eu vivi muitos momentos com esses profissionais. Eles são sensacionais e espero um dia retribuir o que fizeram por mim. Às vezes era quase impossível jogar uma partida e eu estava lá, devido a fisioterapia”, conta Amandinha, que pretende seguir a carreira na área desportiva.

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A junção educação e esporte fez com que pela primeira vez dispute uma edição de JUBs, colocando a instituição que representa como estreante no torneio de futsal feminino. “A CBDU é uma das melhores instituições que têm no nosso país, pois a organização é incrível. Quando começamos o ano, as competições certas que a gente tem são da confederação. Isso para nós é motivo de orgulho, de ter uma instituição como essa, valorizando todo tipo de esporte, sem diferença. O futsal masculino é a mesma coisa que o futsal feminino, assim como em todos os outros esportes. Isso é bem legal”, ela que por cinco vezes foi campeã da Liga do Desporto Universitário (LDU). Por falar em títulos, são muitos, que ela nem mesmo consegue ter um número exato de taças e medalhas que possui. São três títulos da Libertadores da América, sendo

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duas pelo Barateiro Futsal (Brusque) e uma com o Leoas da Serra, vencida esse ano. O atual clube e a UNIPLAC possuem uma parceria, sendo que todo o time das Leoas compõe a equipe universitária, incluindo a comissão técnica, como Esquerda – poucos o reconhecem pelo nome Anderso Menezes –, o treinador da equipe. Ele convive com Amandinha há mais de dez anos, desde que ela mudou de estado. “É uma pessoa maravilhosa. Ajuda muito o grupo. É uma menina que é muito fácil de trabalhar. Cada vez mais está evoluindo. Sabe que é a melhor do mundo, mas a cada ano nós vemos a evolução dela. É muito gratificante estar com ela”, diz o treinador que conta, também, com mais destaques, como Diana e Tampa, integrantes da seleção nacional adulta, além de atletas com passagem pela categoria sub-20 do Brasil. Entre 2014 e 2017, nenhuma

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outra mulher jogou tanto futsal quanto ela. São quatro títulos de Melhor do Mundo consecutivamente. As conquistas individuais, segundo ela, deram uma responsabilidade imensa que com o passar dos anos foi assimilada e atualmente é vista com melhor naturalidade pela jogadora. “Se for parar para pensar, as pessoas esperam muito de mim. O que gosto desse título é poder representar meu esporte. Eu sou isso, uma referência e a responsabilidade ‘quadriplicou’, pois quando as pessoas vão me assistir, sempre tem aquela cobrança a mais. Elas não vão esperar que esteja em um dia ruim, mas quando a gente tem uma ‘cruz’ é para carregar”, conta sorridente. O que mais a encanta com esse título é pela representação que agora tem. Ela serve como referência para muitas meninas que

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sonham em chegar a esse patamar. Em Lages, além do esporte de alto rendimento, todas as atletas dão aula nas escolinhas de futsal, o que a aproxima das crianças, junto com as centenas de mensagens que recebe pelas redes sociais. “Jamais esperaria, que um dia eu poderia inspirar tantas meninas que querem chegar ao esporte. Às vezes eu nem acredito que eu posso ser inspiração para as pessoas, mas quando leio ou vejo algo é emocionante. As pessoas, hoje, se sentem muito distantes dos seus ídolos, então procuro sempre dar atenção, mostrando a realidade do futsal feminino e da minha vida”. Amandinha ajudou a UNIPLAC a ficar com o título da disputa. A medalha de ouro era uma das poucas conquistas que faltava a ela. Não falta mais...

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ADRIELSON E INGRIDH DE MARINGÁ, A CIDADE SEM PRAIA QUE VIROU REFERÊNCIA NO VÔLEI Anfitriã, Maringá é quem representou o estado no vôlei de praia

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aringá, sede da 66ª edição dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), é um dos grandes celeiros do vôlei de praia nacional, na formação de atletas e na qualidade dos profissionais envolvidos. O esporte antes muito focado nas regiões litorâneas tem na cidade um ponto fora da curva, pois não tem praia, o que torna o trabalho mais valorizado. Nos JUBs 2018, os atletas do Paraná no torneio de vôlei de praia foram da cidade-sede, representando a Unifamma. Adrielson/Rafael formaram a dupla masculina e Ingridh/Amanda no time feminino. Os quatro atletas, também, representam a Associação

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Maringaense de Vôlei de Praia (AMVP) que tem parceria com a instituição de ensino superior, que desde 2001 fomenta o esporte local. Adrielson Silva, 21 anos, que cursa Arquitetura e Urbanismo, cita que essa relação entre educação e esporte é fundamental. “A faculdade sempre foi o sonho dos meus pais e nunca tivemos condições financeiras. Foi graças ao esporte, que hoje eu faço uma faculdade. Ser um orgulho para sua família, para mim é o mais importante”. O esportista é uma das grandes esperanças do esporte brasileiro. Em 2017, foi campeão mundial sub-21 e escolhido como Atleta Revelação do Circuito Brasileiro Open. Além de ser o anfitrião, o alunoatleta foi colocado como um dos favoritos do torneio (ficou com a

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medalha de prata), algo que trata com normalidade. “Estou muito feliz em receber todos esses atletas aqui em minha cidade, e muitos deles são meus amigos. Uma competição importante em casa, me deixa mais motivado e inspirado”, conta Adrielson, que cita a confiança como ponto de evolução desde a conquista mundial. Bicampeã paranaense 2017/2018, quinta colocada no Sul-Americano adulto e campeã dos Jogos da Juventude, Ingridh Louise, 19 anos, é outro destaque do trabalho desenvolvido na cidade. A atleta debutou nos JUBs e citou a expectativa para o campeonato. “É muito importante para mim ter um bom resultado nessa competição. Sempre representei o estado em

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competições escolares e representar minha faculdade é de uma responsabilidade ainda maior”. O fato de aliar o esporte e a universidade, também, é destacada por ela, que vê a possibilidade como se plantasse “duas sementes” para seguir a carreira como atleta e advogada, pois cursa Direito na instituição de ensino. “Minha vida é ser atleta e estudante. Eu amo o que eu faço. É realmente complicado conciliar os estudos, com as viagens, treinos, mas quem faz o que ama, sempre dá um jeito e sobra tempo pra se dedicar para os dois”. As areias de Maringá não estão em uma praia, mas na Vila Olímpica produzindo talentos para o esporte nacional. É a prova que trabalho bem feito rende medalhas.

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IOLENE RODRIGUES MÃE, UNIVERSITÁRIA E ATLETA DE ALTO RENDIMENTO Esportista do Amapá levou a filha Alice para a disputa dos JUBs 2018

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e manhã, o foco são os estudos. Na parte da tarde, é hora do trabalho. Pela noite, chega a vez de treinar handebol. E todo dia, também, é dia de Alice, a filha dela. Essa é a rotina de Iolene Rodrigues, 28 anos, atleta de handebol, que representa o Amapá pela UNIFAP, onde cursa Educação Física. Ela foi uma das alunas-atletas que participam da 66ª edição dos JUBs, realizados em Maringá (PR). O esporte sempre esteve presente na vida de Iolene. A partir dos oito anos, ela iniciou as atividades, onde passou por atletismo, futsal e handebol. Em certos momentos, praticava de forma simultânea, até

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que aos 16 anos decidiu focar-se apenas no handebol, mesmo que tivesse um bom rendimento nas outras práticas. Os anos passaram e a amapaense teve uma filha, a pequena Alice, de cinco anos. A maternidade serviu como um impulso na carreira da atleta, que nunca pensou em se retirar do esporte, mas sempre em agregar tudo que pudesse ser feito. “Eu não me vejo sem ela participando de qualquer coisa que eu possa fazer. Toda competição que é apropriada para ela estar, ela sempre está comigo. Não abro mão desse companheirismo. É praticamente de onde eu tiro forças para manter o nível. Ela é muito incentivadora”, conta Iolene.

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Foi a primeira vez que a handebolista participou de uma edição dos Jogos Universitários Brasileiros, onde terminou na 10ª colocação. Ela entrou na UNIFAP em 2015, onde passou a fazer parte de um trabalho de longo prazo. “A estrutura do evento atende bem as expectativas (das delegações). O melhor, para mim, foi a própria organização me dar apoio para trazêla”, cita Iolene, sobre a mediação feita pela CBDU para que Alice viesse junto. A jornada tripla que faz parte do cotidiano é resumida em uma palavra, segundo ela: planejamento. O que a faz manter o desempenho em nível alto. “O ritmo é bem intenso! Porque a gente tem que se adaptar, se planejar, que é primordial. Ela (Alice)

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está presente em toda competição que participo. Está bem familiarizada com essa rotina de treino, jogo, trabalho e estudo. Ela é bem parceira”. Alice nas provas costuma se destacar na torcida com os gritos de “vai mamãe” para apoiá-la. Todas essas viagens que acompanha a mãe fizeram com que se acostumasse com o dia-adia. “Eu acho divertido. A gente fica sempre junto. A mamãe nunca me deixa. Onde ela vai, eu também vou e onde eu vou, ela também vai”, fala Alice, deixando a mãe emocionada. O esporte na vida de Iolene foi um instrumento para mudar de vida, segundo ela, algo que ela vê como de suma importância na relação educação e esporte e, claro, para o futuro da pequena Alice.

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BEATRIZ E DÉBORA AS GÊMEAS DA NATAÇÃO PARADESPORTIVA Na estreia em JUBs, as duas representaram a sede da edição 2018

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rmãs gêmeas e que contam com a mesma paixão: a natação. Essas são Débora e Beatriz Carneiro, 20 anos, que nasceram com uma deficiência que de início não conseguia ser identificada, até que foram diagnosticadas com Deficiência Intelectual. Na natação paradesportiva, elas e os pais encontraram um modo para o desenvolvimento, que culminou em uma carreira com muitas medalhas e a primeira participação nos Jogos Universitários Brasileiros. Na 66ª edição dos JUBs, as duas representaram a anfitriã Maringá, como estudantes da Unicesumar, onde cursam Gastronomia desde o início desse ano. Elas competem pela categoria S14 nos 100 metros nado peito. A dupla faz parte do projeto Bolsa Pódio, do Ministério do Esporte, onde foram contempladas

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pelo desempenho que obtêm na modalidade. Em 2013, as duas passaram a fazer parte da União Metropolitana Paradesportiva de Maringá (UMPM) e atualmente, também, compõem a Associação de Pais e Atletas da Natação (APAN). Desde 2014, fazem parte do Circuito Nacional da modalidade. A ascensão foi rápida, tanto que em 2016 as duas participariam das Paralimpíadas, mas Débora teve apendicite e, de longe, torceu pela irmã, com a parceria sendo renovada. “Tudo onde eu vou, ela me apoia. Eu a apoio, também. Ela torce por mim, eu torço por ela, mesmo na água, sendo rival, estou lá torcendo e brigando por medalha”, conta Débora. A recíproca é verdadeira: “É a mesma coisa (que Débora falou). Onde eu vou, ela está junto. Estamos sempre torcendo pela outra. A gente

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fala assim: hoje você não vai ganhar, hoje eu vou. Tem uma briguinha, mas a gente vive torcendo uma pela outra”, brinca Beatriz sobre a relação entre as duas. Ela que ficou na quinta colocação geral nos 100 metros peito e em décimo lugar nos 200 metros livre na Rio 2016. Os últimos meses das irmãs são repletos de conquistas. Em 2017, ficaram com a medalha de ouro no Mundial de Natação para Deficientes Intelectuais, em Águas Calientes, México, no revezamento 4x100 nado peito S14 e Beatriz foi medalha de prata no Mundial do IPC 2017 realizado na Cidade do México. Nesse ano, juntas conquistaram 11 medalhas no Open Internacional de Natação, em São Paulo. Por todo esse currículo, foram colocadas como favoritas no debute – cada uma terminou com duas medalhas de ouro e duas de prata. “Minha expectativa é

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que a gente possa sair com medalha e quem sabe bater um recorde nas provas que competiremos”, conta Beatriz sobre o que esperava dos JUBs e cumpriu. Ideia compartilhada pela irmã. “Espero que seja maravilhoso. Espero ajudar a cidade e o estado no evento”. Onde você vê as duas irmãs, os pais estão juntos. A mãe das atletas, Mônica Carneiro conta que o esporte abriu muitas portas para as filhas, como se “fosse uma faculdade”. “A natação é muito importante para elas. Fez com que elas se desenvolvessem muito. Nós (ela e o marido Eraldo Carneiro) ficamos muito felizes de estar vendo a evolução delas”. Na água, em casa ou em qualquer lugar, a união das duas é visível, tanto que um exemplo é o ranking mundial da categoria. Beatriz é a sexta colocada e Débora vem logo em seguida...

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PAULO ANDRÉ CAMILO A BUSCA DOS NOVE SEGUNDOS EM CEM METROS Inspirado no pai, ele é um dos grandes nomes do desporto brasileiro atual

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m setembro desse ano, Paulo André Camilo, 20 anos, correu os 100 metros rasos em 10s02, o segundo melhor tempo na história da prova no Brasil, abaixo apenas de Robson Caetano, que cravou dez segundos em 1988. Desde então, o atletismo nacional vive a expectativa de pela primeira vez ter um corredor que chegue na marca de nove segundos. Paulo é um dos aluno-atletas que participaram da 66ª edição dos Jogos Universitários Brasileiros, onde teve a chance de baixar o tempo. Ele representou o Espírito Santo pela UNIP-Vila Velha na estreia dele nos JUBs. Sem dificuldades para chegar a final dos 100 metros rasos da disputa, ele correu para o gasto nas preliminares com o tempo de 10s40 e 10s47. Na decisão, a mais aguardada desta quarta-feira, dia 7, os olhos de quem estava na arquibancada do estádio Willie Davids eram voltados ao capixaba. Quando se posicionaram

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para a largada, boa parte dos presentes na área coberta se levantaram e prepararam os celulares para registrar um momento histórico, pois mesmo que o recorde nacional não saísse, a expectativa era alta para que batesse a melhor marca da história da prova nos JUBs. “O carinho da torcida é muito gratificante. Fico bem feliz de estar conquistando o pessoal que está me acompanhando. Estamos na busca do recorde”. Ao tiro, os corredores partiram. Paulo André não deu chances para ninguém, com uma vantagem de 53 décimos de segundo para o vicecampeão, se tornou medalhista de ouro dos 100 metros rasos e pulverizou o recorde da prova, com a marca de 10s07, sendo que a anterior era 10s35 – ele também foi campeão da prova dos 200 metros rasos. “É legal. Eu falo que estou aqui para bater recordes. Meu pai sempre falava que por onde eu passar tenho que ser campeão, mas sempre com pé no chão”, cita o atleta, dizendo que se surpreendeu com a marca

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devido a preparação recente de volta das férias e elogiou o nível da disputa dos Jogos. Quanto ao desafio de entrar na casa dos nove segundos, ele enfrenta com naturalidade e tranquilidade, citando que nesse ano sentiu que era possível quebrar a marca, que era vista como assustadora por muitos corredores brasileiros. Ele ressalta, também, que além dele, outros quatro desportistas estão abaixo de 10s15, o que aumenta a competitividade. Mesmo novo, sendo que apenas há cinco anos treina em alto rendimento, ele apresenta uma certeza que chegará lá, mas com paciência, sem pressa. “Não é um sonho distante ou impossível como se dizia nos anos anteriores. Eu estou bem tranquilo, por mais que tenha uma pressão grande. Minha família e equipe me blindam, para que eu não fique assustado com a situação. Isso é motivador. Toda vez que alguém pergunta, eu falo para mim mesmo que vou continuar treinando

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para fazer”. A expectativa de Paulo e equipe é que a marca chegue em 2019, pois segundo ele, será uma temporada de grandes competições. Uma das grandes inspirações do jovem que defende o Pinheiros (SP) é seu pai, Carlos Camilo, ex-corredor, que atua como técnico dele. Ao fim da prova que o deu a medalha, ele foi até o portão que divide a pista e arquibancada para cumprimentálo. Carlos, em 1984, teve a chance de disputar os Jogos Olímpicos de Los Angeles, mas uma lesão o tirou da disputa. Essa passagem é uma das coisas que dão força a Paulo. “Com meu pai, eu fico 24 horas. Ele também foi atleta, mas não teve a glória olímpica. Então, eu vejo que ele se realiza comigo e tento fazer o máximo por ele, também, para chegar às Olimpíadas”. Em Tóquio 2020, Paulo André Camilo terá, ainda, apenas 22 anos. Terá uma temporada e meia para realizar todas as marcas que pretende conquistar e vem demonstrando ser possível.

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ISABELLA ANSOLIN A PARANAENSE QUE CONQUISTOU O MUNDO Atleta foi escolhida, em 2015, como a melhor do esporte universitรกrio no planeta

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u estava na casa dos meus pais, em Toledo, quando recebi o convite”. Foi assim que Isabella Ansolin, 26 anos, atleta do handebol, que representa o Paraná, pela Unicesumar, soube que seria a responsável por acender a pira olímpica da 66ª edição dos Jogos Universitários Brasileiros, realizado no estado em que nasceu. Segundo ela, foi um momento único, pois entre tantas atletas, ela foi a escolhida, ainda mais pela surpresa que teve no dia do evento. “Eu não sabia que ia receber a tocha do Gustavo Borges, pois fiquei sabendo na hora”. Nascida em Toledo, Isabella iniciou no handebol com nove anos, tendo o pai como técnico.

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Em 2009, ela foi para Cianorte, norte do estado, e no ano seguinte foi para Santa Catarina, onde ficou sete anos em Concórdia, onde se formou, chegou a seleção brasileira adulta e foi campeã da Liga Nacional. Experiente em JUBs, ela teve um feito inusitado, pois antes mesmo de disputar o evento, já fazia parte da seleção brasileira universitária. “Meu primeiro JUBs foi em 2015. Eu fui convocada para a seleção universitária (em 2014) quando nem tinha disputado os Jogos”. No primeiro ano de seleção, ajudou o Brasil a conquistar o Mundial Universitário e no ano seguinte veio a coroação como Melhor do Mundo do handebol universitário. “Isso trouxe vários benefícios para mim. As pessoas passaram a me perguntar como era conciliar a

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vida de estudos e treinos. Foi uma experiência muito gratificante”, conta Isabella sobre a participação no Mundial e o título individual. A atleta é formada em Fisioterapia e 2018 é o primeiro ano dela em Maringá e no time feminino que disputa a Liga Nacional. No ano passado, ela resolveu dar um tempo no esporte, foi morar fora do país, mas voltou, querendo retomar a vida desportiva e acadêmica. Entrou esse ano para o curso de pós-graduação em Estética Facial e Corporal. Optou por Maringá para ficar perto dos pais. “Como conhecia a estrutura do handebol maringaense, resolvi escolher a cidade”. Para Isabella, a relação esporte e educação é de grande

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importância e que sempre conseguiu conciliar bem os estudos com os treinos e jogos. Esse resultado é visível nas edições de JUBs, o que faz o evento ter um nível alto. “Tem muitas jogadoras de Liga Nacional nas duas categorias do handebol e em todos os outros esportes. Por exemplo, a melhor jogadora de futsal do mundo está aqui! Não é apenas ‘universitário que joga por jogar’, é alto rendimento mesmo”. Para completar, ela cita que o evento realizado pela CBDU é praticamente uma “olimpíada universitária”, onde muitos podem achar uma bobeira, mas o que se vê e o que se sente dentro das praças esportivas é totalmente diferente.

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FABIANO PEÇANHA UMA VIDA DEDICADA AO ESPORTE UNIVERSITÁRIO

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edalha de ouro na Universíade 2005, participante das Olimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012, bronze no Pan de Santo Domingo 2003 e Rio de Janeiro 2007, dez ouros em Jogos Universitários Brasileiros e, agora, treinador da equipe feminina de atletismo da Federação Universitária Gaúcha de Esportes (FUGE) na 66ª edição do evento. Esse é Fabiano Peçanha, 36 anos, nascido em Cruz Alta (RS), com longa carreira em provas de 800 e 1500 metros rasos. Depois de encerrar a carreira, o ex-corredor não ficou longe da pista de atletismo. Em 2016, ele criou um projeto social em Santa Cruz do Sul em parceria com a UNISC para treinar jovens. Em Maringá, ele estreia como treinador do time

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gaúcho. “Eu adorava ser atleta. O sentimento de estar na pista competindo e ser responsável pela conquista é indescritível, mas agora levo minha experiência para os atletas que comando. Eu vivi tudo isso. A gente aprende e consegue ter a tranquilidade de passar isso para eles, que podem se assustar com alguma situação”, cita Fabiano. O gaúcho tem uma vasta experiência no desporto universitário, onde conquistou o título mais importante, a melhor marca na carreira e mais de uma dezena de medalhas em edições de JUBs. “Eu não me desliguei dos eventos universitários. Além das minhas medalhas como atleta, eu trago as medalhas que a equipe feminina vem conquistando nessa edição”, frisa o treinador. Eventos desse porte são tratados por Peçanha como de “total

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importância”. Segundo ele, sempre fala aos atletas que o atletismo é um meio e não o fim, sendo um meio que pode facilitar os estudos, para ter uma profissão e uma cultura melhor. Com o esporte, ele viajou para 46 países e agradece ao atletismo por isso. Devido a essa importância, Fabiano cita que os JUBs não podem terminar e que tem que crescer cada vez mais. “Eu acredito que muitos dos atletas de alto rendimento passaram e têm títulos pelos Jogos”. Para exemplificar o alto nível, o treinador fala de Paulo André Camilo, que está próximo de ser o primeiro atleta brasileiro a chegar na casa dos nove segundos. “São resultados superfortes. A marca dele nos JUBs é índice para Mundial e Olimpíadas. Isso mostra como o nível técnico é alto”. O sonho olímpico foi vivido

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por Fabiano, que cita o evento como algo inexplicável, onde se precisa vivenciar o momento e contemplar. Uma das atletas treinadas é Jaqueline Weber, 23 anos, que é acompanhada por ele desde o início da carreira como treinador. Ela segue os passos do tutor, pois também compete nos 1500 e 800 metros rasos, onde conquistou o ouro e prata, respectivamente, nos JUBs 2018. “Sem dúvida alguma, ele é uma grande inspiração e exemplo em todos os quesitos. Além de atleta e treinador, ele também nos representa na luta por todos os esportes. É um fomentador”. Fabiano começa a trilhar um caminho de sucesso na carreira como treinador, como teve quando atleta. É o início, mas sempre valorizando o desporto universitário, pois é de alto rendimento.

L Divulgação/Getty Images


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ARYELLE CARUZZO PESQUISAR O ESPORTE UNIVERSITÁRIO, TAMBÉM, GARANTE MEDALHA DE OURO Mestranda em Educação Física, a aluna-atleta venceu os JUBs Acadêmico 2018

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ãe, vou para o JUBs”, disse a filha. A mãe respondeu: “Mas nem sabia que você tinha conseguido índice”. A filha replicou: “Não, mãe. Não é para a natação, é para o JUBs Acadêmico”. Aryelle Malheiros Caruzzo, 24 anos, participou da 66ª edição dos Jogos Universitários Brasileiros trazendo a teoria, com base na prática. Pelo terceiro ano seguido, o evento contou com a modalidade Acadêmico, onde se classificam ‘os melhores artigos científicos selecionados pelas FUEs durante o período de competição das modalidades individuais dos JUBs’, conforme cita o regulamento da competição. Aryelle terminou com o ouro no peito na categoria individual,

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com a nota 8,25, e por instituições de ensino. Formada em Educação Física e mestranda na mesma área na UEM, ela decidiu lutar para representar o Paraná, após ir na edição passada como estudante para fazer a pesquisa empírica do tema do artigo apresentado e ver que o estado não tinha nenhum trabalho inscrito. “Não vou falar que tinha a autoconfiança de dizer que ia ganhar, mas disse que ‘ano que vem eu quero participar’”, algo que cumpriu. A educadora física apresentou o artigo “Análise da relação entre o relacionamento treinadoratleta e experiências esportivas”, que é paralela a dissertação de mestrado dela. No texto, ela trabalha o entendimento de quanto a percepção desse relacionamento pode influenciar

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na vida universitária. Os resultados, segundo ela, foram positivos, nos dois lados, pois quanto melhor é esse relacionamento, melhor são as experiências esportivas. Os atletas e treinadores analisados na pesquisa são os que participaram dos JUBs 2017, em Goiânia. “Quanto mais eu me sinto próxima do meu treinador, menos eu vou apresentar comportamentos de risco. Isso influencia tanto no contexto esportivo-universitário, quanto no contexto universitário como um todo, pois antes de ele ser um atleta universitário, ele é um universitário”, complementa a mestranda, que cita que o equilíbrio entre as duas áreas é o ponto chave para manter o rendimento em nível adequado. Segundo a análise, os alunos-

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atletas podem demonstrar comportamentos diferentes dentro e fora (nos treinamentos) da sala de aula. “É muito interessante mostrar para essa galera, que a área de pesquisa pode ser muito vívida entre eles”. Ela espera que a modalidade continue crescendo e que mostre aos atletas o quão ampla é a relação entre universidade e esporte de alto rendimento. Na classificação por instituições de ensino superior, ela contribuiu para que a UEM e o Paraná, também, garantissem o ouro. A nota dela e de Rhuan Rossi, que terminou em sexto no individual, fez com que ficassem com o primeiro lugar, marcando 15,61 de nota. O JUBs Acadêmico é o espaço para relacionar a teoria e a prática, a prática e a teoria.

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