tribuna

Page 1

Bacia do Piracicaba, Dezembro de 2018 / Edição 246 – Ano XXV / Distribuição Dirigida Gratuita / Nas bancas: R$ 2,00

RENASCIMENTO OU RECOMEÇO O ciclo da vida na natureza é constante, dinâmico e maravilhoso. Por mais que o ser humano, com suas ações desequilibradas, teima em destruir, vem uma química mágica e faz com que tudo reinicie.

FIM NOBRE Governo e empresas começam a voltar as atenções para a reutilização do rejeito da mineração. Página 6

Aves do Piracicaba Nesta edição vamos falar de um dos pássaros mais populares do Brasil, o famoso tico-tico. Página 5


Dezembro de 2018

2

Nosso Olhar Social

Projeto da Cenibra apoia comunidades tradicionais contribuir com a conclusão da construção do Galpão onde serão produzidos os temperos e quitandas para comercialização na feira e eventos de Peçanha e região. Comunidades tradicionais

Instituto Cenibra assinou contrato de parceria com a Associação dos Quilombos Unidos do Barro Preto e Indaiá, em Antônio Dias

Antônio Dias – No dia 10 de dezembro o Instituto Cenibra assinou contrato de parceria com a Associação dos Quilombos Unidos do Barro Preto e Indaiá, em Antônio Dias, para aquisição de equipamentos e construção de espaço para produção da farinha de

mandioca. A iniciativa integra o escopo de ações do Instituto no sentido de valorizar a identidade cultural das comunidades em que atua e promover um desenvolvimento integrado. Em Peçanha, o Instituto Cenibra firmou, desde 2014, uma parceria com

a Associação Comunitária Cotas de Peçanha para o desenvolvimento de um projeto social que visa capacitar e qualificar profissionalmente membros da comunidade tradicional. Outra parceria foi firmada com a Associação Comunitária Jorges para

Pela Constituição de 1988 e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, as comunidades tradicionais têm assegurado o direito a auto identificação e a território, assim como a serem consultadas sobre projetos que as impactem. Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados. Eles possuem formas próprias de organização social e usam territórios e recursos naturais como condição para a produção cultural, social, religiosa e econômica. Utilizam ainda conhecimentos, inova-

Representantes das comunidades comemoram a parceria

ções e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Levantamento da Fundação Cultural Palmares no Brasil mapeou 3.524 dessas comunidades, mas este número cresce para mais de cinco

PL que estimula economia de água tramita na Assembleia Selo Azul, que poderá ser concedido aos municípios, também vai reconhecer eficiência do sistema de abastecimento

Todos devem ficar atentos à economia de água

Geral - Após receber parecer de 2º turno favorável à sua aprovação na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),

o Projeto de Lei (PL) 305/15, que estimula a redução do consumo de água no Estado, já pode retornar ao Plenário, para análise definitiva. De autoria do deputado Arlen Santiago (PTB), a

proposição prevê a concessão do Selo Azul aos municípios que atenderem à redução de consumo e das perdas nos sistemas de abastecimento de água. O selo reconhecerá a eficiência do sistema de abastecimento e o uso racional da água. Os critérios para a concessão dessa distinção, bem como a sua periodicidade e os casos de sua revogação, serão estabelecidos em regulamento. O projeto também estabelece que o Estado manterá rede integrada de informações sobre o sistema de abastecimento de água nos municípios e promoverá ampla divulgação do Selo Azul nos meios de comunicação.

Conheça o Projeto de Lei nº 689/2011 Dispõe sobre a criação do selo azul de controle e redução do consumo de água potável para os municípios do Estado de Minas Gerais. A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decreta: Art. 1º - Todos os municípios do Estado de Minas Gerais cujo abastecimento de água é feito pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais - Copasa-MG - ou pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto - Saaes - locais deverão integrar seus sistemas de controle de consumo de água por residência ao do sistema estadual para o controle do governo. Art. 2º - O controle deve ser feito mediante a criação de banco de dados estadual que armazenará as informações para mapear o controle de consumo de água potável dos municípios. Art. 3° - Os municípios que reduzirem o consumo de água potável receberão como benefício: I - o selo azul de qualidade e eficiência pelo controle e pela redução do consumo de água potável; II - ampla divulgação do resultado pelos meios de comunicação de abrangência estadual, sendo reconhecido como município amigo da natureza e da preservação da vida; Art. 4° - A campanha de divulgação e redução ficará por conta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente em parceria com as Secretarias de Educação e os Conselhos Municipais do Meio Ambiente.

mil, se consideradas as comunidades que ainda não se autodeclararam ou que estão em processo de reconhecimento.

Expediente:

• Diretor Responsável: Geraldo Magela Gonçalves • Comercial: dindao@bomdiaonline.com (31) 9 9965-4503 • Diagramação/Arte: Sérgio Henrique Braga • Impressão: Gráfica Bom Dia • Representante Comercial: Super Mídia Brasil - BH Redação e Administração Rua Lucindo Caldeira, nº 159, Sl. 301, Alvorada, CEP.: 35930-028 João Monlevade / MG / Brasil (31) 3851.3024 • A Voz do Rio Online: www.tribunadopiracicaba.com Circulação: Bacia Hidrográfica do rio Piracicaba FUNDADO EM FEVEREIRO DE 1994 Razão Social : Geraldo Magela Gonçalves MEI CNPJ 27.776.573/0001-68 Inscrição Estadual : Isenta Inscrição Municipal 123470CNPJ.: 24538633/0001-16 Todos os Direitos Reservados avozdorio@bomdiaonline.com


Dezembro de 2018

3

Câmaras técnicas do CBH Piracicaba aprovam autorgas e liberam Samarco João Monlevade – Durante reunião realizada na Amepi no dia 10 de dezembro, as Câmaras Técnicas Comitê da Bacia Hidrográfica do Piracicaba – CBH Piracicaba, aprovaram dois requerimentos de autorgas para duas mineradoras – Samarco e Mineração Ferro Puro. Ambas estarão atuando dentro da bacia do Piracicaba e em áreas de amortecimento do Parque Nacional Serra do Gandarela. A Mineração Ferro Puro irá atuar próximo a micro bacia do Rio Preto enquanto a Samarco bombeará água do lençol freático na bacia do Piracicaba. Mineração Ferro Puro A Mineração Ferro Puro, subsidiária da Minerita, pleiteava a aprovação para construção de dreno de fundo para pilha de estéril e rejeito. A obra, na micro bacia do

Rio Preto, que ao encontrar o Rio Santo Antônio forma o Rio conceição, sub bacias do Piracicaba, segundo apresentação da empresa durante a reunião, não estará impactando o curso d´água, já que a operação não prevê lavagem de minério, sendo o processo a seco. Durante a apresentação, o Sócio-Administrador Saulo Savio Machado Guimaraes, disse que a empresa, apesar de ser uma pequena mineradora, é referência em tratamento e aproveitamento de resíduos da mineração. Segundo ele, a Minerita realiza o aproveitamento de resíduos de mineração para a fabricação de blocos pré-moldados. Tal aproveitamento é realizado com tecnologia própria, premiada e reconhecida, que reduz a geração de resíduos promovendo soluções sustentáveis para a fabricação de pré-moldados de concreto, blocos e lajotas para pisos.

Samarco Já a Samarco, em busca do retorno da produção, paralisada desde o desastre de Fundão, apresentou um requerimento para Rebaixamento de nível da água do lençol freático para a mineração. O requerimento apresentado foi para cinco poços com captação / bombeamento durante 24 horas por dia com uma vazão de 2.300m3 por hora. O volume chamou a atenção dos conselheiros presentes já que o número apresentado, somado ao já existente de 1.300 m3 por hora, resultam em 3.600 m3 por hora de vazão, o que corresponde a vazão total do rio Piracicaba no período de estiagem. Segundo os técnicos representantes da empresa, conforme seus estudos hidrológicos, o bombeamento do lençol não iria impactar consideravelmente a vazão do Piracicaba, sendo que conforme os cálculos esse impacto

Representantes de empresas e Câmaras Técnicas do CBH Piracicaba durante reunião em que aprovaram requerimentos de autorgas

poderia chegar no máximo a 27m3 por hora em situação mais extrema, sendo que, a aprovação foi condicionada à reposição dessa diferença. Durante a apresentação, o editor do Tribuna do Piracicaba – A Voz do Rio, Geraldo Dindão Gonçalves, questionou sobre o destino dessa água, já que a Samarco utiliza considerável volume em seu mineroduto, ao que foi infor-

mado que parte seria sim utilizada para esse fim. Diante a informação sobre o destino da água, os conselheiros José Ângelo Paganini e Jorge Martins Borges questionaram sobre a situação que se apresenta como transposição de bacias, o que acarretaria cobrança diferente. O fato do volume a ser bombeado e utilizado nos processos foi duramente questionado e criticado

pelos membros representantes da sociedade civil, principalmente da Cáritas e da Diocese de Itabira / Coronel Fabriciano, que votaram contra a autorga. Ao final, ambos os requerimentos, da Mineração Ferro Puro e Samarco foram aprovados, ficando ressalvada a questão da transposição de bacia pela Samarco, que deverá ser esclarecida e informada à Câmara de Cobrança.

Prefeitura de São Gonçalo promove cursos sobre Fossa Biodigestora e Ecológica A Prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente em parceria com o Senar-MG, promoveu entre os meses de novembro e dezembro, cursos sobre Fossa Séptica Biodigestora e Ecológica. O curso de Fossa Séptica Biodigestora ocorreu entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro e foi realizado na propriedade de José Martins Moreira, na comunidade rural de Rio Claro. Já o de Fossa Ecológica foi realizado na sede do Parque Ecológico, no período de 3 a 7 de dezembro. De acordo com o secretario municipal de Meio Ambiente, Mário Alves de Andrade Neto, os dois treinamentos visam demonstrar de forma alternativa, barata e funcional o tratamento do esgoto doméstico. Participaram da capacitação servidores das secretarias municipais de Meio Ambiente, Serviços Urbanos e do Departamento de Água e Esgoto (Dae).

Assembleia aprova requerimento popular para maior comunicação dos CBH´s Belo Horizonte - Um requerimento de iniciativa popular, objetivando mais comunicação para maior transparência das ações dos Comitês das Bacias Hidrográficas do estado, foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesse mês de dezembro. O RQN 11721/2018 requer que seja encaminhado à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas e ao Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas pedido de providências para que, no âmbito da Ação 4386 - Apoio aos Comitês de Bacias Hidrográficas - os comitês de bacia hidrográfica do Estado fomentem ações de comunicação social para incentivar o constante diálogo com as comunidades, de forma a motivar e possibilitar sua participação na governança das bacias hidrográficas e de seus recursos ambientais, além de contribuir para a sua capacitação com vistas a uma atuação efetiva na melhoria da qualidade ambiental e de vida na região. Apesar do importante e imprescindível papel dos CBH´s, a maioria da população não tem acesso às informações sobre suas atuações e muito menos às ações desenvolvidas por estas instituições. No caso do CBH Piracicaba, que é gerido de forma integrada ao CBH Doce, os conselheiros já reconheceram que o modelo atual não vem sendo eficiente e já debatem a possibilidade de buscar novo modelo de gestçao.


Dezembro de 2018

4

Câmara promove entrega do Mérito Escolar

Rio Piracicaba - Durante reunião solene a Câmara Municipal de Rio Piracicaba promoveu a entrega das Medalhas de Mérito Escolar 2018 aos alunos destaques em suas respectivas escolas conforme segue: APAE: Nízio Geraldo da Silva. Cesec Martinha de Oliveira Araújo: Ana Juventina do Carmo e Adriana Aparecida André. Escola Estadual Professor Antônio Fernandes Pinto: João Carlos Cardoso Monteiro de Freitas, 7º ano do Ensino Fundamental e Herikeli Juliana Mendes Gonçalves, 3º ano do Ensino Médio. Escola Estadual Antonino Ferreira Mendes: Nicolas Gabriel Alves Felipe, 3º ano do Ensino Fundamental e Gabriel Otávio Patrício de Aquino, 7º ano do Ensino Fundamental. Escola Municipal Murillo Garcia Moreira: Iasmin Gomes Bueno Mota, 9º ano do Ensino Fundamental e Laíse Paula Bueno, 5º ano do Ensino Fundamental. Escola Municipal Córrego São Miguel: Daniele Corcini Quaresma, 9º ano do Ensino Fundamental e Mateus de Oliveira Miguel, 5º ano do Ensino Fundamental. Escola Estadual Conselheiro José Joaquim da Rocha: Anna Laura Tomaz Braga, 4º ano do Ensino Fundamental Antonela. Escola Municipal Bernardo Ferreira Guimarães: Caroline Barony Bueno, 5º ano do Ensino Fundamental e Giovana Gonçalves Dias, 9º ano do Ensino Fundamental. Escola Estadual Marinho Silva: João Lucas Lage de Freitas, 5º ano do Ensino Fundamental e Ana Júlia Bastos Madeira, 6º ano do Ensino Fundamental. Escola Municipal Sebastião Araújo: Samira Lima Cota, 2º ano do Ensino Fundamental . Escola Municipal Deputado João Nogueira de Rezende: Gustavo Henrique Pena, 1º ano do Ensino Fundamental.


Dezembro de 2018

5

Aves do Piracicaba – Tico-tico, o popular Hoje vamos falar de um dos pássaros mais populares do Brasil, o tico-tico (Zonotrichia capensis). Sua popularidade vem de sua fácil presença e de seu canto melodioso. Ele é encontrado tanto em paisagens naturais quanto urbanas de praticamente todo Brasil (com exceção das imensas áreas de mata fechada da Amazônia). O Tico-tico possui também

canto noturno e canto de susto: ao cair a noite emite um canto diferente, forte, caracterizado por prolongamento e acentuação das últimas notas, como: “hü, djü, djü ziü-ziü-ziü”. O canto noturno causa impressão tão diferente do canto diurno que o leigo no assunto pode tomá-lo por vocalização de outra espécie de pássaro. O canto noturno pode ocorrer de dia em

situação de extremo susto, sendo produzido uma vez só, com todo o vigor. Pode ocorrer também quando a ave é atingida por iluminação artificial (foco de lanterna, iluminação de lâmpadas, etc). Nosso povo acredita e brinca que, quando o tico-tico canta na manhã, ele estaria dizendo: “Bom dia, seu Chico”. Certa vez registrei na serra fluminense um individuo leucístico de tico-tico. O leucismo é uma mutação genética que confere cor branca a animais geralmente escuros. Na bacia do Piracicaba sua presença era até algum tempo abundante e marcante, mas nos dias atuais, em algumas cidades da bacia ele tem sido pouco encontrado. Apesar de ser uma ave extremamente comum,

tem se notado que em certos lugares o tico-tico tem ficado mais raro, às vezes até sumindo de certas áreas. A explicação mais provável para essas extin-

ções locais seria por causa do parasitismo do godelo, aquele passarinho que coloca o ovo no ninho dos outros. O tico-tico é um dos seus alvos favoritos,

seu ninho é facilmente encontrado pelo parasita. Contaremos mais detalhes sobre o godelo (também conhecido como vira-bosta) futuramente.


Dezembro de 2018

6

Reaproveitamento de rejeitos da mineração recebe estímulo do governo Belo Horizonte - Durante seminário no início do mês de dezembro, poder público e especialistas do setor produtivo, academia e da indústria debateram sobre práticas exitosas já em andamento para reaproveitamento do rejeito de mineração na construção civil, engenharia e arquitetura Mudar o conceito atual que trata o rejeito da mineração como algo sem valor e tratá-lo como um produto com status econômico, cobiçado por outros setores da economia, a exemplo da engenharia, arquitetura e construção civil. Essa é a proposta do seminário promovido pelo Governo de Minas Gerais, em Belo Horizonte, com profissionais do setor mineral, da indústria e do meio ambiente. O seminário Reaproveitamento de Rejeitos de Mineração e Economia Circular é uma realização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) e da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). A capital mineira foi o palco das discussões sobre como se dará, no futuro, o diálogo entre a produção mineral e os outros setores produtivos. A proposta de compartilhar experiências relacionadas ao tema surgiu após visita de comitiva da Semad e da Feam à China, país asiático com práticas exitosas de reaproveitamento de rejeitos de mineração. Na abertura do evento, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, afirmou que a idéia é cada vez mais fomentar o conceito de mineração sustentável, inovando para que o setor possa ter alternativas e estreitando as relações com o setor

Janice Drumond

Em Minas, tecnologia para fim econômico do rejeito já existe

Evento no auditório do BDMG contou com representantes do poder público, setor produtivo, academia e da indústria.

da construção civil, por exemplo, para que eles possam aproveitar o rejeito em produtos e subprodutos na fabricação de imóveis, pisos e asfaltamento de estradas. Em maio de 2018, a Semad e a Feam proveram o 1º Seminário Internacional de Tecnologia de Gestão de Barragens. O seminário foi fruto de uma missão da Semad e da Feam à Holanda, país famoso pela experiência com a construção de diques para a contenção das águas do oceano. Na ocasião, poder público, setor produtivo, e especialistas nacionais e internacionais puderam compartilhar técnicas e tecnologias para segurança e gestão de risco de barragens. “Neste segundo seminário estamos focando no reaproveitamento do rejeito de mineração, ou seja, em estratégias para minimizar a construção de barragens”, afirma o secretário Germano Vieira. Ainda na solenidade de abertura, o presidente do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), José Fernando Coura, lembrou que hoje já são aproveitados 85% do rejeito do minério de ferro. “É uma oportunidade de envolver sindi-

catos da construção civil e aproveitar escória, pó de balão, finos de carvão e do minério de ferro e aproveitar 100% dos rejeitos da indústria siderúrgica”, afirma. Já o presidente da Feam, Eduardo Pedercini Reis, destacou que o Seminário coloca em pauta o tema do compartilhamento da mineração e da economia circular. “Como órgão governamental responsável pela gestão dos rejeitos, a Feam compartilha experiências que foram e serão importantes para a sustentabilidade”, observa. Geração de resíduos Os dados do Inventário de Resíduos da Mineração apontam cerca de 289 milhões de toneladas de resíduos gerados, dos quais 94,58% são destinados para as barragens e 2,87% para as pilhas de rejeitos e somente 0,003% ou cerca de 9,9 mil toneladas são reutilizadas. “O desafio é criar políticas que incentivem a reutilização desse universo”, afirma. Renato Brandão lembra que entre as ações que o Governo de Minas Gerais já propôs está a definição de critérios para o aproveitamento de cavas de minas não utilizadas

para a disposição de rejeitos. Outra iniciativa é o estímulo econômico para empresas que realizassem o reaproveitamento dos materiais existentes em barragens e pilhas, já previsto em lei e com implementação prática para o início do ano que vem. “Em 2017, uma delegação mineira visitou o Estado chinês de Beijing e conheceu o trabalho de utilização de rejeitos na construção civil e arquitetura”, afirmou. Desafios O professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Evandro Moraes Gama, apresentou alguns dos resultados do estudo desenvolvido pela instituição para destinação de materiais para o setor da construção civil. Ele destaca os aproveitamentos imediatos com argila e areia na produção de cerâmicas, telhas e na base e para pavimentação de estradas. “O setor da pavimentação é o que possui maior potencial de aproveitamento, seguido da produção de cimento”, afirma. “É inevitável já considerar as barragens como depósito temporário de produtos”, completa.

Poucos sabem que o rejeito de minério pode ser reciclado. Pesquisadores da Escola de Engenharia da UFMG detêm a tecnologia para transformar rejeitos e estéreis de minerações de ferro, bauxita, fosfato e calcário em produtos como cimento – para construção de blocos, vigas, passeios, estradas –, areia – que pode alimentar a indústria de vidros e de chips de computador – e pigmentos, para a produção de tintas, por exemplo. Diversas pesquisas são realizadas, há anos, no Laboratório de Geotecnologias e Geomateriais do Centro de Produção Sustentável da UFMG, em Pedro Leopoldo (MG), em conjunto com empresas brasileiras, universidades federais, instituições internacionais e com apoio da Fapemig e do BDMG. O professor Evandro Moraes da Gama, do Departamento de Engenharia de Minas coordena o Laboratório ao lado do professor Abdias Magalhães Gomes, do Departamento de Engenharia de Materiais de Construção. A unidade conta com planta-piloto de calcinação flash (queima controlada), automatizada, com capacidade de produção de 200 kg/hora. A calcinação flash (CF) é tecnologia de ponta que possibilita calcinar microparticulados, o que é impossível nos fornos convencionais. Essa propriedade da CF possibilita transformar alguns compostos mineralógicos das matérias-primas como rochas estéreis e rejeitos de tratamento em ligantes de alta resistência que geram, por exemplo, eco cimento. Evandro da Gama salienta que é possível aglomerar o rejeito em forma de pelotas – como se faz com o próprio minério –, em pilhas, com 100% de segurança, dispensando a utilização da água e eliminando a estocagem de rejeitos em barragens. “Essas pilhas seriam verdadeiros estoques de matéria-prima para os eco produtos”, diz. O professor defende que pesquisas e produção sejam estimuladas por políticas nacionais de desenvolvimento, incluindo isenção de impostos e ações de valorização dos produtos ecológicos. “Outros países mineradores, como Canadá e China, produzem material de construção em larga escala usando rejeitos da mineração. A França, por exemplo, já extinguiu a atividade mineradora”, destaca Evandro da Gama. “No Brasil, é preciso aproximar a indústria de transformação da indústria da mineração. Parte significativa do passivo ambiental pode ser transformado em matéria-prima para a construção da infraestrutura do país. ”

Economicamente viável Evandro da Gama e Abdias Gomes construíram uma casa de 46 m2 com rejeitos e estéreis de mineração de ferro. “A casa, que está em exposição no Laboratório de Pedro Leopoldo, tem custo 30% menor na comparação com materiais e metodologia de construção convencionais. E é extremamente confortável”, afirma Evandro da Gama. “Tem-se falado na reconstrução de Bento Rodrigues. Por que não lançar mão do próprio rejeito para erguer as casas e pavimentar as vias?”, questiona o professor. Matéria publicada na edição 230 / Junho de 2017

Casa construída pelo laboratório de Geotecnologias e Geomateriais do Centro de Produção Sustentável da UFMG, em Pedro Leopoldo (MG), utilizando materiais reutilizados do rejeito


Dezembro de 2018

7

Imprensa e Meio Ambiente na tragédia do Rio Doce

A comunicação social no processo de reabilitação da vida e do território * Eng.Cláudio B. Guerra A informação e o conhecimento são elementos fundamentais na sociedade globalizada, tecnológica e competitiva de hoje. Dentro da dinâmica social, no longo processo de construção da cidadania ou na mudança do cenário socioambiental de uma determinada região, cada dia mais a informação e o conhecimento desempenham papel primordial. A razão é simples: “ninguém defende aquilo que desconhece”. Um olhar mais detalhado no mapa do Brasil, um dos países mais ricos em recursos naturais do planeta, mostra rios poluídos, favelas, florestas no chão, filas do SUS, escassez e insegurança hídrica no campo e na cidade, violência urbana, corrupção disseminada nos órgãos governamentais, péssima qualidade do ar nas regiões metropolitanas, etc. A estes inúmeros problemas socioeconômicos e ambientais, causados por uma visão imediatista da vida e do mundo por um capitalismo selvagem e anti-civilizatório, devemos ainda acrescentar 105 milhões de brasileiros sem acesso aos serviços de esgotamento sanitário e 35 milhões sem acesso à água potável. Além disso, a recente pesquisa do IBGE mostrou 55 milhões de brasileiros vivendo na pobreza, sendo 15 milhões num nível de pobreza extrema, dentre os quais cerca de 4 milhões de crianças e adolescentes. Este rápido processo de degradação da base de sustentação da vida é acompanhado por uma lentidão e, quase sempre, omissão nas decisões político-administrativas dos governos, nos seus diferentes níveis. Portanto, a velocidade dos mecanismos de reação que alimentariam processos corretivos e preventivos em relação ao meio ambiente, que somos e em que vivemos, é muitas vezes menor que o avanço da degradação, nas suas diferentes formas. Por outro lado, é bom lembrar que a 12ª economia

Consultor Cláudio Guerra durante III Seminário Integrado do Rio Doce

do mundo capitalista conta hoje com uma legislação ambiental moderna, condições tecnológicas e uma razoável consciência coletiva e até política da necessidade de implementação de planos, programas e projetos para mudar radicalmente o cenário descrito acima. O caso da tragédia da SAMARCO A tragédia provocada pelo grupo econômico SAMARCO\Vale\BHP na bacia do Rio Doce é exemplo de um caso emblemático, onde a questão socioambiental guarda estreita relações com o controle econômico e social do grande capital, que usa a mídia para irradiar suas ações e versão dos fatos. Porém, para se entender melhor a postura do cidadão diretamente, indiretamente ou afetado pela tragédia, precisamos ter uma visão de conjunto das relações entre a sociedade civil, o setor privado e o poder público. Sabemos que a sociedade civil é o segmento mais desinformado e desorganizado no trato da questão socioambiental. Ela não tem o privilégio da informação sobre questões ambientais, não lhe dando, portanto, o devido valor e importância. Infelizmente, em geral, sua expectativa é de que o “governo vai resolver ou tem a obrigação de fazer”. Assim, neste caso, quem tem poder político e econômico, como o Estado e as grandes empresas mineradoras, assumem o “controle econômico e social” da situação. Cabe

ressaltar aqui que os governos municipais cumpriram papel fundamental no início da tragédia, dando todo tipo de apoio aos atingidos naquela situação de emergência. Porém, até hoje, 3 anos depois, não foram ainda ressarcidos pela SAMARCO ou RENOVA dos recursos despendidos. Aqui fica claro o importante papel da comunicação social: a maior fonte de informação e de influência da sociedade civil na questão ambiental tem sido a imprensa escrita, a internet e as redes sociais e, por último, a televisão. Sabedores dessa influência, a Fundação RENOVA, chamada de “braço terceirizado das 3 mineradoras” pelo Procurador da República em Minas Gerais, tem feito pesados investimentos em marketing ambiental, nos diferentes veículos de comunicação. Portanto, o marketing se tornou um eficiente instrumento de convencimento e de melhoria da imagem e das relações da RENOVA com as comunidades, embora ela continue sendo chamada de “biombo da SAMARCO” por parte da população. RENOVA A Renova, que recentemente foi chamada de “nossa empresa” pelo novo presidente da SAMARCO, tem sido acusada de ter pouco foco no processo de reabilitação, concentrando seus esforços maiores na defesa intransigente do interesse imediato de uma grande corporação econômica, ignorando a situ-

ação instável e de incertezas vivida por milhares de pessoas ainda hoje, em 39 municípios da bacia do Rio Doce. Outra crítica severa á ela vem da Força Tarefa do Ministério Público (reunindo sete instituições), que denunciou irregularidades nas indenizações dos moradores das cidades atingidas e pescadores, além de cadastro dos atingidos e também no acesso à informação das famílias aos documentos sobre o caso. Hoje, a grande dificuldade da população atingida (e também daquela não atingida) é a credibilidade da informação. O que está acontecendo no processo de reabilitação de nossas vidas e do nosso território? Em quem podemos confiar? O que a maioria da população não percebe é que o interessante e criativo site da RENOVA noticia, mas não informa as pessoas, do que está realmente acontecendo. Depois de 3 anos o meio ambiente físico vem sendo exaustivamente estudado e modificado através de pesquisas e também por inúmeras obras de engenharia, mas a situação de milhares de pessoas não retornou à rotina de antes, com as indefinições e a incerteza dominando o dia a dia delas até hoje. Foram indiciados criminalmente 22 pessoas, mas ninguém foi sequer julgado, as multas milionárias do IBAMA e da SEMAD simplesmente não foram pagas. Conclusão Vemos hoje que a mídia é

capaz de influenciar a vontade social de uma população e que ela é uma espécie de alicerce da vontade política, na área socioambiental, suas publicações, questionamentos e esclarecimentos formam elementos vitais no posicionamento da opinião pública de rechaçar e não aceitar mais situações esdrúxulas como, por exemplo, pessoas morrendo em inundações nas cidades ou em filas dos hospitais, incêndios florestais de grandes proporções, rompimento de barragens de rejeitos etc. O cenário cinzento que desenhamos no início deste artigo foi ilustrado aqui pelo caso da tragédia da SAMARCO, onde o paradoxo é muito grande, pois ela era considerada uma empresa modelo na área da sustentabilidade e responsabilidade social, além de ser a 10ª maior exportadora do Brasil. O difícil processo de mudanças em tais cenários implica em trabalhar com criatividade e usando as redes sociais para organizar e fortalecer os mecanismos de pressão social, principalmente sobre os governos, nos seus diferentes níveis, mas também acelerar o processo de mudanças comportamentais e de atitudes em relação ao meio ambiente, por parte de juízes, promotores, educadores, vereadores, prefeitos, empresários, jornalistas, lideranças comunitárias de diferentes matizes, cidadãos comuns, etc. O desafio é enorme, as mudanças podem levar décadas para acontecerem. Por estas razões, precisamos falar exaustivamente do nosso compromisso com as próximas gerações e descrever programas e experiências interessantes e positivas de governos estaduais, centenas de secretarias municipais de meio ambiente, ONG´s, empresas, proprietários rurais, associações comunitárias que precisam ser divulgadas; elas mostram o peso do slogan do UNICEF“ dá para resolver. Vamos resolver, juntos?”. Na batalha para ficar li-

vre da lama das empresas SAMARCO\Vale\BHP a comunicação social é imprescindível para a população atingida. A mídia não é a salvadora da pátria e nem tem a obrigação de ser a defensora do meio ambiente e da verdade. Mas ela e as redes sociais hoje, desde que articuladas numa estratégia inteligente, podem ajudar muito a assegurar o mínimo de transparência, ética ambiental e responsabilidade social nos trabalhos de reabilitação da bacia do Rio Doce por parte da RENOVA. Novo TAC Depois de três anos, a experiência de reabilitação da bacia do Rio Doce pode ser considerada como frustrante, tanto é que foi lançado um novo TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), que corrige praticamente tudo o que foi feito anteriormente, exceto as pesquisas e o monitoramento da água ao longo do Rio Doce, desde a barragem de Fundão até o arquipélago de Abrolhos. Os planos, programas e projetos da RENOVA não garantiram o retorno à vida normal de milhares de pessoas nos 39 municípios atingidos. Esta população não pode continuar sendo arrastada pelas artimanhas, arranjos e versão duvidosa dos fatos pelo criativo marketing da RENOVA. Todos querem saber o que está acontecendo realmente no Rio Doce e acompanhar os desdobramentos do novo TAC e seus resultados; estas pessoas querem muito pouco, somente a vida normal de volta. Após três anos de espera, ao que parece, elas estão sendo “vencidas pelo cansaço”. * Cláudio B. Guerra é engenheiro ambiental com curso de Pós-Graduação no UNESCO-IHE-Delft, Holanda. Trabalha há 28 anos como Consultor Ambiental na bacia do Rio Doce. Foi Secretário Adjunto de Meio Ambiente do Governo de Minas Gerais.


Dezembro de 2018

8

Secretaria de Meio Ambiente cria projeto “Plantando o Futuro” Ação objetiva criar corredores verdes em diversas vias da cidade cm plantios de árvores

Crianças participantes do projeto Plantando o Futuro junto à equipe da prefeitura no Mirante de São Miguel

Rio Piracicaba - Alunos da Escola Municipal Murilo Garcia Moreira participaram na tarde desta quarta-feira, 12, de uma ação ecológica desenvolvida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Rio Piracicaba. Os alunos plantaram 58 mudas de ipês, nas variedades Rosa e Amarelo, ao longo da Rua Vicente Ferreira Guimarães, estrada que dá acesso ao Bairro São Sebastião (Estiva), partindo do viaduto até o Mirante de São Miguel. A atividade, que é parte do Projeto “Plantando o Futuro”, além de criar uma consciência ecológica nas crianças, formará em futuro próximo, uma alameda que, além de embelezar a via, promoverá um sombreamento no local, tornando o ambiente mais agradável aos transeuntes. Sob orientação do Secretário Municipal, Augusto Henrique da Silva e da estagiária ambiental, Daiana Mendes os alunos receberam de forma lúdica as primeiras noções sobre plantio e recordaram temas ambientais visto em sala de aula: “Os próprios alunos criaram regadores com garrafas pet´s com

tampas furadas”, desta o secretário. O secretário lembra também que para o projeto obter sucesso será imprescindível o envolvimento dos cidadãos: “É muito importante que cada cidadão participe, cuidando para que não haja depredação e denunciando maus tratos às mudas”, comenta. Plantando o Futuro O Projeto Plantando o Futuro foi precedido de uma série de atividades executadas nas escolas municipais, no segundo semestre deste ano, dentro do programa de educação ambiental municipal. O trabalho pedagógico abordou temas ambientais voltados para uma melhor compreensão da importância da árvore, formação de florestas, cuidados com a água e descarte correto de resíduos. Também foi trabalhado os diferentes tipos de solo, com ênfase naquele de maior predominância na cidade. De acordo com Augusto a escolha da Rua Vicente Ferreira Guimarães foi por se tratar de um longo trecho de estrada que liga o Bairro Estiva ao Centro sem que haja qualquer tipo de sombra, então seu primeiro critério foi o

bem-estar dos moradores. Na sequência o secretário destaca a existência do mirante, lugar onde os visitantes costumam ir para ter uma visão panorâmica da cidade. Outros plantios Ainda dentro do projeto já receberam plantio o distrito de Conceição de Piracicaba (Jorge) e receberão as comunidades dos bairros Mariana de Vasconcelos Chacrinha (Chacrinha) e Padre Levy (Serra Pelada). Compensação ambiental Todas as mudas plantadas são resultado de outra ação da secretaria. Trata-se da compensação ambiental pelo corte de árvores. Segundo uma deliberação do CODEMA, do qual Augusto é presidente, para cada árvore que a secretaria autoriza o corte é necessário a entrega de três mudas de árvores, nativa ou frutífera, à escolha da pessoa. Vandalismo Um dia após os plantios na via que da acesso à Estiva um ato de Vandalismo deixou a comuni-

dade do bairro entristecida e revoltada. Dezesseis mudas foram arrancadas e algumas descartadas no próprio local. A prefeitura apresentou

queixa à Polícia Militar e segundo informações existem testemunhas que podem apontar suspeito de ter praticado a ato. A administração, através

do departamento específico ficou de promover o replantio, que deverá contar com monitoramento para evitar novas ações de vândalos.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.