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GUARAPUAVA E REGIÃO NA ROTA DAS VIAGENS TÉCNICAS DO AGRONEGÓCIO

o setor rural de Guarapuava e região, o ano de ���� começou reafi rmando a posição do centro-sul do Paraná como um dos locais que vêm atraindo a atenção de produtores brasileiros e estrangeiros em busca de ampliar conhecimentos. Entre o fi nal de janeiro e a primeira quinzena de fevereiro, vários grupos de agropecuaristas ou profi ssionais ligados ao agronegócio incluíram este ponto como escala de suas viagens técnicas. Partindo de lugares tão diversos como Nova Zelândia, Alemanha, Mato Grosso, Santa Catarina e Pará, eles vieram ver de perto segmentos que ao longo do tempo cresceram e se destacaram ‒ coopeN Entre fi nal de janeiro e fevereiro, centro-sul do PR recebeu visita técnica de pelo menos quatro grupos de produtores rurais – no roteiro, cooperativas e propriedades

rativas da agricultura e da pecuária, que orientadas por uma gestão cada vez mais profi ssional seguiram investindo em indústrias de grande porte, verticalizando a produção dos cooperados e promovendo eventos técnicos para compartilhar a inovação; propriedades tecnifi cadas que muitas vezes registram produtividades em lavouras de verão ou inverno superiores às médias nacionais; famílias de produtores à frente de fazendas com cerca de um século de existência ou mais, que hoje realizam a sucessão para as novas gerações e demonstram ousadia, se aprofundando em opções de produção como a integração lavoura-pecuária-fl oresta (ILPF). Com isso, além de gerar informação técnica para agricultores e pecuaristas locais, o setor rural de Guarapuava e região se desenvolve também como um espaço para difusão de experiências entre visitantes e anfi triões. Neste ambiente de expansão das visões sobre modelos produtivos, as cooperativas e as entidades de representatividade do agro, como os sindicatos rurais, as federações estaduais da agricultura, ao lado de vários agricultores e pecuaristas, têm se destacado como organizadores das viagens técnicas ou apoiadores de etapas locais dos roteiros pelas regiões percorridas. A REVISTA DO PRODUTOR RURAL inicia o ano com uma reportagem que apresenta o signifi cado de abrir as porteiras para novas idéias e novos tempos.

Um grupo de produtores vindo de países como Alemanha, Suíça, Luxemburgo e Nova Zelândia, passou pelo centro-sul do Paraná, nos dias 29 e 30 de janeiro, com o objetivo de conhecer agricultura e agroindustrialização. No distrito de Entre Rios, o roteiro incluiu a Agrária. Fundada em 1951 por imigrantes suábios do Danúbio que se fi xaram no município, a cooperativa se destacou por realizar pesquisas agrícolas para gerar informação regional sobre soja, milho, trigo, cevada e aveia (entre outras culturas), por verticalizar a produção dos cooperados com várias indústrias (moinho de trigo, maltaria, fábrica de rações, de óleo e farelo de soja, ao lado da industrialização de milho) e por promover dois dos prin

Grupo da Europa e N. Zelândia em Entre Rios (Foto: Assessoria/Agrária)

cipais eventos técnicos do calendário agrícola regional: o Dia de Campo de Verão e o WinterShow. O grupo do exterior conversou com o coordenador de Assistência Técnica e diretor administrativo da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA), Márcio Mourão. Em entrevista à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, ele reafi rmou a importância do intercâmbio de experiências. “A gente acredita que este tipo de relacionamento, essas visitas técnicas, a formação de networking, a troca de experiências são fundamentais para a melhoria de qualquer processo. Isso tem se intensifi cado e tem sido muito produtivo, porque os interessados conseguem ver, in loco, o que muitas vezes hoje se coloca em sites, em matérias. Eles conseguem comprovar pelo visual, pelo maior contato, o que é discutido muitas vezes de uma maneira mais teórica”, comentou. Mourão analisa que as visitam divulgam e reconhecem o trabalho do setor rural regional. “Para a cooperativa Agrária também é de muita importância receber esses visitantes, pela divulgação do nome da cooperativa e da região como sendo de muita tecnologia aplicada na agricultura. A procura de grupos do exterior e de outras regiões do país comprova o elevado nível de tecnologia aplicado aqui” (a assessoria de comunicação da Agrária informou ainda que apenas do início do ano até o dia 12 de fevereiro, a cooperativa já havia recebido três outras visitas técnicas, entre parceiros, pessoas de outras cooperativas e de universidades). Também em Entre Rios, outra etapa do itinerário foi uma propriedade de suinocultura do Grupo Leh, que abrange, ao todo, a criação de bovinos, ovinos, agricultura com lavouras de verão e inverno e silvicultura. Dividindo com familiares a gestão das atividades, Wienfried Leh enalteceu a importância das viagens técnicas e considerou que o contato entre produtores locais e de outros lugares deveria ser até mais intenso. “Poderíamos estar melhor visitados e deveríamos estar visitando mais, pelo tanto que a tecnologia evolui”, pontuou. Ele recordou que tem recebido, há vários anos, produtores do Brasil e do exterior e que realiza com alegria a tarefa de explicar seu sistema produtivo, frisando que apenas a entrada nas granjas não é permitida devido a normas para manter a sanidade animal. Ele assinalou ainda que mais agropecuaristas locais também deveriam se encontrar com os grupos que visitam propriedades em Guarapuava e região, visando ampliar o intercâmbio de experiências: “Seja no sindicato, na cooperativa, numa fazenda, para ter uma interação maior”. Sucessão familiar

Voltado à suinocultura, Leh detalhou que, desta vez, o foco dos visitantes foi a sustentabilidade econômica das propriedades ao longo das gerações: “O que interessa muito para eles é como funciona a questão da sucessão familiar, da permanência da juventude no campo. Falei sobre como a gente enfrentou a sucessão”, disse, referindo-se à sua família. E completou destacando uma característica dos produtores estrangeiros que tem recepcionado: “São grupos de pessoas, na média, de 50 a 70 anos. Ou seja: a geração nova é que não está vindo. Então, eles querem saber como a gente faz essa introdução dos fi lhos na atividade”.

Suinocultor Wienfried Leh: sucessão familiar interessa aos europeus

O produtor rural de Entre Rios conclui que a troca de ideias é construtiva para visitantes e anfitriões, independente do lugar de origem: “São extremamente importantes essas vindas, seja do exterior ou daqui mesmo”. Rentabilidade

Outra escala dos produtores do exterior ocorreu em uma propriedade do Grupo Reinhofer. Pertencente às gerações mais novas de sua família, Robert Reinhofer concorda que o diálogo com visitantes ajuda a ampliar a visão sobre o setor e citou os temas que despertaram interesse: “É válido, pela troca de experiência e situações vividas, em outras regiões ou países, as dificuldades atuais e o que o produtor está fazendo para as reverter. Na última semana, recebemos um grupo da Suíça. Há um grande interesse no manejo que utilizamos, rotação de culturas, plantio direto, sustentabilidade, rastreabilidade de grãos, mas principalmente produtividade e custos de produção, ou seja, rentabilidade. A grande preocupação da maioria é como sobreviver nesse setor cada

vez mais competitivo, que remunera cada vez menos e recebe cada vez mais pressão dos setores políticos e ambientais”, declarou em entrevista.

Sistemas Integrado de Produção Agros- silvopastoril

No dia 30, antes de seguir viagem, o grupo se dirigiu a uma das propriedades que praticam a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na região, a Fazenda Capão Redondo (Candói), do presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, para conhecer aquele tipo de produção. Embora o giro no local tenha sido cancelado de última hora, devido à chuva, a troca de idéias foi mantida durante uma parada nas proximidades da propriedade, à margem da BR 277. Médico veterinário da assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IAPAR/EMATER) em Guarapuava, Celso Doliveira apresentou ações locais do IDR ou das quais o instituto participa. “Foi explicado como é que funciona o Projeto Leite Competitivo Sul, na área de bovinocultura de leite, quais são os critérios de enquadramento dos produtores aos quais damos assistência técnica, e como a gente vai promovendo a inclusão produtiva e a evolução tecnológica desses produtores”, relatou. Na pecuária de corte, Doliveira citou que o IDR participa do Plano Pecuária Moderna, lançado no Paraná em 2015, orientando a implantação dos Sistemas Integrados de Produção Agrossilvopastoris. “Isso também despertou um grande interesse para eles, porque são áreas em que não está havendo desmate – está havendo fertilização, promovendo melhoria na produção da erva-mate, do pinheiro, das espécies nativas, au

Veterinário Celso Doliveira – IDR

mentando o número de cabeças por área, principalmente para a produção de bezerros”.

Forrageiras de inverno na ILPF

Lembrando que ILP se pratica em várias partes do Brasil, o veterinário ressalta que a seu ver, um dos temas que tem atraído visitas técnicas rurais é o modelo adotado em Guarapuava e região devido ao clima frio. “Tanto na ILP quanto na ILPF, o fato de a gente usar forrageiras de inverno é um diferencial. O que tem de novidade aqui em Guarapuava é um projeto ainda em situação embrionária, que é essa integração com espécies nativas. Com espécies exóticas, em diversas regiões isso já vem sendo feito. Isso, acredito que ainda vai ter muita pesquisa, muito o que se aprender nessa tecnologia”, considerou. O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava também falou com os visitantes, detalhando o modelo de ILPF específico de sua propriedade. Da empresa que realizou o roteiro e guia do grupo no trajeto, Suzy Tietz contou que a programação total incluiu Argentina, Uruguai e, no Brasil, os estados do Paraná e São Paulo. Conforme comentou em entrevista, a seu ver, o centro-sul paranaense tem atraído visitas técnicas de produtores devido à diversificação das atividades

Grupo de produtores da Europa e N. Zelândia conversou com pres. do Sindicato Rural, Rodolpho Botelho, sobre ILPF

rurais: “O interesse pelo Brasil e principalmente pela região do Paraná, que é o segundo maior produtor de grãos do país, é muito grande. Como (em Guarapuava) vocês têm o cultivo da cevada, criação de gado, suínos, é uma região que tem soja, milho, automaticamente é uma referência”. Do Mato Grosso para Guarapuava e região, com apoio do SENAR

Dias depois, Guarapuava permaneceria na rota das visitas técnicas. Num giro organizado pelo SENAR-MT e sindicatos rurais de alguns municípios do Mato Grosso com apoio da FAMATO (Federão da Agricultura daquele estado), um grupo de produtores, entre agricultores e pecuaristas de corte e de leite, ao lado de membros das entidades organizadoras, partiu de Cuiabá, em 2 de fevereiro, e percorreu mais de 1.500 quilômetros para conferir a agropecuária e o sistema de representatividade e capacitação rural do Paraná. Depois de visitar, no dia seguinte, o Centro de Treinamento Agropecuário (CTA) do SENAR-PR em Ibiporã (Norte do PR), os matogrossenses passaram por Guarapuava, dia 4, em direção também à propriedade do presidente do Sindicato Rural de Guarapuava para conhecer a ILPF no local. Na fazenda, palestra apresentada por Botelho e pelo professor doutor Sebatião Brasil (Unicentro), especialista em forrageiras que há anos desenvolve pesquisas no local, apresentou conceitos que vêm norteando a produção, como qualidade genética, bem-estar animal, respeito ao meio- -ambiente e apoio à pesquisa agropecuária. De acordo com os dados, a integração ocorre com pecuária de corte (750 bovinos e 350 ovinos), pastagens de verão e de inverno (tifton, aruana, papuã, aveia preta de cobertura, branca para pastagem e azevém tetraplóide), controle de piquetes (registro da área de cada um, do tipo de pastagem, datas de entrada e saída dos animais e unidade animal/ hectare), ao lado de eucalipto (entrelinhas de 30 metros) e agricultura (em 2018/2019, soja teve produtividade de 4,2 mil kg/ha; milho, perto de 12,9 mil kg/ha; e trigo, 3,6 mil kg/ha). “Um dos focos principais aqui é o melhoramento de pastagem, trabalhar com o maior tempo possível dos animais a pasto”, detalhou o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava. Logo após a apresentação, os visitantes foram ver o trabalho no campo. Coordenador técnico do SENAR- -MT, Wlademiro Silvano Pereira Neto destacou em entrevista que a visita proporcionava o contato com perspectivas diferentes: “Essa semana foi preparada para o grupo de produtores na intenção de levá-los a conhecer um pouco mais de tecnologias que já são de fato utilizadas e que têm um resultado positivo. Esta propriedade é um marco: é histórica, vive o trabalho de sucessão familiar e também utiliza lavoura-pecuária-floresta de uma forma integrada. A gente consegue vivenciar e perceber o empenho da tecnologia

Coordenador Téc. SENAR-MT, Wladomiro S. Pereira Neto: Centro de Excelência para ILP

Grupo do MT: viagem de mais de 1.500 km para conhecer ILPF em Candói – Palestra e giro de campo na Faz. Capão Redondo

para que se tenha melhores resultados em cada uma das atividades”. Em sua avaliação, a compreensão da integração precisa ser ampliada: “No MT, existem propriedades que implementam esta tecnologia, mas entendemos que o sistema de fato precisa ser desenvolvido. O produtor precisa entender e valorizar esse trabalho de consórcio entre as cadeias produtivas, para que tenha uma maior rentabilidade”. Ele antecipou ainda uma novidade que promete impulsionar a ideia dos sistemas integrados em seu estado: “O Mato Grosso foi contemplado com um Centro de Excelência. É um projeto nacional do SENAR Brasil. A nossa unidade será em Tangará da Serra, focada no trabalho de integração lavoura-pecuária-floresta. A licitação aconteceu no final do ano passado e as obras se iniciam neste ano. A implantação deste centro será um marco na socialização do conhecimento específico. Acreditamos que os produtores terão mais acesso a essas tecnologias e que, com isso, a integração vai se tornar mais comum no MT”. Para outro participante do grupo, o presidente do Sindicato Rural de São José dos Quatro Marcos (MT), Alessandro Casado da Silva, o que chamou a atenção foi a sustentabilidade econômica da fazenda, que como outras na região surgiu no século 19 e desde então passa de geração a geração. “Isso é uma preocupação para nós. Os filhos estão saindo para estudar, muitas vezes deixando a zona rural, que é a nossa atividade principal. Hoje, já temos um programa, da FAMATO/SENAR-MT, a Sucessão Familiar, que é para trazer o interesse dos nossos filhos para ficarem ainda na propriedade”.

Supervisor do SENAR-PR em Guarapuava, Aparecido Grosse

do Grosse, afirmou que atualmente o conhecimento é o recurso mais importante também no setor agropecuário. Ele enalteceu a troca de experiências das viagens técnicas, tanto entre os produtores, quanto entre os colegas do SENAR de diferentes estados: “Acho que estamos num momento de comunicação entre ambas as partes. Essas visitas conseguem fazer com que a gente reflita sobre os nossos trabalhos e fale sobre os que estão dando resultado na região”. Grosse apontou ainda que a difusão e a uniformização de conhecimentos técnicos rurais, como nos cursos do SENAR, têm seu significado no Paraná e em outros estados, contribuindo para a tomada de decisões do produtor na lida diária: “Mesmo que as pessoas tenham muitos conhecimentos, se esses conhecimentos não têm a mesma linha de pensamento, isso acaba criando algumas divergências até mesmo dentro da família. Quando temos qualificação profissional, todos começam a ter a mesma linha”. Nestas capacitações, frisou, o SENAR trabalha com base científica, sem direcionamento comercial: “Levamos informação que é resultado de pesquisa, daquilo que está dando resultado. Então, se consegue nivelar as pessoas para trabalhar no mesmo sentido. Você acaba tendo ganhos tanto do ponto de vista do melhoramento da mão de obra quanto da própria relação humana”. A etapa final da programação da comitiva matogrossense no centro- -sul do Paraná aconteceu no Sindicato Rural de Guarapuava, na manhã de 5 de fevereiro. Recepcionados pela gerente, Luciana de Queiroga Bren, o grupo conheceu as instalações e atividades, seguindo viagem depois a Cascavel, para visitar o Show Rural 2020 da Coopavel. Na mesma semana, Guarapuava e região seriam destino de mais um grupo – desta vez, produtores vindos de Campos Novos, no vizinho estado de Santa Catarina, onde se dedicam à agricultura e pecuária e participam do Projeto de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), do SENAR-SC (Segundo o site da entidade catarinense de capacitação rural, o projeto surgiu de convênio entre o SENAR Central e o MAPA, com Santa Catarina sendo um estado pioneiro em sua implementação, no ano de 2016, com foco na pecuária leiteira). Organizado pelo Sindicato Rural daquele município e o SENAR-SC, o roteiro também levou os visitantes a Candói, para ver a ILPF na fazenda visitada dias antes pelo grupo do Mato Grosso.

Pres. Sindicato Rural de Rural de S. José dos Quatro Marcos, Alessandro C. da Silva

Sanidade animal e vegetal

Em sua saudação de boas-vindas, o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava relembrou que o agro tem contribuído para o fortalecimento da economia do Brasil e mencionou que, na economia atual, a sanidade dos alimentos de origem animal ou vegetal passou a ser uma condição para que o produtor brasileiro possa ter um maior acesso aos mercados: “O Brasil é o único país que tem capacidade de produzir mais alimentos sem mexer em florestas. É o segundo maior exportador de aves, o maior de carne bovina, o maior de soja e tem mercado para crescer, principalmente no sudoeste asiático, onde a demanda é muito grande”. Mas para aquele avanço, sublinhou Botelho, qualidade passou a ser obrigatória: “Isso que Santa Catarina tem feito, e que o Paraná está trabalhando, é para ter uma melhor sanidade animal e vegetal. Cada vez mais a briga comercial entre países vai ser em cima de qualidade e sanidade. O produtor tem que estar preparado para fazer seu trabalho de casa. Acho que toda tecnologia é bem-vinda, desde que traga resultado financeiro e harmonia ao meio ambiente”. A tarde prosseguiu com uma palestra sobre os principais aspectos da produção na fazenda e um giro pelo campo. Em entrevista, o presidente do Sindicato Rural de Campos Novos, Luiz Sérgio Gris Filho, agradeceu a recepção: “Primeiro, não poderíamos deixar de agradecer ao Sindicato Rural de Guarapuava por ter esse des

Pres. Sindicato Rural de Campos Novos, Luiz Sérgio Gris Filho

Ricardo Clair Basso, agrônomo e técnico do ATeG

prendimento de fazer essa interação. O nosso objetivo sempre é fornecer informações e tecnificar cada vez mais o nosso associado e principalmente os produtores que participam da assistência técnica e gerencial do SENAR lá de Santa Catarina”. Gris Filho fez uma avaliação positiva da visita: “Saímos daqui muito satisfeitos com o que vimos. O agronegócio, nessa interação entre associações, entidades e produtores, cada vez mais vai alavancar não só o Paraná e Santa Catarina como todo o Brasil. Hoje temos o objetivo de mostrar novas tecnologias, o que está sendo implementado nas propriedades aqui, para que os nossos produtores, quando voltarem, possam avaliar o que melhor vai dar um aproveitamento na sua propriedade”. Agrômomo e técnico do Projeto ATeG, Ricardo Clair Basso também conversou com a REVISTA DO PRODUTOR RURAL: “A visita a outras propriedades é de extrema importância. Os produtores (do grupo) já trabalham num sistema ILP. Eles vêm buscar um aperfeiçoamento, melhorar o manejo produtivo”. Basso avaliou que algumas semelhanças de relevo e clima entre o centro-sul paranaense e a região de Campos Novos, além do uso de algumas mesmas espécies de pastagens, tornava a visitação ainda mais proveitosa do ponto de vista técnico: “Fomos muito felizes hoje em realizar esta visita, pelas questões climáticas e de altitude e pela base forrageira também ser parecida”. Também o pecuarista Luiz Ângelo Fornara participou da visita. Voltado à cria, para a produção de terneiros das raças charolês e angus, ele disse valorizar o intercâmbio de experiências. “É muito importante trocar essas informações, ter conhecimento de outras regiões, sair um pouco da nossa realidade e ver o que acontece em outros estados, técnicas novas. O que nós vimos hoje, aqui, veio, de fato, solidificar esse pensamento. Sempre se aproveita alguma coisa.”, comentou. No dia seguinte, os produtores catarinenses encerrariam sua agenda técnica no Show Rural em Cascavel, aproveitando o momento para visitar o espaço da Cooperaliança no evento.

Pecuarista Luiz Ângelo Fornara: “É muito importante trocar informações”

Pecuaristas do Pará O mesmo interesse em tecnologias para a bovinocultura e em associativismo, faria outros bovinocultores de corte percorrer uma distância ainda maior, de cerca de 2.400 km, do sul do Pará e do Maranhão ao Paraná. Unidos em torno de uma associação que criaram e interessados em fundar uma cooperativa para obter melhor remuneração por seu produto, os paraenses vieram conhecer as experiências de empreendimentos paranaenses que em anos recentes se tornaram conhecidos no segmento de carnes, como as cooperativas Maria Macia (Campo Mourão) e Cooperaliança (Guarapuava). No dia 14 de fevereiro, no centro-sul paranaense, a programação teve início com visitação ao Sindicato Rural e ao mesmo sistema de ILPF visto também pelos visitantes anteriores em Candói. Nascido em São Paulo e há 30 anos em terras paraenses, onde na pecuária trabalha com nelore e aberdeen angus no cruzamento industrial, Geraldo Pereira de Freitas disse que a viagem técnica foi uma iniciativa dos próprios bovinocultores. “Temos uma associação de pecuaristas do sul do Pará, onde hoje somos 80. Estamos muito unidos. Vimos que as indústrias frigoríficas estão cada dia mais se conversando e é global esta

Pecuaristas do Pará e do Maranhão: visita ao Sindicato Rural

fusão de multinacionais para continuar no mercado. Então, nós, pecuaristas, saímos da porteira, e estamos nos conversando mais, trocando mais ideias, e botando na mente de cada produtor que não somos concorrentes. Precisamos estar juntos, porque ninguém é melhor sozinho do que junto”, declarou.

Cooperativas de carnes chamaram atenção

Outro participante, Lázaro de Deus Vieira Neto, com experiência em várias raças bovinas de corte, detalhou o objetivo da viagem: “O motivo de nossa visita foi conhecer as cooperativas com viés pecuário. Na nossa região, produzimos uma carne de boa qualidade, mas não temos valor agregado. Então, formamos esse grupo, onde todos têm o mesmo ideal, de montar uma cooperativa para que a gente possa vender uma carne de qualidade, com valor agregado”.

Oportunidades no Pará

Segundo acrescentou, seu estado oferece oportunidades no setor rural também para quem vem de outros lugares: “No sul do Pará, hoje, temos terra com documento, não temos essa violência no campo igual falam. Não existe trabalho escravo. Têm muitos paranaenses muito bem sucedidos lá. Há mais de 20 anos temos lavoura na nossa região (Redenção). Nunca tivemos frustração de safra. As chuvas são de 1.900 a 2.100 mm bem distribuídos, entre outubro e maio. Então, no sul do Pará, vamos dizer que 80% das áreas dão safrinha de milho”.

Lázaro de Deus Vieira Neto

No final da tarde, o grupo conheceu a Cooperaliança. Estabelecida há 12 anos, a cooperativa conta hoje com cooperados em todas as regiões do Paraná; em seu Projeto Bovinos, dispõe de certificação Angus e produz o Novilho Precoce (animais de até 24 meses); no Projeto Ovinos, lançou o Cordeiro Guarapuava e promove o encontro técnico anual Ovinotec, para debater desafios e tecnologias

para a ovinocultura; na industrialização, prevê a inauguração, ainda no primeiro semestre deste ano, de um frigorífico próprio em construção no distrito de Entre Rios. No local, os paraenses conversaram sobre manejo, mercado e rentabilidade com o presidente, Edio Sander, e com a gerente do Projeto Bovinos, veterinária Marina Azevedo, que os conduziram num giro pelo canteiro de obras. O produtor Carlos Henrique Pereira Pimenta disse ter visto no Paraná realidades que podem ajudar a balizar o projeto da associação. “Em cada uma (cooperativa) que passei, vi um diferencial, algo que pude agregar nos meus conhecimentos para a futura cooperativa que queremos abrir”, analisou. Entre os anfitriões dos grupos, o presidente do Sindicato Rural, Rodolpho L. W. Botelho disse ver que, com o tempo, agricultores, pecuaristas e

Carlos Henrique Pereira Pimenta

Rodolpho Botelho, presidente do Sindicato Rural de Guarapuava

universidades no centro-sul do Paraná, tem produzido também informação e divulgado conhecimento – em sua análise, o fato, somado às condições específicas de produção, chama a atenção. “Já há um bom tempo, Guarapuava têm sido um difusor de informação, de tecnologia, do setor agropecuário. Tanto nas culturas de soja, milho, feijão, batata, cevada, trigo e aveia – e também na questão pecuária, com uma suinocultura também diferenciada. Isso tem despertado interesse de outras regiões, do setor produtivo, da assistência técnica e até da própria academia. Vários produtores estão trabalhando com sistemas extremamente interessantes, onde além de agregar valor, respeitam o meio ambiente” afirmou Botelho.

A integração lavoura-pecuária (ILP), que foi um dos principais pontos debatidos por produtores de outros estados do Brasil em viagem técnica a fazendas do centro-sul do Paraná neste início de ano, tem sido adotada por algumas propriedades da região como alternativa para aumentar a utilização das áreas produtivas. Ao explicar aos visitantes a ILP aplicada na Fazenda Capão Redondo (Candói), o professor Sebastião Brasil Campos Lustosa (Unicentro), com pós-doutorado em Produção Vegetal em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, frisou no entanto que, para funcionar, aquela opção precisa ser implantada segundo critérios técnicos – manejar a pastagem como cultura, assinalou, cumprindo à risca as recomendações de momentos de entrada e saRegião Com ILP, fazendas elevam lotação de animais/ha

ída dos animais nos piquetes, é um dos pontos mais importantes. Em entrevista à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, no último dia 14 de fevereiro, ele comentou que, se praticada corretamente, a ILP possibilita intensificar o rebanho num mesmo espaço na comparação com o pasto sem nenhum manejo: “Se eu aumento a área de lotação na pastagem, consequentemente aumento a receita da propriedade também como um todo. Estamos acostumados aí, na média paranaense, com 1,3 unidades animais por hectare – uma unidade seriam 450 quilos. Nesse sistema (ILP), passamos de três até oito unidades animais, dependendo da espécie forrageira, da época do ano”. Na região, mencionou, a alternativa evita que os animais percam peso na esta

Prof. Sebastião Brasil - Unicentro

ção fria, como ocorria no passado: “Com a agricultura sobre essas áreas de campo, no inverno sobra pasto”. Falando da lotação animal/ hectare na ILP em nível local, o professor assinala que os rebanhos registram números elevados: “Hoje podemos dizer que a produção pecuária em Guarapuava (em termos de UA/ha) chega a ser 10 vezes superior à média do estado”.

(Nota da Redação: a escolha do sistema produtivo a ser adotado na propriedade rural é uma decisão de cada produtor. Especialistas ouvidos em entrevista têm destacado que a ILP só traz os resultados esperados quando aplicada de acordo com conhecimentos técnicos sobre as forrageiras, as lavouras e as raças do rebanho. De acordo com eles, a decisão por um dos vários modelos de ILP depende também da situação do solo, relevo e clima específicos de cada propriedade, além de fatores como os pastos, as culturas e as raças de animais utilizadas, entre outros.)

Eles são produtores rurais, vêm de países como Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Suíça, Holanda ou França, entre outros, e têm visitado Guarapuava e região para conhecer a agricultura e a pecuária que se faz por aqui. Com isso, estabelecem contato com vários produtores locais, que também ampliam seus conhecimentos ao recebê-los para uma troca de ideias sobre seus sistemas produtivos. A REVISTA DO PRODUTOR RURAL recorda algumas das viagens técnicas que em anos recentes têm feito escala no centro-sul do Paraná. Presenças que foram tema de matérias em nossas edições anteriores. Visitantes de vários países, em diversas propriedades

22 de janeiro de 2014: alemães no Sindicato Rural de Guarapuava, onde foram recebidos por diretores

22 de janeiro de 2014: visitantes da Alemanha na propriedade de Manfred Majowski

26 de fevereiro de 2016: americanos na propriedade do produtor Silvino Caus

1º de março de 2016: canadenses na fazenda de Helmuth Seitz

16 de outubro de 2018: americanos no estande do Sindicato Rural no WinterShow, da Agrária

14 de fevereiro de 2019: franceses em indústria de erva-mate na região

A cultura do milho de 1ª safra em Guarapuava e região tem chamado a atenção de produtores de outros estados do Brasil que realizam viagens técnicas ao Paraná. Em várias das lavouras tecnificadas do centro-sul do estado, as produtividades superam as médias nacionais. No país, o milho de 1ª safra, do período 2019/2020, tem estimativa de 6,13 mil kg/hectare, segundo Boletim de Safra da CONAB de fevereiro deste ano. No Paraná, de acordo com a regional da SEAB em Guarapuava (dados de 17 de fevereiro), o desempenho médio estimado é de 9,4 mil kg/hectare. Já nos agora 10 municípios abrangidos (antes eram 12) pela regional, a estimativa sobe para 10,6 mil kg/hectare. Vários produtores tecnificados de Guarapuava e região, no entanto, obtém 12 mil kg/ hectare ou mais, enquanto na FazenProf. Marcelo Mendes – Unicentro da-Escola (Fazesc) da Unicentro, em Guarapuava, segundo o diretor, professor Marcelo Cruz Mendes, parcelas experimentais ultrapassam 18 mil kg/hectare, sinalizando o potencial da cultura. Em entrevista à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, o diretor observa que os altos desempenhos do milho verificados hoje em dia são o resultado de vários fatores. “O primeiro é o elevado nível tecnológico dos produtores de milho na região, que vai desde a escolha do híbrido, bem como os tratos culturais. Um segundo ponto importante são as condições de clima de Guarapuava para a cultura, sendo a elevada altitude: a maioria das nossas regiões em torno da cidade estão acima de 900 m. A latitude: estamos a latitudes maiores sem ter temperatura extremamente baixa. A planta de milho gosta de dias quentes e noites amenas. A luminosidade: a planta de milho é muito eficiente em produzir fotossíntese, sendo a radiação solar incidente na cultura aqui na nossa região também muito boa. A pluvioMilho: na região, produtividade ultrapassa as médias nacionais

sidade ao longo do ciclo da cultura é bem distribuída”, explicou. “Estes fatores somados fazem de Guarapuava e região uma das melhores condições para produção de milho no mundo”, assinalou. Já na soja, para o professor Marcelo Mendes, a região busca consolidar as boas produtividades já alcançadas. “Em Guarapuava, uma particularidade muito forte em relação a ponto positivo da cultura, é que as restrições hídricas ao longo do ciclo da cultura são menores em comparação a outras regiões produtoras do Brasil. Outro ponto, que estamos melhorando substancialmente, é o surgimento de novas cultivares no mercado, recomendadas para altitudes elevadas. Não são todas as cultivares hoje disponíveis que são adaptadas para a nossa região. Isso se deve ao investimento em seleção de novos germoplasmas, por instituições públicas e privadas, melhorando a gama de cultivares alocadas para a nossa região”. Ele lembra, por outro lado, que também o centro-sul do Paraná não é homogêneo e pode haver variações no desempenho das lavouras. O diretor da Fazesc considera que uma boa produtividade precisa ser construída: “De acordo com as escolhas e tomadas de decisões por parte dos produtores, agrônomos e responsáveis técnicos, as quais nem sempre são pensando somente na safra, mas sim no sistema de produção da propriedade (safra após safra). Estas escolhas agregadas ao sistema de plantio direto consolidado e à diminuição do potencial produtivo por perdas abióticas fazem a nossa diferença perante a outras regiões produtoras de grãos”. Ainda no levantamento da CONAB, na soja 2019/2020, a estimativa

de média nacional é de 3,34 kg/hectare, enquanto no Paraná, conforme a SEAB , este patamar é previsto em 3,7 mil kg/hectare, com 3,95 mil kg/hectare para Guarapuava e outros 9 municípios. Ao mesmo tempo, nesta cultura, vários são os produtores de alta tecnologia que vêm buscando elevar suas produtividades. O centro-sul do Paraná já teve, em 2017, um vencedor do Desafio de Máxima Produtividade do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil). Naquele ano, o primeiro lugar ficou com Marco Seitz, de Guarapuava, com 149,8 sacas por hectare.

Marco e Alexandre Seitz, 1º lugar no CESB 2017

Pegando a estrada Também os produtores rurais de Guarapuava e região buscam mais conhecimentos em viagens técnicas. Várias destas iniciativas são organizadas, há anos, pelo Sindicato Rural e/ou por cooperativas. O destino são eventos de vários segmentos do agro, da erva-mate à produção de leite.