O impossível gerando o extraordinário

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O IMPOSSÍVEL GERANDO O EXTRAORDINÁRIO

Um

Organizadores

relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19
Renato Fonseca de Andrade Tirso de Salles Meirelles

Imagine a cena: de um dia para outro sua vida faz um giro de 180 graus e você tem que conviver com ondas de incertezas, medos, perdas. Parece filme de catástrofe, mas foi exatamente o que aconteceu com o planeta em março de 2020, quando foi decretada a pandemia do covid-19, que ressignificou a maneira de nos relacionarmos com o mundo, social e economicamente.

Os pequenos negócios foram intensamente atingidos por essa crise e seus empresários tiveram que buscar alternativas para continuar a jornada. Foi nesse ponto que o Sebrae fez valer sua missão de apoiar integralmente os pequenos negócios. De um lado, sua equipe totalmente engajada, criativa e apaixonada pelo que faz, desenvolveu e levou um conjunto de medidas de enfrentamento da crise a milhares de negócios. Do outro, seus dirigentes, em especial o presidente Tirso de Salles Meirelles e os diretores Marco Vinholi, Ivan Hussni, Guilherme Campos Junior e Wilson Poit (2020/2021), articularam ampla rede de sustentação a esse importante segmento, levando propostas que se converteram em políticas fundamentais à sua sobrevivência.

Como a instituição se reorganizou rapidamente para realizar projetos inovadores em um cenário em que o impossível era o protagonista? Quais foram os resultados para os empresários? Que lições levamos desse período?

Essas e outras questões estão neste livro que aponta caminhos para (re) construir as novas pontes rumo à sustentabilidade. Para mim, que atuo nos ambientes de estratégia, inovação e gestão empresarial, foi um aprendizado e tanto, pois tivemos a oportunidade de escrever o roteiro de um novo filme, em que o impossível não é uma variável paralisante. Ao contrário, nos anima a encontrar novas oportunidades não apenas de sobreviver, mas de ressignificar o ato de viver e empreender.

TIRSO DE SALLES MEIRELLES é economista, jornalista e pós-graduado em Administração de Empresas e em Políticas Públicas pela FAAP. Preside o Conselho Deliberativo do SEBRAE-SP e é vice-presidente da FAESP. Atua ainda como conselheiro na FIESP, USP e UNESP. Participa das atividades do SEBRAE-SP há mais de duas décadas, apoiando o desenvolvimento de projetos que integrem e elevem competitividade dos pequenos negócios do campo, da indústria, comércio e serviços.

RENATO FONSECA DE ANDRADE é doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos, e especializado em Gestão Empresarial pela FGV. Atua no fomento ao empreendedorismo no Sebrae-SP desde 1994, onde liderou projetos relacionados ao desenvolvimento local, orientação empresarial, inovação, empreendedorismo e gestão estratégica. Atualmente é assessor da Presidência do Sebrae-SP.

“Passados quase três anos de uma das piores crises mundiais, o sentimento que nos toma é de orgulho por fazer parte do processo de reconstrução dos pequenos negócios e da economia. O sistema Sebrae trabalhou incansavelmente realizando ações que beneficiaram os pequenos negócios e, por conseguinte, a população, uma vez que foram eles que melhor responderam ao desafio de gerar empregos: 80% em 2021. Além de orientação e capacitação, nossas propostas encaminhadas ao governo federal ajudaram a preservar os negócios, o emprego e a renda. Foi essa mobilização que impulsionou histórias como as que encontramos neste livro. Juntos, com diálogo e conectados, transformamos vidas.”

Presidente do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo e dos Conselhos Nacionais do Serviço Social do Comércio e Serviço Nacional de Aprendizagem

Esta obra traz um resumo do processo de reinvenção pelo qual passou o sistema Sebrae nos últimos anos. Para apoiar os empreendedores brasileiros no enfrentamento da pandemia de covid-19 — um dos maiores desafios do último século — a instituição buscou intensificar a construção de pontes que conectaram os donos de pequenos negócios à inovação, ao conhecimento e a um ambiente cada vez mais sustentável. As histórias dos empresários aqui relatadas refletem resiliência, criatividade e relevância de milhões de homens e mulheres que acordam cedo, todos os dias, para manter o país em movimento. Na contramão da crise, as micro e pequenas empresas continuaram gerando empregos e renda, contribuindo com a recuperação da nossa economia. O Sebrae cumpriu, desse modo, com seu papel para com o país provando que não existe o impossível para aqueles determinados a seguir adiante.

Os últimos anos mostraram que a resiliência é a marca registrada do empreendedor brasileiro. Enfrentando uma das piores crises sanitárias dos últimos 100 anos, ele não se deixou abater e foi em busca de soluções para sobreviver. Este livro revela parte importante da jornada, mostrando como empresas, empresários, colaboradores e o próprio Sebrae se reestruturaram e, assim, ultrapassaram a ponte das adversidades e conseguiram resultados incríveis para equações até então ditas impossíveis. Está assim inaugurada uma nova visão do mundo dos negócios e fico muito contente, como conselheiro do Sebrae-SP, por ter contribuído com essa trajetória vencedora.

José Roberto Tadros Comercial. Manuel Henrique Farias Ramos Presidente eleito Conselho Deliberativo Sebrae-SP (2023-2026)
www.sebraesp.com.br

O IMPOSSÍVEL GERANDO O EXTRAORDINÁRIO

Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

Organizadores

Renato Fonseca de Andrade Tirso de Salles Meirelles

O impossível gerando o extraordinário Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19 Copyright © 2022 Sebrae-SP

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610)

Presidente do Sebrae-SP Tirso de Salles Meirelles

Diretor-superintendente do Sebrae-SP Marco Vinholi

Diretor Técnico do Sebrae-SP Ivan Hussni

Diretor de Administração e Finanças do Sebrae-SP Guilherme Campos

Organizadores

Renato Fonseca de Andrade Tirso de Salles Meirelles

Editor Ricardo Viveiros

Produção de conteúdo e pesquisas Ada Caperuto Eliane Santos Vieira Julio Cesar Moreira Mônica Lucena Freire de Souza Ricardo Viveiros

Capista e Projeto gráfico Douglas da Rocha Yoshida

Editoração eletrônica Cesar Mangiacavalli

Revisão Vero Verbo Serviços Editoriais Imagens Arquivos do Sebrae-SP br.Freepik.com Ingram Image

Pré-impressão, impressão e acabamento Coktail Gráfica e Editora Eireli

O I m p o s s í v e l g e r a n d o o e x t r a o r d i n á r i o : u m r e l a t o d a a t u a ç ã o d o S e b r a e - S P n a p a n d e m i a d e C o v i d - 1 9 / o r g a n i z a d o r e s T i r s o d e S a l l e s M e i r e l l e s , R e n a t o F o n s e c a d e A n d r a d e . - - S ã o P a u l o : S E B R A E S P , 2 0 2 2

B i b l i o g r a f i a I S B N 9 7 8 - 8 5 - 7 3 7 6 - 1 4 6 - 7

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Índices para catálogo sistemático:

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Projeto e realização Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação Rua Capote Valente, 176 – Pinheiros – CEP 05409-000 São Paulo – SP – Brasil – Tel.: (55-11) 3675.5444 – www.viveiros.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

O porquê deste livro .............................................................................................................................. 5

PREFÁCIO

As lições aprendidas: o que ficou como entendimento do período da pandemia 9

CAPÍTULO 1

O ano que ninguém esperava, e que nunca acabou 21 Adriana e o início do pesadelo

....................................................................................................... 21 O início da quarentena e a volta por cima que Antonio deu 25 1918: outra pandemia 27

CAPÍTULO 2

O isolamento e o sonho de Juliana 31 Projeções negativas 35 Abril de 2020: paralisação geral 35 A reabertura gradual 37

CAPÍTULO 3

O Sebrae-sp: momento de transformar 43 Reshape : tempos extremos e o salto de Lucas 43 Sebrae-SP: hora de digitalizar 47 Bem pertinho de casa 49 O Sebrae-SP faz a ponte e Leandro segue adiante 53 Do campo à mesa, as lições 55 Soluções digitalizadas para os clientes, inovar foi preciso 57 Iniciativas para empreendedores como Laura 63 Pacotes de auxílio e concessão de crédito, aprendendo Economia 65 A importância da educação empreendedora: o futuro da inovação 69

CAPÍTULO 4

Uma nova esperança 75 Surge a vacina 75 A vacinação 77 Momento de consolidação com conhecimento 79 O Sebrae do Futuro avança em 2021 85 Conexões digitais ampliadas e o exemplo de David 87 Facilitar, aproximar e incluir: dos quilombos para o mundo 93 Boas-novas para os empreendedores 96 Novos voos da educação empreendedora, ensinando e aprendendo 99 Hub de Inovação 101

CAPÍTULO 5

Rumo ao futuro, agora fortalecidos 109

CAPÍTULO 6

Transformações reais 113

A palavra dos empreendedores 113 Cabeça de empreendedora 113 Um futuro bem alimentado ............................................................................................................. 115 Experiência em ação 117 Vencendo 100% a desconfiança 119 Inovação com resultado 121

APRENDIZADOS FINAIS

Sebrae-SP: presença que transforma o “impossível” 125

AGRADECIMENTOS 132 REFERÊNCIAS 134

Sumário APRESENTAÇÃO
br.freepik.com 6
A Avenida Paulista antes da pandemia

O porquê deste livro

Apandemia de covid-19 parou o mundo. De repente, tudo virou de cabeça para baixo, nada mais era como antes e a vida “normal” deixou de existir. Com o susto inicial, impôs-se o isolamento obrigatório, na tentativa de frear um vírus contra o qual não havia tratamento conhecido. As máscaras escondiam parte do rosto das pessoas e deixavam à mostra apenas os olhos, e o que se via era muita preocupação e temor, à medida que aumentava seguidamente o número de contágios e mortes.

Com a população isolada, o consumo despencou e, no período inicial, só funcionavam os mercados, as farmácias e os serviços essenciais, mesmo assim com restrições. Milhares de micro e pequenas empresas (MPEs) foram obrigadas a encerrar suas atividades, com as inevitáveis consequências. Em apenas quatro meses, entre março e julho de 2020, nada menos do que 716 mil negócios fecharam as portas, de acordo com a pesquisa “Pulso Empresa: impacto da covid-19 nas empresas”, do IBGE, enquanto outros 600 mil suspenderam as atividades.

Era um cenário perturbador, em especial quando se sabe que por trás desses números havia pessoas que aceitaram o desafio de empreender e, sem mais nem menos, sem nenhuma culpa, subitamente viram ameaçada a fonte de sustento de suas famílias e das famílias de seus funcionários. Por trás das estatísticas estavam a Adriana, de Santo André, a Juliana, de São Bento do Sapucaí, o Antônio, de Franca, o Lucas, de São Paulo e centenas de milhares de outros empreendedores atingidos pela pandemia, todos em busca de uma tábua de salvação.

Bem além das estatísticas, são pessoas reais, e nos 645 municípios paulistas os times de técnicos dos Escritórios Regionais do Sebrae-SP conhecem muitas delas pelo nome e as acompanham há vários anos, atendendo de perto suas demandas e necessidades. Essa legião de empreendedores, responsável pela criação de renda e pela maioria dos empregos formais, sempre contou com o Sebrae-SP nos bons e nos maus momentos, e a entidade não poderia se omitir justamente quando sua presença era mais importante.

Superado o impacto inicial da crise, o Sebrae-SP com rapidez se preparou para fortalecer, ainda mais, o trabalho que sempre realizou nas últimas cinco décadas: apoiar as micro e pequenas empresas da melhor forma possível e, assim, colaborar para o fortalecimento da economia e do empreendedorismo.

O presidente do Sebrae-SP, Tirso de Salles Meirelles, pessoalmente, rodou mais de 200 mil quilômetros entre 2020 e 2021, reunindo-me com empresários, lideranças, colaboradores das empresas e do Sebrae-SP. Realizou e participou de centenas de reuniões virtuais, transmitidas enquanto estava nas rodovias, em postos de gasolina, em sua própria casa, no escritório. Ele relata, em particular, uma reunião em que

Apresentação
7 Apresentação
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Avenida Paulista, na capital de São Paulo, totalmente vazia durante o lockdown

estava no interior paulista. Eram 8 horas da noite, e se encontrava parado num posto de gasolina; o sinal de celular oscilava muito. Entretanto, dali, de um jeito improvisado, mas muito eficiente, conversou com empreendedores da Baixada Santista que estavam interessados em participar do movimento de apoio aos pequenos negócios. E, assim, este livro surgiu da necessidade de registrar o que foi, para os empresários e para o Sebrae-SP, essa jornada de imensas dificuldades da pandemia de covid-19, iniciada em março de 2020 e ainda não totalmente extinta.

O objetivo aqui é apresentar um relato consistente do trabalho da entidade no apoio aos microempreendedores individuais e às micro e pequenas empresas paulistas durante esses dois anos e meio de obstáculos, mas também de reinvenção e preservação da esperança. Mais do que isso, pretendemos destacar a transformação pela qual o Sebrae-SP passou para atender com velocidade e eficiência às necessidades das empresas, assim como os resultados obtidos. Ao mesmo tempo, apresentamos relatos de personagens que se adaptaram para sobreviver aos efeitos adversos da maior crise sanitária global dos últimos tempos.

Esse processo foi marcado pela celeridade na criação e na implementação de novas estratégias, que poderão ser conhecidas em detalhes nas páginas a seguir. É um conjunto de soluções marcadas pela alta conectividade, por meio da expansão da rede de parceiros, resultado do trabalho diário dos profissionais, do presidente e da diretoria da entidade para expandir e consolidar o sistema de apoio aos negócios de pequeno porte.

Mostramos neste livro, em primeiro lugar, o processo de reinvenção do Sebrae-SP, que soube dar uma resposta à altura das demandas do seu público-alvo, reorganizando-se rapidamente para atender, orientar e capacitar os empreendedores e as empresas. Esse esforço levou também à transformação dos negócios e das localidades em que estão inseridos, por meio de um trabalho realizado em cinco eixos distintos: inclusão produtiva, transformação digital, expansão física, inovação e educação empreendedora.

Foi um período marcado também pelo conceito de reconstrução, com foco no crescimento sustentável e, sobretudo, no que denominamos reshape, um modo diferente de agir a partir de um novo olhar para o futuro do Sebrae nos próximos 50 anos.

Este livro, acima de tudo, é o registro das lições que todos aprendemos com a pandemia de covid-19. E que sirva de ensinamento para o futuro, porque o impossível gera o extraordinário quando somamos esforços de modo responsável.

Boa leitura!

9 Apresentação
Marco Vinholi, Diretor-Superintendente Ivan Hussni, Diretor Técnico Guilherme Campos Junior, Diretor de Administração e Finanças
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Imagem de uma família durante a pandemia de gripe espanhola, em 1918

Prefácio

As lições

o que ficou como entendimento do período da pandemia

Em março de 2020, o Sebrae-SP empreendeu uma longa viagem, em uma verdadeira jornada para evitar que as micro e pequenas empresas fechassem as portas e sucumbissem às graves consequências da pandemia. Duas fotos emblemáticas da avenida Paulista, uma das mais movimentadas da cidade de São Paulo, ajudam a concretizar a crise que viria. Na primeira, no fim de fevereiro de 2020, as pessoas e os veículos ocupavam todos os espaços das calçadas e das pistas, como acontece no dia a dia. Na segunda imagem, do dia 23 de março, quando foi decretado o lockdown, menos de um mês depois, o que se via às 9 horas da manhã na Paulista era um panorama de desolação, um vazio total, nenhuma pessoa, nenhum carro, como se fosse uma cena saída de um filme de ficção científica.

Era o retrato fiel de um período de espanto e apreensão, de incerteza e instabilidade, surgido da noite para o dia. E, é claro, foram tempos de temor. Ainda no dia 14 de março de 2020, quando surgiram as notícias da ocorrência de um estranho vírus na China, um grupo de líderes do Sebrae-SP fez uma pesquisa com a ferramenta Google Trends e verificou que havia ocorrido um salto enorme no número de buscas pela palavra “medo”. O mesmo aconteceu com os termos “ansiedade”, “ajuda” e “seguro-desemprego”. Havia alguma coisa no ar. As pessoas já percebiam que uma ameaça concreta e terrível surgia no mundo – isso dez dias antes do lockdown.

Em busca de dados mais concretos, a equipe do Sebrae-SP pesquisou informações relacionadas à gripe espanhola, que assolou o planeta entre janeiro de 1918 e dezembro de 1920 e matou 50 milhões de pessoas. Era mais uma tentativa de buscar algum aprendizado para entender como a instituição poderia ajudar, de modo concreto, as empresas na grave crise sanitária que se aproximava. Não havia muita informação a respeito do problema, mas uma imagem, em especial, chamou a atenção: uma família de seis pessoas foi fotografada com máscaras de proteção, e um homem de terno escuro e chapéu segurava um gatinho, o animal também com máscara.

Naquele dia ainda não havia consenso em relação ao uso de máscara, mas hoje se sabe com certeza que, se esse procedimento simples tivesse sido adotado de modo amplo, logo no início da pandemia, muitas vidas se salvariam. O que toda a Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo do Sebrae-SP buscavam, de fato, era um tipo de máscara que protegesse as micro e pequenas empresas paulistas. Não havia perspectivas nem previsões seguras, ninguém tinha ideia de como o problema afetaria os negócios, mas era preciso buscar soluções efetivas, e rapidamente. Ficou claro que todos viviam na incerteza, sem conhecimento para lidar com o imprevisto.

aprendidas:
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No universo corporativo, fala-se muito em plano de negócios, em previsibilidade, o que dá a impressão de que sempre há alguma fórmula mágica que trará as respostas desejadas. Contudo, descobriu-se que o planejamento, por mais bem-feito que seja, é a mera referência de um cenário imaginado. Era hora de assumir a premissa de que as pessoas e as empresas sempre lidam com um ambiente de incerteza e é preciso estar preparado para navegar nesse cenário. Para o Sebrae-SP, esse entendimento representou um aprendizado de fundamental importância.

Decretado o lockdown, a instituição começou a elaborar um estudo prospectivo para entender o que poderia acontecer com os pequenos negócios nas semanas seguintes. Logo se percebeu que ficariam sem caixa, sem dinheiro para pagar o aluguel e os demais compromissos; teriam de juntar tudo o que entraria nos próximos meses para remediar a falta de caixa.

Era preciso seguir vendendo, e quem não estava digitalizado encontraria problemas sérios, em especial nos grandes segmentos como alimentação e vestuário, e no comércio em geral. Tudo ficaria estrangulado pela pandemia. A partir daí, o Sebrae-SP delineou um cenário que deu um direcionamento para a construção de ferramentas de ajuda imediata.

Uma das lições aprendidas é que instituições como o Sebrae são feitas para momentos de dificuldade, e era hora de pôr a mão na massa. Em apenas uma semana, a diretoria e a equipe gerencial da entidade mobilizaram 1.100 funcionários para atuar no modelo de home office, uma experiência nunca feita antes. Assim, teve início o atendimento online por meio de lives e consultoria remota, não apenas empresariais, uma vez que também se requeria um apoio psicológico a empresários que estavam perdendo tudo e, para complicar, alguns relatavam casos de morte na família. Essas pessoas começaram a procurar o Sebrae-SP num misto de busca de respostas, e alento.

Quais eram as respostas salvadoras? Antes de pensar com objetividade na resposta, foi necessário buscar a articulação com os governos federal e estadual no sentido de atuar com alinhamento e fazer com que os necessários recursos chegassem à população. Sem isso, qualquer projeto do Sebrae-SP no sentido de salvar as micro e pequenas empresas paulistas não poderia se concretizar. Firmada essa cooperação, o próximo passo foi formular um algoritmo que se tornaria o que a direção do Sebrae-SP denominou “kit de enfrentamento”. Levou-se em conta a necessidade de desenhar cenários e revê-los diariamente, para redirecionar as estratégias de acordo com o rumo dos acontecimentos. Seria preciso avaliar cada detalhe da evolução da pandemia e de suas consequências para encontrar o melhor caminho a seguir e perceber onde estariam os riscos e as oportunidades para os empreendimentos de pequeno porte. Por exemplo, se essa avaliação fosse feita hoje, deveria considerar que no segundo semestre de 2022 a Europa passava por uma crise econômica provocada pela invasão russa na Ucrânia. As empresas estavam desligando o ar-condicionado para economizar energia e, no inverno que

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se aproximava, faltaria gás para aquecimento. Em cenários como esse, o empresário deve pensar: isso pode afetar minha empresa de alguma maneira? Tenho alguma oportunidade de negócio, de exportação, de aprendizado? Esse tipo de lógica, com base nos sinais dados pelo mundo, é importante para aquilo que todos nós fazemos no dia a dia.

Em março de 2020, a preocupação era outra, e um lanche no meio da tarde fez diferença no esforço que o Sebrae-SP empreendia para encontrar as melhores respostas. Saímos para um almoço tardio, depois de várias reuniões, e não encontramos lugar nos restaurantes de costume. Resolveram então ir à Art Esfiha (ver página 40), no Paraíso, com a ideia do “kit de enfrentamento” na cabeça. Repetíamos entre nós: “Tem que renegociar aluguel, tem que digitalizar”. Ao chegarmos à lanchonete de comida libanesa, a proprietária estava sentada à mesa, desesperada. Quando soube que éramos do Sebrae-SP, ela apelou: “Vocês têm que me ajudar”. Escrevemos o algoritmo para ela num guardanapo de papel e explicamos a ideia: “A senhora vai precisar fazer isso e isso, renegociar aluguel, vender pela internet, mudar o comportamento”. E ela: “Mas como? Nunca atrasei o aluguel e ainda tenho caixa”. Ao que respondemos: “Não é para agora, é para daqui a três, quatro meses”. A conversa seguiu em frente, até que todos perceberam que ali estava sendo validada a resposta que as empresas esperavam e de que tanto precisavam.

Somado à expertise dos vários consultores da instituição, o “kit de enfrentamento” ganhou forma. Numa madrugada, foi construído um simulador de caixa que dava quatro meses de prazo para renegociar aluguel e as contas dos fornecedores. E também apontava como adotar técnicas capazes de fechar a torneira das despesas e permitir que o negócio sobrevivesse – muitas empresas passaram pela pandemia graças ao simples procedimento de controle de caixa.

Na Art Esfiha surgiu também a primeira lição: ouça sempre o seu cliente, pois você vai aprender muito, com certeza. A segunda lição: as empresas precisam de caixa para, pelo menos, quatro meses. Esse foi um aprendizado que ficou na cabeça de todos: são necessários ao menos quatro meses de folga de caixa.

Naquele momento veio o insight fundamental: a missão do Sebrae-SP deveria ser a equação do impossível. Ou melhor, a solução de problemas que pareciam impossíveis. O conceito de “impossível” é vago e, muitas vezes, aplica-se a problemas de difícil solução. Por exemplo, certo dia um empresário do setor industrial calçadista entrou em contato com o Sebrae-SP porque estava com um caminhão cheio de produtos para entregar em um shopping e encontrou tudo fechado. Queria uma ajuda urgente para não perder a carga. A partir do apelo daquele empresário, em duas semanas o gerente do Sebrae-SP em Franca criou um marketplace que permitiu o contato direto entre o setor industrial e o consumidor, usando plataformas digitais já existentes.

Por meio da premissa de equacionar o impossível, a direção do Sebrae-SP relacionou em uma semana uma série de problemas que precisariam ser resolvi-

13 Prefácio
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Marcia Abbud, proprietária da Art Esfiha, negócio onde surgiu a proposta do "kit de enfrentamento"

dos com urgência, por exemplo, encontrar uma solução que permitisse ao produtor rural entregar alface aos clientes e à Ceagesp. Porque, naquele momento, uma das dificuldades era garantir o abastecimento de alimentos na cidade de São Paulo.

A essa necessidade se somavam várias outras, até então consideradas impossíveis: ajudar o setor de flores a vender durante a pandemia e não perder tudo o que brotava nas plantações; apoiar os produtores no esforço de vender pela internet; salvar 2,5 milhões de empregos na cadeia do etanol; ajudar empreendedores e profissionais a evitar perdas decorrentes da pandemia; negociar soluções que permitissem aos caminhoneiros condições para fazer o transporte das propriedades rurais até o Ceagesp; encontrar uma solução para que mil feiras livres se mantivessem em funcionamento na capital paulista, a partir de um conceito de “feira segura”, em que, uma vez tomadas todas as medidas sanitárias recomendadas, esse importante meio de comércio de alimentos se mantivesse em operação; proporcionar às indústrias do setor calçadista condições de vender os produtos estocados; facilitar aos pequenos negócios o acesso ao crédito; oferecer orientação e segurança sanitária às empresas de todos os segmentos, e assim por diante.

Eram, todos, problemas complexos que requeriam soluções rápidas. No começo da pandemia, houve uma corrida aos mercados para comprar alimentos, papel higiênico, álcool e tudo o mais. Falava-se que ia faltar comida, o que preocupava muito a população, e era preciso apoiar toda a cadeia produtiva de frutas, verduras, hortaliças e outros itens para que o abastecimento não fosse interrompido – mil feiras livres paulistanas, por exemplo, abastecem 40% dos consumidores de uma cidade de 12 milhões de habitantes. Para mantê-las em atividade, seria preciso criar um protocolo sanitário que atendesse às regras de proteção e evitasse o contágio. Esse protocolo de feira segura foi construído numa madrugada pelas equipes do Sebrae-SP, Senar-SP, ao lado de técnicos do Ministério da Agricultura, num exercício surpreendente de cooperação de pessoas que não se conheciam. E o abastecimento não parou.

Ao mesmo tempo, outra solução para uma equação impossível: a criação do Pertinho de Casa, uma plataforma digital que estimulou as compras no comércio do bairro e acelerou o processo de digitalização das empresas. Por teleconferência, o Sebrae-SP reuniu-se inicialmente com a Accenture e, na sequência, com os representantes do Facebook, do Google e de outras redes numa sexta-feira, apresentou o problema e perguntou como poderiam ajudar. Em duas semanas, o Pertinho de Casa começou a funcionar, para benefício de um número incontável de micro e pequenos negócios.

Houve uma preocupação também em relação ao impacto emocional da pandemia, que provocou uma espécie de estresse pós-guerra entre os empreendedores. O Sebrae-SP juntou-se ao Fundo Social do Estado, contando com a participação da primeira-dama Bia Dória, à Faculdade de Psicologia da USP e a outras instituições para apoiar a construção de uma plataforma de atendimento online que capacitou todos os municípios paulistas para o atendimento de pessoas com problemas de trauma e saúde mental.

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E qual foi o custo de todas essas iniciativas? Nada. Quantos novos contratos tiveram de ser feitos? Nenhum. Isso aconteceu por causa de um fenômeno que combinou prioridade e convergência e se tornou um dos aprendizados mais relevantes da instituição. Muitas pessoas diziam que seria difícil demais, e não havia razão para quebrar a cabeça tentando fazer tudo isso, que ninguém havia conseguido nada parecido, não ia dar certo. O Sebrae-SP seguiu em frente em busca do que acreditava ser necessário, para encontrar o “X” da equação impossível.

Surgiu então outro aprendizado significativo: momentos adversos formam líderes legítimos. Em outras palavras, as empresas e as instituições precisam trabalhar com os recursos que têm à mão e encontrar soluções efetivas para os obstáculos que aparecem, as pedras no meio do caminho. O empreendedor precisa assumir a responsabilidade de dirigir sua equipe, tendo a consciência de que muita gente depende de suas decisões e de suas ações. Se a situação é difícil, reinvente-se para encontrar a saída, com fé e confiança.

Foi isso o que aconteceu no Sebrae-SP no início da pandemia. O time vestiu a camisa, pôs a mão na massa e conseguiu criar novos modelos de negócio para tempos de crise. E os resultados apareceram. Não faltaram alimentos em São Paulo e a cadeia de abastecimento funcionou de modo pleno, incluindo os portos e as exportações. Ao mesmo tempo, com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), produtoras rurais fabricaram, de imediato, mais de 4 milhões de máscaras de proteção que evitaram que mais pessoas se contaminassem com o vírus. Em resumo, os produtores rurais não pararam, garantiram o abastecimento e, graças a isso, não houve convulsão social, nem saques, como algumas pessoas temiam.

O mesmo ocorreu com a produção de flores na região de Campinas e Holambra, onde o Sebrae-SP se uniu a várias entidades para evitar perdas e manter as vendas durante a pandemia, inventando novos canais de comercialização. Nesse sentido, destacou-se a recém-criada plataforma Pertinho de Casa, que até hoje é utilizada com sucesso em 26 estados brasileiros por produtores rurais e empresários, com a participação de mais de 15 mil vendedores e milhares de negócios realizados pela internet. Na cidade de São Paulo, as mil feiras livres também se mantiveram em atividade depois do protocolo sanitário criado com a participação da instituição e, mais tarde, adotado em várias outras regiões. A solidariedade emergiu forte neste período. Além dos 4 milhões de máscaras produzidas por mulheres de todo Estado, foram realizados mais de 500 mil testes junto aos produtores e empregados rurais paulistas. Tudo gratuitamente.

Essa rede de parceiros também criou mecanismos de estímulo ao consumo de etanol, que estava sobrando nas usinas, e acionou órgãos públicos, indústrias e empresas para que abastecessem suas frotas com álcool, na meta de salvar 2 milhões de empregos em toda a cadeia de produção e distribuição. As iniciativas conseguiram mobilizar a sociedade, aumentar o consumo e reduzir os estoques.

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O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

No setor calçadista de Franca, as ações do Sebrae-SP, em parceria com entidades locais, conseguiram superar o desafio de proporcionar às indústrias a comercialização dos estoques encalhados. Mais de 50 empresas começaram a vender pela internet, o que permitiu a concretização de negócios superiores a R$ 2,5 milhões e a consolidação do conceito direct to consumer

Em outra vertente, o Sebrae-SP mobilizou parceiros para a formação de uma rede especializada de apoio que ajudou empreendedores e profissionais a lidar com as perdas pessoais e financeiras decorrentes da pandemia. Entre outras iniciativas, os especialistas buscaram o fortalecimento da autoestima da população, para enfrentar as situações de estresse pós-traumático.

Em relação à necessidade urgente de crédito para os micros e os pequenos negócios, as iniciativas da instituição também tiveram efeito imediato e permitiram a liberação de R$ 170 milhões – a juros subsidiados. Para isso, houve um trabalho de orientação com as instituições financeiras e a sensibilização para a necessidade de acelerar medidas para fazer o crédito chegar realmente às empresas. E surgiu nesse período o embrião da rede de fomento à inovação dos pequenos, com a visita a todos parques tecnológicos do Estado de São Paulo

Depois de toda essa verdadeira maratona destinada a combater os efeitos da pandemia, os profissionais do Sebrae-SP chegaram a uma conclusão que vale como ensinamento para todos os empreendedores: o impossível não existe! Sim, ficou provado nesse período tão difícil que o impossível não prevalece no universo corporativo. Há, sem dúvida, problemas, dificuldades, obstáculos e crises que parecem não ter fim, mas há também uma solução para cada caso, desde que as pessoas se unam em busca das respostas para equações que parecem impossíveis. A barreira do impossível está, em princípio, na cabeça de cada um, na maneira como cada um enfrenta uma situação inesperada – ou seja, muitas vezes as pessoas criam os próprios muros e acham que não vai dar certo, por isso nem vale a pena tentar. No entanto, o Sebrae-SP constatou que, simplesmente, o impossível não existe para quem quer seguir adiante.

Desse aprendizado fundamental, a equipe Sebrae-SP, orientada pela direção da entidade, colocou em prática, paulatinamente, o conceito de reshape, da reinvenção, com as lições que aprenderam no esforço para a superação das consequências da pandemia de covid-19 nas micro e pequenas empresas de São Paulo e do Brasil. Não houve planejamento estruturado para chegar a essas lições e tudo foi feito empiricamente, em batalhas travadas dia e noite com a determinação de vencer a guerra e encontrar um padrão de conduta para os empreendedores.

Foi um processo que combinou atitude e técnica, em um redesenho das atitudes pessoais e profissionais que se tornam necessárias também agora. Em resumo, destacam-se 10 lições principais, que representam um norte para empresas e empreendedores:

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Para atender os empreendedores de todo o Estado de São Paulo, durante a pandemia, foi preciso sair a campo, percorrer quilômetros de estradas, improvisar "escritórios" onde fosse possível, atendendo a quem precisava de apoio naquele momento

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1 Aprenda a interpretar os sinais ao seu redor. O tempo todo o mundo emite sinais importantes que não devem ser desprezados. O empreendedor precisa ficar atento para captar essas mensagens e saber empregar cada uma delas em seu negócio, por meio da observação de tendências e comportamentos, para antecipar seus movimentos.

2 Valorize os recursos disponíveis (conhecimento, experiência, redes, capital, estruturas, estoques etc.). Lembre-se de que crédito nem sempre é a única salvação; o dinheiro não é tudo. O crédito é parte importante do processo, mas há outras iniciativas também fundamentais. Quando não é possível ter tudo o que gostaria – por exemplo, uma consultoria especializada em redes sociais ou computadores novos e mais potentes –, o empreendedor deve encontrar soluções com os recursos de que dispõe, porque não dá para ficar esperando. Pode faltar dinheiro, equipamento ou pessoal, mas empreender significa vencer adversidades para fazer as coisas acontecerem com os recursos disponíveis. Pequena empresa trabalha com pouco dinheiro, não tem jeito, e é preciso aprender a administrar com essa realidade.

3 Substitua o sentimento de perda pela possibilidade de reconstrução. Trata-se de reorganizar a mente, de abrir os olhos e deixar de achar que tudo está ruim, para perceber também o que vai bem, a possibilidade de novos caminhos. Essa é a única escolha possível. Houve quem desestimulasse as iniciativas do Sebrae-SP, a turma do “não vai dar certo”, mas os times conseguiram superar esse sentimento com crença positiva. E além, trabalhando firme para alcançar resultados.

4 Defina suas premissas. Determine uma base para a criação dos pensamentos, pontos de vista e iniciativas que poderão ser aplicados a partir de agora, para que sua empresa fortaleça e seja capaz de enfrentar eventuais crises no futuro.

5 Mobilize outras pessoas e use suas conexões intensamente. Uma rede forte de contatos pode ser o principal ativo de uma pequena empresa para a condução dos negócios – ou seja, as pessoas com as quais você pode contar. Trabalhe com essas pessoas, converse e peça ajuda quando necessário, sem nenhum receio. É preciso negociar o aluguel? Então vá atrás disso e use os seus relacionamentos para resolver o problema.

6 Mantenha o propósito diante das objeções e das dificuldades. Propósito é uma palavra mágica, um farol na busca dos seus objetivos. É o seu objetivo, e vale muito a pena se esforçar para alcançá-lo. Mesmo quando surgem dificuldades.

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7 Pense na melhoria da coletividade. Esse é um importante upgrade para o fortalecimento de qualquer negócio. Quando você vê que sua empresa está ajudando a coletividade, tudo muda de figura. E uma pequena empresa que já começa ou inclui esses valores ao seu dia a dia, ganha musculatura para tomar decisões mais robustas e com impacto positivo na sociedade.

8 Planeje para curto espaço de tempo e remodele a realidade. Apesar da possibilidade de imprevistos, faça o seu planejamento anual. Portanto, faça uma projeção para o ano, mas faça também para o mês, a quinzena e a semana. Pequenos negócios trabalham melhor em intervalos curtos em termos de planejamento.

9 Execute com transparência e energia. Trabalhe com vontade, paixão e desejo real para fazer acontecer, quase como uma obsessão, uma vontade aparentemente maluca de fazer seu projeto dar certo. De alguma maneira, os resultados aparecerão.

10 Compartilhe os resultados com todos e valorize a união. Divida as vitórias e os problemas com sua equipe, mesmo que seja uma equipe de uma só pessoa. Valorize os profissionais que trabalham com você, porque esse sentido de união proporcionará resultados no futuro.

Essas 10 lições simples e viáveis permitiram que o reshape passasse do conceito à prática, acolhendo aspectos de gestão – como planejar para o curto prazo, ativar redes de contato e escolher pessoas – e comportamentais – como vontade, persistência e resistência às dificuldades, que dão a energia necessária para que tudo dê certo. Dificilmente os negócios vão sucumbir se essas lições forem adotadas na íntegra, visto que representam também uma maneira de encontrar desvios para eventuais correções de rota.

A partir daí surgiram algumas reflexões. Crises de fato produzem inovações, ficou provado e comprovado. Precisa ser sempre assim? Será que as micro e pequenas empresas precisam sofrer para produzir inovação? É claro que não. É possível inovar em situações normais, com vontade e uma rede de contatos potente.

A equipe do Sebrae-SP também constatou que em situações adversas os acordos ocorrem com mais fluidez. Prova disso está no momento em que passou o pico da pandemia, a reunião que era rápida virou presencial e lenta, e a decisão que o empresário tomava sozinho passou a requerer consultas a duas ou três pessoas. Precisa ser assim? O Sebrae-SP acha que não, pois a pequena empresa deve ser rápida. A pandemia mostrou que é possível aprender a agir com determinação e decisão.

Uma verdade ficou clara: o futuro é incerto e “implanejável”, mas as lições do passado são importantes para enfrentar novos problemas e criar uma cultura de aprendizado. Não é preciso começar do zero, como nós começamos por não ter informações relevantes sobre a crise da gripe espanhola no início do século XX. Da mesma

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maneira, o Sebrae-SP aprendeu a arte de fazer a convergência para um mesmo propósito, aplicando experiências exitosas que colhemos em diversas entidades e também no sistema Sebrae, em especial nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outros. Mais que os aprendizados, a conexão e o fortalecimento entre os estados e o Sebrae Nacional - que passou a ter um escritório instalado na sede do Sebrae-SP - foram vitais para tomada de decisões mais eficientes.

Todo esse aprendizado culmina no momento atual: como construir um futuro melhor, com mais qualidade de vida e melhor aproveitamento do tempo? Como absorver novos conhecimentos e contribuir para o bem-estar da coletividade? Que tipo de vida cada um pretende levar de agora em diante? Essas são as questões que ficam e requerem uma pausa para reflexão, um posicionamento em relação à vida e às lições deixadas pela pandemia. Sem dúvida, o Sebrae-SP acelerou a digitalização de seus processos e de suas ações, sua equipe está muito mais unida, surgiram novos produtos e novas parcerias, muita coisa boa aconteceu. E esse aprendizado precisa servir para que as organizações e as pessoas saibam fazer as escolhas no tempo certo e do melhor modo possível, para orientar decisões pessoais e profissionais de agora em diante.

A ideia é que cada um se faça a pergunta: “E agora? Qual é a minha equação impossível?”. A resposta pode ser escrita em um papel, mesmo que a meta pareça impossível. Esse pode ser o início da construção de uma convergência de pensamento capaz de indicar as soluções que vão abrir caminho para a realização dos objetivos, ou pelo menos chegar bem próximo disso. Este é o apelo do Sebrae-SP aos empreendedores: desafiem o que parece impossível. Apesar dos sérios danos que provocou, a pandemia também permitiu que muitas qualidades pessoais desabrochassem.

Em 29 de novembro de 1935, na véspera do seu falecimento, o genial poeta português Fernando Pessoa escreveu num pedaço de papel, em inglês, seu último verso: I know not what tomorrow will bring – “Não sei o que o amanhã trará”. De fato, o futuro é incerto e ninguém sabe o que vai acontecer nem daqui a pouco. Portanto, é preciso valorizar o momento atual, como ponto de partida para novas conquistas, com base nas lições aprendidas desde março de 2020. Numa das noites em que uma equipe do Sebrae-SP planejava as próximas iniciativas da instituição, no auge da crise, alguém exclamou: “Isso daria um livro!”. Sim, com certeza. E deu. Este livro foi editado pensando no coletivo, para que essas lições não sejam esquecidas e sirvam para ajudar muitas e muitas pessoas ao longo do tempo.

Nas páginas a seguir, vocês vão conhecer em detalhes toda essa vencedora experiência, numa cronologia da pandemia de covid-19, que mostra, de um lado, os momentos mais dramáticos e as perdas. De outro, a união, o encorajamento, a criatividade, o trabalho em equipe e os relatos de superação de muitos empreendedores. São histórias que, além de emocionar, com justiça registram verdadeiras lições de equações possíveis.

Juntos somos mais fortes, sempre!

Tirso de Salles Meirelles, presidente Renato Fonseca de Andrade, assessor da presidência

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Adriana e o início do pesadelo

Março de 2020, Santo André, Região Metropolitana de São Paulo. Adriana Gonçalves andava satisfeita com a trajetória de sua empresa de marmitas fitness. “Tudo estava indo muito bem. Eu vendia uma média de 30 marmitas por dia, fora os produtos fitness”. Entretanto, o mundo inteiro vivia a expectativa do surgimento de uma nova doença, às vezes com desfecho fatal, provocada por um estranho agente denominado “novo coronavírus”. No dia 11 daquele mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou oficialmente a existência da pandemia de covid-19. Foi um fato inesperado, e as nações ao redor do planeta tomaram providências imediatas para evitar mortes, reduzir danos.

“De repente, o comércio fechou”, lembra Adriana. “Na minha cabeça, as medidas de restrição iam durar apenas uns 10 dias, só que foi durando 20 dias, depois um mês, e assim por diante. Meus clientes pararam de comprar comigo e começaram a cancelar pedidos. Foi quando minhas contas cresceram”.

Como a maioria dos empresários, Adriana acabou se perdendo em meio ao caos estabelecido, que afetou o seu negócio. Sem saber o que fazer, ela começou a afundar em dívidas, uma vez que não havia se programado para um imprevisto como esse.

No final de abril de 2020, o Sebrae-SP ajudaria a mudar a vida de Adriana, que ainda não era formalizada e nem sabia como começar a empreender de verdade. Alguém sugeriu que ela fizesse o curso “Organize seu Negócio”, e logo em seguida um consultor do Sebrae-SP perguntou o que mais ela gostava de fazer. Adriana disse que gostava de criar e produzir bolos e doces e, também, de organizar eventos. A partir daí, recebeu ajuda para reestruturar sua atividade e logo passou a ter lucro com as encomendas. Hoje, ela trabalha com preços tabelados para atender a todas as demandas possíveis e tem uma presença estruturada nas redes sociais.

“A Drikka Doces Finos acabou ficando pequena para o meu apartamento. Meu desejo agora é ir para um local maior, que suporte a demanda, e que eu possa colocar mais gente para trabalhar comigo. O Sebrae ajudou a recolocar meu negócio nos trilhos, devolveu a minha vontade de empreender e de fazer aquilo que eu gosto, que é levar alegria às pessoas”, afirma Adriana.

A crise sanitária se estenderia pelos dois anos subsequentes e além, mas, apesar das gigantescas perdas que provocou na economia de todos os países, sem exceção, seus efeitos foram pouco a pouco controlados, sobretudo a partir de 2021. Os cuidados com a prevenção e as vacinas desenvolvidas por diversos centros de pesquisa permitiram que a vida voltasse aos padrões de quase normalidade.

Capítulo 1
O ano que ninguém esperava, e que nunca acabou
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O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

Adriana Gonçalves, da Drikka Doces Finos
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Foto: Ricardo Matsukawa

Como Adriana Gonçalves, muitos empreendedores conseguiram encontrar um novo caminho para se reerguer. Um dos elementos positivos dessa séria crise foi a maneira célere como a sociedade como um todo e, em especial, os setores produtivos reagiram para que os efeitos da pandemia não fossem ainda mais graves e, talvez, irreversíveis.

Nesse contexto é que se desenvolveu a atuação do Sebrae-SP, que pode ser definida por algumas palavras-chave: transformação, criatividade, coragem, celeridade e reconstrução. A entidade deu uma resposta à altura das necessidades de seu público-alvo – microempreendedores individuais (MEIs), proprietários e gestores de micro e pequenas empresas (MPEs) e pessoas físicas (futuros empreendedores), organizando-se com velocidade para atender, orientar e capacitar. Dessa maneira, não apenas cumpriu sua missão institucional de “promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e estimular o empreendedorismo”, mas também se posicionou como um autêntico e importante no desenvolvimento de empresas e das localidades nesse momento muito difícil vivido pelos brasileiros. Antes do relato dessa história de coragem, criatividade, dinamismo e conquistas, é preciso voltar um pouco no tempo. Desde de janeiro de 2019, quando assumiram a gestão para o mandato 2019-2022, a presidência e a diretoria executiva do Sebrae-SP deram início a um aprofundado trabalho de reconfiguração da entidade. O objetivo foi alinhar sua atuação com os desafios do mercado, da economia e das tendências de negócios vislumbrados para as duas próximas décadas. Esse trabalho começou pelo necessário resgate da identidade dos próprios colaboradores, que dia a dia movimentam o ecossistema do Sebrae-SP.

Ao longo de 2019, foi realizado todo um esforço de motivação desses profissionais para a construção de elementos que os vinculassem a um propósito corporativo, algo fundamentado na contribuição que entregam à sociedade. Foi preciso resgatar os valores que sustentam o Sebrae-SP, quer em sua missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios, quer, com o mesmo empenho, no fomento ao empreendedorismo como fator de fortalecimento da economia nacional.

Durante um importante ciclo de encontros e capacitação, as equipes encontraram novos motivos para o engajamento e para o compromisso de trabalhar de maneira integrada, inovadora e descomplicada – esta nova forma de atuar elevou ainda mais os padrões de eficiência do trabalho realizado pelo Sebrae-SP como agente de desenvolvimento local.

Nesse processo de motivação das equipes, a direção da entidade já antecipava os novos desafios das organizações, como a necessidade de cada uma delas estar cada vez mais conectada, proporcionando acesso instantâneo às informações em uma revolução digital marcada pelas tecnologias disruptivas. Tratava-se da adoção de ferramentas e recursos que deveriam ficar disponíveis aos empreendedores, para facilitar o trabalho diário, tornar os negócios mais eficientes e integrar todas as cadeias produtivas.

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Antonio Barros Silva, da Isstony Shoes

No final daquele ano de 2019, a direção do Sebrae-SP queria ter certeza de que, com a nova fase de integração dos esforços dos colaboradores, somada aos investimentos em capacitação, estaria plenamente pronta para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades em que atua, aproximando-se cada vez mais de seus clientes. No final de dezembro de 2019, um encontro realizado em Campinas representou o ponto alto desse trabalho. Cerca de três mil pessoas, entre colaboradores, agentes dos postos Sebrae Aqui e agentes locais de inovação (ALIs), reafirmaram os compromissos validados ao longo do ano: um Sebrae mais ágil, eficiente, conectado e promotor da transformação de empresários e de empresas. Quando 2020 chegou, estava tudo preparado não apenas para dar continuidade ao bom desempenho alcançado no primeiro ano de gestão, mas também para superar os índices alcançados por meio dessa nova perspectiva de trabalho. Para isso foram definidas estratégias capazes de aumentar de modo exponencial as taxas de cobertura no atendimento e gerar resultados tangíveis para os pequenos negócios de clientes, assim como ampliar a prestação de serviços especializados de terceiros. Então, tudo mudou. Começaram a chegar os primeiros relatos de uma pandemia que, tal qual um tsunâmi, alterou drasticamente a configuração social. Isso modificaria tudo o que acontecia dentro da normalidade e dos desafios conhecidos, que agora deveriam passar a ser superados de maneira ainda mais estratégica. As pessoas entravam em um mundo desconhecido. Afinal, o último acontecimento similar ocorrera havia mais de 100 anos, a epidemia de gripe espanhola, quando os tempos eram muito diferentes.

O início da quarentena e a volta por cima que Antonio deu Uma das mudanças mais marcantes nesse novo cenário envolveu o reconhecimento das redes sociais como fator de incremento das vendas realizadas pelas empresas em um período de isolamento social, o que se tornou uma tendência sem volta, consolidada durante a pandemia. A incorporação das ferramentas digitais no cotidiano também passou a proporcionar ganhos no faturamento e um relativo otimismo; era possível até pensar em investimentos.

Foi o que aconteceu com Antonio Barros Silva, proprietário da Isttony Shoes, empresa calçadista de Franca (SP), que em 2020 também foi surpreendido pela pandemia e esteve prestes a quebrar. Como sua operação se concentrava fortemente no atacado, o fechamento das lojas, sem previsão de retorno, transformou-se em um pesadelo. Contudo, o que parecia ser um obstáculo intransponível tornou-se uma grande oportunidade.

Com o apoio do Escritório Regional do Sebrae-SP em Franca, Antonio decidiu participar do programa de inclusão digital oferecido pela entidade. Logo digitalizou a operação e desenvolveu e pôs no ar o site da empresa. Como resultado, não só sobreviveu e retomou suas atividades, como também se reposicionou no mercado e triplicou o faturamento.

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Em 2022, ele celebrou sua mais nova conquista: participou pela primeira vez da Couromoda, um dos maiores eventos de negócios do setor na América Latina, com expectativa de um significativo aumento nas vendas. Em apenas três dias de feira, Antonio fez mais de 20 reuniões com potenciais clientes e saiu de lá projetando um volume de negócios que representa mais de dois meses de faturamento de sua empresa.

A situação da Isttony Shoes, hoje, é muito diferente daquela que se anunciava no primeiro trimestre de 2020. Em 5 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia feito o primeiro comunicado oficial a respeito da pandemia, ao relatar o que, então, considerava ser uma “pneumonia de causa desconhecida”. Ao todo, haviam sido detectados 44 casos no mundo. Naquele momento não se fez uma associação com o registro do primeiro caso do novo coronavírus, identificado na cidade chinesa de Wuhan, em dezembro do ano anterior. Isso aconteceu poucos dias depois, em 28 de janeiro, quando a OMS admitiu “alto risco de epidemia no mundo”.

No Brasil, os primeiros sinais de agravamento foram noticiados em 4 de fevereiro, depois que, no dia anterior, o Ministério da Saúde havia declarado “estado de emergência sanitária” – a Portaria MS nº 188 anunciou a decretação de “emergência em saúde pública de importância nacional em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus”. No dia 26 daquele mesmo mês foi confirmado no País o primeiro caso da doença transmitida pelo SARS-CoV-2, que se tornou oficialmente conhecida como covid-19 – o nome, explica o site da Fundação Oswaldo Cruz, é a junção de letras que se referem a (co)rona (vi)rus (d)isease, “doença do coronavírus”, em português. O número 19 identifica o final do ano em que os primeiros casos foram divulgados publicamente.

O primeiro caso brasileiro foi “importado”, ou seja, trazido por um paciente de 61 anos que acabara de chegar de uma viagem à Itália. Até aquele momento, ainda era possível imaginar que fechar as fronteiras seria uma solução para evitar a disseminação da doença. O coronavírus é caracterizado pela rápida transmissão, seja pelo contato direto com pessoas infectadas, seja por meio de superfícies contaminadas. O perigo maior está na chamada transmissão via aerossol, que se dá por meio de gotículas respiratórias menores – elas contêm o vírus e podem permanecer suspensas no ar.

Em 5 de março de 2020 foi confirmado o primeiro caso de transmissão interna no País de covid-19, uma consequência da transmissão comunitária, que é a ocorrência de contágios sem vínculo com um caso confirmado, em área definida. Desse modo, não é possível rastrear qual a origem da infecção, indicando que o vírus circula entre as pessoas, independentemente de terem viajado ou não para o exterior. Começava ali a corrida pela vida de pessoas, empregos e empreendimentos. Uma batalha sem precedentes na história.

Em 11 de março de 2020, a OMS declarou oficialmente a situação de pandemia de covid-19. O governo paulista não tardou a adotar um plano de combate

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e, 11 dias depois, publicou um decreto que oficializou a quarentena no Estado. O documento determinava que deixaria de funcionar tudo o que não constasse do rol de serviços públicos e atividades essenciais de saúde, alimentação, abastecimento e segurança. Previa-se que o isolamento duraria 40 dias. O secretário de Estado da Saúde apontou a “necessidade de promover e preservar a saúde pública” para interromper o atendimento presencial em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, especialmente em casas noturnas, shopping centers, galerias e estabelecimentos congêneres, academias e centros de ginástica. Também foi proibido o consumo local em bares, restaurantes, padarias e supermercados, ficando esse tipo de atendimento restrito aos serviços de entrega, o delivery, ou de retirada sem circulação de pessoas, como no modelo drive-thru

Poderiam funcionar os estabelecimentos que prestam atividades essenciais, como os da área de saúde, a exemplo de hospitais, clínicas e farmácias, assim como as lavanderias, os serviços de limpeza e os hotéis. No setor de alimentação, foram autorizados a continuar em funcionamento os supermercados e similares, como padarias e mercearias, por exemplo. Também puderam atuar postos de combustíveis, transportadoras, armazéns, oficinas de veículos automotores e bancas de jornais.

O decreto do governo paulista também instituiu o Comitê Administrativo Extraordinário covid-19 para deliberar sobre casos adicionais inicialmente não abrangidos pela medida de quarentena. Em seu artigo 4º, o decreto determinou: “Fica recomendado que a circulação de pessoas no âmbito do Estado de São Paulo se limite às necessidades imediatas de alimentação, cuidados de saúde e exercícios de atividades essenciais”.

Três dias antes da divulgação desse decreto, em 17 de março, havia sido registrada a primeira vítima fatal da doença no Brasil. No mundo inteiro, um sentimento de angústia começou a dominar as pessoas, assustadas com as cenas transmitidas pela TV e pela internet. A pandemia assolava vários países, entre os quais a Itália, que chegou a ter, em meados de março, mais de 6.600 pacientes contaminados em um único dia. Era apenas o começo de um drama que logo colocaria o Brasil em estatísticas superlativas.

1918: outra pandemia

A doença desconhecida, o medo da contaminação e da morte não seriam os únicos problemas provocados pela pandemia de covid-19. Como acontece quando ocorre qualquer problema sanitário de grandes proporções, as consequências econômicas se tornaram inevitáveis. Para efeito de comparação, vale recorrer a alguns números relativos à chamada gripe espanhola, que teve seu auge entre 1918 e 1919, um século atrás. Na época, a virose resultou em mais de 35 mil mortes apenas no Brasil. Em São Paulo, cuja população era estimada em 470 mil habitantes na época, apenas entre outubro e dezembro de 1918 foram registrados 5.328 óbitos.

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Uma enfermaria de emergência, nos Estados Unidos, atende os pacientes contaminados pelo vírus da gripe espanhola, em 1918

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Foto: Wikimedia Commons

De acordo com dados da Junta Comercial de São Paulo, de janeiro a setembro de 1918 o número de novas empresas de sociedade abertas caiu 60%, enquanto o valor do capital das firmas já registradas teve uma redução em torno de 65%. Assim como ocorreu em 2020, o setor com maior queda foi o comércio, tanto no número de firmas registradas (-63%) como no valor do capital (-71%).

O cenário na indústria foi, na mesma proporção, desastroso, com queda de 56% no número de empresas e de 50% no valor do capital. Os impactos mais fortes foram observados em segmentos tidos como supérfluos em um contexto de pandemia, em que, no cenário daquele início de século XX, se incluíam os produtos de perfumaria e derivados de fumo, por exemplo. Por sua vez, os setores que mais cresceram foram os de confecções, de produtos farmacêuticos e químicos e de velas – o que nos dá uma ideia do que era visto como essencial à época. Também aumentou a produção de cobertores, xales e colchas e de especialidades farmacêuticas, enquanto se registrava queda em itens de perfumaria e chapéus. Houve, é claro, uma alteração na estrutura industrial, com foco no aumento da produção de itens demandados pela crise de saúde pública.

É possível perceber os efeitos também no setor bancário. A partir de meados de 1917, começou a despontar uma tendência de crescimento moderado nos empréstimos bancários. Esse movimento foi interrompido com o início da gripe espanhola, ocorrendo uma retração em termos reais nos empréstimos a partir de dezembro de 1918.

A boa notícia é que a recuperação veio forte e rápida em alguns setores. No comércio, o número de registro de novas empresas superou a média dos meses anteriores à pandemia, a partir de janeiro de 1919. Na área financeira, a recuperação também foi rápida a partir de maio de 1919. Para a indústria, a compra de máquinas e equipamentos atingiu 12,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1921.

Será que esse mesmo movimento positivo se repetirá a partir de agora, quando a OMS está prestes a decretar o fim da pandemia de covid-19? É quase certo que sim, mas, antes de tudo, é preciso conhecer os principais acontecimentos que marcaram o período de 2020 a 2022.

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O isolamento e o sonho de Juliana

Exausta, enlameada e feliz é a lembrança que Juliana Limonta, especialista em Engenharia Ambiental, guarda das férias que passava no sítio da avó Elisa, quando participava de todas as atividades do dia a dia da pequena propriedade rural em Itupeva, interior de São Paulo. Foi a necessidade de resgatar essas sensações e oferecer o mesmo aos filhos, Mariah e Heitor, que a levou, em 2016, a deixar uma carreira promissora de executiva em uma grande empresa para trabalhar com as coisas do campo.

A experiência acumulada em cinco anos na empresa de telecomunicações, e mais um ano em uma startup que desenvolvia projetos ambientais para cidades inteligentes, foi essencial para ela. Seu conhecimento empresarial limitava-se aos tempos em que vendia lanches na faculdade e começava a entender as etapas de planejamento e gestão – era uma empreendedora e não sabia. Com mil ideias na cabeça, ela e o marido compraram em 2017 o sítio Frescor da Mantiqueira, em São Bento do Sapucaí (SP). Ali investiram em quatro frentes: hospedagem, hortaliças orgânicas, processamento de frutas desidratadas e consultoria e treinamento ambiental.

Tudo seguia no ritmo planejado até que a pandemia de covid-19 reduziu pela metade o número de hospedagens e comprometeu com gravidade a comercialização das hortaliças.

Corria o mês de março de 2020 e o lockdown havia sido imposto nos 645 municípios paulistas. As expectativas se voltavam para o dia 7 de abril, quando a quarentena deveria terminar. Contudo, com o agravamento do cenário, as restrições de circulação foram estendidas até 31 de maio. A prorrogação seguiu as orientações da OMS, da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), do Ministério da Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, formado por cientistas de diferentes áreas, epidemiologistas, pesquisadores, infectologistas e virologistas.

Naquele momento, o estado de São Paulo somava 4.620 casos confirmados da doença, com 275 mortes. A Secretaria Estadual da Saúde anunciou que, não fossem as medidas de restrição, esses números poderiam ser 10 vezes maiores. Mesmo assim, com a confirmação da doença, as internações de pacientes em leitos de UTI cresceram 1.500% desde 20 de março, passando de 33 para 524, conforme dados de 3 de abril. O número de óbitos subiu 180% em apenas uma semana.

O governo paulista anunciou o Plano São Paulo, com diretrizes para o funcionamento das atividades de diferentes setores produtivos. O documento estabelecia cinco etapas: fase 1 (vermelha), de alerta máximo; fase 2 (laranja), de controle; fase 3 (amarela), de flexibilização; fase 4 (verde), de abertura parcial das atividades; e fase 5 (azul), que previa a liberação geral a partir do momento em que

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Juliana Limonta, da Frescor da Mantiqueira
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a doença estivesse controlada. Como medidas de prevenção ao contágio, toda a população passou a utilizar máscaras faciais de proteção, além de serem disponibilizados totens de álcool em gel (70º) nos locais com circulação de público. Cientes da importância dessas medidas, o Sebrae e a Faesp – com apoio da rede de Sindicatos Rurais em todo o Estado de São Paulo – atuaram na confecção e distribuição gratuita de mais de 4 milhões de máscaras faciais para a população rural dos municípios do interior.

Entre esses produtores estava Juliana Limonta, que entendeu ser a hora de pôr em prática no sítio Frescor da Mantiqueira os conhecimentos adquiridos no Empretec e nas consultorias e nos cursos do Sebrae-SP e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-SP). De imediato, o casal investiu na digitalização da empresa para divulgar o empreendimento e aumentar as vendas, em especial no delivery

Só na comercialização de cestas das hortaliças orgânicas pelo WhatsApp o crescimento da receita foi de 20%, nos primeiros 30 dias após o início da pandemia. A solução para a parte da hospedagem veio com a percepção de que o trabalho em home office tinha vindo para ficar e de que as pessoas queriam ir para um lugar mais agradável com a família, desde que tivessem a possibilidade de trabalhar remotamente. Juliana, então, investiu na instalação de fibra óptica na propriedade e na melhoria das instalações e divulgou em suas redes sociais a oferta de um tipo de hospedagem que chamou “da roça ao office ”. Em julho de 2021, num dos picos da pandemia, a taxa de ocupação chegou a espantosos 92%, com um hóspede que alugou acomodações para passar duas semanas e ficou 45 dias.

Em outra frente, Juliana mergulhou de cabeça no processamento de frutas, com a criação de uma técnica inovadora no Brasil, chamada de Frutirinhas. Ela queria ir além do mercado de desidratação e geleias, já ocupado por fornecedores artesanais e grandes corporações, e, após longa pesquisa do processo e do mercado, lançou um produto com nove sabores, 100% natural.

A fábrica começou a funcionar com produção máxima no segundo semestre de 2021 e, mais uma vez, o digital fez a diferença. A convite do Mercado Livre, Juliana participou de um processo seletivo para integrar o projeto Empreender com Impacto na Biodiversidade. Das 300 empresas inscritas, a Frutirinhas ficou entre as 80 escolhidas, por aliar a produção de alimentos com a proteção da biodiversidade. Após um programa de capacitação e mentoria, a primeira venda se realizou em outubro de 2021, e a presença na plataforma aumentou a receita em 35%.

Juliana é daquelas empreendedoras que sempre enxergam o copo meio cheio, e para ela a pandemia trouxe a oportunidade de inovar ainda mais e procurar formas de crescer, e não se acomodar. No momento está finalizando o novo site, investindo em publicidade digital e acabou de desenvolver novas embalagens para colocar as Frutirinhas nas prateleiras do varejo nacional, sem limites para seguir em frente.

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Sebrae-SP e Faesp, junto com a rede de Sindicatos Rurais em todo o Estado de São Paulo, atuaram na confecção e distribuição gratuita de mais de 4 milhões de máscaras faciais para a população rural dos municípios do interior

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

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Projeções negativas

Contudo, no fim do primeiro semestre de 2020, o cenário ainda era de desolação, e um fato se tornava cada vez mais claro. Com o fechamento do comércio e dos estabelecimentos de prestação de serviços não essenciais, seria inevitável que os negócios de pequeno porte fossem bastante prejudicados pela pandemia, interrompendo os sonhos de milhares de empreendedores e comprometendo a sobrevivência de inúmeras famílias brasileiras.

Trata-se de um universo de mais de 12 milhões de negócios em todo o Brasil, quase 4 milhões somente no Estado de São Paulo, responsáveis por gerar 52% dos empregos com carteira assinada e 27% do PIB. Em 2019, essas empresas, juntas, criaram mais de 700 mil postos de trabalho, reforçando a importância social e econômica do segmento para o setor produtivo. Se em tempos de céu de brigadeiro os pequenos negócios já são vitais para o equilíbrio socioeconômico, o que dizer da importância desses empreendimentos em tempos de turbulência? Era preciso proteger e apoiar, com firmeza, empreendedores e seus negócios geradores de emprego e renda.

Uma pesquisa do Sebrae Nacional realizada em março de 2020 indicou que 90% das empresas estavam sendo afetadas pela pandemia – uma realidade assustadora. Aproximadamente 62% dos empresários relataram que a queda na receita atingira 50%. A sondagem também identificou os custos que mais pesavam naquele momento, como principais gargalos para a manutenção da atividade: aluguel (46%), pessoal (45%), matéria-prima (42%), impostos (41%) e empréstimos e financiamentos (39%).

Outro estudo, este do Sebrae-SP, ratificava o cenário negativo: 72% dos empresários relataram queda nas vendas e viram sumir 60% do fluxo de consumidores. Um em cada quatro donos de empresas delineou as medidas a adotar para se manter em atividade: redução de mão de obra (21%), suspensão das atividades (16,4%) e diminuição de estoque.

Confirmando essas projeções, uma análise da JP Morgan, de 20 de março de 2020, mostrou que o caixa dos pequenos negócios deveria durar, em média, apenas 30 dias. Nos segmentos em que predominava a presença de microempreendedores individuais e pequenas empresas, esse período era ainda muito menor: restaurantes, bares (16 dias de sobrevivência), reparos e manutenção (18 dias), confecção (19 dias), construção (20 dias) e serviços pessoais (21 dias). Havia, ainda, outra questão: essa média seria válida se o empresário fizesse uma gestão administrativa e financeira bem equilibrada. Para os que não mantêm o bom controle financeiro da empresa, o resultado poderia ser pior. Na pandemia tudo parecia mais grave e preocupante, com perspectiva de mais demissões e elevação na inadimplência de impostos e financiamentos, além de encalhe de estoques em fábricas e lojas dos setores não essenciais.

Abril de 2020: paralisação geral

Em abril de 2020, quase 20 dias após a decretação oficial da pandemia, começou a se instalar um quadro de desalento geral com a paralisação das cadeias produti-

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vas. Calculava-se que em um mês seria atingido o ponto de virada. Se a economia não começasse a se reorganizar, era dada como certa a explosão do fechamento de empresas – alguns especialistas falavam em uma taxa de 60% de encerramento de pequenos negócios, precarização das relações do trabalho e empreendedores vivendo em condições de subsistência, na informalidade. Não se pode esquecer que uma pequena empresa forçada a fechar as portas elimina, em média, quatro empregos. É possível ter uma ideia do tamanho do impacto ao multiplicar esses números pelos quase 4 milhões de pequenos negócios existentes somente no estado de São Paulo. Seriam cerca de 10 milhões de pessoas sem fonte de renda. Ainda em 17 de março, três dias antes da decretação do lockdown pelo governo estadual, a Presidência do Sebrae-SP já se antecipara, divulgando um levantamento intitulado “Coronavírus: modelo de impacto para pequenos negócios – Um estudo para apoio à tomada de decisão”. O estudo apresentou dados relacionados à perda de faturamento até aquele momento. Estimava-se que essa redução girava em torno de 50% a 62% das empresas. Outros 13% de empreendedores avaliavam perdas entre 41% e 50%. Quase a metade dos respondentes apontou que os custos com aluguel estavam entre os itens que mais peso tinham na manutenção dos negócios. Em segundo lugar, com 45%, estavam os custos com pessoal, seguidos de matérias-primas (42%), impostos (41%) e pagamento de financiamentos e outras dívidas (39%).

O estudo também indicou que quatro em cada 10 empresários tinham a intenção de tomar alguma medida que tornasse possível a continuidade de suas operações, entre as quais intensificar a higiene no ambiente profissional (74%), prestar mais informações aos funcionários (45%) e adotar o modelo de trabalho remoto (29%). Chama atenção que 21% dos entrevistados revelaram a intenção de reduzir a mão de obra, o que era extremamente preocupante e, de fato, acabaria acontecendo. De acordo com informações do IBGE, a taxa de desemprego no Brasil estava em 14,2% em março de 2021, bem maior do que em janeiro de 2020, antes da pandemia, quando o índice era 11,2%. Ou seja, em um ano, 8,1 milhões de pessoas perderam o emprego.

Ainda de acordo com o estudo do Sebrae-SP, entre as medidas positivas que os pequenos empresários planejavam implementar estavam a adoção das vendas pela internet (indicada por 25% dos entrevistados) e as entregas em domicílio (delivery), medida anunciada por 20% dos entrevistados. Duas iniciativas, entre outras, que se mostrariam fundamentais para a continuidade de muitos negócios, em diferentes setores de atuação, e que se consolidariam como estratégia de sobrevivência.

O levantamento também revelou possíveis ameaças, projetando cenários à medida que a crise sanitária se estendesse por mais tempo, e indicou ações para reduzir os danos aos pequenos negócios, como a negociação de aluguéis, soluções aplicáveis para a folha de pagamento e meios para a postergação do prazo de pagamento de dívidas e de impostos.

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O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

Esse importante estudo prospectivo foi uma iniciativa que – inédita à época –acabou se tornando fundamental ao permitir antever o que aconteceria nos meses futuros. O material foi apresentado em reuniões entre o Sebrae-SP e várias instituições, entidades de classe e lideranças de diferentes setores. Em um primeiro momento, muitos desses interlocutores não acreditavam que todas essas projeções pudessem se tornar realidade. Entretanto, uma vez alertadas, as lideranças puderam antecipar sua visão e buscar soluções para prevenir problemas futuros.

De fato, o estudo apresentou sugestões de governança, como medidas a serem adotadas no curto, médio e longo prazo nos processos empresariais – entre as quais o trabalho do Sebrae-SP ao lado de órgãos públicos, entidades de classe e setor privado para a formação de uma força-tarefa, visando à proteção das empresas. Sobressai nessa lista o alinhamento da entidade em São Paulo com o Sebrae Nacional e o Sistema S para a formação da Aliança Nacional para a Sobrevivência Empresarial, além de ações como a formação de comitês nacional e estaduais que atuariam em sintonia com federações, confederações e associações, bancos, fintechs, empresas e governos. A hora era de agir para garantir a sobrevida dos empreendimentos. O quadro se apresentava realmente preocupante, mas não paralisante. Ao contrário, foi o que estimulou a direção do Sebrae-SP a pisar mais fundo no acelerador e entregar soluções que de fato fizessem a diferença.

A reabertura gradual

Em 22 de abril, o governo paulista anunciou o plano de reabertura de estabelecimentos no estado, programada para 11 de maio, no que seria o fim oficial da quarentena decretada em março. O retorno das atividades deveria ser feito de modo heterogêneo, com base no cenário e nos índices locais de cada região durante a pandemia.

Desse modo, os municípios foram segmentados por níveis de risco, para facilitar o monitoramento da evolução da pandemia em cada região. Além disso, seriam levados em conta o número de leitos disponíveis nas cidades e a implantação de protocolos gerais e específicos em cada ambiente de trabalho. Até aquele momento, dados da Secretaria Estadual de Saúde indicavam que o estado de São Paulo contava 15.385 casos confirmados de covid-19. O número de mortes chegara a 1.039, com acréscimo de 5% nas últimas 24 horas.

As medidas anunciadas foram bem-vindas, mas ainda eram tímidas ante o cenário de tragédia que se avizinhava cada momento mais rápido. Para ficar apenas nos temas preocupantes para o empresariado, o volume de crédito liberado pelos governos estadual e federal se mostrava insuficiente. Projetava-se que seria necessária a injeção de R$ 80 bilhões mensais para a amortização das contas das micro e pequenas empresas, considerando que cada uma delas precisaria, em um cálculo estimado, de R$ 40 mil mensais para continuar em operação. Isso sem falar na demora em disponibilizar os recursos, na burocracia e na lentidão na liberação

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e nas informações desencontradas. Ainda não estava claro como seriam tratadas a questão dos impostos e a redução de 50% nos salários para manter os segmentos considerados não essenciais, que, portanto, não poderiam voltar a funcionar.

Tendo em vista esse quadro, o Sebrae-SP deu início ao que foi previamente divulgado em seu estudo de cenários. A entidade passou a realizar uma série de encontros, reuniões e debates com lideranças públicas e privadas e com empresários de diferentes segmentos essenciais e não essenciais. O objetivo foi o de obter consenso para uma proposta de medidas emergenciais, concentradas nos quatro problemas que mais preocupavam os empreendedores: pagamento de aluguel, manutenção de pessoal, aquisição de matéria-prima e pagamento de impostos e empréstimos bancários.

No âmbito tributário, foram sugeridas à época, e em parte acatadas, medidas como a postergação por seis meses da incidência de todos os impostos (federais, estaduais e municipais), o parcelamento do saldo devedor em 36 meses e a implementação de um novo e adequado sistema, via reforma tributária, que vinha sendo postergado durante décadas. Quanto ao financiamento, a sugestão foi a de facilitar ao máximo o acesso às linhas de crédito emergenciais e incrementar ações de orientação para a negociação positiva de dívidas. Para manter o nível de emprego, deveriam ser flexibilizadas ao máximo as relações trabalhistas no período da crise, com autorização de livre negociação salarial, além da liberação do empregador dos encargos de pagamento de férias, 13º salário e outros direitos, da disponibilização, por meio digital, de modelos de contratos aditivos à CLT e da articulação com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para reformular os processos trabalhistas. Também foi proposta a realização de uma nova rodada para ajustes da legislação relativa às relações de trabalho.

No que diz respeito ao aluguel, o Sebrae-SP sugeriu que se ampliassem a divulgação e a orientação a respeito da negociação e do acesso a linhas de crédito específicas, bem como fossem discutidas com a OAB possíveis mudanças nos processos judiciais de despejo e cobrança. Também surgiu a ideia da criação de uma campanha que conscientizasse os locadores da conveniência de redução do valor do aluguel. Para minorar os efeitos da crise na aquisição de matéria-prima, foram feitas essas propostas: facilitar o acesso a financiamentos emergenciais, sensibilizar fornecedores a postergar o prazo das dívidas, reforçar a orientação para a negociação e subsidiar segmentos industriais com alto poder de geração de empregos.

Relembrando a máxima que diz que “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”, o recado dado aos empresários pelo Sebrae-SP era o mais simples: que todos façam sua “lição de casa”. A única saída seria construir novos caminhos e aplicar as melhores práticas, numa verdadeira aliança pela sobrevivência dos negócios de pequeno porte. A saída para superar os imensos desafios que se apresentavam estava na real

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oportunidade de garantir que as empresas reorganizassem suas operações, fortalecessem suas estruturas e pusessem em prática aquilo que fazem com relevância: gerar trabalho e renda.

Foi o que aconteceu com centenas de milhares de empreendedores atendidos pelo Sebrae-SP. Como as irmãs Márcia, Maria Ângela e Rosa Abbud, da Art Esfiha, restaurante libanês localizado na capital paulista. Elas começaram vendendo esfirras de carne e quibes sob encomenda e agora têm um lugar aconchegante no bairro do Paraíso. A pandemia as acertou em cheio, como a maioria dos estabelecimentos tradicionais de alimentação fora do lar. Mal sabiam que um almoço no salão vazio, para dois especialistas do Sebrae-SP, seria o ponto de virada da empresa. Após uma longa conversa, ali mesmo na mesa do almoço, receberam um diagnóstico do Sebrae-SP e sugestões de ações de curtíssimo prazo. Em menos de 90 dias, a situação era outra, segundo Márcia: “Seguimos as dicas e estamos trabalhando muito, atendendo pedido via WhatsApp e com delivery até de domingo”. Na estratégia proposta estavam renegociação de contratos, ajuste de custos e entrada no mundo das vendas online e do delivery, além de utilizar as redes sociais como ferramenta digital de negócios. Este é o checklist que as irmãs da Art Esfiha e outras centenas de milhares de empreendedores receberam dos especialistas da entidade, por meio do “ kit de enfrentamento”, e que mudou os rumos dos negócios:

1 - Certifique-se de que a saúde financeira da sua empresa está ok. Proteja seu caixa, ajustando custos fixos e variáveis. Renegocie compromissos com fornecedores, parceiros, prestadores de serviços; redimensione, se necessário, o número de colaboradores; racionalize o estoque.

2 - Crédito orientado: existem diversas linhas de financiamento acessíveis. Entretanto, só contrate crédito após analisar os custos da empresa.

3 - Inicie ou reforce sua presença online : invista em mídias digitais, com perfil nas redes sociais e em marketplaces. O Sebrae-SP concentra na plataforma compredopequeno.sebraesp.com.br diferentes iniciativas de diversos parceiros. Para divulgar, marque presença nas redes, dê dicas, relacione-se com seu público e conheça suas dores e desejos (quem sabe surja daí um produto ou serviço inovador).

4 - Garanta as medidas de segurança de seus colaboradores e de seus produtos/ serviços e comunique claramente aos seus clientes.

5 - Atue em cooperação, expanda sua rede.

6 - Aprimore seus conhecimentos em gestão e no aperfeiçoamento de suas técnicas.

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Em 10 de junho de 2020, depois de passar mais de 80 dias fechados, o comércio de rua e o setor imobiliário na cidade de São Paulo foram autorizados a reabrir. A retomada das atividades econômicas fazia parte do plano de flexibilização já anunciado pelo governo do Estado e pela prefeitura da Capital, na Fase 2 – Laranja da pandemia. Ainda havia restrições, como o funcionamento limitado a quatro horas diárias (entre 11 e 15 horas) e a adoção dos protocolos de higiene recomendados pelas autoridades de saúde, para evitar o risco de contágio e propagação do vírus, como o uso de máscaras por clientes e funcionários e a oferta de álcool em gel (70º) nos estabelecimentos.

Os shopping centers reabriram no dia seguinte, 11 de junho, com duas opções de funcionamento: das 6 às 10 horas ou das 16 às 20 horas, com público limitado a 20% da média habitual. O protocolo também determinou que os estabelecimentos permitissem que os funcionários com filhos pequenos fossem mantidos em trabalho remoto.

Uma das medidas do governo federal para proteger os direitos dos trabalhadores e dos empregadores nesse período foi a Lei n° 14.020, de 6 de julho de 2020, que criou o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. A proposta era criar um auxílio do governo aos trabalhadores, o que faria com que houvesse também uma redução de despesas quando o funcionário tivesse a jornada de trabalho e o salário reduzidos, e/ou a suspensão de contratos. A norma também tratou das regras do benefício emergencial que é pago aos trabalhadores de empresas em que o proprietário optou por fazer parte do programa. O benefício se baseia em dois tópicos: redução da jornada de trabalho, associada à redução do salário de acordo com o tempo reduzido, e permissão para suspender os contratos.

Para os pequenos negócios, a melhor notícia veio antes, com a criação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), por meio da Lei nº 13.999, de 18 de maio de 2020. Criado para auxiliar as pequenas e médias empresas atingidas pela pandemia, o Pronampe passou a fornecer empréstimos com juros reduzidos, subvencionados pelo Fundo Garantidor de Operações (FGO). No ano em que foi lançado, cerca de 500 mil empreendedores foram beneficiados pelo Pronampe, com mais de R$ 37 bilhões em empréstimos.

Além disso, desde o mês de abril, o governo federal passara a disponibilizar o auxílio emergencial, instituído para atenuar o impacto econômico da pandemia ao garantir renda mínima aos brasileiros mais vulneráveis. De acordo com as regras do programa, seriam repassados cerca de R$ 359 bilhões em nove parcelas pagas em 2020 e as demais até outubro do ano seguinte, medida que veio em ótima hora.

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Ingram Image

O Sebrae-sp: momento de transformar

Reshape: tempos extremos e o salto de Lucas

Nesse cenário de crise, em um dos momentos mais desafiadores da história recente, estava em jogo um bem maior: a vida. A pandemia de covid19 atingiu a todos de maneira inexorável. Uma das decisões tomadas pelo Sebrae-SP foi adotar medidas para transformar, digitalizar e acelerar – sempre com respeito às normas de governança, a fim de salvaguardar colaboradores, empresários e trabalhadores. Mas digitalizar e acelerar exatamente o quê?

A resposta foi descoberta, por exemplo, pelo jovem empreendedor Lucas Gibertoni, formado em Gastronomia, que substituiu o pai, Renato Gibertoni, na direção da Aidu, empresa do setor de alimentos fundada em 1994 na capital de São Paulo. Ele conta que os negócios iam bem, em expansão, mas o começo da pandemia foi assustador.

De um dia para o outro, o fornecimento para terceiros quase zerou, visto que a maioria das vendas era para confeiteiros, padarias e para a indústria de panificação em geral. Logo tiveram de trabalhar apenas três dias por semana. Em março, ainda conseguiram fechar as contas no azul, mas, em seguida, tudo piorou: “Em abril, demos conta da folha de pagamento e buscamos um empréstimo no banco para arcar com a matéria-prima do mês anterior”, lembra Lucas.

Caracterizada pela diversidade de sua linha de produtos, a Aidu produzia inicialmente até cinco toneladas de chantili por dia para restaurantes, lanchonetes e hotéis. Depois desenvolveu novos produtos, como aromas para confeitaria, corantes, um óleo especial para a indústria da panificação e um aerossol alimentício inédito na América Latina.

Quando a pandemia atingiu o setor comercial, entre os caminhos encontrados pela Aidu estiveram as redes sociais dos parceiros, que, segundo Lucas, deram uma ajuda fundamental para impulsionar as vendas pela internet: “Durante o isolamento, todo o mundo estava online vendo influencers divulgando as marcas, e isso permitiu que déssemos um salto nas vendas”, conta. E ele afirma que, nessa trajetória de recuperação, o Sebrae-SP teve um papel gigantesco, ao fornecer uma orientação segura para os empréstimos e várias dicas de marketing que apoiaram a decisão de abrir uma loja virtual para vender com a marca própria. “Aprendemos a dar mais valor à empresa para mostrar nossa cara na internet. Agora estamos pensando em mudar a fábrica de local, e o Sebrae está nos ajudando também a planejar esse novo passo”, diz o empresário. Com a nova fábrica, ele pretende oferecer vários outros produtos, como corantes, molhos, ketchups, maioneses e barbecue, com zero sódio e zero açúcar. “Mesmo com todos os problemas que aconteceram, estamos todos bem e a empresa cresceu nos últimos meses”, comemora Lucas.

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Lucas Gibertoni, da Aidu

A partir de março de 2020, a ênfase à mudança e à digitalização passara mesmo a ser o norte da atuação do Sebrae-SP. Quando as medidas de restrição ao funcionamento das atividades econômicas entraram em vigor, grande parte dos empreendedores brasileiros viveu uma história de resiliência e reinvenção. Respeitadas as medidas sanitárias adotadas mundialmente, que limitaram a circulação e a continuidade das atividades não essenciais, o Sebrae-SP não parou. Mais do que nunca, empreendedores como Lucas Gibertoni e tantos outros precisavam de soluções efetivas. Foi o momento de unir-se a clientes, parceiros públicos e privados, universidades, parques tecnológicos e sociedade civil organizada para buscar saídas para o momento dramático imposto pela crise sanitária.

A equipe do Sebrae-SP logo entendeu a necessidade de ampliar as ações direcionadas ao seu público-alvo, formado pelo conjunto da população que desenvolve atividades empresariais e está envolvido na abertura de um negócio. Estima-se que, em 2020, havia no estado de São Paulo um contingente de 19,7 milhões de pessoas de 18 a 64 anos dedicado à manutenção ou à criação de um negócio próprio nos próximos três anos (64% da população adulta paulista). No contexto da pandemia, de que maneira seria possível levar orientação e capacitação em gestão empresarial a tantas pessoas? Muito havia a ser feito, e de maneira ainda mais ágil.

Sem precedentes, a crise desencadeada pela covid-19 exigiu a aceleração do processo de tornar o Sebrae-SP mais digital e transformador, moldando-se às necessidades dos empreendedores. Esse cenário impôs uma reconfiguração na forma de atuar da instituição e na maneira de atender os clientes. A receita era a busca da excelência operacional por meio de melhoria, simplificação e inovação de processos estruturantes de gestão e monitoramento de recursos. Uma reunião com representantes do Sistema S, em 19 de março de 2020, em São Paulo, já apontava os pontos focais que não foram abandonados na pandemia e, ao contrário, ganharam impulso.

O Sebrae-SP começou de pronto a construir as pontes da conectividade, para a transformação digital e a inclusão tecnológica. A primeira medida adotada foi a oferta de soluções de seu portfólio de maneira remota – portanto, digital –, o que exigiu esforço e rapidez para serem prontamente disponibilizadas.

Foi o início de uma verdadeira reinvenção para superar a crise e manter o compromisso de orientar os empreendedores paulistas. Esse conceito de reshape (remodelagem, ou reformulação) representou um movimento no sentido de adotar nova forma de encontrar respostas rápidas e certeiras para vencer os obstáculos. Ocorreu, então, uma verdadeira revolução que promoveu, em cinco meses, mudanças que em condições normais poderiam levar até cinco anos para serem implementadas.

Do ponto de vista interno, o Sebrae, assim como a maioria das empresas, também passou por uma grande transformação. Foi potencializado o formato de trabalho em casa, no modelo home office, uma modalidade nova de operação que proporcionou um importante aprendizado à organização. Para isso, foi necessá-

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ria a adequação da infraestrutura de sistemas para atender à demanda e, posteriormente, a adequação física para a retomada gradativa do modelo presencial no segundo semestre, respeitando-se os protocolos sanitários estabelecidos.

Nesse processo de adaptação, criaram-se novas formas de se relacionar, consumir, estudar, trabalhar e produzir. Desde 23 de março, em uma ação rápida e eficiente, que durou não mais que uma semana, o Sebrae-SP passou a trabalhar com 100% das equipes em home office, o que teria continuidade nos seis meses seguintes. Instaurou-se, desse modo, um ambiente de confiança e segurança. Os colaboradores sabiam que seus empregos estavam garantidos e se sentiam mais protegidos em casa. Além disso, a direção do Sebrae-SP manteve o compromisso de aprimorar o conhecimento de seus funcionários, para que estivessem mais bem preparados para enfrentar a pandemia e o período pós-crise. O trabalho remoto, ao flexibilizar os horários, dava ao pessoal a possibilidade de fazer cursos de especialização, e programas de capacitação e atualização foram procurados em grande número nesse período.

Em 2020, o Sebrae-SP deu continuidade ao seu Programa para Excelência no Atendimento, com o objetivo de certificar o domínio dos conhecimentos técnicos essenciais e garantir os padrões de qualidade. O programa de certificação qualifica os consultores, desenvolvendo as competências técnicas necessárias para a execução de suas atividades. Além disso, foram realizadas lives semanais com colaboradores, a fim de dirimir dúvidas, conectar ideias e aprimorar novos produtos que atendessem às necessidades dos empreendedores naquele momento turbulento.

Para o público-alvo, a entidade estruturou um novo modelo de atendimento. Os horários foram ampliados, com funcionamento durante os sete dias da semana –das 7 às 23 horas, de segunda a sexta-feira, e das 9 às 17 horas aos sábados, domingos e feriados. Todos os dias eram realizadas lives com especialistas em diversos temas do empreendedorismo, com foco no contexto de superação de barreiras impostas pela crise. Os resultados indicam que as medidas foram mais do que acertadas: ao longo de 2020, registraram-se mais de 15 milhões de visualizações, além de ser triplicado o número de consultorias e dobrada a participação em cursos. Mesmo distante, a instituição estava mais próxima do que nunca, oferecendo um acolhimento fundamental aos empresários.

Para assegurar agilidade no processo, o Sebrae-SP criou um Comitê de Crise com a participação das unidades responsáveis pela formulação das estratégias de atendimento e relacionamento com o cliente. Houve um engajamento importante da alta direção, o que permitiu mais agilidade no processo de enfrentamento da crise. Uma das medidas adotadas foi a gratuidade das soluções, para facilitar o acesso aos pequenos negócios nesse momento de crise. Em um ano complexo, em que desafios extremos pareciam conduzir a uma equação de impossível solução, o caminho escolhido foi o da atuação integrada, conectada, acelerada e inovadora.

Isso permitiu transformar, fazer a diferença e reforçar o significado do empreendedorismo, em mais uma prova da capacidade de reorganização e adaptação da

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entidade. Na pandemia, esse fato ficou bem perceptível. De uma hora para outra, a restrição da mobilidade, o confinamento, o receio da contaminação e o distanciamento social contribuíram para acelerar tendências que a direção do Sebrae-SP já vislumbrara em 2019.

Cabe ressaltar que isso se tornou plausível graças ao fato de que ainda no primeiro ano da gestão da atual diretoria, em 2019, tiveram início as atividades relacionadas à gestão eletrônica de documentos, o que gerou agilidade na modelagem de processos, além da integração com sistemas informatizados e a otimização das operações. Ainda no âmbito da transformação interna, foram promovidas ações voltadas para a cultura organizacional e a capacitação, com o objetivo de mudar o comportamento dos colaboradores para uma cultura de transformação digital, visando ao desenvolvimento de novas competências dentro da organização.

Sebrae-SP: hora de digitalizar

Em 2020, todas as pessoas precisaram reaprender a trabalhar nesse modelo diferente. Até mesmo nas relações pessoais, as dinâmicas passaram a acontecer por meio das telas do computador, dos tablets e do celular, única solução possível para não separar de modo radical famílias inteiras, que deveriam evitar o contato e a disseminação do coronavírus. O problema era ainda mais sério na incerteza de um futuro não linear. Quando acabaria a pandemia? Quando seria possível voltar a viver como antes? Essas eram algumas das perguntas que todos se faziam, e não havia respostas. A angústia aumentava e, em 19 de junho de 2020, o Brasil atingiu a marca de um milhão de casos confirmados de covid-19, apenas quatro meses desde o surgimento do primeiro contágio.

A necessidade de trazer algum sentido de alívio e a possível retomada das atividades até então paralisadas reforçaram a oportunidade de uma questão: Como construir um Sebrae-SP mais relevante para a sociedade e para os pequenos empreendimentos, com modelos de negócios sustentáveis e cobertura mais ampla? A direção da entidade entendeu que não seria suficiente a adoção interna de ferramentas online para viabilizar os atendimentos. Essa transformação tecnológica deveria ser estendida aos pequenos negócios, para assim promover a integração das cadeias produtivas e permitir a continuidade das atividades econômicas. A ideia era capacitar os empresários para que pudessem, quanto antes, dar início à tão necessária transformação digital e inovar na oferta de produtos e serviços, além de pôr as finanças em dia.

Contudo, para isso era preciso incorporar, também com rapidez, um enorme contingente de pequenos negócios – em torno de 5 milhões – para garantir que se integrassem a esse processo. Como lidar com esse desafio? Um dos principais pontos de apoio nesse sentido foi a rede Sebrae Aqui. Mesmo durante o lockdown, as unidades espalhadas por todo o Estado significaram um forte apoio aos pequenos empresários. Foram um braço muito importante até no atendimento digital,

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Plataforma Pertinho de Casa: sistema de e-commerce foi criado para apoiar os pequenos negócios

ajudando muitas pessoas e diversas cidades, divulgando a realização de lives e atuando em todas as demais ações que pudessem colocar os clientes em contato com o Sebrae. Ainda que digitalmente – e como será visto nos capítulos a seguir –, a rede Sebrae Aqui começaria a ser expandida tão logo as inaugurações presenciais pudessem ser retomadas.

Merece destaque a parceria com o Banco Mundial, que permitiu a realização da pesquisa voltada para o entendimento do impacto provocado pela covid-19 nos negócios de pequeno porte. O Business Pulse Survey (BPS) é um levantamento global que envolve cerca de 50 países. No Brasil, o estudo no estado de São Paulo contou com a parceria do Sebrae-SP, em uma amostra de 1.677 negócios entre microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas. Outro avanço foi a contratação de ferramentas específicas para análises de setores, segmentos e regiões, como o Euromonitor, que permite acessar os relatórios de inteligência de mercado e as tendências de negócios em centenas de setores e países.

Esse processo de grande abrangência tornou possível a definição de algumas alavancas de transformação para a construção do Novo Sebrae, expressas em insights como “O Sebrae que faz a diferença”, “Sebrae mais ágil”, “Sebrae relevante para as cidades” e “Sebrae na vanguarda”. Com base nesses conceitos, foram elencadas oportunidades de mudança e, em um processo de cocriação, por meio das entrevistas, mapeou-se o encaminhamento de soluções que nortearam o desenvolvimento coletivo das ações do Sebrae do Futuro.

Bem pertinho de casa

A nova dimensão do Sebrae-SP se revelou logo no princípio da crise sanitária, em março de 2020, quando o lockdown teve início. Entre outras consequências, os produtores de alimentos no Estado de São Paulo se depararam com um grande problema: como escoar tudo o que ficara acumulado por causa das limitações de circulação e minimizar os prejuízos da perda de produção. A quarentena criou uma distância que, em termos de quilômetros, nem era assim tão grande, mas parecia impossível de ser percorrida.

Foi quando a alta direção e especialistas do Sebrae-SP, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-SP) e outras instituições se reuniram com as principais lideranças das gigantes de tecnologia e e-commerce Accenture, Facebook, PagSeguro, Vtex e Yami. O objetivo foi somar esforços e buscar soluções viáveis para as questões preponderantes naquele momento. Todos abraçaram a iniciativa sem buscar lucro, apenas oferecendo expertise em prol da salvaguarda dos negócios de pequeno porte.

Assim nasceu a plataforma online Pertinho de Casa, solução digital desenvolvida e posta “no ar” em 16 de abril, um recorde de apenas 20 dias. O sistema de e-commerce, inicialmente dedicado ao abastecimento de alimentos, passou a aproxi-

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Maria Creusa Sarri e Karina de Oliveira Vicari Sarri, produtoras rurais do Sítio Ipê
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Foto: Pierre Duarte/Plus Images
O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

mar oferta e demanda, facilitando o dia a dia do consumidor, apoiando os pequenos negócios que atuam nos serviços de alimentação fora do lar e dando vazão ao que vinha sendo produzido no campo.

Para os produtores rurais e varejistas (feirantes e donos de hortifrútis, mercearias e mercadinhos), bastava preencher um cadastro na plataforma e informar o tipo de negócio e a área de entrega. O consumidor interessado em comprar na vizinhança precisava apenas colocar seu endereço ou CEP no site, selecionar a categoria do estabelecimento que procurava e escolher de qual deles compraria, em uma lista de pequenos comerciantes cadastrados. A negociação se fazia diretamente entre as partes, via WhatsApp, e o sistema continua a dar bons resultados até hoje. Além de apoiar os empreendedores, o projeto também foi fundamental para que não faltassem alimentos nas prateleiras dos mercados num momento em que manter uma alimentação saudável era uma condição essencial.

O projeto, que de início facilitou a comunicação por meio do uso do WhatsApp, passou a contar com um mapa de percurso, com o objetivo de evoluir para se tornar um marketplace com vários fornecedores. Criada para escoar a produção de hortifrutigranjeiros do cinturão verde de São Paulo, que estava ruindo por falta de compradores, a plataforma logo se estendeu a outros produtores e alcançou quase todo o Brasil, fazendo-se presente em mais de 730 cidades, com uma base de quase 20 mil fornecedores cadastrados. Mais do que mentoria e capacitação, o Sebrae-SP abriu caminhos para ajudar o empresário a vender pelos canais digitais, dos quais a plataforma Pertinho de Casa é um dos mais bem-sucedidos exemplos.

Outra ação no mesmo sentido foi o estímulo aos movimentos Compre do Bairro e Compre do Pequeno, iniciativas do Sebrae Nacional, com forte apoio dos Sebraes estaduais, criadas para fortalecer as vendas dos negócios locais e girar a economia. Diante das restrições de circulação, comprar nos estabelecimentos mais próximos de casa também representou, para os consumidores, a oportunidade de conhecer mais a vizinhança e a comunidade. Que o diga Karina Sarri, que junto com o marido e os sogros comandam o Sítio Ipê, localizado em Morro Agudo (SP). Antes da pandemia, toda produção era comercializada apenas em duas feiras na cidade e em dois estabelecimentos. Em março de 2020, com a horta lotada de verduras, a notícia de que seria necessário fechar os locais de venda trouxe muita preocupação para a família. Mais acostumada com tecnologia, Karina Sarri tomou a frente da situação e acelerou o processo de digitalização: fez cadastro de clientes para criar um grupo no WhatsApp, elaborou uma logomarca para o negócio e montou um perfil no Facebook.

Em 2022, o sítio registrou uma média de 170 clientes no grupo de WhatsApp e conseguiu mais oito clientes fixos, entre pizzarias, lanchonetes e supermercados. A família Sarri faz parte de um grupo de pequenos produtores rurais que decidiu marcar presença no mundo digital para manter as vendas e sobreviver na crise. “Não podemos ficar de braços cruzados esperando a oportunidade.

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Nós é que temos de correr atrás”, afirma Karina, que de modo regular recebe mensagens de pessoas em busca de informações para a compra dos produtos. No Sítio Ipê, as entregas são feitas em três dias da semana. Karina e a sogra, Creusa, organizam-se para receber os pedidos, embalar e fazer a distribuição. O sistema deu tão certo que, agora, a família participa da feira apenas em um dia da semana e vende o restante da produção para os clientes já cadastrados. Karina também explorou muito bem a divulgação nas principais redes sociais. Para ela, o marketing é insumo fundamental e abriu as portas do sítio para consumidores da região interessados em hortaliças, legumes, verduras e frutas do sítio. Não devem ter sido poucas as pessoas que, envolvidas no ir e vir para o trabalho diário, deixavam de comprar perto de onde moravam. Para alguém que reside, por exemplo, na Zona Sul da capital paulista e trabalha na Zona Oeste, as preferências de compra se davam muito mais no bairro em que passavam a maior parte do dia, sobretudo no horário do almoço ou no fim do expediente. Com a adoção do home office, inseridos com regularidade na região em que residem, os consumidores passaram a conhecer o que o armazém, o bazar ou a mercearia do bairro podiam oferecer em variedade de produtos. E isso é uma tendência que deve persistir, uma vez que os comerciantes ganharam a fidelidade desses novos clientes.

Também no primeiro semestre de 2020, em Franca, conhecida como Capital do Calçado, as indústrias de pequeno e médio porte estavam com excesso de estoque e sem pedidos, bem próximas de fechar – assim como a maioria dos pequenos negócios no auge da pandemia, quando registram perda de mais de 80% do faturamento de uma hora para a outra. Numa ação rápida e eficiente do Sebrae-SP e das entidades locais, essas indústrias foram orientadas a entrar em parcerias com diferentes marketplaces, a fim de dar continuidade à movimentação de seus estoques, vendendo diretamente para os consumidores. Assim puderam escoar a produção e salvar empresas e empregos.

Perto ou longe de casa, na capital ou no interior: isso não fazia diferença para o Sebrae-SP. Por entender que o serviço que presta à sociedade é de vital importância, a direção da entidade, adotando todas as medidas preventivas e de segurança sanitária, decidiu sair a campo. Pessoalmente, o presidente do Sebrae-SP, acompanhando de um assessor, visitou empreendedores, produtores e lideranças locais para entender de perto, olhos nos olhos, seus desafios e suas necessidades. A ideia era estar presente em todas as regiões do Estado e conhecer de fato o que vinha acontecendo, assim obtendo o máximo de informações para que fossem identificados os reais problemas e encontradas as soluções sob medida para cada negócio, em cada um dos municípios paulistas. Nessa peregrinação da presidência, todo o estado de São Paulo foi percorrido, mais de uma vez, a fim de traçar um diagnóstico em que danos e oportunidades pudessem ser dimensionados. A partir dessa iniciativa, cujo entusiasmo contagiou todas as equipes do Sebrae-SP, realizou-se um redirecionamento estratégico da entidade, com foco no conceito de reshape, uma

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nova maneira de organizar pensamentos, estratégias, comportamentos e ações. Quem adota esse novo olhar age rapidamente, sem receio de quebrar paradigmas ou de romper com modelos antigos, e segue em busca de respostas, de soluções para equações que pareciam impossíveis.

O Sebrae-SP faz a ponte e Leandro segue adiante É possível afirmar, sem dúvida, que a ideia de reshape foi inteiramente absorvida por Leandro Dias, proprietário do restaurante La Paella, no bairro do Campo Belo, na capital paulista, aberto em 2013. Com a experiência de ter passado por uma crise anterior no seu negócio por falta de conhecimento, ele analisou com cuidado o novo cenário da pandemia e fez as adaptações que a situação indicava. O restaurante era movimentado, mas o dinheiro não entrava e Leandro vivia com a situação financeira no fio da navalha. “Estávamos vivendo do giro do dia a dia. Eram muitos problemas, nenhum controle dos funcionários, e eu não entendia de precificação. Nossos preços eram muito baixos. A gente trabalhava muito e o dinheiro não aparecia”, ele conta.

Foi nesse período que ele buscou a orientação do Sebrae-SP para conhecer de fato seu negócio e o próprio entendimento como empreendedor. Tudo parecia estar entrando nos eixos, e de repente começou um drama maior: “A pandemia chegou, o restaurante estava ajeitado e eu estava trabalhando muito com eventos. Foi um desespero total, porque eu não entendia o que ia acontecer. Como assim, fechar o restaurante?”.

Aplicando o que aprendeu com os técnicos do Sebrae-SP, Leandro organizou tudo em planilhas, desde o valor das embalagens para delivery até a taxa cobrada pelo aplicativo de entrega. Além disso, levou em conta que, como o restaurante ficava em um bairro residencial, o almoço tinha pouco movimento. Por isso ele decidiu criar outro restaurante dentro do principal, concentrado no delivery, com comidas mais simples – afinal, a paella é um prato para ocasiões especiais. “Antes, eu fazia cerca de 15 entregas por dia, e na pandemia cheguei a fazer 80”, explica.

Leandro também aderiu aos recursos da digitalização – como o Sebrae-SP fazia questão de estimular entre os empreendedores – e adotou estratégias online para chegar aos clientes, como um mailing de WhatsApp para onde ele mandava novidades do cardápio e avaliava os comentários. Para ocupar melhor o tempo de seus funcionários, os garçons que não tinham a quem servir começaram a fazer entrega e ir ao mercado – e assim mantiveram os empregos. Em seguida, com a redução das restrições, veio a aposta mais alta: a inauguração de um bar de vinhos e jazz vizinho ao restaurante, um sonho antigo de Leandro. Além disso, ele abriu outro espaço na Vila Olímpia para servir comida espanhola. “Hoje tenho mais concorrência, principalmente com as dark kitchens (cozinhas que fazem apenas delivery), mas meu plano agora é organizar minhas finanças nas três unidades e investir mais na música”, acrescenta o empreendedor, que soube sair da crise por meio da expansão dos negócios.

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Leandro Dias, do restaurante La Paella

Uma das frentes de atuação do Sebrae-SP em 2020 foi, justamente, ajudar empreendedores – como Leandro Dias – a acessar novos mercados. Um dos caminhos escolhidos foi o de aproximar esses empreendimentos do setor público. Para isso, a entidade promoveu ações de disseminação de conhecimento em compras, aproximação entre clientes e fornecedores nas licitações e conscientização de consórcios e prefeituras a respeito das vantagens de fazer compras conjuntas e de elaborar editais aplicando os benefícios às MPEs previstos na Lei nº 123/2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Então, surgiu a plataforma Compras Públicas-SP, reconhecida como de utilidade pública pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Esse sistema digital se viabilizou por meio de um convênio de cooperação técnica firmado entre o Sebrae-SP e a empresa Ecustomize. O Portal de Compras Públicas conseguiu levar empreendedores individuais, empresas de pequeno porte, cooperativas e produtores rurais a aproveitar oportunidades de mercado criadas pelas políticas de compras governamentais.

A plataforma foi disponibilizada, sem custo, em 12 de agosto de 2020, ao mesmo tempo com um aplicativo que rastreia todos os editais de compras públicas lançados pelo governo federal, pelo governo do estado de São Paulo e pelas prefeituras paulistas. Também foram oferecidos manuais digitais gratuitos com todas as informações a respeito de compras públicas.

Durante o primeiro quadrimestre da parceria, registrou-se a capacitação de 482 gestores públicos e 411 fornecedores em 261 municípios do estado, além da divulgação de 27.021 editais – antes do convênio, haviam sido rastreados apenas 1.432 editais, em modo manual, o que evidencia o ganho proporcionado pela ferramenta online.

Do campo à mesa, as lições

Quando a pandemia obrigou todas as escolas a encerrarem suas atividades presenciais, um problema surgiu. Como as crianças teriam acesso à merenda? Para muitos alunos da rede pública, de famílias mais humildes, o acesso a essa refeição diária é fundamental. Pensando nisso, o Projeto de Lei nº 865/2020 autorizou, durante o período de suspensão das aulas, a distribuição dos alimentos adquiridos com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) diretamente aos pais e aos responsáveis pelos estudantes das escolas públicas de educação básica.

A experiência prévia dos agricultores José e Ângela Esquisário, com base nos conhecimentos adquiridos no Programa Agro Família, parceria entre Sebrae-SP e Senar-SP, permitiu que eles atendessem de pronto à demanda do Pnae e, ao mesmo tempo, pudessem escoar sua produção. O casal produz, por semana, 5 mil quilos de repolho, de 60 mil a 80 mil pés de alface e entre 5 mil e 6 mil pés de rúcula em seu sítio de 10,5 mil metros quadrados, localizado na Fazenda da Barra, no Assenta-

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Angela e José Esquisário, da Fazenda da Barra

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mento Mario Lago, zona rural de Ribeirão Preto (SP). Essa produção abastece todos os dias sete restaurantes e um empório na região, uma barraca na feira orgânica (que ocorre a cada semana) e alguns pedidos de cestas de legumes e verduras diretamente para o consumidor.

A partir de 2020, os Esquisários também passaram a fornecer, com outros produtores familiares, os legumes e as verduras da merenda das escolas municipais de Ribeirão Preto. “Só não produzimos mais por falta de mão de obra”, conta José, que toca a propriedade ao lado da esposa Ângela, cuidando de tudo, do plantio à entrega, passando pela colheita e pela embalagem dos produtos. Para atender à nova demanda da prefeitura, José diz que precisou se concentrar na produção, por isso o neto começou a fazer as entregas. Algo impensável em 2018, quando José lembra que chegou a passar o trator por cima de 15 mil pés de alface que não foram vendidos, assim como outros tantos quilos de repolho, rabanete e beterraba.

O Agro Família tem o objetivo de trabalhar o conceito de “cadeias curtas”, que conecta diretamente os agricultores aos consumidores finais, restaurantes, feiras, indústrias e ao setor público. Aqui também mais uma ruptura importante para o setor: o fim do "turismo do alimento" que, muitas vezes, sai da região onde é produzido para um local onde será processado e volta para a região originária por um preço bem maior.

Nesse processo de empoderamento, foi criada ainda uma identidade visual, com cartão de visita, rótulos e até uniforme. Outra importante conquista do projeto foi a certificação do selo orgânico pelas propriedades, fundamental para as chamadas públicas, além de agregar valor para a venda ao comércio e aos restaurantes. Os compradores exibem em seus estabelecimentos um banner identificando-os como participantes do projeto, acompanhado de uma foto da unidade produtora, para mostrar aos clientes de onde vêm os alimentos que estão consumindo.

Em 2020, o projeto já somava mais de 280 propriedades atendidas, reunindo em torno de 30 restaurantes e 7 prefeituras, além das cestas e das feiras de orgânicos. Para atender a todos os clientes, os empreendedores rurais tiveram de aprender a montar um planejamento com padronização e cronograma da produção, para não desfalcar o abastecimento aos clientes. Tal iniciativa foi tão bem-sucedida a ponto de originar o programa Do Campo à Mesa, cujos resultados foram grande destaque da Feira do Empreendedor 2022.

Soluções digitalizadas para os clientes, inovar foi preciso

A internet foi, de fato, uma grande ferramenta aplicada pelos empreendedores para a superação dos obstáculos impostos pela pandemia. Em decorrência do isolamento social, ações que inicialmente seriam aplicadas de modo presencial, por meio da capacitação técnica e de gestão realizadas por empresas terceirizadas, foram adaptadas para o modelo digital. As iniciativas presenciais somente seriam retomadas no último trimestre de 2020, readequando-as ao novo cenário,

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Interior das instalações do novo Centro de Negócios do Sebrae-SP na região do Grande ABC

respeitando os protocolos sanitários do governo paulista e utilizando apenas parte dos recursos inicialmente previstos. Enquanto isso, diversas medidas adotadas desde março daquele ano viabilizaram formas de não interromper o atendimento prestado aos pequenos negócios.

Para começar pelos principais pontos de atendimento, os Escritórios Regionais do Sebrae-SP, fez-se necessária a adaptação das atividades, que eram na sua grande maioria presenciais. Novos canais e meios de conexão foram empregados para dar seguimento aos projetos de empreendedorismo nas localidades em que cada escritório atua.

Mesmo nos períodos em que o atendimento presencial havia sido liberado, houve uma forte migração para os formatos digital e remoto, com atendimento emergencial em escala, concentrado, entre outras iniciativas, na adaptação de soluções digitais a distância, no acesso a crédito para apoiar MPEs, na implementação de rodadas de negócios virtuais, lives e conteúdo online e em ferramentas e soluções digitais de ensino a distância. O sistema de atendimento 24 x 7 (24 horas por dia, sete dias por semana) foi turbinado, com inclusão de ferramentas digitais de atendimento e capacitação. Assim, o balanço de 2020 registrou a prestação de mais de 20 mil consultorias online pelos Escritórios Regionais do Sebrae-SP, resultado que superou em mais de seis vezes os números alcançados no ano anterior.

A integração de soluções próprias e de mercado tornou-se, em 2020, um fator crucial para lidar com a crise inesperada. Para superar tantos desafios, a plataforma online Vitrine Digital Sebrae foi criada para oferecer, de maneira prática, integrada e efetiva, os principais serviços direcionados às micro e pequenas empresas. O Sebrae-SP investiu também em parcerias capazes de atender às necessidades essenciais dos empreendedores. As principais foram firmadas com o Magazine Luiza, que permitiu a utilização de seu marketplace com vantagens para os clientes Sebrae; com a Helpie, que permite que os empreendedores acessem vários mercados; e com o MEI Fácil, que viabilizou uma plataforma digital de serviços para microempreendedores individuais.

Em outra ação estruturada para disponibilização ágil e atrativa de soluções digitais, o programa de inovação aberta Sebrae Challenge 1.0 estimulou o ecossistema de startups e outros tipos de empresa a apresentar soluções validadas para os desafios propostos, depois incorporadas ao portfólio do Sebrae-SP.

Ao mesmo tempo, o Sebrae-SP reformulou programas já existentes, como o Empreenda Rápido, que havia sido lançado em 2019, em parceria com o governo do Estado, e ganhou nova configuração para a sua continuidade em 2020. Como prova de versatilidade e assertividade, os especialistas do Sebrae-SP fizeram uma adaptação para adicionar medidas como a digitalização dos conteúdos e a ampliação dos atendimentos, para auxiliar o grande número de negócios que enfrentavam dificuldades para retomar as atividades. Com isso, o Sebrae-SP alcançou, de modo virtual, 631 municípios, graças ao novo formato online. Apesar do desafio, a estra-

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Em março de 2020, o Sebrae-SP passou a realizar lives diárias com especialistas para fornecer dicas e orientação de gestão às empresas

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tégia de adequação do programa ao meio digital obteve sucesso e alcançou um resultado acima do planejado.

No final de 2020, o Empreenda Rápido totalizou 1.575 turmas remotas, disponibilizadas por meio de aulas online, educação a distância e WhatsApp, com 106.039 clientes inscritos. Deve-se ressaltar também que, além das atividades de gestão oferecidas pelo Sebrae-SP no programa, por meio da parceria com o governo do estado de São Paulo foram oferecidos cursos técnicos concentrados em temas da área de tecnologia, como programação mobile, programação web, banco de dados e lógica de programação, que atraíram milhares de clientes.

O impacto positivo do programa foi medido por uma pesquisa que demonstrou que, entre os clientes com CNPJ, 87,2% conseguiram manter a empresa e 93,8% retiveram o pessoal ocupado. Dos que se declararam informais no início da participação no programa, 14% se formalizaram, 78,9% indicaram que houve manutenção ou aumento do faturamento e, por fim, 68,2% conseguiram reduzir os custos – a rigor, resultados fantásticos para um período tão complicado.

Outra contribuição expressiva para gerar renda e promover a ocupação por meio do empreendedorismo foi o desenvolvimento e a oferta de soluções de apoio empresarial de fácil consumo, a distância e gratuitas, pelo WhatsApp. O Sebrae-SP adotou, por exemplo, o modelo de microlearning, que, no início, destinava-se a pessoas com pouca disponibilidade de tempo para se deslocar até os canais presenciais de atendimento. Na pandemia, o modelo se mostrou ainda mais funcional. O conteúdo faz parte das trilhas do SuperMEI, que, por sua vez, integra o Programa Empreenda Rápido. Outro tipo de solução a distância também merece destaque: a família de oficinas Descomplique, que contou com a participação de mais de 30 mil clientes e proporciona interação em tempo real por meio de kits do Programa Empreenda Rápido.

Para alcançar suas metas, o Programa Empreenda Rápido também depende da formação de parcerias institucionais que permitam a capacitação dos mais diversos grupos e setores da economia. Ao longo de 2020, mesmo diante das adversidades, foram executadas diversas ações, com as mais variadas entidades das esferas pública e privada, como 99 Táxi, Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan), Metrô SP e Casa do Agente.

A realização de lives diárias também teve um papel importante no fortalecimento da atitude empreendedora durante o período de isolamento social. Ainda em março de 2020, o Sebrae-SP passou a realizar transmissões diárias com especialistas internos e do mercado para fornecer dicas e orientação de gestão às empresas. A série “Seu negócio em tempos de coronavírus” iniciou-se em 16 de março e seguiu até 10 de dezembro, com 180 transmissões ao vivo, que resultaram em mais de 16 milhões de visualizações no Facebook e mais de 418 mil no YouTube. A série incluiu ainda duas semanas temáticas com orientações a respeito da retomada das atividades e informações técnicas sobre protocolos de retomada de setores da economia como beleza, alimentação, varejo e agronegócio.

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Laura Bezerra, da De Olho no Brigadeiro
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Foto: Ricardo Matsukawa O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

Iniciativas para empreendedores como Laura

O impressionante conjunto de programas de qualificação empresarial ampliado pelo Sebrae-SP durante a pandemia já provara há muito a diferença que fazia na vida dos empreendedores, como Laura Bezerra. Nascida em Jaguaruana, no Ceará, ela lembra que desde criança gostava de ajudar a mãe e a avó na cozinha, em especial porque elas faziam doces deliciosos à base de frutas e leite. Aos 18 anos ela veio para São Paulo e, em 2016, depois de três anos sem emprego, um dos filhos pediu que ela fizesse brigadeiro para o aniversário dele. A dificuldade em acertar o ponto do doce a colocou no caminho do Sebrae-SP. Laura participou de um dos cursos promovidos pela entidade e descobriu o “brigadeiro gourmet ” e, ainda mais importante, conheceu professores que incentivavam os alunos a melhorar de vida por meio do empreendedorismo. Para ela, foi uma revelação.

Depois do curso no Sebrae-SP, Laura começou a fazer doces para dar de presente e, em seguida, criou a marca De Olho no Brigadeiro, nome sugerido pela filha – o filho criou o logo da marca. Animada, ela estudou mais a fundo, testou e experimentou muito até criar a receita de “um brigadeiro diferente de qualquer outro”. Tudo seguia bem e Laura pensava em expandir o negócio, quando em março de 2020 veio o choque: a pandemia fechou as lojas, os restaurantes e os shopping centers que compravam seus doces e tudo se complicou. Da noite para o dia, ela viu suas vendas caírem a zero.

E então, mais uma vez, entrou em cena o curso feito no Sebrae-SP. Uma colega que havia participado com ela do programa de qualificação da entidade deu a ideia de criar uma conta da marca no Instagram e, a partir daquele momento, o perfil da loja chamou a atenção dos clientes. Hoje, a De Olho no Brigadeiro faz suas vendas online pelas redes sociais e voltou a crescer, para alívio de Laura Bezerra.

Episódios como esse deixavam evidente o potencial dos programas criados pelo Sebrae-SP como meio de reduzir os efeitos econômicos da pandemia. Nesse sentido, a partir de 2020 também se destacaram as Rodadas de Negócios Virtuais, operadas por meio de plataformas com salas virtuais independentes para compradores e vendedores. Foram 29 rodadas de negócios virtuais, com a participação de mais de 2.400 clientes nas salas virtuais de negócios.

Se a montanha não vai – ou estava impedida de ir – a Maomé, Maomé vai à montanha: seguindo esse princípio, o Sebrae lançou em julho de 2020 outra iniciativa para apoiar as empresas. No programa Sebrae na Sua Empresa, um agente de orientação consultava remotamente as MPEs para fazer uma entrevista de diagnóstico com o empreendedor. Com base nessas informações, passaram a ser oferecidas orientação e demonstração das ferramentas disponíveis, de acordo com as necessidades identificadas. O objetivo era impactar a gestão do negócio de modo imediato, por meio de um atendimento prático e personalizado com foco no aumento da competitividade e do lucro. Desde o início da operação, em julho de 2020, foram atendidos mais de 52 mil donos de empresas em 110 cidades paulistas.

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Participantes do Empreenda Rápido, em evento com as embaixadoras do Programa Sebrae Delas, Luiza Brunet, ao lado da promotora de Justiça, Fabiola Sucasas (de conjunto lilás)

E, no contexto da crise sanitária, surgiu outro problema. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em abril de 2020, primeiro mês após o início da quarentena, as denúncias de violência contra a mulher, recebidas pelo número 180, aumentaram quase 40% em relação ao mesmo período do ano anterior. Sabe-se que um dos vetores para quebrar o ciclo vicioso da dependência dos abusadores é garantir a independência financeira das mulheres. E o empreendedorismo é uma das melhores alternativas para que esse processo seja bem-sucedido.

Não por acaso, no segundo semestre de 2020, o Sebrae-SP aderiu ao Programa Sebrae Delas Nacional, cuja estratégia é voltada para o apoio e o fortalecimento do empreendedorismo feminino. Inspirado na iniciativa São Paulo – 1.000 Mulheres, dedicada à inclusão das mulheres em situação de vulnerabilidade na cidade de São Paulo, o programa rompeu barreiras e fronteiras e foi nacionalizado pelo sistema Sebrae – hoje, está presente em todo o País. Por meio da capacitação online e híbrida, no período de agosto a novembro de 2020 foram certificadas 2.806 mulheres e formalizados 286 negócios, além do reenquadramento de porte de 178 empresas que deixaram de ser MEI para se tornarem ME ou EPP e de 48 que migraram de ME para EPP.

Outro dos grandes desafios nesse período de pandemia foi a manutenção da Feira do Empreendedor, um dos principais eventos de empreendedorismo e negócios do mundo. Com as restrições impostas pela pandemia, em 2020 a feira ganhou formato digital, por meio da parceria do Sebrae-SP com o Sebrae-PR, entre os dias 22 e 26 de novembro. Assim adaptada à realidade daquele momento, a Feira do Empreendedor pôde cumprir o objetivo de fortalecer as micro e pequenas empresas, fomentando a criação de um ambiente favorável à geração de oportunidades de negócios.

A Feira do Empreendedor ofereceu capacitação e soluções para os atuais e futuros empreendedores, por meio da realização de 61 mil atendimentos, dos quais 43.309 em São Paulo, entre consultorias e orientação de crédito, com 17.234 clientes atendidos. O Sebrae também promoveu 71 palestras e oficinas técnicas, ao longo de 44 horas de programação. Ali se registraram os primeiros passos para a entrada da entidade no mundo do metaverso. Com os resultados obtidos nessa edição do evento, a equipe de especialistas do Sebrae-SP decidiu ir além. Na feira foi plantada a semente da plataforma digital Sebrae Experience, que seria lançada no ano seguinte.

Pacotes de auxílio e concessão de crédito, aprendendo Economia Com a economia fortemente afetada pela pandemia, muitos países estruturaram programas de auxílio financeiro à população e às pequenas e médias empresas, além de oferecerem incentivos fiscais e linhas de financiamento para esse segundo público. A medida se justificava: de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia global deveria ter seu pior desempenho desde a Grande Depressão de 1929.

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Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado em maio de 2020 para auxiliar as pequenas e médias empresas atingidas pela pandemia

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Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) compilou as principais ações adotadas por alguns países a partir de abril de 2020. Na Argentina, o governo anunciou um auxílio emergencial no valor de 10 mil pesos (cerca de R$ 840) para os trabalhadores de 18 a 65 anos autônomos, aposentados, pensionistas e dependentes de bolsas governamentais. Para os negócios, o governo lançou uma linha de crédito com juros abaixo da inflação e, por meio do Programa de Recuperación Productiva (Repro), assumiu parte da carga salarial de empresas de transporte de passageiros, hotelaria e entretenimento, além de isentá-las do pagamento de impostos patronais.

Nos Estados Unidos, o governo começou a depositar cheques no valor de US$ 1.200,00 para cada pessoa ou chefe de família, com um adicional de US$ 500 por filho. O valor e o tempo do seguro-desemprego foram elevados para US$ 600 por semana durante quatro meses. Para os negócios, entre outras medidas, o governo direcionou mais US$ 484 bilhões para apoiar pequenas empresas e hospitais, em um pacote de ajuda de US$ 3 trilhões.

No Japão foi lançado pelo governo um pacote de ajuda financeira de quase US$ 1 trilhão para auxiliar famílias e empresas a atravessar a recessão. O pacote também previu que pequenas e médias empresas tomassem empréstimos em bancos privados sem taxa de juros.

O governo chinês implementou as seguintes medidas tributárias: dedução total do imposto de renda para empresas produtoras de materiais ou suprimentos essenciais, dedução total do imposto de renda corporativo ou individual para empresas ou pessoas que fizeram doações para o combate ao coronavírus e isenção de imposto de renda para trabalhadores da saúde.

Na Alemanha, o governo aprovou, no final de março, um plano de recuperação econômica no valor de 750 bilhões de euros para complementar o salário de trabalhadores com jornada reduzida, ajudar autônomos e pequenas empresas e criar um fundo de socorro para a promoção do crédito ou aquisição de empresas que estivessem passando por dificuldades.

Por sua vez, o governo da França aprovou, em meados de abril, um plano de emergência no valor de 110 bilhões de euros. Desse montante, 45 bilhões seriam destinados a empresas e a desempregados. O plano também estabeleceu que 300 bilhões de euros seriam utilizados como garantia, por parte do Estado, aos empréstimos bancários realizados por empresas. Outros 20 bilhões de euros foram alocados para permitir que o Estado detivesse participação no capital das empresas em dificuldade.

No Brasil, além dos programas de auxílio estruturados pelo governo federal, as instituições financeiras e órgãos de administração tributária e de instâncias jurídicas se mobilizaram para apoiar o empresariado. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou que o Banco do Brasil, o Bradesco, a Caixa, o Itaú Unibanco e o Santander se comprometeriam a atender pedidos de prorrogação, por 60 dias,

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dos vencimentos de dívidas de pessoas físicas e de micro e pequenas empresas para os contratos em dia, limitados aos valores já utilizados.

O BNDES disponibilizou o montante de R$ 55 bilhões para a transferência de recursos do Fundo PIS-Pasep para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no valor de R$ 20 bilhões. Anunciou ainda a suspensão temporária do pagamento das parcelas de financiamentos diretos para empresas no valor de R$ 19 bilhões e do pagamento de parcelas de financiamentos indiretos para empresas no valor de R$ 11 bilhões. Em paralelo, foi ampliado o crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), por meio dos bancos parceiros, no valor de R$ 5 bilhões.

O Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN) prorrogou, por seis meses, o prazo para pagamento dos tributos apurados no regime do Simples Nacional, medida que beneficiou MEIs e MPMEs. Quanto aos tributos estaduais e municipais, o comitê decidiu alongar, por três meses, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS) apurados no Simples Nacional, com vencimento em abril, maio e junho de 2020 para micro e pequenas empresas. Já para os MEIs, o prazo dado por estados e municípios seria o mesmo concedido pela União: seis meses. A Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, por sua vez, estendeu por 90 dias o prazo de pagamento, para pessoas físicas e empresas, do protesto de dívidas.

No âmbito das ações do governo federal, um importante apoio veio com a Lei nº 14.032, de 4 de agosto de 2020, que regulamentou o Programa Emergencial de Acesso a Crédito na Modalidade de Garantia de Recebíveis (Peac-Maquininhas), por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O programa entrou em vigor em 1º de outubro de 2020 com a oferta de uma linha de R$ 10 bilhões em financiamentos custeados por recursos do Tesouro Nacional e voltados para microempreendedores e pequenos negócios, com empréstimos de, no máximo, R$ 50 mil. A previsão era de que seria possível realizar 200 mil operações.

Cabe mencionar, ainda, a Lei nº 14.043, de 19 de agosto de 2020, que instituiu o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) e concedeu uma linha de crédito especial para PMEs pagarem salários durante o estado de calamidade pública decorrente do novo coronavírus.

O Sebrae viabilizou a garantia de financiamentos para MPEs, por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), um instrumento do Sebrae que, nos anos de 2020 e 2021, apoiou mais de 130 mil micro e pequenas empresas na obtenção de R$ 8 bilhões em empréstimos – quase 30% de todo o volume de crédito garantido pelo fundo desde sua criação, em 1995, que foi de R$ 25,8 bilhões até o momento. Também o governo do estado de São Paulo adotou medidas para minimizar os impactos da pandemia nos pequenos negócios. Em abril de 2020, o Sebrae-SP firmou parceria com o governo estadual e a Agência de Desenvolvimento do Estado de São Paulo (Desenvolve SP) para oferecer financiamento aos empreendedores concluintes do Programa Empreenda Rápido. Foram aplicados

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R$ 50 milhões pelo Sebrae-SP e R$ 75 milhões pelo governo no Fundo de Crédito Produtivo Popular, em operações realizadas pelo Banco do Povo Paulista.

Dos R$ 50 milhões aplicados pelo Sebrae-SP, R$ 48 milhões atenderam 2.985 empresas instaladas em 277 municípios paulistas. O maior volume de empréstimos foi direcionado para o comércio, no total de R$ 27 milhões, seguindo-se o setor de serviços, com R$ 18 milhões concedidos.

Com o objetivo de elevar a competitividade e a produtividade dos pequenos negócios, ao longo de 2020, o Sebrae-SP também desenvolveu ações de concessão de crédito orientado e mapeou as necessidades mais urgentes das MPEs. Uma pesquisa realizada pela entidade, em abril, mostrou que 60% dos negócios de pequeno porte que solicitaram crédito tiveram o pedido negado. Sentindo que era preciso criar um mecanismo desburocratizado que de fato atendesse às MPEs, foi lançado o Programa de Crédito Retomada, com um fundo de crédito de R$ 50 milhões para microempresas (MEs), MEIs e produtores rurais de São Paulo.

Para distribuir crédito de forma rápida e fácil, 100% digital e com um processo concluído em sete dias úteis, o programa contou com parceiros para a operação e a distribuição do recurso: na primeira fase, fintechs levaram R$ 35 milhões para empreendedores e, na segunda, adquirentes passaram a conduzir a distribuição dos R$ 15 milhões restantes. A solicitação era realizada, na primeira fase, por meio do site do programa e, na segunda, por contato direto.

Embora o Sebrae-SP não atue como instituição financeira, esse foi um movimento excepcional. Até dezembro de 2020, o Programa Retomada já tinha beneficiado 2.650 empreendedores ao distribuir R$ 38,4 milhões em cinco meses, contribuindo para a sobrevivência e a competitividade de um número considerável de negócios.

De modo geral, o Sebrae-SP trabalhou com excepcional empenho para ampliar políticas públicas que garantissem fôlego e estabilidade para a condução dos negócios, em especial as que garantissem o acesso ao crédito. No conjunto dos programas de concessão de crédito, beneficiaram-se mais de 13 mil MEIs e micro e pequenas empresas. A entidade encerrou 2020 com a absoluta convicção de que sua atuação teve impacto decisivo na retomada do faturamento e do otimismo dos empresários – em dezembro, 31% deles acreditavam que haveria avanços no desempenho de suas empresas nos próximos seis meses. Também ocorreu um impacto na desaceleração da perda de receita das empresas, que chegaram a perder 49,8% de seu faturamento em abril, na comparação com abril de 2019. A projeção era de que deveriam encerrar 2020 com recuo em torno de 20% da receita em relação a 2019 – ainda no vermelho, mas em um tom mais brando quando comparado com o cenário do início da pandemia.

A importância da educação empreendedora: o futuro da inovação Um dos caminhos para o sucesso profissional é, de maneira comprovada, o investimento em educação e na qualificação profissional. Naquele momento tão peculiar

69 Capítulo 3

Alunos da Faculdade Sebrae durante atividades dos cursos

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da história, no caos de uma pandemia que abalou o mundo, destacou-se, de modo particular, a necessidade de promoção da educação empreendedora como instrumento fundamental para preparar crianças, jovens e adultos não somente para a adaptação ao mundo novo, mas para serem criativos, inovadores e realizadores –enfim, protagonistas de sua jornada na vida e na carreira.

Por acreditar que empreendedorismo também se aprende na escola, o Sebrae-SP conta, há mais de 20 anos, com uma área dedicada a desenvolver e implantar programas de educação empreendedora nas redes pública e privada de ensino. Essa área também não parou na pandemia – ao contrário. Com as restrições que encerraram as escolas, as equipes de especialistas da entidade aproveitaram o momento para também se transformar, ampliar a rede de contatos e expandir a atuação.

Com o objetivo principal de promover entre os estudantes do ensino fundamental e do ensino médio o espírito empreendedor e inovador, o programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) se iniciou em São Paulo, e hoje sua metodologia está presente em todo o País. Durante 2020, as aulas do programa JEPP foram ministradas a distância, e cada município adotou um modelo próprio para dar continuidade ao ano letivo.

A crise ainda levou o Sebrae-SP a participar de chamamentos públicos da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e, também, dos municípios para a cessão de conteúdo didático aos estudantes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Desse modo, foram oferecidas 10 aulas eletivas de empreendedorismo, por meio do Centro de Mídias da Secretaria da Educação, em uma parceria de sucesso que atendeu 231.740 estudantes do ensino fundamental e 193.347 do ensino médio pelo aplicativo do Centro de Mídias e pelo YouTube.

Em 2020, o processo de ensino e aprendizagem da primeira escola e da primeira faculdade técnicas gratuitas de empreendedorismo no Brasil – a Etec Sebrae e a Fatec Sebrae – desenvolveu-se pela plataforma Microsoft Teams do Centro Paula Souza e atendeu cerca de 1,2 mil alunos. Nesse período, os estudantes obtiveram reconhecimento em competições e congressos e sete deles foram selecionados para participar do programa de Incubadora de Projetos da Escola de Negócios Sebrae-SP “Alencar Burti”. As duas instituições de ensino ganharam o reconhecimento da sociedade: a Fatec Sebrae teve seu curso de graduação tecnológica em marketing classificado em primeiro lugar entre as instituições públicas de ensino superior do País, obtendo a nota máxima (conceito 5) no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Já a Etec Sebrae alcançou o segundo lugar entre as vinte melhores escolas públicas da capital paulista no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

A fim de apoiar a continuidade do ensino, a Escola Superior de Empreendedorismo (ESE) deixou de cobrar as mensalidades nas modalidades de graduação e pós-graduação entre abril e dezembro de 2020. Também naquele ano, a ESE foi remodelada com o objetivo de ser nacionalizada e consolidar seu papel de berço de

71 Capítulo 3

Programa JEPP é disponibilizado às escolas da rede pública do Estado, atendendo estudantes do ensino fundamental

O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

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conhecimento altamente impactante no processo de competitividade dos pequenos negócios. Desse modo, o Sebrae protocolou no Ministério da Educação a solicitação de credenciamento da instituição nessa modalidade. Uma vez realizada a visita do MEC, a Escola Superior de Empreendedorismo obteve nota máxima.

Sobressaem nessas ações o Núcleo de Empreendedorismo do Sebrae-SP e os programas de capacitação e inovação Startup-SP, Incubadora-SP, Hub e Speed Mentoring. Essa atuação se espelha em experiências como a de Israel, referência em inovação, tecnologia e empreendedorismo, com modelo de criação de startups reconhecido em nível global. Ali são investidos em pesquisas 4,5% do PIB, e as crianças começam a ser alfabetizadas a partir dos 4 anos de idade.

Nesse aspecto, as atividades de ensino se conectaram com as ações postas em prática ao longo de 2020. Adotando as medidas de segurança necessárias, a direção do Sebrae-SP visitou a maioria dos polos de tecnologia do estado e participou de reuniões com integrantes de dezenas de entidades representativas. Foram os primeiros passos rumo à criação e implementação de um dos planos mais arrojados de inclusão tecnológica.

Outra iniciativa relacionada é o Programa Startup-SP, que atende empresas nascentes com atuação digital e inovadora no estado de São Paulo, para modelos de negócios para diferentes segmentos da economia. Em 2020 foram beneficiados mais de 240 projetos, com 11.337 atendimentos e o envolvimento de 25 Escritórios Regionais.

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Capítulo 4

Uma nova esperança

Surge a vacina

Em 6 de agosto de 2020, os brasileiros voltaram suas atenções para uma notícia que se revelou como o primeiro sinal de renovação da esperança e, enfim, de alguma perspectiva de fim da pandemia. A direção do Instituto Butantan anunciou a possibilidade de disponibilizar imunizantes contra o novo coronavírus a partir de outubro. O centenário centro de pesquisas biológicas, localizado na capital paulista e vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, do governo do Estado de São Paulo, desenvolve um notável trabalho em saúde pública, produzindo grande variedade de soros imunoterápicos utilizados para combater incidentes causados por serpentes, aranhas e escorpiões. Para a nova empreitada, o Butantan associou-se à farmacêutica chinesa Sinovac, para produzir o que seria registrado como a vacina CoronaVac.

Em 13 de outubro, o Brasil registrou uma sensível queda em mortes e casos de covid-19. Dados consolidados das secretarias estaduais de saúde anunciaram que a média móvel de óbitos no País havia tido uma variação negativa de 28% em relação aos dados registrados nos 14 dias anteriores, a maior baixa desde 7 de maio. No início de dezembro, o Instituto Butantan deu início à produção da CoronaVac. O governo do estado de São Paulo anunciou que a vacina começaria a ser fabricada em turnos sucessivos, 24 horas por dia, sete dias por semana. A intenção era alcançar a capacidade máxima de até 1 milhão de doses por dia.

A pandemia de covid-19 expôs o Brasil a um desafio sanitário, social e econômico sem precedentes. Para ter uma dimensão do problema, basta lembrar que a economia brasileira, assim como a mundial, foi muito afetada pela pandemia. O Produto Interno Bruto do Brasil registrou queda de 4,38% em 2020, e a taxa de desemprego atingiu 13,5%.

No final de novembro, cerca de 70% das micro e pequenas empresas brasileiras estavam com faturamento abaixo do registrado no período pré-pandemia, de acordo com a série de pesquisas realizadas pelo Sebrae-SP. No acumulado do ano, as MPEs paulistas apresentaram queda real no faturamento de 22,5%. Em síntese, em 2020, a conjuntura econômica foi desfavorável para os pequenos negócios, assim como para a grande maioria das empresas e dos setores econômicos brasileiros. Contudo, mesmo em períodos de crise, os pequenos negócios resistem, tanto que de 2014 a 2020, quando a economia nacional oscilou entre momentos positivos e negativos, estima-se que o número de negócios de pequeno porte tenha crescido 12,2% ao ano.

No balanço de todas as ações empreendidas em 2020 e no início de 2021, fica a sensação gratificante de superação. Nesse período complexo, em que desafios

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Programa de vacinação no Estado de São Paulo teve início em janeiro de 2021

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antes inimagináveis insistiam em levar os empreendedores a uma equação impossível, o Sebrae-SP buscou soluções para que as empresas mantivessem as portas abertas. Muito aprendemos, todos nós, com a pandemia de covid-19.

No que se refere aos postos de atendimento presencial, embora a pandemia tivesse inviabilizado a abertura de todas as unidades do programa Sebrae Aqui previstas para o período, houve aumento no resultado, com a inauguração de 128 postos, totalizando 361 em funcionamento. Foi, porém, o intenso processo de transformação digital que possibilitou a realização de cerca de 2,7 milhões de atendimentos de maneira rápida, objetiva e eficaz – uma média de 10.916 por dia –, com as melhores respostas para as dúvidas e necessidades de 1,2 milhão de pessoas que desejavam empreender. Apesar de tantas adversidades, o número de atendimentos realizados em 2020 superou o do ano anterior, o que comprova que a ausência de assessoria presencial na maior parte do ano teve um impacto inferior ao que se poderia esperar. A explicação pode estar no aumento da presença digital do Sebrae-SP: as consultorias a distância triplicaram em quantidade e a busca por cursos de capacitação em EAD cresceu 156% no período.

A vacinação

No final de 2020, planejar o futuro ainda era uma prática distante da realidade de muitos brasileiros – e de centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo. Era um tempo de desalento, de desistência de objetivos e de temor do que viria a seguir. Entretanto, com a expectativa do início da vacinação, o mundo começou a respirar novos ares de alívio.

Em 24 de dezembro, 56 países já haviam iniciado os programas de imunização. O primeiro foi a China, e no Ocidente o Reino Unido saiu na frente, ao começar a imunizar a população no dia 8 daquele mês. Por lá, o plano de vacinação deu prioridade aos profissionais da área de saúde, pessoas com mais de 80 anos e funcionários de casas de repouso – modelo que seria seguido por muitos países, entre os quais o Brasil.

Entre os primeiros países a oferecer a vacinação na América Latina figuravam México, Costa Rica e Argentina, com o Brasil ainda em compasso de espera. Para piorar a sensação de angústia, volta a crescer o número de óbitos em todo o mundo. O Brasil, em 7 de janeiro de 2021, alcançava a marca de 200 mil mortes por covid19, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), ficando atrás apenas dos Estados Unidos em número total de óbitos até aquele momento. Como combater a desesperança?

Em 25 de janeiro, data importante para a capital de São Paulo, quando completaria seus 467 anos de fundação, estava programado o início da vacinação em todo o estado, começando por idosos e profissionais de saúde. São Paulo foi a primeira unidade da federação a apresentar uma estratégia alternativa ao Plano Nacional de Vacinação contra o coronavírus, uma vez que dias antes o Ministério da Saúde

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Nilva Magalhães, da Nill Flowers Moda O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

anunciara que o programa nacional ainda dependeria da aprovação de um imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em São Paulo, quando se anunciou o programa, previa-se que a primeira fase seria concluída até 28 de março, com a vacinação de 1,5 milhão de profissionais de saúde e 7,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Assim como nos demais países, a escolha do público-alvo levou em consideração as faixas etárias com maior incidência de óbitos – 77% das mortes por covid-19 estavam concentradas em pessoas acima de 60 anos. O governo anunciou o envolvimento de 54 mil profissionais de saúde, o uso de 27 milhões de agulhas e a movimentação de 25 mil policiais para a escolta das vacinas.

A data de início do programa, contudo, foi antecipada para 17 de janeiro, graças à aprovação, pela Anvisa, do uso emergencial da CoronaVac. A enfermeira Mônica Calazans foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a covid-19 no Brasil. Aos 54 anos, moradora em Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, a profissional da saúde trabalhava no Hospital Emílio Ribas, referência no tratamento da doença no País.

Se naquele momento planejar o futuro estava fora de cogitação para muitas pessoas, no Sebrae essa nunca foi uma opção. Desde o final do ano anterior, a entidade já colocara em discussão a seguinte pergunta: “Qual é o Sebrae de que o Brasil precisa?”. Obter a resposta correta para esse questionamento foi o que levou o sistema Sebrae, em âmbito nacional e de forma coletiva, a realizar um amplo trabalho em seu Planejamento Estratégico para o período 2021-2023.

O propósito era transformar os pequenos negócios protagonistas do desenvolvimento sustentável do Brasil e fazer da entidade uma referência na promoção do empreendedorismo e na geração de valor para o segmento.

No âmbito estadual, o Sebrae-SP participou ativamente dessa construção e traduziu muitos desses objetivos e desafios em pilares de atuação para 2021. Ficou o entendimento de que “o Sebrae de que o estado de São Paulo precisa é um Sebrae que faz a diferença”.

Ciente da relevância de São Paulo no contexto nacional, o Sebrae-SP estabeleceu quatro diretrizes para começar os trabalhos de 2021, muitas delas em continuidade às que haviam obtido bons resultados no ano anterior – e que, afinal, foram adaptações no escopo do conceito de reshape. Em linhas objetivas, o Sebrae-SP deu continuidade ao projeto de reestruturação organizacional iniciado em 2020.

Foi adotado, então, o lema “Presença que transforma” como o norte do ano de 2021. Partindo das diretrizes estratégicas aprovadas pelo Conselho Deliberativo, a atuação da entidade se concentrou no eixo de transformação das localidades.

Momento de consolidação com conhecimento Se 2020 foi marcado pela rápida ampliação e pela adequação da oferta de soluções do formato presencial para o modelo remoto, 2021 se destacou pelos esforços em consolidar essa atuação, aprimorar as estratégias educacionais e modernizar os

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processos de atendimento online. Iniciou-se um período de aprimoramento das transformações que ocorreram no ano anterior. Internamente, o mesmo critério foi adotado: por meio das experiências de 2020, foi possível obter padrões e ideias para instalar um modelo híbrido de funcionamento, parte presencial e parte remota, com base nas melhores práticas.

Agora plenamente adaptados a esse formato de trabalho, os colaboradores do Sebrae-SP também estavam prontos para continuar ajudando os clientes a vencer seus desafios. Clientes como Nilva Magalhães, dona da Nill Flowers Moda. Assim como boa parte dos empreendedores, Nilva começou na informalidade, quase como um teste antes de encarar o desafio de manter a empresa própria. Ela trabalhava como executiva de vendas de algumas marcas, mas após cinco anos nessa função partiu para uma nova atividade que acenderia nela a faísca do empreendedorismo. “Comecei a trabalhar como sacoleira, levando peças para as clientes. Isso me fez ter o sonho de montar uma loja, e comecei no Facebook e depois usei também o Instagram”, lembra.

Foram dois anos trabalhando apenas no formato digital pelas redes sociais, até que em 2018 Nilva montou na garagem da sua casa a primeira versão da loja física. A transição do digital para o presencial não foi tarefa fácil. “Confesso que em alguns momentos tive vontade de desistir.”

Em 2020, ela estava decidida: se a empresa não evoluísse, seria o fim de sua jornada como empreendedora. O que a fez mudar de ideia foi um evento do Sebrae Aqui, realizado no Shopping Carapicuíba, na cidade de mesmo nome na Grande São Paulo, ainda antes da pandemia. Depois disso, Nilva começou a participar de lives e de um grupo de empresários com os quais os consultores mantinham contato. Ela também ingressou no programa Enfrentar Mulher, promovido pelo Sebrae-SP no Escritório Regional de Osasco para que as empreendedoras tivessem apoio em suas atividades durante a pandemia. Foi quando começaram as transformações e Nilva repensou seu negócio.

Em princípio, ela fez um diagnóstico de sua empresa e percebeu que estava perdendo muitas oportunidades. Com foco e vontade de aprender, Nilva passou por todas as consultorias, o que lhe rendeu um convite para participar do Sebraetec. “Eu fui escolhida para montar o meu e-commerce, em parceria com o Senai. Foi um grande sonho realizado, porque até então eu não tinha condições de fazer algo desse tipo. Colocamos o site no ar em 13 de novembro de 2020”, lembra.

Assim foi formalizada a Nill Flowers Moda, marca de roupas para mulheres evangélicas. O fato de o negócio ter foco nesse público específico foi importante, pois ajudou Nilva a perceber que esse era um nicho comercial, um diferencial para esse segmento nas redes sociais, e isso representou um grande salto para a marca, que passou a vender para um número bem maior de clientes. “O Sebrae-SP foi muito bom para mim na pandemia. Os cursos, palestras e lives fizeram com que eu me distanciasse dos acontecimentos negativos relacionados àquele momento.

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O conhecimento nunca é demais, e quando nós não temos acesso a isso o que nos resta é ficar com medo do que pode acontecer”, acrescenta a empreendedora.

Embora o cenário estivesse melhorando, e muito em razão do início da vacinação, a pandemia não terminara e os cuidados para evitar o contágio ainda eram observados com atenção. E a ansiedade de todos os brasileiros pela plena retomada da vida “normal” só aumentava.

Dois dias depois do início da vacinação em São Paulo, outros estados adotaram os próprios programas de imunização, seguindo a mesma estratégia: primeiro os profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos. Cabe mencionar uma experiência marcante nesse processo, o chamado Projeto S, que realizou, em fevereiro, a vacinação dos voluntários do estudo de efetividade da CoronaVac feito pelo Butantan no município paulista de Serrana. A pesquisa pioneira teve como objetivo imunizar toda a população adulta da cidade para entender o impacto da vacina no controle da pandemia de covid-19 e na transmissão do SARS-CoV-2.

Embora o programa de vacinação estivesse em curso em todo o Brasil, o segundo ano da pandemia de covid-19 seria marcado por uma segunda e violenta onda de contágio, pelo colapso do sistema de saúde em várias regiões e pelo surgimento de novas variantes do vírus, bem mais transmissíveis, como gama, delta e ômicron. Em 23 de março, em 24 horas ocorreram 3.251 mortes por covid-19, segundo dados enviados pelos estados e agregados pelo Conass, das quais 1.021 no estado de São Paulo. Um dia depois, o Brasil atingiu a marca de mais de 300 mil mortos pela doença, desde o início da crise.

Em contrapartida, uma boa notícia chegou em 3 de maio, quando foi anunciado que o número de óbitos de idosos acima de 80 anos havia caído pela metade no Brasil, depois da vacinação. O percentual médio de vítimas nessa faixa etária era de 28% em janeiro, quando se iniciou a vacinação, e caiu para 13% em abril, segundo estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas. Ao lado disso, os resultados preliminares do Projeto S vieram a público em 31 de maio, com outra notícia positiva: os casos de covid-19 recuaram de modo acentuado em Serrana, a cidade que havia sido escolhida como parâmetro do resultado da vacinação. A aplicação da CoronaVac fez os casos sintomáticos caírem 80%, as internações, 86%, e as mortes, 95%. Além disso, o estudo demonstrou que o imunizante era efetivo em idosos e contra a variante gama do vírus SARS-CoV-2.

Por todos esses motivos, 2021 seria marcado pela transição entre períodos de isolamento social e de abertura das atividades econômicas. Mesmo com o avanço da vacinação contra a covid-19 em todos os países, a OMS anunciou que a testagem em massa continuava sendo uma alternativa importante para enfrentar a disseminação do novo coronavírus. Atendendo a esse chamamento, o Sebrae-SP uniu-se ao sistema Faesp/Senar-SP, por meio do programa “Promovendo a Saúde no campo”, e, em parceria com a Fiocruz (RJ) e os sindicatos rurais, deu apoio ao desenvolvimento e à implementação do “Semear da Esperança”. O programa disponibilizou

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testes à população do interior paulista, identificando possíveis contaminações e permitindo que fossem adotadas medidas para restringir a circulação do vírus. Mais de 500 mil testes gratuitos foram disponibilizados para a população rural do estado de São Paulo.

Nesse cenário de instabilidade e imprevisibilidade para a realização dos atendimentos presenciais, o Sebrae-SP concentrou boa parte do seu esforço na ampliação da oferta de soluções a distância, com destaque para as que não exigiam a interação humana e contavam com apoio de recursos pedagógicos modernos e tecnologias de inteligência artificial.

A entidade deu continuidade ao seu processo de reestruturação. O compromisso de manter a expansão, aumentando sua presença em todo o Estado, criando acessibilidade e capilaridade para um crescimento sustentável, foi mantido como uma das prioridades estratégicas, assim como o enfoque direcionado à transformação e ao impacto das ações, e não apenas ao esforço para realizá-las. Outros pontos que merecem destaque referem-se à simplificação e à desburocratização dos negócios, à formalização, ao atendimento ao público vulnerável visando à sua inclusão produtiva, à ampliação do volume de compras realizadas pelos municípios, favorecendo os pequenos negócios, à ampliação da educação empreendedora e às iniciativas que visavam ao aumento da produtividade e aos resultados dos pequenos negócios.

Do ponto de vista da economia, uma boa notícia veio do governo federal, que atendeu a uma demanda levada por lideranças empresariais e pelo Sistema S. Em 2 de junho de 2021, o Pronampe tornou-se uma política pública permanente por meio da Lei nº 14.161, que conferia “tratamento diferenciado e favorecido às micro e pequenas empresas, com vistas a consolidar o segmento como agente de sustentação, transformação e desenvolvimento da economia nacional”. Quando a norma foi publicada, estava previsto que o programa concederia pelo menos R$ 5 bilhões em crédito a micros e pequenas empresas, valor que poderia chegar a R$ 25 bilhões, dependendo da participação de bancos públicos e privados. Esse montante seria essencial para fornecer garantias de crédito emergencial às MPEs durante a pandemia, para cobrir despesas com salários, contas de água e luz, investimento e compra de mercadorias.

Houve também avanços no ambiente de negócios, com a Lei nº 14.195/2021, de 27 de agosto de 2021, que se destinava a promover a redução da burocracia para os negócios de pequeno porte, ao dispor sobre a facilitação para abertura de empresas e a proteção de acionistas minoritários, entre outras medidas.

No segundo semestre de 2021, outro revés abalaria as expectativas da população a respeito do aguardado fim da pandemia, no momento em que a vacinação avançava. Em 28 de julho, a OMS anunciou que a variante delta do SARS-CoV-2 se tornara uma ameaça global. Surgida na Índia, ela se espalhou rapidamente e alcançou 132 países em algumas semanas. Por outro lado, o Brasil registrou queda

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de 42% das mortes por covid-19, de acordo com dados do Ministério da Saúde no mês de julho, uma diminuição atribuída ao avanço da vacinação. Até aquele mês, 96 milhões de brasileiros tinham recebido pelo menos uma dose do imunizante.

Depois da escalada mundial da variante delta e de sua predominância em São Paulo, em 15 de setembro, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, recebeu um lote de 100 milhões de doses da CoronaVac a serem distribuídas aos estados. Ampliando a abrangência do programa, a partir do dia 22 daquele mês, o Ministério recomendou o início da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos. Em 14 de novembro, o Brasil já havia ultrapassado os Estados Unidos em porcentagem de vacinação completa contra a covid-19.

Segundo a plataforma Our World in Data, naquela data, 59,8% dos brasileiros tinham completado o esquema vacinal, ao passo que nos Estados Unidos o índice era de 57,6%. Desse modo, a variante ômicron do SARS-CoV-2, considerada ainda mais transmissível do que a cepa original do novo coronavírus, detectada pela OMS em 25 de novembro, embora fosse preocupante, não trouxe um agravamento na sensação de angústia que persistia entre a população brasileira.

Em 22 de dezembro, a região das Américas ultrapassou 100 milhões de casos de covid-19, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), com os Estados Unidos gerando um aumento de 36% nos casos no Hemisfério Norte. Preocupados, médicos e especialistas da Câmara Técnica do Ministério da Saúde e de entidades como Sociedade Brasileira de Imunologia, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Pediatria pediam urgência na vacinação infantil no Brasil. Desde o dia 16, a Anvisa já havia aprovado o uso de vacina contra a covid-19 em crianças de cinco a 11 anos, mas a aplicação do imunizante nessa faixa etária teria início apenas em janeiro de 2022.

Até o final de 2021, o País atingiu a importante marca de 80% de sua população-alvo completamente vacinada. O Brasil também começou a oferecer a dose de reforço da vacina e fechou o ano com o retorno de atividades essenciais presenciais, mas ainda sem a liberação total das medidas restritivas. Por outro lado, a Europa e os Estados Unidos viviam o avanço da variante ômicron, reacendendo o alerta para a necessidade de manter os cuidados. Afinal, a pandemia ainda não acabara.

Do ponto de vista da saúde e da economia brasileira, a pandemia e as restrições nas atividades produtivas resultaram em uma queda abrupta na demanda externa e interna, além de limitações na oferta. Em 2020, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo País, o Produto Interno Bruto (PIB), registrou queda de 4,1% em relação ao ano anterior. Foi a terceira maior queda na série histórica desse indicador. Contudo, entrando em um ritmo de recuperação, o PIB mostrou crescimento de 4,6% em 2021, com um total de R$ 8,7 trilhões. O aumento nos índices de vacinação contribuiu para essa melhora na taxa de expansão. No entanto, a trajetória para a completa recuperação no médio prazo continuaria sendo difícil, dadas as vulnerabilidades estruturais e fiscais preexistentes e o impacto da pressão inflacionária.

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Fachada do Centro de Negócios do Grande ABC Fachada do Centro de Negócios de Sorocaba
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Centro de Negócios do Sebrae-SP em Presidente Prudente

Em 2021, com o início da retomada econômica mundial e a ocorrência de problemas climáticos, houve dificuldades no fornecimento de insumos e matérias-primas nas grandes cadeias globais. Além disso, ocorreram a valorização do dólar e fortes incertezas políticas internas. Desse modo, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 10,06%, ante os 4,52% de 2020. Para fins de controle inflacionário, os juros básicos (taxa Selic) passaram de 2% ao ano no final de 2020 para 9,25% em dezembro de 2021.

O nível de emprego registrou uma recuperação gradual ao longo de 2021. No primeiro trimestre, no Brasil, a taxa de desocupação era de 14,9% da força de trabalho, a mesma registrada no terceiro trimestre de 2020. A partir daí, a taxa de desocupação trimestral mostrou trajetória de queda, chegando a 12,6% no terceiro trimestre de 2021. No estado de São Paulo, no terceiro trimestre de 2020, a taxa de desocupação era de 15,4% da força de trabalho. A partir do quarto trimestre de 2020, iniciou-se uma trajetória de redução desse índice, que chegou a 13,4% no terceiro trimestre de 2021.

O Sebrae do Futuro avança em 2021

Em dezembro de 2021, já haviam decorrido quase dois anos de incertezas, durante os quais as pessoas tiveram de aprender a conviver por meio de telas e a tentar planejar a vida de algum modo, em um futuro não linear, confuso e em construção. Nesse período, dois conceitos foram fundamentais no Sebrae-SP: resiliência e inovação. A resiliência permitiu que colaboradores e empreendedores seguissem em frente e que a instituição ampliasse sua rede de atendimento quando os empreendedores mais precisavam.

Nesse contexto, dando continuidade ao Projeto Novo Sebrae, algumas rotas foram ajustadas para a construção do Sebrae do Futuro.

Um dos principais projetos para abarcar boa parte dessas mudanças foi o novo modelo de Escritórios Regionais da entidade, com o propósito de torná-los a referência de um Sebrae-SP transformado, mais aberto e impulsionador dos negócios locais.

Sorocaba recebeu o primeiro piloto, inaugurado em agosto de 2021. Além de uma grande mudança física, passou também por uma ressignificação no modelo de atuação e atendimento, tornando-se um local mais concentrado nas necessidades locais, com um verdadeiro ecossistema de serviços para o empreendedor e para a cidade. O processo de desenvolvimento da jornada do cliente envolveu diferentes áreas do Sebrae-SP e inúmeros parceiros, e assim se definiram as frentes de atuação para atender melhor às necessidades do cliente, sempre com foco no objetivo de atuar como um centro de geração de negócios e conexão. Com novos espaços integrados e colaborativos e serviços criados para dar suporte a esse novo modelo de atuação, surgiu também a necessidade de preparar os colaboradores para desenvolver novas habilidades.

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David Jean, da Marrocos Lanches O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

Em relação à rede de atendimento presencial, foram criados à época 128 postos do Sebrae Aqui. Como resultado desse trabalho, 2021 foi encerrado com 400 pontos de atendimento físico no estado de São Paulo: 33 Escritórios Regionais (ERs), seis pontos de atendimento próprios, 361 operações com parcerias (Sebrae Aqui), além de 23 unidades Sebrae Móvel.

Com a atuação integrada de uma rede pró-empreendedorismo, formada por entidades públicas e privadas das esferas municipal, estadual e federal, e de um corpo de colaboradores e fornecedores conectados ao propósito da entidade, realizaram-se mais de 5 milhões de atendimentos a pessoas jurídicas e físicas, dos quais 3,8 milhões foram feitos pelos canais digitais implantados exclusivamente para isso. Mais representativos ainda foram os resultados obtidos: em média, 89% dos empreendedores mantiveram ou aumentaram o faturamento, 98% incorporaram práticas inovadoras, 64,8% registraram manutenção ou redução de custos e centenas de milhares de paulistas decidiram formalizar seus empreendimentos.

Conexões digitais ampliadas e o exemplo de David

Os resultados da atuação do Sebrae-SP apresentaram números de fato impressionantes e mostraram, com clareza, a importância da instituição no apoio ao empreendedorismo paulista, seja em uma crise tão grave quanto a pandemia de covid-19, seja em tempos normais. O histórico do relacionamento entre o Sebrae-SP e as micro e pequenas empresas nos últimos 50 anos é recheado de histórias de superação de desafios e de finais felizes, como conta David Jean, dono da Marrocos Lanches, em Presidente Prudente, no oeste do estado de São Paulo. São essas histórias que nos educam para o futuro.

Tudo começou há mais de 40 anos, com um trailer que servia lanches e se transformou em um negócio inovador, reposicionado no mercado graças à conquista de uma nova geração de clientes. O passo decisivo aconteceu quando David, o filho dos proprietários do trailer, fez um curso do Sebrae-SP que despertou suas habilidades empreendedoras e o incentivou a reestruturar a empresa.

Ainda muito jovem, em 2005, ele começou a ajudar os pais na lanchonete, mas não gostava muito da ideia de deixar os amigos para cumprir essa tarefa. Hoje, aos 27 anos, David reconhece que o conhecimento contribuiu de modo positivo para a sua trajetória. “Sei, agora, que não perdi nada, somente ganhei com a experiência. A educação dos meus pais e o aprendizado sobre valores foram o que me tornaram uma pessoa mais responsável e madura”, afirma.

No início de 2016, quando concluía o curso de Administração, ele ainda tinha dúvidas quanto ao futuro. Então decidiu procurar o Sebrae-SP e descobriu o Empretec, programa com foco na formação de empreendedores. Durante a capacitação, David percebeu que o seu propósito deveria ser o de ajudar os pais a profissionalizar a empresa antes de vendê-la, como pensavam em fazer. Dessa forma, ele poderia reestruturar o negócio e conseguir um valor maior na venda.

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Em janeiro de 2017, assumiu a gerência e começou a aplicar as lições aprendidas no Empretec. A partir daí, solucionou os problemas internos, como desentendimentos, ausências e falta de união dos colaboradores. Para isso, contou, mais uma vez, com o apoio do Sebrae na criação de um regimento interno.

Já em 2018, colhendo os frutos das melhorias, o tradicional trailer se transformou em uma lanchonete, com espaço físico maior, o que impulsionou também mudanças estratégicas. Sempre em busca de conhecimento, David participou de outras consultorias oferecidas pelo Sebrae-SP nas áreas de gestão de pessoas, marketing e finanças.

O aprendizado culminou no rebranding da marca, com a modernização do negócio, personalização dos produtos, expansão da área de atendimento do delivery e criação de um espaço infantil no formato de trailer, onde as crianças poderiam se divertir e interagir com os pais criando lanches de brincadeira.

Com todo o conhecimento embarcado e aplicado, na pandemia a lanchonete não parou, nem as inovações. Como solução para o fechamento do atendimento presencial, David montou um drive-thru: “Naquele momento, tivemos de ser criativos. Começamos a fazer lanches novos e personalizados para gerar interesse e desenvolvemos o lado social do negócio. Não demitimos ninguém e começamos a criar campanhas para apoiar ONGs”, relembra.

Hoje, a Marrocos Lanches tem 12 colaboradores devidamente registrados, clientes fiéis, um posicionamento no mercado e vendas que já superam o período pré-pandemia. Para o futuro, David planeja reformar e ampliar a cozinha, com o objetivo de aumentar a produção.

Com os negócios indo bem, David Jean decidiu usar a sua experiência e, inspirado pelo Sebrae-SP, passou a investir em um projeto pessoal: tornar-se consultor e ajudar pequenos empreendedores. Com foco em soluções digitais, ele atualmente dá dicas práticas de como encarar os desafios que surgem no dia a dia das micro e pequenas empresas – ou seja, tornou-se um agente multiplicador da missão do Sebrae-SP.

Contudo, no começo de 2021, diferentemente do que se via na trajetória de expansão de David, boa parte dos empreendedores brasileiros continuava a buscar soluções urgentes para superar a crise. A vacinação estava no início e, embora a redução nas restrições de circulação de pessoas começasse a tornar possível a volta ao nível habitual da atividade econômica, ainda era necessário ter cuidado e seguir as regras sanitárias definidas pelo poder público. A partir do segundo semestre do ano se iniciou uma flexibilização gradual.

O Plano São Paulo, estruturado pelo governo do estado para definir as regras de controle sanitário durante a pandemia, entrou na “fase de transição”, a partir de 18 de abril – ou seja, a etapa subsequente à fase emergencial, a mais rigorosa da quarentena. Desde 1º de agosto, todos os parques públicos e unidades de conservação voltaram a funcionar em tempo integral. Também a restrição de circulação noturna, que valia das 23 às 5 horas, foi suspensa, bem como o rodízio noturno de veículos, que retornou ao modelo tradicional.

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As medidas somente seriam flexibilizadas de maneira mais significativa a partir de 17 de agosto em todos os 645 municípios paulistas. Até aquela data, 91% dos adultos com mais de 18 anos já haviam recebido a primeira dose da vacina, mas a aplicação da segunda dose ou da dose única (dependendo do laboratório que fabrica os imunizantes, a esta altura oferecidos por diferentes farmacêuticas) atingira apenas 28,2% da população adulta.

Estabelecimentos comerciais e de serviços foram liberados das restrições de horário e dos limites da capacidade de ocupação. A medida beneficiou empresas que estavam com operações restritas até então, como restaurantes, bares, cafés, lanchonetes, comércio de rua e lojas de shopping centers e de galerias, assim como salões de beleza, barbearias, clínicas de estética, academias de ginástica e espaços de lazer como museus, cinemas, teatros e shows com público sentado, clubes e centros esportivos. Recomendava-se apenas evitar aglomerações e foi mantida a obrigatoriedade do uso de máscaras. Também ficaram liberados os eventos sociais, culturais e as feiras corporativas com controle de público. Continuaram proibidos apenas shows com público em pé, pistas de dança e torcida em estádios de futebol.

Nesse contexto, o Sebrae-SP direcionou seus esforços para os canais digitais e para a continuidade da oferta de soluções a distância, diante das restrições impostas pelas medidas sanitárias. Por exemplo, à época, uma das propostas feitas às associações de shopping centers do Estado foi a criação de um marketplace para viabilizar o e-commerce de lojas que não tivessem os próprios canais de vendas. Uma visão inovadora do Sebrae-SP que foi amadurecida pelas entidades do setor e, mais tarde, colocada em prática apoiando os lojistas desses centros comerciais na luta pela sobrevivência de seus empreendimentos.

O Sebrae-SP também desenvolveu e disponibilizou conteúdos direcionados à retomada gradual das atividades empresariais, a exemplo de e-books de orientação. Foram preparados materiais específicos para segmentos como bares e restaurantes, academias, barbearias e salões de beleza, entre vários outros.

Mais do que nunca, as soluções digitais provaram ser a resposta para a conexão entre o Sebrae-SP e seu público-alvo ao longo de todo o ano. Houve um reforço no desenvolvimento de novas ferramentas de educação a distância, com destaque para as de autogestão e consumo, como as soluções pelo WhatsApp, além de uma intensa dedicação à ampliação de parcerias estratégicas com foco na prestação de serviços digitais, por meio do lançamento do Programa Sebrae Conecta.

Criado com o objetivo de apoiar a digitalização dos negócios de pequeno porte, o hub disponibiliza soluções de parceiros em três frentes de atuação: soluções para vender mais (Helpie, Parceiro Magalu, Pertinho de Casa, Compre do Pequeno, Diagnóstico de Maturidade Digital, X Por Y, B2Brazil e Grood. ME), soluções para cuidar do dinheiro (Fluxo de Caixa Sebrae, Virtus, Emissor de Nota Fiscal Eletrônica e Emissor de Conhecimento de Transporte Eletrônico,

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Renato Barbosa, da Renato Polimento e Cristalização
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Foto: Ferdinando Ramos/Plus Images
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Diagnóstico de Crédito, Antecipa Fácil, Azulis, Confere Cartões e Conciliadora) e soluções para se organizar (MEI Fácil, Certus e Sebrae Canvas).

As lives tiveram continuidade em 2021, quando se registraram 129 transmissões online, sendo 96 eventos digitais e 33 apresentações de especialistas, que somaram cerca de 4,6 milhões de visualizações, com destaque para o evento Juntos com Você, responsável por 67,8% do total de conexões. Outro ponto a ser destacado foi a atuação do Sebrae-SP no YouTube, que contou com 50.455 novos inscritos no ano, saltando de 4,7 milhões de visualizações em 2020 para 9,4 milhões em 2021 (aumento de 198,2%).

Quanto às iniciativas de acesso ao mercado, em virtude da continuação da pandemia em 2021, as Rodadas de Negócios continuaram sendo realizadas no modelo digital, com aperfeiçoamentos promovidos com parceiros a fim de aumentar os contatos entre fornecedores e compradores, assim como a realização das rodadas por meio de plataformas com salas virtuais independentes para compradores e vendedores estaduais nos segmentos prioritários. No ano, ocorreram 29 rodadas de negócios virtuais, com a participação de mais de 1,9 mil clientes concluintes e destaque para as seis realizadas na Feira do Empreendedor Digital e as três em feiras internacionais.

Em 2021, o programa Empreenda Rápido foi retomado nas versões presencial e digital, sem custo, proporcionando a capacitação de mais de 478 mil clientes, a maioria integrada por pessoas físicas que viram no empreendedorismo o caminho para sobreviver em tempos tão incertos. Com o agravamento do cenário pandêmico em março, o novo formato de atendimento por videochamadas, aplicativos de mensagens e educação a distância tornou-se crucial para que o Programa Empreenda Rápido pudesse seguir em frente. Nessa nova realidade, o Empreenda Rápido revelou-se uma solução muito válida de inclusão produtiva.

O impacto do programa foi avaliado em uma pesquisa do Sebrae-SP que demonstrou que, entre os clientes pessoa jurídica, 94,4% mantiveram ou aumentaram o faturamento e 96,3% mantiveram ou aumentaram o número de postos de trabalho. Entre pessoas físicas, o programa levou à formalização de 4,5% dos clientes que passaram pela capacitação.

Que o diga Renato Carlos Barbosa, mecânico automotivo e empreendedor que baseia sua atividade em dedicação e interesse em se aprimorar. Por isso, em janeiro de 2021, quando soube que teria início em sua cidade, Ipuã, na região de Franca, um curso do programa Empreenda Rápido voltado para polimento e cristalização de veículos, não perdeu tempo e se inscreveu rapidamente. “Resolvi fazer o curso, que era realizado pelo Senai em conjunto com o Sebrae-SP. A partir daí abri minha empresa, a Renato Polimento e Cristalização, e continuei trabalhando como mecânico. Essa oportunidade foi a porta de entrada para que usasse os conhecimentos adquiridos no programa e começasse a empreender”, relata, orgulhoso, Renato.

Embora tenha começado seu negócio durante a pandemia de covid-19, ele não se deixou abalar pela falta de clientes. “O começo do ano foi complicado. As pessoas

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já não queriam gastar tanto, preferiam cortar custos, mas agora está melhorando e aumentou muito a quantidade de clientes”, diz. Além disso, no início também havia o medo de não conseguir ter lucro. “Você tem os gastos do investimento em materiais de qualidade, mas sem a certeza de que haverá clientes. Fica aquela insegurança de não ter um retorno do dinheiro. Essa é uma área restrita, não é todo mundo que se interessa por estética automotiva”, observa o empreendedor.

Na prática, os clientes começaram a chegar por indicação. Renato também criou uma conta no Facebook para se comunicar com a clientela. “Tento cobrar um preço razoável, para que possa conquistar mais clientes e não perder os atuais”, explica. Depois do Empreenda Rápido, Renato resolveu continuar se capacitando para estar à frente do negócio, por isso participou de outros programas da instituição. Agora, Renato faz planos para, no futuro, expandir sua atuação: “Meu desejo é conseguir mais clientes, ampliar meu negócio e, principalmente, investir cada vez mais em equipamentos e produtos novos para oferecer a esse mercado”, conclui.

Por meio da customização de trilhas e da segmentação do público do Empreenda Rápido, outra importante iniciativa surgiu em 2021: o programa Sebrae Delas foi desenvolvido para aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres. Ele permitiu que as empreendedoras iniciassem um novo trabalho, tivessem uma fonte de renda ou formalizassem as atividades que já desenvolviam. Em 2021, o Sebrae Delas trabalhou com as iniciativas “Elas Realizam” e “1.000 Mulheres”, que capacitaram, ao todo, mais de 21 mil participantes, das quais 4,4% atendidas pelo Empreenda Rápido.

Transformação digital foi de fato a mola impulsionadora da multiplicação do alcance do Sebrae-SP. Com a semente lançada em 2020, durante a Feira do Empreendedor, desenvolveu-se o Sebrae Experience, ambiente virtual único e integrado para a realização de todos os eventos e feiras virtuais promovidos pela entidade, em que os participantes podem vivenciar uma experiência de atendimento inovadora. Com a iniciativa, o Sebrae-SP tornou-se pioneiro na realização de eventos nesse formato e proporcionou a seus clientes um novo contato com o mundo digital.

Nessa nova plataforma, foi realizado o maior evento digital de empreendedorismo do mundo, a Feira do Empreendedor 2021, que de 23 a 27 de outubro contribuiu para a promoção de relacionamento acessível, integrado, resolutivo, ágil e transformador. O formato digital permitiu ampliar sua abrangência para todo o Brasil, pela primeira vez em sua história, por meio da atuação integrada das unidades do Sebrae nas 27 unidades federativas. Independentemente de sua localização no território nacional, os pequenos negócios e os futuros empreendedores tiveram acesso a soluções, tendências, oportunidades de negócios e atendimento de toda a rede do sistema Sebrae. O evento foi visitado por mais de 83 mil pessoas, teve 185,4 mil atendimentos e gerou negócios de R$ 160 milhões.

A plataforma Sebrae Experience passou a centralizar eventos e capacitações online para facilitar a geração de negócios, a obtenção de informações de especia-

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listas da entidade, o acesso aos mais diversos conteúdos e às mais recentes tendências de mercado, a orientação sobre linhas de crédito, networking e a atuação do Sebrae-SP em rede por meio da conexão de ações, programas, empresas, parceiros, patrocinadores e canais. Também se destaca o fato de que a plataforma permitia a migração automática de dados, adequando o Sebrae-SP à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Surgia o Sebrae Metaverso.

Facilitar, aproximar e incluir: dos quilombos para o mundo Em 2021, o Sebrae-SP também desenvolveu ações em sua agenda de desburocratização com o objetivo de transformar o ambiente em favor dos negócios de pequeno porte. É sabido que a burocracia aumenta o grau de dificuldade e os custos para empreender, desestimulando potenciais empreendedores e bloqueando a geração de emprego, renda e riquezas para a sociedade. Em tempos de pandemia, seus efeitos são ainda mais devastadores. O objetivo do Sebrae-SP é estimular os municípios paulistas a extinguir burocracias disfuncionais, garantindo, assim, um ambiente de negócios mais ágil, efetivo e moderno. Como resultado, 496 municípios paulistas se integraram à Redesimples.

No Programa Soluções Setoriais, foram lançadas em 2021 soluções virtuais com foco em segmentos prioritários e com alta densidade de pequenos negócios nas respectivas cadeias produtivas, como Aprimora Agro, Aprimora Pet e Aprimora Beleza, além da continuidade do Enfrentar Vocacional. Foram customizadas trilhas para segmentos específicos que resultaram nas iniciativas Sebrae Turismo e SP EcoAventura, surgidas no contexto dos reflexos negativos da pandemia. Vale lembrar que o setor de turismo foi fortemente impactado, o que prejudicou de modo acentuado o desenvolvimento de municípios e regiões que têm nesta cadeia produtiva sua principal fonte de geração de recursos e empregos, aí inclusos não apenas hotéis, mas também bares, restaurantes, empreendimentos de lazer, comércio de artesanato e até mesmo os meios de transporte. Além disso, buscando atender um novo nicho de mercado, e usando a mesma metodologia, em 8 de novembro de 2021 teve início a primeira turma do Empretec Rural, em Avaré, região atendida pelo Escritório Regional de Botucatu. No conjunto de todas as trilhas, mais de 34 mil clientes foram atendidos. O incentivo que o Sebrae-SP presta no sentido de promover as compras governamentais também tem sido um instrumento fundamental para garantir que os pequenos empreendedores paulistas façam parte da cadeia de fornecedores dos municípios em que atuam. Com essa ação, em 2021 atingiu-se a marca de 131 prefeituras que incorporaram os negócios locais ao seu portfólio de compras. Além das administrações municipais, foram reforçadas parcerias com secretarias e outros órgãos de governo para levar os pequenos negócios ao universo das compras públicas.

Durante 2021, foram realizadas ações de disseminação de conhecimento em compras, aproximação entre compradores e fornecedores nas licitações e sensibiliza-

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Em 2021 foi assinado um acordo com a Secretaria da Justiça, por meio da Fundação Instituto de Terras de São Paulo (Itesp), e com o Senar-SP, para estender o programa de apoio aos empreendedores quilombolas em todo o território paulista

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ção de consórcios e prefeituras para as vantagens de realizar compras conjuntas e de se elaborarem editais que aplicam os benefícios às MPEs previstos na Lei nº 123/2006.

A partir de janeiro, quando os novos prefeitos assumiram a gestão dos municípios para os quais foram eleitos como chefes do executivo, o Sebrae-SP contratou a Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) para realizar diagnósticos customizados em 28 regiões do estado, com o registro das vocações locais e regionais, das potencialidades e dos desafios a superar. Depois da apresentação desse trabalho, a entidade promoveu oficinas para apoiar a elaboração de planos de ações que, após validação e implementação pelas governanças locais, tornaram-se políticas públicas de apoio ao empreendedorismo e aos pequenos negócios.

Os resultados positivos revelam a assinatura de 602 termos de manifestação de interesse em integrar o Programa Melhoria de Ambiente – Consórcio Empreendedor, que seria implantado até maio de 2022 em 540 municípios, além da abertura do mercado de compras públicas para pequenos negócios, com capacitação de quase 2 mil gestores públicos de 338 cidades e declaração de interesse de 435 municípios em integrar o Portal Compras Públicas – que já abriga mais de 83 mil editais. É um movimento que, sem dúvida, vai promover não só a retomada, mas também o início no estado de São Paulo, de um novo e virtuoso ciclo de desenvolvimento local e regional integrado. As capacitações somaram 1.944 fornecedores de 326 municípios, dos quais 129 tiveram variação positiva no percentual de compras de pequenos negócios em 2021, em relação a 2020.

Apresentando o empreendedorismo como alternativa para as pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, foi criado o Programa de Fortalecimento de Organizações Comunitárias, cuja finalidade é dar forma ao conceito de inclusão produtiva, com a construção de uma rede mútua de colaboração entre organizações comunitárias de quatro macrorregiões do estado de São Paulo: Vale do Ribeira, Alta Paulista, Pontal do Paranapanema e Bauru, com destaque para o lançamento do primeiro plano regional de Economia Criativa do Brasil, o “Dá Gosto Ser do Ribeira”. Em dois anos, o movimento conectou produtos e serviços à marca, desenvolvendo negócios com a utilização do marketing territorial. E deu voz e força aos corajosos moradores do Vale do Ribeira, que descobriram sua força e estão mostrando porque dá gosto ser do Ribeira.

Também em 2021 foi assinado um acordo com a Secretaria da Justiça, por meio da Fundação Instituto de Terras de São Paulo (Itesp), e com o Senar-SP, para estender o programa de apoio aos empreendedores quilombolas em todo o território paulista.

Apesar de o cenário de 2021 ainda ter apresentado inúmeros desafios, isso não impediu que as ações desse programa acontecessem. O mérito do resultado se deve em particular à importante colaboração dos Escritórios Regionais e das comunidades. Participaram do programa 86 organizações da sociedade civil, que impactaram mais de 3 mil pessoas em ações sociais e de inclusão produtiva, evidenciando a importância do trabalho em rede e do apoio às organizações sociais.

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Em quatro dias registrando em imagens e depoimentos, a equipe de Comunicação do Sebrae-SP vivenciou na pele o Sebrae Presença. No Vale do Ribeira, região com cerca de 50 quilombos remanescentes de escravizados africanos e indígenas, o material coletado e depois transformado em minidocumentário mostra como o estar presente, o levar novos conhecimentos, o aprender e o ensinar são fundamentais para transformar vidas e escrever novos capítulos nas histórias. Histórias em que a autoestima e o orgulho de pertencer a algo tão importante são os impulsionadores para empreender nas próprias terras, na comunidade, e não mais em lugares longínquos. O orgulho de dizer que se é nascido naquelas terras, descendentes de escravizados, honrando seus antepassados, agora com um trabalho que gera renda para toda a comunidade, é um senso comum entre os habitantes dos quilombos do Vale do Ribeira. Para Mike Rodrigues, coordenador do quilombo Pilões: “O Sebrae veio incentivar ainda mais a gente a gerar ocupação e renda, coisa que faz tempo que estamos mexendo”.

Quem traduz todos esses sentimentos é Jaredes Maria, do quilombo Perobava. Ela e outras mulheres trabalham na Padaria Afrovale: “Às 4 horas a gente já está na padaria. Aprendemos a fazer os pães no curso de biomassa de banana verde. E não só o pão, a gente faz várias comidas com a biomassa. Só os 180 pães já garantem uma boa renda pra gente. Isso aqui mudou bastante coisa em nossas vidas”. Resgatar a autoestima, tirar a ideia do papel e planejar, saber para onde vai, como fazer mais e melhor, administrar as finanças, vender diretamente para o consumidor, mostrar o valor do trabalho e da ancestralidade.

Ainda no eixo de inclusão produtiva, foi desenvolvido e implementado o Programa de Fortalecimento Local em Inclusão Produtiva, com o objetivo de sensibilizar, capacitar e apoiar servidores públicos, técnicos de organizações da sociedade civil e demais atores locais para o desenvolvimento de ações e projetos em seus municípios e regiões. Com isso, esses profissionais de importância estratégica puderam se conectar para o trabalho em rede. Como resultado, em 2021, registram-se 807 atendimentos pessoais em mais de 150 municípios.

Respeitando a diversidade dos empreendimentos e as vocações regionais, o Sebrae-SP implantou 150 Projetos de Desenvolvimento Local, que, por meio de governança local, proporcionaram soluções customizadas de alto impacto. Entre os participantes desses projetos, 95% informaram aumento ou manutenção do faturamento e 97% relataram manutenção ou criação de novas vagas de trabalho.

Boas-novas para os empreendedores

Algumas notícias promissoras vieram a público no último quadrimestre de 2021. Em outubro, foi anunciado pelo governo federal o Auxílio Emergencial no valor de R$ 600,00 a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, contribuintes individuais da Previdência Social e desempregados, com investimentos

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previstos em R$ 98 bilhões. De acordo com estimativa do Sebrae-SP, a medida deveria beneficiar cerca de 3,6 milhões de MEIs.

A segunda boa novidade foi a vitória em antiga reivindicação da Frente Parlamentar da Micro e Pequena Empresa, com a decisão de que a Receita Federal não poderia mais considerar o Simples Nacional como renúncia fiscal. O fato se concretizou em 17 de dezembro, quando o Congresso Nacional derrubou o veto do presidente da República a um dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que definia que o regime não era um benefício tributário.

Por fim, veio a promulgação da Lei Complementar nº 188, de 31 de dezembro, que alterou a Lei Complementar nº 123/2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), para modificar a composição e o funcionamento do Comitê Gestor do Simples Nacional, que passou a contar com um representante do Sebrae em sua composição, e regulamentar a ampliação de seu regime tributário. Na prática, o Simples Nacional passou a contemplar a previsão de limite de receita bruta diferenciado para os transportadores autônomos de cargas inscritos como MEI – por isso a medida foi chamada de “MEI Caminhoneiro”. De acordo com o novo texto, o limite de receita bruta anual desses profissionais, para fins de inclusão nesse regime de tributação, passaria a ser de R$ 251.600,00.

Em períodos de crise ou de recuperação modesta da economia, como o que ocorria no país desde 2014, o número de pequenos negócios tende a crescer, considerando que o empreendedorismo pode ser uma alternativa ao emprego formal. Em virtude disso, entre as pessoas ocupadas, a proporção de donos de negócios saltou de 20,7% (média do primeiro semestre de 2012) para 28% (no mesmo período de 2021) no estado de São Paulo, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.

Os negócios de pequeno porte estão presentes em diversos segmentos de atividade, sendo de modo acentuado expressivos no atendimento ao consumidor final no mercado interno. Dada essa característica, a reversão do quadro da pandemia proporcionada pela vacinação e pelo processo de volta da circulação de pessoas foi relevante para a retomada dos negócios em 2021. As micro e pequenas empresas apresentaram aumento de 7,7% no faturamento nesse ano. Entre 2020 e 2021, o estado de São Paulo registrou um crescimento líquido de pouco mais de um milhão de microempreendedores individuais, com índice de 42% de aumento no período. A expansão no número de empreendedores, observado em 2021, foi influenciada pelo crescimento da parcela relativa aos trabalhadores autônomos.

Em síntese, em 2021, a conjuntura econômica foi de recuperação para os pequenos negócios, assim como para a maioria das empresas e setores econômicos do País. Ao longo do ano, os pequenos negócios acompanharam esse processo de recuperação econômica. Quanto aos números globais de São Paulo, de acordo com projeções do Sebrae, em 2021 existiam cerca de 5,7 milhões de pequenos negócios, o que equivalia a aproximadamente 29% do total do País. No período de 2014 a

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Equipe do Sebrae-SP na Feira do Empreendedor 2022

2021, estima-se que esse contingente tenha aumentado quase 12% ao ano. Nesse cenário, o número de microempreendedores individuais cresceu 15,8% ao ano e o de micro e pequenas empresas, 7,8%, fazendo com que a participação relativa dos MEIs chegasse a 57% dos pequenos negócios, ante 43% das micro e pequenas empresas. Em 2021, esses empreendimentos responderam, em média, por 70% dos novos postos de trabalho que chegaram com a retomada da atividade econômica.

Sempre apoiando os negócios de pequeno porte no acesso ao crédito, em 2021 o Sebrae-SP deu continuidade a iniciativas relevantes para que milhões de empreendedores conseguissem manter seus negócios durante o período de crise sanitária e econômica. Lançado em 2020, o Programa Crédito Retomada foi um dos que tiveram prosseguimento. As carteiras próprias do Sebrae-SP existentes (Juro Zero, Empreenda Rápido e Retomada) foram acompanhadas com regular periodicidade, e os empreendedores contaram com capacitações e a possibilidade de obtenção de novos prazos de carência ou até mesmo a renegociação dos contratos existentes. No cenário apresentado por essas carteiras de crédito, realizou-se o evento “Do Vermelho ao Azul”, com o objetivo de trazer soluções para que as empresas que se encontravam em dificuldades voltassem à estabilidade financeira.

Cabe ressaltar que o Programa Juro Zero, em fase de desinvestimento, já devolveu ao Sebrae 74,3% dos recursos aportados. Com relação à garantia do Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe), em 2021 foram beneficiadas aproximadamente 12 mil empresas com empréstimos pelas instituições credenciadas, sendo atendidas mais de 8 mil empresas no acompanhamento pós-crédito.

Novos voos da educação empreendedora, ensinando e aprendendo No âmbito de suas estratégias de educação empreendedora, o Sebrae-SP também não interrompeu seus esforços. Durante o lockdown, os especialistas da entidade aceleraram o processo de reinvenção do formato de atendimento às instituições parceiras – escolas e prefeituras –, driblando assim os desafios impostos pela continuidade da pandemia e pelas restrições de controle sanitário para fins de segurança da população durante a maior parte de 2021.

A aplicação do Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) teve continuidade no modelo remoto e tornou-se um recurso importante para apoiar os professores na transição do ensino presencial para o digital. O objetivo estabelecido para a meta de educação empreendedora foi plenamente atingido, com a capacitação de 463.970 alunos – 449.230 do ensino fundamental e 14.740 do ensino médio.

As mudanças eram visíveis dentro e fora da escola: 93% dos professores identificaram mudanças no comportamento dos alunos que participaram do JEPP, destacando-se aumento dos níveis de atenção, disciplina, interação, cooperação e facilidade de aprender. Nas famílias, pais e responsáveis salientaram uma alteração visível no comportamento dos jovens. Entre os estudantes, mais de 50% afirmaram que o conteúdo contribuiu para abrir a mente e ampliar o conhecimento

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Formatura Faculdade Sebrae

do mercado de trabalho e do empreendedorismo. Quanto ao convênio entre o Sebrae-SP e o Centro Paula Souza, no planejamento anual de 2021, destacou-se o atendimento de aproximadamente 1,3 mil alunos em atividades escolares, sendo mil na Fatec Sebrae e trezentos na Etec Sebrae.

No âmbito da Faculdade Sebrae, o ano de 2021 também foi marcado por muitas mudanças. A solicitação da faculdade para o seu credenciamento na modalidade EAD foi homologada pelo Ministério da Educação por meio da Portaria nº 288, de 11 de maio de 2021, e com isso se iniciou a operação nacional nesse formato, com a oferta de dois MBAs (Gestão de Negócios e Educação Empreendedora 5.0), além de 25 cursos livres. Desse modo, a instituição, que nasceu de maneira local e presencial, tornou-se nacional. Graças a esse reforço, resultado de uma parceria com o Sebrae Nacional e o MEC, vem sendo possível levar a cultura empreendedora a todo o Brasil, além de promover a capacitação gratuita de quase 600 mil professores da rede pública de ensino, até 2023, em temas relacionados à cultura empreendedora. Isso, definitivamente, vai colaborar para a formação de profissionais que constroem, com legitimidade, o futuro inovador e sustentável.

A Faculdade Sebrae também foi parte integrante do Prêmio Nacional de Educação Empreendedora, oferecendo 150 bolsas de MBA para os vencedores das etapas estaduais. Cabe mencionar, ainda, que na modalidade presencial foram criados sete cursos de MBA em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um no Rio Grande do Sul.

Hub de Inovação

Na área da inovação tecnológica, uma boa notícia chegou em 1º de junho de 2021, com a regulamentação da Lei Complementar nº 182, que instituiu o marco legal das startups e do empreendedorismo inovador e alterou a Lei nº 6.404/1976 (sociedades por ações) e a Lei Complementar nº 123/2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte).

Resultado de um trabalho conjunto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e do Ministério da Economia, a estruturação da nova norma envolveu atores públicos (como a Finep, o BNDES e a Comissão de Valores Mobiliários) e privados. Na prática, o marco legal das startups estabeleceu um ambiente de negócios favorável ao surgimento e ao crescimento de empresas inovadoras, ao promover a desburocratização do processo de abertura e captação de investimentos, reduzindo os custos e aumentando a segurança jurídica para atrair mais investidores. A legislação permite que, agora, algumas empresas sejam registradas como startups, desde que sua receita bruta anual não ultrapasse R$ 16 milhões nem o período de 10 anos de inscrição no CNPJ. Em termos de financiamento, isso significa que as startups podem receber aportes de empresas com obrigação legal de investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação por meio, por exemplo, de fundos patrimoniais ou fundos de investimento em participações.

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Sebrae-SP se destaca no fomento às startups paulistas e conquista o prêmio Startup Awards 2022

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Nesse campo de tecnologia e inovação, a atuação do Sebrae-SP ao longo de 2021 também foi muito significativa. Após insumos recebidos durante visitas da diretoria da entidade ao hub paulista de inovação, composto de polos e parques tecnológicos, incubadoras, universidades, aceleradoras, entre outros, o Conselho Deliberativo aprovou investimentos significativos e inéditos, da ordem de R$ 350 milhões nos próximos quatro anos, para alavancar e promover comercialmente tecnologias que estão sendo desenvolvidas nesse ambiente, e assim possibilitar o acesso dos empreendedores ao que há de melhor nessas verdadeiras usinas de inovação. O montante de R$ 200 milhões a ser aplicado até 2024 destina-se a programas e soluções que impulsionem e promovam, no âmbito comercial, novas tecnologias. Isso significa consolidar o apoio às 1,4 mil startups já atendidas pelo Sebrae-SP, em 120 municípios paulistas.

Por sua vez, o aporte financeiro de R$ 150 milhões tem origem na celebração de um convênio de cooperação técnica e financeira com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma parceria inédita entre as instituições com o objetivo de fomentar projetos de inovação de startups científicas e tecnológicas no estado. Com duração de seis anos, o convênio tem como principal ação o lançamento de editais de fomento a projetos de inovação, em diferentes estágios de maturidade, nos moldes do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, dedicado a pesquisas para o desenvolvimento de soluções inovadoras e introdução dessas soluções no mercado. Foram passos decisivos para fazer de São Paulo um dos principais hubs mundiais de inovação.

Ao mesmo tempo, o Sebrae-SP intensificou o apoio à consolidação de 1,5 mil startups no mercado nacional e internacional, por meio da celebração de, inicialmente, 23 parcerias. Ainda no campo da tecnologia aplicada, foi dobrado o número dos agentes locais de inovação (ALIs), que passaram a 300 profissionais em campo, responsáveis pelo atendimento de mais de 10 mil empresas em 567 municípios no último ciclo, em que os participantes registraram uma média de aumento de 45% na produtividade em plena pandemia. Os ALIs visitam as empresas, fazem diagnóstico e desenvolvem estratégias de inovação e ajudam a implementá-las.

Um dos grandes desafios do Sebrae-SP é ser reconhecido como uma instituição inovadora, um ponto de apoio às startups e um ator ativo no ecossistema paulista de fomento ao desenvolvimento de negócios inovadores. Para atender a essas diretrizes que constam em seu Plano de Fomento à Inovação, aprovado em 2021, para implementação em quatro anos, o Sebrae-SP pretendia ampliar as parcerias com os mais diferentes atores do ecossistema paulista de inovação. Nesse contexto, apenas no último ano foram realizados mais de 25 acordos, em que se destacaram grandes empresas (Ambev, Votorantim, Sabesp), instituições de fomento à inovação (Fapesp, Embrapa, IPT etc.), incubadoras e parques tecnológicos (Parque São José dos Campos, Cietec), associações e aceleradoras de startups (Abstartups, Associação Comercial de São Paulo, Wylinka e Ventiur) e órgãos governamentais

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Equipe de colaboradores do Sebrae-SP durante treinamento

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(Comissão de Valores Mobiliários, Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo), entre outros. Cada parceria conectou-se a uma estratégia de atuação definida, com o objetivo de otimizar processos, aumentar a proposta de valor para o público atendido e ampliar a capilaridade do Sebrae, potencializando o ecossistema paulista de inovação. Toda essa movimentação foi tão bem-sucedida que, em novembro de 2022, o Sebrae for Startups, iniciativa da entidade para acelerar startups do Estado de São Paulo, foi premiado como a melhor aceleradora do País pela Startup Awards 22, o 'Oscar' brasileiro das startups. Também como parte de seu Plano de Fomento à Inovação, a entidade firmou, no início de 2021, um convênio de cooperação técnica com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. O objetivo era unir esforços e ações para o atendimento a todo o ecossistema de inovação paulista. Parte desse empenho está voltada para o fortalecimento dos ambientes de inovação, em especial daqueles previstos no decreto que instituiu a Rede SPAI (Sistema Paulista de Ambientes de Inovação), que compreende o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec), a Rede Paulista de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (RPITec), a Rede Paulista de Centros de Inovação Tecnológica (RPCITec) e a Rede Paulista de Núcleos de Inovação Tecnológica (RPNIT).

O apoio do Sebrae ao fortalecimento da Rede SPAI também se deu por meio da qualificação dos gestores nesses ambientes de inovação pela Sebrae Academy e do apoio à integração entre as entidades do SPAI e outras instituições públicas e privadas do ecossistema de inovação. A primeira turma foi atendida entre 18 e 20 de agosto de 2021, com cerca de 30 gestores de 20 ambientes de inovação paulista.

Quanto ao fomento às comunidades de startups, em 2021 foram realizadas seis edições do StartupOn, em parceria com a ABStartups, evento de ativação de comunidades, nas regiões de Barretos, São Carlos, Sorocaba, Alto Tietê, Araçatuba e Piracicaba.

Ainda em 2021, o Sebrae for Startups foi considerado o projeto de maior impacto nesse segmento no País pela publicação Dínamo. Naquele ano, a iniciativa acelerou mais de 500 startups de 150 munícipios de São Paulo, além de garantir mais de R$ 150 milhões em acesso a recursos para inovação. O Sebrae for Startups conta ainda mais com 50 parceiros, com destaque para aceleração de empreendimentos em setores como saúde, financeiro, agronegócio, smart cities e mudanças.

Em dezembro de 2021, o Sebrae e a Finep lançaram o Programa Crédito Inovação que vai disponibilizar R$ 1 bilhão em recursos para MPEs. A ideia é beneficiar mais de 4 mil empresas com receita operacional bruta de até R$ 4,8 milhões. Além de capacitação, o Sebrae garante os financiamentos por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).

Somadas às práticas e às capacitações mencionadas, também foi elaborado o Mapeamento de Comunidades do Estado de São Paulo, que coletou dados relevan-

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Hamilton Luiz Silva e Victor Diago, da Alfa Sense
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Foto: Edu Viana e Ricardo Matsukawa

tes do ecossistema de inovação paulista e resultou em um estudo aprofundado de uma dezena de comunidades de startups

“Empreender é desafiador, mas empreender e inovar ao mesmo tempo é um desafio ainda maior.” Com essa frase, Hamilton Luiz Silva, sócio-fundador da Alfa Sense, resume o que foram para ele os últimos anos, quando desenvolveu e apresentou ao mercado uma tecnologia inovadora na área de segurança. Fence Lite é uma solução que transforma fibra óptica em um sensor ultrassensível capaz de registrar qualquer vibração e, por meio de um software, classificar diferentes tipos de ameaças – como invasão ou dano. A partir daí, integrado a sistemas tradicionais, o Fence Lite consegue gerar um alarme, quando necessário.

Antes de abrir a Alfa Sense, em março de 2019, Silva e o sócio, Victor Diago, já trabalhavam com importação de produtos de alta tecnologia, mas entenderam que precisavam adaptar as soluções às necessidades brasileiras. Em parceria com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, a empresa criou um produto que, segundo Silva, é capaz de resistir por 25 anos, mesmo sujeito a intempéries, queda de raios e à maresia do extenso litoral brasileiro – além disso, em áreas de proteção permanente, por exemplo, o sistema consegue fazer um “muro virtual” no perímetro desejado sem a necessidade de interferir no ecossistema.

A empresa, sediada em São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo, tem mais de 200 projetos no País e busca mercado no exterior. A Alfa Sense recebeu financiamentos por meio de editais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da Petrobras, mas seus sócios garantem que a ajuda do Sebrae-SP desde a estruturação foi fundamental para o planejamento estratégico e para o acesso ao mercado, incluindo auxílio com questões contratuais e precificação. “O Sebrae é um parceiro com ‘pê’ maiúsculo. Nós buscamos apoio não só para montar a operação, mas também para implementar inovação”, diz Silva.

A parceria da Alfa Sense com o Sebrae-SP foi impulsionada pela participação da empresa nos editais de financiamento e pela necessidade de uma imersão maior no ecossistema de inovação. Houve um trabalho conjunto desde a abertura, para o desenvolvimento de canais de venda e processos de gestão, áreas que precisavam de um olhar mais atento. A expansão da Alfa Sense mostra que há um caminho aberto para empresas de tecnologia voltadas para a inovação e, igualmente, para a gestão e o planejamento. “Se uma empresa de alta tecnologia não estiver bem preparada, nunca irá tracionar e vai chegar ao fim antes mesmo de iniciar suas atividades”, destaca Silva.

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Rumo ao futuro, agora fortalecidos

No momento em que este livro terminou de ser escrito, no final de outubro de 2022, o Brasil registrava 687 mil óbitos por covid-19 e mais de 34,7 milhões de casos confirmados da doença. A pandemia seguia uma tendência de abrandamento. O avanço da cobertura vacinal e o surgimento da variante ômicron, menos letal, reduziram a gravidade da covid-19 no mundo. Em 14 de setembro, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou: “Nunca estivemos em posição melhor para acabar com a pandemia. Não chegamos lá ainda, mas o fim está à vista”.

No dia 28 daquele mês, o boletim semanal da OMS mostrou que o número de novos casos de coronavírus no mundo caíra 11%, e o de mortes, 18%. Desde o início da pandemia, registraram-se 6,57 milhões de óbitos no mundo pelo SARS-Cov-2. No Brasil, em 29 de setembro, a média móvel de mortes nos sete dias anteriores era de 43 – a menor registrada desde 3 de abril de 2020 (quando ocorreram 39 óbitos). Em comparação à média de 14 dias antes, a variação foi de menos 38%, com tendência de queda. Em 16 de outubro de 2022, o mundo todo registrava 625 milhões de casos confirmados.

Na economia, os danos foram profundos em todos os países, com a recessão alcançando um impacto maior do que as duas guerras mundiais e a crise financeira dos anos 2000, de acordo com dados de um relatório divulgado pelo Banco Mundial. O levantamento apontou que 90% dos países do globo tiveram contração do PIB, em 2020. Esse percentual equivale a 172 países, de um total de 192. Antes, o pior ano para a economia global havia sido 1931, no auge da Grande Depressão norte-americana, quando a economia de 83% das nações sofreu queda.

A covid-19 também causou graves estragos no Brasil e em sua economia. O País foi o mais afetado pela doença na região da América Latina e do Caribe e o terceiro em todo o mundo. Outro levantamento do Banco Mundial mostrou que a pandemia poderia ter aumentado, significativamente, a pobreza no Brasil, se não fosse o pacote fiscal e a transferência direta de renda para 68 milhões de pessoas.

O programa de auxílio emergencial, iniciado em 2020 pelo governo federal para enfrentar a covid-19, ajudou a conter o aumento da pobreza. A ajuda financeira representou quase metade da renda das famílias que estão na base da pirâmide social. No entanto, uma vez que, no conjunto, a economia experimentou um crescimento real de 1,2% entre 2019 e 2022, era esperado que as taxas de pobreza ficassem um pouco abaixo dos níveis em que estavam antes da pandemia.

A mais recente medida em favor das micro e pequenas empresas foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), em 18 de março de 2022. A Lei Complementar nº 193 instituiu o Programa de Reescalonamento do Pagamento de Débitos no Âmbito do Simples Nacional (Relp), criado para apoiar a recuperação dos negócios prejudica-

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dos pela pandemia. O programa concedeu descontos sobre juros, multas e encargos, proporcionalmente à queda de faturamento no período de março a dezembro de 2020, em comparação com o período de março a dezembro de 2019. Empresas que ficaram inativas no período também poderiam participar, com o parcelamento de quaisquer dívidas no âmbito do Simples Nacional em até 15 anos (180 meses), entre outros débitos.

Em junho de 2022, a pandemia já não estava entre as três principais dificuldades ou preocupações dos microempreendedores individuais, e das micro e pequenas empresas brasileiras. Em março, o aumento de custos (50%), a falta de clientes (21%) e as dívidas com empréstimos eram as preocupações que atormentavam o dia a dia desses empreendedores. A pandemia ocupava o sexto lugar, com 3%. A pesquisa indicou que 59% dos pequenos negócios estavam com um terço dos custos mensais comprometidos com dívidas e empréstimos. E 59% afirmaram ter registrado queda de faturamento naquele mês (em março de 2020, quase 90% dos empreendimentos relataram recuo drástico na receita).

Para destacar o poder dos pequenos negócios como os principais geradores de postos de trabalho no Brasil, este capítulo se encerra com um levantamento do Sebrae-SP, divulgado em fevereiro de 2022, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, que mostra que as micro e pequenas empresas geraram 2,1 milhões de vagas em 2021.

Naquele ano, as MPEs foram responsáveis pela criação de quase 78% das vagas com carteira assinada. Do saldo de 2,7 milhões de empregos formais registrados pelo Caged, 2,1 milhões vieram dos pequenos negócios.

De acordo com o levantamento do Sebrae, o pior resultado de 2021 ficou concentrado nas médias e grandes empresas, que registraram o encerramento de 274.220 vagas. O estudo comprova o que já aparecia nos monitoramentos feitos pela entidade ao longo da pandemia.

Em 2021, de cada 10 empregos, oito foram criados por micro e pequenas empresas. Além de concentrar a geração de vagas, as MPEs têm algumas características, como contratar mais e demitir menos, além de manter uma relação muito mais próxima com os empregados.

O desempenho positivo na geração de emprego é fruto de medidas que trouxeram fôlego durante a pandemia, como o próprio auxílio emergencial, o programa de manutenção do emprego e renda e as ações de crédito para o pequeno empreendedor. A manutenção desses resultados vai depender também da consolidação da oferta de crédito. Em 2021, todos os estados fecharam o ano com saldo positivo na geração de empregos por micro e pequenas empresas. Em sete deles, o número de vagas criadas ultrapassou a marca de 100 mil.

São Paulo foi o estado que mais criou vagas, e 532.386 foram em micro e pequenas empresas. Na sequência, aparecem Minas Gerais, com 233.578, e Rio de Janeiro, com 159.818. Depois vêm Paraná (143.733), Santa Catarina (125.319), Rio Grande do Sul (111.845) e Bahia (108.960). Os menores saldos, com resultado inferior a 10 mil

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postos de trabalho, ficaram na região Norte: Acre, com 6.098, Amapá, que registrou a criação de 5.564 vagas, e Roraima, com 5.469 empregos com carteira assinada, gerados por micro e pequenas empresas.

Em relação aos setores, a criação de vagas foi maior na área de construção civil, com 93.439 postos de trabalhos, seguindo-se atividades de restaurantes, com 57.511 postos, e transporte rodoviário de carga (exceto produtos perigosos e mudanças), que somou 49.565 vagas. Ainda estão entre os setores com mais oferta os de supermercados (49.301), serviços combinados de escritório e apoio administrativo (45.859), comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (36.839) e comércio varejista de produtos farmacêuticos sem manipulação de fórmulas (31.984).

Pequenos negócios como minimercados, mercearias e armazéns geraram 29.133 empregos. O Sebrae-SP também destacou lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares (28.854 vagas) e serviços de engenharia (27.531). Por sua vez, a entidade está saindo reformulada dessa crise, ainda mais conectada às necessidades dos pequenos negócios, mais digital, mais presente. No final de outubro de 2022, a entidade somava cerca de 500 unidades do Sebrae Aqui em operação, estando presente em 443 municípios distintos, o que equivale a 69% de cobertura. A perspectiva era chegar, em dezembro, a 80% de cobertura, ou seja, 516 municípios. Nos resultados coletados de janeiro a julho de 2022, os pequenos negócios atendidos de forma presencial totalizavam 519.369, o que correspondia a 98% do planejado. Os clientes atendidos pelos canais digitais (empreendedores e futuros empresários) somaram 590.918 (98% do planejado).

O Indicador NPS – nível de satisfação do cliente com os produtos e serviços adquiridos da sua empresa e a probabilidade de indicação da marca a outras pessoas – estava em 86 (o planejado no período era alcançar 80). O total de atendimentos chegou a 2 milhões, considerando que um mesmo cliente é atendido mais de uma vez.

No que se refere às ações de inovação, 98% dos clientes implementaram avanços inovadores em seu negócio (a meta era que 80% dos clientes aplicassem algum tipo de inovação). Além disso, 16,7 mil empreendedores foram atendidos em programas de inclusão produtiva. A educação empreendedora capacitou 9.142 professores, quase o dobro do previsto para o período.

No Empreenda Rápido, o maior programa de apoio ao empreendedor e futuro empresário, foram atendidas 190,2 mil pessoas físicas (informais e futuros empreendedores) e 54,1 mil pessoas jurídicas (negócios já constituídos). Os postos do Sebrae Aqui atenderam 103,1 mil potenciais empreendedores e 99,7 mil empresários formais. Entre as startups, o período registrou 1.973 negócios inovadores atendidos, além de 6.176 pequenos negócios atendidos por meio do ALI (Agente Local de Inovação – Produtividade) e 1,2 mil produtores rurais, totalizando 10,5 mil atendimentos no âmbito da inovação do ALI Rural. Esses resultados, somados aos milhares de relatos que ouvimos, reafirmam que as estratégias de atendimento aos empreendedores estão no caminho certo e que foram realmente assertivas e certeiras graças à dedicação e ao conhecimento do corpo de colaboradores do Sebrae-SP e da sua rede de parceiros.

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Transformações reais

A palavra dos empreendedores

Empreendedorismo, inovação, inclusão, recomeços, criatividade, persistência, desenvolvimento, realização: esses são alguns dos conceitos presentes nas histórias de vida apresentadas até aqui e também nas próximas páginas. Todas têm como ponto comum a participação do Sebrae-SP, que, com seu trabalho de orientação, capacitação e consultoria em negócios, ajuda centenas de milhares de pessoas a mudar sua trajetória pessoal e seus empreendimentos. Nesses relatos, coletados por meio de entrevistas, bate-papos e lives, entre 2019 e 2022, estão revelações surpreendentes de empreendedores dos mais diferentes setores produtivos, que tiveram apoio para transformar realidades difíceis. Todos eles – dos que iniciaram em plena pandemia por vislumbrar uma oportunidade a outros com mais de 30 anos no mercado – têm algumas características em comum: o sonho de empreender, a coragem de fazer, a resiliência para avançar e, sobretudo, a consciência de que o Sebrae é o melhor parceiro para pôr em prática seus projetos, aprender a superar os desafios e alcançar o sucesso no mercado, por mais adversidades que tivessem de enfrentar. A determinação de todos é construir um futuro inovador e promissor para si, para seus empreendimentos e para suas comunidades.

Cabeça de empreendedora Uma crise pessoal, menos de dois anos antes da pandemia, foi a tábua de salvação da empresária Eliane Lira. Em 2018, a cabeleireira pensou que havia chegado ao seu limite como empresária. Dona de um salão de beleza em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, ela estava completamente perdida com as contas e não sabia nem mesmo como remunerar de maneira correta as profissionais parceiras que atendiam no salão. Pior: ela não conseguia mais fazer retiradas e, muitas vezes, precisava da ajuda do marido para pagar o aluguel do imóvel – isso antes de ele perder o emprego.

O salão chegou até mesmo a sofrer um corte de água por falta de pagamento. “Eu trabalhava muito, estava cansada e não tinha retorno, era como se nadasse, nadasse e morresse na praia. Eu não via a cor do dinheiro”, lembra.

Ela lembra o início desse processo doloroso. Foi em 2014, quando mudou para um imóvel maior e passou a cuidar sozinha do salão que leva seu nome. “Aluguei um espaço e chamei uma manicure e uma cabeleireira para trabalhar comigo, mas não entendia nada de gestão e gastava todo o dinheiro com as contas de casa”, diz. Além disso, ela repassava os valores para as parceiras sem descontar nada, como as taxas de manutenção e da maquininha de cartão: “Eu não sabia nada sobre entradas e saídas nem o que era pró-labore. Na verdade, eu estava pagando para trabalhar”.

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Eliane Lira, empresária do setor de beleza

Quando resolveu procurar o Sebrae-SP em Guarulhos, Eliane entrou já chorando. Contudo, por meio de um diagnóstico inicial, passou a se capacitar em cursos como a Oficina de Beleza (que ela fez duas vezes) e até em um de vendas porta a porta para microempreendedores individuais. “No começo eu pensei: o que isso tem a ver comigo? Mas fiz e foi incrível. Aprendi muito sobre vendas e sobre como controlar o dinheiro.” Na avaliação dos consultores de finanças do Sebrae-SP, o descontrole financeiro era reflexo da carência de conhecimento a respeito do básico da empresa e das próprias limitações de Eliane como empreendedora. “Percebi que a origem dos problemas financeiros estava na falta de processos definidos, em uma agenda com espaços vagos e, principalmente, na falta de autoconfiança”, ela conta.

Além do incentivo ao aprendizado dos conceitos de finanças e gestão, Eliane foi orientada pelos consultores do Sebrae-SP a perceber melhor quais seriam seus potenciais clientes. No mundo todo, os empreendedores trabalham em sua microrregião para se tornarem primeiro os melhores de seu bairro e depois conquistar outras áreas e mercados. No caso de Eliane, isso diminuiria o custo de locomoção para atendimento em casa e ela ficaria mais próxima de suas clientes.

Com os primeiros cursos, os resultados começaram a aparecer e a empreendedora mudou processos. Discutiu com as parceiras a nova realidade da remuneração e passou a guardar o dinheiro do salão para ser utilizado apenas no próprio negócio. O passo seguinte foi desenvolver o comportamento empreendedor com o Empretec. “A partir daí as coisas foram se encaixando e eu realmente passei a viver uma realidade de empreendedora”, lembra.

Na prática, isso permitiu que Eliane, como poucos empresários, passasse toda a pandemia sem ter prejuízo. “Eu não sofri porque tinha uma reserva e avisei a dona do imóvel que talvez não conseguisse pagar o aluguel no futuro”, lembra. E foi além. Com o conhecimento aplicado e muita criatividade, seu “pulo do gato” foi a ideia de comprar embalagens, envasar e etiquetar cosméticos que estavam estocados em grande quantidade como amostra grátis e enviar para a casa das clientes com uma cartinha personalizada. “Eu disse a elas que nós estávamos longe, mas estávamos juntas. Eu mandei algo de que elas precisavam e disse que se elas quisessem eu estava aqui para oferecer”, diz.

O resultado foi um crescimento na venda desses produtos para uso em casa, que rendiam um bom lucro e resultaram em um marketing boca a boca muito positivo. “O salão não sofreu com os danos da pandemia por causa do planejamento. Se não tivesse isso, talvez nem estaria mais aqui, teria fechado as portas”, ressalta. “Eu sempre digo que um negócio não é a respeito de vender um produto, mas sim a respeito de gente e de parceria”, completa.

Um futuro bem alimentado

Luciana Oliveira decidiu ampliar sua empresa, a Nova Alimentação Saudável, que produz marmitas congeladas em Mogi das Cruzes (SP), em 2021, em plena pande-

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Luciana Oliveira, da Nova Alimentação Saudável
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Foto: Ricardo Matsukawa

mia. Ela explica que começou de maneira experimental em 2015 e viu a demanda crescer exponencialmente em virtude das necessidades específicas e dos novos comportamentos gerados pela pandemia: “Até 2011 eu não sabia nem fritar ovo. Comecei a fazer o jantar e aos poucos fui mudando meus hábitos. Em 2015, comecei a história das marmitas, mas ainda não eram congeladas. Fazia no jantar para levar para o almoço do dia seguinte. Na época, minha prima, que é técnica em nutrição, começou a me ajudar com os cardápios”.

Luciana conta que no início seu negócio era uma opção de renda extra, e a ideia de encarar esse trabalho como uma empresa formalizada veio apenas em maio de 2020. Já em setembro daquele ano ela precisou investir em um espaço maior para montar uma cozinha profissional. “Em maio de 2020 eu já fazia cerca de 600 marmitas por mês. Consegui capital graças aos cursos do Sebrae-SP, que me possibilitaram o acesso a crédito orientado. Mas, em setembro, vi que o novo espaço estava pequeno para a quantidade de pedidos e percebi que precisava fazer mudanças maiores”, revela.

A ida para o novo espaço se deu em maio de 2021, assim como o reenquadramento para microempresa. Todas as transformações trouxeram muita alegria para a empreendedora, mas, ao mesmo, também significaram uma responsabilidade maior. “Nosso faturamento já havia ultrapassado o limite, eu não consegwuia mais contratar funcionários e precisava muito de gente para trabalhar. Mesmo com todos os cursos que havia feito no Sebrae, confesso que passei por um medo paralisante. O medo fez com que a gente não visse que poderia crescer num espaço relativamente curto de tempo. Ficamos só sete meses no primeiro espaço e uma nova mudança trouxe mais gastos e uma nova obra em outro lugar”, diz.

Para fazer a migração, Luciana contou novamente com a ajuda do Sebrae-SP e contratou um contador para acompanhar de perto as questões financeiras. “A transição foi muito tranquila. Estávamos com a documentação de MEI toda em ordem e usamos o mesmo CNPJ. Para nós, a parte mais desafiadora foi a financeira. Ter todos os controles e processos ajustados foi o mais difícil, porque não há como crescer sem isso”, resume Luciana.

Experiência em ação

“O conhecimento adquirido no Sebrae ajudou a preparar melhor os rumos da 50mais Ativo durante a pandemia”, afirma categórica a empresária Vera Caovilla, que sentiu sua veia empreendedora pulsando mais forte quando seu pai passou a apresentar os primeiros sinais de Alzheimer. Na época, ela já era formada e tinha feito o mestrado, ambos na área de administração hospitalar e serviços de saúde. O primeiro passo foi fundar, com a equipe médica que estava cuidando do pai, a Associação Brasileira de Alzheimer, a ABRAz.

Foram 27 anos trabalhando com a entidade, o que lhe permitiu ter contato com as mulheres que cuidam desses pacientes. Algumas delas ainda tinham curso

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Vera Caovilla, da 50Mais Ativo

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Foto: Ricardo Matsukawa

técnico ou ensino superior, mas outras precisavam assumir integralmente essa responsabilidade sem nenhum tipo de instrução ou preparo. Sozinhas, caía sobre elas o encargo de tomar conta de uma casa, além de todos os cuidados do tratamento de uma pessoa com Alzheimer. “Essa situação fica ainda mais complicada pela inexistência de outros canais que ofereçam instrução específica. Além disso, no futuro essas pessoas passam a ter problemas para voltar ao mercado de trabalho”, relata a empreendedora.

Foi com essa experiência que Vera decidiu deixar a ABRAz e partir para um novo projeto. Assim nasceu a 50mais Ativo, que atua em três grandes áreas. Uma é o trabalho com um público acima dos 50 anos, oferecendo a possibilidade de envelhecer de maneira mais saudável e tranquila. Outra área são os cursos para cuidadores e aulas de estimulação cognitiva para quem trabalha em setores do mercado difíceis de retornar.

“A nossa empresa ainda é jovem. Então, para aprender ainda mais a criar o próprio negócio, eu participei do projeto ‘Empreendendo após os 60’, realizado por meio de uma parceria entre o Sebrae-SP e o HCor. Foi uma ótima experiência, e absorvi os conteúdos com tanta facilidade que nem parecia que estava estudando. Todos os nossos encontros eram presenciais e tivemos de fazer as reuniões online para continuar atendendo o nosso público”, relata Vera.

Esses esforços renderam para o programa Pausa no Cuidar o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade na categoria Pessoas Idosas. “Foi um orgulho muito grande essa conquista, porque mesmo trabalhando em casa, com todas as dificuldades impostas pela pandemia, tivemos esse reconhecimento. Isso levantou um questionamento da minha sócia, Fabiana Satiro, que me perguntou se isso me faria sossegar. Só que chegar a esse ponto me fez ter vontade de levar o projeto a muitos outros lugares”, diz a empresária.

Vera afirma que, em sua perspectiva, o envelhecimento tem a ver com entender quais são os novos limites, e não há como fugir disso. “Ao me olhar no espelho consigo reconhecer todas as coisas boas que passaram e quais foram os resultados positivos que alcancei. Ao envelhecer, ainda temos sonhos que queremos buscar. Eu me sinto idosa, e não velha. Velho é aquele que fica ranzinza e não aceita nada de diferente, mas o idoso é aquele que ainda sente vontade de dançar junto com os mais jovens, mesmo que não seja com a mesma intensidade”, conclui.

Vencendo 100% a desconfiança

Formado em processamento de dados e atuando desde 2018 como terceirizado em uma empresa pública, Édino Pereira viu na não renovação de seu contrato uma oportunidade para empreender no segmento. Abriu em 2007 a Fox Informática, em Itapeva, na região sudoeste paulista, e no meio da pandemia, em 2021, expandiu os negócios. Passou a comercializar produtos pela internet em marketplaces, além de inaugurar uma unidade física de consultoria técnica em Sorocaba, também

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Édino Pereira dos Santos, da Fox Informática

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no interior de São Paulo. “Os resultados exponenciais que começamos a ter na empresa ocorreram graças ao Sebrae. E olha que eu nunca havia acreditado no Sebrae antes”, comenta o proprietário.

Pereira lembra que nunca atendia os consultores do Sebrae e se perguntava o que tanto queriam com ele. “Achava que só queriam ganhar dinheiro nas minhas costas”, dizia. “Eu nem atendia o telefone, mandava dizer que não estava”, conta. A mudança de postura se deu em 2019, quando passou a se perguntar por que trabalhava tanto, não via o dinheiro e tampouco conseguia fazer a empresa crescer. “Procurei várias assessorias empresariais que não deram resultado. Até que procurei o Sebrae-SP, meio sem graça depois de tantas negativas, e fui apresentado às soluções de gestão, consultorias e ao curso Empretec, que mudou a minha vida. É um divisor de águas que transforma a mentalidade do empreendedor”, afirma.

Pereira diz que passou a perceber que o problema na empresa era ele mesmo. Achava que sabia fazer gestão e que suas atitudes centralizadoras estavam corretas. Como o foco do Empretec é o comportamento, ele atribui à metodologia a mudança nos negócios. “A gente abre os olhos para o que estamos errando. Passei a gerir tudo de maneira diferente no planejamento, no financeiro e com os colaboradores. Comecei a oferecer mais treinamento e a ouvi-los mais. Deixei de querer tudo na palma da minha mão ao perceber que isso era o que segurava o crescimento do negócio. Parei de ser o funcionário mais caro da minha empresa”, reconhece.

Desde a participação no Empretec, em 2019, até o primeiro semestre de 2022, o Grupo Fox Loja cresceu 100% em faturamento. Além de atribuir a evolução ao auxílio do Sebrae-SP, o empresário ressalta a importância de se manter atualizado e atento ao mercado. “Buscar conhecimento é uma das coisas mais importantes que os empreendedores precisam fazer. Já fiz vários cursos no Sebrae e em outros lugares, venho participando de feiras do segmento, fazendo networking e trocando informações com outras pessoas.”

Para continuar vendendo e prestando serviços, tornou-se necessário se reinventar, agir de forma diferente para atingir resultados diferentes. Para Édino Pereira, o empreendedor precisa sair de sua zona de conforto. Hoje ele afirma estar com a mente aberta e enxerga o Grupo Fox Loja cada vez mais na internet, até mesmo atuando em outros segmentos. “Quero passar também a produzir conteúdo na internet e desenvolver cursos online para não depender no futuro de uma única fonte de renda”, finaliza o empreendedor.

Inovação com resultado

Negócio familiar com organização e estrutura profissionais, a Casa & Verde conseguiu crescer em plena pandemia com inovação e digitalização. A empresa, dirigida por Silvia Maretti e a filha, Mariana Maretti Rufino, é uma garden store localizada em Mogi Mirim (SP), com produtos para piscina, paisagismo, móveis, pet, design floral, jardinagem e decoração.

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Silvia e Mariana Maretti, da Casa & Verde
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Foto: Flávio Florindo e Carlos Raphael do Valle

Depois de 35 anos no mercado, a Casa & Verde deu um salto em 2021: inaugurou uma filial em Mogi Guaçu, ampliou o número de funcionários de 14 para 36 e aumentou em 50% o faturamento. “Fazemos capacitações em gestão e vamos atrás de melhorias para crescer. É muito importante colocar em prática o que se aprende”, diz Mariana.

A empresa investiu em inovação para se tornar mais competitiva e forte, em especial durante a pandemia. Participou de iniciativas do Sebrae com foco em inovação, como o programa Brasil Mais, atendimentos tecnológicos do Sebraetec, workshops do Inova Sebrae e acompanhamento com as consultorias de marketing digital, que a ajudaram a obter apoio para desenhar uma estratégia de ampliação, como a oferta de produtos para a linha pet, e iniciou o processo de digitalização.

A Casa & Verde investiu em nova linha de produtos home care como sprays e aromatizadores e iniciou seu planejamento para ganhar mais presença digital, a fim de minimizar o impacto da pandemia. Com apoio da equipe do Sebrae-SP identificou a oportunidade de a empresa fortalecer suas vendas na internet por meio da participação em consultorias sobre SEO (técnicas para melhorar a presença nos mecanismos de busca). Também implementou um CRM (processo de relacionamento com clientes) concentrado em oportunidades de vendas em redes sociais e marketplaces e lançou o e-commerce em outubro, com a oferta de coleções exclusivas. Outro diferencial foram as lives shopping, que ajudaram no crescimento das vendas. “O Sebrae tem sempre uma solução. Com o aumento de funcionários, passamos a conversar sobre a capacitação da equipe. No digital, estamos sempre nos mantendo atualizados. É muito importante ter o Sebrae ao lado”, destaca Silvia. “Queremos expandir nossa atuação com essa mentalidade omnichannel e chegar aonde ainda não estamos. Para isso, estamos trabalhando no planejamento de uma linha exclusiva de produtos”, completa Mariana.

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Aprendizados finais

Sebrae-SP: presença que transforma o “impossível”

Passados quase três anos do início da pandemia, a pergunta que hoje mais ouço em reuniões, palestras, encontros, eventos é: “Quais são as principais lições que aprendemos?”. Quando respondo que foi encontrar soluções para equações impossíveis, vejo todo tipo de reação: a maioria diz que “o impossível é impossível de resolver”. E discordo, porque acredito que há níveis diferentes de intensidade para o que acreditamos ser “impossível”. Esse limite existe, é claro, mas o que fazemos todos os dias é lutar para reduzir essas barreiras, vencer as adversidades. Sonhamos, criamos, pensamos e colocamos em prática soluções que nos oferecem muito além desse “impossível” (o que parece ser, mas não é). O que muitas vezes nos paralisa é a inércia, o medo, a falta de criatividade e, até mesmo, as decepções dos oportunistas e dos aproveitadores. Tudo isso cria um “impossível” que não é real. Eu digo que o “impossível que é possível, a gente consegue resolver”. É só acreditar e colocar mãos à obra.

O que resta como entendimento final do período da pandemia de covid-19, de extremas dificuldades para todos os brasileiros que enfrentaram perdas pessoais e materiais, é que, mais do que nunca, a união não apenas faz a força, mas, ao promover a colaboração, ajuda a gerar desenvolvimento e criar e implementar soluções criativas que podem gerar resultados incríveis. O sentimento de empatia –a compreensão da situação do próximo – e a solidariedade para com os mais necessitados foram marcantes nesse período de pandemia. Embasaram ações fundamentais para socorrer quem não tinha mais recursos, para alimentar quem tinha fome, para consolar quem sofria com a morte de seus familiares.

No Sebrae-SP, houve o entendimento de que era preciso ir além do habitual, a fim de estar realmente presente na vida daqueles que são mais do que apenas clientes. São parceiros na missão da entidade de promover o desenvolvimento do País, gerando emprego, renda, oportunidades e transformação na vida das pessoas.

Percorri, ao lado do Renato Fonseca, assessor da presidência do Sebrae-SP, mais de 200 mil quilômetros em todo o Estado de São Paulo nos anos de 2020 e 2021. Estive, pessoalmente, onde os empresários estavam, prontos para ver, ouvir, debater e coletar insumos para promover, também, a transformação interna da instituição. Foi a oportunidade de assistir, in loco, a comoventes ações de resiliência, criatividade e colaboração, que são fatores essenciais não apenas para sobreviver, mas também para transformar desafios em oportunidades de crescimento, para prosperar.

Foi com base nessa jornada que o Sebrae-SP desenvolveu o conceito mencionado no início deste livro: o reshape, uma nova maneira de organizar pensamentos, estratégias, comportamentos e ações, na vida pessoal e profissional.

125 Aprendizados
finais

Os que têm esse novo olhar agem rapidamente, sem receio de quebrar paradigmas, de romper com os modelos antigos de administração, e vão em busca de respostas e de soluções para equações impossíveis.

Quando relembro a caminhada iniciada em março de 2020, com a decretação da pandemia, vejo quanto o Sebrae-SP conseguiu caminhar na direção de sua missão original e dos seus valores mais caros, mesmo durante a maior crise sanitária dos últimos cem anos. E soube aprender e ensinar, soube percorrer a dupla mão do conhecimento.

Em total sintonia com essa nossa missão e visão, coube ao Sebrae-SP fazer parte da solução: estar presente na vida dos empreendedores, encurtar distâncias e entregar celeremente soluções que permitissem não só a retomada das atividades, mas também que cada um pudesse assumir o protagonismo no processo de reconstrução do crescimento sustentável.

O norte do Sebrae-SP nos últimos anos tem sido este: “Presença que transforma”. Esse foco foi perseguido com obstinação por nossos colaboradores, que se dedicaram de maneira ímpar para tornar nossa entidade cada vez mais presente, como um verdadeiro agente da transformação dos negócios e do País. Nessa jornada, confirmei um sentimento que trago comigo há tempos: a transformação não se refere apenas à tecnologia, mas, principalmente, às pessoas. Foi essa visão que garantiu, por exemplo, a certificação do Sebrae-SP no ranking de Melhores Empresas para Trabalhar (Great Places to Work), que há 25 anos destaca as organizações que criam o melhor ambiente para os seus profissionais e ajudam a consolidar práticas de liderança que se tornam referência mundo afora.

Por tudo isso, também quero deixar registrada a gratidão a todo o corpo funcional do Sebrae-SP, que, de fato, esteve lado a lado com os donos dos negócios de pequeno porte que sofreram com as restrições provocadas pela pandemia e soube conduzir aqueles que perderam os empregos e buscavam no empreendedorismo uma alternativa de renda.

É extremamente revigorante ver como o espírito de colaboração muda os rumos da história de empreendedores, empresas, cidadãos, comunidades e municípios. Sim, os efeitos da nossa atuação não param em empresas com mais fôlego e tônus para competir. Vão além. Nossas ações conectadas ajudam a gerar emprego e renda que beneficiam os negócios locais, em um verdadeiro ciclo virtuoso do processo de desenvolvimento.

Uma das poucas certezas que temos neste momento é que a pandemia, com seu caráter transitório, produziu transformações perenes. Ao longo dessa jornada, sobressaíram algumas certezas: a solidariedade fortalecida em tempos de pandemia vai permanecer, assim como as novas maneiras, cada dia mais sustentáveis e digitais, de interagir com as pessoas. O mundo é outro, e tendências que estavam despontando se transformaram em realidade, afetando a forma de se relacionar, consumir, trabalhar, aprender e ensinar.

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Ouvi especialistas afirmando que avançamos cinco anos em cinco meses em termos de presença no mundo virtual, em razão da pandemia. Agora estamos diante de dois momentos importantes: garantir fôlego aos negócios para que retomem suas atividades, vendam, faturem e lucrem mais e, ao mesmo tempo, fortalecer a musculatura desses empreendimentos para que reconstruam sua trajetória dentro dos novos parâmetros da sociedade transformada, em que o digital ganha força, com preocupação constante com o meio ambiente.

Um estudo do Sebrae com a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que, antes da pandemia, 59% dos pequenos negócios vendiam pela internet. Depois da pandemia, essa proporção cresceu quase 70%. É com esse foco que empreendedores de todos os setores – agronegócio, comércio, serviços, indústria, tecnologia – devem construir seus pilares de condução. É preciso acelerar a reorganização da base do sistema produtivo para esse novo momento. As entidades, também transformadas, apoiam sem restrições essa mudança de rumo, trazendo orientação e capacitação, abrindo mercados, construindo pontes que ajudem não só na retomada, mas também na travessia, consolidando pequenos negócios competitivos e sustentáveis.

Em 2022, quando o Sebrae completou 50 anos de apoio aos negócios de pequeno porte, reiteramos nosso compromisso de continuar construindo uma instituição verdadeiramente conectada às necessidades dos empreendedores, que de modo efetivo e significativo transforme os negócios e a economia. Das necessidades dos empresários e das tendências captadas por nossos especialistas, trabalhamos em conceitos que se concretizaram em projetos inovadores, como o Centro de Referência Nacional em Economia Criativa, segmento responsável por quase 3% do PIB e mais de 1 milhão de empregos e que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), deve crescer entre 10% e 20% nos próximos anos. Destaque também para a criação do Clube de Negócios, uma rede formada por 33 grupos de empresários, que interagem e criam oportunidades, com apoio de especialistas. Isso resultou em mais de 5 mil pequenos negócios, que realizaram 120 mil conexões. Um grande sucesso a ser destacado é a Feira do Empreendedor, evento consolidado mundialmente. Outro ponto importante foi a expansão da rede de atendimento presencial Sebrae Aqui, que chegou a 600 municípios paulistas, em 2022. E não podemos deixar de citar os resultados extremamente positivos junto às startups, com a conquista do Startup Awards 2022. Do Brasil para o mundo, em 2022, teve início um projeto de internacionalização dos pequenos empreendimentos, com a reativação do Sebrae Trade, que realizou várias missões tão logo as fronteiras aéreas foram liberadas para as viagens. Gulfood em Dubai; NRF (Varejo) em Nova York; Fruit Attraction em Madri; e Web Summit em Portugal foram alguns destinos de centenas de empresários que buscam iniciar ou ampliar sua atuação no comércio exterior. Essas experiências, somadas às orientações do Sebrae Nacional, resultaram na

127 Aprendizados
finais

O presidente do Sebrae-SP, Tirso de Salles Meirelles, na premiação Prefeito Empreendedor 2022

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grande novidade que foi a inauguração do Sebrae Lisboa, em 3 de novembro de 2022, em decorrência não apenas de todo o trabalho que envolve essas missões, mas também de intensas reuniões de articulação com diferentes entidades e sempre em parceria com o Sebrae Nacional. Dessa forma, juntos, consolidaremos o empreendedorismo como pilar da ponte que levará o Brasil a um futuro brilhante, promissor e próspero, o futuro que merecemos como nação.

Nesse meio século de existência, assistimos e provocamos diversas mudanças. As micro e pequenas empresas ganharam visibilidade e viram reconhecida sua representatividade. O empreendedorismo entrou na pauta das políticas públicas, e o tratamento diferenciado previsto na Constituição foi regulamentado pela Lei Geral das Pequenas Empresas. No entanto, dois fatos permaneceram intactos nesse período e acreditamos que assim continuarão: os brasileiros vão chegar até nós com o propósito de empreender, e o Sebrae-SP estará sempre pronto para responder às suas demandas, num processo de permanente transformação da entidade para o cumprimento integral de sua missão.

Esse é um dos legados que deixamos para o futuro. Temos certeza que a próxima gestão da entidade, capitaneada pelo vice-presidente da Fecomércio, Manuel Henrique Farias Ramos, definirá o direcionamento estratégico que garanta e amplie tal norte, uma vez que construímos juntos, com sua valorosa participação e orientação e dos outros conselheiros, todo esse processo. Para esses novos tempos que começam hoje, temos alguns desejos. Que o Brasil seja um país em que empreender se torne a escolha natural como atividade profissional, porque abre a possibilidade de protagonizar histórias de sucesso, porque brasileiros e brasileiras estarão impregnados da cultura empreendedora. Que seja, enfim, revertida a estatística que nos choca hoje – de cada 100 pessoas desemprega[1]das, 99 buscam voltar ao mercado de trabalho por meio do emprego formal e apenas uma decide empreender, na maioria das vezes por necessidade. Que empreendedores realizem seus sonhos e sejam protagonistas em suas áreas de atuação, e ajudem outros a também sonhar e realizar, a prosperar e colocar o Brasil entre os líderes nos rankings da inovação e da sustentabilidade. Que o Sebrae-SP seja o principal agente dinamizador dessa transformação no estado. O futuro é digital e conectado, e nos espera para construí-lo com ética, criatividade e empreendedorismo!

Tirso de Salles Meirelles, presidente do Sebrae-SP

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Aprendizados finais

Sebrae

Tirso de Salles Meirelles na abertura da Feira do Empreendedor 2022 Lucas e Renato Gibertoni, da Aidu, embarcam pela primeira vez seus produtos para o exterior Reunião do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP na Feira do Empreendedor 2022
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em Lisboa, ponto de apoio aos pequenos negócios que buscam a internacionalização Empresários em missão à Dubai, em 2022 Guilherme Campos Junior, Diretor de Administração e Finanças Ivan Hussni, Diretor Técnico Wilson Poit, Diretor-Superintendente (2020-2021)
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Marco Vinholi, Diretor-Superintendente

Agradecimentos

Os organizadores deste livro, Renato Fonseca de Andrade e Tirso de Salles Meirelles, deixam aqui registrada a gratidão a todos aqueles que contribuíram para que a história de transformação relatada neste livro fosse escrita.

À Diretoria Executiva do Sebrae-SP

Marco Vinholi (Diretor-Superintendente), Ivan Hussni (Diretor Técnico), Guilherme Campos Junior (Diretor de Administração e Finanças).

Ao Conselho Deliberativo do Sebrae-SP

Alfredo Cotait Neto e Roberto Mateus Ordine (Associação Comercial de São Paulo); Rafael Correa Fabra Navarro e Marcela Chami Gentil Flores (Associação Nacional de PD&E das Empresas Inovadoras); Elissandra de Araújo Rodrigues e Alexandre Inácio de Azevedo (Banco do Brasil – Diretoria de Distribuição São Paulo); Gabriela Redono Chiste e Paulo José Galli (Agência de Fomento do Estado de São Paulo S.A); Pedro Luiz Olivieri Lucchesi (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo); Josué Christiano Gomes da Silva e André Marques Rebelo (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo); Manuel Henrique Farias Ramos e Marco Aurélio Sprovieri Rodrigues (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo); Sylvio Goulart Rosa Junior e Patrícia Sonquine Nazzari (Fundação Parque Tecnológico de São Carlos); Liedi Légi Bariani Bernucci e Claudia Echevengua Teixeira (Instituto de Pesquisas Tecnológicas); Isaac Sidney Menezes Ferreira e Adauto de Oliveira Duarte (Sindicato dos Bancos do Estado de São Paulo); Thiago Rodrigues Liporaci (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Inovação); Maria de Lourdes e Silva e José Constantino de Bastos Júnior (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas); Robert Kennedy Lara da Costa e Sidney Soares Filho (Superintendência Estadual da Caixa Econômica Federal).

Ao Conselho Fiscal do Sebrae-SP

Paulo Sérgio do Amaral e Christian Borges de Ávila (Superintendência Estadual da Caixa Econômica Federal); Wagner Mar (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo); Fábio Luis Bacchini (Fundação Parque Tecnológico de São Carlos); Antonio Carlos Teixeira Alvares e Ronaldo Koloszuk (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Ao Conselho Superior da Faculdade Sebrae

Paulo Henrique Barroso Menezes (Presidente); Alencar Burti (Associação Comercial de São Paulo, representante indicado pelo Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae-SP); Antônio Carlos Teixeira Alves (representante da comunidade); Manuel Henrique Farias Ramos (Federação do Comércio de

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Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, representante indicado pelo Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae-SP); Sylvio Goulart Rosa Filho (Fundação Parque Tecnológico de São Paulo, representante indicado pelo Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae-SP); Cyllara Guadalupe Tavares Serrano (representante do Corpo Técnico Administrativo); Eduardo Pinto Vilas Boas (representante da gestão de curso); Charles Bonani de Oliveira (representante dos professores de carreira); Marcela Luara da Silva Delago (representante do corpo discente).

Ao Sebrae Nacional

José Roberto Tadros (Presidente do Conselho Deliberativo Nacional); Carlos do Carmo Andrade Melles (Diretor-Presidente); Bruno Quick (Diretor-Técnico); e Eduardo Diogo (Diretor de Administração e Finanças).

Nossos agradecimentos especiais a Wilson Poit, Diretor-Superintendente do Sebrae-SP no período 2020-2021.

E aos colaboradores que atuam na sede do Sebrae-SP e em todos os postos de atendimento no Estado de São Paulo, assim como as suas famílias, que representaram um fundamental apoio nesse difícil período da pandemia.

133 Agradecimentos

Referências

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SANCIONADA lei que torna Pronampe permanente. Agência Senado, 4 jun. 2021. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/ noticias/materias/2021/06/04/sancionada-lei-que-torna-pronampe-permanente. Acesso em 30 set. 2022.

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SÃO PAULO. Decreto nº 64.881, de 22 de março de 2020. Governo do Estado de São Paulo Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/ wp-content/uploads/2020/03/decreto-quarentena.pdf. Acesso em: 30 set. 2022.

SEBRAE-SP. Relatórios de Gestão Sebrae-SP 2019, 2020 e 2021.

SEBRAE-SP. Documentário “Comunidades quilombolas remanescentes do Vale do Ribeira: quilombolas geram renda com empreendedorismo” ASN SP, 27 maio 2022. Disponível em: https://sp.agenciasebrae.com.br/videos/cultura-empreendedora/quilombolas-geram-renda-com-empreendedorismo/. Acesso em: 30.set.2022.

Site IBGE. Disponível em: https://covid19. ibge.gov.br/. Acesso em 19 out. 2022.

THE CRISIS facing development. Banco Mundial. Disponível em: https://www. worldbank.org/en/home. Acesso em: 30 set. 2022.

VEJA quais países iniciaram a vacinação contra a covid-19; Brasil está fora. CNN Brasil, 24 dez. 2020. Disponível em: https:// www.cnnbrasil.com.br/saude/quais-os-paises-que-ja-comecaram-a-vacinacao-contra-a-covid-19/. Acesso em: 30 set. 2022.

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O impossível gerando o extraordinário. Um relato da atuação do Sebrae-SP na pandemia de covid-19

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Sebrae-SP: presença que transforma o “impossível”

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Vencendo 100% a desconfiança

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Facilitar, aproximar e incluir: dos quilombos para o mundo

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O Sebrae do Futuro avança em 2021

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Pacotes de auxílio e concessão de crédito, aprendendo Economia

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O Sebrae-SP faz a ponte e Leandro segue adiante

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Soluções digitalizadas para os clientes, inovar foi preciso

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1918: outra pandemia

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