I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL- construindo pontes Em comemoração aos

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Mãos e pés nos grilhões a sangrar. Algo foi lançado ao mar As águas engoliram vorazmente Era Olokun levando para com ele morar Aos olhos dos ali presentes Mais um que não resistiu à travessia Nas entranhas da nau em agonia Foi entregue nas mãos do orixá A alma que com ele habitaria. Foram meses na insólita viagem Uma estranha terra à vista Terra distante do seio da mãe África Almas que desciam a nau aflitas A visão não era das doces savanas Minas, fazendas, plantações de cana Corpos triturados Na antropofagia da moenda insana. Foram séculos aprisionados longe da amada terra O corpo aqui estava Alma lá Baquaqua narrou suas desventuras Uma alma negra a contar A história de todo o sofrimento Açoites, senzala, pelourinho... A vileza do aprisionamento. Zumbi símbolo da negra luta Palmares o lugar da resistência Mesmo depois de um dia de labuta Ainda havia na casa grande a penitência O povo precisava de um lugar Para pelo menos da África lembrar E não deixar a história dos heróis ancestrais Da memória do negro apagar. Não se alforria um verdadeiro guerreiro A liberdade está dentro de cada homem 112


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