0,7 turning amber pdf

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TURNING AMBER – SÉRIE LILA – SARAH ALDERSON

Conheçam Amber - funcionária da Thrift Store, manipuladora de humores e detector de mentiras humano – ela às vezes acabava sendo abandonada pelos garotos (porque eles só tem uma coisa na mente), até o dia em que conheceu Ryder, que possuí a estranha habilidade de fazê-la esquecer todas as suas experiências traumáticas e pré-julgamentos sobre o sexo oposto. Mas Ryder também está envolvido em algo muito perigoso e nem sequer a capacidade de Amber em desviar de seus caminhos os psicopatas perigosos e evitar qualquer situação grave vai impedir que eles sejam alvos do maior de todos os perigos.

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Eu não sei muito, eu admito isso. Eu tenho apenas dezessete anos, afinal de contas. Mas há uma coisa que eu sei com total e absoluta certeza: Todo mundo é mentiroso. Não apenas os políticos e advogados criminais. Todo mundo mesmo. Médicos, velhinhas e policiais. Até mesmo freiras. Sério. A vendedora da loja que diz que aquela cor ficou linda em você. A garçonete que sorri e diz que não tem problema trazer outro pedido. A melhor amiga que jura que seu traseiro não ficou grande demais naqueles jeans. Honestamente, os meninos são os piores. Acredite em mim, cada palavra que sai dos lábios de um menino deveria ser recebida como algo que se recebe banhado em Antraz --- com extrema cautela e nunca, em hipótese alguma, deve ser absorvido. - Essa revista que você está lendo é cheia de mentiras – eu disse para Nancy, apontando meu dedo para uma foto de uma celebridade com aparência anoréxica. - Vamos lá, você realmente acredita quando ela diz tudo que ela come é sorvete e donuts? Nancy olha para mim e depois para seu exemplar da Seventeen, empurra seus Raybans para seu nariz e enche uma bolha de chicle, que, por um segundo antes de estourar, esconde seu rosto com um rosa pálido. Ela volta a aparecer, e então, segue mastigando seu elástico grudento. - Seu problema Amber - diz ela - é que você é muito cínica até mesmo para apreciar uma fofoca. E isso é uma verdadeira tragédia. - Eu não sou cínica - eu suspiro. Eu só sei de fato quando alguém está mentindo. Eu posso ver isso. A cor da sua aura muda como se estivessem debaixo de uma bola de discoteca. Se acontecer de eu estar tocando-os ao mesmo tempo (o que não é sempre, porque eu tenho uma regra de nunca

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tocar as pessoas), então eu sinto isso também. Agora tente confiar em alguém e contar uma coisa dessas. É mais do que o suficiente para ganhar uma viagem de ida a um psiquiatra indicado pelo Estado. Tenho visto as auras das pessoas desde que eu era uma criança. No começo eu respondia com um reverente sorriso, olhando para as luzes multicoloridas dançando sobre as cabeças de todos. Imaginei, com o astuto raciocínio de uma pequena criança, que estas coisas eram auréolas, e que, portanto, todos, incluindo eu, éramos anjos. Minha mãe descobriu muito rápido o que estava acontecendo, porque a mãe dela --- minha avó --- também foi uma leitora. Essa é a palavra que eles usam para isso: leitor. Como se fosse tão divertido quanto a leitura de um livro. Minha mãe me deixou do lado de fora da escada da casa da minha avó para que ela explicasse tudo para mim. Foi muito devastador --- isso e descobrir que vovô não era Papai Noel quando colocava presentes na sala --- descobrir que as pessoas estavam tão longe de serem anjos como era possível estar. E descobrir que aquelas luzes fascinantes realmente significavam muito mais do que: oooh, bonito. Elas significavam tristeza, dor, alegria, ciúme, esperança, raiva, felicidade e perda. A alma de todos era desnudada, como se arrancassem uma luva (ou um chapéu, já que era na cabeça, se você deseja ser mais literal). Cor verde para ciúme, azul índigo para o medo, o vermelho sangue para raiva, vermelho escuro para a ira, topázio brilhante para amizade, amarelo mostarda para a doença, obsidiana negro para a dor, para o sofrimento e a maldade. Porque, sim, o mal existe no mundo. Odeio ter que dizer isso. E não vamos esquecer do branco. Imaculado, brilhante, o branco de noiva. Ele significa a morte. Nancy bate para baixo a revista. - Certo, nós precisamos fazer como Tom e passar - ela anunciou. E com isso ela pula o balcão e voa pelos corredores da Thrift Store, jogando itens aleatórios em seu braço como se ela tivesse apenas sessenta segundos para salvar todos os itens da loja de um enorme incêndio. Ela entra na seção de toalhas, chapéu, óculos de sol e gira, tirando uma boina azul, um boá rosa de penas e um par de óculos de sol dos anos 50. Com as roupas em seus braços, junto com as penas e outros itens aleatórios, ela corre de volta para o balcão onde eu estou ocupada, fechando o caixa.

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Ela expulsa os últimos bisbilhoteiros --- dois adolescentes rindo de um exemplar surrado da novela Anais Nin --- e nós começamos a trabalhar. Em uma escala de um a dez, eu estou oscilando em torno de três para ir ao The Majestic hoje à noite. Eu só concordei porque a banda favorita de Nancy estará tocando e eu não quero que ela vá sozinha. Ela não tem um filtro contra certos tipos de garotos esquisitos. - Como você pode não estar animada para ver o Gnarly Surs? Nancy diz, sorrindo para mim enquanto passava um delineador e um gloss diante do espelho do provador, antes de sair girando na sua roupa siberiana-camponesa- metade ninja e metade assassina. Sua aura é uma nuvem de cor topázio e ouro: amizade e felicidade. - Eu prometo a você que vai ser a melhor noite de sempre! - Nancy me diz, girando, as penas flutuando na neblina acima dela fazendo parecer que um bando de pássaros selvagens estão aninhados em seu cabelo. Eu atiro um olhar. - A última vez que você me fez ir com você ao Majestic eu tive que te puxar antes de você ser pisada em uma dança louca, e então nós quase fomos espancadas por um grupo de motoqueiros rebeldes. Nancy colocou a língua para fora. - Ei, só porque ele usava couro, provavelmente mantinha uma família de roedores embaixo de sua barba e tinha pontos de vista duvidosos sobre a democracia e o lugar da mulher na sociedade, isso não fazia dele um canibal. Eu balancei minha cabeça para ela. Nancy era praticamente a minha única amiga, em parte, porque entre os mentirosos consumados no mundo, ela é uma das mais honestas. Ela só mente quando não quer machucar os sentimentos de alguém. Eu não minto nunca. Jamais. É uma regra minha. E também explica porque eu não tive amigos durante todo o ensino fundamental. Por isso, no ensino médio eu aprendi a não abrir minha boca. No ensino médio, eu tinha a reputação de menina solitária, esquisita e rainha do gelo. Mas pelo menos a minha aura está limpa e brilhante. Eu puxo uma camiseta vintage que estive olhando o dia todo, e que eu mais cedo escondi para garantir que não fosse escolhida por nenhum dos drogados que frequentam a loja, e depois, por cima, eu coloquei uma jaqueta de couro confortável que se sentia como uma segunda pele --- Uma pena que custa mais do que eu ganho em uma semana de trabalho na loja. Mas o empréstimo não custa nada! Nancy salta mais e coloca a boina na minha cabeça.

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- Você e seu cabelo, minha princesa medieval - ela murmura enquanto ela tenta domá-lo, puxando um fio vermelho livre e envolvendo artisticamente em volta do meu rosto. Uma vez terminado, ela coloca os óculos de sol, mesmo estando quase escuro lá fora. Em seguida, ela enrola seu braço no meu. - Está pronta minha irmãzinha do coração? – ela pergunta.

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O Majestic como sempre, tem atraído a sua habitual multidão de adolescentes locais. Há também um batalhão de homens barbudos vestidos como motoqueiros, com tanto couro que conforme eles caminham se houve um ruído e que (eu me arrepio quando penso sobre isso) deve causar algum tipo de assadura tenebrosa com o tempo. Há alguns viciados no canto, que nós reconhecemos como clientes regulares da loja, alguns garotos surfistas durões (como Nancy se refere a eles), e alguns meninos da escola --- uma mistura dos fumantes de maconha, dos emos e dos punks, grunge --- os quais eu e Nacy ignoramos. E depois há os turistas, gente de fora da cidade, parecendo um pouco assustados enquanto apertam o copo de cerveja contra o peito e esperam a banda terminar. Eu o vejo de imediato. Ele é difícil de não ser notado na multidão do Majestic. Ele se destaca não só por sua excepcionalmente boa aparência (sua boa aparência só se ofuscava por sua aura, tão escura e por seu estilo mal humorado que me fez estremecer na hora), mas também porque Nancy me soca no estômago para chamar minha atenção para ele. Ele tinha a minha atenção completa de qualquer maneira. Eu levantei os óculos escuros para me certificar de que eu não estava vendo coisas. Eu nunca, em toda minha vida, vi uma aura como a sua. Exceto em duas outras pessoas. E ambas essas pessoas tinham algo bastante incomum. Eu só posso descrever isso, dizendo que é como um daqueles desfiles onde pequenos quadrados de papel alumínio caem de cima acima de nossas cabeças como se fossemos heróis. É incrível. Haviam também outras cores misturadas lá --- mas é a prata que mais atraí ... não posso deixar de notar. Sinto como se houvesse sangue em meus ouvidos, além de um som mais alto do que dos alto-falantes e meu coração faz essa coisa estranha

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que parece se expandir e encher o meu peito, batendo insistentemente contra minhas costelas. - Uma gostosura em pessoa diante do nosso caminho - Nancy sussurra na minha orelha - E eu não estou falando do irmão gordo do Papai Noel parado ao lado dele. O rapaz se vira para nos encarar --- como se pudesse sentir que nós estávamos encarando--- e na fração de segundo quando os nossos olhares se encontram, é como se o clube inteiro desaparecesse e no mundo houvesse apenas nós dois. Ele sorri --- um sorriso fácil, lento que me engancha como um peixe em um anzol. Mas, então, Nancy começa a me bater no braço e o clube que parecia estar do outro lado do universo retorna em velocidade. Meu coração se contrai e o único som sussurrando em meus ouvidos agora é Nancy, que começou a fazer uns estranhos ruídos--felizmente não em relação ao menino. Sua atenção é bem menor do que isso. Viro-me e olho para o palco. O Gnarly Surs já apareceu e eles estão afinando seus instrumentos, prontos para nos torturar com algo que poderia quase ser classificado como música. Em alguma galáxia exterior habitada por aliens surdos, talvez. De repente eu estou envolvida em um ruído trovejante e em um cheiro de suor rançoso e auras brilhantes refletindo na borda da minha visão. Minha cabeça começa a latejar, eu fecho meus olhos e tento respirar. Esta é uma das razões (além dos homens vestidos de couro, com barbas cheias de piolho e a música torturante) pela qual eu não gosto de vir aqui, ou em qualquer lugar onde multidões de pessoas se reúnem (a menos as crescentes multidões estejam meditando como monges budistas). Porque eu não apenas posso ver auras. Eu sinto elas também. Por isso o uso dos óculos de sol. São as emoções das auras das pessoas que eu sinto, ricocheteando em mim como raios infravermelhos. Esse é o verdadeiro assassino. Em pequenos grupos eu consigo suportar os raios. E uma ou duas pessoas com quem eu escolho sair (OK, é apenas ...Nancy) só emite os raios felizes. Neste lugar, no entanto, cheio de suor e pessoas barulhentas--- até porque muitas delas estão aumentando sua energia devido ao uso de alguma droga --- eu sinto como se eu estivesse sendo esmagada dentro de um microondas e eletrocutada na potência máxima.

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Alguém próximo à nós está em êxtase --- talvez até seja Nancy. Ela bate contra mim e eu sinto a felicidade desencadear uma onda de dopamina direto para o meu cérebro. Eu solto um grito que faz Nancy atirar-me um olhar perplexo. Mas a alegria é de curta duração, porque do outro lado, a força do ciúme me cutuca como um picador de gelo. Eu tento ver através da luz estroboscópica. O responsável é um cara alto e magro olhando sua namorada babar no baterista da banda. Eu desvio o olhar para longe dele. E sinto um raio vermelho batendo direito no meu crânio. Esse é mais surpreendente, uma vez que vem de uma pequena menina logo atrás de mim que parece com manteiga que não derreteria, e cujos pés eu acidentalmente acabei pisando. É demais. Eu grito no ouvido de Nancy que eu vou lá fora respirar um pouco de ar e então eu tento fazer o meu caminho para a saída mais próxima. Eu passo ao lado do grupo de motoqueiros --- flashes de ondas vermelhas mescladas com amarelo --- e é como nadar contra a maré. Minha cabeça está doendo como se dentro houvesse uma tempestade. Eu apenas consigo chegar até a porta. Mas o irmão mais gordo e feio do Papai Noel está de repente na frente da porta, bloqueando o caminho. - Olá pequena dama - ele me diz, colocando suas mãos sobre sua barriga de grávida e balançando em seus calcanhares. Suor forte. Cerveja quente. Ambos misturados com alguma coisa ainda mais vil e fedorenta. Ele não preciso tocá-lo, mas eu posso senti-lo -- sentir seus pensamentos --- como as vibrações de uma cobra cirandando ao meu redor. Eu dou um passo para trás, incapaz de esconder a minha repulsa, e vejo um aumento da raiva nos olhos dele em resposta. Uma explosão vinho saí de dentro dele, como se houvessem apertado uma tinta spray. Eu olho por cima do ombro, à procura de ajuda, mas estamos praticamente atrás do palco aqui, submersos por sombras. Apenas uma parede de couro atrás de mim, e mais adiante, algumas cabeças balançando em êxtase. A música é tão alta que eu não posso nem ouvir a minha própria voz quando eu peço para o cara me deixar passar. Ele age como se não tivesse escutado. Uma rajada fria de adrenalina inunda meu cérebro. Estou acostumada a caminhar na escuridão --- ela está ao nosso redor muito mais do que você pensa. Você passa por alguém na rua e externamente, pela aparência, você diria que poderia dar aula em uma escola dominical --- um sorriso Colgate, camisa abotoada e limpa e cabelo penteado, dividido com gel ao meio --- e então você tem o choque da sua vida quando você olha para cima e vê sua aura escura e suja se

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retorcendo, e então você percebe que aquele que poderia ser professor em uma escola dominical é, na verdade, um serial killer. Normalmente eu atravesso a rua, porque chamar a polícia e explicar as suas suspeitas só os faz ficar com uma sobrancelha levantada te convencendo a entrar na parte de trás da viatura para te levar te volta à casa da sua mãe. Pelo menos é assim que sempre funcionou para mim. O cara agora de pé diante de mim sorri, embora o sorriso não refletisse em seus olhos. - Por que você não fica e sai comigo? - pergunta ele. - Eu só preciso de um pouco de ar - eu digo a ele, gritando para ser ouvida sobre o feedback do microfone. - Eu só quero conversar um pouco - diz ele, manobrando seu volume substancial inteiramente em frente da porta. Mentiroso. Sua aura é marrom como esgoto. Como se ele estivesse nadando em um tanque séptico. Eu forço um sorriso --- como se eu estivesse até avaliando a sua proposta, mas realmente eu estou tentando me recompor, tentando lutar contra a náusea e controlando minhas emoções. Minha avó passou toda a minha infância me preparando para o “meu dom”, como ela dizia. E uma das coisas que ela me ensinou foi como usá-lo como forma de me proteger de todo o tipo de louco no mundo. E eu não estou falando de usar spray de pimenta e de atacar com os joelhos certas áreas sensíveis da virilha. Ela me ensinou como manipular humores. Isso não quer dizer que eu posso transformar um assassino psicopata em um obediente e respeitoso amante do cumprimento das leis e de toda a humanidade, assim como não poderia injetar um êxtase de alegria em toda uma multidão, mas se eu focar em uma pessoa, ou até mesmo em um grupo de pessoas, eu posso mudar a cor de sua aura e, portanto, o seu estado de espírito. Não é fácil, é por isso que eu quase nunca faço isso, e os efeitos são de curta duração, mas em momentos como estes eu agradeço à Deus e também à minha avó que me ensinou. É como jogar um pouco de solvente de tinta sobre uma pintura a óleo --- posso dissipar o ciúme, apagar a luxúria e destruir a raiva. Eu posso gerar sentimentos de amor, inspirar felicidade, colocar confusões, tristeza ... o que quiser. Se eu focar com firmeza, posso fazer um homem adulto chorar. Então, eu faço. Eu estreito meus olhos e olho para o testa do homem logo acima de sua sobrancelha e eu envio uma seta de luz lilás acinzentada em sua direção. Os pensamentos que o rodeavam recuam imediatamente.

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Ele deixa cair a minha mão e recua, seu rosto contorcido e seu lábio começando a tremer. As lágrimas já estão bem atrás de seus olhos. Ele não sabe porquê. Ele franze a testa --- confundido --- e pisca para mim. As lágrimas começam a rolar pelas suas bochechas. Eu mantenho o foco. Se eu deixar o foco se perder, a tristeza pode se transformar em constrangimento, que pode se tornar raiva, o que não é o que eu quero. Sua aura agora é toda redemoinhos, o amarelo mostarda se converte em cinza. Tristeza e desespero silenciam qualquer de seus outros impulsos. Isso é o suficiente para que eu possa passar por ele e atravessar a porta, deixando-o chorando como um bebê atrás de mim.

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Lá fora, o ar frio me atinge como um suspiro. Eu inalo profundamente, me encostando na parede do beco, e esperando minha mente clarear e o meu coração parar de bater tão disparadamente. Longe de todas as pessoas tudo se acalma e uma onda de cansaço me bate tão profundamente que faz meus joelhos se dobrarem. Quando a porta bate, se abrindo novamente, eu mal consigo saltar para fora do caminho antes que ela choque com força exatamente onde eu estava, deixando uma rachadura na parede de cimento. Eu já estava recuando pelo beco, me afastando pela rua, minhas pernas prontas para correr (meu cérebro já não tinha condições de lutar novamente, eu estava completamente exausta depois de todo o meu esforço), quando eu me dou conta que não é o irmão gordo e feio do Papai Noel que está vindo me encontrar, e sim o menino com o sorriso lindo. E com a aura brilhante. - Você está bem? - diz ele, o alívio transparecendo pela sua cara - Eu vi aquele cara te incomodando do outro lado do clube, mas eu não consegui chegar a tempo. Ele estava vindo para me salvar? Ele chuta a porta com o calcanhar, silenciando o ruído de dentro. - O que você disse para esse cara, afinal? - pergunta ele, sacudindo a cabeça em direção à porta. - Que cara? - Eu gaguejo. - O cara que parece comer adolescentes no café da manhã e que agora está chorando rios de lágrimas. O que você fez? Disse que a sua Harley foi roubada? Zombou das suas tatuagens? Minha respiração normalizou novamente. - Nada. Eu não disse nada a ele. Ele aperta os olhos para mim, não acreditando nem por um segundo, e em seguida, ele inclina a cabeça para um lado, e um sorriso lento e fácil se espalha em todo o seu rosto. - Se eu me aproximar de você, você vai me fazer chorar também? pergunta ele, dando um passo mais perto.

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Penso em sua pergunta. Minha garganta está tão seca que quando eu respondo eu sinto como se uma lixa estivesse raspando contra tijolo. - Depende - digo a ele. - OK - ele responde, balançando a cabeça, pensando - Vou correr o risco. Ele estende a mão. - Ryder - diz ele - Prazer em conhecê-la. Trago uma respiração profunda. Odeio essa parte. Sem sequer tocálo eu já estou sentindo o azul golpeando por todos os lados de sua aura. Mas a alternativa de não dar a mão é demasiado rude. Então eu limpo minha garganta. - Amber - eu digo. E então eu me aproximo, me preparando, e tomo sua mão. As pessoas falam sobre faíscas se soltando, sobre choques elétricos e eu sei melhor do que ninguém de que essas coisas são verdadeiras. Quando duas auras colidem, de boas ou más maneiras, fagulhas podem voar. Mas isso é diferente. Não há faíscas soltando quando Ryder e eu apertamos as mãos. Nada de solavancos de eletricidade. Em vez disso, o sentimento é semelhante à mergulhar em um rio congelado. Instantaneamente eu me sinto arrastada para um redemoinho, e depois lançada, em uma corrente selvagem. É uma entrega total. Sem luta. Apenas um passeio de pura adrenalina e emoção. Quando Ryder solta minha mão, eu suspiro, como se acabasse de ser ofuscada por uma forte luz do sol. Eu pisco para ele. Ele olha para mim com uma expressão estranha em seu rosto. - Você está bem? - pergunta ele. - Eu ... err ... sim, eu estou bem. Claramente, ele não sentiu estar se afogando em um rio congelado quando ele apertou a minha mão. O que é que foi isso? - Tem certeza? - pergunta ele - Você parece um pouco ... sem fôlego. - Sim, eu só ... Eu começo a franzir a testa para ele, depois dou um sorriso. - Eu estou bem. - Então você gosta de The Gnarly Surs? - ele pergunta agora, seus olhos brilhando com diversão. - Tanto quanto eu gosto de homens motoqueiros peludos, tatuados com a símbolo da Aryan Nation.

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Assim que eu termino o comentário, a porta se abre e o cabeludo motociclista ostentando as suas tatuagens racistas saí para fora. Seus olhos estão vermelhos e cheios de raiva em direção à mim e ele rosna. Mas Ryder se coloca com calma entre nós, sorrindo para o homem como se fosse seu irmãozinho mais novo. Eu respiro, me perguntando se eu tenho energia suficiente para tentar dominá-lo novamente, mas antes que eu possa tentar, eu vejo Ryder colocar a mão no bíceps do cara. Meus olhos se abrem e minha voz fica presa na minha garganta. O que você está fazendo? Eu quero gritar. Você está louco? - Hey amigo, você está procurando algo? – Ryder pergunta. O cara volta sua atenção para Ryder e por uma fração de segundo parece que ele está prestes a arrancar o rosto dele com os próprios dentes, mas, então, eu vejo de repente o escárnio desaparecer, sendo substituído por um tipo de expressão em branco que a gente facilmente consegue notar naquelas pessoas que tomam Valium em excesso. Ele pisca para Ryder, franze a testa, e em seguida, sacode a cabeça, confuso. - Não - ele diz, olhando o beco, os seus olhos olhando por cima de mim antes de voltar em Ryder. - Eu só ... - Ele balança a cabeça mais uma vez, claramente perplexo. Ryder tira a mão do braço do cara e o irmão do Papai Noel então se vira e volta para onde veio. A porta se fecha atrás dele, e eu não posso tirar meus olhos de Ryder. O que aconteceu? Ryder se vira para me encarar, sorrindo inocentemente. - Este é um lugarzinho muito elegante. Você vem sempre aqui? Foi quando eu me lembrei Nancy. - Oh Deus, minha amiga! - Eu suspiro - Eu tenho que ir. Ela vai ficar preocupada. Ryder se move rapidamente, bloqueando meu caminho para a porta. - Você não vai voltar para lá. Eu vou encontrar ela para você. Hesito, examinando-o, imediatamente suspeitando. Mas ele está tão puro. Sua aura é clara. Sem mentiras. Estou tão surpresa que eu me pergunto se Nancy estava certa sobre eu ser uma cínica. Mas eu prefiro ser uma cínica, digo a mim mesma, do que ser encontrada morta em um beco por ter sucumbido ao charme e ao encanto de um doce sorriso. Os serial killers podem ser de todos os jeitos, afinal. - OK - eu finalmente digo, e em seguida, descrevo Nancy para ele. - Oh sim, eu me lembro de vê-la, ela está vestida como a Nikita no episódio ela escapa do russo?

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- Sim, essa é ela mesma - eu digo, sorrindo. - Espere aqui. Estarei de volta em um minuto – ele diz - E se qualquer um desses caras motociclistas aparecerem enquanto eu estiver lá dentro, corra. Não comece a trocar insultos. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele desaparece de volta para dentro. Eu estou novamente sozinha no beco, envolvendo os braços em volta de mim, e olhando fixamente para o caminho que ele fez, ou, mais precisamente, eu fico olhando com espanto para o rastro de luz que ele deixou flutuando por trás de si.

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- Aí está você! Nancy vem voando para mim do outro lado, o boom boom da música atuando como combustível de foguete sob seus pés. Ela atira-se para cima mim. - O que aconteceu com você? Eu estava dançando e então eu olhei em volta e você estava saindo e então também havia um motoqueiro histérico chorando, sentado no chão. - Eu só fui respirar um pouco de ar fresco. - Um pouco de ar, hein? - pergunta ela, me encarando e depois olhando nada sutilmente na direção de Ryder. Ele está se divertindo a poucos metros de distância, o olhar fixo em mim. - Eu vim para salvá-la - diz ele. - Eu não precisava ser salva - eu atirei de volta. Ele dá de ombros, com um olhar preguiçoso, como se ele acabou de acordar. Nancy olha entre nós com um olhar cúmplice. - Vamos então? – me pergunta Ryder inclinando a cabeça para um lado. Eu começo a franzir a testa para ele. - Para onde? - Você concordou em vir a um encontro comigo se eu fosse e encontrasse a sua amiga. Abro a boca para protestar que eu não concordei com nada disso, mas o olhar de esperança no seu rosto e o jeito com que ele está segurando o meu olhar, com tal intensidade, me faz ficar calada. Há também o pequeno e curioso detalhe da sua aura iluminada, e a minha curiosidade de descobrir o que isso poderia significar. E o que ele fez para aquele motociclista. - Então, vamos? - pergunta ele. Nancy está observando, com uma alegria nítida e agora ela vem e me abraça, sussurrando em meu ouvido. - Vai, vai, vai. E conte-me tudo sobre ele amanhã. - Eu não vou deixar você aqui - eu protesto.

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- Eu estou indo para casa de qualquer maneira. O Gnarly Surs já terminou sua apresentação e a próxima banda é uma porcaria. Ela sorri. - Vejo você amanhã no trabalho, está bem? Acompanhamos Nancy até seu carro e a observamos partir, então me viro para Ryder, sem jeito. Ele está sorrindo para mim, um sorriso como de um gato que conseguiu engolir o peixe, e apesar de eu tentar ignorá-lo e não querer nem tocá-lo, eu sinto uma energia diferente de dentro de mim, pedindo-me para saltar dentro.

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- In-N-Out Burger? Eu digo, olhando para Ryder - Este é o lugar para onde você está me levando em nosso primeiro encontro? Ele puxa o freio de mão e olha para mim. Ele tem olhos cor de avelã. Eu mencionei isso? - Nosso primeiro encontro? - ele diz, sorrindo – Isso sugere que haverão mais. Eu coro. Mas, felizmente, ele não vê. Ele já está fora do carro, caminhando ao redor do carro e abrindo a porta para mim. O Chevy antigo se destaca entre os mais recentes Fords e Toyotas estacionados. Era de seu avô e cheira pêlo de cachorro molhado e cera de prancha de surf. O que confere, levando-se em conta que ele herdou além do carro, também um cachorro de seu avô e ele gosta de surfar, informações que descobri no caminho até aqui. Nós entramos e eu tive o prazer de descobrir que o In-N-Out Burger é bastante deserto à esta hora da noite. Somos só nós dois, além de dois caminhoneiros e alguns adolescentes que ainda são jovens demais para conseguir entrar em um bar, além dos entediados atendentes. Nós fazemos nosso pedido e carregamos nossas bandejas para uma das mesas da janela. - Você cresceu por aqui? - Ryder pergunta. - Cresci na costa, na verdade. Nos mudamos para cá há alguns anos atrás. Eu continuo completando a resposta diante de seu olhar questionador. - Minha mãe começou a namorar um cara daqui. - Você não gosta dele? - Ryder pergunta, molhando uma batata frita em uma poça de ketchup. Faço uma pausa. Ele é esperto. Eu não gosto de nenhum dos namorados da minha mãe. A minha capacidade de detectar mentiras (e todo tipo de safadezas em geral) foi herdada de minha avó, portanto, minha mãe escolhe seus namorados de acordo com a marca de seu carro e se eles tem um hífen no primeiro nome. Ou assim parece ser, a julgar

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por Billy-Bob, A-Jay e Ricky-Ray, os quais dirigiam pick-ups brancas da Ford, e nenhum deles acabou permanecendo mais tempo do que um leite demora para coalhar. - E você? - Eu pergunto, não querendo entrar em uma conversa sobre a minha mãe, que atualmente está envolvida com um cara chamado Archie-Lee, proprietário do parque de trailers local. - O que o trouxe a este lugar? Ele toma seu milk-shake. - Savannah tem os seus atrativos. - Admita - eu digo - Você é um fã dos Gnarly Surs. Você deve ter seguido eles por todo o país. Ele ri, e meu estômago revira quando nuvens de algodão rosadas começam a sair de cima de sua cabeça. Rosa não é apenas a cor das princesas. É também a cor da luxúria e do amor. Os dois sentimentos são difíceis de distinguir, daí a minha desconfiança em torno de membros do sexo oposto. Mas com Ryder, a minha desconfiança habitual é estranhamente ausente. - É, você me pegou - diz ele - É por isso que eu estou aqui. Só então os seus olhos encararem por trás da minha cabeça em direção a porta e vejo como todo o seu sangue parece drenar de seu rosto. As nuvens de algodão doce desaparecem, e tudo ao seu redor se torna cinza como concreto. Eu me viro. Dois caras entraram no restaurante. Os raios em volta deles fazem os motoqueiros do Majestic parecerem um bando de garotos viciados em doces. As nuvens são negras e cinzas em volta deles. Existem várias gangues latinas em Oxnard, que disputam o poder com a gangue de motoqueiros. Um rápido olhar para esses caras (e um olhar é o máximo que qualquer um iria querer dar) e fica claro que o In-NOut Burger está atraindo tipos mais desagradáveis do que a minha mãe. Eu me viro para Ryder. Ele está olhando para os caras, suas mãos fechadas sobre a mesa, os ombros apertados. O sorriso fácil sumiu e foi substituído por lábios franzidos sombriamente. O lustre espetacular em cima dele agora emite raios de vermelho. Meu corpo começa a formigar como se uma tempestade elétrica de proporções gigantescas atingisse todo o In-N-Out Burger. Passos. Os pêlos da parte de trás do meu pescoço arrepiam. Pelo canto do meu olho eu vejo uma bota preta chegar, parando na nossa mesa. - Chega para lá. Meu coração bate em minha boca e bloqueia tudo ali, batendo contra a minha língua. Eu olho para o cara que está parado na nossa

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mesa. Ele está falando comigo. Eu olho para Ryder, cuja mandíbula está fortemente apertada. Chamas crepitam no ar acima dele. De repente, eu estou sendo empurrada ainda mais, enquanto o cara desliza ao meu lado. Eu não reajo. Eu apenas me afasto tão longe quanto eu posso, dando mais uma olhada nele, tentando avaliar o que está acontecendo e se estamos prestes a morrer. Eu percebo um dos atendentes olhando para nós, confuso, os olhos arregalados como hambúrguer. Eu tento fazer um gesto para ele, silenciosamente, para chamar a polícia, mas ele só olha fixamente para nós. Ryder mantém seu olhar fixo no cara que sentou ao meu lado, e que agora está sacudindo sal sobre as minhas batatas fritas. O outro cara está bloqueando a saída de Ryder. - Onde você estava se escondendo, Ryder? - o homem pergunta Nós estivemos procurando por você. Ryder não diz nada. O que está acontecendo? Como eles sabem o nome dele? Eu olho para o cara perto de mim. Ele tem cabelos escuros, olhos negros e uma sombra de barba que parece permanente. Ele está vestindo um jeans escuro e uma camisa branca e seu amigo se veste da mesma forma, com a camisa agarrada em seu peito largo e consigo notar também outra protuberância suspeita em seu corpo, no formato de uma arma. Ryder se encurva em seu assento. - Estive aqui - diz ele, casual. Só que eu sei que ele não está se sentindo à vontade, sua aura denuncia todo o seu medo. Seu medo supera sua ira, sendo inundado por ele. - Ocupado atrás de garotas de saias - o homem diz, seus olhos passando rapidamente na minha direção. Ele sorri com aprovação enquanto ele joga batatas fritas em sua boca. - Eu posso ver porque você está tão distraído. Gostaria de me contorcer, mas eu não posso. Eu estou congelada na minha cadeira, olhando para o homem. Eu olho para Ryder. Em seguida, de volta para o cara. E de repente meu coração está batendo como uma bigorna contra a rocha. Porque o cara do meu lado tem uma aura idêntica a de Ryder. Eu não vi as luzes prateadas antes, porque elas estavam sendo mascaradas por nuvens carregadas. Sua aura é um pouco mais manchada do que a de Ryder.

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- Deixe-a fora disso – Ryder de repente rosna, não curvando-se, mas inclinando-se sobre a mesa, seus olhos brilhando furiosamente. Segurando minha respiração e aproveitando a distração, eu movimento meu joelho embaixo da mesa até que ele cutuca a coxa do homem. No mesmo instante eu volto, meu corpo ressonando como se batesse em uma parede de ferro. O homem não parece ter notado. - Vamos - ele diz para Ryder, terminando as minhas batatas fritas e limpando as mãos em um guardanapo - Nós temos trabalho a fazer. De que tipo de trabalho que ele está falando? Eu olho entre eles, tentando descobrir o que posso fazer para acalmar a situação. Mas antes que eu possa tentar fazer dois homens adultos chorar, Ryder se inclina com uma rapidez assustadora e agarra o pulso do cara do outro lado da mesa. Mas ele não é rápido suficiente. O cara agarra a mão dele, sacudindo a cabeça. - Aa-ah. Ryder congela. Meu olhar volta para o segundo homem. Ele está pressionando uma arma contra as costas de Ryder. Sem sequer pensar, eu jogo tudo o que tenho, tudo o que eu estou sentindo para o cara com a arma --- raiva, indignação e medo. A arma cai para o seu lado. Ele encara Ryder com espanto e, em seguida, ele vira as costas e, com um pequeno gemido e um grito, sai gritando para fora do restaurante. O homem ao meu lado olha boquiaberto e depois se volta novamente para Ryder. - Interessante - é tudo o que ele diz, encarando Ryder com um pequeno sorriso, antes de puxar ele e coloca-lo de pé bruscamente. Ryder ainda está olhando para a porta, piscando com espanto. Então, sua expressão se limpa e sua cabeça se vira em minha direção, a compreensão invadindo seu rosto. Será que ele adivinhou? Será que ele sabe que eu fiz isso? - Você vem, Ryder? - pergunta o homem. Ryder balança a cabeça e se levanta da mesa, atirando-me um olhar de desculpas. - Sim, eu estou indo - ele diz e começa a seguir o homem para a porta. Eu estou atordoada demais para fazer qualquer coisa além de observar pela janela como Ryder anda com o cara pelo estacionamento e sobe em um Mercedes. Rapidamente os três estão fora do estacionamento. Eu só então percebo que estou tremendo. As nuvens

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negras de tempestade já passaram, mas a minha pele ainda pica como se estivesse com uma carga de estática. Alguém limpa a garganta ao meu lado, me fazendo saltar. - Você quer que eu... tipo... chame a polícia ou algo assim? Eu olho para cima. O atendente está ao lado da minha mesa, o seu pomo de Adão balança violentamente para cima e para baixo em sua garganta. Eu o ignoro e cambaleio para levantar, coloco alguns dólares sobre a mesa e corro para fora.

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- Então, ele chegou na cidade há seis semanas. Ele pratica surf, tem um cão chamado RJ e sabe exatamente o que é bom de pedir no In-N-Out, mas você não sabe quantos anos ele tem, qual o seu último sobrenome ou se ele é ou não um bom beijador. Nancy balança a cabeça para mim com desgosto, apesar das explosões de estrelas acima de sua cabeça, eu posso dizer que a emoção supera a decepção. Hesito. Eu não minto, lembra? Mas igualmente, eu não posso lhe dizer a verdade sobre o que aconteceu. Quero dizer, o que há para dizer de qualquer maneira? Estávamos tendo um maravilhoso encontro quando subitamente dois caras armados apareceram e escoltaram Ryder para fora da lanchonete, oh, e por falar nisso, todos eles tinham auras idênticas! Nancy é a minha única amiga. Eu não quero ficar sem amigos. - Da próxima vez eu vou levar todas as minhas ferramentas para tortura e também uma lista de “perguntas aprovadas pela Nancy” - eu digo a ela. Não que isso signifique que vá haver uma próxima vez, eu penso comigo mesma. - Olha, eu tenho que ir - diz Nancy, olhando para o relógio - Eu tenho que tomar conta de meu primo, mas mais tarde, eu quero todos os detalhes, OK? Ela me joga as chaves da loja, agarra jaqueta e sai, deixando-me sozinha em meio a uma pilha de coisas para arrumar, além da confusão de meus próprios pensamentos. O dia é longo. Férias de verão significam exércitos de jovens entrando na loja, mexendo em tudo, tirando fotos de si mesmos e, em seguida, saindo sem ter comprado nada ou sem sequer ter se dado ao trabalho de devolver a roupa deixada no provador. E hoje eu estou mais distraída, porque eu estou muito preocupada com Ryder (um menino que eu mal conheço, eu lembro a mim mesma) e pensando em que coisas terríveis poderiam ter acontecido com ele. Um milhão de cenários foram

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passando na minha cabeça enquanto eu ficava tentando descobrir o que esses caras eram e o que eles queriam, eu desejava que a minha avó ainda estivesse viva assim eu poderia disparar todas as perguntas sobre o que eu vi. O que é que foi isso? Eu olho no espelho mais algumas vezes tentando descobrir o que tudo isso pode significar e acabo balançando a cabeça para o meu reflexo ... é muito improvável. Eu fico olhando para o meu telefone e me perguntando se eu deveria ter chamado a polícia. É só que ... eu já sou conhecida da polícia. Eu já relatei algumas coisas para eles (incluindo sobre o sujeito com cara de professor de escola dominical e também sobre o namorado da minha mãe, Ricky-Ray, que tem uma aura mais suja do que um rato de esgoto e que inclusive já chegou a ser preso por fabricar metanfetamina) e cada vez que eu apareço diante da polícia, sou recebida com uma levantada de sobrancelha cética e, na última vez, também com uma severa advertência para parar de desperdiçar o tempo da polícia. A pior coisa é que eu não tenho nenhuma idéia de como entrar em contato com ele. Eu coloquei um bilhete preso no para-brisas de seu carro, dizendo-lhe onde eu trabalhava caso ele quisesse me encontrar. Eu não estava disposta a dar-lhe o meu endereço, que só neste mês já mudou duas vezes, sendo que o último agora era no lado sul do Trailer Park. Sempre que a porta da loja se abre, a minha cabeça se levanta bruscamente, mas até agora, ele não deu sinais de vida. Eu decido que depois do trabalho eu vou voltar para a lanchonete e ver se o carro continua estacionado lá. Se estiver, então eu vou chamar a polícia. Eu estou de joelhos atrás do balcão dobrável do 5º provador, quando a porta se abre. Eu sei quem é, mesmo antes de eu olhar para cima. Eu posso senti-lo. Levanto-me, um pouco instável sobre os meus pés. - Oi - diz ele, o alívio correndo dele em ondas contra mim. Ele caminha casualmente para o provador e encosta na porta, dando-me um de seus sorrisos de crocodilo preguiçoso. - Oi? - Eu indago - Isso é tudo que você tem a dizer para mim? Você foi arrastado para fora da In-N-Out por dois caras completamente suspeitos... um dos dois tinha uma arma ... e agora você vagueia por aqui e age como se nada tivesse acontecido? - Uau, isso soa como se você estivesse preocupada comigo. - É claro que eu estava preocupada!

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- Desculpe - ele diz, franzindo a testa - Aquilo não foi exatamente como eu estava esperando que a noite fosse acabar. Eu começo a corar. Como ele estava esperando que a noite fosse acabar? - Quem eram aquelas pessoas? O que eles queriam com você? Pergunto rapidamente, para que ele não perceba que estou corada. Ele começa a brincar com algumas etiquetas das roupas ao lado. - Eles querem que eu faça alguma coisa para eles – ele murmura. - O quê? - Você não quer saber. - Sim, eu quero. Ele fecha a cara para as etiquetas de preço e corre o polegar para seus lábios. Então ele se inclina e caminha para a porta. Meu estômago se contrai. Ele está indo embora? Apenas isso? Mas ele não vai. Ele apenas tranca a porta da loja. - Você não pode... - Eu começo, mas ele me corta. - OK, eu vou te dizer - diz ele, passeando de volta para o balcão -Mas você primeiro. O que fez você faz com aquele cara para fazê-lo sair gritando? E o gordo do clube que explodiu chorando. Não me diga que não fez nada. Porque eu estava lá. Eu vi. Você fez alguma coisa. Abro a boca e depois fechou de novo. Nunca contei a ninguém o que posso fazer. E eu não quero admitir para um total estranho, mesmo que ele seja a primeira pessoa que eu conheci que não me dá uma dor de cabeça após ter contato prolongado, e que não parece ter um discurso definido e ensaiado para dizer as coisas: mentiras; e também alguém que eu não tenho medo de tocar. - Você primeiro - eu digo desafiadoramente, cruzando os braços sobre o meu peito. Ele sorri triunfante. - Então você fez alguma coisa! Eu aperto meus lábios. Droga. Ele pula para cima do meu lado no balcão. - Está bem, cartas na mesa. A informação completa. E só porque eu quero saber os seus segredos também. Por que ele saber meus segredos também? E eu estou realmente prestes a dizer-lhe o que eu posso fazer? Sim, eu estou. Eu vou contar. Porque eu realmente, realmente, quero saber os seus segredos. - Eu vou saber se você estiver mentindo - eu aviso. - Amber, eu não vou mentir para você. Você tem a minha palavra. Teste-me, se quiser. Pergunte-me o que eu penso de você.

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- Eu não me importo com o que você pensa de mim. Suas sobrancelhas se arquearam. - Agora, quem está mentindo? Eu suspiro alto. - Tudo bem. O que você acha de mim? Eu realmente estou perguntando isso a ele? Eu reviro os olhos. Mas ao mesmo tempo eu estou segurando minha respiração. Ele encara meus olhos. - Eu acho que você é a garota mais bela, intrigante e caliente que eu já conheci na minha vida, e eu realmente, realmente quero te beijar. Está bem. Não era o que eu esperava que ele dissesse. Não estava nem perto. E ele não está mentindo. Meu estômago dá uma cambalhota tripla e meu foco recai diretamente sobre os seus lábios. Nunca beijei ninguém antes. Ricky-Ray uma vez tentou, mas eu usei o meu joelho para acertar nada suavemente a sua virilha em um movimento defensivo contra ele. Mas o pensamento de beijar Ryder faz um arco-íris brotar em cima de mim. - Você não vai dizer nada? - pergunta ele. Calor inunda meu rosto. - O que você estava fazendo no Majestic? - Eu gaguejo. - Eu estava lá para obter algumas informações sobre o seu pretendente viciado em couro. Levo um segundo para entender. - O gordo que veio em cima de mim? - Sim. - Que informação? - Apenas algumas coisas específicas que nós precisamos. - Nós? - Demos precisa - Ryder corrigiu rapidamente. - Esse é o cara do In-N-Out? - Sim. - Por que você está metido com ele? Ryder reflete por um momento. - Ele precisa de um favor meu. - Que tipo de favor? - Ele quer que eu o ajude a invadir alguns lugares e roubar algumas coisas. Eu o contemplo por alguns segundos, em busca de qualquer vestígio de uma mentira, mas não vejo nenhum. - E você vai? - Eu indago.

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Ele encolhe os ombros. - Não tenho muita escolha. - Por que não? Ele suspira alto. - É complicado. Eu olho feio para ele. - Por que ele precisa você? Ele tem um capanga. Ele olha para mim, divertido. - Um capanga? Eu estreito meus olhos. O sorriso desaparece. - Ele precisa de mim porque eu tenho habilidades especiais. - Que tipo de habilidade especial? Você sabe abrir um cadeado? Por favor, por favor - eu penso comigo mesma - não diga você sabe como matar um homem com suas próprias mãos. Mas a lembrança da imagem do cara motoqueiro que veio me procurar, e a expressão em branco e confusa de seu rosto quando Ryder tocou nele, clareiam a minha mente. Ryder balança a cabeça. - Não. Você agora responde primeiro. O que que você fez com aquele cara no Majestic? - Eu vejo auras - eu digo antes que eu possa me conter. E foi tão fácil, eu acho. Três palavras e o segredo da minha vida foi revelado.

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O silêncio vira um abismo em volta de nós. Os olhos de Ryder se arregalam. - Como no filme do Sexto Sentindo? Onde o garoto diz que vê pessoas mortas? - Eu disse auras. Não fantasmas. - Auras? - Sim. Posso dizer como uma pessoa é apenas pela cor da sua aura. É como um campo de energia que todos os seres vivos tem em torno deles. Eu posso ver se as pessoas são boas ou más, saudáveis ou doentes. E ... Eu posso fazê-los sentir diferente coisas, manipular suas emoções ... Ryder olha para mim, perplexo. - Agora, a sua vez - digo rapidamente, sentindo como se eu tivesse pisado fora de um penhasco e estivesse caindo em queda livre em direção à pedras irregulares abaixo. Por que eu abri a minha boca? Agora ele acha que eu sou uma aberração. - E você? - Eu? - pergunta ele, ignorando a minha pergunta - O que você vê? Eu sou um bom rapaz ou um bad boy? - Eu não sei dizer - eu gaguejo. Mas como ele pode ser um mocinho? Ele está falando sobre roubar algum lugar. Eu não posso beijar um ladrão. E eu com certeza não posso mais ter um encontro com ele. Se eu aprendi uma coisa de apenas ficar observando as escolhas de vida desastrosas da minha mãe, é evitar caras que precisam de você para dizer se eles são bons ou maus, e também tipos que estão envolvidos em atividades ilegais. - Por que você não pode dizer? - ele pergunta, perplexo. Eu balanço a cabeça para ele. - Eu não sei. Sua aura é estranha. É diferente da maioria das pessoas. - Diferente como?

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- Diferente como a minha. - Huh? Esta é a parte mais difícil de explicar. Tomo uma respiração. - Então um..., imagine um lustre. Isso é o que sua aura se parece. Acima da sua cabeça. Ele olha para cima, apertando os olhos. - E nós temos a mesma cor? - pergunta ele, olhando para mim, profundamente perplexo. - Sim. - E isso é estranho? - Sim. Eu nunca na minha vida vi alguém com uma aura como a nossa. Exceto a minha avó. E ... - Eu deveria dizer a ele sobre o tal de Demos? Mas Ryder me interrompeu com uma pergunta. - Ela era como você, certo? Sua avó? Ela podia ver auras também? - Sim - eu digo, intrigada, querendo saber onde ele está querendo chegar com isso - Agora a sua vez. Fale tudo. - OK ...- Ele faz uma pausa, batendo os dedos no balcão - Eu posso fazer as pessoas esquecerem as coisas - ele me diz. Dou um passo para trás, batendo no balcão. - O quê? - Eu posso remover memórias. Ou plantar falsas lembranças. Eu fico olhando para ele, em busca de qualquer vestígio de uma mentira. Ele está limpo. Ele dá de ombros para mim. - Acho que temos talentos semelhantes. Ambos somos dotados. Dotados. A palavra minha avó costumava usar. Mas eu nunca percebi que haviam outros como nós. Ou que poderiam ter talentos diferentes, mas semelhante dom. Oh ... oh ... OK ... agora eu estou imaginando outra coisa também. Eu respiro profundamente e coloco as mãos sobre o balcão. De repente, a mão de Ryder se coloca sobre a minha. - O quê? O quê? - pergunta ele. Sou tragada para dentro do rio, a correnteza rasgando tudo ao redor, mas por dentro, estranhamente, eu estou calma como o olho de uma tempestade. - Aquele cara, o cara do In-N-Out – eu mal posso escutar as minhas palavras - Ele deve ser como nós também. Isso explica... Eu aceno minha mão descontroladamente no ar acima de nós. Um longo momento se passa e depois Ryder apenas balança a cabeça.

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- Sim, Eu sei. Puxo minha mão de debaixo dele. - Você sabe? Ryder dá um encolher de ombros se desculpando. - Sim. Eu pisco, espantada. O que isso tudo quer dizer? Quais são as chances? Você espera a sua vida inteira para encontrar alguém com uma habilidade como a sua e, em seguida, conhece dois em uma única noite? - O que ele pode fazer? - Eu pergunto silenciosamente. Ryder pondera isso, fazendo uma careta. - É mais como o que ele não pode fazer. Eu balanço minha cabeça, confusa. Nunca me ocorreu que poderiam haver diferentes tipos de dons. - Como você se envolveu com ele? - É uma longa história - responde Ryder. Ele franze a testa para a porta. Através do vidro eu vejo o Chevy estacionado do lado de fora. Uma enorme labrador pendura sua cabeça para fora da janela, ofegante. - Isso não é bom - Ryder, de repente diz - Se ele descobre... - O que não é bom? O que quer dizer, se ele descobrir? - Eu pergunto, mas meu intestino já treme em antecipação. Faíscas verdes e azuis estão tecendo em torno da cabeça de Ryder. Ele está com medo. - Olha, Amber - diz ele e sua expressão traduz seus sentimentos tanto quanto sua aura. Arrependimento. Despedida. - Eu vim aqui para dizer adeus. Uma pausa. - E para fazer isso... De repente, ele se debruça sobre o balcão, coloca sua mão ao redor da parte de trás do meu pescoço e me puxa para ele, e antes que eu possa sequer pensar, os seus lábios já estão nos meus e ele está me beijando e wow ... cada pensamento na minha cabeça evapora, cada célula do meu corpo salta com eletricidade. Quando Ryder finalmente se afasta, a mão ainda repousa na parte de trás do meu pescoço. Eu estou respirando ofegante e meu corpo inteiro está vibrando. Ainda estamos nariz com nariz, seu hálito quente em meu rosto, seus lábios há apenas uma polegada de distância e meu estômago está vibrando loucamente. A respiração de Ryder é rápida e ofegante também, seu foco está ainda em meus lábios. Então, ele se afasta um milímetro. - Tchau, Amber – ele diz, e tristeza cai sobre ele como uma granada.

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Nesse mesmo instante, eu percebo o que ele está prestes a fazer e salto para longe de seu aperto. Ele veio aqui para me fazer esquecer.

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- O que você está fazendo ?! - Eu grito, me pressionando de costas contra a parede, ainda tremendo. Ele franze a testa para mim. - É melhor assim. Se você não se lembra de nada, então você vai estar mais segura. - O quê? Não, você não pode entrar aqui e dizer isso logo depois de me beijar – aponto na direção de seus lábios --- e me fazer esquecer tudo isso. - É para protegê-la - ele responde, mal-encarado. - De que? - É melhor que você não se lembre de nada dessa conversa. Ou de mim. Ou de qualquer coisa. Eu já lhe contei sobre Demos. Confie em mim. É para o seu próprio bem. Você não quer terminar envolvida em nada disso. Se ele descobrir o que você é ... bem ... - Ele faz uma careta então você está em apuros. O som de passos ecoando no fundo da loja, nos faz ambos girar. Meu coração voa em minha boca. Parado no meio da loja, como se estivesse estado lá o tempo todo, está Demos. Atrás dele está o outro cara, seu capanga. - Eu acho que... - Demos diz, examinando-nos com um sorriso frio Você está em apuros, então. Como ele entrou aqui? De repente, eu me lembro que, enquanto Ryder bloqueava a porta da frente, a porta dos fundos possui apenas um trinco. Mas, mesmo assim ... Viro-me para Ryder, mas ele não está se movendo. Ele não está se movendo ou dizendo nada, porque ele está completamente congelado --um braço estendido no momento em que se levantou para me proteger, seus lábios estão entreabertos. - Oq... - Eu começo, mas logo minha mente fica em branco. Eu me sinto arrastando, depois um puxão, e os meus pés de repente estão se movendo, sem qualquer impulso consciente da minha parte. Meu

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instinto é lutar, mas eu não consigo. Sinto-me estranhamente calma. Descontraída, mesmo. E no instante seguinte eu me encontro parada bem na frente de Demos, olhando para ele, percebendo pequenos detalhes como as manchas de barba em seu pescoço, a cicatriz em seu queixo, e a curva de um sorriso levantando no topo do lábio. Mas eu não sinto medo ou qualquer outra emoção, eu estou completamente sem emoção. Mas como ele pode fazer isso? Eu começo a ponderar. Como ele pode fazer isso? O pensamento é nebuloso e foge assim que eu me esforço. - Amber - Demos diz, e de imediato, o nevoeiro se limpa. Eu tento correr mas eu não posso me mover. Meus membros respondem ao que o meu cérebro está dizendo. Ele não está me tocando, mas se sente como se eu estivesse amarrada por uma corda invisível. E agora, o medo corre, invadindo todos os outros pensamentos e cada impulso do meu ser. Se eu não estivesse presa por algo invisível, provavelmente estaria já caída. - Levei um tempo para descobrir que foi você que fez aquilo na lanchonete - diz ele – Pensava que tinha sido Ryder. Ele sorri e balança a cabeça maravilhado. - O que você quer? - Eu começo a gaguejar. - Eu quero que você se junte o meu grupo de Psys - diz ele. - Psys? O que ele está falando? - É assim que eles nos chamam. - Eles? Eles quem? Seu olho se aperta, o laço invisível em torno de mim fica mais forte, mãos de ferro espremem em volta da minha cintura. A raiva toma conta dele, batendo como um martelo contra o meu crânio. - Oh, você vai descobrir logo - ele diz com o maxilar cerrado. Tento prender meus saltos no chão sem sucesso, e então eu tento concentrar toda a minha energia e partir para cima dele. Eu lanço todo o terror que eu estou sentindo de volta para ele, jogando como se fosse um soco, e seu aperto em mim vacila. De repente, estou livre. Eu cambaleio para trás enquanto Demos pressiona uma mão na cabeça e estremece. - Amber - diz ele em voz baixa com raiva - Não faça isso de novo. - Eu não vou a lugar nenhum com você - Eu caminho em direção à Ryder, que ainda está parado, imóvel - Você não pode me obrigar. Meus olhos correm até a porta. Como é que vamos sair daqui? Mas enquanto eu estou medindo a distância e tentando imaginar uma maneira de fugirmos, uma trilha de roupas sai voando pelo ar e cai no chão em frente da porta, bloqueando a nossa saída. Levo mais alguns segundos

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para processar o que eu vi. Viro a cabeça lentamente de volta, para encarar Demos, terror inundando meu corpo e então eu vejo o outro cara, um careca silencioso que agora está sorrindo para mim. Ele desloca o olhar para a minha direita, para um armário de óculos de sol e chapéus e, em seguida, diante dos meus olhos, ele faz aquilo levantar do chão e completar a barricada ele já fez na porta. - OK, já é suficiente, Bill - Demos diz - Nós não queremos assustar ela. Não. Obviamente que não. Demos inclina a cabeça para um lado e novamente meu estômago aperta como se preso pelo laço invisível em volta da minha cintura. E eu sou novamente puxada em direção a ele. Eu luto, tentando prender meus calcanhares, mas é inútil. Ele me arrasta por toda a loja até que eu estou bem na frente dele, olhando para os músculos no seu peito. - É aí que você está errada – ele diz - Eu posso obrigar alguém a fazer exatamente o que eu quero. Mas se isso faz você se sentir melhor, Ryder vem para o passeio também. Tenho certeza de que vocês dois podem fazer companhia um ao outro. Uma escuridão como ondas de luto paira ao seu redor em ondas trovejantes, me encharcando. Um soluço sobe no meu peito. E é então, só então, que eu compreendo perfeitamente que eu não posso lutar com ele. - Para onde vamos? - Eu pergunto, minha voz saí estrangulada. Ele solta uma respiração profunda. Inspira novamente. - Vamos começar com o Bank of America – Ele dá um sorriso nervoso - Eu preciso fazer um saque. Em seguida, vamos ao Gun and Knife Show no Parque de Diversões, e, em seguida, uma parada final ... Prisão de San Quentin. Minha mente trava. A prisão? - Um amigo meu precisa de um resgate - ele diz com um sorriso.

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LA Times, VENTURA. “A polícia investiga um roubo ao Bank of America na Main Street ontem à tarde depois que quatro ladrões mascarados fugiram com aproximadamente de três milhões de dólares em dinheiro, assim como com o conteúdo de dezenas de caixas de depósito de objetos de valor. O mistério cerca o roubo, que aconteceu em plena luz do dia. Nenhum dos quinze funcionários do banco e ou dos clientes presentes se lembram de quaisquer detalhes sobre o crime, levantando inúmeras especulações sobre como esses ladrões conseguiram realizar esse assalto. Uma fonte próxima à investigação, que pediu para não ser identificado, disse: “Ninguém sabe dizer nada sobre o assalto. Se não tivéssemos as imagens das câmeras de segurança, se poderia até pensar que o lugar foi assaltado por fantasmas”. O segurança de plantão no momento disse em uma declaração que ele sentiu uma sensação de esmagadora euforia pouco antes do incidente. Quando a polícia chegou ao local o encontrou em um estado de histeria. Ele foi internado no hospital local para avaliação psiquiátrica e testes de drogas, mas logo foi liberado. A polícia está se recusando a comentar sobre quaisquer ligações entre este roubo e a invasão na Ventura Fairgrounds Gun and Knife ocorrida no mesmo dia, onde vários rifles, revólveres semi-automáticos e centenas de cartuchos de munição também foram roubados. Mais uma vez, apesar no numeroso número de pessoas nos arredores no momento do incidente, não há testemunhas oculares.” ***

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CONSPIRACYNATION.NET ROUBO ESTRANGEIRO! “Coisas estranhas estão acontecendo no sul da Califórnia. Estamos escutando todo o tipo de especulações se levantando sobre o que passou no roubo da Ventura Fairgrounds Gun and Knife há alguns dias, e há investigadores e agentes por toda a parte. Mais de cinquenta armas foram roubadas, juntamente com munição suficiente para explodir a Casa Branca. A polícia suspeita de um grupo específico (motoqueiros locais com reputação de pistoleiros e de traficantes estariam trabalhando na segurança do local), mas nós cogitamos que seja tudo um disfarce para os alienígenas que vivem em nosso meio. E o governo sabe tudo sobre eles !!!!! Quase não existem testemunhas oculares, apesar do fato de milhares de pessoas estarem nos locais onde ocorreram os eventos, mas conseguimos uma entrevista exclusiva com alguém que viu tudo o que aconteceu: "Eu estava saindo do banheiro e então os vi. Haviam quatro 4, deles. Três caras e uma menina. E eles tinham um cão com eles também. Provavelmente não era um cão normal. Era, provavelmente, algum tipo de ladrão de corpos. A garota tinha um cabelo vermelho e eu apostaria os dentes da minha avó que ela não era deste planeta também. Ela tinha um olhar diferente, você sabe? E ela estava usando óculos escuros, como alguém que provavelmente pode derreter seu cérebro apenas por olhar na sua direção ... " Nós realmente acreditamos que poderes sobrenaturais podem ser uma razão. Como poderiam quatro pessoas roubarem tantas coisas sem que ninguém sequer percebesse? A gangue de motoqueiros local, que estava fazendo a segurança do lugar está alegando que foi algum golpe ou jogo sujo, e os policiais estão investigando uma gangue rival de Oxnard, mas isso não soa como roubos de gangues para nós ... e sim como o alerta da presença de visitantes de outro planeta. A nossa testemunha também afirma que houve uma briga mais tarde naquela noite, quando os motoqueiros encontraram suas motos cobertas por adesivos de My Little Poney. Aliens com um senso de humor? Vamos esperar que sim. Porque eu não tenho certeza do que eles podem querer fazer com todo aquele armamento”.

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*** CNN “Fuga da prisão de San Quentin Prison Breakout deixa a polícia intrigada. A seguir, trechos de arquivos sigilosos roubados do laptop de um empregado da Stirling Enterprises, uma empresa de proteção privada contratada pelo Governo dos Estados Unidos para investigar a fuga na prisão de San Quentin Com base nas filmagens de câmeras de segurança nós sabemos que quatro pessoas são responsáveis pela invasão na prisão de San Quentin que facilitou a fuga de um criminoso condenado chamado Harvey James. James, de 32 anos, que havia sido condenado à prisão perpétua sem direito à liberdade condicional, estava detido na ala de segurança máxima do presídio no momento da invasão, e não há explicações sobre como os sistemas de segurança foram desativados. Nenhum dos guardas entrevistados consegue se lembrar do momento da invasão e da fuga, ou de qualquer detalhe... “...E eles simplesmente entraram e o retiraram de cela. Apenas isso. O guarda os deixou entrar, porém ele aparentava não estar consciente do que estava fazendo, como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral ou algo do gênero. Harvey parecia estar esperando pelos seus comparsas. Ele se levantou e deu um tapinha nas costas de um dos homens que o resgatava e eles se abraçaram, como se fossem velhos conhecidos. Então eles simplesmente foram embora. Eu ainda perguntei à eles se eu poderia vir também, mas a próxima coisa que consigo me lembrar é de repente estar deitado na minha cama sonhando ...” "Eu não consegui ver quase nada, só um vislumbre dela, quando estavam saindo, mas eu posso te dizer uma coisa, ela tinha cabelos ruivos. Me arrume um advogado e talvez eu me lembre mais sobre como ela era”. Todos os quatro estavam armados e são considerados altamente perigosos”.

SAIBA O QUE ACONTECEU COM RYDER E AMBER EM HUNTING LILA.

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Depois de ter passado a maior parte da sua vida em Londres, Sarah deixou seu emprego num setor sem fim lucrativos em 2009 e partiu em uma viagem ao redor do mundo com seu marido e sua filha, obcecada por princesas, com a missão de encontrar um novo lugar para chamar de “lar”. Depois de vários meses na Índia, EUA, Cingapura e Austrália, eles se estabeleceram em Bali, onde Sarah agora passa os seus dias escrevendo perto da piscina e tomando toneladas de litros de água de coco. Ela terminou o seu primeiro livro “Hunting Lila” um pouco antes de deixar o Reino Unido, escreveu a sequência dessa série em uma praia na Índia, e agora acertou um contrato com a Simon & Schuster para um novo projeto. Seu terceiro livro, “Fated”, sobre um adolescente caçador de demônios, que foi escrito durante a sua estadia na Califórnia, foi publicado em Agosto de 2013 pela Simon Purse (uma derivada editorial da Simon & Schuster) e logo após ela lançou o aclamado “Out of Control” em maio de 2014. Atualmente, ela está trabalhando em vários projetos bastante interessantes, e seu próximo livro “Conspiracy Girl” deve ser lançado em Fevereiro de 2015. Ela também escreve romances “new adult” sob o pseudônimo de Mila Gray para as editoras Pan Macmillan (UK) e Simon & Schuster (EUA).

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TURNING AMBER – SÉRIE LILA – SARAH ALDERSON

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