São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Estado de Direito e o sentido das instituições a ele ligadas, mas também porque representa simbólicamente a reprodução de um sãotomense submetido às relações clientelistas, negando a opção de uma diferenciação baseada noutros critérios alheios à lógica patrão-cliente, como são os da igualdade. Vários sãotomenses salientam estes aspectos ligados a factores associados como a mentalidade. Rui: Agora depois destes quinze anos que estivemos sob um poder único, que é o MLSTP, toda a mudança para serem mais partidos o que é que acontece? O que a gente vê as pessoas que estão (...) -de São Tomé e Príncipe foram as mesmas pessoas que estiveram quinze anos no poder. E, para mim, eu acho que é um bocado difícil de um dia para o outro mudar de mentalidade. E isso realmente, possibilidade para a gente melhorar mesmo São Tomé e Príncipe, primeira coisa é a mudança de mentalidade dos homens sãotomenses. Ahaaa, porque criou-se nessa sociedade grupos que têm acesso a tudo e estes grupos mandam e desmandam. E (...) em São Tomé e Príncipe quem vai ao poder. Porque em São Tomé e Príncipe é assim: para se viver lá mais ou menos melhor tem que se estar na política. E para esse mesmo grupo é que sai um, entra outro, é um ciclo. Enquanto não se quebrar com esse ciclo, a possibilidade de São Tomé e Príncipe para mudar é um bocado difícil. Mas, como eu continuo a dizer, a possibilidade que São Tomé e Príncipe tem para mudar, mas tudo depende dos homens, esses homens, que, eu digo recursos humanos, e que esses homens de formação ... Porque, pronto, a maior riqueza que um país pode ter são os homens formados, que consegue transformar. Mas, e abstraindo realmente desses grupos, porque são grupos que estão instalados na sociedade que eles é que têm possibilidade para tudo: é o poder económico, é o poder político, com essa liberalização que houve. João: Não, são sempre as mesmas pessoas. Ou seja, o que é que acontece? Em ST há

famílias, não é? como há em todos os sítios. Os que ocuparam os cargos de dirigente em ST em 75, foram rodando. Mas foram rodando como? Entre família e amigos. Se reparar bem, veio o (...) e os que têm (...) como nome hereditário e hoje está o (...) que é (...) também; ou seja que são, que é o mesmo gueto que auto-protege. O (...) também é do mesmo grupo. E eles protegem entre eles, até hoje. E não, não abrem para que possa haver outras alternativas no país, cancelam. Eu acho que isso é grave. As pessoas devem ... a política deve ser aberta. Manuel: Não, quando eu digo os quadros são aqueles com quem nós mais falamos. Não são todos os quadros. Porque, como disse inicialmente, os quadros por exemplo nossos colegas que estão em ST, que por uma razão ou outra ocupam os cargos políticos em ST a visão continua a ser a de 75, que é aquela visão fechada. É separar para reinar o mais tempo possível... E essa visão é que é mau. O que nós temos que fazer e eu ... já, já, já, agora, o que nós temos que fazer é tentar ao máximo que os quadros com bons princípios não se percam, não entrem, não façam parte desse mesmo grupo. Porque é assim, mas eles entram naquele grupo e já não querem sair mais. Então a solução é puxá-lo ao máximo possível dessa visão fechada da política em ST, tirá-los desse grupo e deixá-los com uma visão aberta. Ou seja, e essas pessoas como eu dizia, existem em ST, são quadros que estão em ST. Também existem no estrangeiro e é preciso darmos condições mínimas, não é? e orientá-los para que as coisas possam ser feitas. Porque de resto não. De resto é a visão total, total como em 75 (risos). E é muito complicado. O sãotomense dependente do capitalista estrangeiro é discutido não só por impossibilitar a iniciativa privada mas porque representa no plano simbólico a reprodução da associação do poder local com o estrangeiro, negando a possibilidade de uma tensão endógena pelo modelo económico. Diz João: Se alguém tentar fazer alguma coisa, tra-

Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

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