Guia do estudante atualidades 1º semestre (2017)

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^~^ A QUEDA ABRUPTA DOS PREÇOS Alta e baixa do preço médio anual dos barris de petróleo, em dólares deflacionados para 2015 140

117,23

120

110,55 115,28

100 80

66,17

99,06

86,41

60

se (ou recursos para investir), outras empresas, nacionais ou estrangeiras, podem assumir integralmente a operação. A nova lei não altera a forma de pagamento e distribuição de royalties. O governo federal entende que o fim da exigência para a Petrobras de que atue como operadora única vai acelerar a entrada de empresas privadas no pré-sal, e que isso ajudará a Petrobras a sair da crise. Apoiando a argumentação do Planalto, um estudo de economistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) calculou que, com as novas regras, o pico de arrecadação do governo federal com a riqueza do pré-sal se antecipará em onze anos, e que o valor dessa arrecadação se multiplicará por dez. Governadores dos estados produtores também defenderam a flexibilização, pois poderão receber mais royalties e mais rapidamente. Já os sindicatos dos petroleiros destacam que a tecnologia da Petrobras para explorar em águas profundas e ultraprofundas é reconhecida mundialmente, e que a petroleira nacional conseguiu quadruplicar a produção do pré-sal em apenas quatro anos. Partidos da oposição ao governo de Michel Temer alegam, também, que a retirada da exclusividade da Petrobras reduz a participação do Estado e fere o princípio constitucional de soberania nacional sobre todo o petróleo em nosso território.

Geopolítica do petróleo

Toda a discussão acerca das alterações nas regras de exploração do pré-sal acontece porque o petróleo é a principal fonte de energia do mundo e o controle sobre suas reservas é extremamente estratégico para a economia de qualquer país. O petróleo é uma commodity – um produto primário, como os produtos agrícolas, que têm preço definido pela lei da oferta

40

39,22

52,39

20 0

2000

2005

2010

2011

2012

2013

2014

2015

FORA DA TENDÊNCIA Salvo em pequenos intervalos, há décadas a regra sempre foi de elevação contínua dos preços do petróleo, à altura da demanda crescente e de sua importância para as economias dos países. A partir de 2014, a crise econômica iniciada em 2008 atinge as economias emergentes, como a China, as compras diminuem, sobra petróleo e os preços despencam. Fonte: BP

e procura, no mercado internacional. A procura depende, principalmente, do crescimento econômico: quanto mais aquecida está a economia mundial, maior o consumo de petróleo. Já a oferta é definida pelos grandes produtores, na maior parte das vezes movida por interesses econômicos, entrelaçados a motivações políticas. É o que faz a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), um cartel criado nos anos 1960 que reúne 13 países entre os maiores produtores do mundo, no Oriente Médio, na África, na América do Sul e na Ásia. A organização detém 42% da produção mundial de petróleo e mais de 70% das reservas provadas, e tem grande poder para gerir os preços mundiais.

Situação atual

O grande crescimento econômico mundial nos primeiros anos da década de 2000 elevou o preço do barril a valores recordes, superando a faixa dos 100 dólares entre 2011 e 2013 (veja gráfico acima). Mas, após o início da crise econômica mundial, em 2008, a desaceleração da indústria nas economias desenvolvidas diminuiu a procura, e os preços começaram a cair. O barril chegou a custar 30 dólares no início de 2016, e adentrou 2017 em uma faixa média de 50 dólares. Atualmente, a Opep, principalmente por meio de seu membro mais influente, a Arábia Saudita, tem interesse em manter baixo o preço do barril. Isso

porque o petróleo barato desestimula novos investimentos dos principais concorrentes da organização. Os Estados Unidos (EUA) são um deles. Nos últimos anos, os norte-americanos ampliaram a exploração do gás natural e petróleo extraídos do folhelho. Folhelho é o nome correto para o chamado xisto – uma formação de rocha sedimentar rica em matéria orgânica decomposta. Dessa rocha se extrai gás natural e um tipo de petróleo menos maduro, mas do qual podem ser retirados os mesmos derivados do petróleo convencional. Desde 2013, o volume de gás natural retirado dessa fonte nos EUA supera o produzido por todas as outras fontes. Estima-se que as jazidas de xisto guardem 32% do total de reservas mundiais de gás natural e 10% do de petróleo bruto. Com o aumento da produção, os EUA reduziram suas importações. Além disso, a decisão da Opep em manter a produção elevada e a crise econômica, que provocou redução das atividades industriais, teve um efeito direto no mercado: está sobrando petróleo, o que fez os preços despencarem. Em novembro de 2016, a Opep decidiu reduzir um pouco sua produção diária para diminuir a oferta, mas ainda mantinha o barril em valores baixos no início de 2017. PARA IR ALÉM O filme Terra Prometida (de Gus Van Sant, 2012) aborda os impactos sociais e ambientais relacionados à exploração de xisto nos Estados Unidos. GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017

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