Guia do estudante história (2017)

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APRESENTAÇÃO

Um plano para os seus estudos Este GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um único guia não abrange toda a preparação necessária para o Enem e os demais vestibulares. É por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicações que, juntas, fornecem um material completo para um ótimo plano de estudos. O roteiro a seguir é uma sugestão de como você pode tirar melhor proveito de nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas.

1 Decida o que vai prestar

O primeiro passo para todo vestibulando é escolher com clareza a carreira e a universidade onde pretende estudar. Conhecendo o grau de dificuldade do processo seletivo e as matérias que têm peso maior na hora da prova, fica bem mais fácil planejar os seus estudos para obter bons resultados. COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE PROFISSÕES traz todos os cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as características de mais de 260 carreiras e ainda indica as instituições que oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking de estrelas do GUIA DO ESTUDANTE e com a avaliação oficial do MEC.

2 Revise as matérias-chave

Para começar os estudos, nada melhor do que revisar os pontos mais importantes das principais matérias do Ensino Médio. Você pode repassar todas as matérias ou focar apenas em algumas delas. Além de rever os conteúdos, é fundamental fazer muito exercício para praticar. COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ Além do GE HISTÓRIA, que você já tem em mãos, produzimos um guia para cada matéria do Ensino Médio: GE Matemática, Geografia, Português, Redação, Biologia, Química e Física. Todos reúnem os temas que mais caem nas provas, trazem muitas questões de vestibulares para fazer e têm uma linguagem fácil de entender, permitindo que você estude sozinho.

3 Mantenha-se atualizado

O passo final é reforçar os estudos sobre atualidades, pois as provas exigem alunos cada vez mais antenados com os principais fatos que ocorrem no Brasil e no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes o seu processo seletivo – o Enem, por exemplo, é bem diferente dos demais vestibulares. COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE Enem e o GE Fuvest são verdadeiros “manuais de instrução”, que mantêm você atualizado sobre todos os segredos dos dois maiores vestibulares do país. Com duas edições no ano, o GE ATUALIDADES traz fatos do noticiário que podem cair nas próximas provas – e com explicações claras, para quem não tem o costume de ler jornais nem revistas.

CAPA: 45 JUJUBAS

CALENDÁRIO GE 2016 Veja quando são lançadas as nossas publicações MÊS

PUBLICAÇÃO

Janeiro Fevereiro

GE HISTÓRIA

Março

GE ATUALIDADES 1

Abril Maio Junho

GE GEOGRAFIA GE QUÍMICA GE PORTUGUÊS GE BIOLOGIA GE ENEM GE FUVEST

Julho

GE REDAÇÃO

Agosto

GE ATUALIDADES 2

Setembro

GE MATEMÁTICA GE FÍSICA

Outubro

GE PROFISSÕES

Novembro Dezembro Os guias ficam um ano nas bancas – com exceção do ATUALIDADES, que é semestral. Você pode comprá-los também nas lojas on-line das livrarias Saraiva e Cultura. FALE COM A GENTE: Av. das Nações Unidas, 7221, 18º andar, CEP 05425-902, São Paulo/SP, ou email para: guiadoestudante.abril@atleitor.com.br

GE HISTÓRIA 2017

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CARTA AO LEITOR

8 EM CADA 10 APROVADOS NA USP USARAM

STÉPHANE MAHÉ/REUTERS

SELO DE QUALIDADE GUIA DO ESTUDANTE

JE SUIS CHARLIE Em janeiro de 2015, Paris foi tomada por manifestantes em favor da liberdade de expressão

A

A História e a liberdade imagem acima foi captada pelo fotógrafo Stéphane Mahé no dia 11 de janeiro de 2015, quando milhares de pessoas foram às ruas de Paris manifestar seu apoio à liberdade de expressão. A França vivia um período de comoção geral, dias após o atentado de extremistas islâmicos à sede do jornal satírico Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos entre jornalistas e cartunistas. Para quem acha que a foto é vagamente familiar, sugiro uma consulta rapidinha à imagem da página 56 deste Guia. Vai lá, eu espero... Além da incrível semelhança, a comparação entre a icônica tela de A Liberdade Guiando o Povo, do pintor romântico Eugène Delacroix, e a foto dos manifestantes na Place de la Nation se torna mais forte porque ambas as imagens exaltam a liberdade como um valor essencial para uma nação. A tela de Delacroix faz alusão à Revolução Liberal de 1830, quando a população se revoltou contra a decisão do rei Carlos X de abolir a liberdade de imprensa e dissolver a assembleia. A liberdade é representada por uma deusa grega clássica segurando a bandeira francesa. Já a fotografia de Mahé nos mostra vários manifestantes sobre a escultura O Triunfo da República – um deles segura um enorme lápis, simbolizando a liberdade de expressão e as ideias contra a intolerância. A analogia explica um pouco por que a História é uma disciplina tão fascinante. A partir de um acontecimento que chocou o mundo, construímos pontes com fatos históricos, ampliando a discussão para os valores democráticos e as alegorias artísticas, o que torna essas relações temáticas muito mais estimulantes. Nas páginas a seguir, você verá com bastante frequência esse diálogo entre o passado e os fatos que movem o mundo de hoje. Trata-se de uma característica comum a todas as publicações do GUIA DO ESTUDANTE: a união entre a abordagem jornalística presente no noticiário atual e o didatismo que a preparação para os exames exige. É um desafio que encaramos com muito prazer e dedicação há quase uma década. E este ano foi ainda mais especial, porque promovemos uma reformulação editorial e gráfica no Guia, com a parceria preciosa e indispensável do professor Julio Cesar de Souza. Boa leitura e sucesso nos exames! Fábio Akio Sasaki, editor – fabio.sasaki@abril.com.br

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O selo de qualidade acima é resultado de uma pesquisa realizada com 351 estudantes aprovados em três dos principais cursos da Universidade de São Paulo no vestibular 2015. São eles: � DIREITO, DA FACULDADE DO LARGO SÃO FRANCISCO; � ENGENHARIA, DA ESCOLA POLITÉCNICA; e � MEDICINA, DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP 8 em cada 10 entrevistados na pesquisa usaram algum conteúdo do GUIA DO ESTUDANTE durante sua preparação para o vestibular. Entre os que utilizaram versões impressas do GUIA DO ESTUDANTE: 88% disseram que os guias ajudaram na preparação. 97% recomendaram os guias para outros estudantes.

TESTADO E APROVADO! A pesquisa quantitativa por meio de entrevista pessoal foi realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2015, nos campi de matrícula dos cursos de Direito, Medicina e Engenharia da Universidade de São Paulo (USP).

� Universo total de estudantes aprovados nesses cursos: 1.725 alunos. � Amostra utilizada na pesquisa: 351 entrevistados. � Margem de erro amostral: 4,7 pontos percentuais.


Sumário História VESTIBULAR + ENEM 2017

EFEMÉRIDES

8

Os principais eventos históricos que completam aniversário em 2016

62 63 64 66 68 70 71 72 74 76 77 78 79 80 82 84

Primavera dos Povos e Comuna de Paris Insurgências socialistas Unificação da Alemanha e da Itália O surgimento de novas forças Imperialismo As potências europeias partilham o globo entre si I Guerra Mundial O choque de imperialismos e o brutal confronto Revolução Russa Surge a primeira nação socialista do planeta Grande Depressão A quebra da bolsa e a pior crise econômica do século Nazifascismo O avanço do totalitarismo na Alemanha e na Itália II Guerra Mundial O maior conflito da história redefine as forças Guerra Fria A ameaça mútua entre duas superpotências Revolução Chinesa Mao Tsé-tung e o nascimento do gigante comunista Revolução Cubana O comunismo desembarca nas Américas Descolonização afro-asiática As colônias obtêm a independência Guerra do Vietnã A derrota dos Estados Unidos nas selvas asiáticas Fim da Guerra Fria O efeito dominó provocado pela derrocada soviética Linha do tempo A cronologia dos marcos da Idade Contemporânea Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

ANTIGUIDADE

10 12 14 15 18 20 22

Atentado à história O ataque do Estado Islâmico a sítios arqueológicos Primeiras civilizações Pré-História, Mesopotâmia e Egito Civilizações pré-colombianas A América antes dos europeus Grécia O berço da civilização ocidental, da democracia e da filosofia Roma A civilização mais poderosa da história Linha do tempo A cronologia dos principais fatos da Antiguidade Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

24 26 28 30 31 34 36

Sob a autoridade de Deus ou do Estado? O Estado laico em debate O poder da Igreja A força da principal instituição da Europa medieval Império Árabe A origem do Islamismo e a unificação política Reino Franco O Império Carolíngio sob o comando de Carlos Magno Feudalismo O sistema político e econômico que predominou na Europa Linha do tempo A cronologia dos principais fatos da Idade Média Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

IDADE MÉDIA

BRASIL COLÔNIA

86 88 89 91 92 94 96 98

Direito sobre a terra A comunidade indígena contra os ruralistas Organização político-administrativa Portugal e o controle da colônia Economia e sociedade colonial As riquezas do Brasil para a metrópole Interiorização Bandeirantes e jesuítas desbravam o interior Escravidão A cruel exploração de índios e negros africanos Independência O Brasil ganha soberania sem alterar a estrutura social Linha do tempo A cronologia dos principais fatos do Brasil Colônia Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

BRASIL IMPÉRIO

100 102 103 105 108 110

Desafios da integração As divergências entre os membros do Mercosul Primeiro Reinado O breve e conturbado governo de Dom Pedro I Regências Governos provisórios e agitação política Segundo Reinado Dom Pedro II e o último capítulo da monarquia Linha do tempo A cronologia dos principais fatos do Brasil Império Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

IDADE MODERNA

38 40 42 44 46 48 49 51 52

Sem perder a majestade O longo reinado de Elizabeth II Renascimento O movimento intelectual e artístico que marcou a era Reforma religiosa A contestação dos dogmas da Igreja Católica Absolutismo e mercantilismo O poder nas mãos dos reis Expansão marítima e colonização da América As grandes navegações e as mudanças decorrentes da chegada de Colombo ao Novo Continente Revoluções inglesas do séc. XVII A burguesia contra o Absolutismo Liberalismo e Iluminismo Uma nova forma de pensar no Ocidente Linha do tempo A cronologia dos principais fatos da Idade Moderna Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

BRASIL REPÚBLICA

112 114 115 118 120 123 126 128 130

Um governo sob pressão A presidente Dilma e o impeachment República da Espada Os militares comandam um regime centralizador República Oligárquica Minas Gerais e São Paulo dão as cartas Primeiro governo Vargas Desenvolvimento e autoritarismo República Democrática Um período de ameaças institucionais Ditadura militar O golpe de Estado e a violação dos direitos Nova República A volta da democracia e a busca por estabilidade Linha do tempo A cronologia dos principais fatos do Brasil República Como cai na prova + Resumo Questões comentadas e síntese da seção

IDADE CONTEMPORÂNEA

54 56 58 60 61

Rota de fuga O drama dos mais de 54 milhões de refugiados Revolução Francesa A revolta burguesa que transformou o mundo Revolução Industrial O capitalismo e as mudanças no trabalho Independência da América espanhola Liberdade sem rompimento Doutrinas sociais e políticas do séc. XIX As teorias do período

RAIO X

132 As preciosas informações contidas nos enunciados das questões SIMULADO

134 29 questões e resoluções passo a passo GE HISTÓRIA 2017

7


EFEMÉRIDES

Fique de olho nas efemĂŠrides em 2016 EfemĂŠride ĂŠ o nome que damos para aquelas datas redondas, em que lembramos fatos relevantes ocorridos 10, 50 ou 100 anos atrĂĄs. Veja quais acontecimentos histĂłricos estĂŁo celebrando aniversĂĄrio e podem ser explorados nos principais vestibulares.

500 ANOS - 1516

Č— Descoberta do Uruguai

200 ANOS – 1816

Č— IndependĂŞncia da Argentina

100 ANOS – 1916

Č— -*(0'" Ýç* * +-$( $-* CĂłdigo Civil Brasileiro Č— !ÄĄ.$ * ' (ç* ' -/ $)./ $) +0 '$ Teoria da Relatividade Geral Č— - ) . . ' (ç . . )!- )/ ( ) Batalha de VerdunÇź 0( *. +-$) $+ $. *)!-*)/*. 0 -- 0) $ ' Č— $( Guerra do Contestado

90 ANOS – 1926

Č— AscensĂŁo do imperador $ #$)*($4 Hiroito * /-*)* * +ç* Č— Posse de Washington LuĂ­sÇź Ĺ­'/$(* +- .$ )/ +Ĺ­ '$ '#

80 ANOS – 1936

Č— )ÄĄ $* Guerra Civil Espanhola Č— )$/* 0..*'$)$ *'! $/' - +-* ' ( ( * $3* *( Č? -'$(Çź aliança nazifascista

70 ANOS – 1946

Č— 0 ) *($)"* PerĂłn Ä… ' $/* ) -" )/$) Č— *- */*- *(+ )4 $(+' )/ automação ) +-* 0Ýç* 0/*(Ĺ 1 $. Č— 0-$ * .+ - Dutra ..0( - .$ Ć) $ +-*(0'" quinta Constituição brasileira Č— - $/* * %0'" ( )/* * Tribunal de Nuremberg

60 ANOS – 1956

Č— $&$/ -0. # 1Çź $-$" )/ )/- ǔǜǘǖ Ç”ÇœÇ™Ç—Çź )0) $ *. crimes cometidos por StĂĄlin Č— Tropas soviĂŠticas bombardeiam a Hungria Č— Juscelino 0 $/. # & /*( +*.. ' )Ăť * Plano de Metas

50 ANOS – 1966

Č— )ÄĄ $* Revolução Cultural na ChinaÇź $)./$/0ÄĄ +*- * .Ä…Č?/0)"

40 ANOS – 1976

Č— Reunificação do VietnĂŁ * *-/ * 0' Č— InĂ­cio do regime militar na ArgentinaÇź ,0 0- -$ /Ä… ǔǜǛǖ Č— Morte de Mao TsĂŠ-tung Č— Morte de Juscelino Kubitschek Č— Morte de JoĂŁo Goulart

30 ANOS – 1986

Č— Acidente nuclear em ChernobylÇź ) )$ç* *1$Ä…/$ Çź ( / Ç–Ç” + ..* . +-*1* ($'#Ĺƒ . .*. ĂŚ) Č— Ă´nibus espacial Challenger explode 0- )/ * 1** ( / . / ./-*) 0/ . )*-/ Č? ( -$ )*. Č— "*1 -)* *.Ä… -) 4 ' )Ăť * Plano Cruzado

20 ANOS – 1996

Č— milĂ­cia Taliban toma CabulÇź +$/ ' * ! " )$./ç* Č— . $) * +*/Ć) $ . )0 ' - . ..$) ( * Tratado para a Proibição Completa de Testes Nucleares

10 ANOS – 2006

Č— )/- ( 1$"*- * Protocolo de KyotoÇź +-$( $-* *- * " - ' + - - 0Ýç* ($..ç* " . . * ! $/* ./0! Č— Morte de Saddam Hussein

8 GE HISTĂ“RIA 2017


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ANTIGUIDADE CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

Primeiras civilizações ....................................................................................12 Civilizações Pré-Colombianas .....................................................................14 Grécia ...................................................................................................................15 Roma ....................................................................................................................18 Linha do tempo ................................................................................................20 Como cai na prova + Resumo .......................................................................22

Atentado à história Monumentos considerados Patrimônio da Humanidade pela Unesco no Iraque e na Síria são destruídos pelo grupo extremista Estado Islâmico

D

esde que se consolidou como uma poderosa organização militar em 2014, o grupo extremista Estado Islâmico (EI) vem assumindo o controle de amplas áreas nos territórios da Síria e do Iraque. Em maio de 2015, o EI obteve uma de suas mais importantes conquistas: a cidade de Palmira, um oásis localizado na região central da Síria. Além de ser estratégica por dispor de modernas instalações militares e estar próxima a campos de gás e petróleo, Palmira também tem um inestimável valor histórico. Fundada há pelo menos 4 mil anos, a cidade converteu-se em um importante polo cultural e comercial nos séculos I e II, abrigando uma rica arquitetura que combina os estilos greco-romano e persa. Mas todo esse legado material histórico está sendo pulverizado pelo EI. Após conquistar Palmira, os insurgentes destruíram relíquias milenares, como os Templos de Bel e de BaalShamin, além do Arco do Triunfo da cidade antiga. Esses sítios somam-se à lista de patrimônios históricos e culturais que o EI vem transformando em pó nos últimos meses. No Iraque, a cidade histórica de Nimrud, ex-capital do Império Assírio, e a antiga cidade de Hatra, fundada durante o Império Parta, também foram destruídas pelo grupo.

10 GE HISTÓRIA 2017

Além de promover execuções em massa e submeter comunidades inteiras à sua tática de terror, os líderes do EI alegam que estátuas, monumentos e templos históricos estimulam a idolatria a falsos deuses – sempre guiados por sua visão deturpada da lei islâmica. Quando não são destruídos, os artefatos são colocados à venda no mercado negro, representando uma expressiva fonte de renda para o grupo. Além disso, a aniquilação desses sítios históricos servem à estratégia do EI de causar um escândalo midiático e chocar o mundo, angariando, assim, mais atenção. Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entidade responsável por preservar e reconhecer os patrimônios da humanidade, as ações do EI são “um crime intolerável contra a civilização”. Mas a instituição ressalta que a destruição desses tesouros arqueológicos não é capaz de apagar a rica história deixada BARBÁRIE NO DESERTO pelas civilizações da Membros do Estado Antiguidade. Nas pá- Islâmico rendem soldados ginas seguintes, você sírios em frente ao conhecerá um pouco anfiteatro da cidade mais sobre a herança histórica de Palmira, sob histórica e cultural controle da organização desses povos. extremista


HO/WELAYAT HOMS/AFP

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ANTIGUIDADE PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES

Surge a vida em comunidade Em cerca de 5 milhões de anos, o homem moderno dominou a natureza e inventou a civilização

O

período conhecido como PréHistória teve início cerca de 5,5 milhões de anos atrás, com o surgimento dos primeiros hominídeos (família de primatas ancestrais do homem) e se estendeu até aproximadamente o ano de 4000 a.C., quando a escrita foi inventada e começaram a aparecer as primeiras civilizações. Esses milhões de anos foram marcados pela evolução das espécies humanas, que culminou com o surgimento do homem moderno, chamado de Homo sapiens, entre 200 mil e 100 mil anos atrás. Nesse início da Pré-História, que compreende o chamado Período Paleolítico (também conhecido como Idade da Pedra Lascada), os humanos viviam em grupos nômades, isto é, não estavam fixos à terra. Eram essencialmente caçadores e coletores. Entre suas características culturais, podemos destacar a fabricação de objetos de pedra, a utilização do fogo e o desenvolvimento da linguagem oral, além de datarem dessa época as primeiras pinturas rupestres.

Revolução Agrícola e Urbana

A situação dos grupos humanos foi radicalmente alterada por volta do ano de 10000 a.C., com o fim da última glaciação. As mudanças climáticas e físicas do planeta proporcionaram o surgimento de vales férteis e de imensos rios em regiões anteriormente áridas. Com isso, os homens se fixaram à terra, iniciando as primeiras práticas agrícolas e a domesticação de animais por volta de 8000 a.C.

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Essas mudanças, conhecidas como Revolução Agrícola ou Neolítica, marcam o início do Período Neolítico, também conhecido como Idade da Pedra Polida. Essa época é caracterizada pela transformação dos grupos humanos de coletores em produtores e pela sedentarização desses grupos, o que permitiu a ocorrência da Revolução Urbana. A sedentarização, o crescimento do número de integrantes das famílias e a progressiva aproximação entre elas conduziram essas comunidades à criação de um espaço de vida comum, composto de construções que abrigavam e protegiam seus membros. Foram criadas, ainda, regras para regular o convívio. Construiu-se uma sociedade com base no conceito de cooperação – a terra, os rebanhos e os instrumentos eram de todos, e o indivíduo só poderia se considerar dono deles se pertencesse à comunidade. A economia também evoluiu: as tribos passaram a produzir mais do que precisavam para consumo próprio e a trocar esses excedentes com outras comunidades. Entre 5000 a.C. e 4000 a.C., alguns grupos começaram a utilizar o cobre na fabricação de utensílios e armas, no período que ficou conhecido como Idade dos Metais. Posteriormente também foram descobertos o bronze (2500 a.C.) e o ferro (1.200 a.C.). A superioridade militar desses grupos de metalúrgicos obrigou outras comunidades a tornarem suas sociedades mais complexas, sendo atribuída aos governos uma nova função: a de proteção de seus membros.

Mesopotâmia e Egito

O surgimento desses núcleos urbanos deu origem às primeiras cidades-Estado, que serviram de base para as primeiras civilizações do Oriente Médio: a Mesopotâmia e o Egito. Politicamente, tanto Egito como Mesopotâmia eram organizadas na forma de teocracias, na qual o soberano detinha os poderes político e religioso e a classe dos sacerdotes possuía privilégios especiais. De uma forma geral, podemos situar as atividades econômicas de Egito e Mesopotâmia no chamado Modo de Produção Asiático. Por essa definição, todas as terras pertenciam ao Estado e eram utilizadas pela comunidade, que consumia sua própria produção e estava obrigada a entregar o excedente para os governantes. A obrigação de todos os homens livres de prestarem serviços ao Estado é conhecida, nessa forma de organização, como servidão coletiva. Além disso, por estarem situadas ao longo de grandes rios – o Egito banhado pelo Rio Nilo e a Mesopotâmia desenvolvida entre os rios Tigre e Eufrates –, as comunidades dependiam do controle sobre os seus ciclos de cheias e vazões. Desenvolveram, assim, as civilizações de regadio, com o domínio de técnicas de irrigação que envolviam a construção de diques e canais. Ao contrário do Egito, que, desde aproximadamente 3200 a.C., se constituiu como um Estado centralizado, a Mesopotâmia foi dominada por sucessivos povos que impunham suas determi-


VIDA APÓS A MORTE Ilustração de 1.300 a.C. mostra ritual funerário no Egito antigo: processo de mumificação permitiu avanços na área da medicina

Algumas das principais civilizações da Antiguidade se estabeleceram entre o Egito e o atual Irã

Mar de Aral

Mar Negro

Mar Cáspio

MESOPOTÂMIA Rio

Mar Mediterrâneo

Tiro

Rio Tig re a tes

fr Eu

FENÍCIA

Jerusalém BAIXO EGITO

IMPÉRIO PERSA

Ecbatana

Damasco Susa Persépolis

PALESTINA

Mênfis

Go

Limite sul do Antigo Império (3200 a.C.-2000 a.C.)

Rio Nil o

Tebas

ALTO EGITO

elho Verm

NÚBIA

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Pé rs

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Mar Arábico

Mar

nações aos dominados, mas sem perder as características gerais da organização da região. Os principais povos a deixarem suas marcas na Mesopotâmia foram os sumérios, os amoritas (I Império Babilônico), os assírios e os caldeus (II Império Babilônico). A sociedade das duas civilizações era rigidamente estratificada, dividida entre dominantes (governantes, sacerdotes, militares e comerciantes) e dominados (camponeses, pequenos artesãos e escravos). As semelhanças culturais são, fundamentalmente, no campo religioso, uma vez que ambas as civilizações praticavam o politeísmo – crença religiosa em mais de um deus.

O ORIENTE MÉDIO NA ANTIGUIDADE

Limite sul do Médio Império (2000 a.C.-1580 a.C.)

Egito Palestina Fenícia

Mesopotâmia Império Persa

Contribuições

As duas civilizações deixaram um expressivo legado cultural: EGITO Elementos da religião do Egito antigo podem ser encontrados nas mais diversas religiões do mundo atual, como a ideia da vida após a morte, a reencarnação e o julgamento final. Suas pesquisas voltadas para a mumificação dos corpos permitiram o desenvolvimento de conhecimentos na medicina. Também desenvolveram estudos em astronomia e matemática, além de sofisticadas técnicas agrícolas e de construção de templos e pirâmides. MESOPOTÂMIA Os sumérios inventaram a escrita cuneiforme, feita com talhes em placas de argila. Entre as principais contribuições dos babilônios está o Código de Hamurabi, um dos mais antigos códigos jurídicos escritos, que contém a famosa Lei de Talião (“olho por olho, dente por dente”). Os assírios destacaram-se pela criação da Biblioteca de Nínive, com registros preciosos sobre o seu modo de vida e dos povos que dominaram.

HEBREUS, FENÍCIOS E PERSAS FORMARAM OUTRAS IMPORTANTES CIVILIZAÇÕES NA ANTIGUIDADE

Além dos egípcios e mesopotâmicos, três outros povos tiveram destaque na Antiguidade Oriental: os hebreus, os fenícios e o persas. Os hebreus fixaram-se na região da Palestina por volta de 2000 a.C., mas, devido a uma seca prolongada, migraram para o Egito, por volta do século XVII a.C., onde foram escravizados. A fuga do Egito de volta à Palestina (Êxodo) foi comandada por Moisés, que, durante o retorno, segundo a tradição religiosa, teria recebido de Deus os Dez Mandamentos. De volta à Palestina, foram constantemente invadidos, tendo sido escravizados na Mesopotâmia (Cativeiro da Babilônia). Após retornarem, libertados pelos persas, foram dominados pelos macedônicos e pelos romanos, que os expulsaram da região por volta de 70 d.C., dando início à dispersão hebraica (Diáspora). Os hebreus criaram a primeira religião monoteísta da história (judaísmo), base de duas religiões posteriores, o cristianismo e o islamismo. A Fenícia (atual Líbano) constitui uma civilização diferenciada na Antiguidade Oriental, já que tinha o comércio e as trocas como bases de sua economia e se organizava politicamente em cidades-Estados, enquanto os outros povos, em geral, dedicavam-se à agricultura e possuíam governos centralizados. Entre as principais contribuições dos fenícios está o desenvolvimento de uma escrita alfabética, base para grande parte dos alfabetos modernos. Na Pérsia (atual Irã) surgiu um dos maiores impérios da Antiguidade. Ciro I foi responsável pelo início da expansão no século VI a.C. Cambises conquistou o Egito, e Dario I levou o império à sua extensão máxima. Os persas conquistaram, além do Egito, a Mesopotâmia, a Palestina, a Fenícia, a Ásia Menor (Turquia) e a Índia. Sob o comando de Xerxes, Dario II e Dario III, o império declinou, até ser conquistado por Alexandre, o Grande, no século IV a.C. A religião persa, o zoroastrismo, defendia que os homens que praticassem boas ações deveriam ser recompensados futuramente. Acreditavam no dualismo, a eterna disputa entre o bem e o mal, e no livre arbítrio, pelo qual o homem escolhe o caminho a seguir, tendo consciência das consequências de seus atos.

[1] REPRODUÇÃO/MUSEU BRITÂNICO

GE HISTÓRIA 2017

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ANTIGUIDADE CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS

Impérios do Novo Mundo Na América, os incas, os maias e os astecas organizaram Estados teocráticos semelhantes aos das primeiras civilizações do Oriente

[1]

A

inda não sabemos exatamente quando e como os primeiros humanos chegaram ao continente americano. Entre as hipóteses mais aceitas para a chegada do homem à América, a mais tradicional defende que há 12 mil anos um grupo vindo da Ásia teria atravessado a região congelada do Estreito de Bering e de lá se deslocado em direção à América Central e à América do Sul. Essa tese é embasada em descobertas arqueológicas, como a de Luzia, na região de Lagoa Santa (MG), o mais antigo esqueleto humano brasileiro conhecido, que teria vivido entre 11 mil e 11,5 mil anos atrás. Uma outra tese sugere que os primeiros americanos usaram barcos para passar da Ásia para a América do Norte cerca de 15 mil anos atrás. Uma terceira teoria propõe que teriam chegado ao continente há mais de 60 mil anos, vindos da Oceania, após cruzar o Oceano Pacífico. A evidência para a data são ferramentas de pedra e restos de fogueira de 58 mil anos achados no sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato (PI). Milhares de anos após o homem chegar à América surgiram civilizações que dominaram boa parte do continente antes da chegada dos europeus. Os incas, os maias e os astecas possuíam uma organização política, econômica e social muito semelhante à das primeiras civilizações do Oriente, apesar da grande distância entre elas no tempo e no espaço.

14 GE HISTÓRIA 2017

PLANO DIRETOR Mural feito pelo artista Diego Rivera no Palácio Nacional da Cidade do México mostra o avançado planejamento urbano dos astecas

Astecas

No auge da expansão Incas (XVI) Maias (IX) Astecas (XVI)

Maias

A civilização maia foi a primeira a se consolidar como império, atingindo o auge no fim do século IX, período em que dominavam do sul do México à Guatemala. Eles já entendiam o conceito do número zero, que só posteriormente seria bem compreendido pelos europeus, e sua arquitetura era tão grandiosa quanto a egípcia e a romana. Na cidade de Tikal, havia um templo com 70 metros de altura, o maior edifício erguido na América antiga. Acredita-se que guerras ou o esgotamento das terras cultiváveis levaram a civilização a um rápido declínio a partir do ano 900. No início do século XVI, os maias encontrados pelos espanhóis eram simples agricultores.

Enquanto os maias entravam em decadência, os astecas começaram a crescer, por volta do século XII, na região central do México. Seu planejamento urbano era impecável. As obras públicas incluíam quilômetros de estradas e aquedutos. A capital Tenochtitlán foi erguida em área pantanosa, cuidadosamente drenada e aterrada para comportar cerca de 100 pirâmides e torres. O império ainda estava se expandindo quando ocorreu o contato com os espanhóis, em 1519. Em apenas dois anos, os europeus dominaram o mais importante centro asteca: Tenochtitlán, a atual Cidade do México, que tinha mais de 140 mil habitantes e foi a maior cidade das antigas civilizações da América.

Incas

A partir do século XV, os incas construíram um império com 12 milhões de pessoas. Quando os espanhóis chegaram, dominavam áreas do norte do Equador à região central do Chile. Cuzco, a capital, e Machu Picchu eram as principais cidades. Possuíam conhecimentos astronômicos avançados e eram capazes de aplicar conceitos de matemática e geometria em suas edificações. Além disso, construíram um complexo sistema de estradas que ligava todo o império, com cerca de 7 mil km de extensão. Epidemias e lutas pela sucessão imperial deixaram a civilização enfraquecida para enfrentar os europeus. Os espanhóis os derrotaram rapidamente, entre 1532 e 1535.


ANTIGUIDADE GRÉCIA

Os pais do Ocidente A civilização da Grécia antiga deu origem à cultura ocidental ao inventar a cidadania, a democracia, a filosofia, a geometria e o teatro

A

civilização grega, na qual foram estabelecidas as bases da política e da cultura ocidentais, começou a se formar em torno de 2000 a.C., na Península Balcânica, e entrou em declínio no século II a.C., quando o território foi ocupado pelos romanos. A história da Grécia antiga é dividida em cinco períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e Helenístico.

Período Pré-Homérico (séc. XX a.C. – séc. XII a.C.)

Os mais antigos resquícios da ocupação humana ao sul dos Bálcãs datam de 2000 a.C. A região foi ocupada, sucessivamente, pelos aqueus, jônios e eólios. Até o século XII a.C., floresceu na região uma civilização semelhante às do Oriente, cujo centro era Micenas, situada no norte do Peloponeso. A chegada dos dórios, povo guerreiro vindo do norte, destruiu a civilização micênica e deu início à primeira diáspora grega.

Período Homérico (séc. XII a.C. – séc. VIII a.C.)

Recebe esta denominação porque as principais fontes que temos desse período são os poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero. Nessa época, a sociedade se organizava em comunidades familiares (genos) lideradas por um “pater”, que reinava sobre a família, dependentes, escravos e bens. No início do séc. VIII a.C., essas comunidades familiares passaram por processo de fusão (cinesismo), originando a pólis (cidade).

[2]

Período Arcaico (séc. VIII a.C. – séc. VI a.C.)

O que demarca o começo do Período Arcaico é o surgimento da pólis. Do ponto de vista político, o regime era aristocrático, governado pelas famílias mais tradicionais, que se apossaram das melhores terras. O descompasso entre o crescimento da população e a disponibilidade de áreas férteis deu origem a uma série de conflitos sociais. Como resultado dessas tensões, houve um processo de colonização, que consistiu num movimento migratório que visava à construção de cidades gregas na Ásia Menor, norte da África e sul da Itália (Magna Grécia), também conhecido como segunda diáspora grega. Entre as principais cidades que surgiram na Grécia no início do Período Arcaico, destacam-se Atenas e Esparta. � ATENAS Do ponto de vista econômico,

a principal atividade era a agricultura. Devido à escassez de terras férteis na região, a população logo passou a se dedicar também ao comércio marítimo e à pesca. A sociedade era composta basicamente das seguintes classes: eupátridas (famílias mais tradicionais e proprietários das terras mais férteis); georgóis (pequenos proprietários); thetas (homens livres pobres); demiurgos (comerciantes); metecos (estrangeiros residentes na cidade que exerciam várias atividades, como artesãos, professores, artistas e comerciantes); e escravos (que predominaram apenas no Período Clássico).

GRUPO DE LAOCOONTE Uma das esculturas mais expressivas do Período Helenístico, a obra de Agesandro, Atenodoro e Polidoro representa cena da Guerra de Troia

Em relação à política, a principal característica da cidade-Estado grega é que ela se autogovernava. Em Atenas, a monarquia foi extinta logo no início do Período Arcaico, e o governo passou a ser exercido pela aristocracia, por meio do Areópago, um tipo de conselho que reunia os representantes da aristocracia. A desigualdade social marcou a história de Atenas, com constantes revoltas e instabilidade política. Para tentar resolver as sucessivas crises, alguns legisladores impuseram reformas. O primeiro foi Drácon, que, em 621 a.C., redigiu as leis – até então orais –, dificultando sua manipulação pelos eupátridas. A rigidez do código inspirou o adjetivo draconiano. As reivindicações populares não cessaram, e, em 594 a.C., outro legislador entrou em ação: Sólon. Ele aboliu a escravidão por dívidas, libertou os devedores e determinou a devolução de terras confiscadas pelos credores eupátridas. Apesar das reformas, os conflitos sociais se mantiveram, dando origem a uma guerra civil. Aproveitando-se da situação de crise, em 560 a.C. o eupátrida Psístrato tomou o poder, instaurando um novo tipo de governo, a tirania (diferentemente de hoje, o termo não indicava um governo opressor, mas, sim, tomado ilegalmente). Em 507 a.C., Atenas foi varrida por uma revolta popular liderada pelo aristocrata Clístenes. Ele dividiu a cidade em dez tribos e fortaleceu as assembleias populares. Com essas mudanças, todos os cidadãos de Atenas podiam participar diretamente do governo. Esse sistema ficou conhecido

[1] REPRODUÇÃO/DIEGO RIVERA/PALÁCIO NACIONAL–MÉXICO [2] MUSEU DO VATICANO

GE HISTÓRIA 2017

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ANTIGUIDADE GRÉCIA MUNDO GREGO Veja como era o território da Grécia e por onde se estendiam suas colônias no século VI a.C. Heracleia

Mar Tirreno

Cartago

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MACEDÔNIA

Tarento Síbares Crotona

SICÍLIA Siracusa

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Mar Jônio

TRÁCIA Bizâncio Calcedônia Mar MÍSIA Egeu

Península Balcânica Tebas ÁTICA Corinto Atenas PELOPONESO Esparta CRETA

ÁFRICA

Mar Negro

LÍDIA Éfeso CÁRIA Mileto

Trebizonda PERSAS

RODES

Mar Mediterrâneo

Grécia antiga

Cirene

Colonização grega

FENÍCIA Apolônia

Fonte: Alfredo Boulos Júnior, História: Sociedade & Cidadania – 5ª série, 1 ed., FTD, págs. 214, 220

como democracia (governo do povo). Para manter a ordem, Clístenes criou o ostracismo, que era a suspensão dos direitos políticos e o exílio de cidadãos que ameaçassem o novo sistema. Existia em quase todas as pólis um espaço público chamado Ágora, no qual os cidadãos se reuniam para discutir temas ligados a justiça, leis, cultura, obras públicas etc. Apesar de a maioria das cidades possuírem esse espaço, foi em Atenas que a Ágora se destacou. ESPARTA Localizada no Peloponeso e

fundada pelos dórios no século IX a.C., chamava atenção pelo caráter militar de sua sociedade. Até seu desaparecimento, no século IV a.C., a cidade manteve a estrutura social estratificada (sem mobilidade) e o regime oligárquico. Os espartanos, descendentes dos dórios, eram os únicos a possuir direitos políticos e monopolizavam o poder; os periecos habitavam a periferia e dedicavam-se ao comércio e ao artesanato; os hilotas, escravos de propriedade do Estado, cultivavam as terras dos espartanos. Quem detinha o poder político de fato na cidade era o eforato, formado por cinco magistrados eleitos anualmente. Os demais órgãos administrativos eram a diarquia, composta de dois reis hereditários que exerciam funções executivas e militares; a gerúsia, constituída de 28 membros vitalícios que apresentavam projetos de leis; e a ápela, ou assembleia popular, formada pelos espartanos com mais de 30 anos, com funções consultivas.

16 GE HISTÓRIA 2017

Período Clássico (séc. VI a.C. – séc. IV a.C.)

Nesta fase, a Grécia antiga atingiu o apogeu e, por fim, acabou destruída por guerras. Atenas, com seu novo sistema democrático, desenvolveu-se e expandiu-se pelo Mar Egeu. Sua política hegemônica, no entanto, esbarrou em outra potência: a Pérsia. A luta pela supremacia marítima e comercial entre gregos e persas (ou medos), conhecida como Guerras Médicas, teve como estopim o levante das cidades gregas da Ásia Menor, em 499 a.C., contra a política expansionista do imperador Dario, da Pérsia. Nesse confronto, os gregos conseguiram vencer a expedição de 50 mil persas enviada à planície de Maratona. Mas os

inimigos não desistiram e, em 486 a.C., voltaram a atacar as pólis, que se uniram para vencê-los novamente nas batalhas de Salamina e Plateia. Sabendo que os persas poderiam voltar a atacar, várias cidades se reuniram e, lideradas por Atenas, formaram a Confederação de Delos. Responsável pela administração financeira da confederação, Atenas usou os recursos em benefício próprio, impulsionando sua indústria e seu comércio. Logo se tornou a cidade mais poderosa da Grécia. O apogeu dessa fase ocorreu entre 461 a.C. e 431 a.C., quando a pólis foi governada por Péricles. Durante o século V a.C. (chamado de século de Péricles), ele fez reformas para diminuir o desemprego e realizou obras públicas.

SAIU NA IMPRENSA VESTÍGIOS DE PALÁCIO MICÊNICO SÃO ACHADOS NA GRÉCIA

Da AFP

Vestígios de um palácio da época micênica (séculos XVII-XVI a.C.), com importantes inscrições em grego arcaico, foram descobertos perto de Esparta, no Peloponeso (sul da Grécia) (...). Esta nova descoberta permitirá obter informações sobre a organização política, administrativa, econômica e social da região e trará à luz novos elementos sobre as crenças e a língua micênicas, segundo o comunicado.

As escavações arqueológicas realizadas desde 2009 em Agios Vassilios, uma aldeia próxima a Esparta, a 300 km de Atenas, permitiram revelar antigas inscrições na forma mais arcaica do grego antigo. Nas tabuletas de argila há referências a cerimônias religiosas e nomes de lugares. (...) No norte do Peloponeso se encontra o sítio principal da civilização micênica, a cidadela de Micenas, descoberta no século XIX. Compreende principalmente vestígios do palácio real e túmulos monumentais atribuídos a heróis da mitologia grega. G1, 25/8/2015


SAIBA MAIS FILOSOFIA GREGA

O estudo da filosofia grega antiga, tradicionalmente, divide-se em três períodos: PréSocrático, Clássico e Helenístico. Conheça algumas das principais características e autores de cada um deles.

Nessa época também surgiram grandes artistas, filósofos e dramaturgos. Eram os “anos de ouro” de Atenas. Esse sucesso acirrou a rivalidade entre as cidades e fez com que Esparta liderasse a Liga do Peloponeso, que empreendeu, em 431 a.C., uma guerra contra a Confederação de Delos, a Guerra do Peloponeso. Com a vitória espartana e a devastação de muitas cidades, começou o último período da história da Grécia antiga.

Período Helenístico (séc. IV a.C.– séc. II a.C.)

Após anos de guerras, acabou a hegemonia ateniense e teve início a de Esparta, que impôs governos oligárquicos em todas as pólis da Confederação de Delos. Mas o auge espartano foi breve. Em 371 a.C., a cidade foi derrotada por Tebas, na Batalha de Leutras. As constantes lutas arrasaram as cidades e desorganizaram o mundo grego. Empobrecidas e fracas, as pólis foram presas fáceis para o grandioso Exército de Felipe II, rei da Macedônia (região norte da Grécia Continental). Em 338 a.C., teve fim a autonomia das pólis gregas. O filho e sucessor de Felipe, Alexandre, o Grande, foi ainda mais longe: conquistou o Império Persa e dominou vastos territórios, do Egito até a Índia. Com ele, houve grande aceleração do comércio, da urbanização e da mesclagem de valores gregos com os dos povos conquistados. Essa mistura deu origem à cultura helenística. Em 323 a.C., com a morte de Alexandre, seus generais dividiram o império. No século II a.C., a Grécia e a Macedônia foram convertidas em províncias da nova potência mundial: a civilização romana. PARA IR ALÉM Os 300 de Esparta (1998) é uma graphic novel escrita por Frank Miller que descreve a Batalha das Termópilas, ocorrida em 480 a.C., na qual o rei Leônidas comanda 300 soldados espartanos em uma luta contra as forças do imperador persa Xerxes.

PRÉ-SOCRÁTICO ao contrário do que o nome sugere, os filósofos deste período não antecederam a Sócrates necessariamente. Eles são classificados mais pelo objeto de sua filosofia do que por sua cronologia, já que alguns nomes são contemporâneos ou posteriores a Sócrates. Esses filósofos tinham como objeto a cosmologia – o estudo da origem e da evolução do Universo. Eles inauguram uma mentalidade baseada na razão para entender os fenômenos da natureza, na qual se baseavam em princípios naturais, rompendo com o sobrenatural e a tradição mítica. Com a evolução dos estudos filosóficos surgem os sofistas, que mudaram o foco do cosmo para o homem e os problemas morais a ele pertinentes. Nesta linha destacam-se Tales de Mileto, O QUE ISSO TEM A VER COM Anaximenes de Mileto, Anaximandro de Mileto, Heráclito, Pitágoras, MATEMÁTICA Xenófanes, Anaxágoras, Demócrito e Diógenes. Pitágoras foi um filósofo e matemático grego que viveu no século VI a.C. e criou o teorema que leva o seu nome. Foi ele quem primeiro observou a relação entre as medidas dos lados de um triângulo retângulo: a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE MATEMÁTICA.

CLÁSSICO Sócrates surge como divisor do pensamento filosófico grego. A partir de seus estudos, as questões da natureza e do princípio das coisas mudam para o indivíduo, o homem da pólis – para ele, mais importantes eram as questões referentes à ética e à existência humana. Sócrates desenvolveu a maiêutica, método de perguntas e respostas para a busca da verdade. Usa o diálogo como método para levar as pessoas a reconhecer a própria ignorância – “só sei que nada sei”. Mas é com Platão e Aristóteles que a filosofia clássica atinge seu auge. Para Platão, discípulo de Sócrates, as ideias são o próprio objeto do conhecimento intelectual. Ao desenvolver sua Teoria das Ideias ou das Formas, afirma que as ideias (formas) não materiais (abstratas) possuem o mais alto e fundamental tipo de realidade, e não o mundo material, mutável, conhecido pelos homens por meio das sensações. O que não se vê é mais real do que o visível, já que é captado pelos “olhos da alma” e não pelos “olhos do corpo”. Dessa forma criou o conceito da filosofia metafísica. Já Aristóteles, criador da lógica e da ética filosófica, defendeu a supremacia do real sobre as ideias, contrariando seu mestre, Platão. Seus estudos tinham por princípio a experimentação, única forma eficiente de comprovar fenômenos da natureza. Defendeu que a inteligência humana é a única forma de alcançar a verdade. Escreveu sobre vários assuntos: política, lógica, moral, ética, escravidão, teologia, metafísica, química, biologia, antropologia, poética, retórica, física, didática... Apesar de suas afirmações científicas terem sido desmentidas ao longo dos séculos, seus estudos filosóficos influenciaram todo o pensamento ocidental posterior. HELENÍSTICO As principais escolas filosóficas do Período Helenístico são o cinismo, o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. Todas procuravam, fundamentalmente, estabelecer uma série de preceitos racionais para dirigir a vida de cada ser humano e, dessa forma, por meio da ausência do sofrimento, atingir a felicidade e o bem-estar. Nesta fase o público foi substituído pelo privado como espaço para as reflexões filosóficas. A reflexão política foi abandonada pelos filósofos deste período, já que se preocupavam com as questões da felicidade individual. Podemos destacar Plotino, Cícero, Zenão e Epicuro entre seus principais representantes. Além dos filósofos, outros importantes nomes devem ser lembrados como representantes da cultura da Grécia antiga: Hipócrates (considerado o pai da medicina), Euclides (matemático, fundador da geometria), Homero (poeta, a quem são atribuídas a Ilíada e a Odisseia) e Sófocles (dramaturgo, autor de Édipo Rei e Antígona) são os principais destaques. GE HISTÓRIA 2017

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ANTIGUIDADE ROMA

Donos do mundo Nenhuma civilização foi tão poderosa, por tanto tempo, quanto a romana. Confira a ascensão e a queda do último império da Antiguidade

F

undada no século VIII a.C., Roma desenvolveu um vasto império, cujas leis, monumentos, táticas militares e instituições influenciaram todo o mundo ocidental. Sua queda, em 476, marcou o fim da Antiguidade e o início da Idade Média. A mítica versão para o surgimento de Roma conta que a cidade foi fundada em 753 a.C. pelos gêmeos Rômulo e Remo. De acordo com a lenda, os dois irmãos foram abandonados ainda bebês no Rio Tibre e só conseguiram sobreviver graças a uma loba que os amamentou. A história romana é dividida pelos estudiosos em três grandes períodos: o monárquico, o republicano e o imperial.

Monarquia (753 a.C. – 509 a.C.)

Nessa época, a sociedade romana estava dividida, basicamente, em três camadas: os patrícios, ricos proprietários de terra; os clientes, parentes pobres ou serviçais desses proprietários; os plebeus, homens livres sem direitos políticos. A economia era baseada em atividades agropastoris. O rei, eleito por uma assembleia, tinha seu poder controlado pelo Senado (ou Conselho dos Anciãos). Durante esse período, Roma foi conquistada pelos etruscos. O último rei etrusco, Tarquinio, o Soberbo, tentou

18 GE HISTÓRIA 2017

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POLITEÍSMO Relevo mostra alguns dos deuses da Roma antiga, como Júpiter, Plutão e Netuno

se aproximar da plebe. Sentindo-se ameaçados, os patrícios o derrubaram, assumiram o poder e implantaram a república em 509 a.C.

a Lei Canuleia, que autorizou o casamento com patrícios; a Lei Poetélia Papíria, proibindo a escravidão por dívidas.

República

Com a intensificação das lutas entre os plebeus e os patrícios, o Senado patrocinou inúmeras guerras de expansão. A disputa pelo controle da região mediterrânea deu origem às guerras contra Cartago (cidade fundada pelos fenícios no norte da África), as Guerras Púnicas. Elas resultaram na derrota de Cartago e na transformação do Mediterrâneo no Mare Nostrum (Nosso Mar ou Mar Romano). Com as conquistas do período republicano, os patrícios compraram as terras dos plebeus, que se tornavam soldados, e formaram grandes propriedades nas quais trabalhavam os escravos capturados nas guerras. Os mercadores prosperaram, e os plebeus, em tempos de paz, não tinham como ganhar a vida, tornando-se uma massa de desempregados perigosa e instável. Para evitar revoltas da plebe, entre 133 a.C. e 27 a.C., foram adotadas medidas como a política do pão e circo (distribuição de trigo aos famintos e promoção de espetáculos esportivos gratuitos). Ao denunciar que essas medidas eram paliativas, dois irmãos eleitos tribunos da plebe, Tibério e Caio Graco, propuseram uma reforma agrária, para garantir meios de vida a quem não tinha trabalho. A medida, é claro, não agradou aos patrícios. Tibério e Caio foram mortos, e a tentativa de reforma fracassou.

(509 a.C. – 27 a.C.)

Entre as principais instituições da República destacam-se: a Assembleia Centuriata, que decidia sobre declarações de guerra e votava as leis; as Magistraturas (espécie de Ministério), sendo as principais o Consulado, composto de dois cônsules, responsáveis pela política externa e interna; os edis, responsáveis pela organização da cidade; os pretores, pela justiça; e os questores, pelas finanças; o Senado, que elaborava os projetos de lei e escolhia os magistrados. Como apenas os patrícios podiam ser senadores ou magistrados, eles controlavam a política durante a República. Isso acabou levando a uma série de revoltas da plebe, que resultaram em várias conquistas sociais e políticas. Entre as principais estão: a criação do cargo de tribuno da plebe, que tinha poder de veto no Senado; a Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), que compilou o primeiro código de leis escritas de Roma;


DOMÍNIOS ROMANOS Confira como evoluiu o território do mais importante império da Antiguidade

Conquistas 1ª metade do século IV a.C. 2ª metade do século IV a.C. Século III a.C. Até 44 a.C. (morte de César) Até o fim do século II (máxima expansão) Invasões bárbaras

Oceano Atlântico

Jutos

HIBÉRNIA BRITÂNIA

GÁLIA

DIVISÃO DE TEODÓSIO Anglos (395 d.C.) Saxões Suevos Godos Burgúndios Lombardos GERMÂNIA Vândalos Visigodos Ostrogodos Alamanos

Hunos

RÉCIA REINO DO BÓSFORO HELVÉCIA PANÔNIA DÁCIA GÁLIA AQUITÂNIA LUSITÂNIA MÉSIA CISALPINA ILÍRIA ARMÊNIA HISPÂNIA DALMÁCIA TRÁCIA CÓRSEGA Constantinopla MÉDIA Roma ITÁLIA MACEDÔNIA GALÁCIA SARDENHA CAPADÓCIA CILÍCIA SICÍLIA ACAIA LÍCIA Cartago MAURITÂNIA MESOPOTÂMIA SÍRIA NUMÍDIA BABILÔNIA Mar Mediterrâneo JUDEIA

Alexandria

TRIPOLITÂNIA

CIRENAICA

EGITO

ARÁBIA

Império Romano do Ocidente Império Romano do Oriente Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, págs. 8, 9, 10

A crescente importância do Exército romano levou os generais a ambicionar o exercício direto do poder. Isso originou uma série de guerras civis entre os chefes militares e disputas de poder entre eles e o Senado. Para tentar amenizar os conflitos, foram organizados os triunviratos, que dividiam o poder entre os chefes militares mais importantes. O Primeiro Triunvirato foi formado pelos generais Pompeu e Júlio César e pelo banqueiro Crasso. Ao tentar concentrar os poderes, Júlio César foi assassinado pelos senadores. O Segundo Triunvirato, constituído por Otávio, Marco Antônio e Lépido, também fracassou e culminou com a ascensão de Otávio ao comando de todas as legiões romanas. Otávio aproximouse do Senado, que, convencido de que ele não representava uma ameaça aos seus interesses, concedeu-lhe poderes que havia negado a Júlio Cesar, tais como os títulos de Príncipe do Senado e de “Augusto” (líder supremo da religião com ascendência divina). A concentração desses poderes inaugurou uma nova etapa da evolução política de Roma, conhecida como Império Romano.

Império (27 a.C. – 476 d.C.)

Esta fase divide-se em duas partes: o Alto Império – época de prosperidade – e o Baixo Império – tempo de crise. ALTO IMPÉRIO Otávio Augusto governou por 41 anos. No início, ampliou os territórios e permitiu que mercadores ricos

tivessem acesso ao Senado. Depois de conter a expansão territorial, iniciouse um período de paz, conhecido como Pax Romana. Os sucessores de Otávio retomaram as guerras de conquista, e Roma se transformou num centro de comércio intenso. No início do séc. II, as fron-

SAIBA MAIS CULTURA E LEGADO

Os romanos nos deixaram uma rica herança em diversas áreas. A arquitetura, empregada para exaltar as glórias da nação, era a mais desenvolvida das artes, com destaque para a construção de aquedutos, estradas e pontes e edifícios de grande valor artístico, como o Coliseu e o Panteão de Roma. Ao lado do idioma – o latim, que é a base de diversas línguas, como o português –, o direito é o maior legado romano, base do atual sistema jurídico ocidental. Na literatura, merece menção o poeta Virgílio, autor de Eneida. Por fim, em relação à religião, a pregação de Jesus Cristo, nascido no Império Romano, deu origem ao cristianismo, cujos fiéis eram inicialmente perseguidos. Com a conversão de Constantino, em 313, a religião cristã ganhou força e, com Teodósio, foi oficializada como religião do Império, o que permitiu o surgimento da poderosa Igreja Católica.

teiras do Império atingiram sua maior extensão. Essa época ficou conhecida como Idade de Ouro e teve como principais governantes Trajano, Adriano, Antônio Pio e Marco Aurélio. Entretanto, com o fim das guerras, Roma começou a mostrar sinais de crise. BAIXO IMPÉRIO A principal causa da decadência do Império Romano foi a crise do sistema escravista. O fim das guerras diminuiu a oferta de escravos, elevando o seu valor. Como eram a base da economia romana, todos os preços começaram a subir. Algumas reformas foram tentadas. Diocleciano, em 284, implantou o colonato (arrendamento de terra por colonos), visando a substituir os escravos. Constantino, em 313, buscou o apoio dos cristãos – até então perseguidos –, legalizando o cristianismo e convertendo-se a ele. Em 330, mudou a capital para Constantinopla – atual Istambul. Teodósio, em 395, dividiu o império em duas partes: Império do Ocidente, com a capital em Roma, e Império do Oriente, com centro em Constantinopla. Porém, com a intensificação das invasões dos “bárbaros”, que atacavam as fronteiras romanas desde o século III, o Império do Ocidente não resistiu e caiu em 476. O Império do Oriente, também conhecido como Império Bizantino, duraria até 1453, quando foi dominado pelos turco-otomanos. Com a queda de Roma, ninguém se sentia seguro nas cidades. Começou um processo de desurbanização e regressão do comércio. Do ponto de vista político, a grande transformação é que o poder político centralizado, que vigorava no período do Império, deu lugar a uma multiplicidade de reinos bárbaros, fragmentando a autoridade no Ocidente. A única esfera de poder centralizado que sobreviveu foi a Igreja (veja mais no capítulo Idade Média, a partir da pág. 26).

[1] DIVULGAÇAO/MUSEU NACIONAL ROMANO

GE HISTÓRIA 2017

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ANTIGUIDADE LINHA DO TEMPO 3200 a.C.

Pré-História e Antiguidade

Os sumérios formam a primeira civilização da Mesopotâmia. Pág. 12

Confira os principais eventos da Pré-História e da Antiguidade. Os fatos que têm indicação de páginas (remissões) correspondem aos assuntos que mais caem no vestibular.

Simultaneamente, tem início a civilização egípcia. Pág. 12

8000 a.C.

[5]

Começa o Neolítico, ou Idade da Pedra Polida. Tem início a revolução agrícola. Pág. 12

11.500 ANOS ATRÁS

13,7 BILHÕES DE ANOS ATRÁS Segundo a teoria do Big Bang, o Universo surge a partir de uma explosão primordial. É o início de toda a matéria, energia, espaço e da contagem do tempo.

ÉPR

RIA TÓ S I H

Nessa época vive Luzia, nome dado ao mais antigo fóssil humano brasileiro, encontrado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais.

[1]

ANTIGUIDADE

3000 a.C.

3000 a.C.

5,5 MILHÕES DE ANOS ATRÁS Surgimento dos primeiros hominídeos, ancestrais do homem. É o início da Pré-História e do Período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada. Pág. 12

[6]

4000 a.C. Revolução urbana com o surgimento das primeiras civilizações e da escrita, o que marca o começo da Antiguidade. A partir da pág. 12

[4]

150.000 ANOS ATRÁS Nascem os primeiros Homo sapiens, a espécie a que pertencemos. Pág. 12

20 GE HISTÓRIA 2017

58.000 ANOS ATRÁS Nessa época, o nordeste brasileiro já seria ocupado por grupos humanos, conforme indicam os mais antigos vestígios arqueológicos do país, encontrados em São Raimundo Nonato, no Piauí. Mas ainda há grande polêmica sobre o assunto: muitos pesquisadores afirmam que a povoação da América e do Brasil só começou milhares de anos depois.

O atual Líbano começa a ser povoado por tribos semitas, que dão origem à civilização fenícia. Fundam cidades como Sidon, Biblos e Tiro e, a partir do século X a.C., colonizam vastas áreas nas margens do Mediterrâneo. Cartago, instalada no norte da África em 814 a.C., torna-se a mais importante cidade fenícia após a conquista de Tiro pelos macedônios, em 332 a.C. Em 146 a.C., Cartago é destruída pelos romanos nas Guerras Púnicas. Págs. 13 e 18

[7]


1600 a.C.

1200 a.C.

753 a.C.

395

Surgimento da mais antiga linha dinástica chinesa a deixar registros históricos: a dinastia Shang.

Ascensão no Golfo do México da civilização olmeca, que expande seus domínios até o litoral do Pacífico. Os olmecas fornecem a base cultural aos povos que habitariam a região nos séculos seguintes, como maias e astecas. Pág. 14

Fundação lendária de Roma, marco da civilização romana. Pág. 18

O Império Romano divide-se em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. Pág. 19

476 [2]

1792 a.C.

1250 a.C.

70

Hamurabi dá início à unificação da Mesopotâmia, que origina o I Império Babilônico. Pág. 12

Os hebreus deixam o Egito – onde foram escravizados – e migram para a Palestina, guiados pelo patriarca Moisés, no episódio conhecido como Êxodo. Durante dois séculos, lutam contra povos da região pela posse da terra. Em 1010 a.C., Saul torna-se o primeiro rei hebreu. Seus sucessores, Davi e Salomão, impõem um período de expansão e prosperidade. Pág. 13

Os romanos destroem o Templo de Jerusalém e expulsam os judeus da Palestina, dando início à segunda diáspora judaica. Eles migram para a Ásia Menor e a Europa. Pág. 13

[3]

Fim do Império Romano do Ocidente, fato que marca o início da Idade Média. Pág. 19

Início da Era Cristã, segundo o calendário gregoriano.

ANO 1 2000 a.C.

1000 a.C.

2000 a.C.

1750 a.C.

612 a.C.

359 a.C.

Tem início a civilização grega. Pág. 15

Entre 1750 e 1400 a.C., os arianos invadem o norte da atual Índia, dando origem à civilização hindu. Os hindus praticam a agricultura, a metalurgia e o comércio. A sociedade divide-se em castas: sacerdotes (brâmanes), guerreiros (chátrias), camponeses (vaisia) e servos (sudras). Os párias não têm casta e podem ser escravizados. Politeístas, os hindus seguem os Vedas, os mais antigos textos sacros conhecidos.

Uma aliança entre medos e caldeus derrota o Império Assírio, abrindo caminho para o surgimento do II Império Babilônico. Pág. 13

Surge o Império Macedônico, com Alexandre, o Grande. Pág. 16

[11]

[9]

[12]

539 a.C. Comandados por Ciro II, os persas derrotam os medos, que habitavam o planalto do Irã, e fundam o Império Persa. Sob Dario I, que assume em 521 a.C., o império atinge a extensão máxima, indo do Egito à Índia. Os persas constroem estradas e canais para facilitar o comércio e o transporte. Seguem os ensinamentos do profeta Zaratustra, ou Zoroastro, fundador da religião dualista denominada zoroastrismo. Pág. 13 Mar de Aral

CRETA Mar Mediterrâneo

ASSÍRIA MESOPOTÂMIA PALESTINA

EGITO

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ARÁBIA

PÉRSIA Pér s

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[1] [4] [8] [9] DIVULGAÇÃO [2] [6] [11] MUSEU DO LOUVRE/FRANÇA [3] MUSEU NACIONAL DE ANTROPOLOGIA/MÉXICO [5] MARCOS HERMES [7] [12] METROPOLITAN MUSEUM/EUA [10] RUBIN MUSEUM OF ART/EUA

ARACÓSIA

Go r Ve Ma

[10]

Extensão máxima, no século V a.C.

spio

ARMÊNIA

GRÉCIA

2000 a.C. A chegada dos hebreus à Palestina, sob a liderança do patriarca Abraão, segundo a narrativa bíblica, é o marco da civilização hebraica. Pág. 13

r Cá

[8]

Ma

MACEDÔNIA Mar Negro TRÁCIA

Fontes: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 7 GE HISTÓRIA 2017

21


COMO CAI NA PROVA

1. (UNESP 2016) A maior parte das regiões vizinhas [da antiga Me-

sopotâmia] caracteriza-se pela aridez e pela falta de água, o que desestimulou o povoamento e fez com que fosse ocupada por populações organizadas em pequenos grupos que circulavam pelo deserto. Já a Mesopotâmia apresenta uma grande diferença: embora marcada pela paisagem desértica, possui uma planície cortada por dois grandes rios e diversos afluentes e córregos. Marcelo Rede. A Mesopotâmia, 2002.

A partir do texto, é correto afirmar que a) os povos mesopotâmicos dependiam apenas da caça e do extrativismo vegetal para a obtenção de alimentos. b) a ocupação da planície mesopotâmica e das áreas vizinhas a ela, durante a Antiguidade, teve caráter sedentário e ininterrupto. c) a ocupação das áreas vizinhas da Mesopotâmia tinha características nômades e os povos mesopotâmicos praticavam a agricultura irrigada. d) a ocupação sedentária das regiões desérticas representava uma ameaça militar aos habitantes da Mesopotâmia. e) os povos mesopotâmicos jamais puderam se sedentarizar, devido às dificuldades de obtenção de alimentos na região. RESOLUÇÃO

Questão fundamentalmente interpretativa, cujo texto deixa claro que a única alternativa possível é a C. O trecho apresentado demonstra que os povos vizinhos da Mesopotâmia eram nômades devido à aridez da região, que impedia a fixação da população para a prática da agricultura. Já os mesopotâmicos praticavam a agricultura, aproveitando as planícies férteis no vale formado pelos rios Tigre e Eufrates. Os povos da Mesopotâmia desenvolveram sofisticadas técnicas de irrigação para a produção agrícola, conseguindo, assim, fixar-se na região. Dessa forma, a geografia privilegiada dessa região ajudou no surgimento das primeiras cidades-Estado do mundo. Resposta: C

mais forte para impor suas determinações e vontades sobre a coletividade, não tendo, portanto, papel significativo na vida das pessoas por não ser real de fato. Dessa forma, a argumentação de Trasímaco reflete a defesa que o próprio Platão fazia da justiça, de que ela deveria ser utilizada como um bem coletivo e não individual. Por ser utilizada para benefício próprio do mais forte sobre os mais fracos, teria perdido seu sentido original e fundamental, que seria o de beneficiar a todos, sem distinção. Resposta: D

3. (FUVEST 2016) O aparecimento da pólis constitui, na história do

pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a pólis conhecerá etapas múltiplas e forma variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII a.C., marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos. Jean Pierre Vernant. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Difel, 1981. Adaptado.

De acordo com o texto, na Antiguidade, uma das transformações provocadas pelo surgimento da pólis foi a) o declínio da oralidade, pois, em seu território, toda estratégia de comunicação era baseada na escrita e no uso de imagens. b) o isolamento progressivo de seus membros, que preferiam o convívio familiar às relações travadas nos espaços públicos. c) a manutenção de instituições políticas arcaicas, que reproduziam, nela, o poder absoluto de origem divina do monarca. d) a diversidade linguística e religiosa, pois sua difusa organização social dificultava a construção de identidades culturais. e) a constituição de espaços de expressão e discussão, que ampliavam a divulgação das ações e ideias de seus membros. RESOLUÇÃO

2. (ENEM 2015) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os

seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções humanas. RACHELS. J. Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais. c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas. d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes. e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas. RESOLUÇÃO

O sofista Trasímaco negava a existência da justiça como algo importante. Para ele, a justiça não passava de um artifício do

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O desenvolvimento das pólis na Grécia antiga foi responsável por uma série de transformações, seja do ponto de vista da organização política, seja nas mudanças do espaço urbano. Do ponto de vista da política, podemos identificar o aumento da participação dos cidadãos nas questões referentes à organização da cidade, princípio que, com o passar do tempo, levou ao surgimento do regime democrático. Do ponto de vista urbanístico, a criação de espaços para a participação dos cidadãos em discussões e deliberações, principalmente a ágora (espaço central no qual se reuniam as assembleias), é a grande característica das pólis. Destaca-se, ainda, a construção de anfiteatros para a representação de espetáculos que procuravam estimular o civismo e o patriotismo da população. Resposta: E

4. (ESAMC 2016) O que muitos cristãos parecem procurar é o martí-

rio. Muitos governadores de províncias, quando recebem cristãos, fornecem a eles todas as oportunidades para se conformarem com os mais básicos requisitos do Estado – uma oferenda de incenso para o gênio do imperador, por exemplo – mas muitas vezes têm sido repelidos com repetidas manifestações de fé. Os governadores relutam, mas no final são obrigados a expor esses fanáticos às feras e ao martírio.


RESUMO

Talvez seja isso o que torna a religião cristã tão atraente para alguns. Acima de tudo, eles seguem os preceitos de um fazedor de milagres que foi, ele próprio, crucificado como um criminoso. Fonte: LAURENCE, Ray. Guia do Viajante Pelo Mundo Antigo – Roma no Ano 300 d.C. SP: Ciranda Cultural, 2008, p. 31.

Os cristãos mataram muçulmanos nas Cruzadas. Os cristãos mataram judeus em muitos massacres. Enquanto isso, outra dimensão foi adicionada: os cristãos começaram a matar companheiros cristãos acusados de “hereges”. [...] Em Alexandria, em 415, a grande cientista Hypatia, chefe da Biblioteca de Alexandria, foi espancada até a morte pelos monges e outros seguidores de São Cirilo, que viam a ciência dela muito como a Igreja, mais tarde, veria a de Galileu. Fonte: HAUGHT, James A. Perseguições Religiosas – Uma História do Fanatismo e dos Crimes Religiosos. RJ: Ediouro, 2003, p. 53.

A relação entre os excertos pode ser encontrada em: a) Desde os tempos do Império Romano, os cientistas eram alvo de perseguições, porém, com o fortalecimento do catolicismo, os cientistas cristãos de perseguidos tornaram-se perseguidores. b) As perseguições aos cristãos no Império Romano apresentavam um caráter religioso, enquanto as praticadas pelo catolicismo medieval procuravam eliminar cientistas que contestavam seu poder, independentemente de sua religião. c) Os cristãos do Império Romano foram perseguidos por não aceitarem a divindade dos imperadores, enquanto os professantes de religiões não católicas por defenderem a racionalização do pensamento a partir da Idade Média. d) As perseguições a religiões diferentes da do Estado ocorrem desde os tempos do Império Romano, chegando ao seu auge a partir da ascensão de católicos aos mais altos cargos políticos na Europa Medieval. e) De perseguidos pelo Império Romano, por suas concepções religiosas, os cristãos passaram a perseguidores e, com o fortalecimento do catolicismo, cristãos não católicos também foram por eles perseguidos. RESOLUÇÃO

Em seus primórdios, o cristianismo era visto pelos romanos como uma seita a ser combatida. Contrários às guerras, à escravidão e se recusando a prestar cultos ao imperador, considerado divino pelos romanos, os cristãos foram violentamente perseguidos. Entre os séculos II e IV, no entanto, a situação começou a mudar: a expansão da religião tornou-se um dos maiores problemas para a manutenção do império, uma vez que a plebe oprimida associava seu sofrimento ao sofrimento do próprio Cristo. Com a liberdade de culto e a proibição das perseguições, determinadas pelo imperador Constantino, por meio do Edito de Milão, em 313, o número de cristãos aumentou de forma substancial. Entre 380 e 381, o imperador Teodósio oficializou o cristianismo como religião do império ao publicar o Edito de Tessalônica. A partir daí, de perseguidos, os cristãos se transformaram em perseguidores de outras religiões, atingindo seu auge na Idade Média, quando o poder do catolicismo era praticamente incontestável. Incialmente sua fúria se concentrou em religiões não cristãs, as chamadas heresias, mas, a partir da Reforma Protestante, cristãos não católicos também passaram a ser alvo das perseguições do catolicismo. Resposta: E

Antiguidade MESOPOTÂMIA Estado teocrático, cujo poder se ligava à religião, a Mesopotâmia foi berço das primeiras civilizações na Antiguidade. Sua civilização destacou-se pela organização econômica que, ao lado do Egito, desenvolveu o modo de produção asiático – as terras pertenciam ao Estado e eram utilizadas pela comunidade, que consumia sua própria produção e entregava o excedente para os governantes. Culturalmente, contribuíram com a primeira forma de escrita, a cuneiforme, e com o primeiro código de leis escritas que se conhece, o Código de Hamurabi. EGITO O Egito também era um Estado teocrático e tinha sua economia baseada na agricultura de regadio, isto é, controlava os ciclos de cheias e vazões do Rio Nilo. Os faraós eram venerados como o próprio deus vivo. O poder estava concentrado nesses representantes, que eram donos das terras, tinham a função de proteger seus habitantes e conduziam as atividades produtivas. CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS São assim denominados os povos maias, astecas e incas, que precederam a colonização europeia na América do Sul. Eram organizados de forma semelhante à das primeiras civilizações do Oriente (estado centralizado teocrático, hierarquia rígida, propriedade estatal da terra e exploração dos camponeses), apesar das épocas diferentes. Esses povos dominavam a astronomia e aplicavam conceitos geométricos e matemáticos nas edificações. GRÉCIA A civilização grega estabeleceu as bases da cultura e da política ocidentais. Surgiu por volta de 2000 a.C. e perdurou até o século II a.C. A população vivia em cidades-Estados, das quais Atenas e Esparta eram as mais importantes. Atenas sobressaía pelo desenvolvimento cultural e econômico, enquanto Esparta era uma potência militar. Os gregos criaram a democracia e acabaram dominados pelos romanos. FILOSOFIA GREGA Tradicionalmente, os estudos sobre a filosofia da Grécia antiga se dividem em três grupos. Para os pré-socráticos, o objeto de estudo era o cosmo, não o indivíduo, e buscavam conhecer o princípio das coisas. A partir dos filósofos clássicos, o objeto de estudo da filosofia deixa de ser o cosmo e passa a ser o indivíduo e suas questões existenciais. Neste período destacam-se Platão e Aristóteles. Os helenísticos abandonaram as questões políticas e morais, direcionando seus estudos para questões que levariam à felicidade dos indivíduos. ROMA Um dos mais importantes impérios da história, dominou quase toda a região do Mar Mediterrâneo. Costuma ser dividido em três grandes períodos: o monárquico, o republicano e o imperial. O Senado, instituição fundamental da política, originou os atuais Parlamentos. Com o fim das guerras de conquista, o número de escravos caiu, prejudicando a economia e a supremacia romanas. Em 476, foi tomada pelos bárbaros germânicos. A queda de Roma marcou o fim da Antiguidade e o início da Idade Média.

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2

IDADE MÉDIA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

O poder da Igreja ..............................................................................................26 Império Árabe ...................................................................................................28 Reino Franco .....................................................................................................30 Feudalismo.........................................................................................................31 Linha do tempo ................................................................................................34 Como cai na prova + Resumo .......................................................................36

Sob a autoridade de Deus ou do Estado? Decisão da Suprema Corte dos EUA de legalizar o casamento gay bate de frente com os dogmas cristãos e acirra debate sobre o caráter do Estado laico

A

decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos (EUA) de legalizar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, em junho de 2015, foi saudada como uma importante conquista no campo dos direitos civis. No entanto, para muitos grupos cristãos, a medida representa uma afronta a seus valores religiosos, que consideram como matrimônio apenas a união entre um homem e uma mulher. É o que alegou Kim Davis, uma escrivã de um cartório do estado do Kentucky, que se recusou a emitir licenças para casamentos entre homossexuais, em setembro. Ao desafiar a decisão da Justiça norte-americana, ela acabou sendo detida por desacato. Solta seis dias depois, Davis foi saudada por grupos conservadores religiosos e chegou, inclusive, a receber a visita do papa Francisco, que lhe prestou solidariedade quando esteve nos EUA no fim daquele mês. Questionado sobre o que achava da decisão de Davis, Francisco disse que funcionários públicos têm o direito de se recusar a emitir licenças de casamento para homossexuais se o ato violar a sua consciência. “A objeção de consciência deve ser respeitada nas estruturas legais, pois é um direito, um direito humano”, justificou o papa. Por sua vez, o juiz do Kentucky David Bunning enfatizou que “a nossa forma de governo não sobreviverá a não ser que nós, como sociedade,

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concordemos em respeitar as decisões do Supremo Tribunal dos EUA, independentemente das nossas opiniões pessoais”. O episódio coloca em pauta a discussão sobre o caráter do chamado Estado laico. Ou seja, até que ponto países como os EUA, onde a Constituição estabelece a separação entre religião e administração pública, estariam sujeitos à pressão de preceitos religiosos. Os dogmas cristãos, por exemplo, são fortemente contrários a questões relativas a aborto, uso de preservativo, realização de pesquisas com células-tronco e casamento entre pessoas do mesmo sexo. O debate, que também começa a ganhar força no Brasil, é se os interesses da sociedade devem estar submetidos a crenças religiosas em detrimento de uma discussão mais secular e racional sobre essas importantes questões. A influência da Igreja Católica, que ainda é forte em nossa sociedade, obteve seu ápice durante a Idade Média, IGREJA E ESTADO quando ela se consoli- A escrivã Kim Davis celebra dou como a instituição a saída da prisão ao lado mais poderosa do pe- de políticos no Kentucky ríodo. Neste capítulo, (EUA). Ela havia sido detida você também confere por se recusar a emitir outros importantes licenças para casamentos marcos dessa época. entre homossexuais


TY WRIGHT/GETTY IMAGES/AFP

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IDADE MÉDIA O PODER DA IGREJA

FÉ INTOLERANTE Ilustração mostra a execução em massa de hereges: alegando agir em nome de Deus, a Igreja massacrou aqueles que considerava infiéis

[1]

Força ilimitada Dona de grande poder político e econômico, a Igreja foi a principal instituição da Europa medieval

N

enhuma instituição foi tão rica, bem organizada e poderosa durante a Idade Média na Europa quanto a Igreja Católica. Com a transformação do cristianismo em religião oficial do Império Romano, em 391, durante o reinado de Teodósio, a Igreja passou a acumular fortunas e vastos territórios, tornando-se altamente influente também no âmbito político. No século V, já durante a Idade Média, a instituição tinha uma organização hierárquica definida – com padres e sacerdotes na base da pirâmide, bispos logo acima e o papa no topo – e estava bem instalada no continente. Os religiosos dedicaram-se a converter os bárbaros e a promover sua integração com os romanos, ganhando prestígio e passando a assumir funções administrativas nos novos reinos. Dessa forma, a Igreja garantiu uma unidade religiosa, política e cultural em uma sociedade altamente desagregada. O poder do catolicismo esteve intrinsecamente ligado às estruturas do feudalismo, o sistema social predominante na Europa durante a Idade Média. Ao afirmar que tudo o que acontece na Ter-

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ra é a representação da vontade divina, a própria divisão social do sistema era justificada como desejo de Deus. Segundo o conceito defendido pela Igreja, Deus determinou que existissem os que rezam, os que lutam e os que trabalham. Por isso, as contestações ao sistema e ao poder católico não eram comuns no auge do feudalismo (veja mais na pág. 31).

Pecados e dogmas

Uma das provas do poder da Igreja Católica durante a Idade Média foi a utilização do conceito dos Sete Pecados Capitais, surgido antes mesmo do cristianismo, mas brilhantemente apropriado pelo catolicismo. Pecado Capital, segundo a definição da própria Igreja, é aquele que, uma vez cometido, não é passível de perdão. São eles: gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e soberba. A ameaça de punição eterna para quem cometesse um dos pecados garantia o controle sobre a população e ajudava a Igreja a preservar seu poder. Ao longo dos séculos, a Igreja também estabeleceu uma série de dogmas – doutrinas aceitas como verdades que não admitem contestação. Segundo a pregação católica, ao seguir essas regras, os fiéis garantiriam um lugar no paraíso. Além de manter a população sob controle ao regular todos os aspectos da vida da população medieval, a Igreja também pedia doações de bens aos fiéis com a justificativa de ajudar a propagar sua missão.

Inquisição

Com tanto poder nas mãos, as autoridades católicas fizeram de tudo para aumentá-lo ainda mais. Para isso, muitas vezes usavam como pretexto o suposto combate à heresia (prática contrária à doutrina da Igreja). O símbolo máximo dessa repressão foi a instauração, em 1231, dos tribunais do Santo Ofício, ou Inquisição, que tinham poderes para julgar e condenar à morte os réus considerados infiéis. Na verdade, quase todos os condenados eram simplesmente pessoas que discordavam dos desmandos católicos ou opositores dos aliados da Igreja. Uma das vítimas famosas da Inquisição foi a camponesa Joana D’Arc, queimada viva em 1431, sob a acusação de bruxaria (veja mais na pág. 33). A intensa participação dos clérigos nas questões terrenas provocou reações de alguns cristãos, que se isolaram para viver de forma simples, sob votos de castidade e pobreza. Desse setor nasceram as ordens monásticas, cujos membros habitavam mosteiros e se dedicavam ao trabalho intelectual e à oração. A Ordem dos Beneditinos, fundada por São Bento, em 525, consolidou a estrutura dessas organizações. Além da versão medieval, aplicada entre os séculos XIII e XV, a Inquisição também foi retomada entre os séculos XV e XIX. Concentrada em Portugal e na Espanha, a Inquisição moderna foi uma resposta à expansão das doutrinas protestantes (veja mais na pág. 42).


SAIBA MAIS ARQUITETURA MEDIEVAL

Durante o auge do feudalismo, o estilo românico predominou e, no período de crise do feudalismo, foi a vez do gótico se destacar. Conheça mais sobre os dois principais estilos arquitetônicos que caracterizaram as construções da Idade Média.

Filosofia medieval

Além de deterem poder político e econômico, os sacerdotes formavam a elite que sabia ler e escrever e passaram a encerrar em si o monopólio do conhecimento. O pensamento filosófico da época foi intensamente influenciado pelo cristianismo, confundindo-se com a teologia. Em termos ideológicos e filosóficos, podemos dividir o pensamento católico na Idade Média em duas partes: durante a Alta Idade Média (sécs. V a X), fase na qual o poder da Igreja era incontestável, e durante a Baixa Idade Média (sécs. X a XV), fase de declínio das estruturas feudais e, consequentemente, do poder católico. As diferentes filosofias no período podem ser entendidas como uma mudança de mentalidade, decorrente das transformações econômicas e sociais da Baixa Idade Média. Refletindo a influência da Igreja na sociedade, os maiores expoentes da filosofia medieval eram religiosos: SANTO AGOSTINHO Pode ser considerado o primeiro grande teórico católico. Viveu entre os séculos IV e V, época do declínio do Império Romano e do fortalecimento da Igreja Católica. Para ele, o único motivo para o homem filosofar é buscar a felicidade, por meio da aproximação com o divino. A fé seria, portanto, a única forma de se alcançar a felicidade eterna, ou seja, a beatitude. Assim, a felicidade estaria nas coisas de Deus e não no mundo terreno, aproximando-o do pensamento de Platão. A alma, por isso, é hierarquicamente superior ao corpo. Apesar da defesa da supremacia da fé, Agostinho valorizava a razão humana, uma vez que crer é um exercício humano, logo, racional. Segundo ele é necessário “intellige ut credas, crede ut intelligas” (compreender para crer e crer para compreender).

ROMÂNICO (séculos XI a XIII)

Suas características marcantes são a monumentalidade da construção e a horizontalidade, com grossas paredes de pedra, maciços pilares e abóbadas circulares (herança da arte romana, de onde deriva seu nome). As igrejas românicas representavam “fortalezas de pedra”, locais em que os homens experimentavam a proteção de Deus e a sua autoridade, assumindo uma atitude introspectiva (provocada pela pouca luz e pelo predomínio da horizontalidade). O estilo também foi amplamente utilizado na construção de castelos.

GÓTICO (séculos XIII a XV)

Ao contrário do românico, o estilo gótico apresenta paredes finas, sustentadas por arcobotantes (suportes externos ao edifício), janelas enormes e vitrais luminosos, arcos em forma de ogiva, torres esguias e pontiagudas. A construção gótica expressava uma concepção teológica, a da escolástica nascente: é uma arquitetura de luz, lucidez e lógica. Na igreja gótica, o homem sente-se participante da criação divina e assume uma atitude de busca de Deus através da transcendência, caracterizada pela verticalidade das construções.

[2]

Basílica Lessay (séc. XI), Normandia, França.

SÃO TOMÁS DE AQUINO Viveu durante o século XIII, em uma fase na qual se iniciava a contestação do poder absoluto da Igreja Católica. Seu grande desafio foi o de conciliar a filosofia aristotélica aos dogmas do catolicismo. Bastante popular, Aristóteles chegou a ser proibido pelo papa Gregório IX, no início do século XIII, por ignorar a concepção de um Deus criador e da alma imortal, afirmando que ela nasce e morre com o homem. O processo de cristianização de Aristóteles, efetuado por Tomás de Aquino, partiu do conceito clássico da distinção entre essência e existência. Para Aristóteles, a essência do ser humano é ser um animal racional,

[3]

Catedral de Reims (século XIV), Reims, França.

podendo ou não ter uma existência individual, já que as qualidades acidentais (cor, sexo, idade) não constituem essa essência. Já para Aquino, a essência dos seres humanos está ligada a suas características individuais, fruto da vontade do Criador. Por isso, as criaturas não existem por si mesmas, mas graças a uma realidade estranha ao mundo concreto. Desta forma os conceitos de criação e de criador são resgatados em sua obra. Aquino foi um dos maiores representantes da escolástica, método de pensamento crítico responsável pela tentativa de conciliação entre a fé cristã e o racionalismo, particularmente o defendido pela filosofia grega.

[1] REPRODUÇÃO [2] JI-ELLE/WIKIMEDIA [3] MATHKNIGHT/WIKIMEDIA

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IDADE MÉDIA IMPÉRIO ÁRABE

[1]

Unidos em nome de Alá Em apenas 100 anos, o Islã surgiu e deu origem a um império que se expandiu por três continentes

A

civilização árabe surgiu no século VII, na Península Arábica, com tribos de origem semita. Anteriormente, elas já compartilhavam algumas características, como a língua, mas foi somente nessa época que obtiveram união política, conquistada na esteira da pregação do Islã, religião então recém-nascida. Logo, os árabes fundaram um extenso império, que só se desintegraria no fim da Idade Média e deixaria forte influência cultural por onde se estendeu.

Antes de Maomé

Inicialmente, o povo árabe (também conhecido como sarraceno) estava dividido em cerca de 300 tribos rurais e urbanas, chefiadas pelos xeques. As que habitavam o deserto – denominadas beduínas – eram nômades e se dedicavam sobretudo à criação de camelos e ao cultivo de produtos como tâmara e de trigo. Faziam constantes peregrinações em busca de lugares férteis para sobreviver, os oásis, e guerreavam entre si. Já aquelas que moravam nos centros urbanos da faixa costeira do Mar Ver-

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melho se ocupavam principalmente do comércio, com a organização de caravanas de camelos para o transporte de produtos. Ao encontrarem melhores condições climáticas e solo mais favorável à produção agrícola, esses grupos se fixaram e formaram cidades como Meca e Iatreb – atual Medina. A religião pré-islâmica era politeísta. Os árabes cultuavam cerca de 300 astros, representados por ídolos. O maior centro religioso da península era Meca, que abrigava o templo da Caaba, com todos os ídolos tribais e a pedra negra – provavelmente um pedaço de meteorito, considerado sagrado. Todos os anos, milhares de beduínos e comerciantes se dirigiam à cidade para visitar o santuário, que era administrado pelos coraixitas, tribo de aristocratas que lucravam com as peregrinações e o comércio realizado na região. Apesar de compartilharem algumas tradições, as tribos se envolviam frequentemente em conflitos e guerras, prejudicando o comércio. A unificação viria com o surgimento e a disseminação de uma nova religião: o Islã.

Nasce o profeta

Em 570, nasce Maomé (Muhammad). Criado em um ramo pobre da tribo coraixita, tornou-se mercador. Aos 25 anos, ele se casou com uma viúva rica e conseguiu estabilidade financeira, o que lhe permitiu viajar muito. Nesses deslocamentos, entrou em contato com cristãos e judeus. Aos 40 anos, começou a ter visões e a ouvir vozes, que acreditava ser do anjo Gabriel. Os chamados que Maomé recebia o apontavam como profeta de um deus único e onipotente, Alá. Dois anos depois, quando já era aceito pela família como profeta, ele começou a pregar o monoteísmo e a abominação dos ídolos a todas as tribos de Meca, revelando-lhes a religião islâmica. Seus ensinamentos foram compilados no Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, usado por muitos países como código de moral e justiça. Ao condenar a tradição politeísta, Maomé ganhou muitos inimigos em Meca e passou a sofrer perseguições. Em 622, ele fugiu para Iatreb – atual Medina (“cidade do profeta”). O episódio, conhecido como hégira, marca o


EXPANSÃO ISLÂMICA Veja até onde se estendeu o Império Árabe e em que época cada região foi conquistada

REINO DOS FRANCOS Poitiers

Oceano Atlântico

ITÁLIA

ESPANHA

MAGREB

Roma

Mar do Aral Mar Negro

io ásp rC Ma

ARTE ISLÂMICA Devido à proibição de se reproduzir a imagem de Maomé, muitos artistas utilizaram a caligrafia para retratar o profeta visualmente

Constantinopla

ARMÊNIA

IMPÉRIO BIZANTINO Mar Mediterrâneo CHIPRE

TRIPOLITÂNIA

SÍRIA

Bagdá

PALESTINA

LÍBIA

ÍNDIA

Arábia na época de Maomé (622-632)

PÉRSIA

Primeiras conquistas (até 661)

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EGITO

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Conquistas dos omíadas (até 750)

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Oceano Índico

Limite máximo de penetração árabe na França (732)

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. XII

início do calendário árabe. Em Medina, Maomé tornou-se líder político, religioso e militar. Organizou um Exército e deu início a uma guerra – dita santa, a jihad – para tomar Meca e propagar a nova religião. Em 630, a cidade sagrada foi tomada; os ídolos da Caaba, destruídos; e os opositores, aniquilados. Ao morrer, dois anos depois, Maomé havia deixado as tribos árabes politicamente unificadas sob uma mesma religião.

O Império

Após a morte de Maomé, surgiram disputas sucessórias. Ali, primo do profeta e casado com uma de suas filhas, considerava que a sucessão deveria ser hereditária, enquanto os demais líderes defendiam a escolha entre os pares. Os partidários de Ali ficaram conhecidos como xiitas, e os demais, sunitas. De forma geral, os xiitas defendem uma interpretação mais ortodoxa do Alcorão. Já os sunitas, além do Alcorão, valorizam também a Suna, livro com os ditos e exemplos do profeta, que pode ser considerado a base moral do islamismo. As disputas de poder entre os sucessores colocava em risco a unidade política construída por Maomé. A ideia da expansão surgiu então como uma forma de manter a unidade política em torno de um projeto de conquistas territoriais, saques e propagação do islamismo. A expansão na direção do Ocidente resultou na conquista de todo o norte da África e da Península Ibérica. Ela só foi detida em 732, na Batalha de Poitiers,

A HISTÓRIA HOJE PRIMAVERA ÁRABE

As revoltas populares que varreram diversos países do Oriente Médio e do norte da África em 2011 ficaram conhecidas como Primavera Árabe. De modo geral, essas revoluções aconteceram em nações governadas por regimes autoritários e corruptos, incapazes de promover o bem-estar para uma população. Oprimido e sem perspectivas, o povo foi às ruas pedir democracia e justiça social. Essa onda de protestos teve consequências distintas em cada país. Líbia e Iêmen viram seus longevos ditadores caírem, mas mergulharam em um caos institucional. No Egito, a ditadura de Hosni Mubarak foi derrubada, mas o país voltou a ser chefiado por um militar em 2013, com a posse do general Abdel Fatah al-Sisi. Na Síria, o regime de Bashar al-Assad luta para permanecer no poder em meio a uma violenta guerra civil. Já a Tunísia é o país que melhor se saiu após as revoltas populares, ao redigir uma nova Constituição e realizar eleições livres.

pelo franco Carlos Martel, prefeito do palácio dos Merovíngios, que impôs uma barreira cristã ao avanço islâmico na Europa. A leste, as conquistas incorporaram a região da Mesopotâmia, Pérsia e parte da Índia. Com os califas da dinastia Abássida (750-1258), o império alcançou sua máxima extensão. A dinastia foi deposta em 1258, em Bagdá, pelos mongóis, guerreiros nômades vindos da Ásia. No século XV, os árabes perderam o controle da parte asiática do império para outra linhagem islâmica, os turcos-otomanos, e também a Península Ibérica para os cristãos espanhóis (1492), com a queda de Granada. Vale ressaltar, no entanto, que a decadência das dinastias árabes não coincidiu com a decadência do islamismo, que compensou as perdas no Ocidente com vitórias no Oriente. A tomada de Constantinopla dos cristãos em 1453, por exemplo, permitiu à religião manter uma importante área de influência. Apesar da desagregação do império, a tradição islâmica desempenhou papel fundamental. Encravada entre três continentes, essa tradição foi importante mediadora cultural entre Ásia, África e Europa. Esse fato explica a imensa riqueza e diversidade da cultura islâmica e a forma pela qual muitas conquistas tecnológicas e conhecimentos do Oriente – como os algarismos arábicos, o papel, a bússola, a pólvora, a luneta, a álgebra etc. – chegaram até a Europa no início da Era Moderna.

[1] REPRODUÇÃO/LOSTISLAMICHISTORY.COM

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IDADE MÉDIA REINO FRANCO CARLOS MAGNO Sob a sua liderança, o Reino Franco expandiu territórios, promoveu a cultura e a educação e resgatou a tradição do Império Romano

Magnos bárbaros

Império Carolíngio

Entre a derrocada de Roma e a instalação definitiva do feudalismo, os francos ergueram um sólido império

C

om o fim do Império Romano, surgiram inúmeros reinos bárbaros em sua antiga parte europeia. Um dos mais importantes foi o Reino Franco, que se formou no século V, ocupando a antiga província romana da Gália, atual França.

Dinastia Merovíngia

Em 482, Clóvis, líder de uma das várias tribos francas, unificou os grupos e se tornou o primeiro rei, fundando a dinastia Merovíngia (cujo nome deriva de seu avô, Meroveu). Clóvis empenhou-se em conquistar territórios e converteuse ao cristianismo, formalizando uma aliança com a Igreja Católica. Depois de sua morte, seus quatro filhos dividiram o reino entre si, enfraquecendo-o. Na época, a Europa vivia um processo de ruralização e descentralização do poder, com a formação do feudalismo (veja na pág. 31). Os monarcas que sucederam a dinastia Merovíngia ficaram conhecidos como reis indolentes, por demonstrar pouca habilidade política. O poder de fato passou a ser exercido por altos funcionários da corte, os prefeitos do palácio, denominados majordomus. O majordomus Carlos Martel ganhou prestígio com a vitória contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, em 732, que impediu o avanço islâmico sobre a Europa Ocidental. Depois de sua morte, seu filho, Pepino, o Breve, depôs o último monarca merovíngio, Childerico III, e, com o apoio da nobreza e do papa, tornou-se rei, iniciando a dinastia Carolíngia.

30 GE HISTÓRIA 2017

[1]

O IMPÉRIO CAROLÍNGIO Confira os domínios de Carlos Magno Império Carolíngio em 768 Conquistas de Carlos Magno (768-814) Territórios vassalos Império Bizantino Império Islâmico Estados da Igreja Mar Báltico

Mar do Norte

SAXÕES

BRITÂNIA

BOÊMIOS BRETANHA Oceano Atlântico

Paris

REINO DOS FRANCOS

MORÁVIOS

REINO DA ITÁLIA

CROATAS

Poitiers

REINO DAS ASTÚRIAS IMPÉRIO ISLÂMICO

MARCA DE ESPANHA

DUCADO DE BENEVENTO

Mar Mediterrâneo

O REPARTE DAS TERRAS

A porção que coube a cada filho de Luís, o Piedoso, em 843

BRITÂNIA

Paris REINO DE CARLOS, O CALVO

REINO DE LUÍS, O GERMÂNICO REINO DE LOTÁRIO ESTADOS DA IGREJA

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. XIII

O auge da dinastia ocorreu com o filho de Pepino, Carlos Magno. Ele adotou uma série de medidas visando a resgatar a tradição do Império Romano. Carlos Magno expandiu os territórios do reino e buscou reforçar a autoridade do poder central. Dividiu o império em unidades administrativas (condados e ducados), que delegava a vassalos, numa cerimônia de juramento de fidelidade. Adotou a prática de enviar emissários para fiscalizar seus domínios, criou leis escritas (capitulares) e buscou o reconhecimento da Igreja – em 800, ele foi coroado, pelo papa, imperador do Sacro Império Romano. Além de patrocinar o cristianismo e expandir o reino, Magno promoveu a cultura e a educação, impulsionando o Renascimento Carolíngio. Após sua morte, seus descendentes não conseguiram manter a unidade do império. As disputas entre eles acabaram resultando num acordo, o Tratado de Verdun, de 843, no qual o império fora dividido. No decorrer do século X, os últimos reis carolíngios foram depostos, e a dinastia, extinta. Entre todas as realizações de Carlos Magno, a que se revelou mais perene foi a relação de vassalagem. Com o fim da suserania do imperador, inúmeros senhores de terras passaram a replicar a relação suserano-vassalo, originando vários centros de autoridade e fragmentando o poder político na Europa. Essa foi uma das bases sobre a qual o feudalismo se constituiu. PARA IR ALÉM Rolando (2005) é uma versão em quadrinhos do mais famoso poema épico francês, A Canção de Rolando, escrito por Shane Amaya e ilustrado pelos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. A história narra o fim trágico e heroico de Rolando, sobrinho de Carlos Magno e comandante do Exército. A obra está fora de catálogo, mas é possível encontrá-la em sebos e sites especializados.


IDADE MÉDIA FEUDALISMO

A Europa de padres, senhores e servos Após a ruína dos Impérios Romano e Carolíngio, o sistema feudal reinou no Velho Mundo. Veja como foi esse processo e como era a vida nessa época

O

feudalismo foi o sistema político, social e econômico que predominou na Europa durante a Idade Média. Era marcado pela descentralização política, pela imobilidade social e pela autossuficiência econômica dos feudos – as unidades de produção da época. Começou a se desenvolver após a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, consolidou-se no século X, atingiu o auge no século XII e a partir do século XIII entrou em colapso.

Formação e economia

A partir do século V, com o enfraquecimento do Império Romano, a Europa passou a sofrer diversas invasões dos povos bárbaros, como os vândalos; os anglo-saxões, que desembarcaram na Inglaterra; e os lombardos, que se instalaram na Itália. Eles destruíram as instituições romanas, mas, com exceção dos francos (veja matéria na pág. 30), não conseguiram substituí-las por outro Estado forte. A tomada do controle do comércio no Mar Mediterrâneo pelos árabes, nos séculos VII e VIII, deixou os europeus ainda mais enfraquecidos. O clima de insegurança e instabilidade prosseguiu até o século IX, quando ocorreu uma nova onda de invasões, realizadas pelos húngaros magiares e pelos normandos (conhecidos como vikings). Como forma de defesa, os nobres construíram castelos que funcionavam como fortalezas, em torno dos quais a população pobre se instalou, buscando proteção. Essas propriedades ficaram cada vez mais

PACTO FEUDAL Na sociedade medieval, servos e camponeses usavam as terras dos senhores feudais em troca da prestação de serviços e do pagamento de tributos

[2]

isoladas umas das outras, o que criou a necessidade de produzir ali mesmo o que era preciso para sobreviver. A agricultura se tornou a atividade econômica mais importante. A produção era voltada para o consumo interno, e o comércio era quase nulo. Os donos das terras tornaram-se os grandes chefes políticos e militares. Era o início do feudalismo.

Política

A principal característica política do feudalismo era a descentralização do poder. O rei tinha pouca ou nenhuma autoridade e, em troca de ajuda militar, era comum que cedesse grandes porções de terra (os feudos) a membros da nobreza. Esse costume, o beneficium, se tornou hábito entre os nobres, e eles passaram a doar terras entre si. Numa cerimônia denominada homenagem, o proprietário que recebia o domínio – vassalo – prometia fidelidade e apoio militar ao doador – suserano. Este, por sua vez, jurava proteção ao vassalo. Essa obrigação recíproca, uma das características mais marcantes do feudalismo, teve origem nas tradições dos invasores germânicos, que praticavam o comitatus – fidelidade mútua entre chefes tribais e guerreiros. Outros costumes que influenciaram a ordem feudal vieram de Roma, como o colonato, que impunha a fixação do homem à terra e virou prática fundamental no regime da Europa medieval. Por essa dupla herança, pode-se dizer que o feudalismo é resultado dos mundos romano e germânico.

Sociedade

A sociedade feudal estava dividida basicamente em dois estamentos e três estados (também chamado ordens): o primeiro estamento era o dos proprietários, dividido em primeiro estado, formado pelo clero, e segundo estado, constituído pelos nobres. o segundo estamento era o dos trabalhadores, formado pelo terceiro estado, onde se encontravam os servos e outros camponeses. Os senhores feudais podiam pertencer tanto à nobreza quanto à Igreja. A posição que as pessoas ocupavam na sociedade (hierarquia) era determinada pelo nascimento, o que significa que a mobilidade entre os estamentos era impossível. Os servos não eram escravos, porque não pertenciam ao senhor – não podiam ser vendidos, por exemplo –, mas dependiam totalmente da estrutura que ele possuía. Em troca do direito de usar a terra, eles tinham de prestar serviços e pagar uma série de tributos. Entre as principais obrigações servis estavam a corveia, trabalho gratuito; a talha, porcentagem da produção dada ao senhor; e a banalidade, pagamento pela utilização de instrumentos ou benfeitorias do feudo. Além dos servos, havia, em menor número, outros tipos de trabalhador: os vilões, habitantes das vilas, trabalhadores livres ligados a um senhor; e os pequenos proprietários, que usavam mão de obra familiar.

[1] GERMANISCHES NATIONALMUSEUM, NUREMBERG, GERMANY [2] MUSEU CONDÉ /FRANÇA

GE HISTÓRIA 2017

31


IDADE MÉDIA FEUDALISMO AS PRINCIPAIS CRUZADAS Veja o trajeto das expedições mais importantes, quem as organizou e que resultados tiveram IRLANDA

SUÉCIA DINAMARCA

ESCÓCIA

LITUÂNIA

INGLATERRA RUS DE KIEV SACRO IMPÉRIO Boulogne POLÔNIA ROMANO Colônia Bayeux Rouen Verdun Ratisbona Oceano NORMANDIA Paris Metz Atlântico FRANÇA Vézeley Buda/Peste Dartmouth

Lyon

As Cruzadas

A partir do século XI, o sistema feudal começou a passar por intensas transformações. Se por um lado o fim das invasões bárbaras proporcionou uma maior estabilidade na Europa, por outro gerou um aumento populacional que comprometeu a autossuficiência dos feudos. Como havia mais homens para pouca terra, a população excedente foi expulsa em direção às cidades, que estavam praticamente abandonadas durante o auge do feudalismo. Esse era o cenário no início da Baixa Idade Média, quando a Igreja e os nobres europeus empreenderam uma série de expedições militares, entre os séculos XI e XIII, que ficaram conhecidas como Cruzadas. Formalmente, tinham um objetivo religioso: retomar a cidade de Jerusalém, considerada sagrada pelos cristãos, que fora dominada pelos turcos muçulmanos em 1071. A expansão da fé católica também era fundamental para a Igreja manter seu poder, que começava a ser contestado na Europa. Sem condições de sobreviver em um espaço onde não existia uma atividade econômica que a absorvesse, a população passou a questionar os conceitos pregados pela Igreja de que tudo na Terra era representação da vontade de Deus. Porém, várias outras motivações podem ser apontadas para a organização das expedições. A necessidade de escoar a população excedente e encontrar uma atividade que absorvesse esse excedente pode ser entendida como motivação social para o movimento cruzadista. Economicamente, as expedições abriam a possibilidade de expansão dos negócios a partir do restabelecimento de uma rota comercial com o Oriente a partir do Mar Mediterrâneo. Já do ponto de vista político, a conquista de novos territórios garantiria aos reis a possibilidade de aumentar seu poder em um período que as estruturas descentralizadas do feudalismo começavam a ruir.

32 GE HISTÓRIA 2017

LEÃO E CASTELA

Toulose

Veneza Turim Gênova Zara Pisa Marselha Roma

DOMÍNIO DOS ALMORÁVIDAS

DOMÍNIO DOS ALMORÁVIDAS

PRINCIPADOS NORMANDOS DOMÍNIO DOS HAMADITAS

HUNGRIA

Bari

Messina

Mar Negro Sofia Dyrrhachium IMPÉRIO BIZANTINO

Mar Mediterrâneo

Constantinopla Nicéia Antioquia

PRINCIPADO DE ANTIOQUIA Nicósia Trípoli CONDADO DE TRÍPOLI Limassol Beirute Acre REINO DE JERUSALÉM Jerusalém

Fronteiras políticas em 1097

1ª CRUZADA (1096-1099) Convocada pelo papa Urbano II e organizada por nobres cavaleiros, resultou na conquista da Terra Santa. Foram fundados quatro Estados cristãos no Oriente Médio: o Reino de Jerusalém, o Principado de Antioquia e os condados de Edessa e Trípoli.

Urfa CONDADO DE EDESSA

2ª CRUZADA (1147-1149) Como os turcos já se reorganizavam para reconquistar Jerusalém, o rei da França, Luís VII, e o do Sacro Império, Conrado III, lideraram uma nova expedição. Essa, porém, fracassou. A cidade acabou voltando para o domínio muçulmano.

3ª CRUZADA (1189-1192) A Cruzada dos Reis contou com os três principais soberanos da época: Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra; Felipe Augusto, da França; e Frederico I, o Barba Ruiva, do Sacro Império. Um acordo com o sultão Saladino liberou a peregrinação a Jerusalém.

4ª CRUZADA (1202-1204) Também é chamada de Cruzada Comercial, o que define bem seus objetivos. Financiada por Veneza, resultou num violento saque a Constantinopla, na tomada do controle do Mediterrâneo pela cidade italiana e no restabelecimento do comércio na região.

Fontes: Patricia Daniels e Stephen Hyslop, Atlas da História do Mundo, Abril, pág. 152; Antonio Pedro, História Antiga e Medieval, 1 ed., Moderna, pág. 329

Dessa forma, em 1095, o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, convocou as Cruzadas, prometendo a salvação para todos aqueles que lutassem e/ou morressem na “guerra santa” contra os pagãos – neste caso, os muçulmanos. Para a população, a oportunidade representava uma dupla vantagem: além de ter seus pecados perdoados, havia a possibilidade de, por meio de saques às cidades orientais, reduzir seus problemas econômicos. Entre 1096 e 1280 foram organizadas, oficialmente, nove Cruzadas (veja as principais no mapa acima). Entre as expedições, destaca-se a Quarta Cruzada, também chamada de Cruzada Comercial. Realizada entre 1202 e 1204, ela foi financiada por comerciantes de Veneza e tinha princípios diferentes dos das missões anteriores. O objetivo era a tomada de Constantinopla, que abrigava o principal porto comercial do Mar Mediterrâneo. A empreitada foi bem-sucedida com a conquista de Constantinopla e a reabertura da rota comercial entre o Oriente e o Ocidente. Anteriormente dominada pelos muçulmanos, ela passou ao controle dos comerciantes de Veneza.

Renascimento comercial e urbano

Com a reabertura do Mediterrâneo ao comércio, estabeleceram-se rotas ligando regiões produtoras – como Flandres (atualmente Bélgica e Holanda), famosa por sua lã – e as cidades portuárias italianas que controlavam o contato com o Oriente – Veneza e Gênova. Nos cruzamentos dessas novas rotas foram organizados centros de comércio temporários. Eram as feiras, que reuniam mercadores de diversas partes da Europa. Para se protegerem de assaltos, os mercadores passaram a se estabelecer ao redor de palácios e mosteiros, formando os burgos (de onde vem o termo burguês). Com o tempo, esses núcleos cresceram, e foram erguidas novas muralhas a seu redor. Constituíam-se, assim, as cidades. No entanto, por viverem em áreas ainda pertencentes aos feudos, os burgueses eram obrigados a pagar impostos aos senhores. A luta pela independência urbana ficou conhecida como movimento comunal, e a emancipação era garantida pelas cartas de franquia, documento que assegurava às cidades direitos como cobrar impostos e mon-


A HISTÓRIA HOJE FEUDOS CONTEMPORÂNEOS

tar milícia. Livres da tutela feudal, as novas cidades se organizaram em ligas (ou hansas), para agilizar o comércio e congregar interesses. A mais importante foi a Liga Teutônica (ou Hanseática). Dentro das cidades, os burgueses também se organizaram em corporações. As mais conhecidas foram as corporações de mercadores, ou guildas, que limitavam o comércio estrangeiro e controlavam os preços, e as corporações de ofício, que agrupavam artesãos – com o objetivo de impedir a concorrência de quem produzisse o mesmo artigo. Na hierarquia das corporações de ofício, os mestres eram os proprietários das oficinas e donos das ferramentas. Cabia-lhes estipular salários e normas de trabalho. Abaixo deles estavam os oficiais, trabalhadores especialistas remunerados, e, por último, os aprendizes, jovens que recebiam roupas, alimento e moradia em troca de trabalho.

Crise do feudalismo

Um dos primeiros sintomas da crise do sistema feudal foram as revoltas camponesas. A partir de 1358, começando pela região de Flandres, espalharam-se pela Europa. A causa principal foi a queda da produtividade da agricultura entre os séculos XI e XIV, que, junto com o crescimento da população e a resistência da nobreza em reduzir a parte do excedente que lhe cabia, provocou a fome entre os camponeses. Na França, receberam o nome de jacquerie. Castelos foram queimados, e nobres, assassinados. A nobreza contra-atacou, executando mais de 20 mil pessoas. Sublevações também ocorreram na Inglaterra e no norte da Itália. Além das revoltas, a peste negra chegou à Europa em 1347 pelo porto de Gênova. A epidemia, altamente infecciosa, foi transmitida ao homem pela pulga do rato (o que não se sabia na época). Espalhou-se com grande velocidade e provocou a morte de quase metade da população europeia.

Recentemente tem se reforçado uma tendência que é a condominização da vida urbana. A formação de núcleos habitacionais murados no interior da metrópole tem exercido grande apelo, pois mecanismos de controle de entrada e saída de pessoas parecem oferecer uma maior segurança aos moradores. A busca da segurança foi um dos fatores principais que levou os comerciantes que se reuniam nos cruzamentos de rotas de comércio na Baixa Idade Média a murar a área que ocupavam. Esse processo deu origem a vários burgos, ou cidades, e foi a base do Renascimento Comercial e Urbano na Baixa Idade Média. Apesar dos diferentes contextos, nos dois casos há o reconhecimento de que não há poder externo suficientemente organizado e eficaz na garantia da segurança no contexto da vida urbana.

Além desses fatores, a guerra também atingiu a Europa nesse período. A pretensão do rei inglês Eduardo III de disputar a sucessão do trono francês provocou a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. No decorrer do conflito, destaca-se a camponesa mística Joana d’Arc (1412-1431), que alegava receber mensagens divinas desde criança. Sob sua inspiração, as tropas francesas conquistaram importantes vitórias, e ela se tornou heroína nacional. Capturada pelos ingleses, Joana d’Arc foi acusada de bruxaria e condenada a morrer na fogueira, vítima da Inquisição. A guerra terminou em 1453, quando a França recuperou todas as possessões sob o domínio inglês, venceu a guerra e, assim, preservou sua soberania nacional. As principais consequências da crise feudal foram o enfraquecimento da nobreza e a flexibilização das relações de servidão. Depois do conflito, muito do poder associado à nobreza foi transferido aos reis, fragilizando as relações feudo-vassálicas e praticamente pondo fim ao sistema feudal.

SAIU NA IMPRENSA EM PLENO SÉCULO 21, EUA CONVIVEM COM A PESTE, QUE MATOU MILHÕES NA IDADE MÉDIA Os Estados Unidos levaram o homem à Lua há quase 50 anos, mas americanos ainda morrem de uma doença que arrasou a Europa na Idade Média. Por que isso ocorre? A chamada peste negra causou cerca de 50 milhões de mortes na África, Ásia e Europa no século 14. A epidemia dizimou metade da população europeia. (...) Até o momento há registros de 15 casos no país em 2015, com quatro mortes – ante uma média de sete casos por ano neste século, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças do governo americano. A bactéria responsável pela doença – Yersinia pestis – entrou nos EUA em 1900, por meio de barcos a vapor infestados de ratos, de acordo com Daniel Epstein, da Organização Mundial da Saúde (OMS). “A praga era bastante presente (nos EUA), com epidemias em cidades portuárias da costa oeste. Mas o último surto urbano da praga foi em Los Angeles em 1925. Daí se espalhou por meio de ratos do campo, e assim se entrincheirou em partes do país”, afirma Epstein. (...) “O conselho é se precaver contra mordidas de pulgas e não manusear carcaças de animais em áreas endêmicas da praga”, diz Epstein. (...) “O cão-da-pradaria (mamífero roedor) é o principal meio de transmissão da praga, e ele se concentra a oeste do meridiano 100”, diz Adalja [especialista em doenças infecciosas da Universidade de Pittsburgh]. A geografia e o clima do oeste dos EUA favorecem a presença desses roedores, e como eles são “animais sociais”, acabam contribuindo na proliferação de pulgas infectadas. (...) BBC Brasil, 15/10/2015

GE HISTÓRIA 2017

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IDADE MÉDIA LINHA DO TEMPO

Idade Média Veja os acontecimentos mais importantes da Idade Média, que vai de 476 a 1453. Os fatos que têm indicação de páginas (remissões) correspondem aos assuntos que mais caem no vestibular [2]

[1]

482

732

Clovis I unifica as tribos francas e conquista Gália, o que dá origem ao Reino Franco, o mais poderoso da Europa Ocidental no período. Pág. 30 500

As tropas do majordomus Carlos Martel, do Reino Franco, derrota os muçulmanos na Batalha de Poitiers, que impõe uma barreira cristã ao avanço islâmico na Europa. Pág. 30

620

560

680

740

843

850

Disputas e guerras sucessórias entre os netos de Carlos Magno resultam no Tratado de Verdum, que divide o Império Carolíngio em três reinos. Pág. 30

Colapso da civilização maia Com os frequentes conflitos, as mudanças climáticas e o esgotamento das terras cultiváveis, a civilização maia começa a entrar em colapso. Pág. 14

800

860

570

873

Nasce Maomé, na cidade de Meca, que se tornaria o profeta da religião islâmica e unificaria as tribos árabes sob um poderoso império. Pág. 28

Matemáticos árabes inventam o conceito do número zero, que representa papel fundamental no sistema de numeração

920

980

[3]

527

[4]

630

Com a coroação de Justiniano, o Império Bizantino começa a viver seu auge. O imperador reconquista territórios bárbaros no Ocidente (veja o mapa abaixo), estimula as artes e elabora o Código de Justiniano, que revisa e atualiza o direito romano. Ao fim de seu governo, em 565, o império começa a decair. Em 1204, a capital, Constantinopla, é conquistada pelos cruzados, e o restante do império é repartido entre príncipes feudais. Em 1453, a cidade é subjugada pelos turcos.

Um exército de 10 mil homens liderados por Maomé conquista a cidade sagrada de Meca para propagar o islamismo. Surge o Império Árabe, que se expandiu por três continentes em apenas 100 anos. Pág. 28

O IMPÉRIO BIZANTINO REINO DOS OSTROGODOS

Roma

Oceano Atlântico

Mar Negro

Constantinopla

REINO DOS VÂNDALOS Mar Mediterrâneo

Início do reinado de Justiniano (527-565) Conquistas de Justiniano Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. XII

34 GE HISTÓRIA 2017

Mar Vermelho

[5]

962 O papa João XII nomeia Otto I imperador do Sacro Império Romano-Germânico, numa tentativa de conter os ataques húngaros à Europa cristã. Seus domínios abrangem porções das atuais França, Holanda, Suíça, Alemanha, Áustria e Polônia. Acentua-se a corrupção, e a Igreja Católica torna-se mais suscetível ao poder político, promovendo a venda de cargos eclesiásticos (simonia).


987 Após a morte de Luís V, último rei da dinastia Carolíngia, nobres franceses elegem Hugo Capeto, conde de Paris, soberano da França. Inicia-se o processo de formação da monarquia francesa.

1040

[6]

[7]

1206

1231

1281

Gêngis Khan unifica tribos da Ásia Central (atual Mongólia) e inicia o Império Mongol, que se estende da China até as cercanias da Hungria. Suas conquistas são consolidadas pelo neto Kublai Khan, que funda na China a dinastia Yuan. Ele impulsiona o comércio com a Europa. Em 1368, os mongóis são expulsos da China pela dinastia Ming. O Império Mongol se desagrega no século XIV.

O papa Gregório IX aumenta a repressão ao fundar a Inquisição, tribunal da Igreja instituído para capturar, julgar e punir os acusados de heresia. Pág. 26

O sultão Otman I funda o Império TurcoOtomano. No século XVI, o império vive seu auge, ocupando o norte da África, a região do Mar Vermelho e a faixa do Golfo Pérsico até a Hungria. A partir do século XVII, a retração econômica dá início à decadência, mas o sultanato só é abolido após a derrota na I Guerra Mundial (1914-1918).

1100

1160

1220

1280

1054

1215

A Igreja Oriental (Igreja Cristã Ortodoxa Grega) e a Igreja Ocidental (Igreja Católica Apostólica Romana) rompem entre si, no Cisma do Oriente.

Sob a imposição dos senhores feudais saxões e de bispos ingleses, o rei inglês João I assina a Magna Carta, que limita os poderes da monarquia. Pág. 44

1340

1400

1453

1460

[9]

1347 1095

1337

Para refazer a unidade cristã, abalada pelo Cisma do Oriente, o papa Urbano II convoca as Cruzadas, expedições militares contra o mundo árabe. Pág. 32

A pretensão do rei inglês Eduardo III de disputar a sucessão do trono francês é o estopim da Guerra dos Cem Anos, que opõe França e Inglaterra. Pág. 33

[8]

SÉCULO XII O feudalismo chega ao auge na Europa. Pág. 31

Levada por um navio proveniente do Mar Negro, a peste negra chega à Europa pelo porto de Gênova. A epidemia, altamente infecciosa, é transmitida ao homem pela pulga do rato (o que não se sabia na época). Espalha-se com grande velocidade e provoca a morte de cerca de um terço da população europeia. Pág. 33

1453

[10] [1] PALÁCIO DE VERSALHES/FRANÇA [2] MUSEU NACIONAL DE ANTROPOLOGIA DA CIDADE DO MÉXICO [3] [5] [6] [10] REPRODUÇÃO [4] MUSEU DO LOUVRE/FRANÇA [7] DIVULGAÇÃO [8] BNF/FRANÇA [9] BIBLIOTECA REAL DA BÉLGICA

A tomada de Constantinopla – então sede do Império Bizantino – pelo Império TurcoOtomano marca o fim da Idade Média e início da Idade Moderna. GE HISTÓRIA 2017

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COMO CAI NA PROVA

1. (UNICAMP 2016) Reproduz-se, abaixo, trecho de um sermão

do bispo Cesário de Arles (470-542), dirigido a uma paróquia rural. “Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível, pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?” Fonte: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=co_content&view=article&id=1397:sao-cesariode-arles-sermao-13-parauma-paroquia-rural&catid=28: outros-artigos&Itemid=285

A partir desse sermão, escrito no sul da atual França, é correto afirmar que: a) A Igreja Católica assumia funções espirituais e deixava à nobreza o cuidado da saúde dos camponeses, através de ordens religiosas e militares. b) O cristianismo tinha penetrado em todas as categorias sociais e era interpretado da mesma forma através da autoridade dos bispos. c) Práticas consideradas menos ortodoxas por Cesário de Arles ainda encontravam espaço em setores da sociedade e a elite da Igreja tentava se afirmar como o único acesso ao sagrado. d) O avanço do materialismo estava afastando da Igreja os camponeses, que, com isto, deixavam de pagar os dízimos eclesiásticos.

indivíduos não combatentes, como mercadores, artesãos, mulheres e crianças, motivados pela fé. d) iniciativas militares, cujos recursos materiais para sustentar os cruzados provinham da Igreja Católica, única interessada na reconquista da região. e) possibilidades para escapar das dívidas e dos pagamentos dos tributos à Igreja e aos senhores feudais, já que o cruzado, ao participar dessas expedições, conseguia uma moratória estendida para toda sua vida. RESOLUÇÃO

A questão aponta para o fato de o aspecto religioso, a reconquista da Terra Santa, em mãos dos muçulmanos, ter sido o principal fator para as Cruzadas e para o fato de que os participantes dos movimentos, pecadores ou criminosos, poderiam obter o perdão de seus erros caso participassem da guerra santa cristã. De forma geral, as Cruzadas podem ser definidas como expedições militares, lideradas pela nobreza e apoiadas pela Igreja Católica. Para a nobreza e para alguns reis, a conquista de territórios no Oriente significaria a possibilidade de aumento de seu poder político. Já para a Igreja, o sucesso do empreendimento garantiria a manutenção de seu poder na região, ameaçado pela expansão muçulmana, e a garantia de seu prestígio na Europa, onde se iniciava a crise do feudalismo, levando seu domínio a ser contestado. Resposta: B

RESOLUÇÃO

A cidade de Arles, atualmente uma comuna francesa, situava-se na chamada Gália Meridional do Império Romano, que havia sido recém-conquistada pelos “bárbaros” germânicos no contexto expresso no texto (final do século V, início do século VI). Por ter sido a única instituição a ter sobrevivido à crise do Império Romano, havia um desejo da Igreja Católica de evitar que padrões religiosos não católicos (pagãos) fossem difundidos junto à população por ela dominada. Essas práticas, normalmente resquícios de cultos locais ou trazidas pelos invasores germânicos, ameaçavam a supremacia católica no continente. Por isso a necessidade do catolicismo de homogeneizar as práticas religiosas e se mostrar como única alternativa para o “acesso ao sagrado”. Resposta: C

2. (MACKENZIE 2015) As Cruzadas, durante a Idade Média, repre-

sentaram uma forma de solução para os problemas decorrentes do início da desestruturação do regime feudal. A expressão “Cruzada” “derivou-se do fato de seus integrantes considerarem-se soldados de Cristo”. Tais expedições constituíram-se em a) empreendimentos de caráter militar, voltadas contra os inimigos da Cristandade, sem o apoio formal da Igreja Católica, mas patrocinadas por nobres feudais, que garantiam privilégios materiais aos participantes. b) oportunidades oferecidas em uma sociedade fortemente religiosa, mais clerical do que civil, em que o pecado e o crime equivaliam à mesma coisa, ou seja, de o cruzado obter a indulgência, ou perdão aos seus pecados. c) movimentos nos quais tanto a iniciativa de lutar contra os infiéis quanto a de reconquistar a Terra Santa partia de muitos

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3. (FUVEST 2016) Assim como o camponês, o mercador está a princípio submetido, na sua atividade profissional, ao tempo meteorológico, ao ciclo das estações, à imprevisibilidade das intempéries e dos cataclismos naturais. Como, durante muito tempo, não houve nesse domínio senão necessidade de submissão à ordem da natureza e de Deus, o mercador só teve como meio de ação as preces e as práticas supersticiosas. Mas, quando se organiza uma rede comercial, o tempo se torna objeto de medida. A duração de uma viagem por mar ou por terra, ou de um lugar para outro, o problema dos preços que, no curso de uma mesma operação comercial, mais ainda quando o circuito se complica, sobem ou descem – tudo isso se impõe cada vez mais à sua atenção. Mudança também importante: o mercador descobre o preço do tempo no mesmo momento em que ele explora o espaço, pois para ele a duração essencial é aquela de um trajeto. Fonte: Jacques Le Goff. Para uma Outra Idade Média. Petrópolis: Vozes, 2013. Adaptado.

O texto associa a mudança da percepção do tempo pelos mercadores medievais ao a) respeito estrito aos princípios do livre-comércio, que determinavam a obediência às regras internacionais de circulação de mercadorias. b) crescimento das relações mercantis, que passaram a envolver territórios mais amplos e distâncias mais longas. c) aumento da navegação oceânica, que permitiu o estabelecimento de relações comerciais regulares com a América. d) avanço das superstições na Europa ocidental, que se difundiram a partir de contatos com povos do leste desse continente e da Ásia. e) aparecimento dos relógios, que foram inventados para calcular a duração das viagens ultramarinas.


RESUMO

RESOLUÇÃO

A interpretação do texto aponta para o Renascimento Comercial e Urbano, durante a Baixa Idade Média, quando ocorre um aumento das atividades mercantis graças aos efeitos do movimento cruzadístico. De acordo com o excerto, o cálculo do tempo para percorrer determinadas distâncias, ampliadas pela atividade comercial, garantia aos mercadores um controle e um planejamento mais eficientes de sua atividade. Pode-se concluir que, para esses mercadores, tempo era, também, dinheiro. Resposta: B

Idade Média

4. (ENEM 2015) CALENDÁRIO MEDIEVAL, SÉCULO XV.

FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA Os principais filósofos do período foram ideólogos católicos: Santo Agostinho, durante a Alta Idade Média, afirmava que a fé superava a razão, retomando Platão; São Tomás de Aquino buscou conciliar a fé cristã com o racionalismo da filosofia grega, no período de crise do feudalismo (Baixa Idade Média) e promoveu a cristianização do pensamento de Aristóteles.

O PODER DA IGREJA Quando o cristianismo foi transformado em religião oficial do Império Romano, em 391, a Igreja passou a acumular fortunas e vastos territórios, além de monopolizar o conhecimento. Para aumentar seu poder, a Igreja usou o pretexto do combate às heresias (práticas contrárias à sua doutrina). O maior símbolo da repressão foi a Inquisição, que julgava e condenava os hereges.

IMPÉRIO ÁRABE A construção desse império só foi possível depois que o islamismo uniu politicamente as várias tribos da Península Arábica. Com a morte do líder religioso Maomé, no século VII, o poder passou para a mão dos califas. Os árabes conquistaram vastos territórios, onde permaneceram por séculos. No século XIII, conflitos políticos e religiosos enfraqueceram o império. A partir daí, os mongóis ocuparam Bagdá (1258), e os espanhóis reconquistaram a Península Ibérica (1492).

Fonte: http://www.ac-grenoble.fr

Os calendários são fontes históricas importantes, na medida em que expressam a concepção de tempo das sociedades. Essas imagens compõem um calendário medieval (1460-1475) e cada uma delas representa um mês, de janeiro a dezembro. Com base na análise do calendário, apreende-se uma concepção de tempo a) cíclica, marcada pelo mito arcaico do eterno retorno. b) humanista, identificada pelo controle das horas de atividade por parte do trabalhador. c) escatológica, associada a uma visão religiosa sobre o trabalho. d) natural, expressa pelo trabalho realizado de acordo com as estações do ano. e) romântica, definida por uma visão bucólica da sociedade. RESOLUÇÃO

Durante a Idade Média as atividades produtivas e sociais, de uma forma geral, estavam diretamente ligadas às condições climáticas, já que a Europa apresentava estações bem definidas. Em uma questão com as características do Enem, que por vezes exigem apenas uma atenta observação do enunciado e/ou das imagens, o candidato poderia notar como cada mês do calendário está relacionado à execução de algum tipo de trabalho – neste caso, a única que menciona alguma atividade produtiva é a alternativa D. Resposta: D

REINO FRANCO O Reino Franco foi o mais estável e duradouro entre os reinos bárbaros. Formou-se no século V, quando os francos conquistaram a Gália, atual França. Na dinastia Merovíngia, o rei Clóvis uniu os francos, antes divididos em tribos. O apogeu veio durante o Império Carolíngio, no reinado de Carlos Magno, coroado imperador pelo papa. Mais tarde, guerras sucessórias fragilizaram o império e fortaleceram a nobreza local, resultando na consolidação do feudalismo na Europa. FEUDALISMO Esse foi o principal sistema político, econômico e social na Europa medieval. A sociedade tinha pouca mobilidade e estava dividida em dois estamentos (proprietários e trabalhadores) e três estados ou ordens (clero, nobreza e campesinato). O poder era descentralizado, e as relações sociais eram norteadas pelas relações de vassalagem e suseriania, nas quais o suserano doava terras ao vassalo em troca de fidelidade e apoio militar. O feudalismo entrou em colapso no século XIII, dando lugar ao capitalismo. CRUZADAS Foram expedições organizadas pela Igreja para reconquistar a Terra Santa (Jerusalém). Suas principais motivações foram a necessidade de restabelecer o comércio com o Oriente e de obter novas terras para elevar a produção agrícola e dar conta do aumento populacional. As nove Cruzadas oficiais se estenderam até o século XIII. A reabertura do Mediterrâneo ao comércio contribuiu para a formação das cidades e foi decisiva para que o feudalismo fosse substituído pelo capitalismo.

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3

IDADE MODERNA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

Renascimento ...................................................................................................40 Reforma religiosa ............................................................................................42 Absolutismo e mercantilismo ......................................................................44 Expansão marítima e colonização da América .....................................46 Revoluções inglesas do século XVII ...........................................................48 Liberalismo e Iluminismo .............................................................................49 Linha do tempo ................................................................................................51 Como cai na prova + Resumo .......................................................................52

Sem perder a majestade A rainha Elizabeth II é a monarca que está há mais tempo no trono do Reino Unido, ainda que a função já não concentre o poder de outras épocas

N

o dia 9 de setembro de 2015, a rainha Elizabeth II alcançou uma marca histórica: ao ultrapassar os 63 anos e 216 dias de reinado, ela tornou-se a monarca que há mais tempo ocupa o trono britânico. Dessa forma, Elizabeth superou sua tataravó, a rainha Vitória, que esteve à frente do país entre 1837 e 1901. Mas os reinados das duas monarcas são pontuados por alguns contrastes em relação ao exercício do poder. A rainha Vitória comandou o país durante o auge do Império Britânico, quando os ingleses ocupavam territórios em todos os continentes. Seu comando foi tão influente que chegou a definir uma época – a Era Vitoriana. Elizabeth II assumiu a coroa em 6 de fevereiro de 1952, quando tinha apenas 25 anos. O período é marcado pelo declínio da influência britânica no mundo. Com os processos de independência nos anos 1950 e 1960, a abrangência do reinado de Elizabeth II reduziu-se e alcança, além do Reino Unido, outras 15 nações, todas ex-colônias britânicas. Ainda assim, ser rainha de países como Canadá, Austrália e Nova Zelândia é ter muito poder, não? Nem tanto. É que esse papel já não tem a influência de outras épocas. Desde a Revolução Gloriosa e a promulgação da Declaração de Direitos, em 1688, o poder absoluto do rei na Inglaterra foi substituído por uma monar-

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quia constitucional, onde é o Parlamento e o primeiro-ministro que concentram o poder de fato e tomam as principais decisões políticas. À monarca, cabe seguir as recomendações das Casas legislativas de cada nação sob o seu reinado e exercer funções meramente protocolares e institucionais, como participar de cerimoniais. Por causa desse papel restrito da rainha nos dias atuais, a extinção da monarquia é um tema em constante debate no Reino Unido – afinal, são os contribuintes britânicos que arcam com os elevados custos para manter todo o luxo e a pompa da realeza britânica. Mesmo com a polêmica, a maior parte da população ainda se mostra satisfeita com a atual monarquia e o prestígio que ela traz ao país. Neste capítulo, você será levado de volta à Idade Moderna, uma época em que os monarcas europeus concentravam o poder absoluto, exercendo forte con- LONGO REINADO trole político, econô- A rainha Elizabeth II em mico e militar sobre cerimônia na Escócia, em seus territórios – pa- setembro de 2015, quando pel bem diferente do se tornou a monarca que exercido atualmente ocupa o trono britânico há pela rainha Elizabeth mais tempo, superando a II no Reino Unido. rainha Vitória


ANDREW MILLIGAN /WPA POOL/GETTY IMAGES

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IDADE MODERNA RENASCIMENTO

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Explosão cultural Muitas das mais famosas obras de arte da história foram produzidas na Itália, entre 1300 e 1600. Saiba por que e confira como essas criações nos ajudam a entender o espírito da época

O

Renascimento foi o movimento intelectual e artístico que ocorreu entre o século XIV e o XVI na Europa. Representou a nova visão de mundo da sociedade que se formava após o desenvolvimento comercial e urbano iniciado no fim da Idade Média. Se na estática estrutura social dos feudos valia a força da coletividade e a submissão aos desígnios de Deus, no ambiente dinâmico das cidades modernas valorizavam-se o indivíduo e seu imenso potencial de autoaperfeiçoamento e criação.

Características

O elemento central do Renascimento foi o humanismo, corrente filosófica que se baseava no antropocentrismo, ou

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seja, considerava o ser humano o centro das questões. Para os humanistas, o homem é dotado de uma capacidade quase divina de criar, e, ao exercê-la, aproxima-se de Deus. Ao proporem a superação dos ideais medievais – segundo os quais Deus era o centro de tudo e a fé se sobrepunha à razão – e se inspirarem em pensadores da Antiguidade Clássica, os humanistas julgavam estar promovendo um renascimento daquela cultura – daí o nome pelo qual batizaram o período em que viveram. Outras características fundamentais do Renascimento foram o naturalismo, a busca por uma representação da natureza fiel à realidade; o racionalismo, valorização da razão; e o hedonismo,

que defende o prazer individual como único bem possível. Com base nesses elementos, os renascentistas passaram a utilizar com mais frequência os estudos científicos em suas produções artísticas e culturais. Muitos pintores e escultores incorporaram estudos de matemática (perspectiva, ponto de fuga) e de anatomia em suas criações.

Na Itália

Intrinsecamente ligado ao desenvolvimento comercial e urbano, o Renascimento surgiu e atingiu o ápice na região da Europa onde essas transformações ocorreram antes e de maneira mais intensa: as cidades italianas. Foi lá que apareceram os primeiros burgueses endinheirados dispostos a patrocinar artistas e cientistas: os mecenas – como os Médici, de Florença. De fato, o Renascimento foi um movimento essencialmente elitista, pois só existia para a alta burguesia e para a nobreza. A Renascença italiana costuma ser dividida em três fases: o Trecento (século XIV), o Quattrocento (século XV) e o Cinquecento (século XVI):


ANTROPOCENTRISMO A tela Primavera, de Sandro Botticelli, é uma das principais obras do movimento renascentista, que colocou o ser humano no centro das ações

SAIBA MAIS CRIADORES E CRIATURAS

Saiba mais sobre alguns dos maiores artistas italianos do Renascimento e entenda como suas obras expressam os valores do movimento

MICHELANGELO BUONARROTI (1475-1564)

Trecento Foi o período em que se começou a romper com os modelos artísticos da Idade Média. Na pintura, destacou-se Giotto di Bondoni, que representava imagens sacras já com forte traço naturalista. Na literatura, os maiores nomes foram Dante Alighieri (A Divina Comédia), Francesco Petrarca (Africa) e Giovani Boccaccio (Decameron). Os três usavam, em vez do latim, identificado com a cultura eclesiástica medieval, o toscano, dialeto que originou o atual italiano. Quattrocento Caracterizou-se por intensa produção artística e extrema evolução intelectual. Foi quando, graças ao financiamento dos mecenas, os artistas começaram a deixar de ser encarados como simples artesãos para se tornarem profissionais independentes. Entre os artistas que mais se destacaram no período estão Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli (veja o boxe ao lado). Cinquecento No século XVI, Roma substituiu Florença como principal centro de arte na Itália, e a Igreja Católica tornou-se o grande mecenas do período. Michelangelo e Rafael Sanzio, dois dos maiores artistas plásticos do Cinquecento, produziram importantes obras para a Sé. Na literatura, destacam-se autores como Ariosto, Torquato Tasso e Maquiavel. Este último, o mais importante pensador político do período, é o autor de O Príncipe, ensaio sobre a arte de bem governar, que defende a falta de escrúpulos, o uso da força e a diminuição da atuação política da Igreja. Foi também no século XVI que viveram os grandes cientistas do Renascimento: o polonês Nicolau Copérnico, o alemão Johannes Kepler e os italianos Giordano

Projetou a cúpula da Basílica de São Pedro e decorou a Capela Sistina (ambas no Vaticano) com algumas das mais conhecidas pinturas renascentistas, como A Criação de Adão. Mas foi na escultura que Michelangelo atingiu o auge. Davi, uma de suas principais criações, diz muito sobre o que foi o Renascimento: além de exibir contornos precisos, a imponente escultura de 5 metros exprime a força e a confiança do ser humano.

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SANDRO BOTTICELLI (1445-1510)

Assim como Michelangelo, Botticelli foi um dos artistas financiados pelos Médici e também participou da decoração da Capela Sistina. Parte de uma série de criações que representavam mitos greco-romanos, O Nascimento de Vênus é uma de suas telas mais famosas. Representa um rompimento com a tradição medieval, pois, em vez de retratar personagens estáticos, enfatiza a liberdade de movimentos do corpo, em perfeita sintonia com o dinamismo renascentista.

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LEONARDO DA VINCI (1452-1519)

Pintor, arquiteto, botânico, cartógrafo, engenheiro, escultor, físico, geólogo, químico e inventor, entre outras ocupações, Da Vinci era o típico humanista, adquirindo e produzindo conhecimento em diversas áreas. Como a famosa Mona Lisa, o Homem Vitruviano, uma de suas mais conhecidas obras, é um belo exemplar do espírito do Renascimento: trata-se de um estudo anatômico que busca representar com perfeição matemática a beleza e a simetria do corpo humano.

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Bruno e Galileu Galilei, todos astrônomos defensores da teoria heliocêntrica, que rompeu com a Igreja ao afirmar que o Sol, e não a Terra, seria o centro do Universo. Esses pensadores foram os primeiros a utilizar o método científico – série rigorosa de testes que pretende garantir a veracidade das teorias.

Difusão

Seguindo pelas rotas comerciais, o Renascimento chegou a outras partes da Europa. Os Países Baixos destacaram-se na pintura, com Brueghel e os irmãos Hubert e Jan van Eyck. Na Inglaterra surgiu outro expoente do humanismo, Thomas Morus (Utopia), e um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, William Shakespe-

are (Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta). Entre os franceses, os mais notáveis foram os escritores Rabelais (Gargantua e Pantagruel) e Montaigne (Ensaios). A Península Ibérica não incorporou O QUE ISSO completamente TEM A VER COM os valores renas- PORTUGUÊS centistas, mas Luís Vaz de Camões também produziu é o maior nome célebres escritores português do Classicismo, a no período, como estética literária o português Luís do Renascimento de Camões (Os que resgata a Lusíadas) e o es- Antiguidade. Para panhol Miguel de saber mais veja o GUIA DO ESTUDANTE Cervantes (Dom PORTUGUÊS. Quixote).

[1] [3] DIVULGAÇÃO/GALERIA DOS OFÍCIOS/FLORENÇA [2] DIVULGAÇÃO/CASA BUONARROTI [4] DIVULGAÇÃO

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IDADE MODERNA REFORMA RELIGIOSA

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Novos tempos, novas crenças Com as mudanças políticas e econômicas na Europa, alguns religiosos também resolveram revolucionar a fé

E

m meados do século XVI, desencadeou-se na Europa um movimento de caráter religioso, político e econômico que contestava a estrutura e os dogmas da Igreja Católica: a Reforma Protestante. Ocorrida paralelamente ao Renascimento e à formação das monarquias nacionais europeias, ela expressou a necessidade de adequação da religião às transformações decorrentes do desenvolvimento do capitalismo.

Antecedentes

No fim da Idade Média, a Europa convivia com um constante medo dos castigos reservados aos pecadores no inferno. Quem estimulava essa tensão era a própria Igreja, que enriquecia com

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a venda de indulgências (perdão dos pecados). A prática financiava o luxo do alto clero, mas provocava descontentamento dentro da instituição. A incipiente burguesia também estava insatisfeita. Ao proibir a usura – empréstimo de dinheiro a juros – e o lucro excessivo (decorrente da venda por um preço superior ao “preço justo”), a doutrina católica freava o desenvolvimento das atividades bancárias e comerciais, prejudicando a alma do negócio burguês. Paralelamente, com a formação das monarquias nacionais e o estabelecimento de fronteiras, a Igreja, grande proprietária de terras, passou a ser considerada potência estrangeira, o que estimulou conflitos entre reis e o papa. Nesse contexto, começaram a surgir importantes críticos da Igreja Católica: John Wycliffe, no século XIV, na Inglaterra, e Jan Huss, no século XV, na Boêmia (região do Sacro Império Romano-Germânico), são considerados precursores da Reforma, já que condenavam a venda de indulgências, a opulência do clero e defendiam o confisco dos bens da Igreja.

A reforma de Lutero

Em 1517, indignado com a venda de indulgências, o monge alemão Martinho Lutero afixou na porta da igreja em que pregava 95 teses, nas quais condenava várias práticas da Igreja. Após negar as exigências de retratação do papa, Lutero foi excomungado, tendo queimado publicamente a bula – documento papal que o condenou. Sua doutrina, elaborada no exílio na Saxônia, tinha como base os princípios de predestinação, de Santo Agostinho. Segundo Lutero, a única saída para a salvação é a fé, não havendo necessidade de intermediários entre o homem e Deus – papel dos sacerdotes no catolicismo. Além da extinção do clero regular, ele defendia a livre leitura e interpretação da Bíblia pelos fiéis e a submissão da Igreja ao Estado. Suas ideias ofereciam uma justificativa para a nobreza germânica, que desejava se ver livre da interferência política da Igreja nos principados do Sacro Império. Com a pressão do Vaticano, em 1521, o imperador Carlos V convocou uma assembleia, a Dieta


ROMPIMENTO Ilustração mostra Martinho Lutero divulgando suas 95 teses que condenam as práticas da Igreja, em atitude que provocou a ira do papa

REBELDES DA FÉ Veja onde agiram os principais personagens da Reforma Mar do HENRIQUE VIII Norte INGLATERRA

A reforma de Calvino

A primeira tentativa de reforma na Suíça se deu com Ulrich Zwinglio, luterano que propôs uma doutrina mais radical. A briga entre protestantes e católicos desencadeou uma guerra civil entre 1529 e 1531. A Paz de Kappel determinou a autonomia religiosa para cada região do país. Alguns anos depois, chegou a Genebra o religioso francês João Calvino, que reconhecia os princípios da predestinação – segundo a qual apenas alguns homens estão destinados à salvação – e da justificação pela fé. No entanto, pregava que as atividades comerciais e financeiras eram vistas com bons olhos por Deus e, portanto, em vez de condená-las, as

PRÚSSIA

BRANDEBURGO LUTERO

POLÔNIA

SAXÔNIA

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BOÊMIA

Paris FRANÇA

de Worms, que condenou Lutero por heresia. Porém, o monge continuou atraindo a simpatia dos nobres. Oito anos mais tarde, na Dieta de Spira, propôs-se tolerar o luteranismo onde já tivesse sido instalado, mas impedir sua propagação. Alguns principados protestaram, o que deu origem ao nome protestantismo. Em 1555 foi firmada a Paz de Augsburgo, que estabelecia a liberdade religiosa para os príncipes, cuja fé deveria ser adotada pelos súditos, consolidando a vitória do luteranismo. Além da Alemanha, o luteranismo se difundiu pela Suécia, Noruega e Dinamarca. As pregações de Lutero estimularam movimentos que difundiam transformações mais radicais na sociedade. Em 1524 ocorreu a revolta camponesa dos anabatistas – nome pelo qual eram conhecidos os membros do grupo liderado pelo luterano Thomas Münzer, que defendia de forma violenta o fim da propriedade privada e a distribuição igualitária das riquezas. Lutero ficou do lado dos nobres, incitando a repressão, que acabou com a execução de Münzer no ano seguinte.

DINAMARCA

BAVIERA SUÍÇA

ÁUSTRIA

HUNGRIA

CALVINO

Veneza Genova ESPANHA

Mar Mediterrâneo

Fronteira do Sacro Império Domínios eclesiásticos Domínios dos Habsburgo Ordem Teutônica

IMPÉRIO OTOMANO

ITÁLIA

Roma

República de Gênova República de Veneza Hungria austríaca Império Otomano

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LUTERO

CALVINO

HENRIQUE VIII

Em 1517, o monge alemão passou a pregar que os fiéis não precisavam dos padres para interpretar a Bíblia e que a fé bastava para se salvar. Fundou o luteranismo, dando início à Reforma.

A partir de 1532, o religioso francês propôs a doutrina perfeita para a burguesia: o homem provava sua fé por meio do sucesso material. Originou os movimentos presbiteriano, puritano e huguenote.

Em 1534, o rei da Inglaterra usou seu divórcio com Catarina de Aragão como pretexto para romper com o papa, criar a Igreja Anglicana e tomar para si o poder político e econômico que a Igreja Católica tinha em seu país.

Fonte: Antonio Pedro, História Moderna e Contemporânea, 1 ed., Moderna, pág. 50

A HISTÓRIA HOJE O BRASIL É O MAIOR PAÍS CATÓLICO DO MUNDO

O Brasil é a nação que reúne o maior número absoluto de católicos no mundo, com 123,9 milhões de fiéis. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64,6% da população se declara católica. A predominância do catolicismo no país é resultado de um conjunto de ações implementadas pelos jesuítas nos primeiros tempos da colônia. A Companhia de Jesus foi criada na Espanha, em 1534, e depois incorporada pela Igreja no contexto do combate aos movimentos reformadores desencadeados por Lutero e Calvino.

encorajava. Ao justificar a moral da ascendente burguesia, o calvinismo difundiu-se mais que o luteranismo. Na Escócia, seus seguidores foram chamados de presbiterianos; na França, de huguenotes; e na Inglaterra, de puritanos.

A reforma inglesa

Na Inglaterra, a reforma foi desencadeada pelo rei Henrique VIII. Querendo tomar para si o poder que a Igreja Católica tinha em seu país, solicitou ao papa a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, argumentando que, após 18 anos de casamento, ainda não possuía um herdeiro homem ao trono. A requisição foi negada, e Henrique VIII rompeu com o papa.

Em 1533, o Parlamento britânico aprovou o divórcio, e o rei se casou com Ana Bolena. No ano seguinte, Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana, da qual era líder supremo. Após ser excomungado pelo papa, confiscou as terras católicas e extinguiu mosteiros. As propostas da nova religião em muito se assemelhavam às do catolicismo, o que resultou em sérios conflitos com os puritanos no século XVII.

Contrarreforma

A reação católica à expansão das doutrinas protestantes ficou conhecida como Contrarreforma. O papa Paulo III convocou, em 1545, o Concílio de Trento, que condenou o protestantismo e reafirmou os princípios católicos. A Inquisição foi reativada – o astrônomo italiano Galileu Galilei foi uma de suas vítimas, sendo condenado a prisão domiciliar em 1633 (veja mais na pág. 41). A Igreja também instituiu o Index Librorum Prohibitorum – uma lista de livros proibidos aos católicos. Mas algumas reformas internas foram empreendidas: decidiu-se regular as obrigações do clero e o excesso de luxo na vida dos religiosos. A Contrarreforma não conseguiu acabar com o protestantismo, apenas freou sua expansão. Um de seus êxitos foi a disseminação da fé católica pelas colônias europeias – inclusive o Brasil –, trabalho realizado pela Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas, criada em 1534. É graças a ela que a América Latina tem o maior número de católicos no mundo.

[1] BIBLIOTECA DO CONGRESSO [2] SCHLOSSMUSEUM [3] [4] DIVULGAÇÃO

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IDADE MODERNA ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO

“O Estado sou eu” A frase, atribuída ao francês Luís XIV, mostra bem quem mandava na política da Idade Moderna: os reis absolutistas

O

Antigo Regime foi o estilo de governo que marcou a Europa na Idade Moderna. Na esfera política, era caracterizado pelo absolutismo, ou seja, o poder ficava todo concentrado nas mãos do rei. No campo econômico, vigorava o mercantilismo, marcado pelo intervencionismo estatal, com vistas ao acúmulo de metais preciosos.

Formação

Desde o fim da Idade Média, existia na Europa uma tendência de enfraquecimento do poder dos nobres, por causa da crise do feudalismo (especialmente das guerras prolongadas e das revoltas camponesas). Para os reis, que durante o período medieval tinham autoridade quase nula, esse era o momento ideal de reafirmar seu poder. Em alguns países, os soberanos contaram com o apoio da burguesia, que tinha interesse na centralização política, pois a padronização de pesos, medidas e moedas e a unificação da justiça e da tributação favoreciam o desenvolvimento do comércio. A nobreza, sem forças para se impor, acabou por aceitar a dominação real – em alguns casos, após sangrentos conflitos. Parte dela foi cooptada por meio da formação das cortes, constituídas por nobres luxuosamente sustentados pelo Estado. Os reis puderam, assim, tomar para si todo o controle político, econômico e militar dos países. No auge desse processo de centralização, estabeleceu-se o absolutismo.

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Teorias

O fortalecimento do poder real era defendido por vários pensadores da época. Um dos mais importantes teóricos do absolutismo foi o italiano Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe. A obra, que analisa os meios mais adequados de conquistar e se manter no poder, consiste em um tratado político que tem importância fundamental na construção do conceito de Estado como atualmente o conhecemos. Na Inglaterra, o grande nome foi Thomas Hobbes, autor de O Leviatã. Ele dizia que os homens tendem a viver em guerra constante entre si. Para evitar esse caos, seria necessário firmar um contrato social entre os indivíduos, e o cumprimento desse acordo só poderia ser garantido com o estabelecimento de um Estado forte. Na França, destacou-se o cardeal Jacques Bossuet, segundo o qual o rei era o representante de Deus na Terra e, por direito divino, não devia satisfação de seus atos. Foi na França que o absolutismo se estabeleceu de forma mais exemplar.

Inglaterra

A monarquia inglesa teve início em 1066, quando o duque da Normandia, William I (Guilherme, o Conquistador), invadiu o país e impôs um governo centralizado. Mas o poder real na Inglaterra era limitado. A Magna Carta, de 1215, e o Parlamento, criado em 1264, submetiam as decisões do soberano à aprovação dos nobres. O absolutismo inglês começou após a Guerra das Duas Rosas (1455-1485), quando duas importantes famílias da nobreza do país, Lancaster e York, se enfrentaram pela sucessão do trono. Elas praticamente se exterminaram mutuamente, abrindo caminho para que um herdeiro indireto de ambas assumisse o poder: Henrique VII, que fundou a dinastia Tudor. Com a nobreza enfraquecida e o apoio popular, Henrique VII fortaleceu sua autoridade. Seu filho e sucessor, Henrique VIII, foi além, ao promover a Reforma Religiosa no país (veja na pág. 42). Mas o auge seria atingido entre 1558 e 1603, no governo de Elizabeth I. Hábil administradora, ela conseguiu manter o


MAJESTOSO A pintura mostra o rei Luis XIV no Palácio de Versalhes: o monarca levou o absolutismo ao extremo, abusando de seu poder e ignorando a miséria do povo

Parlamento sob relativo controle e promoveu grande expansão da economia. Foi em seu reinado que a Inglaterra derrotou a Invencível Armada da rival Espanha e fundou a primeira colônia inglesa na América. Após sua morte, o país viveria um período de conflitos entre o rei e setores ligados à burguesia que resultaria no fim do absolutismo (veja na pág. 48).

França

A autoridade real e o sentimento de nacionalidade começaram a se fortalecer na França após a vitória na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) (veja na pág. 33). Nas décadas seguintes, os monarcas ampliaram os territórios sob seu domínio e, aliados à burguesia, estenderam o controle real sobre a economia. A nobreza passou a integrar uma numerosa corte. Formou-se, assim, uma grande aliança entre o monarca, os burgueses e os nobres, que duraria até a Revolução Francesa (veja na pág. 56). Na segunda metade do século XVI, a França viveu intensos embates entre católicos e protestantes. Destacou-se o episódio da Noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572, quando milhares de protestantes foram mortos por ordem da Coroa. Os conflitos terminaram com a tomada do poder por Henrique IV, que reconheceu os direitos dos protestantes pelo Edito de Nantes, de 1598. Fortalecido após a pacificação do país, ele deu início à dinastia dos Bourbon. Seu sucessor, Luís XIII, nomeou primeiro-ministro o cardeal Richelieu. Ele intensificou a centralização do poder e a política mercantilista. No campo externo, interveio na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), ao lado dos protestantes, derrotando os Habsburgos e os reinos católicos do Sacro Império. Os tratados firmados no fim da guerra, principalmente a Paz

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CARGA PESADA Movimentação comercial em porto na região da atual Itália no século XVII

de Westfália, selaram a decadência da Espanha e a ascensão da França à condição de potência continental e fundaram o conceito da soberania dos Estados nacionais, considerados a partir de então os únicos sujeitos legítimos de acordos internacionais – os acordos deixam de depender da mediação e do reconhecimento do Império e da Igreja. No governo seguinte, de Luís XIV (1643-1715), o absolutismo chegou ao auge. Conhecido como o Rei Sol, ele passou a viver em clima de luxo exacerbado no Palácio de Versalhes, fora de Paris. A economia ficou a cargo do ministro Colbert, um burguês que levou ao extremo a política mercantilista.

Mercantilismo

O mercantilismo garantiu a manutenção do Estado absolutista e de seus suntuosos gastos com o aparelho administrativo, o Exército e, principalmente, com a corte. A base inicial dessa política era o metalismo, a ideia de que a riqueza de um país dependia de sua capacidade de acumular metais preciosos. Mais tarde, percebeu-se que era necessário desenvolver a produção interna. Aí se destacaram outros princípios, como o da balança comercial favorável, no qual o valor das exportações deve superar o das importações. Para isso, muitos Estados implantaram medidas protecionistas, como barreiras alfandegárias para produtos estrangeiros, o que favorecia a manufatura e o artesanato nacionais.

A conquista e a exploração de colônias também eram fundamentais. Pelo pacto colonial, os Estados absolutistas europeus retiravam os recursos que bem desejavam de seus domínios em outros continentes e forçavam os povos colonizados a comprar os produtos fabricados na metrópole.

A HISTÓRIA HOJE OMC TENTA DERRUBAR O PROTECIONISMO

Criada em 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem como missão promover a abertura das economias nacionais. Seu objetivo principal é eliminar o chamado protecionismo. Como visto neste capítulo, desde o mercantilismo os países adotam, em maior ou menor grau, taxas ou cotas para limitar a entrada de bens importados. Essas medidas visam a incentivar a indústria local e preservar o nível de emprego contra a concorrência de produtos e serviços de outros países. As negociações na OMC estão há vários anos em um impasse porque os países só aceitam derrubar as barreiras dos setores que são mais competitivos para poder estimular suas exportações e garantir uma balança comercial favorável. Dessa forma, os países mais ricos preferem eliminar as barreiras à importação de bens industriais e de serviços, enquanto as nações menos desenvolvidas preferem uma abertura comercial maior no setor agrícola.

[1] HALLÉ CLAUDE GUY/RMN/PALÁCIO DE VERSALHES [2] GALERIA DOS OFÍCIOS/FLORENÇA

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IDADE MODERNA EXPANSÃO MARÍTIMA E COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA

Navegar é preciso Impulsionadas pelo mercantilismo, as grandes navegações resultaram numa importante revolução comercial e na formação de vastos impérios coloniais.

A

expansão marítimo-comercial compreende o período das grandes viagens empreendidas pelos países europeus nos séculos XV e XVI. A principal motivação das grandes navegações foi a busca por uma rota que evitasse o Mediterrâneo, com o objetivo de quebrar o monopólio do comércio de especiarias exercido por Gênova e Veneza, que controlavam a entrada dos produtos vindos do Oriente. Além disso, a Europa vivia um momento de esgotamento das minas de metais preciosos, o que provocava uma verdadeira sede de ouro. Portugal e Espanha foram os primeiros países que reuniram as características para lançar-se ao mar: um Estado centralizado, geografia favorável e tecnologias apropriadas como navios, mapas e instrumentos de navegação.

Expansão portuguesa

Em 1385, João I venceu a disputa com o reino de Castela e assumiu o trono de Portugal na Revolução de Avis, concretizando a centralização monárquica. A conquista de Ceuta (Marrocos) marcou o início da expansão portuguesa, em 1415. Em 1488, Bartolomeu Dias contornou o cabo da Boa Esperança. Dez anos depois, Vasco da Gama chegou à Índia. Em 1500, a expedição de Pedro Álvares Cabral aportou no Brasil. Os portugueses estabeleceram diversos pontos de comércio nos locais em que paravam, criando, assim, seu império marítimo-comercial, que, a princípio, só tinha objetivos de exploração, não de povoamento.

46 GE HISTÓRIA 2017

[1]

ALÉM-MAR Vasco da Gama parte para a viagem que descobriria uma nova rota para as Índias, em 1498

AO INFINITO E ALÉM Conheça os comandantes e as rotas das grandes navegações europeias

AMÉRICA DO NORTE

EUROPA 1

Ceuta (1415)

Oceano Pacífico

3

AMÉRICA DO SUL Porto 5

Guiné (1434-1462) Congo (1482-1485)

Seguro (1500) 4

Macau (1516)

Filipinas (1521)

Oceano Índico

OCEANIA Cabo da Boa Esperança (1488)

Oceano Atlântico

Tratado de Tordesilhas – 1494

Calicute (1498)

ÁFRICA

2

ÁSIA

Portugal e seu império colonial até 1580 Espanha e seu império colonial até 1580

1 Cristóvão Colombo 2 Fernão de Magalhães 3 Bartolomeu Dias

4 Vasco da Gama 5 Pedro A. Cabral

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, págs. 17, 18

Expansão espanhola

Ocupados com a unificação dos reinos locais de Aragão e Castela, que ocorreu em 1469, e com a expulsão dos árabes, na Guerra da Reconquista, que só se concluiria em 1492, os espanhóis começaram sua expansão marítima mais tarde. Em 1492, a Espanha aprovou o plano de Cristóvão Colombo de chegar ao Oriente indo rumo ao Ocidente. No meio do caminho, no entanto, o navegador deparou com a ilha de Guanaani, atualmente parte das Bahamas. Mais tarde, o episódio ficaria conhecido como o descobrimento da América. Porém, até então, pensava-se que as terras faziam parte da Ásia. Sendo assim, Portugal reivindicou direitos sobre as áreas descobertas, e, em 1494, as duas

potências assinaram o Tratado de Tordesilhas, dividindo entre si as terras já conhecidas e as que ainda seriam descobertas por meio de uma linha imaginária (veja no mapa acima). Apenas nos primeiros anos do século XVI a existência do novo continente seria confirmada pelo navegador florentino, a serviço da Espanha, Américo Vespúcio.

Formas de colonização

Após a chegada de Colombo, as potências ultramarinas começaram a se instalar na América e exploraram intensamente os nativos e quase a totalidade das terras durante cerca de três séculos, o que resultou em um vigoroso fluxo de riquezas para a Europa.


As colônias europeias dividiam-se, de maneira geral, em dois tipos: Exploração: voltadas para o abastecimento do mercado europeu, caracterizavam-se pela grande propriedade, pela monocultura e pelo trabalho escravo. Além de agricultura, praticavase intensa extração de metais. Nessas regiões, valia o pacto colonial, segundo o qual a colônia só podia vender sua produção à metrópole – a preços reduzidos – e dela importar aquilo de que precisasse – com altos valores. Esse era o tipo de colonização empregado pela Inglaterra (na porção sul de sua colônia) e por Espanha e Portugal (veja colonização portuguesa na pág. 88); Povoamento: foi implementado na parte norte da colônia inglesa, onde o clima não permitia o cultivo de itens diferentes dos plantados na Europa. A produção era voltada para o consumo interno, com o predomínio de pequenas propriedades, policultura e mão de obra familiar.

Espanhóis

A colonização espanhola teve início com a ocupação das ilhas do Caribe. Em 1531, o México foi dominado, e a população asteca, devastada. No Peru, a conquista do Império Inca começou em 1532 (veja mais na pág. 14). No fim do século XVI, a Espanha já havia tomado posse da maior parte de sua colônia americana. Os nativos foram exterminados por doenças e guerras ou obrigados a servir como mão de obra. Para organizar a exploração, a Espanha criou a Casa de Contratação, que controlava o comércio entre Espanha e América e punia quem tentasse burlar o monopólio. A terra foi dividida em quatro vice-reinos – Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata – e em capitanias – as principais eram as de Cuba, Flórida, Guatemala, Venezuela e Chile. A principal atividade econômica era a extração de metais preciosos, principalmente no Peru e no México. A mão de obra indígena era explorada por meio da mita – regime de trabalho forçado que durava quatro meses ao ano. A prática também era aplicada à agricultura, que recebia o nome de encomienda. A estrutura social da América espanhola era dividida em chapetones

AMÉRICA COLONIAL (espanhóis que cuidavam da Confira os antigos domínios espanhóis, administração; portugueses, franceses, ingleses e holandeses no Novo Mundo criollos (descendentes de europeus que formavam a arisTerra de Rupert tocracia local e exerciam o conNova Treze Colônias trole das câmaras França municipais – tamCapitania da Flórida Vice-Reinado bém conhecidas da Nova Capitania de Cuba Espanha por cabildos ou ayuntamientos); Capitania da Venezuela Capitania mestiços (arteda Guatemala sãos ou capatazes, Vice-Reinado sempre com carda Nova Granada gos intermediários na escala proVice-Reinado do Peru Brasil dutiva); negros escravos (trabaCapitania Geral do Chile lhavam geralmente nas lavouras); e Colonização espanhola Vice-Reinado índios (em maior do Rio da Prata Colonização portuguesa número e mais Colonização inglesa explorados, os naColonização francesa tivos estavam na Colonização holandesa base da pirâmide Fontes: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág.20/ Patrícia Daniels e Stephen Hyslop, social, junto com Atlas da História do Mundo, Abril, pág. 199 os negros). O clero católico que foi para a Améri- colônia fabricavam rum, que era trocado ca condenava a exploração dos índios. por escravos na África; estes, por sua vez, Para amenizar o sofrimento indígena, eram vendidos no Caribe e nas colônias os eclesiásticos criaram as reduções do sul. Nestas últimas, foi implantado – espaços nos quais os nativos eram um esquema de monocultura algodoeira, catequizados, alfabetizados e se dedi- destinada à exportação, com uso de mão cavam à agricultura. Quanto ao escravo de obra escrava trazida da África. negro, a Igreja pouco se manifestou. França e Holanda também marcaram presença na América, colonizando parte Ingleses, franceses e holandeses das Guianas e das ilhas do Caribe. Ambas No século XVII, os ingleses decidiram também ocuparam durante determinado ocupar o vazio deixado na América tempo terras brasileiras. A França ainda do Norte pelos espanhóis – a quem a fundou, na América do Norte, Québec e terra pertencia, segundo o Tratado de Montreal – atualmente no Canadá. Tordesilhas. Para iniciar sua colonização na América, a Inglaterra criou a Consequências Companhia de Plymouth, para cuidar Além de resultar na descoberta de do norte, e a Companhia de Londres, novas terras e rotas comerciais e na forresponsável pelo sul. Ao todo, foram mação de enormes impérios coloniais, as fundadas 13 colônias ao longo da costa. grandes navegações alteraram profunO norte foi habitado por refugiados damente a sociedade europeia. O Velho políticos e religiosos – protestantes Mundo se tornou o centro de um comércalvinistas. Alguma atividade manufa- cio que interligava quatro continentes. A tureira era tolerada pela metrópole na diversificação dos produtos e o aumento região, que cresceu economicamente dos valores negociados proporcionaram e passou a escoar o excedente para os um enriquecimento maciço das burguemercados do sul. Mais tarde, criou-se o sias – essas mudanças ficaram conhecidas comércio triangular: mercadores da como Revolução Comercial.

[1] BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL

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IDADE MODERNA REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII

Xeque-mate no absolutismo Em duas jogadas, a burguesia inglesa deu o golpe final no poder absoluto do rei, deixando a política nas mãos do Parlamento e a economia preparada para seguir rumo à Revolução Industrial

A

s revoluções inglesas do século XVII foram duas: a Revolução Puritana, que estourou em 1642 e resultou na substituição da monarquia por uma república temporária; e a Revolução Gloriosa, de 1688, que pôs fim ao absolutismo, consolidando a supremacia do Parlamento sobre a autoridade real. Ambas foram, na essência, revoluções burguesas, que abriram alas para a instalação do capitalismo no século seguinte.

Revolução Puritana

Na Inglaterra, os calvinistas eram chamados de puritanos. A religião era popular sobretudo entre os ex-camponeses e os pequenos burgueses, que andavam descontentes. Os primeiros haviam sido expulsos das lavouras durante os cercamentos, ocorridos ainda no fim da Idade Média, quando os nobres substituíram a agricultura autossuficiente pela lucrativa criação de ovelhas, que alimentava as manufaturas de lã. E os pequenos burgueses reclamavam por não ter acesso à exportação, cujo monopólio era concedido pelo rei a poucos comerciantes. Mas o puritanismo – que conflitava com a doutrina oficial do reino, o anglicanismo – também crescia no Parlamento, tornando cada vez mais uma ameaça às pretensões absolutistas da dinastia Stuart, que substituíra os Tudor após a morte de Elizabeth I, em 1603. As tentativas do rei Carlos I de criar impostos sem a aprovação do Parlamento desencadearam uma guerra civil em 1642.

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[1]

EXECUÇÃO REAL O rei inglês Carlos I é morto em 1649, após vitória do levante liderado por Oliver Cromwell

O Parlamento organizou um Exército popular liderado por Oliver Cromwell, um puritano oriundo da pequena burguesia. Os combates estenderam-se até 1649. Carlos I foi executado, e a monarquia, abolida, e instalou-se a República Puritana, liderada por Cromwell. Nacionalista, uma de suas principais medidas foi a promulgação dos Atos de Navegação, em 1651, segundo os quais somente embarcações inglesas poderiam transportar mercadorias procedentes ou destinadas à Inglaterra, o que alavancou a economia do país. Fortalecido, Cromwell dominou o Parlamento, dissolvendo-o mais de uma vez, e governou como um ditador até a morte, em 1658.

Revolução Gloriosa

Com a morte de Cromwell, seu filho, Ricardo, assumiu o poder, mas não foi capaz de assegurar a estabilidade do governo. Temendo que lideranças populares do Exército assumissem o controle da república, o Parlamento decidiu restaurar a monarquia, regime no qual o chefe de Estado descende de uma linhagem aristocrática. Os Stuart voltaram ao poder, com Carlos II, coroado em 1660. Contemporâneo do francês Luís XIV, soberano que levou o absolutismo ao seu máximo, Carlos II quis impor um regime semelhante na Inglaterra. Seu sucessor, Jaime II, que assumiu o trono em 1685, tinha as mesmas pretensões. Além disso, havia se convertido ao catolicismo, o que o tornava ainda mais impopular. Burgueses e parlamentares reagiram:

ofereceram a Coroa inglesa ao holandês Guilherme de Orange, genro de Jaime II. Em troca, pediram a manutenção do anglicanismo e a liberdade do Parlamento. Em novembro de 1688, Guilherme desembarcou na Inglaterra e foi coroado Guilherme III. Para consolidar a supremacia legislativa, o Parlamento promulgou a Declaração de Direitos (em inglês, Bill of Rights), que limitou fortemente a atuação do rei. O absolutismo foi abolido na Inglaterra e substituído por uma monarquia constitucional. A grande beneficiada pelas revoluções inglesas do século XVII foi a burguesia, especialmente a parcela dedicada às atividades manufatureiras. Ela pôde ver, a partir de então, ruir as restrições mercantilistas, típicas do período absolutista, e abrir-se o caminho para o desenvolvimento do capitalismo industrial, no século XVIII. PARA IR ALÉM Na HQ V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd, a ação acontece num “passado futurista”, com a ascensão de um partido totalitário após uma guerra nuclear. O anarquista “V” inicia uma campanha para derrubar o Estado, utilizando uma máscara estilizada de Guy Fawkes. A referência a Fawkes remonta a um dos líderes da chamada Conspiração da Pólvora, que, em novembro de 1605, pretendia explodir o Parlamento inglês e matar seus membros junto com o rei Jaime I. Recentemente, movimentos populares em várias partes do mundo, associados aos chamados Anonymous, têm adotado em seus protestos a mesma máscara utilizada por V nos quadrinhos.


IDADE MODERNA LIBERALISMO E ILUMINISMO

Razão, liberalismo e progresso Para obter mais poder econômico e político, a burguesia europeia do século XVIII apresentou ao Ocidente uma nova maneira de pensar

[2]

RAZÃO A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi produzida sob inspiração iluminista

Iluminismo foi a corrente de pensamento dominante na Europa do século XVIII e defendeu o predomínio da razão sobre a fé, representando a visão de mundo da burguesia. Seus pensadores negavam as doutrinas absolutistas e mercantilistas e apoiavam valores liberais, tanto na política quanto na economia.

O

Os princípios da política iluminista – liberalismo – foram formulados pelo filósofo inglês John Locke, que defendia uma relação contratual entre o monarca e seus súditos. Para Locke, o homem possuía direitos como liberdade e propriedade privada, e cabia ao Estado proteger esses direitos, o que limitava seu poder.

Origens

Século das luzes

Os primeiros teóricos do Iluminismo introduziram as bases do movimento ainda no século XVII, influenciados pelas transformações sociais que vinham ocorrendo na Europa, como o Renascimento, a Reforma Religiosa, a expansão marítimo-comercial e a ascensão da burguesia. O racionalismo foi fundamentado como método científico pelo francês René Descartes, que, em 1637, estabeleceu a razão como único caminho para o conhecimento. Descartes partia de verdades básicas – axiomas – para atingir conhecimentos mais amplos. Seu primeiro axioma ficou famoso: “Penso, logo existo”. Segundo o pensamento iluminista, o avanço do conhecimento poderia se dar tanto pela via do racionalismo abstrato de Descartes como pela via do empirismo inglês. Nas ciências exatas, o físico inglês Isaac Newton também revolucionou o pensamento da época, ao afirmar que o Universo seria regido por leis próprias, que podem ser conhecidas pelo homem por meio da ciência.

Os importantes avanços econômicos, culturais e científicos levaram à crença de que o destino da humanidade era o progresso. O auge dessa efervescência se deu no século XVIII – o “século das luzes”. Além do racionalismo e do liberalismo, outro princípio iluminista é o anticlericalismo – posição política contrária ao poder da Igreja. Tendo como exemplo o resultado da Revolução Gloriosa inglesa (veja mais na pág. ao lado), na qual é possível identificar elementos do liberalismo de John Locke, pensadores franceses passaram a defender o fim do absolutismo em seu país. Os três nomes mais significativos do Iluminismo francês foram os filósofos Montesquieu, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau: Montesquieu foi um dos grandes divulgadores da necessidade de se desconcentrar a autoridade das mãos dos reis por meio da tripartição de poderes – em sua obra Do Espírito das Leis, ele sistematiza essa teoria que prevê a separação e o equilíbrio

entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Ela foi a base teórica fundamental para a declaração de independência dos Estados Unidos e para a sua primeira Constituição (veja o box abaixo), além de servir de base para os atuais Estados de Direito Democráticos, como o Brasil.

SAIBA MAIS ILUMINISTAS INFLUENCIARAM CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS

Apesar de derrotar a França na Guerra dos Sete Anos (1756-1763), a Inglaterra teve grandes prejuízos com o conflito. Para tentar recuperar sua economia abalada pela guerra, os ingleses criaram uma série de impostos para as Treze Colônias na América. Em resposta, os colonos declararam-se independentes da metrópole europeia em 4 de julho de 1776. A tensão evoluiu para uma guerra na qual as Treze Colônias derrotaram o Exército inglês na batalha de Yorktown, em 1781, que contou com o apoio de França e Espanha. Dois anos depois, os ingleses reconheceram a nova nação. Em 1787 foi elaborada a primeira Constituição do país e, em 1789, o comandante militar nas guerras de independência, George Washington, foi eleito seu primeiro presidente. Tanto a declaração de independência como a Constituição sofreram forte influência dos ideais iluministas.

[1] REPRODUÇÃO/UNIVERSIDADE DA VIRGÍNIA [2] MUSEU CARNAVALET/PARIS

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IDADE MODERNA LIBERALISMO E ILUMINISMO VOLTAIRE O filósofo iluminista francês foi um duro crítico do absolutismo, mas queria a monarquia preservada sob a liderança do Parlamento

[1]

SAIU NA IMPRENSA STF INVESTIGOU 500 PARLAMENTARES DESDE 1988, MAS CONDENOU APENAS 16 Há três séculos, o filósofo francês Montesquieu consagrou a teoria da separação dos poderes, que fundamenta até hoje a estrutura dos chamados Estados Democráticos de Direito. Nesse modelo adotado pelo Brasil, o Legislativo faz a lei, o Executivo a aplica e o Judiciário fiscaliza o seu devido cumprimento. Um impede que o outro seja absoluto. Esse ideário inspirou o traçado da Praça dos Três Poderes, em Brasília, que reúne em cada vértice suas respectivas sedes: o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). (...) Diferentemente de outros países, a Constituição brasileira reserva ao Supremo uma missão extra: conduzir as investigações e julgar as acusações criminais contra deputados, senadores e outras autoridades federais. Nesse caso, nem a proximidade física entre o tribunal e o Parlamento é capaz de fazer com que a Justiça atravesse a Praça dos Três Poderes com celeridade. (...) Desde 1988, mais de 500 parlamentares foram investigados no Supremo. A primeira condenação ocorreu apenas em 2010. De lá para cá, apenas 16 congressistas que estavam no exercício do mandato foram condenados por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de verba pública (...). El País, 22/8/2015

50 GE HISTÓRIA 2017

Voltaire ligado à alta burguesia, era um crítico fervoroso do absolutismo, da nobreza e, principalmente, da Igreja. Na política, ele foi um dos inspiradores do despotismo esclarecido (veja mais a seguir). Para Voltaire e Montesquieu, contudo, a monarquia deveria ser preservada, tendo seu poder limitado pela existência de um Parlamento, seguindo o exemplo inglês. Rousseau era identificado com a baixa burguesia e com os trabalhadores miseráveis, posicionando-se a favor do Estado democrático e republicano. Segundo sua teoria, o governo deve ser feito “pelo povo e para o povo”, daí sua defesa da república democrática. Em sua obra Do Contrato Social, defende que o homem é naturalmente bom, sendo a sociedade a culpada pela sua degeneração (teoria do bom selvagem). Para ele, ao contrário de Hobbes e Locke, o chamado Contrato Social não deve ser um pacto de submissão a um poder soberano, mas sim um pacto de associação entre os indivíduos, que levaria, primeiro, à formação de uma sociedade para, depois, ser criado o Estado, que deveria representar a vontade da maioria. Foi um dos maiores ideólogos da Revolução Francesa. A fim de divulgar o conhecimento, os iluministas conceberam a Enciclopédia, obra com 35 volumes contemplando todo o conhecimento existente até então. A Enciclopédia foi editada por Denis Diderot e Jean le Rond d’Alembert e contou com a contribuição fundamental de Voltaire, Montesquieu e Rousseau, além de muitos outros filósofos e cientistas. Com muita ironia, os artigos criticavam a Igreja e o Estado, tendo sido a obra toda incluída no Index Librorum Prohibitorum do catolicismo em 1759. Ainda assim, continuou a circular e ser distribuída graças aos esforços de seus organizadores.

Liberalismo econômico

Os iluministas também condenavam o sistema econômico do Antigo Regime, o mercantilismo. Os primeiros contestadores foram os fisiocratas, como os franceses Jacques Turgot e François Quesnay. Eles consideravam a terra a única fonte de riqueza de uma nação, em oposição ao comércio, em que não há produção, apenas troca. O também francês Vincent de Gournay, discípulo de Quesnay, cunhou a expressão que depois se tornaria símbolo do liberalismo econômico: “Laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même” (“Deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo”). Em sua obra A Riqueza das Nações (1776), o pensador escocês Adam Smith aprofundou esses ideais, ao afirmar que a economia funcionava por si mesma, como se uma “mão invisível” a dirigisse. Ele condenava o mercantilismo, via o trabalho como única fonte de riqueza e pregava a livre concorrência e a não intervenção do Estado na economia, fundamentando, assim, o liberalismo econômico.

Despotismo esclarecido

Alguns soberanos viram que, para se manter no poder, era preciso adotar reformas de cunho iluminista. Essa tentativa de modernização ficou conhecida como despotismo esclarecido. Seu objetivo era preservar as monarquias absolutistas europeias por meio de reformas que beneficiassem os burgueses. Algumas das medidas adotadas por esses governantes foram a limitação do poder da Igreja Católica e a redução dos privilégios da aristocracia e do clero. Os principais déspotas esclarecidos foram Frederico II, da Prússia; o marquês de Pombal, de Portugal; Catarina II, da Rússia; e José II, da Áustria. Apesar das mudanças, a participação política da burguesia e do povo continuava limitada, o que levaria a revoltas, entre elas a Revolução Francesa, em 1789.


IDADE MODERNA LINHA DO TEMPO

Idade Moderna Confira os fatos mais importantes da Idade Moderna, que começa com a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos

[3]

1687 1618 [2]

1492 Em 12 de outubro, Cristóvão Colombo aporta nas atuais Bahamas. O descobrimento da América é um dos maiores feitos da expansão marítima e comercial europeia. Pág. 46

1460

1520

1580

[5]

1500 Pedro Álvares Cabral e sua esquadra atingem o litoral da Bahia em 22 de abril. É o descobrimento do Brasil. Pág. 46

Tem início o primeiro conflito europeu a adquirir proporções continentais, a Guerra dos Trinta Anos. Pág. 45

Isaac Newton publica Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. Ele é um dos principais impulsionadores do Iluminismo, no século seguinte. Pág. 49

1640 1520

[4]

1756 Inglaterra e França enfrentam-se na Guerra dos Sete Anos, que vai até 1763. A origem do conflito está na rivalidade econômica e colonial entre as potências.

1580

1700 1640

1700

1760

1760

1532

1642

1776

Os conquistadores espanhóis Francisco Pizarro e Diego de Almagro dão início à destruição do Império Inca, no Peru, um dos marcos da colonização da América. Pág. 47

Estoura a Revolução Puritana, que, com a Revolução Gloriosa, de 1688, constitui as Revoluções Inglesas do século XVII. Pág. 48

É declarada a Independência dos Estados Unidos. Pág. 49

1517

1534

Indignado com a venda de indulgências, o monge alemão Martinho Lutero inicia a Reforma Religiosa. Pág. 42

Como parte da reação católica à Reforma, o religioso espanhol Ignácio de Loyola funda a Companhia de Jesus (ordem dos jesuítas) com a missão de ser uma instituição de ação política e ideológica da Igreja Católica. Pág. 43

[7]

1508 Michelangelo começa a pintar o teto da Capela Sistina, no Vaticano. O conjunto de afrescos do gênio italiano é uma das obras mais famosas do Renascimento Cultural. Pág. 40

[6]

[1] MUSEU CARNAVALET/PARIS [2] [4] BIBLIOTECA DO CONGRESSO/EUA [3] [5] REPRODUÇÃO [6] DIVULGAÇÃO [7] ARQUIVO NACIONAL/EUA

GE HISTÓRIA 2017

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COMO CAI NA PROVA

1. (UERJ 2015)

2. (UNICAMP 2015) A primeira lei de Kepler

demonstrou que os planetas se movem em órbitas elípticas e não circulares. A segunda lei mostrou que os planetas não se movem a uma velocidade constante. PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 289. (Adaptado)

Nos séculos XVI e XVII, o surgimento e a expansão de diversas religiões cristãs, genericamente chamadas de protestantes, alteraram as condições políticas e sociais do Ocidente europeu. Identifique dois efeitos políticos da expansão das Igrejas protestantes para as sociedades europeias. Apresente, ainda, uma das reações da Igreja Católica a essa expansão. RESOLUÇÃO

A Reforma Protestante é um movimento de caráter religioso, político e econômico que surge na Europa no século XVI. Contesta a estrutura e os dogmas da Igreja Católica e rompe a unidade do cristianismo, dando origem às religiões ditas protestantes. As mais importantes são o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo. As reformas protestantes provocaram diversos efeitos políticos. O primeiro reformista, o alemão Martinho Lutero (1483-1546), pregou a substituição do poder eclesiástico pelo do Estado, a simplificação da liturgia e o fim do celibato clerical e do culto às imagens. Foi excomungado, mas suas ideias se difundiram rapidamente, provocando guerras de religião no Sacro Império Romano-Germânico e terminando com a aceitação do luteranismo pelo imperador. Já na França, o religioso João Calvino (1509-1564) pregou que o homem deve buscar o lucro por meio do trabalho, conquistando o apoio da burguesia. Na Inglaterra, após ter um pedido de divórcio negado pelo papa e interessado em se sobrepor à autoridade católica em seu país, o rei Henrique VIII (1491-1547) fundou a Igreja Anglicana. Mas a Igreja Católica reagiu à Reforma Protestante em um movimento conhecido como Contrarreforma. Em 1545, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento para defender a disciplina eclesiástica e a unidade da Igreja. Ele regulou as obrigações do clero e limitou o excesso de luxo na vida dos religiosos. Também instituiu o índice de livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum), que relacionou as obras que os católicos não poderiam ler, sob pena de excomunhão. O órgão encarregado da repressão às heresias e da aplicação das medidas da Contrarreforma foi a Inquisição.

52 GE HISTÓRIA 2017

É correto afirmar que as leis de Kepler a) confirmaram as teorias definidas por Copérnico e são exemplos do modelo científico que passou a vigorar a partir da Alta Idade Média. b) confirmaram as teorias defendidas por Ptolomeu e permitiram a produção das cartas náuticas usadas no período do descobrimento da América. c) são a base do modelo planetário geocêntrico e se tornaram as premissas cientificas que vigoram até hoje. d) forneceram subsídios para demonstrar o modelo planetário heliocêntrico e criticar as posições defendidas pela Igreja naquela época. RESOLUÇÃO

O contexto em questão é o do Renascimento Científico, ocorrido durante o Renascimento Cultural dos séculos XIV, XV e XVI. O pensamento defendido até então e propagado pela Igreja Católica era o geocêntrico, pelo qual a Terra se encontrava no centro do Universo, com o Sol girando ao seu redor. O alemão Johannes Kepler, tomando por base as críticas de Copérnico ao geocentrismo, defendia o heliocentrismo, pensamento pelo qual o Sol seria o centro do sistema. Resposta: D

3. (FATEC 2016) Sobre as Grandes Navegações Portuguesas e seus

desdobramentos históricos, é correto afirmar que

a) esse contexto é fruto do processo revolucionário comandado pelo presidente Antônio Salazar, que, posteriormente, utilizou as terras descobertas no além-mar para exilar seus opositores políticos. b) Portugal, interessado nas especiarias orientais, cujo comércio era controlado pelos mercadores italianos e árabes, procurou novas rotas para atingir as índias e eliminar esses intermediários. c) a fragmentação política do reino, consequência da Revolução de Avis, ocorrida em 1385, atrasou em pelo menos dois séculos o desenvolvimento das condições necessárias para a realização das primeiras viagens. d) Portugal foi o último reino europeu a se lançar na aventura das viagens marítimas, devido, principalmente, a uma grande crise econômica, o que impediu o desenvolvimento da tecnologia necessária para as travessias oceânicas. e) os portugueses, impulsionados pela concorrência da economia da Inglaterra, optaram por tomar posse da sua colônia americana, o Brasil, e iniciar a produção do algodão que iria abastecer os mercados internacionais no século XVI.


RESUMO

RESOLUÇÃO

O interesse pelo lucrativo comércio das especiarias do Oriente levou Portugal a procurar uma rota alternativa, que não exigisse o intermédio de comerciantes árabes no Índico e nem de italianos no Mediterrâneo. Para tanto, os portugueses iniciaram a conquista do litoral africano, a partir da ocupação de Ceuta, em 1415. A realização do Périplo Africano permitiu aos portugueses alcançarem a Índia por uma rota mais eficaz do que as dominadas por árabes e italianos. Resposta: B

4. (PUC-RS 2015) Considere o texto abaixo, de G. F. de Oviedo,

que relata o estabelecimento do império espanhol na América, no livro L’ Histoire des Indies, publicado no ano de 1555. “O almirante Colombo encontrou, quando descobriu esta ilha Hispaniola, um milhão de índios e índias (...) dos quais, e dos que nasceram desde então, não creio que estejam vivos, no presente ano de 1535, quinhentos, incluindo tanto crianças como adultos (...). Alguns fizeram esses índios trabalhar excessivamente. Outros não lhes deram nada para comer como bem lhes convinha. Além disso, as pessoas dessa região são naturalmente tão inúteis, corruptas, de pouco trabalho, melancólicas, covardes, sujas, de má condição, mentirosas, sem constância e firmeza (...). Vários índios, por prazer e passatempo, deixaram-se morrer com veneno para não trabalhar. Outros se enforcaram pelas próprias mãos. E quanto aos outros, tais doenças os atingiram que em pouco tempo morreram (...). Quanto a mim, eu acreditaria antes que Nosso Senhor permitiu, devido aos grandes, enormes e abomináveis pecados dessas pessoas selvagens, rústicas e animalescas, que fossem eliminadas e banidas da superfície terrestre. Apud ROMANO, Ruggiero. Mecanismos da Conquista Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 76

Considerando o contexto histórico, pode-se afirmar que o texto de Oviedo representa a) o pensamento singular de um ideólogo extremista do absolutismo espanhol, em oposição ao sistema do Real Padroado e suas repercussões na América colonial. b) a posição de um intelectual cristão renascentista que busca denunciar o caráter semifeudal da expansão ultramarina ibérica, sintetizado na figura de Colombo. c) uma justificativa, de fundo religioso-moral, para o genocídio decorrente da exploração colonial, cujos pressupostos são correntes no universo cultural europeu da época. d) uma defesa, em termos racistas e preconceituosos, dos massacres promovidos pelos primeiros colonos espanhóis, que agiam contra os interesses econômicos do Estado Absolutista. e) uma visão irônica, de caráter naturalista e raciológico, a respeito da inutilidade da violência praticada pelos colonizadores civis espanhóis no chamado período da Conquista. RESOLUÇÃO

De acordo com o autor, o extermínio dos nativos da América espanhola poderia ser justificado por uma questão religiosa e moral: ao serem considerados preguiçosos, pecadores e desprovidos de vontade de trabalho, a grande quantidade de mortos teria sido um castigo divino. No contexto da colonização na América, o argumento de que os nativos eram preguiçosos e distantes do verdadeiro Deus, foi utilizado para justificar sua escravização e extermínio. Resposta: C

Idade moderna RENASCIMENTO O Renascimento, movimento intelectual, artístico e científico ocorrido na Europa entre os séculos XIV e XVI, representou importantes rupturas com o pensamento da Idade Média. O humanismo, elemento primordial do movimento, considerava o ser humano o centro das questões. Outras características importantes do movimento foram o naturalismo (representação fiel da realidade) e o racionalismo (valorização da razão). REFORMA PROTESTANTE Paralelamente ao Renascimento, a Europa foi tomada pela Reforma Protestante, movimento de caráter político, religioso e econômico. O poder da Igreja era desafiado pela burguesia, para quem o catolicismo freava as atividades bancárias e comerciais, e pelas monarquias nacionais, cada vez mais fortalecidas. Iniciada pelo alemão Martinho Lutero, os reformistas contestavam os dogmas da Igreja Católica. João Calvino, na Suíça, e Henrique VIII, na Inglaterra, são os outros grandes nomes da Reforma. ANTIGO REGIME O Antigo Regime foi um estilo de governo predominante na Europa durante a Idade Moderna. Na esfera política, foi marcado pelo absolutismo – o poder estava nas mãos do rei. No plano econômico, vigorava o mercantilismo – intervencionista e protecionista, o acúmulo de capital era o seu principal objetivo. O fortalecimento do poder real era defendido por vários pensadores da época, como o italiano Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, e Thomas Hobbes, que escreveu Leviatã. EXPANSÃO MARÍTIMA E COLONIZAÇÃO A expansão marítima teve início com as grandes viagens exploratórias dos europeus entre os séculos XV e XVI, que tinham como principal objetivo romper com o monopólio no comércio de especiarias, controlado por Gênova e Veneza. A descoberta de novas terras e rotas comerciais resultou na formação de grandes impérios coloniais e fez do Velho Mundo o centro do comércio mundial. REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII Duas revoluções aconteceram na Inglaterra no século XVII: a Revolução Puritana (1642), que derrubou a monarquia e alçou, temporariamente, ao poder um regime republicano, e a Revolução Gloriosa (1688), que pôs fim ao absolutismo e consolidou a supremacia do Parlamento sobre a autoridade real. A burguesia foi o setor da sociedade mais beneficiado pelas revoluções inglesas. ILUMINISMO No século XVIII, fortaleceu-se no continente europeu o Iluminismo, corrente de pensamento que defendia o predomínio da razão sobre a fé. As críticas dos iluministas eram, fundamentalmente, contra o Antigo Regime, pregando o liberalismo político e econômico. Os três nomes mais significativos do Iluminismo francês foram os filosofos Voltaire, Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau. Na economia, o escocês Adam Smith fundou as bases do liberalismo econômico, pregando a livre concorrência e a não intervenção do Estado.

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IDADE CONTEMPORÂNEA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

Revolução Francesa ...................... 56 Revolução Industrial .................... 58 Independência da América espanhola ................... 60 Doutrinas sociais e políticas do século XIX ................................ 61 Primavera dos Povos e Comuna de Paris ........................ 62 Unificação da Alemanha e da Itália ......................................... 63 Imperialismo ................................... 64 I Guerra Mundial ........................... 66

Revolução Russa ............................ 68 Grande depressão .......................... 70 Nazifascismo ................................... 71 II Guerra Mundial .......................... 72 Guerra Fria ....................................... 74 Revolução Chinesa ........................ 76 Revolução Cubana ......................... 77 Descolonização afro-asiática .... 78 Guerra do Vietnã ............................ 79 Fim da Guerra Fria ........................ 80 Linha do tempo .............................. 82 Como cai na prova + resumo ...... 84

Rota de fuga Guerras e perseguições políticas e étnicas levam milhões de pessoas a abandonar seus países, gerando o maior fluxo de refugiados desde a II Guerra Mundial

O

s grandes deslocamentos migratórios dos últimos anos vêm provocando uma grave crise humanitária. Movidas pelo desespero, mais de 54 milhões de pessoas decidiram abandonar seus países para fugir de conflitos ou perseguições étnicas e políticas. Mesmo que para isso seja necessário encarar longas caminhadas por territórios hostis ou lançar-se ao mar em embarcações precárias e superlotadas. Nem todos os refugiados, no entanto, conseguem concluir a jornada – só em 2015 mais de 3 mil pessoas morreram afogadas no Mar Mediterrâneo, na tentativa de chegar à Europa. A rota migratória que liga o norte da África e o Oriente Médio à Europa é uma das mais movimentadas no momento. Em 2015, quase 800 mil refugiados chegaram à Europa, por terra ou pelo mar. A maioria deles foge da brutal guerra civil na Síria – que desde 2011 já deixou mais de 250 mil mortos – e de conflitos em outras partes do mundo, como no Afeganistão e na Eritreia. A porta de entrada na União Europeia geralmente é a Grécia ou a Itália. De lá, grande parte dos refugiados tenta alcançar a Alemanha, país mais próspero do continente. A chanceler alemã, Angela Merkel, concedeu asilo a 800 mil refugiados em 2015 e incentivou o bloco europeu a adotar uma política imigratória mais acolhedora.

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No entanto, em nações como Hungria, Eslovênia e Áustria, os governos relutam em autorizar a entrada de estrangeiros em seus territórios. Os refugiados são vistos pelos setores mais xenófobos da sociedade como concorrentes nas disputas pelas concorridas vagas no mercado de trabalho. Nesse cenário, partidos de extrema direita vêm se apoiando nesse discurso para ganhar eleitores insatisfeitos com a crise econômica. Além disso, o governo de países como a Hungria resiste em permitir o ingresso maciço de refugiados muçulmanos, alegando que é preciso defender as raízes e os valores cristãos da Europa. A atual crise dos refugiados só é comparável ao período da II Guerra Mundial. No maior confronto generalizado da história, mais de 60 milhões de pessoas abandonaram suas casas, sejam chineses fugindo das tropas japonesas ou judeus perseguidos pela Ale- LONGA JORNADA manha nazista. Neste Migrantes são escoltados capítulo você confere pela polícia na região de mais sobre os conflitos Brezice, na Eslovênia, e as crises que marca- em outubro de 2015: ram a Idade Contem- autoridades europeias porânea e ainda mol- relutam em permitir a dam os fatos atuais. entrada de refugiados


SRDJAN ZIVULOVIC/REUTERS

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IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO FRANCESA A LIBERDADE GUIANDO O POVO Tela do pintor Eugène Delacroix faz alusão à Revolução Liberal de 1830, que prolonga o movimento da Revolução Francesa

À época, o país enfrentava sérias dificuldades econômicas. Além de endividada externamente, a França via sua agricultura sofrer com secas e sua indústria minguar por causa da concorrência inglesa. Como solução, os ministros do rei Luís XVI, influenciados pelo liberalismo, propuseram cobrar impostos da nobreza e do clero, até então isentos de tributos. As classes dominantes pressionaram contra o projeto, e a situação política ficou tensa.

Assembleia Nacional Constituinte

[1]

O levante burguês Em um processo cheio de reviravoltas, a burguesia francesa guilhotinou o absolutismo na França, tomou o poder e soprou ventos liberais por todo o planeta

A

Revolução Francesa, modelo clássico de revolução burguesa, foi um movimento social e político que transformou profundamente a França de 1789 a 1799. Sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a burguesia revoltou-se contra a monarquia e, com o apoio popular, tomou o poder, pondo fim aos privilégios da nobreza e do clero e livrando-se das instituições feudais do Antigo Regime. A revolução também criou as condições para que a França caminhasse rumo ao capitalismo industrial. A Revolução Francesa é o auge de um movimento revolucionário que consolida uma sociedade capitalista, liberal e burguesa. Atinge outros países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, e chega

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à França com ideais mais bem delineados. Os movimentos pela independência da América Espanhola tambem são reflexos dessas transformações.

Antecedentes

No fim do século XVIII, a população francesa formava uma sociedade de estamentos, resquício da Idade Média, mas já se percebia uma divisão de classes. O clero compunha o Primeiro Estado; a nobreza, o Segundo Estado. Eles eram os mais privilegiados, sustentados pelos impostos pagos pelo Terceiro Estado, que correspondia a cerca de 98% dos habitantes e era composto de burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses.

Em 1789, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Nesse órgão, cada Estado tinha direito a um voto, o que garantia o domínio da nobreza e do clero, seus tradicionais aliados. Cansado de não ter voz ativa, e ao ver a aristocracia abalada pela crise econômica, o Terceiro Estado se rebelou: proclamou-se a Assembleia Nacional Constituinte, dedicando-se à elaboração de uma nova Constituição para a França. A população envolveu-se. Em 14 de julho, os parisienses tomaram a Bastilha – prisão que simbolizava o poder monárquico –, no episódio que marcou o início da revolução. Grande parte da nobreza fugiu do país, e os revolucionários avançaram para o interior, atacando seus castelos. Em agosto, a Assembleia Constituinte aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estipulava liberdades individuais e estabelecia a igualdade de todos perante a lei.

Assembleia Nacional Legislativa

Em 1791 foi finalizada a Constituição. O texto conservava a monarquia, mas instituía a divisão do Estado nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, proclamava a igualdade civil e confiscava os bens da Igreja. Foi eleita a Assembleia Nacional Legislativa, com voto censitário (condicionado à renda), de modo que a maioria


E NO BRASIL... CORTE FUGIDA

dos membros pertencia à elite burguesa. Os deputados dividiam-se em três grupos. Os girondinos, representantes da alta burguesia, sentados à direita do plenário, eram mais conservadores e combatiam a ascensão dos sansculottes (os que não usavam culotes, traje da nobreza, ou seja, o povo). Os jacobinos, à esquerda, representavam a média e pequena burguesia, eram apoiados pelas camadas populares e buscavam ampliar a participação do povo no governo. Os deputados do centro, a maioria, eram apelidados de grupo do pântano e oscilavam entre jacobinos e girondinos. Preocupadas com os eventos ocorridos no país vizinho, Áustria e Prússia invadiram a França, em 1792. Os dois países foram apoiados pela nobreza francesa refugiada e pelo próprio Luís XVI, que sonhava em voltar ao poder. Diante da tentativa de fuga de Luís XVI para se juntar aos nobres emigrados e do agravamento das ameaças contrarrevolucionárias, os jacobinos, liderados por Robespierre, Jean Paul Marat e Danton, conseguiram aprovar as propostas de extinção da monarquia, a prisão do rei e a implantação da República. Com o apoio dos sansculottes, derrotaram os exércitos leais às monarquias absolutistas europeias e radicalizaram a oposição aos nobres.

Convenção

A pressão popular fez com que se formasse uma nova Assembleia para preparar outra Constituição. A Convenção, como ficou conhecida, funcionou entre 1792 e 1795, passou a controlar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e era dirigida pelo Comitê de Salvação Pública. Fortalecidos, os jacobinos proclamaram a República em 20 de setembro de 1792. No ano seguinte, guilhotinaram Luís XVI, capturado durante a guerra.

Inimiga da Inglaterra, a França de Napoleão decretou, em 1806, o bloqueio continental, impedindo a Europa de comercializar com os britânicos. Com a economia subordinada à Inglaterra, Portugal relutou em aderir ao bloqueio. Napoleão, então, ordenou a invasão do reino ibérico, provocando a vinda da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Isso apressaria nossa independência, ocorrida em 1822 (veja mais na pág.94).

um novo governo, o Consulado. Nesse sistema, a nação era administrada por três cônsules, dos quais Napoleão era o mais influente. Em 1804, o general coroou-se imperador. Prosseguiu a expansão territorial, formando um grandioso império que incluía a Áustria, a Holanda, a Suíça, a Itália, a Bélgica e a Península Ibérica. Também implantou o Código Civil, que confirmou a vitória da revolução e influenciou a legislação de quase todos os países europeus no século XIX.

Começava o Período do Terror, que durou de 1793 a 1794. Sob o comando de Robespierre, foi criado o Tribunal Revolucionário, Derrota de Napoleão encarregado de prender Napoleão foi derroe julgar traidores. Mitado por uma coalhares de pessoas folizão de potências ram guilhotinadas, europeias em 1815. incluindo jacobiNo mesmo ano, nos acusados de representantes conspiração, como dessas potências Danton e o jornareuniram-se no lista Desmoulins. Congresso de O governo jacobiViena para redefino foi popular, mas nir o mapa político as perseguições levada Europa e do munram à perda do apoio do. Sob a liderança do do povo. Os membros da [2] Reino Unido, da Áustria, Convenção acabaram se volda Prússia e da Rússia, os tando contra Robespierre, que territórios do Império Napofoi preso e executado. Assim, NAPOLEÃO leônico foram redistribuídos chegava ao fim a supremacia entre os países vencedores, BONAPARTE jacobina. Os girondinos, em Imperador consolida o restaurando dinastias e fronaliança com o grupo do pânta- jovem Estado burguês teiras alteradas pelas guerras no, instalaram novamente no napoleônicas. A Santa Alianna França poder a alta burguesia. ça, organização política internacional, é fundada com o objetivo de Diretório manter a França sob vigilância, deter Os novos líderes decidiram redigir ounovos movimentos revolucionários e gatra Constituição, instituindo o governo rantir o equilíbrio de poder estabelecido do Diretório (1795-1799), que consolidou entre as grandes potências europeias. as aspirações burguesas. Nesse período, No entanto, a partir de 1830, com as o país sofreu ameaças externas, e, para Revoluções Liberais, que começaram manter seus privilégios, a burguesia na França e se espalharam pela Euroentregou o poder ao general Napoleão pa, o Estado burguês concretizado por Bonaparte. Popular por suas conquistas Napoleão foi reerguido. As mudanças militares, ele deu um golpe de Estado trazidas pela Revolução Francesa tiem 1799 – o 18 Brumário –, instalando nham vindo para ficar.

[1] MUSEU DO LOUVRE/PARIS [2] BIBLIOTECA DO CONGRESSO

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IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Produção a todo vapor Com as fábricas, a burguesia tomou de vez para si o poder econômico e mudou o modo como o mundo trabalha e se organiza socialmente

A

Revolução Industrial foi o conjunto de transformações socioeconômicas vivido a partir do século XVIII que alterou a antiga economia agrária e consolidou o capitalismo – sistema econômico e social caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, pelo trabalho assalariado, pela acumulação de capital e pelo foco primordial no lucro. Iniciada na Inglaterra, a Revolução Industrial alastrou-se para o resto do mundo nos séculos seguintes, provocando profundas transformações sociais. Desenvolveu-se em três etapas: a I, a II e a III Revolução Industrial.

Causas e antecedentes

Entre os fatores que levaram à Revolução Industrial destacam-se as transformações ocorridas na agricultura inglesa do século XVI ao XVIII, as revoluções inglesas do século XVII, o desenvolvimento do setor manufatureiro e o controle que a Inglaterra exercia sobre o mercado mundial especialmente a partir do século XVII. TRANSFORMAÇÕES NA AGRICULTURA A partir

do século XVI, a estrutura agrária inglesa passou por uma série de mudanças. O desenvolvimento da manufatura têxtil de lã no norte da Europa induziu muitos membros da baixa nobreza inglesa e pequenos proprietários livres a expulsar os servos e trabalhadores dedicados à prática agrícola e a transformar essas terras em pastagens de ovelhas. Esse

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[1]

PRODUÇÃO EM SÉRIE As máquinas de tecer automáticas transformaram as relações de trabalho

processo, conhecido como cercamento dos campos, criou uma das principais pré-condições do capitalismo, a separação entre o trabalhador e os meios de produção (a terra, no caso). Dessa forma, o trabalhador, para sobreviver, deveria vender a única mercadoria que detinha, isto é, sua força de trabalho, surgindo, assim, a relação assalariada de produção. Esse processo foi denominado por Marx de acumulação primitiva (originária) do capital. REVOLUÇÕES INGLESAS As revoluções foram fundamentais, pois conduziram ao poder uma nobreza aburguesada interessada na expansão do comércio, das finanças e das manufaturas. Desde então, foi possível observar na Inglaterra uma série de medidas intervencionistas de caráter um pouco diferente do das adotadas pelas monarquias do continente. Enquanto estas estavam focadas num intervencionismo voltado para a promoção do poder do Estado, o intervencionismo inglês, depois da revolução, estava mais voltado para a promoção da acumulação privada do capital. Enquanto no continente o Estado era o fim da política mercantilista, na Inglaterra o Estado era um meio. DESENVOLVIMENTO DA MANUFATURA Como

a Inglaterra não tinha colônias tão lucrativas quanto Portugal e Espanha, muito cedo se firmou a convicção de que o apoio ao setor manufatureiro era fundamental para a economia.

CONTROLE DO MERCADO MUNDIAL O acesso e o controle que a Inglaterra exercia sobre o mercado internacional fizeram com que as demandas desse mercado fossem sentidas com mais intensidade na sua economia, instigando, como em nenhuma outra nação, seu setor manufatureiro.

I Revolução

Esse primeiro conjunto de transformações ocorreu entre 1760 e 1860, na Inglaterra, e teve início com o surgimento das primeiras indústrias – a princípio, têxteis. Até então, o mais eficiente método de produção era a manufatura doméstica: burgueses, donos da matéria-prima – no caso, algodão –, contratavam o serviço de tecelões independentes para produzir os tecidos a serem comercializados. A partir de meados do século XVIII, porém, a invenção das máquinas de tecer automáticas permitiria uma mudança radical nesse processo. A máquina tornou-se mais importante que a mão de obra. Os burgueses passaram a adquirir esses equipamentos, mais eficientes, criando o sistema fabril, e arrasando, por meio da concorrência, a produção doméstica. Nas fábricas, a produção era dividida em etapas. Cada trabalhador executava uma única tarefa, sempre do mesmo modo – a especialização ou divisão do trabalho. O sistema industrial instituiu duas novas classes opostas: os empresários, donos do capital e dos meios de


A HISTÓRIA HOJE RUMO À IV REVOLUÇÃO INDUSTRIAL?

Muitos especialistas debatem atualmente a possibilidade de estarmos à beira de uma IV Revolução Industrial. Há divergências, contudo, quanto à natureza das transformações que devem moldar os sistemas de produção nos próximos anos. Alguns apontam que o principal fator da mudança será o aperfeiçoamento da nanotecnologia – a partir da manipulação de moléculas e átomos, é possível criar novos processos e materiais ou mesmo novas aplicações a produtos conhecidos. Sua utilização abrange áreas variadas, como engenharia, química, eletrônica e medicina. Há ainda os entusiastas das impressoras 3D – máquinas que podem produzir objetos físicos tridimensionais a partir de desenhos no computador. Eletrodomésticos, brinquedos, calçados e uma infinidade de produtos podem ser criados em casa, o que reformularia o atual sistema manufatureiro. Resta saber se os avanços propostos por esses dois modelos serão suficientes para promover uma IV Revolução Industrial.

produção (equipamentos, fábricas, matérias-primas etc.), e os operários, que vendiam sua força de trabalho em troca de salário. No início, os empresários impuseram duras condições aos operários, como baixíssimos salários e desumanas jornadas de trabalho (que chegavam a 17 horas diárias), para ampliar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A fim de reivindicar melhores condições, os trabalhadores passaram a se organizar em associações, que dariam origem aos sindicatos.

II Revolução

A partir de 1870, teve início a II Revolução Industrial, marcada pelo uso de novas fontes de energia – eletricidade e petróleo –, pela substituição do ferro por aço e pela criação da linha de montagem, idealizada pelo empresário norte-americano Henry Ford, já no século XX. O método da produção em série ficou conhecido como fordismo. Outra característica desse segundo período foi a internacionalização das indústrias, antes restritas basicamente à Inglaterra. Foi nessa época também que a divisão do trabalho se generalizou como forma de aumentar o lucro. Surgiram os trustes (fusão de empresas do mesmo ramo para monopolizar a produção, o preço e o mercado), as holdings (grandes conglomerados de empresas) e os cartéis (acordos para eliminar a concorrência). A disseminação da prática do financiamento para viabilizar o surgimento de novas fábricas fez com que o capitalismo industrial começasse a ser substituído pelo capitalismo financeiro, ou seja, os bancos passaram a se tornar mais poderosos que as indústrias. A II Revolução Industrial proporcionou ainda o desenvolvimento da política imperialista pelos países europeus (veja a matéria na pág. 64). A industrialização criou uma crescente

SEM LIMITE DE IDADE Garota trabalha em confecção nos Estados Unidos: primeira fase da Revolução Industrial foi marcada pela exploração do trabalho infantil

[2]

demanda por consumidores, e, com o esgotamento dos mercados internos, a solução foi buscar compradores em outros países. Também havia a necessidade de mão de obra, matéria-prima e locais de investimento de capital. Essa procura levou os países capitalistas a colonizar outros territórios e a brigar por eles, o que culminou, em 1914, na eclosão da I Guerra Mundial (veja a matéria na pág. 66).

III Revolução

A III Revolução Industrial, a partir da década de 1950, foi marcada pelo aparecimento de gigantescos complexos multinacionais e pela informatização, que, ao substituir a mão de obra humana,

contribuiu para a eliminação de postos de trabalho. Nessa etapa da Revolução Industrial, a indústria se aproxima dos centros de pesquisa, criando áreas como microeletrônica, telecomunicações e química fina. Uma das características mais marcantes do período foi o surgimento dos polos tecnológicos, como o do Vale do Silício, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde apareceram empresas como a Apple e a Microsoft. No Japão, surgiu o toyotismo, em oposição ao fordismo, um método de produção mais flexível e diversificado: em vez de produzir grandes séries de um mesmo modelo, ele visa à fabricação de séries menores de uma variedade maior de modelos de veículos.

[1] REPRODUÇÃO [2] LEWIS HINE/BIBLIOTECA DO CONGRESSO

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IDADE CONTEMPORÂNEA INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA ROTAS DA LIBERDADE Veja os caminhos seguidos por Bolívar e San Martín, os novos países que surgiram e as datas de independência HAITI CUBA (1804) REPÚBLICA (1898) DOMINICANA (1865)**

Livres, pero no mucho A elite hispano-americana livrou-se do domínio espanhol, mas não rompeu a relação de dependência da Europa

A

invasão da Península Ibérica por Napoleão Bonaparte, em 1807, causou o desaparecimento temporário da presença da metrópole nas colônias espanholas. Inspirados no Iluminismo, na independência dos Estados Unidos (EUA) e na Revolução Francesa, e querendo se ver livres do pacto colonial, que limitava seus negócios, os criollos (descendentes dos espanhóis nascidos na colônia, que compunham uma aristocracia local) perceberam que era um bom momento para ampliar a autonomia das colônias e brigar pela independência. Para isso, eles contavam com um importante aliado: a Inglaterra. A maior potência industrial da época tinha grande interesse na liberação dos mercados latino-americanos – até então subordinados ao monopólio espanhol –, o que lhe permitiria inundá-los com seus produtos.

Guerras

Os primeiros movimentos pela independência ocorreram ainda no século XVIII e foram severamente reprimidos pela metrópole. O mais célebre foi comandado pelo líder indígena Tupac Amaru, no Peru, em 1780. A reação espanhola foi intensa e deixou 80 mil mortos. Quando Napoleão Bonaparte foi derrotado na Batalha de Waterloo, em 1815, a Espanha tentou se impor novamente nas colônias, mas as forças emancipacionistas já estavam bem articuladas e, com o apoio inglês, intensificaram o embate. Entre os principais líderes que lutavam pela independência das colônias espa-

60 GE HISTÓRIA 2017

MÉXICO (1821) PANAMÁ* (1903) COLÔMBIA* (1830)

PORTO RICO (1898) VENEZUELA* (1830) PERU (1824)

EQUADOR* (1830)

BRASIL (1822)

PERU* (1824) CHILE (1818)

Rota de Bolívar Rota de San Martín

BOLÍVIA (1825) PARAGUAI (1813) URUGUAI (1828) ARGENTINA (1816)

*As datas referem-se à separação dos atuais países da antiga Grã-Colômbia, nação independente fundada por Simón Bolívar em 1821 **Refere-se à segunda proclamação da independência em relação aos espanhóis. A primeira foi em 1821 Fonte: Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, História para o Ensino Médio, 1 ed., Scipione, págs. 326, 327

nholas, destacavam-se o venezuelano Simón Bolívar e o argentino José de San Martín, que percorreram o continente enfrentando os espanhóis (veja o mapa acima). O primeiro partiu do norte, libertando a Venezuela (1819), a Colômbia (1819), o Equador (1822) e a Bolívia (1825). San Martín, após conseguir a libertação de seu país, em 1816, rumou em direção aos Andes, proclamando a independência do Chile (1818) – com a colaboração do líder local Bernardo O’Higgins – e do Peru (1821). O movimento emancipacionista se estendeu à América Central e ao México. Em 1825, as únicas possessões espanholas no continente eram Cuba e Porto Rico, que passariam ao controle dos EUA em 1898, na Guerra Hispano-Americana.

Fragmentação

Em 1826, Bolívar apresentou na Conferência do Panamá seu projeto de uma grande federação de repúblicas, unindo as antigas colônias espanholas em um só país. Para Bolívar, a unidade da América espanhola era fundamental para mantê-la forte diante de duas ameaças que paira-

vam sobre os territórios independentes. A primeira vinha do Congresso de Viena e seu braço armado, a Santa Aliança. O projeto restaurador do Congresso deixava implícito que a Espanha poderia se aventurar a reconquistar as colônias na América, com o apoio da Aliança. Além disso, em 1824, os EUA aprovaram a Doutrina Monroe, que propunha “a América para os americanos” e explicitava que os norte-americanos não aceitariam intervenções europeias de caráter restaurador na América. Implícita à doutrina estava a intenção dos EUA de substituir a hegemonia europeia sobre a América do Sul pela sua hegemonia. A união proposta por Bolívar pretendia criar um obstáculo às pretensões dos EUA. Mas a ideia da federação fracassou, pois batia de frente com as ambições das oligarquias locais, sedentas por poder. Formaram-se, assim, quase duas dezenas de Estados.

México

Um dos casos mais particulares das independências das colônias espanholas na América foi o mexicano. A partir da independência, proclamada em 1821 e após uma série de conflitos populares, o país passou por várias intervenções estrangeiras, tendo, inclusive, perdido cerca de metade de seu território para os EUA na década de 1840. Entre 1876 e 1910, Porfírio Diaz implantou uma sangrenta ditadura e abriu o mercado do México ao capital estrangeiro. Entre 1910 e 1917, Emiliano Zapata e Francisco “Pancho” Villa promoveram uma das maiores revoluções populares da América, ocupando e distribuindo terras para os camponeses, na chamada Reforma Agrária Revolucionária, que terminou com o assassinato dos dois líderes populares.

Nova dependência

De modo geral, a independência da América Espanhola representou a separação política em relação à metrópole, mas a estrutura social se manteve, com o domínio dos criollos. As novas nações também continuaram subordinadas economicamente, mas operou-se uma mudança significativa: agora, a subordinação não era mais em relação à Espanha, mas sim ao capitalismo industrial britânico.


IDADE CONTEMPORÂNEA DOUTRINAS SOCIAIS E POLÍTICAS DO SÉCULO XIX

Ideias bombásticas No século XIX surgiram teorias que marcariam a Idade Contemporânea, estimulando guerras e revoluções

A

industrialização e a urbanização da Europa vieram acompanhadas do surgimento de novas doutrinas sociais e políticas. Para justificar o sistema econômico vigente – o capitalismo –, foi elaborado o liberalismo. Para combatê-lo, criou-se o socialismo. O avanço dessas ideias provocou conflitos durante os quais se desenvolveu outra inflamada novidade da época: o nacionalismo.

Liberalismo

Nascido durante o Iluminismo, o liberalismo teve como principais teóricos, na política, o inglês John Locke e, na economia, o escocês Adam Smith (veja na pág. 49). Outros nomes de peso foram os ingleses David Ricardo (1772-1823) e Thomas Malthus (1766-1834). Uma das principais características do liberalismo é a propriedade privada, que seria um direito natural do ser humano. Com ela, o indivíduo teria liberdade de produzir e comercializar, sem interferência do governo, que deve apenas garantir a ordem e a justiça. Para os liberais, a economia tem leis próprias que não devem ser violadas. Os preços variam de acordo com a oferta e a procura de cada produto, e a livre concorrência entre as empresas elimina as menos eficientes. Os liberais procuravam justificar as desigualdades, afirmando que elas eram naturais e, com o progresso, diminuiriam. A doutrina influenciou as revoluções liberais de 1830 na Europa, que consolidaram o poder político da burguesia.

[1]

PARCERIA DE CLASSE Com o Manifesto Comunista, Marx e Engels inauguraram o socialismo científico

Socialismo

O socialismo propõe a supressão da propriedade privada dos meios de produção e das classes sociais. Os primeiros teóricos buscaram solucionar os problemas da classe operária por meio de projetos idealistas, em geral voltados para grupos restritos. Esses estudos ficariam conhecidos como socialismo utópico. Em 1848, com a publicação do Manifesto Comunista, os alemães Karl Marx e Friedrich Engels inauguraram o socialismo científico. Eles defendiam a tese de que a história é uma sucessão de lutas de classes e, durante o capitalismo, o conflito se dá entre burgueses e proletários (trabalhadores que vendem sua força de O QUE ISSO trabalho). TEM A VER COM Para explicar MATEMÁTICA como estes últiNa obra Ensaio mos são explorasobre o Princípio da dos pelas classes População, Thomas proprietárias, Malthus afirma que a população crescia Marx e Engels em progressão criaram o conceigeométrica, to da mais-valia. enquanto a Ela corresponde capacidade de o ao trabalho exceplaneta de prover sustento para dente realizado essa população pelo trabalhador, aumentava isto é, a diferença em progressão entre o valor do aritmética. Para trabalho que o saber mais sobre PA e PG, veja o GUIA proletário realiza DO ESTUDANTE e o valor que ele MATEMÁTICA recebe na forma

de salário. É desse excedente que as classes proprietárias retiram o lucro, o juro e a renda da terra. Os teóricos estimulavam os proletários a se unir e lutar contra os burgueses. A vitória resultaria na ditadura do proletariado. O socialismo seria uma etapa de transição para o comunismo, em que o Estado gradualmente desapareceria. Tais ideias influenciariam a Revolução Russa, de 1917 (veja na pág. 68).

Nacionalismo

O nacionalismo determina a devoção do indivíduo ao Estado nacional. Influenciou as unificações da Itália e da Alemanha e as lutas de independência das colônias. No século XX, inspirou os regimes nazifascistas (veja na pág. 71).

Anarquismo

Os anarquistas acreditavam ser possível existir governo (no sentido de autogoverno, como na democracia direta) sem Estado. No século XIX, o movimento se divide em duas correntes principais. A primeira, encabeçada pelo francês Pierre-Joseph Proudhon, afirma que a sociedade deve ser estruturada em pequenas propriedades baseadas no auxílio mútuo, sendo contra a transformação da sociedade pela violência. A segunda, liderada pelo russo Mikhail Bakunin, propõe uma revolução sustentada pelo campesinato. Operários espanhóis e italianos sofrem influência do anarquismo, mas o movimento é esmagado pelo fascismo.

[1] REPRODUÇÃO

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IDADE CONTEMPORÂNEA PRIMAVERA DOS POVOS E COMUNA DE PARIS

BARRICADA Durante a Comuna de Paris, os operários criaram um governo revolucionário que assumiu o controle da capital francesa e adotou reformas

[1]

Paris em chamas No século XIX, a capital francesa foi palco de movimentos revolucionários de inspiração socialista que tinham como objetivo levar a classe trabalhadora ao poder

A

influência do ideário socialista se manifestou em dois movimentos revolucionários importantes que eclodiram na França no século XIX: as Revoluções de 1848 e a Comuna de Paris.

As revoluções de 1848

Paris foi o polo irradiador da onda revolucionária que atingiu a Europa em 1848, que ficou conhecida como Primavera dos Povos. Desde meados dos anos 1840, grupos de oposição na França reivindicavam leis que garantissem as liberdades públicas de organização e manifestação, o fim do regime censitário e o combate à corrupção. Em fevereiro de 1848, num ambiente de grave crise econômica, a oposição convocou uma grande manifestação em Paris, que foi proibida pelo governo de Luis Felipe, conhecido como o “rei dos banqueiros”. Apoiados pelos socialistas, os operários ergueram barricadas por toda Paris e enfrentaram a Guarda Nacional. Após dois dias de combates, os revolucionários saíram vitoriosos. O “rei dos banqueiros” foi deposto, e os revoltosos implantaram a Segunda República na França.

62 GE HISTÓRIA 2017

O governo provisório francês, pela primeira vez na história integrado por representantes socialistas, aprovou várias medidas de caráter social, como o direito ao trabalho e a redução da jornada trabalhista. Entretanto, nas eleições da nova Assembleia Nacional, a maioria dos deputados eleitos alinhou-se à conservadora burguesia francesa. Com isso, as medidas aprovadas pelo governo provisório a favor da classe trabalhadora acabaram sendo revogadas. Os trabalhadores reagiram com uma nova jornada de revoltas e protestos, violentamente reprimida pela Guarda Nacional. Cerca de 3 mil trabalhadores foram mortos, e 15 mil, presos e deportados para as colônias. Na França e em outros países europeus, o movimento dos trabalhadores despertou enormes esperanças, mas as tentativas de instauração de regimes democráticos foram sufocadas pelas forças da ordem, que reassumiram o controle da situação. As revoluções de 1848 são consideradas um marco importante, pois, a partir delas, a burguesia abriu mão de seu

projeto revolucionário e se converteu no agente de defesa da ordem. Agora, caberia aos trabalhadores a tarefa de dar continuidade às transformações da ordem social burguesa, com um projeto político próprio e revolucionário.

A Comuna de Paris

Com a derrota da França para a Prússia, na guerra de 1871, os republicanos e os socialistas que controlavam Paris não aceitaram os termos do acordo de paz e desafiaram os prussianos a invadir e conquistar a cidade. Receosos, os conservadores e a burguesia abandonaram Paris. Os socialistas e os comunistas, com o apoio dos trabalhadores, proclamaram, então, um governo revolucionário, conhecido como Comuna de Paris. Foi a primeira vez na história que um governo assumiu e implementou um programa de reformas inspirado no ideário comunista: a propriedade privada foi abolida, criou-se um sistema de democracia direta, foi instituído o ensino gratuito e obrigatório, a população foi armada e os operários assumiram o controle da economia e do destino da cidade. Contrária a essas medidas, a burguesia francesa, reunida em Versalhes, aliou-se aos prussianos. Juntas, tropas francesas e da Prússia invadiram Paris e promoveram o maior banho de sangue ocorrido na história da cidade até então, em que 20 mil pessoas foram fuziladas, e mais de 50 mil, presas ou exiladas. Após 72 dias, chegava ao fim a Comuna de Paris.


IDADE CONTEMPORÂNEA UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA E DA ITÁLIA ALEMANHA UNIFICADA

A UNIFICAÇÃO ITALIANA

O novo país surgiu a partir da união de dezenas de estados

A campanha foi iniciada por Piemonte-Sardenha

DINAMARCA MAR DO NORTE

SCHLESWIG

MAR BÁLTICO

HOLSTEIN OLDEMBURGO MECKLEMBURGO PAÍSES BAIXOS

BÉLGICA LUXEMBURGO

HANOVER

PRÚSSIA

PRÚSSIA HESSE-KASSEL HESSE TURÍNGIA SAXÔNIA NASSAU

PALATINADO BAVIERA LORENA WÜRTEMBERG ALSÁCIA BADEN FRANÇA SUÍÇA

RÚSSIA

Império alemão – 1871-1918 (II Reich) Prússia em 1815 Anexação da guerra contra a Dinamarca (1864-1866) Anexação da guerra contra o império austro-húngaro (1866) Anexação da guerra franco-prussiana (1871) Confederação Germânica do Norte (1867-1871)

ÁUSTRIA-HUNGRIA

A criação da Alemanha e da Itália no século XIX alterou o equilíbrio de forças da Europa

N

o decorrer do século XIX, a ascensão de uma burguesia industrial em alguns estados germânicos e no norte da Península Itálica deu início ao processo de unificação de Alemanha e Itália. Para essa burguesia, a formação de um Estado que delimitasse um mercado interno e protegesse a indústria nascente da concorrência inglesa e francesa era essencial para os negócios. Por outro lado, a aristocracia que exercia o poder nesses Estados sabia que sua capacidade de se impor militarmente diante dos vizinhos dependia da força do setor industrial. A convergência de interesses entre a aristocracia e a burguesia foi fundamental para os processos de unificação em ambos os países. O problema é que a unificação desses Estados sofria forte oposição da França, pois ameaçava sua hegemonia e o equilíbrio europeu, definido pelo Congresso de Viena.

Unificação da Alemanha

Pelo Congresso de Viena, a Alemanha foi dividida em 38 estados autônomos. Em 1818, a Prússia patrocinou a criação do Zollverein, uma união aduaneira

TOSCANA CÓRSEGA

SARDENHA

Ancona

ESTADOS DA IGREJA Roma

MAR ADRIÁTICO Nápoles

MAR TIRRENO REINO DAS DUAS SICÍLIAS Palermo

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 24

Surgem novos países

TRENTINO PIEMONTE LOMBARDIA VENÉCIA Turim ÍSTRIA Gênova PARMA ROMAGNA MÓDENA LUCCA

MAR JÔNIO

SICÍLIA

que integrou progressivamente todos os estados da confederação e acelerou o desenvolvimento industrial. O processo de unificação política fortaleceu-se com a ascensão de Otto Von Bismarck ao cargo de chanceler da Prússia em 1862. Ele incorporou territórios de tradição germânica e regiões importantes para a industrialização alemã. Assim, em guerras contra Dinamarca (1864), Áustria-Hungria (1866) e França (1871), Bismarck consolidou a unificação alemã, criando o II Reich (II Império).

Unificação da Itália

A unificação italiana começou efetivamente com a ascensão do Conde de Cavour, em 1852, ao posto de primeiroministro do Reino Piemonte-Sardenha. Com apoio da França, em 1859, do líder socialista Garibaldi, entre 1860 e 1861, e da Alemanha, em 1870, Cavour incorporou territórios de cultura italiana em uma série de guerras contra a Áustria-Hungria e a Igreja Católica. Veneza foi anexada em 1866, e Roma, cinco anos depois. A Igreja reagiu, rompendo com o Estado italiano recém-criado. As relações só foram normalizadas em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão, que estabelecia a criação do Estado do Vaticano e o pagamento à Igreja de uma indenização pelos territórios perdidos. A unificação da Alemanha e da Itália fragilizou o equilíbrio da Europa e inaugurou uma nova fase de concorrência econômica e interestatal que conduziria o continente à I Guerra Mundial.

Reino Piemonte-Sardenha (1859) Anexações de 1859-1861 Anexação em 1866 Anexação em 1871 Anexações em 1919 Campanha de Garibaldi Campanha de tropas de Piemonte Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 24 (adaptado)

A HISTÓRIA HOJE RECONHECIMENTO DA ONU AMPLIA LEGITIMIDADE INTERNACIONAL

Com a maior parte de seu território ocupada por Israel, a Palestina tenta estabelecer um Estado soberano. Para isso, busca o reconhecimento como membro pleno da ONU, o que ampliaria sua legitimidade internacional. No entanto, a pretensão dos palestinos esbarra na objeção dos Estados Unidos, principais parceiros dos israelenses. Atualmente, a Palestina é considerada um Estado observador pela ONU. A luta dos palestinos baseia-se num conceito segundo o qual a cada povo (entendido como uma comunidade étnica com história, língua, tradição e costumes mais ou menos comuns) deveria corresponder um Estado. Foi com base nessa concepção que os movimentos nacionalistas na Itália e na Alemanha foram praticamente concluídos em 1871.

[1] BHVP/ROGER-VIOLLET/WIKIMEDIA

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IDADE CONTEMPORÂNEA IMPERIALISMO

DOUTRINAÇÃO Crianças aprendem a “lição” do colonizador em Kwango, no Zaire, um dos vários países africanos dominados pelo imperialismo das nações europeias

[1]

O mundo é deles Na nova onda de colonização no século XIX, as potências partilharam entre si as regiões menos desenvolvidas do globo

A

política de expansão de poder e dominação de um Estado ou sistema político sobre outros ocorreu muitas vezes na história. No entanto, o termo imperialismo surgiu para designar especificamente a expansão das potências industriais europeias a partir do século XIX.

Causas e características

A Revolução Industrial criou alguns desafios para as nações europeias. Com uma indústria apta a produzir mais, as potências europeias necessitavam ampliar seu mercado consumidor. Além disso, os grandes burgueses buscavam outras regiões onde pudessem investir mais para obter lucros ainda maiores.

64 GE HISTÓRIA 2017

Havia, ainda, a necessidade de achar novas fontes de matérias-primas, como ferro e petróleo. Tudo isso levou os europeus a uma nova expansão colonial. Mas ela teve algumas diferenças importantes em relação à ocorrida no início da Idade Moderna, a começar pelos objetivos, que, nos séculos XV e XVI, eram primordialmente a exploração de metais preciosos e de produtos tropicais. Além disso, agora o sistema econômico vigente não era mais o capitalismo comercial, e sim o industrial; por fim, em vez da América, foram exploradas a África e a Ásia. Três modalidades de relações neocoloniais foram estabelecidas pelas potências europeias nesse período: Colônias: territórios dominados por meio da presença militar; Protetorados: países governados por elite local tutelada por uma potência industrial; Áreas de influência: países com governo formalmente autônomos, mas submetidos a acordos econômicos desiguais.

Partilha da África

A descoberta de jazidas de diamante e outras riquezas, como marfim, no território africano, precipitou a imediata colonização da região. Os primeiros a conquistar terreno foram os belgas, detentores do monopólio sobre o Congo (atual República Democrática do Congo), desde 1876, e os franceses, que avançaram sobre a Argélia, a Tunísia e o Marrocos. Logo depois vieram os ingleses, que se apoderaram do Egito, do Sudão e do sul do continente. Os conflitos entre britânicos e a população bôer – descendente de holandeses, instalada na África do Sul – deram origem à Guerra dos Bôeres (1899-1902), que acabou com vitória inglesa. A desavença entre as potências imperialistas crescia, e, para resolver o impasse de quem seria o grande ganhador do centro da África, os países europeus realizaram, em 1884 e 1885, a Conferência de Berlim. No congresso ficou estabelecida uma partilha do território africano. O resultado foi devastador para o continente, que teve suas fronteiras redivididas de acordo com os interesses


europeus – o que provocou várias guerras sangrentas entre tribos rivais no decorrer do século XX – e viu sua economia tornar-se completamente dependente da Europa (veja o boxe abaixo).

Conquista da Ásia

As regiões asiáticas mais almejadas pelas potências imperialistas foram a Índia e a China. Na Índia, os britânicos já possuíam as bases da colonização estabelecidas desde a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando a vitória sobre a arquirrival França lhes garantiu hegemonia na região. Em 1857, os nativos se rebelaram na Guerra dos Sipaios, vencida pelos ingleses. Em 1876, a rainha Vitória foi coroada imperatriz da Índia. A exploração comercial era feita por meio da poderosa Companhia das Índias Orientais, detentora do monopólio da atividade. Na China, a entrada europeia foi dificultada pelo governo forte e centralizado. O caminho usado pelos ingleses para penetrar no país foi a exportação ilegal de ópio – poderoso narcótico extraído da papoula – para solo chinês, onde seu consumo era proibido. As autoridades chinesas reagiram queimando 20 mil caixas do produto em 1839. A tensão levou às Guerras do Ópio. Após três anos de batalhas, os ingleses saíram vitoriosos e estabeleceram o Tratado de Nanquim, no qual o governo chinês se comprometia a entregar Hong Kong à Inglaterra e a abrir cinco portos ao comércio internacional. No fim do século XIX, o enorme território chinês estava dividido em esferas de influência de Inglaterra, Alemanha, Rússia, França, Estados Unidos (EUA) e Japão. Em 1900, os boxers, um grupo nacionalista com apoio popular, sitiou o bairro ocupado pelas delegações estrangeiras em Pequim, dando início à Guerra dos Boxers. O confronto findou com a derrota chinesa e com a imposição, pelas potências imperialistas, da política da “porta aberta”, na qual a China tinha de fazer amplas concessões comerciais.

Imperialismo russo

Por ter a economia basicamente agrária até o século XIX, somente após 1870 a Rússia sentiu necessidade de mercados consumidores e de matéria-prima, dedicando-se às conquistas imperialistas.

PLANETA PARTILHADO Confira os domínios das potências imperialistas na África, no Sudeste Asiático e na Oceania TUNÍSIA SÍRIA PÉRSIA ARGÉLIA LÍBIA RIO DE OURO ÁFRICA EGITO ÍNDIA ARÁBIA OCIDENTAL FRANCESA SUDÃO GÂMBIA ERITREIA ÁFRICA GOA EQUATORIAL GUINÉ FRANCESA ABISSÍNIA SERRA LEOA CAMARÕES LIBÉRIA QUÊNIA SOMÁLIA CONGO C. DO OURO NIGÉRIA ÁFRICA BELGA TOGO ORIENTAL Oceano Índico GUINÉ ALEMÃ ANGOLA EQUATORIAL MOÇAMBIQUE Oceano Atlântico SUDOESTE AFRICANO MADAGASCAR UNIÃO SUL-AFRICANA MARROCOS

Grã-Bretanha Itália Espanha Estados Unidos

França Holanda Japão

Alemanha Portugal Bélgica

CHINA

COREIA

JAPÃO Oceano Pacífico

Hong KongFORMOSA INDOCHINA

FILIPINAS

NOVA GUINÉ

BORNÉU ÍNDIAS NEERLANDESAS JAVA

AUSTRÁLIA

TASMÂNIA NOVA ZELÂNDIA

Fonte: Atlas Histórico Escolar, 8 ed., Fename/MEC, págs. 138, 139

Imperialismo japonês

A HISTÓRIA HOJE FRONTEIRAS ARBITRÁRIAS INFLUENCIAM CONFLITOS NA ÁFRICA

A atual divisão política dos Estados africanos é resultado da colonização europeia entre os séculos XVI e XX e foi definida com a Conferência de Berlim (1884-1885). A partilha do continente não respeitou os territórios originais dos diversos povos, agrupando-os ou separando-os de forma arbitrária. Desse modo, com a independência, as hostilidades étnicas e culturais foram acentuadas e desencadearam duradouros e violentos conflitos. Nações como a Costa do Marfim e a Nigéria, por exemplo, enfrentam profundas divisões entre o norte islâmico e o sul cristão.

Lançou-se em direção à Crimeia (região próxima ao Mar Negro) e à Índia, mas foi barrada pelas potências europeias, principalmente a Inglaterra. A opção foi voltar-se para a região chinesa da Manchúria, rica em minerais. Porém, aí também os russos depararam com um forte concorrente: o Japão.

Assim como a Rússia, o Japão foi, até o século XIX, fechado política e economicamente. As mudanças só começaram durante a Era Meiji, no fim do século, quando houve investimentos em indústrias, acabando com a antiga estrutura agrária de produção. Em guerras contra a China, o Japão conquistou a Ilha de Formosa (Taiwan) e a Coreia. Mais tarde, o país entrou em choque com a Rússia pela Manchúria, na Guerra Russo-Japonesa. Apoiados por ingleses e norte-americanos, os japoneses saíram vencedores do conflito em 1905 e tornaram-se a maior potência imperialista do Oriente.

Imperialismo norte-americano

A história de intervenções norteamericanas na América Latina começou em 1846, com a guerra contra o México, em que os EUA anexaram quase metade do território vizinho. Em 1898, na Guerra Hispano-Americana, o país conquistou Porto Rico e, três anos depois, garantiu poder de intervenção sobre a recém-independente Cuba. No Panamá, os EUA apoiaram a independência do país e garantiram para si o direito de construir e controlar o estratégico Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico. Já no século XX, por meio de uma política conhecida como “big stick” (grande porrete), o país consolidou seu poder sobre o Caribe, impondo forte presença militar e domínio econômico na região.

[1] COLEÇÃO ROGER-VIOLLET/AFP

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IDADE CONTEMPORÂNEA I GUERRA MUNDIAL EUROPA EM 1914 Veja as fronteiras do continente às vésperas do conflito e as forças que se enfrentaram

ISLÂNDIA (DINAMARCA)

Tríplice Aliança e aliados Tríplice Entente e aliados Itália (em maio de 1915, passa a compor a Tríplice Entente) Países neutros Países invadidos pela Tríplice Aliança

SUÉCIA NORUEGA

Confronto de titãs

DINAMARCA REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E IRLANDA

O mais violento combate entre as potências até então redefiniu a distribuição de poder no planeta

PAÍSES BAIXOS

ALEMANHA BÉLGICA LUXEMBURGO

FRANÇA

IMPÉRIO RUSSO ÁUSTRIA-HUNGRIA

SUÍÇA

ROMÊNIA SÉRVIA ITÁLIA MONTENEGRO BULGÁRIA ALBÂNIA PORTUGAL

E

m 1914, um conflito armado entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia estendeu-se às demais potências imperialistas europeias e envolveu dezenas de países. A guerra durou quatro anos, deixou cerca de 14 milhões de mortos e sacudiu a geopolítica mundial.

Motivos e alianças

O principal fator que desencadeou a I Guerra Mundial foi o choque de imperialismos: todas as potências europeias estavam empenhadas em expandir suas economias e seus domínios, o que provocava disputas. A situação ficou especialmente complicada no início do século XX, quando a Alemanha despontou como uma das economias mais pujantes do continente, após unificar-se e industrializar-se de forma acelerada. A ascensão preocupava britânicos e, sobretudo, franceses, que alimentavam revanchismo contra os alemães desde a derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870). A Rússia também tinha atritos com vizinhos. Sob o pretexto do paneslavismo (união de todos os povos eslavos), ela queria anexar áreas dos impérios Austro-Húngaro e TurcoOtomano. Os territórios otomanos eram desejados pela Sérvia, que sonhava, a exemplo da Rússia, em agregar os eslavos da região na Grande Sérvia. Os choques de interesses levaram à criação de dois sistemas rivais de alianças. Em 1879, a Alemanha firmou com

66 GE HISTÓRIA 2017

ESPANHA

IMPÉRIO OTOMANO (TURQUIA – 1918) GRÉCIA

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 25

o Império Austro-Húngaro um acordo contra a Rússia. Três anos depois, a Itália, rival da França no Mediterrâneo, aliou-se aos dois países, constituindo a Tríplice Aliança. Do lado oposto, surgiu a Tríplice Entente, que teve origem na Entente Cordiale, formada em 1904 por Reino Unido e França, para se opor ao expansionismo germânico. Em 1907 conquistou a adesão da Rússia. Uma vez montados os dois blocos, as potências iniciaram uma política de militarização e surgiram pequenos conflitos. As atenções se voltavam agora para a região dos Bálcãs, disputada por ambas as alianças e agitada por levantes nacionalistas.

Guerra

Em junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, sucessor do Império Austro-Húngaro, e sua mulher foram assassinados em visita a Sarajevo, na Bósnia-Herzegóvina – a região havia sido anexada pelos austríacos anos antes. O crime foi cometido por um estudante membro de uma organização separatista. Após confirmada a cumplicidade

de políticos da Sérvia no atentado, o governo austríaco enviou um ultimato aos sérvios. Exigia, entre outras medidas, a demissão de ministros suspeitos de participação no crime. A Sérvia relutou em atender às exigências, e o país foi invadido pelos austríacos em 1º de agosto, dando início aos combates. Logo, as demais nações que compunham as alianças entraram no conflito. A Rússia declarou guerra à Áustria; a Alemanha, à Rússia. A França mobilizou tropas contra os alemães. Em 3 de agosto de 1914, o continente estava em guerra. Em seguida, outros países tomaram partido: o Reino Unido aliouse à França; a Turquia, do lado dos alemães, atacou os portos russos no Mar Negro; e o Japão, interessado nos domínios germânicos no Extremo Oriente, engrossou o bloco contra a Alemanha. Ao lado da Entente, entraram outras 24 nações, estabelecendo uma ampla coalizão, conhecida como Aliados. Já a Alemanha recebeu a adesão do Império Turco-Otomano, movido pelos interesses nos Bálcãs. Esse primeiro estágio da guerra, que durou até a Batalha do


EUROPA EM 1922 Confira como ficou a divisão política após o confronto Novos países

ISLÂNDIA (DINAMARCA)

SUÉCIA

FINLÂNDIA

NORUEGA Mar Báltico

LETÔNIA LITUÂNIA

Mar do Norte DINAMARCA

IRLANDA

PAÍSES BAIXOS GRÃ-BRETANHA BÉLGICA

ALEMANHA

LUXEMBURGO

Oceano Atlântico

FRANÇA

SUÍÇA

ESTÔNIA

POLÔNIA

UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS (URSS)

PRÚSSIA ORIENTAL (Alemanha)

TCHECOSLOVÁQUIA ÁUSTRIA HUNGRIA

ROMÊNIA IUGOSLÁVIA BULGÁRIA

ITÁLIA PORTUGAL

ALBÂNIA

ESPANHA

Mar Negro

TURQUIA

GRÉCIA Mar Mediterrâneo

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág.25

Marne, vencida pelos franceses, em setembro de 1914, ficou conhecido como guerra de movimento. Era quando as potências ainda acreditavam numa decisão rápida para o conflito. Já o momento seguinte, a guerra de trincheiras (ou de posições), foi marcado pelo uso de metralhadoras e tanques. Na frente ocidental, a guerra entre França e Alemanha continuou sem vencedores até 1918. Na frente oriental, os alemães abateram a Rússia. A Itália, embora pertencente à Tríplice Aliança, ficou neutra no início, mas trocou de lado em 1915, sob a promessa de receber parte dos territórios turco e austríaco. Em 1917, os únicos países da Entente que resistiam eram a Inglaterra e a França. Na Rússia, quase derrotada, a insatisfação popular levou à revolução socialista (veja mais na pág. 68). Com a derrota russa e o risco de a Alemanha avançar pela frente ocidental e conquistar a França, os Estados Unidos entraram na guerra com os Aliados e decidiram o confronto. O país queria preservar o equilíbrio de poder na Europa e evitar uma possível hegemonia alemã.

Tratados de paz

Em julho de 1918, forças inglesas, francesas e norte-americanas lançaram o ataque definitivo. As potências centrais recuaram e começaram a solicitar armistícios. Aos poucos, Bulgária, Turquia e Áustria se renderam. A guerra estava praticamente vencida.

Pelo Tratado de Brest-Litovsk, os bolcheviques, que assumiram o poder na Rússia, já haviam assinado a paz em separado com a Alemanha, em março de 1918. A fome e a saúde precária da população alemã levaram o país à beira de uma revolução. Com a renúncia do kaiser (imperador alemão), exigida pelos EUA, um conselho provisório negociou a rendição. Em janeiro de 1919, no Palácio de Versalhes, iniciou-se a Conferência de Paris, em que o Conselho dos Quatro, formado por EUA, França, Inglaterra e Itália, tomou as decisões do pós-guerra. O Tratado de Versalhes determinou que a Alemanha cedesse um sétimo de seu território, perdesse suas colônias, tivesse seu Exército reduzido e pagasse uma indenização. Ficou estabelecida a criação da Liga das Nações, encarregada de manter a paz mundial. Pelos tratados de Saint-Germain e Trianon, o Império Austro-Húngaro foi desmembrado, e surgiram a Hungria, a Tchecoslováquia, a Polônia e a Iugoslávia. A Áustria virou um pequeno Estado, sem poder relevante. A paz com o Império Turco-Otomano, também desmembrado, foi selada no ano seguinte. PARA IR ALÉM Em Era a Guerra de Trincheiras, o quadrinhista francês Jacques Tardi reúne diversas situações brutais e desumanas vividas pelos soldados nas trincheiras, mostrando o desespero e o despreparo dos combatentes, que só queriam que a guerra acabasse logo para poderem voltar para suas casas.

[1]

ENTRINCHEIRADOS Soldados alemães na I Guerra Mundial: o conflito deixou 14 milhões de mortos

[1] BIBLIOTECA DO CONGRESSO

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IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO RUSSA

[1]

VERVE VERMELHA Vladimir Lênin discursa em reunião dos conselhos populares, em Moscou, após a vitória da revolução bolchevique de 1917

Surge a potência rubra Durante a I Guerra Mundial, socialistas russos criaram o primeiro país a pôr em prática as ideias de Karl Marx

A

Revolução Russa foi um movimento ocorrido entre 1917 e 1928 que derrubou a monarquia no país e culminou na criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – ou apenas União Soviética –, o primeiro país socialista do mundo. O processo foi de intensa agitação política e militar e influenciou de maneira decisiva a história do século XX, ao dar origem a uma das potências que dominariam por décadas a geopolítica global.

Antecedentes

No fim do século XIX, a Rússia não havia passado pelas reformas ocorridas na Europa Ocidental a partir do fim da Idade Moderna. Na política, vigorava

68 GE HISTÓRIA 2017

ainda o absolutismo, personificado na figura do czar, o imperador russo. E, na economia, a servidão feudal fora abolida em 1861, mas a agricultura continuava predominantemente baseada no trabalho dos camponeses. A maioria das terras pertencia à nobreza – os boiardos – e ao clero da Igreja Ortodoxa. A industrialização, tardia, era um fenômeno recente, restrito a algumas cidades. Por depender do capital de outros países, a Rússia não foi capaz de produzir uma burguesia local forte. O proletariado, ao contrário, embora também fosse pequeno, organizou-se de forma sólida e combativa, mantendo vínculos estreitos com as massas camponesas. Entre esses operários, germinaram as ideias revolucionárias vindas da Europa Ocidental, o que permitiu o aparecimento de grupos políticos de oposição ao regime czarista. O mais influente era o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), inspirado no ideário marxista. Em 1903, a agremiação se dividiu em duas facções: os bolcheviques, liderados por Vladimir Lênin, defensores da tomada do poder pelos operários e

camponeses; e os mencheviques, encabeçados por Julius Martov – adeptos da revolução gradual, por meio de reformas. Após a derrota na Guerra Russo-Japonesa, os ânimos populares se inflamaram e estourou a Revolução de 1905. No episódio mais marcante, o Domingo Sangrento, uma manifestação pacífica em São Petersburgo foi massacrada pelo Exército. O clima ficou tenso, seguindose greves e protestos. Operários, camponeses e soldados organizaram-se em conselhos denominados sovietes – mais tarde controlados pelos bolcheviques. A burguesia forçou a instalação de um Parlamento – a Duma –, em 1906.

Revolução menchevique

Os altos gastos militares com a I Guerra Mundial intensificaram o descontentamento com o governo. A insatisfação alcançou o auge em 1917, na Revolução de Fevereiro, quando o Exército se negou a marchar contra uma manifestação popular em Petrogrado (como era conhecida São Petersburgo). Enfraquecido, o czar Nicolau II foi obrigado a abdicar.


Os mencheviques, apoiados pela burguesia, instalaram a República da Duma, de caráter liberal, liderada por um nobre, o príncipe Lvov. O fracasso na I Guerra levou à sua substituição por um socialista moderado, Alexander Kerensky. Apesar da concessão, a oposição bolchevique se fortaleceu. Leon Trótski, presidente do soviete de Petrogrado, criou a Guarda Vermelha, formada por milicianos operários. Lênin, que estava exilado na Finlândia, voltou clandestinamente ao país e incitou os sovietes a tomar o poder por meio de uma revolução. Sob os lemas “Pão, paz e terra” e “Todo o poder aos sovietes”, os bolcheviques defendiam a retirada do país da guerra, a tomada do poder pelos conselhos populares e uma ampla reforma agrária.

Revolução bolchevique

Em 25 de outubro (segundo o calendário juliano, que vigorava na Rússia), eclodiu a revolução popular. Apoiados pelas massas, os bolcheviques derrubaram a República da Duma e instituíram o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lênin. Ele então deu início à mudança do sistema econômico do país, concedendo aos camponeses o direito exclusivo de exploração das terras, transferindo o controle das fábricas aos operários, expropriando as indústrias e nacionalizando os bancos. No ano seguinte, a Rússia saiu da I Guerra Mundial ao assinar a paz em separado com a Alemanha, aceitando entregar a Polônia, a Ucrânia e a Finlândia. O POSDR passou a se chamar Partido Comunista Russo – o único permitido no país. Aristocratas e mencheviques reagiram. Chamados de Brancos, eles receberam ajuda de Reino Unido, França, Japão e Estados Unidos e a nação mergulhou numa guerra civil. Para combater os contrarrevolucionários, Trótski organizou o Exército Vermelho. O conflito acabou em 1921, com a vitória bolchevique. Milhares de adversários do governo foram fuzilados, incluindo o czar e sua família. Para recuperar a economia, abalada pelo confronto, Lênin estabeleceu a Nova Política Econômica (NEP): uma série de medidas capitalistas temporárias que deveriam preparar terreno para a instalação do socialismo. Ele permitiu a criação de empresas privadas e o comércio em pequena escala e autorizou

A HISTÓRIA HOJE TRANSIÇÃO AO CAPITALISMO É CONTURBADA NA RÚSSIA Com o colapso da experiência socialista no início dos anos 1990, a Rússia enfrentou uma transição turbulenta para o modelo capitalista, adotando um programa radical de privatização e liberalização econômica. Nesse processo, milionários russos adquiriram valiosas empresas estatais da antiga União Soviética a preços módicos, em troca de empréstimos ao Estado, que estava praticamente quebrado. Ao assumir a Presidência em 2000, Vladimir Putin buscou retomar o controle do Estado com empresas que exploram os principais recursos energéticos do país, como gás e petróleo. É o que aconteceu com a Gazprom, que havia sido privatizada nos anos 1990. O país se equilibra atualmente num modelo híbrido, em que o Estado controla os setores estratégicos da economia sem afetar os interesses da iniciativa privada nos demais segmentos.

empréstimos externos. Em 1922 foi instituída a URSS, reunindo as diversas regiões do antigo Império Russo. A morte de Lênin, em 1924, provocou uma luta pelo poder entre Trótski e Josef Stálin, secretário-geral do Partido Comunista. O primeiro defendia a ampliação da revolução para outros países – a revolu-

ção permanente. Já o segundo pretendia implantar o socialismo apenas na URSS. Stálin venceu, expulsou o adversário do país e implantou, a partir de 1928, o regime mais tarde batizado de stalinismo.

Stalinismo

Stálin substituiu a NEP por uma nova política econômica baseada em planos quinquenais. Priorizou a indústria pesada e coletivizou as terras à força – processo durante o qual foram mortos milhões de camponeses. Politicamente, o stalinismo foi caracterizado pelo totalitarismo e pelo culto à personalidade de Stálin. Ele expulsou do partido e do Exército os inimigos declarados, potenciais ou meros suspeitos, chegando até a fazer adulterações de fotos para “apagar” seus desafetos da história. Milhões de pessoas foram presas, executadas ou enviadas a campos de trabalho forçado. Trótski foi assassinado no México, em 1940. Com governo forte e economia pujante, a URSS começou a se transformar na potência que teria papel decisivo na II Guerra Mundial e dividiria o poder global com os Estados Unidos durante a Guerra Fria (veja na pág. 74). PARA IR ALÉM Baseado na obra de George Orwell, o filme A Revolução dos Bichos, de John Stepenson, retrata a revolta dos animais de uma fazenda contra o seu dono. Após tomarem o poder, os porcos passam a impor suas vontades aos outros animais, deturpando o sentido original da revolta, em referência aos caminhos adotados pela Revolução Russa após a ascensão de Stálin.

[1]

NOVO TIMONEIRO Com a morte de Lênin, Josef Stálin assumiu o poder e comandou o país com mão de ferro

[1] TASS/AFP [2] REPRODUÇÃO

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IDADE CONTEMPORÂNEA CRISE DE 1929 E GRANDE DEPRESSÃO

Falência múltipla A prosperidade nos EUA despedaçou-se a partir de 1929, dando lugar à maior crise econômica do século

A

pós a I Guerra Mundial, os EUA assumiram a hegemonia econômica global. O aumento da produção industrial e a melhora do poder aquisitivo da população fizeram o consumo explodir. Os investidores, atraídos pela expansão das empresas, tomavam empréstimos bancários para comprar ações e revendê-las com lucro. Esse processo especulativo fez com que, de 1925 a 1929, o valor total das ações negociadas subisse de 27 bilhões para 87 bilhões de dólares. Porém, o consumo não acompanhou o crescimento da produtividade. Além disso, as nações europeias já estavam se recuperando da guerra, e suas exportações competiam com as norte-americanas. O resultado foi a formação de enormes excedentes. O preço dos produtos caiu, cresceu o desemprego e empresas faliram. Aí ficou evidente que as ações estavam sendo negociadas a valores bem acima dos reais. Os acionistas, alarmados com a situação das empresas, tentaram vender todos os títulos na bolsa.

Crash

Com muita gente querendo vender ações e poucas pessoas dispostas a comprá-las, elas se desvalorizaram. A situação chegou ao extremo em 24 de outubro de 1929, a “quinta-feira negra”, quando os preços dos títulos despencaram na Bolsa de Nova York. O episódio ficou conhecido como crash, crack ou quebra da Bolsa de Nova York. Muitos investidores ficaram pobres da noite para o dia. Nos anos se-

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SEM TRABALHO A grande depressão provocou migração em massa de camponeses nos Estados Unidos, que cruzavam o país em busca de emprego

[1]

guintes, milhares de bancos e empresas faliram. A redução dos salários chegou a 60% em 1932. A baixa do preço de matérias-primas e a redução dos créditos norte-americanos a outros países espalharam a crise pelo mundo. No Reino Unido e na Alemanha, por exemplo, o desemprego chegou a 25% em 1932.

A HISTÓRIA HOJE ESTADO INTERVÉM PARA SALVAR ECONOMIA

A quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008, foi o estopim da maior crise econômica desde a Grande Depressão de 1929. Nesses dois acontecimentos, o crédito fácil concedido pelo sistema financeiro estimulou o endividamento de pessoas físicas e de empresas, até se tornarem inadimplentes. Com isso, os valores das ações das instituições credoras caíram, e muitas quebraram, provocando desemprego e recessão. Outro ponto em comum foi a intervenção do poder público para salvar a economia.

New Deal

Foi diagnosticado que a causa da crise era o liberalismo econômico. Influenciado pelas ideias do economista inglês John Keynes, segundo as quais o Estado deve intervir pontualmente na economia, o presidente Franklin Roosevelt deu início, em 1933, a um programa de reformas: o New Deal (Novo Acordo). Roosevelt criou mecanismos de controle de crédito e um banco para financiar as exportações. Fixou salários mínimos, limitou a jornada de trabalho, ampliou a previdência social e investiu em obras públicas. Em 1937, o desemprego havia sido reduzido quase à metade, a renda nacional crescera 70%, e a produção industrial, 64%. Porém, a crise só seria totalmente sanada na II Guerra Mundial, com a intensificação da intervenção estatal e o aumento das exportações. Na Europa, surgiram as políticas de bem-estar social, nas quais o Estado oferece garantias trabalhistas e serviços como educação e saúde à população. Mas a crise também estimularia o surgimento de regimes extremistas, como o nazismo e o fascismo.


IDADE CONTEMPORÂNEA NAZIFASCISMO

Ordem e terror Arrasados economicamente, países europeus como Alemanha e Itália adotaram regimes autoritários para tentar se reerguer

O

período entre as duas guerras mundiais foi marcado na Europa pela ascensão do fascismo, regime autoritário baseado na centralização do poder, no nacionalismo, no militarismo, no expansionismo e no cerceamento das liberdades individuais. Esse tipo de governo totalitário, no qual o Estado domina todos os aspectos da vida social, ganhou força ao propor a recuperação da economia, abalada pela I Guerra, e impedir o avanço das ideias socialistas. Nos países que saíram derrotados na I Guerra, como a Alemanha, os fascistas ainda tinham outra arma a seu favor: o sentimento de revanchismo criado entre a população contra os vencedores. Apesar de ter sido implantado em outros países, como Portugal (salazarismo) e Espanha (franquismo), o fascismo atingiu sua expressão máxima na Itália – onde surgiu – e, principalmente, na Alemanha, onde foi chamado de nazismo.

O fascismo na Itália

Após a I Guerra, a Itália vivia uma grave crise econômica, com inflação galopante, desemprego e queda da produção industrial. Nesse contexto, em 1919, o ex-militante socialista Benito Mussolini fundou o Partido Fascista, ultranacionalista, opondo-se ao socialismo e à democracia liberal. Temendo o avanço socialista, a burguesia apoiou Mussolini. Em 1922, os “camisas negras”, como eram chamados os militantes fascistas, desfila-

[2]

DUPLA TIRÂNICA O italiano Benito Mussolini (à esq.) e o alemão Adolf Hitler: aliança em nome do terror

ram pela capital na chamada Marcha sobre Roma. Mussolini foi nomeado primeiro-ministro e assumiu o cargo com plenos poderes, passando a ser chamado de Duce (guia). No decorrer da década, o Partido Fascista passou a ser o único permitido e adversários políticos foram perseguidos e mortos. Mussolini implantou o corporativismo, modelo pelo qual tanto os sindicatos dos patrões quanto os dos empregados eram controlados pelo governo. As medidas surtiram efeitos na esfera econômica até 1929, quando a nação foi abalada pela Grande Depressão. A partir daí o Duce apostou na expansão territorial para resolver os problemas internos.

SAIBA MAIS ESPANHA ANTECIPA HORRORES DA II GUERRA

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) antecipou o combate entre socialistas e nazifascistas que caracterizaria a II Guerra Mundial. Enquanto as tropas nacionalistas do general espanhol Francisco Franco tiveram a ajuda dos governos nazista da Alemanha e fascista da Itália, os republicanos espanhóis contaram com o apoio da União Soviética. O confronto terminou com a vitória dos nacionalistas em 1939, que impuseram um regime totalitário na Espanha sob a liderança de Franco, que duraria até 1975.

O nazismo na Alemanha

As imposições do Tratado de Versalhes à Alemanha provocaram inflação e desemprego em massa. Instalado no fim da guerra, o governo republicano não conseguia debelar a crise. Como alternativa, surgiu, em 1919, o Partido NacionalSocialista dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista, liderado pelo ex-cabo do Exército Adolf Hitler. As propostas nazistas foram sistematizadas no livro Minha Luta, escrito por Hitler em 1923, quando estava na prisão, após uma tentativa frustrada de golpe de Estado – o Putsch de Munique. Além dos aspectos comuns ao fascismo italiano, ele pregava o racismo. Para Hitler, os alemães pertenciam a uma raça pura e superior: a ariana; as demais deveriam ser subjugadas ou exterminadas. Em 1932, apoiados por burgueses e setores conservadores, os nazistas venceram as eleições. Um ano depois, Hitler foi nomeado primeiro-ministro e, em 1934, tornou-se chefe de governo e de Estado. Passou a ser chamado de Führer (líder) e inaugurou o III Reich. O intervencionismo e a planificação econômica fortaleceram a indústria e reduziram o desemprego. Hitler proibiu os partidos políticos (exceto o nazista), fechou jornais de oposição e perseguiu minorias, como os judeus. Os principais instrumentos de terror eram a SS (guarda especial) e a Gestapo (polícia política). Em desrespeito ao Tratado de Versalhes, Hitler remilitarizou o país, acendendo o estopim para a II Guerra Mundial.

[1] DOROTHEA LANGE/LIBRARY OF CONGRESS [2] AP

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IDADE CONTEMPORÂNEA II GUERRA MUNDIAL

O mundo em convulsão No maior conflito da história, os combates entre nações dos cinco continentes deixaram 50 milhões de mortos

P

rimeiro conflito militar de escala global, a II Guerra Mundial envolveu nações de todos os continentes, estendeu-se de 1939 a 1945 e deixou cerca de 50 milhões de mortos. Foi uma nova tentativa de equacionar os conflitos deixados pela I Guerra – a Itália e a Alemanha não aceitavam a derrota e, juntamente com o Japão, exigiam uma redivisão dos mercados mundiais para a expansão de seus parques industriais.

Antecedentes

Como o nazismo bloqueava o avanço do socialismo, as potências europeias não se opuseram ao crescimento do regime na Alemanha. Nem mesmo quando Hitler remilitarizou o país e anexou territórios. Em 1936, ele reocupou a Renânia, região na fronteira entre a França e a Bélgica. Em ofensiva diplomática, ofereceu ajuda econômica à Itália fascista e apoiou o general Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola. Com o Japão, assinou o Pacto Anti-Komintern, para frear a expansão da União Soviética (URSS) na Ásia. Em 1938, Hitler anexou a Áustria, no episódio conhecido como Anschluss. No mesmo ano, anexou uma região da Tchecoslováquia habitada por alemães (Sudetos). Em seguida, dominou o país inteiro. Em 1939, assinou com a rival URSS o Pacto Germânico-Soviético, um acordo de não agressão. Abriu-se, assim, o caminho a leste para ocupar uma área que permitia acesso ao mar pela Polônia e mantinha a província alemã da Prússia Oriental isolada do resto do território.

72 GE HISTÓRIA 2017

[1]

Avanço nazista

As tropas nazistas invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939, inaugurando a blitzkrieg (guerra-relâmpago), um fulminante ataque por terra e ar. Logo depois, Reino Unido e França declararam guerra aos alemães. Hitler ocupou a Dinamarca, a Noruega, a Holanda e a Bélgica. Em junho de 1940, dominou a metade norte do território da França – no sul foi instalado um governo colaboracionista. Em setembro de 1940 foi formalizado o Eixo – pacto entre Alemanha, Itália e Japão que estabelecia o apoio mútuo em caso de ataque por potência ainda não envolvida na guerra – por exemplo, os Estados Unidos (EUA). No mesmo mês, Hitler bombardeou Londres, mas foi repelido pela Real Força Aérea (RAF). Em junho de 1941, a Alemanha invadiu a URSS. As tropas nazistas foram barradas pelo rigoroso inverno e pelo contra-ataque soviético. Agora, os alemães precisavam lutar em duas frentes: contra os ingleses a oeste e contra os russos a leste. Paralelamente aos combates, Hitler perseguia os judeus. Inicialmente, foram confinados em guetos. A partir de 1942, foi implantada a “solução final”, que previa a deportação e a execução em massa em campos de trabalho, concentração e extermínio na Alemanha e na Polônia. No fim do conflito, cerca de 6 milhões de judeus haviam sido mortos, num dos maiores crimes da história, o holocausto.

Reação aliada

Os EUA só entraram na guerra em dezembro de 1941, quando os japoneses bombardearam a base naval de Pearl Harbor, no Havaí. Em seguida, a Alemanha e a Itália declararam guerra aos EUA. Definiram-se, assim, duas facções em combate: de um lado, os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão); de outro, os Aliados (França, Reino Unido, EUA, URSS e China). A partir de 1942, os Aliados começaram a ganhar terreno. Foi nesse ano que o Brasil entrou na Guerra (veja a matéria na pág. 119). No Atlântico, a Marinha anglo-americana eliminava submarinos alemães; na Alemanha, a aviação aliada intensificava o bombardeio. No norte da África, o Exército alemão rendeu-se em maio de 1943. Os Aliados desembarcaram na Sicília e invadiram a Itália, que passou a integrar as forças antinazistas. No front leste, os alemães sofreram uma derrota decisiva na Batalha de Stalingrado (atual Volgogrado), na Rússia, em janeiro de 1943. Em 6 de junho de 1944, o Dia D, foi desferido o golpe mortal às forças nazistas, com o desembarque de mais de 150 mil soldados aliados na Normandia francesa, em uma operação que envolveu mais de 1,2 mil navios de guerra e mil aviões. Paris foi libertada em 25 de agosto. Os soviéticos libertaram a Polônia e, em 2 de maio de 1945, ocuparam Berlim. Cinco dias depois, a Alemanha se rendeu. Hitler suicida-se em 30 de abril. A guerra na Europa estava encerrada.


DIA D Em uma megaoperação aeronaval, os Aliados desembarcam na Normandia francesa em 6 de junho de 1944: golpe fatal contra os nazistas

Bomba atômica

Os japoneses haviam ocupado uma vasta área marítima no Pacífico. A situação só começou a se inverter em 1942, após algumas vitórias dos EUA. Em fevereiro de 1945, ocorreu o desembarque norte-americano em território japonês, na ilha de Iwo Jima. Com o inimigo ainda resistindo, os EUA promoveram uma terrível demonstração de força ao lançar a primeira bomba atômica da história em combate, em 6 de agosto. O ataque matou 100 mil pessoas na cidade de Hiroshima. Dias depois, foi a vez de Nagasaki, onde mais 70 mil habitantes foram mortos. Em seguida, os soviéticos expulsaram os japoneses da Manchúria (China) e da Coreia. Enfim, em 2 de setembro de 1945, o Japão se rendeu. Era o fim da II Guerra Mundial.

Tratados dos vencedores

Em fevereiro de 1945, na Conferência de Yalta, na Crimeia, o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, o primeiroministro do Reino Unido, Winston Churchill, e o líder da URSS, Josef Stálin, reuniram-se para redividir o mundo. Os soviéticos anexaram a Letônia, a Lituânia, a Estônia e o leste da Polônia. Em julho, na Conferência de Potsdam, na Alemanha, foram determinados o pagamento de uma alta indenização pelos alemães e a divisão do país em quatro zonas de ocupação militar: soviética, norte-americana, francesa e britânica. Decidiu-se ainda pelo desarmamento alemão e pelo julgamento dos líderes nazistas pelo Tribunal de Nuremberg. A Alemanha foi separada da Áustria, obrigada a devolver os territórios da Tchecoslováquia, a entregar Dantzig à Polônia e a reconhecer a divisão da Prússia Oriental entre soviéticos e poloneses. Em abril de 1945, durante a Conferência de San Francisco, nos EUA, 50 países assinaram a carta de criação da Organização das Nações Unidas (ONU).

A GUERRA NA EUROPA Confira a dinâmica das fronteiras e das tropas durante o confronto no Velho Mundo Territórios ocupados pela Alemanha em 1939 em 1940 em 1941 em 1942 Avanço das tropas aliadas em 1943 em 1944 em 1945 desembarque aliado vitorioso

ISLÂNDIA

SUÉCIA NORUEGA

FINLÂNDIA

Mar do Norte

Oceano Atlântico

Território alemão em 1/9/1939 Estados aliados do eixo Roma-Berlim Territórios italianos em 1/9/1939 Grã-Bretanha e territórios sob seu controle Estados neutros

ESTÔNIA DINAMARCA LETÔNIA GRÃ-BRETANHA PAÍSES PRÚSSIA LITUÂNIA BAIXOS IRLANDA UNIÃO SOVIÉTICA BÉLGICA ALEMANHA POLÔNIA TCHECOSLOVÁQUIA 1944 ÁUSTRIA FRANÇA HUNGRIA SUÍÇA ROMÊNIA IUGOSLÁVIA ITÁLIA BULGÁRIA 1944 ESPANHA 1943 ALBÂNIA PORTUGAL TURQUIA 1942 1942 1943 GRÉCIA Mar SÍRIA TUNÍSIA Mediterrâneo LÍBANO IRAQUE 1944 PALESTINA ARGÉLIA TRANSJORDÂNIA EGITO

LÍBIA

ARÁBIA

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 28

A EUROPA APÓS A GUERRA Veja como ficaram as fronteiras e as alianças no continente depois do conflito ISLÂNDIA

Países capitalistas Países socialistas Áreas anexadas pela URSS (1940-1945) Membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) Membros do Pacto de Varsóvia

BERLIM BERLIM OCIDENTAL (RFA) BERLIM ORIENTAL (RDA) MURO DE BERLIM

Mar do Norte

NORUEGA

SUÉCIA

FINLÂNDIA IRLANDA REINO DINAMARCA UNIDO ESTÔNIA REP. PAÍSES BAIXOS LETÔNIA DEMOCRÁTICA Oceano BÉLGICA UNIÃO LITUÂNIA REP. ALEMÃ Atlântico SOVIÉTICA FEDERAL POLÔNIA LUXEMBURGO DA ALEMANHA TCHECOSLOVÁQUIA SUÍÇA FRANÇA ÁUSTRIA PORTUGAL HUNGRIA ESPANHA ITÁLIA IUGOSLÁVIA ROMÊNIA Mar Mediterrâneo

ALBÂNIA BULGÁRIA TURQUIA GRÉCIA

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 26

Medidas econômicas de peso também foram criadas. Em 1944 foi realizada a Conferência de Bretton Woods, nos EUA, que estabeleceu o dólar como base do sistema monetário mundial. Em 1948, Washington aprovou o Plano Marshall. Bilhões de dólares foram investidos na reconstrução de Inglaterra, França, Itália e Alemanha. Os EUA tornaram-se o centro capitalista do planeta, tendo apenas a URSS como rival. PARA IR ALÉM Gen – Pés Descalços é um relato quase autobiográfico em quadrinhos de Keiji Nakazawa, que presenciou a explosão da bomba em Hiroshima. Já a HQ Maus, de Art Spiegelman, trata a II Guerra de forma alegórica, representando ratos como judeus e gatos como alemães

SAIBA MAIS A CRIAÇÃO DE ISRAEL

Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe. O Estado de Israel foi proclamado em 1948. Jordânia, Egito, Líbano, Síria e Iraque – todas nações árabes – se opuseram à decisão e atacaram Israel, mas foram derrotados. O território de Israel cresceu 75%, e os palestinos ficaram sem país. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel voltou a vencer os árabes e anexou novos territórios. Em 1993, palestinos e israelenses assinaram o Acordo de Oslo, iniciando as negociações para a criação de um futuro Estado Palestino. No entanto, o processo de paz encontra-se em um impasse.

[1] ARQUIVO NACIONAL/EUA

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IDADE CONTEMPORÂNEA GUERRA FRIA MURO DA DISCÓRDIA Militares da Alemanha Oriental erguem, junto ao Portão de Brandemburgo, parte da barreira que dividiu Berlim ao meio por 27 anos

mocrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental), socialista. A capital, Berlim, que ficava na RDA, seguiu dividida nas quatro áreas de ocupação. Em 1961, para tentar impedir o fluxo de refugiados para a parte capitalista da cidade, o governo socialista ergueu o Muro de Berlim, isolando o lado oeste da capital. O alinhamento internacional ficou evidente pela formação de duas alianças militares. EUA e Europa Ocidental uniram-se em 1949 na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Seis anos depois, URSS e o Leste Europeu constituíram o Pacto de Varsóvia (veja o mapa na pág. ao lado). Os demais países alinharam-se a uma ou outra tendência ou integraram o Movimento Não Alinhado – que nunca atingiria coesão nem atuação significativas. A China, que se tornou socialista em 1949, com a Revolução Chinesa, permaneceu autônoma em relação à URSS a partir de 1960.

[1]

Divisão política e ameaça nuclear A Guerra Fria marca um dos períodos mais tensos da história: por décadas, o mundo viveu sob a tutela de duas superpotências rivais e o temor de um apocalíptico conflito atômico

A

Guerra Fria foi o confronto ideológico, político, econômico e militar entre os dois blocos internacionais formados no fim da II Guerra Mundial: o capitalista – liderado pelos Estados Unidos (EUA) – e o socialista – encabeçado pela União Soviética (URSS). O enfrentamento durou até a queda do Muro de Berlim, em 1989, que simbolizou o fim do bloco socialista.

Divisão

A polarização do mundo entre os dois maiores vencedores da II Guerra Mundial começou logo após o fim do conflito. Os EUA garantiram sua hegemonia sobre o oeste da Europa por meio do Plano Marshall, de 1948. A URSS

74 GE HISTÓRIA 2017

projetou-se sobre o Leste Europeu, estimulando a instalação do socialismo nos países que havia libertado do jugo nazista. Na visão ocidental, ao estabelecerem tais regimes autoritários e isolados, os soviéticos penduraram no meio do continente uma cortina de ferro – expressão utilizada desde o século XIX e resgatada pelo ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, em 1946. Em nenhum lugar da Europa a divisão foi tão visível quanto na Alemanha. Em 1949, o país foi dividido em dois: as zonas de ocupação francesa, britânica e norte-americana integraram a República Federal da Alemanha (RFA ou Alemanha Ocidental), capitalista; já a zona soviética originou a República De-

Enfrentamento

Em 1949, a URSS explodiu sua primeira bomba atômica, num teste controlado. Agora, as duas potências tinham a poderosa arma, e um conflito entre elas poderia destruir o mundo. Foi essa condição que deu origem à expressão Guerra Fria. Afinal, norte-americanos e soviéticos viviam em clima beligerante, mas não existia um confronto direto. Indiretos, porém, houve vários. No Terceiro Mundo – como eram chamados na época os países em desenvolvimento –, as forças locais adversárias envolvidas em guerras civis e em movimentos anticoloniais acabavam se alinhando às superpotências, em busca de apoio, e aí a Guerra Fria esquentava. O primeiro grande confronto desse tipo foi a Guerra da Coreia (1950-1953), iniciada por causa da invasão da Coreia do Sul, capitalista, pela Coreia do Norte, socialista. Outros importantes conflitos que opuseram os dois blocos foram a Guerra


O PLANETA DIVIDIDO Confira de que lado estava cada país* na Guerra Fria e a potência dos arsenais das grandes alianças militares encabeçadas por EUA e URSS ALEMANHA ORIENTAL

ALEMANHA OCIDENTAL

CANADÁ ESTADOS UNIDOS CUBA

do Vietnã (veja pág. 79), a Revolução Cubana (veja pág. 77), a guerra civil em Angola (1961-2002) e a Revolução Sandinista, na Nicarágua (1979). A Guerra Fria também foi caracterizada pelas intervenções das potências em suas áreas de influência. A URSS reprimiu violentamente rebeliões na Hungria (1956) e na Tchecoslováquia (1968) e invadiu o Afeganistão (1979-1989). Os EUA, temendo o avanço socialista na América Latina, apoiaram sangrentas ditaduras militares em países da região, incluindo o Brasil (veja na pág. 123). Após a morte do líder soviético Josef Stálin, em 1953, e a ascensão de Nikita Kruschev, a URSS tentou reduzir a corrida armamentista implementando a política de Coexistência Pacífica. Seus efeitos, entretanto, foram limitados. O momento mais tenso da Guerra Fria foi a crise dos mísseis. Em 1962, a URSS instalou secretamente ogivas nucleares em Cuba. Os EUA descobriram, e o presidente John Kennedy ordenou um bloqueio naval à ilha. Moscou enviou uma frota para um confronto, mas o líder soviético Nikita Kruschev cedeu e retirou os mísseis. Afora as tensões bélicas, a disputa entre EUA e URSS estendia-se para várias outras esferas, como a esportiva, a cultural e a científica. Um importante capítulo da contenda foi a corrida espacial, uma acirrada competição tecnológica que culminou com a chegada do primeiro homem à Lua – o norteamericano Neil Armstrong –, em 1969. A Guerra Fria foi amenizada em 1973, quando as superpotências concordaram em desacelerar a corrida armamentista, por meio da Política da Détente. Porém, o acordo duraria apenas até a invasão soviética no Afeganistão, em 1979. O conflito global só esmoreceu, de fato, a partir de 1985, com a subida ao poder do líder soviético Mikhail Gorbatchov (veja pág. 80).

HONDURAS NICARÁGUA

MONGÓLIA

MARROCOS

LÍBIA

VENEZUELA GUIANA FRANCESA BRASIL

COREIA DO NORTE

CHINA ARÁBIA SAUDITA

ÍNDIA

COREIA VIETNÃ DO SUL

ETIÓPIA AFEGANISTÃO

CONGO ZAIRE ANGOLA

MADAGASCAR

ÁFRICA DO SUL

AUSTRÁLIA

ARGENTINA

Otan milhão 1,367 Estados Unidos e aliados (Otan) 9.900 Países alinhados com os EUA 1.475 União Soviética e aliados (Pacto de Varsóvia) 2.875 Países alinhados com a URSS 300 Países não alinhados 28 83 * Informações referentes ao ano de 1985

Contingente Tanques e blindados Helicópteros armados Peças de artilharia Submarinos Porta-aviões Navios de superfície

Pacto de Varsóvia 1,425 milhão 26.000 1.700 11.200 290 12 300

Fontes: ALMANAQUE ABRIL, Otan

A HISTÓRIA HOJE CRISE NA UCRÂNIA REVIVE DISPUTA ENTRE A RÚSSIA E O OCIDENTE

[2]

MUNDO DA LUA O astronauta norte-americano Buzz Aldrin passeia pela superfície do satélite

PARA IR ALÉM O filme Treze Dias que Abalaram o Mundo, de Roger Donaldson, retrata a crise dos mísseis de Cuba, em outubro de 1962, um dos episódios em que o mundo mais se aproximou de um conflito total durante a Guerra Fria. Outra boa pedida sobre o tema é o filme Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick, que satiriza as tensões e o medo de destruição do planeta no período.

A Ucrânia tornou-se alvo de uma tensa disputa entre a Rússia e o Ocidente – representado pelos Estados Unidos (EUA) e pela União Europeia (UE). A crise teve início quando o governo ucraniano rejeitou um acordo comercial com a UE para manterse economicamente ligado à esfera de influência da Rússia. Inconformada com a decisão, parte da população ucraniana aderiu a protestos que resultaram na queda do presidente Viktor Yanucovich, em fevereiro de 2014. A deposição de seu aliado gerou forte insatisfação do governo russo, que respondeu com a anexação da Crimeia, uma república autônoma da Ucrânia, em março. O fato abriu a mais grave crise envolvendo as grandes potências desde o fim da Guerra Fria. Em retaliação, EUA e UE aplicaram sanções econômicas à Rússia, enquanto o leste da Ucrânia passou a conviver com violentos distúrbios separatistas.

[1] DPA/AFP [2] NASA

GE HISTÓRIA 2017

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IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO CHINESA

RADICALIZAÇÃO Estudantes da Guarda Vermelha erguem cópias de O Pequeno Livro Vermelho de Mao Tsé-tung: culto ao líder provocou perseguições

[1]

O gigante comunista Sob a liderança de Mao Tsé-tung, o movimento revolucionário transformou a sociedade chinesa

C

om o fim da II Guerra Mundial e a eclosão da Guerra Fria, o mundo presenciou um conjunto de movimentos revolucionários. Um dos mais importantes ocorreu na China no final dos anos de 1940 e causou grande impacto geopolítico por envolver uma civilização milenar, de grande população e extenso território.

Guerra Civil

A Revolução Chinesa de 1949 foi o resultado de uma longa batalha iniciada logo depois do fim da I Guerra Mundial, em 1921, com a fundação do Partido Comunista Chinês (PCC). Os comunistas consideravam que a instauração da República, em 1911, e a chegada ao poder do Partido Nacionalista não resultaram em um Estado efetivamente soberano nem proporcionaram reformas sociais profundas que melhorassem a vida dos trabalhadores urbanos e rurais chineses. Desde então, a China viveu períodos alternados de guerra civil entre nacionalistas e comunistas e períodos de aliança, nos quais esses dois grupos

76 GE HISTÓRIA 2017

lutaram juntos contra agressões estrangeiras — o Japão invadiu o país durante a década de 1930 e no decorrer da II Guerra Mundial. O fim da II Guerra e a expulsão das forças japonesas do território chinês abriram um novo período de acirrada disputa de poder entre nacionalistas e comunistas. O líder dos nacionalistas, Chiang Kai-chek (1887-1975), não resistiu ao avanço dos guerrilheiros camponeses comandados pelo líder comunista Mao Tsé-tung. Em 1º de outubro de 1949, Mao proclamou a República Popular da China e reorganizou o país nos moldes comunistas, com a coletivização das terras e a expropriação das grandes empresas, que passaram para o controle estatal. Chiang Kai-chek refugiou-se na Ilha de Taiwan (Formosa) e fundou a República da China. Ainda hoje, Taiwan se auto-intitula a “verdadeira China”, mas é considerada uma “província rebelde” pelo governo de Pequim.

Revolução Cultural

Com a ascensão dos comunistas ao poder, várias tentativas de economia planejada foram implementadas, como o Grande Salto para Frente (1958-1962), com o objetivo de acelerar o processo de industrialização e a modernização da sociedade chinesa. No entanto, o resultado foi um caos econômico, que causou a fome e a morte de milhões de camponeses. Nesse cenário, começaram a surgir críticas, no interior das fileiras do PCC, à liderança

de Mao Tsé-tung. Para neutralizar seus opositores e reverter um movimento que considerava ameaçar as conquistas da revolução, Mao desencadeou a Revolução Cultural. Ele convocou os jovens e, com eles, organizou as Guardas Vermelhas, unidades paramilitares encarregadas de enfrentar os burocratas, o “revisionismo burguês” e manter vivo o “espírito revolucionário”. O grupo, que chegou a ter 11 milhões de integrantes, perseguiu membros rivais do PCC e pessoas acusadas de conservadorismo. As Guardas Vermelhas também combateram o pensamento do filósofo Confúcio (século V a.C.), que durante milênios influenciou a sociedade chinesa. Com a perseguição a qualquer ideia considerada reacionária, a Revolução Cultural resultou em escolas fechadas, no ataque (não apenas verbal) a intelectuais e no culto exagerado à personalidade de Mao As Guardas Vermelhas começaram a perder poder quando racharam em várias facções, cada uma acreditando ser a legítima representante de Mao. A Revolução Cultural foi encerrada após a morte do líder, em 1976. Com isso, abriuse caminho para a ascensão de Deng Xiaoping à chefia do Partido Comunista Chinês. Suas reformas, baseadas na abertura econômica do país ao mercado internacional e no aproveitamento da abundante mão de obra para produzir artigos para a exportação, deram o impulso necessário para a China se transformar na superpotência de hoje.


IDADE CONTEMPORÂNEA REVOLUÇÃO CUBANA

[2]

REVOLUÇÃO EM MARCHA Fidel Castro (em pé, no centro do veículo) é saudado na chegada a Havana

Fidel foi preso e exilado no México. Em 1956, ele retornou clandestinamente ao país e, com a ajuda do argentino Che Guevara, montou uma base rebelde em Sierra Maestra, no leste da ilha. Em 1959, conquistou Havana e instaurou um governo revolucionário no país. Fidel decretou a reforma agrária, fuzilou colaboradores de Batista e nacionalizou as empresas norte-americanas instaladas na ilha, desagradando os EUA. A tensão entre os dois países cresceu em abril de 1961, quando exilados cubanos treinados pela CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos, desembarcaram na Baía dos Porcos, numa tentativa malsucedida de derrubar o governo revolucionário.

Governo socialista

O comunismo desembarca nas Américas A revolução liderada por Fidel Castro culminou na instalação de um governo baseado no modelo soviético a poucos quilômetros dos Estados Unidos

A

pesar de ser oficialmente independente desde 1902, Cuba continuou sendo dominada pelos Estados Unidos (EUA) por várias décadas. A existência da Emenda Platt na Constituição da ilha garantia aos norte-americanos a prerrogativa de intervenção militar no país. E os EUA fizeram valer esse direito, ocupando Cuba em cinco ocasiões para preservar seus interesses estratégicos na região, entre 1906 e 1933. Nesse período, Cuba sofria forte interferência econômica dos EUA. No fim dos anos 1950, 75% das terras, 90% dos serviços e 40% da produção de açúcar do país eram controlados por capitais norte-americanos. Além disso, cerca de 80% das importações vinham da potência americana.

A Revolução

Em 1952, os EUA apoiaram a instalação de uma ditadura militar pelo ex-sargento Fulgencio Batista. No ano seguinte, a repressão oficial levou rebeldes liderados pelo advogado Fidel Castro a atacar o quartel de La Moncada.

A HISTÓRIA HOJE CUBA E EUA REATAM RELAÇÕES

Em dezembro de 2014, Cuba e EUA anunciaram a retomada das relações diplomáticas após quase 54 anos de rompimento. Desde então, os dois países vêm promovendo uma reaproximação gradual, que inclui a troca de prisioneiros, a redução de restrições a viagens e a permissão para que empresas de telecomunicações norte-americanas operem na ilha. O momento mais simbólico desse processo foi a reabertura das embaixadas, em julho de 2015. No entanto, ainda não há solução para a questão mais delicada: o embargo econômico a Cuba. Embora o presidente norte-americano Barack Obama reitere seu desejo para que o bloqueio econômico seja suspenso, a decisão depende do Congresso dos EUA, que tem se posicionado contra a revogação da medida.

Após o episódio, Fidel anunciou a adesão ao marxismo-leninismo e aproximou-se da URSS, tornando-se o único país socialista da América. Os EUA reagiram, em 1962, com um bloqueio econômico e político a Cuba, que acabou sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Nesse mesmo ano, a União Soviética instalou, secretamente, mísseis na ilha, capazes de atingir o território norte-americano. Os EUA descobriram e impuseram um bloqueio naval a Cuba. A crise dos mísseis elevou a tensão, e o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear, até que os soviéticos recuaram, retirando os mísseis da região. As reformas implantadas pelo governo comunista de Fidel Castro garantiram várias melhorias sociais à população, especialmente em saúde e educação, mas a economia continuou precária e fortemente dependente da ajuda soviética. Descontentes, milhares de pessoas deixaram a ilha, criando uma grande comunidade de exilados na Flórida (EUA). Com o colapso da URSS, no início da década de 1990, a economia entrou em crise. Nos últimos anos, já sob a liderança de Raúl Castro, irmão de Fidel, que assumiu o poder oficialmente em 2008, o governo iniciou um programa de reformas liberalizantes. Entre as mudanças estão o direito à compra e venda de imóveis, o incentivo ao trabalho autônomo e cooperativo, o reconhecimento da existência de empresas privadas e o arrendamento de terras.

[1] JEAN VINCENT/AFP [2] AFP

GE HISTÓRIA 2017

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IDADE CONTEMPORÂNEA DESCOLONIZAÇÃO AFRO-ASIÁTICA

AINDA QUE TARDIA Multidão em Argel comemora a independência da Argélia, em 1962. No centro da imagem, um retrato de Ben Bella, herói da insurreição

[1]

Baby boom de nações Após a II Guerra Mundial, uma onda de independências na África e na Ásia deu origem a dezenas de novos países

O

processo de independência das antigas colônias europeias na África e na Ásia, ocorrido após a II Guerra Mundial, foi impulsionado pelo enfraquecimento das nações imperialistas da Europa durante a II Guerra, pelo interesse de Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) em transformar os territórios coloniais europeus em suas zonas de influência e pelo surgimento de movimentos nacionalistas nas colônias.

Ásia

Dois processos distintos marcaram a descolonização asiática: a resistência pacífica, na Índia, e a guerra pela independência, cujo melhor exemplo é a Indochina. Na Índia, o advogado Mohandas Gandhi, o Mahatma (Grande Alma), desencadeou um amplo movimento de resistência pacífica e desobediência civil, pregando o boicote aos produtos da metrópole inglesa e o não pagamento de impostos. Abalado pela II Guerra, o Reino Unido viu-se obrigado a conceder a independência, em 1947. A ex-colônia

78 GE HISTÓRIA 2017

foi dividida na União Indiana, de maioria hindu, e no Paquistão, majoritariamente muçulmano. A separação levou a um intenso movimento migratório e a violentas lutas entre os grupos religiosos, deixando milhares de mortos. A Indochina, antiga colônia francesa formada por Vietnã, Laos e Camboja, foi invadida pelo Japão na II Guerra Mundial. Após a rendição japonesa, o movimento nacionalista Vietminh, liderado pelo comunista Ho Chi Minh, proclamou a independência do Vietnã. A tentativa da França de retomar o domínio levou à Guerra da Indochina (1946-1954). Os europeus foram derrotados, e os países obtiveram a independência. O Vietnã ficou dividido em Vietnã do Norte e

SAIBA MAIS O REGIME DO APARTHEID NA ÁFRICA DO SUL

Entre 1948 e 1992, o apartheid – política de segregação racial na África do Sul – impediu o acesso dos negros à propriedade da terra e à participação política, confinando-os em territórios tribais – os bantustões. A perseguição política fez milhares de vítimas, incluindo Nelson Mandela, preso em 1962. Ele só seria libertado em 1990 e, dois anos depois, a África do Sul pôs fim ao apartheid. Em 1994, Mandela venceu a primeira eleição presidencial multirracial do país.

Vietnã do Sul, que só seriam reunificados em 1976, após a Guerra do Vietnã (veja na pág. ao lado).

África

A maioria dos países africanos conquistou a independência na década de 1960. Três dos processos mais conturbados ocorreram na Argélia, no Congo e em Angola. A guerra da independência da Argélia, colônia francesa, durou de 1954 a 1962, deixando mais de 1 milhão de mortos. O conflito resultou em uma crise política na França, que culminou com a queda do governo e a tomada da presidência pelo herói da II Guerra Mundial Charles de Gaulle, em 1958. Quatro anos depois, ele negociou a paz. Na República Democrática do Congo, colônia belga, a independência foi proclamada em 1960, por Patrice Lumumba, que assumiu o governo. A reação das multinacionais belgas à sua administração levou a uma guerra civil com intervenções da Bélgica e da URSS. Lumumba foi assassinado em 1961. Em 1965, num golpe de Estado apoiado pelos EUA, o general Joseph Mobutu instalou uma sangrenta ditadura. As colônias portuguesas levaram mais tempo para obter a independência. As negociações só ocorreram no fim do regime salazarista, em 1974. O caso mais violento foi o de Angola: a partir de 1975, a luta pela independência virou uma guerra civil, finalizada em 2002 com 1 milhão de mortos.


IDADE CONTEMPORÂNEA GUERRA DO VIETNÃ

VITÓRIA VIETCONG Tanques nortevietnamitas chegam a Saigon sem enfrentar a resistência dos Estados Unidos, que bateram em retirada e aceitaram a derrota

[2]

Hegemonia ameaçada Nas selvas asiáticas, os EUA sofreram a maior derrota militar de sua história

E

ntre 1959 e 1975, o Vietnã serviu de palco para que os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS) medissem forças na tentativa de impor sua influência ideológica, refletindo o antagonismo característico da Guerra Fria. A Guerra do Vietnã foi um dos principais conflitos armados do século XX, responsável pela maior derrota militar da história dos EUA.

Repressão

Antiga colônia da França, o Vietnã foi dividido no fim da Guerra da Indochina (1946-1954) em Vietnã do Norte, sob o regime socialista liderado por Ho Chi Minh, e Vietnã do Sul, monárquico e pró-capitalista. Um referendo para decidir a unificação foi acertado para 1956. No entanto, um ano antes da consulta, o primeiro-ministro do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, cancelou as eleições e instalou uma ditadura militar. A ação teve o apoio dos EUA, que temiam a instalação de um governo socialista caso o país fosse reunificado. A partir daí o regime iniciou uma perseguição a budistas, nacionalistas e comunistas. Em

resposta à repressão, a guerrilha comunista Frente de Libertação Nacional, conhecida como Vietcong, iniciou uma série de ataques às forças do sul e às bases norte-americanas no país em 1959. Começava a Guerra do Vietnã.

Os EUA na guerra

Os EUA estavam envolvidos no conflito desde o início, mas a intervenção militar aberta ocorre a partir de 1964. Ao todo, mais de 2,5 milhões de soldados norte-americanos participaram da operação. Além das milhões de toneladas de bombas, a máquina de guerra norte-americana contava com pesados armamentos não convencionais, como o napalm (uma bomba incendiária) e o Agente Laranja (um herbicida e desfolhante altamente tóxico) – o contato com o produto foi responsável por casos de câncer e pela malformação de crianças, problema que atravessou gerações e perdura ainda hoje. Mesmo diante de uma evidente inferioridade militar, os vietcongues mostraram grande resistência, lançando mão de eficientes táticas de guerrilha, com emboscadas que surpreendiam as tropas norte-americanas. O conhecimento da densa selva tropical foi fundamental para os vietcongues se esconderem pela mata e criar trilhas para o suprimento de seus soldados. Em 1973, após sofrerem muitas baixas e enfrentando protestos pacifistas em casa, os norte-americanos aceitaram um cessar-fogo. Em 1975, a superpotência

bateu em retirada. Um ano depois, o Vietnã foi reunificado sob o regime socialista, alinhado à URSS. A Guerra do Vietnã terminou com a morte de mais de 58 mil militares norte-americanos e de pelo menos 1,1 milhão de vietnamitas. Apesar de vitorioso, o Vietnã saiu da guerra devastado e isolado economicamente. Já os EUA mostraram-se vulneráveis e tiveram sua hegemonia ameaçada pela URSS. PARA IR ALÉM Ícone do movimento hippie, o filme Hair, de Milos Forman, conta a história de um jovem do interior convocado para a Guerra do Vietnã. Ao chegar a Nova York para se apresentar ao Exército, torna-se amigo de um grupo de hippies, adeptos do pacifismo e contra a guerra.

SAIBA MAIS A CONTRACULTURA

O aumento da presença dos EUA na Guerra do Vietnã levou ao surgimento de um movimento de contestação no final dos anos de 1960. Com lemas como “paz e amor” e “faça amor, não faça guerra”, a juventude criticava o estilo de vida da elite consumista, as ações do governo e a guerra. Era o nascimento do movimento hippie, que atingiu seu auge com o festival de música de Woodstock, em 1969. Essas manifestações também acabaram se juntando a outros movimentos da contracultura, como o Black Power, pelo qual os negros do país lutavam por igualdade civil.

[1] [2] AFP

GE HISTÓRIA 2017

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IDADE CONTEMPORÂNEA FIM DA GUERRA FRIA EFEITO DOMINÓ A queda do Muro de Berlim, em 1989, marca o colapso do bloco socialista: uma a uma, as nações da Cortina de Ferro passaram por intensas reformas

Solidariedade. Mas em 1982 o governo tornou o Solidariedade ilegal, medida que só seria anulada em 1989. Em junho daquele ano, o Solidariedade venceu as eleições parlamentares e, no ano seguinte, seu líder, Lech Walesa, foi eleito presidente. [1]

Queda do muro de Berlim

O desmoronamento soviético A desintegração da URSS e a redemocratização dos países socialistas do Leste Europeu marcam o fim da Guerra Fria, com o triunfo do capitalismo comandado pelos EUA

U

ma série de reformas adotadas pela União Soviética (URSS) nos anos 1980, visando à recuperação da economia, e a ascensão de movimentos nacionalistas e pródemocracia levaram ao esfacelamento da nação, com todo o bloco socialista. Essa derrocada marcou o fim da Guerra Fria, encerrando a polarização entre norte-americanos e soviéticos. A URSS já passava por uma grave crise ao fim dos 18 anos do governo de Leonid Brejnev, em 1982. O governo centralista e altamente burocratizado causou sérios prejuízos à economia do país, que ficou estagnada enquanto os gastos com armamentos aumentaram. Para piorar, em 1979, a URSS invadiu o Afeganistão, ocupando militarmente o país até 1988. Esse esforço de guerra contribuiu para enfraquecer ainda mais a economia. O panorama político começou a mudar em 1985, quando Mikhail Gorbatchov assumiu o governo, iniciando duas grandes reformas. Na política, a glasnost (transparência) abrandou a censura e abriu espaço à liberdade de expressão. Na economia, a peres-

80 GE HISTÓRIA 2017

troika (reestruturação) liberalizou a economia, restabelecendo, com limites, a propriedade privada e permitindo a instalação de empresas estrangeiras. Gorbatchov também melhorou as relações com o Ocidente e assinou acordos com os Estados Unidos (EUA) para frear a corrida armamentista.

Agitação política

Enquanto a URSS iniciava o processo de abertura política e econômica, movimentos pró-democracia ganhavam força em alguns dos oito países do Leste Europeu que formavam parte do bloco socialista: Polônia, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária, Hungria, Iugoslávia, Albânia e Alemanha Oriental. No passado, era parte da doutrina soviética intervir em nações que se desviassem do socialismo, mas Gorbatchov indicara que não usaria a força para manter o bloco unido. A derrocada dos governos socialistas no Leste Europeu teve início na Polônia, onde greves culminaram em 1980 na formação, por operários e intelectuais, do sindicato independente

Na Hungria, a abertura da fronteira com a Áustria, em setembro de 1989, levou milhares de alemães orientais a cruzar o território húngaro em direção ao austríaco, com destino à Alemanha capitalista. Enquanto a migração se realizava, agitações ocorriam por todo o Leste Europeu. Essa efervescência política culminou no episódio que simbolizou a desintegração do bloco: a queda do Muro de Berlim. Na noite de 9 de novembro de 1989, o muro foi tomado por manifestantes dos lados ocidental e oriental. Sob pressão, os guardas começaram a liberar a passagem para quem quisesse atravessar a fronteira. Nas horas seguintes, centenas de moradores dos dois lados saltaram a muralha que separava a cidade para se confraternizar, enquanto uma multidão com marretas, martelos e barras de ferro começava, aos poucos, a arrancar pedaços da construção. Caía, assim, o Muro de Berlim, o maior símbolo do período da Guerra Fria. O evento deu início à reunificação do país, concluída em 1990.

Guerra e paz

A queda do muro abalou todo o Leste Europeu. Em alguns países, como a Tchecoslováquia, a transição foi pacífica. Se em 1968 os tanques soviéticos esmagaram um processo de democratização do socialismo – a Primavera de Praga –, em 1989 os intelectuais tchecos conseguiram consumar um amplo movimento de liberalização. A onda popular culminou com a deposição do


URSS DESMEMBRADA Confira os países que surgiram com o fim da União Soviética

Riga Tallinn

FEDERAÇÃO RUSSA ESTÔNIA LETÔNIA LITUÂNIA Vilna Moscou BELARUS Minsk UCRÂNIA Kiev CAZAQUISTÃO MOLDÁVIA Kichinev Tbilisi Astana Bishkek GEÓRGIA Baku UZBEQUISTÃO QUIRGUISTÃO TURCOMENISTÃO Yerevan TADJIQUISTÃO Ashkhabad ARMÊNIA Tashkent Dushanbe AZERBAIDJÃO

[2]

NA LUTA Passeata nas ruas de Varsóvia, na Polônia, organizada pelo sindicato Solidariedade

Fazem parte da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) Não fazem parte da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) Saiu da CEI em 2009 Fonte: Leonel Itaussu A. Mello, Luís César Amad Costa, História Moderna e Contemporânea, 5 ed., Scipione, pág. 443

presidente e a libertação do dramaturgo Václav Havel, líder da oposição que se tornou presidente. Por seu caráter pacífico, o movimento ficou conhecido como Revolução de Veludo. O processo resultou no desmembramento da Tchecoslováquia em dois países independentes, em 1993: a República Tcheca e a Eslováquia Já na Iugoslávia, a pressão pelo fim do socialismo levou a um violento processo de desintegração do país, cujo capítulo mais sangrento foi a Guerra da Bósnia (1992-1995), o mais prolongado e violento conflito na Europa desde a II Guerra Mundial, com 200 mil mortos. A antiga Iugoslávia originou seis novas repúblicas: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegóvina, Sérvia, Montenegro e Macedônia. Em 2008, o Kosovo declarou independência da Sérvia, mas a província ainda não foi reconhecida pela ONU como Estado independente.

O fim da URSS

Como não poderia deixar de ser, essa agitação política atingiu em cheio a principal nação socialista. Na URSS, a ineficiência da agricultura e as reformas econômicas provocaram escassez de alimentos e aumento da inflação, o que gerou forte pressão popular. Ao mesmo tempo, a abertura política fortaleceu os movimentos nacionalistas nas 15 repúblicas que compunham o país. O presidente do Soviete Supremo (Parlamento) da Federação Russa, Boris Iéltsin, defendia a aceleração das

reformas e, em agosto de 1991, mobilizou a população para evitar um golpe militar contra Gorbatchov. Fortalecido, Iéltsin promoveu a desmontagem das principais instituições socialistas russas, esvaziando o poder de Gorbatchov, que renunciou no mesmo ano. Em dezembro de 1991, a superpotência teve fim e, com ela, a Guerra Fria. No lugar da URSS, surgiram 15 repúblicas independentes (veja o mapa acima), sendo a principal a Federação Russa, que elegeu Iéltsin presidente. Com exceção de Estônia, Letônia e Lituânia, essas repúblicas passaram a integrar a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), um fórum de coordenação política e econômica.

Após a dissolução da URSS, a Rússia, perdeu poder econômico e militar e deixou de ser ator decisivo na geopolítica global. O planeta assistiu, então, ao surgimento de uma nova ordem mundial, marcada pela supremacia dos EUA como a única superpotência e pela consolidação do capitalismo como sistema econômico dominante. PARA IR ALÉM No filme Adeus, Lênin!, de Wolfgang Becker, a ação se passa durante o processo de reunificação da Alemanha, quando uma comunista devota sai do coma e não sabe que o Muro de Berlim foi derrubado. Temendo que a mudança política agrave o estado de saúde da mãe, seu filho elabora um plano para que ela pense que tudo continua como antes.

SAIU NA IMPRENSA PUTIN: RÚSSIA ESTÁ PREOCUPADA COM AVANÇO DA OTAN SOBRE SUAS FRONTEIRAS O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse hoje (23) que tanto a expansão e o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em direção às fronteiras russas quanto as ações dos Estados Unidos com relação a seus sistemas de escudos antimísseis provocam preocupações legítimas por parte dos russos. (...) “Será mesmo que somos contra o avanço da democracia em direção às nossas fronteiras? O que vocês entendem por democracia:

o avanço da Otan sobre nossas fronteiras? Isso é democracia? A Otan é um bloco militar. O que nos preocupa não é o avanço da democracia sobre nossas fronteiras, mas o avanço da infraestrutura militar da Otan sobre nossas fronteiras”, acrescentou Putin, durante a sessão plenária do evento. “Tudo isso provoca uma legítima preocupação de nossa parte e, sem dúvida, precisa ser avaliado e trabalhado. Apesar de todas as dificuldades, estamos dispostos a isso pelo mesmo problema antigo, o do sistema de defesa antimísseis”, destacou Putin. (...) Agência Brasil, 23/10/2015

[1] GERARD MALIE/AFP PHOTO [2] DRUSZCZ WOJTEIC/AFP

GE HISTÓRIA 2017

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IDADE CONTEMPORÂNEA LINHA DO TEMPO

Idade Contemporânea Veja os principais fatos da Revolução Francesa (1789) até os dias atuais. Os acontecimentos que têm indicação de páginas correspondem aos temas mais cobrados no vestibular. [2]

[3]

1789

SÉC. XVIII

1848

1870

1885

Estoura a Revolução Francesa. Pág. 56

Início da Revolução Industrial, na Inglaterra. Pág. 58

Os filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels publicam o Manifesto Comunista, que origina o socialismo científico, umas das doutrinas sociais e políticas do século XIX. Pág. 61

Ocorre a unificação italiana, que integra os vários Estados e reinos da Península Itálica. No mesmo ano, Bismarck efetiva a unificação alemã, integrando os Estados germânicos no II Reich (II Império). Pág. 63

As potências europeias regulamentam a partilha da África na Conferência de Berlim. É um dos momentos mais representativos do Imperialismo. Pág. 64

[1]

1790

1800

[4]

1804 Napoleão toma o poder como imperador da França. Pág.57

1817 Tem início a guerra pela independência das colônias espanholas na América. Pág. 60

1810

1820

1830

1840

1850

1830

1848

A burguesia francesa, reagindo às medidas autoritárias do rei Carlos X, derruba a dinastia Bourbon e leva ao poder Luís Felipe I, um Orléans alinhado com seus interesses. Seguem-se várias insurreições semelhantes na Europa, as Revoluções Liberais.

A crise econômica e a falta de liberdade civil acentuam a oposição à monarquia na França e levam às Revoluções de 1848, conhecidas como Primavera dos Povos, de inspiração nacionalista e liberal. Pág. 62

1860

82 GE HISTÓRIA 2017

1880

1890

1861 Interesses antagônicos entre os estados do sul dos Estados Unidos (latifundiários e escravagistas) e os do norte (industrializados e abolicionistas) provocam a Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão. Com um saldo de 600 mil mortos, o conflito termina em 1865, com a vitória do norte e o fim da escravidão.

[7]

1871 Um levante popular na capital francesa implanta um governo revolucionário de inspiração socialista – a Comuna de Paris – que acaba com os privilégios e as distinções de classe: institui, por exemplo, o ensino gratuito, o controle do preço e a distribuição da renda em sistema cooperativo. Após 72 dias, a Comuna é derrotada pelas tropas governamentais. Pág. 62

[6]

[5]

1870


[9]

1929 Os Estados Unidos (EUA) enfrentam a crise de 1929, que se espalharia pelo mundo. Pág. 70

[8]

1910 Milhões de camponeses descontentes com o domínio dos latifundiários dão início à Revolução Mexicana, a primeira revolta popular do século XX.

1900

1948

1989

A política de segregação racial do apartheid é oficializada na África do Sul. Só nos anos 1990, o regime é revogado, no governo de Frederik de Klerk. Em 1994, o líder negro Nelson Mandela é eleito presidente.

A queda do Muro de Berlim marca o fim da Guerra Fria. Nos anos seguintes, o planeta assistiria ao desmantelamento do mundo comunista e mergulharia numa nova ordem mundial. Pág. 80.

[10]

1959 Tem início a Guerra do Vietnã. Pág. 79

1973

1939 Começa a II Guerra Mundial. Pág. 72

1910

1920

[11]

1959 Irrompe a Revolução Cubana. Pág. 77

1930

1940

1914

1946

Começa a I Guerra Mundial. Pág. 66

Eclode a Guerra da Indochina, um dos capítulos da descolonização afro-asiática. Pág. 78

1950

1960

Golpes de Estado instalam regimes militares no Chile e no Uruguai. O movimento atinge vários outros países do continente. São as ditaduras latinoamericanas.

1970

1980

1990

2000

1966 [13]

1949

1922

O líder comunista Mao Tsé-tung proclama a República Popular da China e reorganiza o país nos moldes socialistas: é a Revolução Chinesa. Pág. 76

Benito Mussolini toma o poder na Itália, inaugurando os regimes nazifascistas, que marcariam a Europa após a I Guerra Mundial. Pág. 71 [12]

1917

1936

1948

1950

É deflagrada a Revolução Russa. Pág. 68

Liderados pelo general Francisco Franco, militares rebelam-se contra o governo republicano da Espanha, iniciando a Guerra Civil Espanhola. Pág. 71

O Estado de Israel é proclamado em maio de 1948, após a aprovação pela ONU do plano de partilha da Palestina entre árabes e judeus. Pág. 73

Começa a Guerra da Coreia, o primeiro grande conflito da Guerra Fria. Pág. 74

Em meio a lutas internas no Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung impulsiona a Grande Revolução Cultural. Jovens militantes são estimulados a formar a Guarda Vermelha, que persegue os adversários. Pág. 76

2001 Em 11 de setembro, as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, são derrubadas, no maior ataque terrorista da história.

[15]

1979 [14]

[1] [4] MUSEU DO LOUVRE/FRANÇA [2] [3] [9] [14] REPRODUÇÃO [5] MUSEU BOLÍVAR/VENEZUELA [6] [8] [14] BIBLIOTECA DO CONGRESSO/EUA [7] BIBLIOTECA UNIVERSIDADE NORTHWESTERN/EUA [10] DEPARTAMENTO DE DEFESA/EUA [11] [15] DIVULGAÇÃO [12] MUSEU CENTRAL ESTATAL DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA RÚSSIA [13] JORGE ROSEMBERG

Descontente com o governo pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi, a maioria xiita do Irã inicia a Revolução Islâmica. GE HISTÓRIA 2017

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COMO CAI NA PROVA

1. (UNIFOR 2015) A Primeira Revolução Industrial desenvolveu-

-se na Inglaterra, a partir da metade do século XVIII. Este acontecimento histórico provocou profundas transformações tecnológicas, organizacionais e sociais. O surgimento da Indústria Moderna estruturou uma nova sociedade e expandiu-se, depois, por vários países do mundo. Assinale a alternativa correta sobre este assunto: a) A Primeira Revolução Industrial aumentou a produtividade do trabalho e, com isto, promoveu uma melhor distribuição de renda desde o início. b) A Primeira Revolução Industrial foi caracterizada pela formação de cartéis, trustes e “holdings”. c) A nova classe de trabalhadores adaptou-se rapidamente às máquinas, pois estas diminuíam o esforço físico. d) A fonte básica de energia usada na Revolução foi o querosene. e) A máquina a vapor, o tear mecânico e a energia gerada pelo carvão são acontecimentos básicos da Revolução. RESOLUÇÃO

As tecnologias desenvolvidas são consideradas marcos que determinam as fases da Revolução Industrial. Em sua primeira etapa, entre meados dos séculos XVIII e XIX, as principais tecnologias foram o carvão e o ferro. O carvão utilizado como força motriz das máquinas e como combustível para as locomotivas e barcos a vapor, e o ferro como matéria-prima para a construção das próprias máquinas. A invenção do tear mecânico é considerada o marco inicial desse processo. Apesar de aumentar a produtividade e o lucro dos proprietários das manufaturas, a situação dos trabalhadores não melhorou com o advento da Revolução Industrial. Pelo contrário: os operários eram submetidos a duras condições, com longas e desgastantes jornadas de trabalho em troca de salários baixíssimos. Resposta: E

2. (PUC-RJ 2015) A Revolução Francesa foi vivenciada, por mui-

tos dos atores envolvidos, como uma ruptura com o Antigo Regime. O próprio conceito de Antigo Regime era utilizado pelos revolucionários para nomear a organização social e política anterior a 1789. As alternativas abaixo apresentam transformações que representavam uma ruptura com essa organização. Assinale a alternativa INCORRETA: a) A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamando a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. b) A sanção da Constituição Civil do Clero, transformando os sacerdotes católicos paroquiais em funcionários públicos. c) A eliminação do feudalismo, suprimindo os privilégios dos senhores feudais. d) A abolição dos dízimos e da propriedade privada como direito inviolável e sagrado. e) A supressão da Monarquia absoluta e a defesa do princípio da soberania do povo.

RESOLUÇÃO

A alternativa D está incorreta, pois os revolucionários franceses utilizaram como base teórica para seu movimento as ideias iluministas, baseadas nos princípios do liberalismo desenvolvido

84 GE HISTÓRIA 2017

por John Locke na Inglaterra do século XVII, que pregavam a inviolabilidade da propriedade privada, considerada por estes como direito natural e sagrado. A referência à abolição dos dízimos presente na alternativa está correta, uma vez que foi durante o processo revolucionário que se efetivou a separação entre o Estado e a Igreja, tendo sido abolidos os privilégios do clero. Resposta: D

3. (FGV ECONOMIA 2015) Em nome do direito de viver da humanidade,

a colonização, agente da civilização, deverá tomar a seu encargo a valorização e a circulação das riquezas que possuidores fracos detenham sem benefício para eles próprios e para os demais. Age-se, assim, para o bem de todos. (...) [A Europa] está no comando e no comando deve permanecer. Albert Sarrault, Grandeza y servidumbres coloniales Apud Hector Bruit, O Imperialismo, 1987, p. 11)

A partir do fragmento, é correto afirmar que a) a partilha afro-asiática da segunda metade do século XIX, liderada pela Inglaterra e França, fruto da expansão das relações capitalistas de produção, garantiu o controle de matérias-primas estratégicas para a indústria e a colonização como missão civilizadora da raça branca superior. b) o velho imperialismo do século XVI foi produto da revolução comercial pela procura de novos produtos e mercados para Portugal e Espanha que, por meio do exclusivo metropolitano e do direito de colonização sobre os povos inferiores, validando os superlucros da exploração colonial. c) o novo imperialismo da primeira metade do século XIX, na África e Oceania, consequência do capitalismo comercial, impôs o monopólio da produção colonial, em especial, para a Grã-Bretanha que, de forma pacífica, defendeu o direito de colonização sobre os povos inferiores. d) o colonialismo do século XVI, na África e Ásia, tornou essas regiões fontes de matérias-primas e mercados para a Europa, em especial Alemanha e França, que, por meio da guerra, submeteram os povos inferiores e promoveram a industrialização africana. e) a exploração da África e da Ásia na segunda metade do século XVII, pelas grandes potências industriais, foi um instrumento eficaz para a missão colonizadora daquelas áreas atrasadas e ampliou o domínio europeu em nome do progresso na medida em que implantou o monopólio comercial. RESOLUÇÃO

As novas tecnologias surgidas com a Segunda Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século XIX, como a eletricidade, o aço e o petróleo, promoveram um significativo aumento da produção dos países industrializados, como França e Inglaterra. A necessidade de novas matérias-primas, da ampliação de mercados consumidores, do escoamento da população excedente nas áreas europeias e de locais para investimentos de capitais das grandes empresas acabaram levando as potências europeias a ocuparem a África e a Ásia, impondo seu imperialismo. O Imperialismo foi justificado tomando por base as ideias de Darwin e Spencer (Darwinismo Social), colocando o invasor como civilizador, humanista e filantropo, que levava a civilização para regiões onde ela não poderia se desenvolver de forma espontânea. Resposta: A


RESUMO

4. (ESAMC 2015 – ADAPTADO) Leia o fragmento abaixo para responder a questão:

Idade contemporânea

Jamais a face do globo e a vida humana foram tão dramaticamente transformadas quanto na era que começou sob as nuvens em cogumelo de Hiroshima e Nagasaki. Mas como sempre a história tomou apenas consciência marginal das intenções humanas, mesmo as dos formuladores de decisões nacionais. A verdadeira transformação social não foi pretendida nem planejada. E, de qualquer modo, a primeira contingência que se teve que enfrentar foi o imediato colapso da grande aliança antifascista. Assim que não mais houve um fascismo para uni-los contra si, capitalismo e comunismo mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro como inimigos mortais.

REVOLUÇÃO FRANCESA Inspirada pelas ideias iluministas, a burguesia francesa foi responsável pelo primeiro grande movimento europeu de derrubada do Antigo Regime. Com o apoio popular e sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, eliminou os últimos resquícios feudais do continente, pondo fim aos privilégios do clero e da nobreza, abrindo caminho para o capitalismo industrial no país.

Fonte: HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos. SP: Companhia das Letras, 1995, p. 177.

A leitura das informações e do contexto por elas retratado nos permite inferir que: a) apesar das disputas ideológicas do pós-Segunda Guerra, as perdas humanas provocadas pelas bombas atômicas levaram as potências a não se enfrentarem em uma nova guerra, evitando, assim, uma destruição ainda maior. b) a bipolarização ideológica da Guerra Fria teve como principais causas o fim do fascismo e a tentativa dos Estados Unidos de impedir uma nova catástrofe nuclear, uma vez que a URSS detinha a tecnologia atômica. c) apesar da destruição humana provocada pelas bombas atômicas, para as potências fortalecidas após a guerra, o mais importante era demonstrar sua força e garantir sua supremacia no mundo bipolar da Guerra Fria. d) sem a aliança antifascista, capitalismo e socialismo voltaram a se enfrentar após a Segunda Guerra, o que levou à redução dos arsenais atômicos como forma de evitar uma nova tragédia nuclear. e) a utilização das bombas atômicas pelos Estados Unidos pode ser entendida como um recado para a URSS, o que levou os soviéticos a não desenvolverem armar nucleares e nem se envolverem em guerras contra os EUA. RESOLUÇÃO

De acordo com o excerto e com o contexto histórico do imediato pós-Segunda Guerra Mundial, o fim do nazifascismo eliminou a tênue aliança existente entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), acirrando tensões que ficaram suspensas durante o conflito. Caracterizado pela Guerra Fria, conflito ideológico, político, econômico e militar entre as duas potências, o pós-Guerra inaugurou uma fase na qual os inimigos se armaram e procuraram demonstrar ao outro lado que, caso a guerra eclodisse novamente, seu potencial seria mais devastador. Após a apresentação ao mundo da bomba atômica da URSS (1949), acirrou-se a corrida nuclear, em um movimento que levou as duas superpotências a expandir seu arsenal atômico. Durante o período, houve enfrentamentos em que os países envolvidos acabavam se alinhando com EUA ou URSS. Foi o caso da Guerra da Coreia, na qual o sul teve o apoio norte-americano e o norte contou com a ajuda soviética. Mas, apesar das tensões surgidas ao longo do período, uma guerra direta entre as superpotências seria praticamente impossível, uma vez que, para vencer o inimigo, não haveria outra possibilidade a não ser a destruição mútua. Resposta: C

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial alterou profundamente as antigas relações de produção agrárias e consolidou o capitalismo, caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção e pelo trabalho assalariado. Inicialmente restrita ao território inglês, a Revolução se espalhou pelo mundo ao longo dos séculos XVIII e XIX. Divide-se, tradicionalmente, em três etapas: a I, a II e III Revolução Industrial. IMPERIALISMO E I GUERRA MUNDIAL Um dos principais efeitos da Revolução Industrial foi o aumento da produção em escala global e a necessidade de expandir os mercados consumidores. As disputas por esses mercados entre as potências levaram à partilha da África e da Ásia, responsável pelos conflitos que deflagraram a I Guerra Mundial. Ao final do conflito, a Alemanha foi derrotada, sendo obrigada a ceder territórios e pagar indenizações. Houve também os desmembramentos dos Impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano. NAZIFASCISMO E II GUERRA MUNDIAL Após a I Guerra Mundial, países como Itália e Alemanha viviam em situação desesperadora. Com um discurso nacionalista e de natureza autoritária, o nazifascismo ganhou força. O expansionismo característico desses regimes totalitários levou a um novo desequilíbrio, responsável pela eclosão da II Guerra Mundial. Ao final do conflito, Alemanha e Itália estavam arrasadas. No Oceano Pacífico, os combates foram encerrados com o lançamento de duas bombas atômicas pelos norte-americanos no Japão, matando milhares de pessoas e encerrando definitivamente o conflito. GUERRA FRIA Após o fim da II Guerra, o mundo se dividiu no bloco capitalista, liderado pelos EUA, e no socialista, encabeçado pela União Soviética. Apesar de não haver embate direto entre as duas potências atômicas, conflitos como as Guerras da Coreia e do Vietnã e episódios como a Revolução Cubana tiveram participação ativa de EUA e União Soviética e foram influenciados pela polarização ideológica da Guerra Fria. FIM DA URSS A partir da segunda metade da década de 1980, uma série de reformas políticas levou ao colapso do regime soviético. Paralelamente, a pressão dos movimentos pródemocracia e nacionalistas fez ruir o bloco socialista. Esse processo marcou o fim da Guerra Fria e a consolidação dos EUA como a grande potência hegemônica e do capitalismo como sistema econômico dominante.

GE HISTÓRIA 2017

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5

BRASIL COLÔNIA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

Organização político-administrativa .......................................................88 Economia e sociedade colonial ...................................................................89 Interiorização ...................................................................................................91 Escravidão ..........................................................................................................92 Independência ..................................................................................................94 Linha do tempo ................................................................................................96 Como cai na prova + Resumo .......................................................................98

Direito sobre a terra Comunidades indígenas protestam contra a Proposta de Emenda Constitucional que transfere do governo federal para o Congresso a decisão sobre a demarcação de terras

N

a luta por seus direitos sobre a terra, a comunidade indígena vem intensificando os protestos pelo Brasil contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215. Entre outras medidas, ela transfere do governo federal para o Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, além de proibir a ampliação e permitir a revisão das áreas já demarcadas. A PEC 215 foi aprovada pela comissão especial da Câmara em outubro de 2015 e segue para tramitação no Congresso em 2016. O caso coloca em debate os interesses conflitantes da comunidade indígena e dos produtores agropecuários. Os ruralistas são contra o reconhecimento das terras indígenas porque ele restringe o uso das áreas para o agronegócio. Caso a PEC 215 seja aprovada definitivamente, a demarcação das terras, que hoje é feita pelos órgãos técnicos do Poder Executivo, passaria a ficar à mercê de interesses políticos e econômicos no Congresso. Como os ruralistas têm bastante força na Câmara e no Senado, eles poderiam barrar as novas iniciativas de reconhecimento de terras indígenas. A PEC também favorece os ruralistas por prever indenização aos proprietários de terras nas áreas demarcadas em todos os casos. Além disso, a medida estabelece que os índios não terão direito à terra se não a ocupavam em 5

86 GE HISTÓRIA 2017

de outubro de 1988 – data estabelecida como referência devido à promulgação da Constituição. O problema é que essa decisão não leva em consideração os índios que foram expulsos de suas terras e que não conseguiram retornar devido a conflitos fundiários, por exemplo. A comunidade indígena luta pela garantia assegurada pela Constituição de 1988 que reconheceu o direito dos índios a terras em tamanho e condições adequados às suas necessidades econômicas e culturais. Desde então, o número de terras indígenas regularizadas deu um salto substancial e ocupa atualmente cerca de 13% do território brasileiro. Para as entidades de defesa dos direitos indígenas, a PEC 215 é inconstitucional e fere os direitos adquiridos dos povos tradicionais. Desde o século XVI, os índios sofreram com o extermínio, a escravização e a expropriação das terras INDIGNAÇÃO INDÍGENA no Brasil. Neste ca- Índios protestam na pítulo, abordamos o Avenida Paulista, em São sofrimento dos povos Paulo, em agosto de 2015: nativos brasileiros e eles são contra a PEC 215, outros fatos que mar- que pode restringir o caram o período do processo de demarcação de Brasil colonial. novas terras


WALMOR CARVALHO/FOTOARENA

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BRASIL COLÔNIA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA A PRIMEIRA DIVISÃO POLÍTICA Veja como as capitanias hereditárias foram divididas e confira o nome dos donatários de cada faixa de terra Capitanias que prosperaram

Pará (João de Barros e Aires da Cunha) Maranhão (Fernão Álvares de Andrade)

Governo remoto

C

om o objetivo de tomar posse, explorar e defender o território brasileiro, Portugal deu início, no século XVI, à montagem da estrutura administrativa colonial. Primeiramente, dividiu a colônia em capitanias hereditárias e, mais tarde, aprimorou o sistema, criando o Governo-Geral.

Capitanias hereditárias

Sem recursos financeiros nem humanos para empreender uma ocupação em grande escala na colônia, o rei dom João III decidiu, em 1534, dividir o território brasileiro em 15 faixas de terra – as capitanias hereditárias (veja o mapa acima). O direito de administrá-las, vitalício e hereditário, era dado aos donatários, nobres ou burgueses que se comprometiam a arcar com os gastos, repassando grande parte dos rendimentos à Coroa. A regulamentação do sistema era feita por meio dos documentos Carta de Doação e Foral. O donatário aplicava a Justiça e podia doar sesmarias (fazendas) e cobrar impostos relativos à agricultura e à exploração dos rios. A Coroa tributava a exploração de pau-brasil, especiarias e metais preciosos. O sistema não apresentou os resultados esperados por causa do isolamento, dos ataques dos índios e da falta de investimentos. A maior parte faliu ou nem sequer foi ocupada pelos donatários. Das 15, apenas Pernambuco, efetivamente, prosperou, favorecida pela produção açucareira. Outras, como São Vicente, acabaram desenvolvendo uma economia de subsistência.

88 GE HISTÓRIA 2017

Rio Grande do Norte (João de Barros e Aires da Cunha) LINHA DE TORDESILHAS

Repleto de riquezas, mas extenso e distante, o Brasil era um desafio administrativo para os portugueses. Veja como eles tentaram resolver o problema

Ceará (Antônio Cardoso de Barros)

Itamaracá (Pero Lopes de Sousa)

Administração Pombalina

Entre 1750 e 1777, o Marquês Bahia de Todos os Santos de Pombal foi o (Francisco Pereira Coutinho) primeiro-ministro Ilhéus (Jorge Figueiredo Correia) português durante o reinado de dom Porto Seguro (Pero do Campo Tourinho) José I. Nessa época Portugal passaEspírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho) va por uma forte São Tomé (Pero de Góis) crise econômica, São Vicente (Martim Afonso de Sousa) – 2˚ lote resultante, entre Santo Amaro (Pero Lopes de Sousa) outros fatores, do São Vicente (Martim Afonso de Sousa) – 1˚ lote Sant’Ana (Pero Lopes de Sousa) início do declínio da mineração no Brasil e da dependência econômiFonte: Alfredo Boulos Júnior, História: Sociedade & Cidadania – 7 série, 1 ed., FTD, pág. 42 ca em relação à Inglaterra. Suas Governo-Geral medidas visavam a melhorar a economia Em 1548, com o fracasso das capitanias de Portugal, reduzir a dependência em e o aumento das investidas estrangeiras relação aos ingleses e eliminar o poder na colônia, Portugal resolveu impor-se dos jesuítas (veja pág. 91). Para isso, ele para assumir o controle efetivo da ad- reorganizou a administração do Brasil e ministração criando o Governo-Geral, intensificou a exploração sobre a colônia. com capital em Salvador. O governador- As medidas centrais foram: geral coordenava a defesa, cobrava impostos e incentivava a economia. criação de Companhias de Comércio; Embora o Governo-Geral tenha sido instituição da derrama (cobrança de implantado após as capitanias, ele não impostos atrasados sobre a região as substituiu. A ideia era impor uma mineradora); centralização política, o que funcionou estímulo à produção do algodão no na esfera militar, mas não se refletiu no Maranhão; dia a dia, em razão da falta de infraes- expulsão dos jesuítas e instituição trutura de transporte e comunicação. do ensino laico (desvinculado dos religiosos); Boa parte do poder, de fato, era exercida pela Câmara Municipal de cada vila. emancipação dos índios; Os principais governadores-gerais fo- transferência da capital de Salvador ram Tomé de Sousa e Mem de Sá. Após para o Rio de Janeiro (para aumentar a morte deste último, em 1572, Portugal a eficiência no controle sobre a entradividiu o território nos governos do Norte da e a saída de produtos e riquezas); e do Sul. Em 1621, fez nova divisão: foram fim das capitanias hereditárias. criados o Estado do Brasil, com capital em Salvador, e o Estado do Maranhão, As medidas introduzidas por Pombal com capital em São Luís, que, em 1751, foram fundamentais para o início dos passou a se chamar Estado do Grão- movimentos de contestação ao coloniaPará e Maranhão, com sede em Belém. lismo português no Brasil. Pernambuco (Duarte Coelho)

a

a


BRASIL COLÔNIA ECONOMIA E SOCIEDADE COLONIAL

Rapto de fortunas No período em que governou o Brasil, Portugal pôs em prática uma rentável política econômica com a finalidade de transferir as riquezas da colônia para seus cofres

I

nserida no contexto do mercantilismo europeu, a economia do Brasil colônia foi caracterizada pelo pacto colonial, segundo o qual os brasileiros só podiam comercializar produtos com os portugueses, de modo que esses compravam barato, vendiam caro e ainda tinham exclusividade na exportação das mercadorias do Brasil a outras nações. A maioria dos lucros destinava-se à metrópole, que cobrava altos impostos sobre a exploração dos produtos coloniais. As principais atividades econômicas daquele período foram a extração do pau-brasil, a produção de açúcar, a mineração e a pecuária.

Pau-brasil

A primeira riqueza brasileira percebida por Portugal foi o pau-brasil, madeira então abundante em nosso litoral, usada para a fabricação de tinturas. A extração era feita pelos índios, que trocavam a mercadoria – numa prática conhecida como escambo – por quinquilharias, como espelhos e colares, fornecidos pelos comerciantes portugueses. Em alguns pontos da costa foram instaladas feitorias para o armazenamento do produto. A atividade era simples e lucrativa, mas trazia um problema: os mercadores lusitanos carregavam seus navios e voltavam à Europa, sem se fixar na colônia, o que facilitava os ataques estrangeiros. Para proteger seus domínios, Portugal precisava povoá-los urgentemente. Havia uma maneira rentável de fazer isso: introduzir uma atividade produtiva na região. [1] REPRODUÇÃO/MUSEU AFROBRASIL

GARIMPAGEM VORAZ A mineração atraiu milhares de pessoas, que retiraram toneladas de ouro e outros metais preciosos do solo brasileiro

[1]

Açúcar

Escolhida a estratégia, definiu-se o produto: o açúcar. A matéria-prima, a cana-de-açúcar, adaptava-se ao clima e ao solo. Portugal já possuía experiência na produção de cana nos Açores e na Ilha da Madeira, e o açúcar tinha grande aceitação na Europa. Entretanto, faltavam aos portugueses capital inicial e infraestrutura de distribuição. Essa questão foi resolvida com uma parceria com os holandeses, que já fretavam o açúcar produzido por Portugal nas ilhas do Atlântico. O sistema instalado foi o de plantation, cujas características eram: grandes propriedades (latifúndios) monocultoras (dedicadas a apenas um produto) – os engenhos. mão de obra escrava (primeiramente indígena; depois negra). produção voltada para o mercado externo. Os latifúndios monocultores e a escravidão permitiam uma produção vasta a baixo custo – o que levava a altos lucros. O destino era a exportação, uma vez que

Portugal não tinha interesse em desenvolver a economia interna. Os poucos lucros que permaneciam no Brasil ficavam nas mãos dos senhores de engenho, provocando grande concentração de renda. A produção de açúcar foi a principal atividade econômica do Brasil durante os séculos XVI e XVII, sendo ultrapassada no século XVIII pela mineração.

Mineração

Em 1693, abundantes jazidas de ouro foram descobertas na região hoje ocupada por Minas Gerais. A notícia se espalhou e milhares de pessoas, das mais variadas origens, rumaram para lá em busca de riquezas. A Coroa portuguesa, a fim de impor uma administração mais rígida e garantir sua parte nos lucros, publicou, em 1702, o Regimento Aurífero, que regulava a extração mineral. O documento criava as intendências das minas – governos quase autônomos que prestavam satisfação a Portugal. Em 1720, a região mineradora, então parte da capitania de São Vicente, foi transformada na nova capitania de Minas Gerais. GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL COLÔNIA ECONOMIA E SOCIEDADE COLONIAL ECONOMIA DO BRASIL COLÔNIA Veja onde e quando se desenvolveram as atividades econômicas introduzidas em nosso país durante os três séculos do período colonial

Século XVII

Século XVI

Século XVIII

Boa Vista

Meridiano de Tordesilhas

TERRAS PERTENCENTES À ESPANHA

TERRAS PERTENCENTES A PORTUGAL

Meridiano de Tordesilhas

Belém

Olinda

Salvador São Jorge dos Ilhéus Porto Seguro

Recife

Cana-de-açúcar Pecuária Mineração Drogas do sertão

Área de ocorrência de pau-brasil Cana-de-açúcar Pecuária

Fortaleza Recife

Salvador

Porto Seguro Vitória Taubaté Rio de Janeiro São Vicente Cananeia

Nossa Senhora da Vitória São Sebastião do Rio de Janeiro Santos São Vicente Cananeia

Santarém Borba

Belém São Luís

Cuiabá

Salvador

Vila Rica (Ouro Preto) Cana-de-açúcar Pecuária Rio de Janeiro Curitiba São Paulo Mineração Drogas do sertão Porto Alegre Algodão Vias de transporte interno

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, págs. 31, 33, 36

As áreas de ocorrência de metais preciosos foram divididas em lavras (grandes propriedades escravistas) e faiscações (extração individual ou familiar, sem presença de escravos). Quem se dedicava à extração pagava 20% do ouro encontrado à Coroa – o quinto. Em 1720, em razão da sonegação, foram criadas as Casas de Fundição, nas quais o ouro em pó era transformado em barras e tinha o quinto extraído. Só era permitida a exportação do ouro fundido. Dez anos depois, a Coroa criou a capitação, um tributo que incidia sobre o número de escravos usados. A mineração favoreceu o surgimento de núcleos urbanos e o aumento da população. Também levou a uma integração do mercado interno, pois o Sudeste passou a comprar gado do Sul e escravos do Nordeste. A decadência da atividade se deu por volta de 1800. O esgotamento das jazidas empobreceu e esvaziou as zonas de extração.

Sociedade do Açúcar

A sociedade colonial no Brasil dependeu da atividade econômica exercida. Apesar de terem, por exemplo, a escravidão em comum, as sociedades do Nordeste açucareiro e do Sudeste minerador apresentaram características distintas. A sociedade do açúcar era agrária (os principais aspectos econômicos e sociais aconteciam em torno dos latifúndios) e estratificada (apresentava pouca ou nenhuma mobilidade entre as classes). O grupo mais privilegiado era o dos senhores de engenho, a elite econômica, social

90 GE HISTÓRIA 2017

e política. Eles eram os donos das terras, das máquinas e da mão de obra, o que representava riqueza e prestígio. O símbolo máximo do poder era a casa-grande, a sede do engenho, onde o senhor vivia com a família e os criados. Por ser pai e maior autoridade no latifúndio, diz-se que ele comandava uma sociedade patriarcal.

SAIBA MAIS HOLANDESES NO BRASIL

Durante a União Ibérica (1580-1640), quando Portugal esteve submetido ao domínio espanhol, a Espanha passou a controlar o Brasil e proibiu a Holanda de comercializar o açúcar brasileiro – ainda que os holandeses tivessem um acordo anterior com os portugueses. Para garantir seus investimentos no Brasil, a Holanda tomou posse das regiões nordestinas produtoras do açúcar. O auge da presença holandesa ocorreu durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1644). Sua administração selou uma importante aliança com os senhores de engenho ao melhorar as condições de produção e reduzir os impostos. Com o fim da União Ibérica em 1640, Portugal decidiu recuperar o controle do Nordeste. Paralelamente, os senhores de engenho se rebelaram contra os holandeses devido ao aumento de impostos, o que deu início à Insurreição Pernambucana, em 1645. A rebelião conseguiu expulsar os holandeses em 1654.

No outro extremo da hierarquia social estavam os escravos, que eram propriedade do senhor e exerciam todas as atividades de produção. Os escravos viviam nas senzalas, alojamentos cuja simplicidade se contrapunha à opulência da casa-grande (veja mais na pág. 92). Havia outras duas classes intermediárias. Alguns engenhos tinham trabalhadores assalariados que ocupavam cargos como o de feitor-mor, responsável pela administração do engenho; feitor, que vigiava os escravos; alfaiate; pedreiro; etc. Existiam também os comerciantes, que negociavam escravos, animais, carne, trigo e outros produtos. Alguns conseguiam romper a típica imobilidade da sociedade açucareira, acumulando fortunas e convertendo-se em senhores de engenho.

Sociedade do Ouro

Formada por pessoas que tentavam enriquecer garimpando ouro, a sociedade mineradora era bem diferente da açucareira. Não havia o latifúndio, portanto, a população não era agrária, estando organizada em núcleos urbanos. Além disso, a mobilidade social era muito maior e o trabalho livre, mais significativo. Surgiu, pela primeira vez no Brasil, uma classe média, constituída por artesãos, barbeiros, médicos, advogados, tropeiros e soldados. No espectro social, eles ficavam acima dos escravos e abaixo dos grandes comerciantes e donos de minas. Esse estrato intermediário da sociedade mineradora é o embrião da atual classe média brasileira.


BRASIL COLÔNIA INTERIORIZAÇÃO DESBRAVANDO O TERRITÓRIO Veja as rotas, os líderes e os objetivos das principais entradas e bandeiras realizadas entre os séculos XVII e XVIII

Gurupá

As ações dos bandeirantes e dos jesuítas foram responsáveis diretas pelo processo que desconcentrou a população da colônia da faixa litorânea.

E

ntre os séculos XVII e XVIII, exploradores paulistas penetraram nos sertões brasileiros e estenderam como nunca os limites da colônia. Essas expedições de desbravamento do interior do Brasil ficaram conhecidas como entradas e bandeiras. De maneira geral, dizemos que as entradas eram as campanhas oficiais financiadas pelo governo e as bandeiras resultavam da iniciativa de particulares, partindo, principalmente, da capitania de São Vicente. Apesar de não terem inicialmente como meta a conquista de novos territórios, elas acabaram se transformando no maior ciclo de crescimento dos domínios portugueses na América.

Índios e negros

Nas últimas décadas da União Ibérica (1580-1640), época em que Portugal estava submetido ao domínio espanhol, os holandeses tomaram dos portugueses os principais pontos de tráfico de escravos na costa africana, levando à falta de mão de obra no Brasil. A solução encontrada foi a substituição dos negros pelos indígenas. Em São Vicente, desde o início da colonização, eram organizadas expedições rumo ao interior para o aprisionamento de índios, utilizados como escravos. Além da experiência na atividade, outro fator que contribuiu para fazer da capitania o principal núcleo de irradiação das bandeiras foi o desapego da população à terra, já que a capitania se empobreceu por ter fracassado na produção do açúcar.

Vila Bela

Cuiabá

4

Fortaleza

Meridiano de Tordesilhas

Nas entranhas do Brasil

1 1

Recife

Salvador

Vila Boa

3 4

4

2 São Paulo

5

Como não havia mais muitos índios 1 Domingos Jorge Velho Captura de índios nas áreas próxi2 Fernão Dias e Borba Gato Mineração mas ao litoral, as Sertanismo de contrato 3 Bartolomeu Bueno expedições tiveRegião de Palmares 4 Raposo Tavares ram de adentrar Missões mais profunda5 Raposo Tavares e Fernão Dias mente o território. Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 35 As incursões eram comandadas por portugueses e descendentes de lusitanos, Jesuítas como Antônio Raposo Tavares e Fernão Os primeiros jesuítas chegaram ao BraDias Pais Leme. Por conhecerem bem sil em 1549. Sua ação visava, fundamentalos sertões, muitos bandeirantes foram mente, converter os índios ao catolicismo contratados por fazendeiros e adminis- e educar os colonos. Para catequizar os tradores coloniais para combater índios nativos, os membros da Companhia de e negros que resistiam à escravidão. Era Jesus criaram povoados indígenas, coo sertanismo de contrato. As mais co- nhecidos como missões, em torno dos nhecidas expedições foram feitas pelo quais foram fundadas vilas e cidades. Devido ao interesse dos colonos em paulista Domingos Jorge Velho. escravizar os indígenas, os jesuítas levaEm busca do ouro ram as missões para o interior do país, o Em 1648, Portugal retomou o controle que ajudou a desbravar o território da sobre o tráfico negreiro no Atlântico. colônia. Além da catequização, as missões Paralelamente, a produção de açúcar desenvolveram várias atividades econôno Brasil começava a entrar em deca- micas com a mão de obra indígena. No dência. Os dois fatores contribuíram Vale Amazônico, por exemplo, a extração para o aparecimento de outro tipo de das drogas do sertão permitiu o início da expedição, as bandeiras de prospec- ocupação portuguesa sobre o noroeste da colônia. No extremo sul, a pecuária e a ção, que buscavam metais preciosos. As primeiras bandeiras rumaram à mineração foram as principais atividades. região do atual estado de Minas Gerais, As missões duraram até 1759, quando permitindo o surgimento da atividade o Marquês de Pombal expulsou os jesuímineradora no século XVIII. Em seguida, tas, alegando que a Companhia de Jesus direcionaram-se a Mato Grosso e a Goiás. ocupava funções mais políticas do que Os principais líderes dessas bandeiras religiosas, ameaçando o poder da Coroa. foram os paulistas Bartolomeu Bueno da O governo português também se ressentia Silva e Manuel de Borba Gato. da proteção dos jesuítas aos índios. GE HISTÓRIA 2017

91


BRASIL COLÔNIA ESCRAVIDÃO

MOENDA DE CANA Considerados seres inferiores, os negros africanos eram tratados como mercadoria, sendo submetidos a trabalhos forçados

[1]

Crueldade histórica Por quase quatro séculos, milhões de indígenas e negros foram sequestrados, vendidos, castigados e obrigados a trabalhar de graça para fazer girar a economia brasileira

N

o Brasil, o uso do escravo como mão de obra teve início com a atividade açucareira nos engenhos de cana, atravessou o período colonial e só foi oficialmente extinto em 1888, já no fim do império. Durante praticamente todo esse período, o trabalho compulsório (forçado) constituiu a base da economia do país: eram os escravos que realizavam a coleta, a pesca, o serviço doméstico e a agricultura. Inicialmente foram escravizados apenas os indígenas; depois, os africanos, que logo se tornaram majoritários. Trazidos pelo tráfico negreiro – que dava enorme lucro à metrópole –, os negros, assim como os índios, eram mantidos subjugados mediante uma política desumana de repressão e controle.

Índios

A mão de obra indígena foi a primeira a ser utilizada no Brasil colônia, para a extração do pau-brasil, nas primeiras décadas do século XVI. Os nativos eram livres, sendo explorados pelo sistema do escambo (troca). A escravidão só viria com a introdução da cana-de-açúcar, por volta de 1550.

92 GE HISTÓRIA 2017

No entanto, nos anos seguintes, Portugal optou pela substituição dos nativos pelos africanos. A razão era fundamentalmente econômica: o aprisionamento indígena era uma atividade interna do Brasil, não resultando em renda para os portugueses; já a captura e o comércio intercontinental de africanos garantiam importantes ganhos aos mercadores lusitanos. Outros fatores justificavam a troca: os índios, ao contrário dos negros africanos, não estavam culturalmente acostumados à atividade agrícola em larga escala. Por isso, eles não se adaptavam bem à produção nos canaviais. Além disso, os nativos tinham um bom conhecimento do território brasileiro, o que facilitava sua fuga.

Negros

Estima-se que, entre 1550 e 1850, tenham chegado ao Brasil 4 milhões de negros trazidos do continente africano, especialmente da Guiné, Costa do Marfim, Congo, Angola, Moçambique e Benin. Para aprisioná-los, inicialmente os portugueses promoviam invasões às

aldeias. Mais tarde passaram a incentivar a luta entre tribos rivais para depois negociar com os vencedores a troca dos derrotados por panos, alimentos, cavalos e munições. Os negros eram trazidos para a América nos porões superlotados dos navios negreiros, conhecidos como tumbeiros. A sujeira, os maus-tratos e a má alimentação matavam até metade dos escravos transportados. No Brasil, os africanos eram vendidos em praça pública como mercadoria. Quando comprados, tornavam-se propriedade do senhor e ficavam sujeitos a punições. Os castigos mais comuns eram a palmatória, o chicote e o açoite.

Resistência

Algumas práticas adotadas pelos negros na luta contra a escravidão eram a fuga, a queima de plantações, os atentados a feitores e a senhores e até mesmo a morte de recém-nascidos e o suicídio. Mas a mais expressiva forma de resistência foi a organização dos quilombos, comunidades autossuficientes formadas por escravos fugidos. O mais importante foi o de Palmares, criado no fim do século XVI, em uma área onde fica a divisa de Alagoas com Pernambuco. Em seu auge, chegou a ser formado por nove aldeias, denominadas mocambos, contando com uma população de 20 mil habitantes. Tinha uma economia bem organizada, realizando comércio com o entorno. Abrigava, além de negros fugidos, índios e brancos marginalizados.


ENTRADA DE AFRICANOS NO BRASIL* De 1551 a 1860, chegaram 4 milhões de escravos ao país O aumento do ingresso de escravos na primeira metade do século XIX – 1,713 milhão de 1801 a 1850 – relaciona-se à expansão da cultura cafeeira Desembarque dos primeiros escravos no Brasil

Os escravos são utilizados nas lavouras de cana-de-açúcar

150 10

40

1551–1575

1576–1600

Predomínio das atividades de mineração, que também usaram mão de obra escrava

569

185

175

1651–1675

1676–1700

292,7

312,4

1701–1720

1721–1740

354,5

A promulgação da Lei Eusébio de Queiroz (1850) 765,7 põe fim ao tráfico de escravos para o Brasil

414,8

384,8

325,9

50

1601–1625

1626–1650

1741–1760

1761–1780

1781–1800

1801–1820

1821–1840

1841–1860

*Em milhares de pessoas Fonte: Luis Felipe Alencastro, O Trato dos Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul, Cia. das Letras, 200, pág. 69

A existência de Palmares estimulava ainda mais a fuga de escravos. Com isso, já no século XVII, os fazendeiros da região decidiram reunir milícias para atacá-lo. O líder da comunidade, Ganga Zumba (“grande chefe”), firmou um acordo de paz com os brancos em 1678, mas foi assassinado. Seu sucessor, Zumbi, liderou a resistência contra os invasores até 1694, quando o principal mocambo de Palmares caiu diante das forças de Domingos Jorge Velho. Nos meses seguintes, as outras aldeias capitularam. Zumbi fugiu, mantendo a resistência. Mas, em 1695, traído, teve o esconderijo descoberto e foi morto numa emboscada.

Abolição

A partir de 1830, já no período imperial, a expansão da cultura cafeeira aumentou a necessidade de mão de obra. Ao mesmo tempo cresciam as pressões contra o tráfico negreiro, principalmente da Inglaterra, preocupada com a concorrência, já que nas colônias inglesas no Caribe o comércio de escravos havia sido proibido, e os produtos exportados tinham ficado mais caros. Em 1831, cumprindo acordos firmados com a Inglaterra, o governo brasileiro declarou o tráfico ilegal no território nacional. Mas o comércio continuou em grande escala. Diante disso, o Parlamento britânico aprovou, em 1845, a Bill Aberdeen, lei que dava à Marinha de Guerra inglesa o direito de aprisionar tumbeiros em qualquer [1] REPRODUÇÃO/JEAN-BAPTISTE DEBRET/MUSEU CASTRO MAYA

ponto do Atlântico. A pressão inglesa era cada vez maior, e, em 1850, foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz, que novamente proibia a entrada de escravos no país. Dessa vez, o governo brasileiro empenhou-se em cumprila. Com o fim do tráfico, a escravidão entrou em declínio. Para suprirem a demanda por mão de obra, os fazendeiros e o governo imperial começaram a incentivar a vinda de imigrantes europeus. O trabalho assalariado tornou-se cada vez mais comum, em oposição à escravatura, que passou a ser vista como algo anacrônico. Além disso, percebeu-se que o trabalho compulsório era um empecilho ao desenvolvimento do capitalismo, pois

atravancava a formação do mercado interno. Só por volta de 1880 surgiu um movimento pró-abolição. A pressão sobre o governo levou à publicação de uma série de leis, que, lentamente, conduziram ao fim do trabalho forçado no país. A primeira foi a do Ventre Livre, em 1871, que deveria libertar os filhos de escravos nascidos a partir de então. Em 1885, foi promulgada a Lei do Sexagenário, que deu liberdade aos raros escravos que conseguiam passar dos 65 anos. Em 1888, foi criada a Lei Áurea – assinada pela princesa Isabel, que substituiu o imperador dom Pedro II, em viagem à Europa –, que finalmente extinguiu a escravidão no país.

SAIU NA IMPRENSA PAES PEDE PUNIÇÃO A EMPRESA QUE USOU TRABALHO ESCRAVO NA VILA DOS ATLETAS Em resposta à libertação de 11 trabalhadores encontrados em condições análogas à escravidão nas obras da Vila dos Atletas, no Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) disse em entrevista exclusiva à BBC Brasil que espera que a empresa seja punida e que as fiscalizações das obras olímpicas sejam intensificadas. (...) O esquema, segundo o órgão [MPT-RJ], incluía o aliciamento

de trabalhadores em outros estados, com promessas de ressarcimento das passagens, alojamento, salários e direitos trabalhistas, o que na prática não acontecia. (...) “As condições eram terríveis. Dormiam em colchões horríveis, desumanos. Havia ratos por todo lado, e baratas até dentro da geladeira. O quarto tinha um ralo aberto com cheiro de esgoto. Eles estavam sendo tratados como animais mesmo”, diz Guadalupe Turos Couto, procuradora do MPT-RJ que dará prosseguimento à investigação. (...) BBC Brasil, 17/8/2015

GE HISTÓRIA 2017

93


BRASIL COLÔNIA INDEPENDÊNCIA

MAQUIAGEM ROMÂNTICA A proclamação da independência não foi tão gloriosa quanto retratada no famoso quadro pintado por Pedro Américo

[1]

Independente só no grito Em 1822, após um longo processo, o Brasil finalmente obteve a sua soberania política — mas ela não veio acompanhada da independência econômica nem de grandes transformações na estrutura social

A

separação política entre a colônia brasileira e Portugal foi declarada oficialmente em 7 de setembro de 1822. Ela resultou de um processo iniciado com as revoltas emancipacionistas do fim do século XVIII e início do XIX (veja o infográfico na pág. ao lado), a vinda da corte portuguesa ao Brasil e a crise do sistema colonial. Fatores externos, como a independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, as guerras napoleônicas e a pressão da Inglaterra pela liberação dos mercados consumidores americanos – aos quais queria vender seus produtos industrializados – também influenciaram a emancipação.

Vinda da corte portuguesa

Em 1806, o bloqueio comercial à Inglaterra imposto na Europa continental por Napoleão Bonaparte foi desrespeitado por Portugal, que dependia economicamente dos britânicos. A invasão francesa ao território lusitano, como retaliação, tornou-se iminente, e, em 1807, o regente português, o futuro dom João VI, e sua corte fugiram para o Brasil.

94 GE HISTÓRIA 2017

Assim que chegou à colônia, no início de 1808, o monarca decretou a abertura dos portos às nações amigas. Com a possibilidade de comercializar com outros países que não a metrópole, o Brasil ficou praticamente livre do pacto colonial. A novidade fez com que a elite econômica brasileira compreendesse melhor a necessidade da independência como uma maneira de aumentar seus lucros. Ao mesmo tempo, a Inglaterra, que passou a dominar nosso mercado após a abertura dos portos, viu que o fim do controle de seu aliado Portugal sobre o Brasil não impactaria as relações com nosso país. Formou-se, assim, uma espécie de aliança entre a elite brasileira e a inglesa. A família real instalou-se no Rio de Janeiro, transformado em capital do reino português. Em 1815, o governo joanino (como era conhecida a administração de dom João VI) elevou o Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Em sua política externa, dom João VI dominou a Guiana Francesa, entre 1808 e 1817, em represália a Napoleão, e ocupou a Cisplatina (atual Uruguai) entre 1821 e 1828.

Regência de dom Pedro

Em 1820, em Portugal, a burguesia tomou o poder por meio da Revolução do Porto. Foi instalada uma monarquia constitucional baseada nas Cortes Constituintes (Parlamento). Elas obrigaram dom João VI a retornar a Portugal e a jurar lealdade à Constituição recém-promulgada. Ele voltou e deixou em seu lugar, como regente do Brasil, seu filho dom Pedro, que deveria conduzir a separação política, caso fosse inevitável. Pela Constituição portuguesa eram claras as intenções do novo governo em recolonizar o Brasil. Também era exigência das Cortes a volta de dom Pedro à Europa. O príncipe regente, entretanto, resistiu às pressões, as quais considerava uma tentativa de esvaziar o poder da monarquia. Formou-se em torno dele um grupo de políticos brasileiros que defendiam a manutenção do status do Brasil de Reino Unido a Portugal. Em 29 de dezembro de 1821, dom Pedro recebeu um abaixo-assinado de representantes da elite nacional pedindo que não deixasse o Brasil. Sua decisão de ficar foi anunciada em 9 de janeiro do ano seguinte, no episódio conhecido como Dia do Fico.

Independência

Entre os políticos que cercavam o regente estava José Bonifácio de Andrada e Silva, ministro e conselheiro de dom Pedro. Ele lutou, num primeiro momento, pela manutenção


dos vínculos com Portugal. Porém, ao perceber que o rompimento era necessário, tornou-se o principal ideólogo da independência do Brasil, entrando para a história como o Patriarca da Independência. Fora do círculo da corte, líderes liberais passaram a criticar pesadamente o colonialismo português e a defender a total separação. Em 3 de junho de 1822, dom Pedro recusou fidelidade à Constituição portuguesa e convocou a primeira Assembleia Constituinte brasileira. Em 1º de agosto, ele declarou inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no país. Cinco dias depois, assinou o Manifesto às Nações Amigas. Nele, defendeu a independência do Brasil. Em protesto, os portugueses anularam a convocação da Assembleia Constituinte brasileira, ameaçaram enviar tropas e exigiram o retorno do príncipe regente. Ao receber as cartas com tais exigências, em 7 de setembro, dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Em 12 de outubro foi aclamado imperador e, em 1º de dezembro, coroado, recebeu o título de dom Pedro I.

imperador – e foi outorgado (ou seja, imposto) em março de 1824. Com a Constituição em vigor e vencidas as últimas resistências portuguesas nas províncias, a separação entre colônia e metrópole estava concluída. O reconhecimento oficial da independência pelo governo português, porém, só viria em 1825, quando dom João VI assinou o Tratado de Paz e Aliança entre Portugal e Brasil.

Significado [2]

PATRIARCA José Bonifácio foi conselheiro de dom Pedro I e ideólogo da independência do Brasil

No início de 1823, realizaram-se eleições para a Assembleia Constituinte, encarregada de elaborar e aprovar a Constituição do Império. Entretanto, o órgão entrou em divergência com dom Pedro I e foi fechado em novembro. O texto acabou sendo elaborado pelo Conselho de Estado – instituição nomeada pelo

A independência do Brasil representou o triunfo do conservadorismo de José Bonifácio. Ele promoveu a independência mantendo a monarquia e o caráter agrário, latifundiário, escravocrata e exportador da economia, favorecendo os interesses da elite local. Apesar da soberania política, o Brasil continuou economicamente dependente, agora da Inglaterra. Era dos ingleses que comprávamos quase tudo e era a eles que vendíamos a maioria de nossa produção, restrita a produtos primários. Além disso, contraímos volumosos empréstimos dos britânicos, o que nos deixou ainda mais submissos ao seu poder econômico.

MOVIMENTOS PRÉ-INDEPENDÊNCIA No período colonial, ocorreram várias revoltas da população brasileira contra os portugueses. As primeiras, chamadas de nativistas, exprimiam rebeldia em relação ao domínio estrangeiro, mas não propunham a independência. Só a partir do fim do século XVIII aconteceram as revoltas emancipacionistas. Veja como, onde e quando se deu cada uma Nativistas Emancipacionistas

REVOLTA DOS BECKMAN (1684)

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817)

Liderados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman, fazendeiros se rebelaram contra a má administração da Companhia de Comércio do Maranhão. Foram derrotados, mas a companhia encerrou suas atividades.

A elite local rebelou-se com a falta de autonomia da província. Os rebeldes organizaram, no Recife, o primeiro governo brasileiro independente e republicano. Sem o apoio das províncias nordestinas, capitularam.

São Luís

Recife

GUERRA DOS MASCATES (1710-1711)

CONJURAÇÃO BAIANA (1798)

Revolta dos ruralistas de Olinda contra a emancipação do Recife decretada pelos comerciantes portugueses (os mascates). Na época, Recife era parte de Olinda. A Coroa intervém, e o Recife mantém a autonomia.

Chamada de Revolta dos Alfaiates, foi organizada por negros e mulatos que queriam a independência, o fim da escravidão e a instalação de uma sociedade baseada nos ideais da Revolução Francesa. Acabaram presos e mortos.

Salvador

Vila Rica (Ouro Preto)

São Paulo

REVOLTA DE FILIPE DOS SANTOS (1720)

INCONFIDÊNCIA MINEIRA (1789)

Também chamada de Rebelião de Vila Rica, foi uma reação da população às taxas excessivas e ao anúncio de criação das Casas de Fundição. O movimento foi sufocado e seu líder, Filipe dos Santos, esquartejado.

A decretação da derrama, a cobrança forçada de tributos da mineração, foi o estopim do movimento. Parte da elite tramou a revolta. Todos foram presos, mas só um executado: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Oceano Atlântico

ACLAMAÇÃO DE AMADOR BUENO (1641)

GUERRA DOS EMBOABAS (1708-1709)

Com a notícia da restauração portuguesa, após o fim da União Ibérica, alguns paulistas resolveram se desligar de Portugal e proclamaram Amador Bueno rei de São Paulo. O movimento terminou com a recusa do aclamado.

Conflito entre mineradores paulistas, descobridores das jazidas de Minas Gerais e garimpeiros de outras regiões – os “emboabas” –, interessados em explorar a riqueza. Os paulistas foram derrotados; e Portugal criou as capitanias de São Paulo e das Minas do Ouro.

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 35 [1] REPRODUÇÃO/PEDRO AMÉRICO/FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL [2] REPRODUÇÃO/BENEDITO CALIXTO/MUSEU PAULISTA

GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL COLÔNIA LINHA DO TEMPO

Colônia Veja os principais acontecimentos da história do Brasil durante o período colonial. Os fatos que têm indicação de página (remissão) correspondem aos assuntos que mais são cobrados no vestibular.

[2]

1630 Nas décadas de 1630 e 1640, chega ao auge no Sudeste o movimento das entradas e bandeiras. Pág. 91

1500 O português Pedro Álvares Cabral e sua esquadra chegam ao litoral da Bahia em 22 de abril. É o descobrimento do Brasil. Segundo a maioria dos historiadores, trata-se mais de uma tomada de posse do que do descobrimento em si, pois a existência do território – dividido seis anos antes entre portugueses e espanhóis pelo Tratado de Tordesilhas – já era conhecida por Portugal. Nos anos seguintes, tem início a exploração do pau-brasil.

1630

[1]

1500

1510

1520

1530

1540

1550

1560

1570

1580

1590

1600

Após duas tentativas pouco efetivas na década anterior, na Bahia, os holandeses invadem o Brasil, dessa vez em Pernambuco. Para vencer a resistência da população local, os estrangeiros contam com a ajuda do pernambucano Domingos Calabar, que considera a invasão positiva para a região. Permanecem no Nordeste até a Insurreição Pernambucana (1645-1654). Pág. 90

1610

1620

1630

1640

1650

1660

1530 O militar português Martim Afonso de Sousa comanda a expedição pioneira de colonização do Brasil. Em 1532, funda a primeira vila da colônia, São Vicente, no atual estado de São Paulo.

1549

1637

Chegam ao Brasil os primeiros jesuítas — religiosos da ordem católica Companhia de Jesus. Chefiados pelo padre Manoel da Nóbrega, dedicam-se à catequese dos índios e à educação dos colonos.

O domínio holandês no Brasil passa a ser administrado pelo militar Maurício de Nassau. Sua atuação em Pernambuco fica marcada pela prosperidade econômica e cultural. Seu governo se encerra em 1644. Pág. 90

[3]

1580

1534 O rei de Portugal, dom João III, cria as capitanias hereditárias, a primeira divisão política do Brasil. Veja mais na matéria sobre política colonial. Pág. 88

[4]

1548

1550

Tomé de Sousa assume o primeiro governo-geral do Brasil. Pág. 88

Por volta desse ano, paralelamente à introdução do plantio da cana-deaçúcar, tem início a escravidão africana no Brasil. Pág. 92

96 GE HISTÓRIA 2017

Dois anos após a morte do rei português dom Sebastião, que não deixa herdeiro, o espanhol Felipe II, ligado por parentesco à Casa Real Portuguesa, impõe-se como rei de Portugal. A União Ibérica vigora até 1640 e equivale a uma anexação de Portugal pela Espanha.

[5]

1555

1594

A França não aceita a partilha das terras americanas feita pelo Tratado de Tordesilhas e defende seu direito de ocupação. A primeira invasão francesa no território brasileiro ocorre na ilha de Serigipe (atual Villegaignon), na Baía de Guanabara, onde é instalada a França Antártica, chefiada por Nicolas Durand de Villegaignon. Os portugueses expulsam os franceses em 1567.

Os aventureiros franceses Jacques Riffault e Charles Vaux instalam-se no Maranhão depois de naufragar ao largo da costa. O governo francês os apoia e incentiva a criação de uma colônia no território, a França Equinocial. Em 1612, chegam centenas de colonos, que erguem o forte de São Luís, origem de São Luís do Maranhão. São expulsos três anos depois pelos portugueses.


1693

1777

1805

As primeiras jazidas de ouro são descobertas no atual estado de Minas Gerais. No século seguinte, a atividade mineradora se tornaria a mais importante da colônia. Pág. 89

É assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que restitui aos espanhóis Sete Povos das Missões. Os portugueses tentam obter a devolução da Colônia do Sacramento, mas não conseguem. As fronteiras atuais do Rio Grande do Sul só são definidas pelo Tratado de Badajoz, em 1801.

O mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o maior nome da escultura barroca brasileira, conclui sua obra-prima: o conjunto de imagens sacras: Os Passos da Paixão e Os Doze Profetas, da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (MG).

[7]

1750 O Tratado de Madri reconhece a presença lusobrasileira em grande parte dos territórios a oeste da linha do Tratado de Tordesilhas. Como parte das negociações, Portugal cede à Espanha a Colônia do Sacramento (atualmente no Uruguai) em troca da área dos Sete Povos das Missões (no atual Rio Grande do Sul).

1708 [6]

Tem início, em Minas Gerais, a Guerra dos Emboabas. Pág. 95

1789

1798

No âmbito mundial, a Revolução Francesa marca o início da Idade Contemporânea. Pág. 56

É deflagrada a Conjuração Baiana. Pág. 95

[8]

1670

1680

1690

1700

1710

1720

1730

1740

1750

1760

1770

1780

1790

1800

1810

1820

1711

1754

1768

1817

1821

É fundada Vila Rica, atual Ouro Preto (MG), símbolo da sociedade urbanizada que surge no contexto da mineração. Veja mais na matéria sobre a sociedade colonial. Pág. 89

Os guaranis dos Sete Povos das Missões recusamse a deixar suas terras, e tem início a Guerra Guaranítica. São derrotados após dois anos, por uma aliança entre hispano-argentinos e luso-brasileiros.

Ao lançar Obras Poéticas, o mineiro Cláudio Manuel da Costa inaugura o arcadismo, o primeiro movimento literário a se afastar dos modelos portugueses, ao retratar temas tipicamente brasileiros. Costa e Tomás Antônio Gonzaga, outro importante poeta árcade, seriam integrantes da Inconfidência Mineira.

Estoura a Revolução Pernambucana. Pág. 95

Pressionado pelo Parlamento português, dom João VI regressa a Portugal, deixando Pedro, seu filho mais velho, como regente do Brasil, com o título de dom Pedro I.

1818

1789

Dom João é coroado rei de Portugal, do Brasil e de Algarves, no Rio de Janeiro, com o título de dom João VI.

Ocorre a Inconfidência Mineira. Pág. 95

1720

1808

É deflagrada a Revolta de Filipe dos Santos, também chamada de Rebelião de Vila Rica. Pág. 95

Fugindo de Napoleão Bonaparte, a corte portuguesa transfere-se para o Brasil. Pág. 94

1822 Dom Pedro I proclama a independência do Brasil. Pág. 94

[9]

[1] MUSEU PAULISTA [2] [3] [4] [5] [8] REPRODUÇÃO [6] MUSEU AFROBRASIL [7] MARCELO CURIA [8] JOSÉ EDUARDO CAMARGO [9] PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA [10] MUSEU IMPERIAL

[10]

GE HISTÓRIA 2017

97


COMO CAI NA PROVA

1. (UNICAMP 2016) Os estudos históricos por muito tempo ex-

plicaram as relações entre Portugal e Brasil por meio da noção de pacto colonial ou exclusivo comercial. Sobre esse conceito, é correto afirmar que: a) Trata-se de uma característica central do sistema colonial moderno e um elemento constitutivo das práticas mercantilistas do Antigo Regime, que considera fundamental a dinâmica interna da economia colonial. b) Definia-se por um sistema baseado em dois polos: um centro de decisão, a metrópole, e outro subordinado, a colônia. Esta submetia-se à primeira através de uma série de mecanismos político-institucionais. c) Em mais de uma ocasião, os colonos reclamaram e foram insubordinados diante do pacto colonial, ao exigirem sua presença e atuação nas Cortes dos reis ou ao pedirem a presença do Marquês de Pombal na colônia. d) A noção de pacto colonial é um projeto embrionário de Estado que acomodava as tensões surgidas entre os interesses metropolitanos e coloniais, ao privilegiar as experiências do “viver em colônia”.

RESOLUÇÃO

Tradicionalmente, as relações entre colônias e metrópoles, como no caso de Brasil e Portugal, são explicadas por um conjunto de determinações expresso no chamado Pacto Colonial. Uma das principais características desse pacto é o chamado exclusivo metropolitano, recurso pelo qual a metrópole detinha o monopólio da exploração econômica sobre sua colônia. Ou seja, os brasileiros só podiam comercializar produtos com os portugueses. Para garantir sua lucratividade, a metrópole instituía sistemas administrativos por vezes complexos e ineficazes, instituindo altos impostos sobre a exploração dos produtos coloniais. A função da colônia neste contexto era a de enriquecer a metrópole, com uma produção voltada fundamentalmente para o abastecimento de seus mercados. Resposta: B

2. (UNESP 2016) Os diários, as memórias e as crônicas de viagens es-

critas por marinheiros, comerciantes, militares, missionários e exploradores, ao lado das cartas náuticas, seriam as principais fontes de conhecimento e representação da África dos séculos XV ao XVIII. A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência cotidiana foram atribuídos aos africanos ao mesmo tempo que se justificava a sua escravização no Novo Mundo. A desumanização de suas práticas serviria como justificativa compensatória para a coisificação dos negros e para o uso de sua força de trabalho nas plantations da América. Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.

As “plantations da América”, citadas no texto, correspondem a a) um esforço de coordenação da colonização ao redor do Atlântico, com a aplicação de modelos econômicos idênticos nas colônias ibéricas da América e da costa africana. b) uma estratégia de valorização, na colonização da América e na África, das atividades agrícolas baseadas em mão de obra escrava, com a consequente eliminação de toda forma de artesanato e de comércio local.

98 GE HISTÓRIA 2017

c) um modelo de organização da produção agrícola caracterizado pelo predomínio de grandes propriedades monocultoras, que utilizavam trabalho escravo e destinavam a maior parte de sua produção ao mercado externo. d) uma forma de organização da produção agrícola, implantada nas colônias africanas a partir do sucesso da experiência de povoamento das colônias inglesas na América do Norte. e) uma política de utilização sistemática de mão de obra de origem africana na pecuária, substituindo o trabalho dos indígenas, que não se adaptavam ao sedentarismo e à escravidão. RESOLUÇÃO

O modelo mais básico de exploração colonial, adotado pelas metrópoles europeias, foi o chamado sistema de plantation. As principais características do modelo eram a monocultura, a escravidão e a produção em larga escala em latifúndios, voltada, fundamentalmente para o mercado externo. Nesse processo, várias foram as justificativas para a adoção da mão de obra escrava dos negros, entre elas a inferioridade dos africanos e a desvalorização de suas tradições culturais e religiosas frente às dos europeus. Resposta: C

3. (ESPCEX 2016) No fim do Século XVIII, era grande a insatisfação com a carestia e a opressão colonial. A isso se somava a simpatia que muitas pessoas demonstravam em relação às lutas pela emancipação do Haiti (1791-1804) e à Revolução Francesa (1789). Para difundir esta ideia fundou-se a loja maçônica Cavaleiros da Luz. Em agosto de 1798, alguns conspiradores afixaram em muros e postes da cidade manifestos exortando a população à revolução. Os panfletos pregavam a proclamação da República, a abolição da escravidão, melhores soldos para os militares, promoção de oficiais, liberdade de comércio etc. Denunciado por um traidor, o movimento foi esfacelado. Alguns participantes foram presos, outros fugiram e quatro foram condenados à morte: Luís Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas de Amorim Torres, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos. Adaptado de ARRUDA & PILETTI, p. 351

O texto acima descreve, em parte, a a) Revolta dos Alfaiates, ocorrida em Salvador, Bahia. b) Inconfidência Mineira, desencadeada em Ouro Preto, Minas Gerais. c) Revolta de Beckman, que teve por palco São Luís, Maranhão. d) Confederação do Equador, ocorrida em Recife, Pernambuco. e) Cabanagem, ocorrida em Belém, Pará. RESOLUÇÃO

A questão descreve em linhas gerais a Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates, ocorrida em 1798. O movimento possuía caráter fundamentalmente popular, apesar da participação de grupos médios, como médicos, padres e advogados, sendo liderado por representantes das camadas populares (alfaiates, negros libertos, brancos pobres etc.). Pregava a separação em relação a Portugal e ao Brasil, proclamando a República Baiense. Teve como principais influências as ideias iluministas, a Revolução Francesa, em sua fase popular, e a independência do Haiti. Resposta: A


RESUMO

4. (PUC-SP 2015) A invasão e a ocupação holandesas no Nordeste

do Brasil, ocorridas durante o período da União Ibérica (1580-1640),

Brasil Colônia

a) derivaram dos conflitos territoriais entre Portugal e Espanha, que fragilizaram o controle português sobre a colônia. b) foram resultado das disputas entre Holanda e Inglaterra pelo controle da navegação comercial atlântica. c) derivaram dos interesses holandeses na produção e comercialização do açúcar de cana. d) foram resultado do expansionismo naval espanhol, que desrespeitou os limites definidos no Tratado de Tordesilhas. e) derivaram da corrida colonial, entre as principais potências europeias, na busca de fontes de matérias-primas e carvão.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ADMINISTRATIVA A fim de tomar posse e explorar a colônia recém-descoberta, Portugal dividiu o território brasileiro em 15 capitanias hereditárias, em 1534. Elas foram entregues a nobres ou burgueses representantes da Coroa. O sistema não teve sucesso por falta de investimentos, ataques indígenas e isolamento da colônia. Em 1548, criouse o Governo-Geral, com sede na Bahia, numa tentativa de centralizar o poder. O objetivo foi atingido, do ponto de vista militar, mas o dia a dia da população continuou a ser gerido pelas Câmaras Municipais de cada vila.

RESOLUÇÃO

ECONOMIA A economia colonial estava sob influência do pacto colonial, pelo qual os brasileiros só comercializavam produtos com os portugueses, que ficavam com grande parte dos lucros gerados no Brasil. A extração do pau-brasil, a produção de açúcar, a pecuária e a mineração foram as principais atividades econômicas do período.

A presença dos holandeses no Nordeste brasileiro está ligada aos desdobramentos da União Ibérica, período em que houve a união das monarquias de Portugal e Espanha, sob controle dos espanhóis. Se por um lado a Holanda era parceira econômica de Portugal, tendo investido maciçamente na produção do açúcar no Brasil, por outro estava em guerra com a Espanha na luta pela concretização de sua independência. Ao dominar Portugal, a Espanha corta o fornecimento do açúcar brasileiro aos flamengos, que, como forma de garantir seus investimentos, invadem as regiões produtoras no Brasil – naquele momento também sob o domínio espanhol. Durante a presença holandesa no Nordeste brasileiro, a administração de Maurício de Nassau selou um acordo com os senhores de engenho que impulsionou a produção de açúcar. Nesse período, também foram realizados grandes investimentos na infraestrutura do Recife. Resposta: C

SAIBA MAIS

Confira no mapa abaixo a área que foi invadida e ocupada pelos holandeses no Nordeste brasileiro entre 1630 e 1654.

INVASÃO E DOMÍNIO HOLANDÊS NO NORDESTE (1630–1654) São Luís

OCEANO ATLÂNTICO

e rib

Jagu

a

Parnaíba

MARANHÃO

Natal ITAMARACÁ aíba Par Capibaribe

Olinda

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BAHIA ESCALA

Salvador

0

JESUÍTAS Com a função inicial de catequizar os nativos, convertendo-os ao catolicismo, os jesuítas contribuíram com a expansão territorial da colônia, com a extração das drogas do sertão no Vale Amazônico e com a pecuária e a mineração no extremo sul, com mão de obra predominantemente indígena.

INDEPENDÊNCIA O Brasil concretizou sua independência em 7 de setembro de 1822, mas revoltas emancipacionistas já ocorriam desde o fim do século XVIII. Apesar de politicamente soberano, o país continuou economicamente dependente – não mais de Portugal, mas da Inglaterra. Para alavancar a economia, recém-emancipada, o país contraíra volumosos empréstimos dos britânicos, tornando-se submisso ao seu poder econômico.

Recife

de

MOVIMENTO BANDEIRANTE A busca por metais preciosos, a captação de mão de obra indígena e o combate a negros fugitivos motivaram, nos séculos XVII e XVIII, expedições de desbravamento do interior do Brasil – as entradas e bandeiras. O movimento foi responsável direto pela expansão territorial.

ESCRAVIDÃO Para movimentar a economia açucareira, Portugal recorreu à escravidão, primeiramente dos índios e, posteriormente, dos africanos. Estima-se que 4 milhões de negros africanos tenham chegado ao Brasil entre 1550 e 1850. Como forma de resistência, entre outras práticas, os escravos criaram comunidades autossuficientes, os quilombos, formados por fugitivos. A escravidão só foi abolida em 1888, no fim do império.

Fortaleza

PERNAMBUCO

SOCIEDADE A sociedade açucareira era agrária, escravagista e estratificada. O grupo mais privilegiado era dos senhores de engenho. Já na sociedade do ouro, a população se concentrava em núcleos urbanos, e a mobilidade social e o trabalho livre estavam muito mais presentes, permitindo o surgimento de uma classe média, ausente na sociedade açucareira.

188 km

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6

BRASIL IMPÉRIO CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

Primeiro reinado ............................................................................................102 Regência ............................................................................................................103 Segundo reinado ............................................................................................105 Linha do tempo ..............................................................................................108 Como cai na prova + Resumo .....................................................................110

Desafios da integração O Mercosul, que completa 25 anos em 2016, intensificou as relações comerciais entre os países-membros, mas ainda carece de uma articulação econômica maior

C

riado em 1991, o Mercado Comum do Sul, o Mercosul, surgiu com o objetivo de intensificar a livre circulação de mercadorias e pessoas entre os países-membros. O bloco, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, além da Venezuela, que ingressou em 2012, completa 25 anos em 2016 enfrentando grandes desafios. Apesar de ajudar a ampliar as exportações entre os países e promover maior cooperação política entre seus membros, o Mercosul ainda tenta superar as dificuldades para consolidar uma integração econômica mais profunda. Desde a criação do bloco, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) entre o Brasil e o Mercosul saltou de 52,6 bilhões de dólares para 454,1 bilhões de dólares em 2014 – um crescimento de 863%. Além disso, o Mercosul também se tornou um importante fórum de articulação política e social entre os seus membros, a partir de iniciativas como a criação do Parlamento do Mercosul e de grupos de discussão de temas que vão de direitos humanos a políticas de transferência de renda. No entanto, o bloco sul-americano ainda luta para conciliar os diferentes interesses entre seus integrantes. Com economias assimétricas e prioridades distintas na agenda internacional, os membros do Mercosul ainda patinam quando é

100 GE HISTÓRIA 2017

preciso tomar decisões em conjunto para firmar acordos com outros países ou blocos econômicos. Em 2015, o Mercosul possuía tratados de livre-comércio apenas com a Comunidade Andina, Egito e Israel. As negociações entre o Mercosul e a União Europeia com o objetivo de criar uma área de livre-comércio entre os dois blocos já duram vários anos e enfrentam impasse devido à resistência da Argentina em reduzir as tarifas de importação para os produtos europeus. Além disso, existe o receio de que o tratado abra o mercado brasileiro para os manufaturados estrangeiros, enfraquecendo a indústria nacional. Por outro lado, há quem defenda que os ganhos no médio prazo com o aumento das exportações podem compensar essas eventuais perdas iniciais. Neste capítulo, você volta no tempo e confere como as relações do Brasil com seus vizinhos eram bem mais EM QUAL DIREÇÃO? conturbadas durante Presidentes reunidos o Segundo Reinado, na Cúpula do Mercosul período em que o país realizada em Brasília, em se envolveu no mais julho de 2015: membros do sangrento conflito grupo lutam para conciliar da América do Sul, a os diferentes interesses Guerra do Paraguai. econômicos


LULA MARQUES/AGÊNCIA PT

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BRASIL IMPÉRIO PRIMEIRO REINADO

SAGRAÇÃO Pintura de JeanBaptiste Debret mostra a cerimônia de coroação de dom Pedro I, cujo governo foi marcado pela instabilidade

[1]

Ascensão e queda de dom Pedro I Desde que recebeu a coroa, dom Pedro I tentou concentrar o poder do país em suas mãos. Conseguiu, mas não por muito tempo

A

pós a independência, dom Pedro I convocou uma Assembleia Constituinte para elaborar a Constituição. Mas, diante das ameaças da Constituinte de limitar o poder imperial, dom Pedro I a dissolveu e nomeou um Conselho de Estado, para elaborar a primeira Constituição do país. O texto foi outorgado (ou seja, imposto de forma não democrática) em março de 1824. Tratava-se de uma Constituição de inspiração liberal, baseada na divisão dos poderes, em Executivo, Legislativo e Judiciário. Incluía um quarto poder, o Moderador. De uso exclusivo do imperador, o artifício lhe dava o direito de nomear pessoalmente os senadores,

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dissolver a Câmara dos Deputados e suspender juízes. O regime adotado era monárquico, constitucional e hereditário; foi instituído o padroado (sistema de unidade entre o Estado e a Igreja Católica); as províncias não tinham autonomia; e o voto era censitário e aberto, ou seja, não secreto.

Queda de popularidade

Além do choque com a elite latifundiária, expresso durante a elaboração da Constituição, uma série de outros fatores contribuiu para a diminuição da popularidade de dom Pedro I no decorrer do seu governo: CRISE ECONÔMICA Durante o Primeiro Reinado, nenhum dos principais produtos de exportação do país (açúcar, algodão, fumo) passava por um bom momento. Isso resultava em baixa capacidade de importação e falta de recursos para saldar os compromissos externos do país. CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR Em 1824, a insatisfação do povo com a situação da economia e com a outorga da Constituição resultou numa revolta no Recife. O movimento assumiu o controle da cidade e proclamou a República. O objetivo era unir as províncias do Nordeste e separar-se do império, criando a Confederação do Equador. A revolta foi severamente reprimida pelas tropas imperiais e vários de seus líderes executados, entre eles frei Caneca.

GUERRA DA CISPLATINA Em 1825, os uruguaios proclamaram a independência, rebelando-se contra a dominação brasileira, imposta por dom João VI, que anexara a região sob o nome de Província Cisplatina. Contra a vontade das elites brasileiras, dom Pedro I enviou tropas, e a guerra se estendeu até 1828. Sob mediação inglesa, foi feito acordo no qual a província se tornava um estado soberano, o Uruguai. SUCESSÃO DO TRONO PORTUGUÊS O envolvimento de dom Pedro I na tentativa de assegurar a sucessão do trono português para sua filha, Maria da Glória, foi encarado por seus opositores no Brasil como um sinal de que ele pretendia, no futuro, reunificar os dois reinos. Quando provas dessas intervenções vieram a público, a insatisfação popular deu origem a revoltas.

Abdicação

Em 1831, quando dom Pedro I retornava ao Rio de Janeiro de uma viagem a Minas Gerais, manifestantes portugueses que o defendiam entraram em confronto com brasileiros que se opunham ao monarca, na série de eventos batizada de Noites das Garrafadas. Diante da ameaça de novas revoltas, dom Pedro I abdicou em 7 de abril do trono brasileiro em nome do filho, Pedro, então com 5 anos. Voltou para a Europa e foi coroado rei de Portugal, como dom Pedro IV. Até que o herdeiro do trono brasileiro adquirisse a maioridade, o país seria administrado provisoriamente pelas regências.


BRASIL IMPÉRIO REGÊNCIA

Em nome do rei Durante nove anos, entre o Primeiro e o Segundo Reinado, o Império brasileiro ficou nas mãos de governantes provisórios, os regentes

A

pós a abdicação de dom Pedro I, em 1831, o Brasil foi governado por regentes – líderes políticos que agiam em nome do herdeiro da Coroa, dom Pedro II, impossibilitado de tomar posse por ser menor de idade. O período regencial foi marcado por grande agitação social e política.

Avanço liberal

Nessa primeira etapa do período regencial, conhecida como Avanço Liberal, três partidos disputavam o poder político: o Exaltado (ou farroupilha), integrado pela esquerda liberal, que defendia a implantação de uma política federal descentralizada; o Moderado (ou chimango), composto da direita liberal, que lutava pelos interesses dos grandes fazendeiros; e o Restaurador (ou caramuru), constituído pela direita conservadora, cujo maior objetivo era trazer dom Pedro I de volta ao trono. Os integrantes do partido Moderado conseguiram se firmar como a principal força do período, implementando medidas liberais, porém contidas, que não chegaram a transformar radicalmente a estrutura socioeconômica do Brasil. REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA Depois da par-

tida de dom Pedro I, a Assembleia Geral (Parlamento) deveria eleger três líderes (uma regência trina) para governar o país até a maioridade de dom Pedro II. Porém, como em abril de 1831 o Parlamento brasileiro estava em recesso, e a maioria dos deputados e senadores não se encontrava [1] REPRODUCÃO [2] REPRODUÇÃO/BIBLIOTECA NACIONAL

[2]

PEDIU PARA SAIR A abdicação de dom Pedro I deixou o país sob controle dos regentes

no Rio de Janeiro, os poucos parlamentares restantes na capital decidiram eleger uma regência provisória. Para compô-la, foram escolhidos os senadores Nicolau de Campos (moderado) e Carneiro de Campos (restaurador) e um representante do Exército, o brigadeiro Lima e Silva. Os três permaneceram no poder por dois meses. Entre suas medidas destacaram-se a reintegração do último ministério deposto por dom Pedro I e a suspensão temporária do poder Moderador. Outra iniciativa adotada pela Regência Trina Provisória foi a proibição do tráfico de escravos. A entrada de negros africanos no país, entretanto, continuou ocorrendo em grande escala. A escravidão era considerada indispensável ao avanço econômico, sobretudo para atender a demanda criada pela expansão da cultura cafeeira.

Acalmados os ânimos dos setores mais radicais, o governo introduziu duas importantes reformas liberalizantes. A primeira foi a promulgação, em 1832, do Código do Processo Criminal, que conferia ampla autonomia judiciária aos municípios. Um efeito da medida foi o fortalecimento do poder local dos fazendeiros. A outra foi o Ato Adicional de 1834, que reformou a Constituição de 1824. Ele descentralizou o poder, ao extinguir o Conselho de Estado e instituir as Assembleias Legislativas Provinciais, e aproximou o regime político em vigor do sistema republicano, ao substituir a Regência Trina pela Regência Una, formada por apenas um governante, eleito pelo voto censitário para um mandato de quatro anos.

REGÊNCIA TRINA PERMANENTE Em junho foi

A partir de 1834, as forças políticas do país se reorganizaram, dando início ao período conhecido como Regresso Conservador. Naquele ano morreu dom Pedro I, o que levou à extinção dos restauradores, que pregavam sua volta ao poder. Os exaltados também haviam praticamente desaparecido, por causa da repressão oficial. E os moderados, durante a campanha para a eleição da Regência Una, em 1835, acabaram divididos em duas facções. A mais conservadora se uniu aos antigos restauradores e formou o partido Regressista, defensor de um governo forte e centralizado. A mais liberal agregou remanescentes

eleita a Regência Trina Permanente, formada por três moderados: os deputados Bráulio Muniz e Costa Carvalho e o brigadeiro Lima e Silva. Porém, quem despontou como homem forte do novo governo foi o ministro da Justiça, Diogo Feijó. Ainda em 1831, ele criou a Guarda Nacional, um corpo militar comandado pelos grandes fazendeiros – os quais receberam a patente de coronel –, que foi usado para reprimir com violência as manifestações das parcelas mais exaltadas da população. No ano seguinte, após uma tentativa frustrada de golpe de Estado, o ministro Feijó renunciou.

Regresso Conservador

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BRASIL IMPÉRIO REGÊNCIA REVOLTAS REGENCIAIS O período das regências foi marcado por uma série de rebeliões provinciais. De maneira geral, elas foram motivadas pela miséria da população e pelo descontentamento com o governo central. Veja quais foram esses movimentos e como, onde e quando aconteceram

Belém

São Luís

dos exaltados e compôs o partido Progressista, liderado por Diogo Feijó, favorável à monarquia constitucional. Feijó venceu a eleição e tomou posse em outubro de 1835.

Salvador

Oceano Atlântico

REGÊNCIA UNA DE FEIJÓ Com o Parlamen-

to dominado pela oposição, Feijó teve imensa dificuldade para governar. Ele não conseguiu solucionar a crise econômica que atingiu o país nem pôde conter rebeliões (veja mapa ao lado). Em 1837, Feijó não teve outra alternativa senão renunciar ao cargo. Foi substituído interinamente pelo regressista Pedro de Araújo Lima, confirmado no cargo pelas eleições realizadas em 1838. REGÊNCIA UNA DE ARAÚJO LIMA Ao che-

garem ao Executivo, os regressistas decidiram reformular as principais medidas adotadas durante o Avanço Liberal. Pela Lei de Interpretação do Ato Adicional, de 1840, o sistema jurídico voltou ao controle do governo, e as Assembleias Provinciais tiveram a atuação limitada. Com o objetivo de tentar retomar o poder, os progressistas deram início a uma campanha pela antecipação da posse de dom Pedro II. A causa ganhou as ruas, e, em julho de 1840, dom Pedro II foi declarado maior de idade, aos 14 anos. Era o fim do período regencial e o começo do Segundo Reinado. O Golpe da Maioridade beneficiou os progressistas, que foram escolhidos pelo jovem imperador para compor seu ministério. PARA IR ALÉM A HQ Balaiada, a Guerra do Maranhão, de Iramir Araújo, Ronilson Freire e Beto Nicário, retrata a Balaiada sob o ponto de vista dos revolucionários, considerados heróis por grande parcela da população do Estado, ao contrário das narrativas tradicionais que procuram transformar os líderes populares em desordeiros sanguinários.

104 GE HISTÓRIA 2017

Porto Alegre

CABANAGEM (1835-1840) Única revolta que instalou um governo popular de fato, a Cabanagem deve seu nome ao modo como a massa pobre do Grão-Pará era chamada: cabanos. Cansada da miséria, da opressão das elites e do descaso do governo, a população tomou Belém sob o comando de líderes populares, como Félix Clemente Malcher. A violenta reação oficial, que teve a ajuda de mercenários estrangeiros, arrasou o levante em 1840, causando a morte de 40 mil pessoas – quase metade da população da província à época.

SABINADA (1837-1838) Descontente com a falta de autonomia da província e com os desmandos da administração regencial, a classe média de Salvador, apoiada por uma parcela do Exército, tomou a cidade e proclamou a República Baiana, em 1837. Os rebeldes eram liderados pelo médico Francisco Sabino, daí o nome Sabinada. Sem respaldo popular, porém, o movimento se enfraqueceu. No ano seguinte, as tropas oficiais, apoiadas pelos latifundiários da região, cercaram e derrotaram os revoltosos.

REVOLTA DOS FARRAPOS (1835-1845) Conhecida como Revolução Farroupilha, nasceu do descontentamento dos estancieiros (latifundiários) em relação aos impostos sobre o charque gaúcho, que o tornavam mais caro do que a carne importada. Liderados por Bento Gonçalves, eles tomaram Porto Alegre em 1835. No ano seguinte, proclamaram a República Rio-Grandense. O movimento se alastrou para Santa Catarina, onde, em 1839, surgiu a República Juliana. Em 1845, após derrotas rebeldes, foi negociada a paz.

BALAIADA (1838-1841) A miséria causada pela crise do algodão e pelo aumento de impostos e preços, somada ao descaso das autoridades, motivou a rebelião popular do sertão maranhense em 1838. O movimento era liderado por um chefe de quilombo, o negro Cosme; um vaqueiro, Raimundo Gomes; e um artesão, Manuel Francisco Ferreira, o “Balaio” – daí o nome Balaiada. Eles ocuparam a vila de Caxias, a segunda mais importante da província, mas, em 1841, foram derrotados pelas tropas do governo central.

Fonte: Alfredo Boulos Júnior, História: Sociedade & Cidadania – 7a série, 1 ed., FTD, pág. 331

A HISTÓRIA HOJE CURRAIS ELEITORAIS

Tem sido frequente, nas campanhas eleitorais do país, o fato de algumas candidaturas se tornarem alvo da lei eleitoral que proíbe a doação de brindes e o transporte de eleitores em troca de voto. O resultado é que prefeitos e deputados, por exemplo, acabam sendo processados pelos tribunais eleitorais e correm o risco de perder o mandato. Esse tipo de prática remonta ao período do Império, quando começaram a ser realizadas as primeiras eleições no Brasil. Os grandes chefes políticos locais, denominados coronéis, compravam a patente da Guarda Nacional (força militar-policial da província) na época das eleições e exerciam todo tipo de pressão sobre os eleitores para escolher seus candidatos. Uma das mais típicas práticas dos coronéis é a formação de currais eleitorais: aproveitando-se da miséria da população, os grandes latifundiários oferecem roupas, ferramentas e emprego em troca do voto.


BRASIL IMPÉRIO SEGUNDO REINADO

O último imperador Política interna estável, terríveis confrontos internacionais e o café consolidado como carrochefe da economia: assim foi o capítulo derradeiro da monarquia no Brasil

S

ob a liderança de dom Pedro II, a política interna durante o Segundo Reinado manteve-se relativamente tranquila, mas o país se envolveu em sangrentos conflitos com as nações vizinhas. A economia foi impulsionada pelo café, que contribuiu para uma série de mudanças, ocorridas no fim do período, que acabariam colaborando para a queda da monarquia: a substituição da mão de obra escrava pela assalariada, a vinda em massa de imigrantes europeus e um surto de crescimento industrial.

Política interna

Logo no início do Segundo Reinado, o Partido Progressista mudou de nome e passou a se chamar Partido Liberal, e o Regressista foi rebatizado de Partido Conservador. Essas duas forças políticas brigariam entre si durante a maior parte do reinado de dom Pedro II. As disputas resultaram, em 1842, numa revolta dos liberais em São Paulo e em Minas Gerais, logo debelada. PARLAMENTARISMO ÀS AVESSAS Para evitar

novos conflitos entre liberais e conservadores, em 1847 foi adotado o parlamentarismo no país. O regime, entretanto, foi adaptado aos interesses da elite agrária nacional. Nas monarquias parlamentaristas clássicas, há eleições para a Câmara dos Deputados, e o partido que obtém maioria na Casa compõe o gabinete (primeiro-ministro e conselho de ministros), que exerce o Executivo, amparado por maioria parlamentar. [1] DEBRET/BIBLIOTECA NACIONAL

[1]

LONGO REINADO Dom Pedro II é aclamado imperador do Brasil, permanecendo por 49 anos no poder

No Brasil, o sistema foi implantado ao contrário: o imperador nomeava o presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro), que formava o próprio conselho. Depois, eram convocadas eleições parlamentares, geralmente fraudadas para garantir a vitória dos candidatos do primeiro-ministro. Caso o Poder Legislativo entrasse em conflito com o gabinete de ministros, o imperador poderia dissolver a Câmara e convocar novas eleições, de acordo com o poder Moderador. Também podia derrubar o Executivo quando quisesse. REVOLTA PRAIEIRA A adoção desse tipo

peculiar de parlamentarismo garantiria um revezamento pacífico entre liberais e conservadores no poder. A última revolta do Império ocorreu em 1848, em Pernambuco. Após o Senado, dominado pelos conservadores, vetar a indicação do liberal pernambucano Antônio Chichorro da Gama a uma cadeira da Casa, a ala exaltada do Partido Liberal do estado se rebelou. Chamados de praieiros (pois a sede de seu jornal ficava na Rua da Praia), eles tomaram Olinda e atacaram o Recife, exigindo o fim da monarquia e a proclamação da república. Foram derrotados em 1849.

Política externa

As relações exteriores brasileiras durante o Segundo Reinado foram marcadas por desentendimentos com a Inglaterra e por conflitos militares com os vizinhos sul-americanos.

QUESTÃO CHRISTIE Por causa do sumiço de mercadorias de um navio inglês naufragado na costa brasileira em 1861 e da prisão de oficiais da Marinha britânica responsáveis por tumultos nas ruas do Rio de Janeiro no ano seguinte, o embaixador britânico Willian Christie exigiu do governo brasileiro indenizações e pedido de desculpas. O caso foi levado a uma corte internacional, na Bélgica, que deu ganho de causa ao Brasil. A Inglaterra não aceitou a decisão, e os dois países romperam relações. A situação normalizou-se em 1865, quando os ingleses, interessados em fazer negócios com o Brasil e considerando que o país era um aliado estratégico, desculparam-se pelo ocorrido. GUERRA DO PARAGUAI A relação do Brasil

com seus vizinhos da Bacia do Prata foi bastante conturbada durante o período imperial. Em 1851, o governo brasileiro interveio no Uruguai e, no ano seguinte, na Argentina, colocando no poder forças políticas simpáticas ao país. O Brasil realizou nova intervenção no Uruguai em 1864, quando o chefe de governo Atanásio Aguirre rejeitou indenizar estancieiros gaúchos por prejuízos causados por fazendeiros uruguaios na região de fronteira. O Brasil entrou em conflito armado com o Uruguai e derrubou Aguirre, abrindo uma grave crise regional. O presidente paraguaio Solano López, que era aliado de Aguirre, se opôs à invasão brasileira no Uruguai e reagiu declarando guerra ao Brasil – era o início da Guerra do Paraguai. GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL IMPÉRIO SEGUNDO REINADO COMBATE REGIONAL Pintura retrata a Batalha do Riachuelo, ocorrida durante a Guerra do Paraguai: o conflito reconfigurou o equilíbrio de forças na América do Sul

[1]

Pequeno e isolado no interior do continente, o Paraguai não despertou o interesse das potências estrangeiras após sua independência, em 1811, tendo adotado um modelo diferente de desenvolvimento em relação a outras nações sul-americanas. Quase não havia escravidão nem elite agrária no país, e, sem depender de capital externo, o governo garantia eficientes serviços públicos e significativa distribuição da terra e da renda. Esse relativo sucesso passou a ser considerado um perigoso exemplo pela Inglaterra e pelos latifundiários dos países vizinhos, como o Brasil. Além disso, paraguaios, argentinos e brasileiros tinham pretensões expansionistas conflitantes entre si, de modo que o confronto armado era uma questão de tempo. O primeiro ano da Guerra do Paraguai foi marcado pelo sucesso da ofensiva da nação guarani. Em 1865, Brasil, Argentina e Uruguai firmaram o Tratado da Tríplice Aliança e, com o apoio inglês, deflagraram um forte contra-ataque. Sob o comando dos brasileiros Manuel Luís Osório e Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, em 1869 os aliados avançaram pelo país e entraram em Assunção. No ano seguinte, com o assassinato de Solano López, o confronto foi encerrado. O Paraguai teve sua economia destruída, cerca de dois terços de sua população foram dizimados e perdeu porções de seu território para os aliados. Apesar de vitorioso, o Brasil saiu da guerra com uma grande dívida, por causa da importação de armas e equipamentos da Inglaterra.

106 GE HISTÓRIA 2017

Crise do regime

Apesar da prosperidade do Império, a estrutura socioeconômica brasileira não sofreu mudanças realmente significativas. As lutas pela modernização do país acabariam impulsionando a queda do regime e a proclamação da República, em 1889. O fim da monarquia foi resultado da ruptura das relações do governo com os três setores da sociedade que lhe davam sustentação: a Igreja, o Exército e a aristocracia escravista. QUESTÃO RELIGIOSA Desde a época colonial vigorava no Brasil o regime do padroado, que foi mantido pela Constituição de 1824. Segundo esse regime, o imperador detinha poderes para vetar

as decisões papais (beneplácito) e nomear os membros dos cargos eclesiásticos mais importantes no país. Em 1864, quando o Vaticano proibiu as relações entre a Igreja e a maçonaria, surgiu um conflito. Dom Pedro II foi contrário à decisão papal e a rejeitou. Porém, em 1872, os bispos de Olinda e de Belém mandaram fechar as irmandades religiosas que se negassem a expulsar os maçons. O governo, então, prendeu os clérigos, abalando a relação entre a Igreja e a monarquia. Desde então, a Igreja deixou de apoiar a monarquia. QUESTÃO MILITAR Após a Guerra do Para-

guai, o Exército brasileiro ganhou grande relevância. Tornou-se popular nos quartéis a corrente filosófica do positivismo, que defendia a República como um sistema político. Convencidos de que cabia a eles impor ao país “ordem e progresso” (típica máxima positivista), os militares se indispuseram com o Império numa série de incidentes. Os casos mais conhecidos foram o do tenente-coronel Sena Madureira e o do coronel Cunha Matos, punidos por terem se manifestado

SAIU NA IMPRENSA MONARQUISTAS APROVEITAM PROTESTO NO RIO PARA COBRAR FIM DO PRESIDENCIALISMO

Por Novato Viegas

Quase ninguém percebeu, mas em meio às milhares de pessoas que compareceram ao protesto no Rio de Janeiro, na manhã deste domingo, havia 20 pessoas que estavam lá não para cobrar o afastamento da presidente Dilma Rousseff do Palácio do Planalto – e sim para pedir o fim do presidencialismo. Eles fazem parte do Movimento Monárquico

do Brasil. Tentavam convencer os demais manifestantes de que a solução para o país é o retorno da família real Orleans e Bragança ao poder. O livreiro Vitor Alves, 28 anos, é um dos integrantes do movimento. “Não é nada pessoal contra a presidente Dilma, mas ela é o símbolo da decadência do presidencialismo”, diz. “Não somos um movimento golpista. Por isso, viemos para explicar às pessoas que, para o país, o ideal seria o parlamentarismo como instrumento político e o rei como instrumento do Estado, acima das disputas partidárias.” (...) Site da revista Época, 16/8/2015


SAIBA MAIS ECONOMIA E SOCIEDADE

O café foi o maior responsável pelas transformações sociais e econômicas pelas quais o Brasil passou durante o Segundo Reinado. Inicialmente produzido para o consumo interno, a partir do começo do século XIX, passou a ser exportado para os Estados Unidos e para a Europa. Na década de 1830, já era o principal produto de nossa economia. O cultivo, expandiu-se do Rio de Janeiro para o interior do Sudeste, encontrando no oeste paulista seu polo de desenvolvimento.

na imprensa contra o governo – o que era proibido aos militares. Os episódios incentivaram a adesão do Exército à causa republicana. Em 1887 foi criado o Clube Militar, que passou a pressionar o governo. Seu primeiro presidente foi o marechal Deodoro da Fonseca, futuro líder da proclamação da República. CAMPANHA ABOLICIONISTA E REPUBLICANA A

partir de 1870, teve início na classe média uma campanha a favor da abolição da escravidão e da instalação da República. As camadas urbanas não mais aceitavam o domínio político das antigas aristocracias agrárias. Identificadas com o trabalho assalariado e com a industrialização, queriam um novo regime político no qual tivessem maior representatividade. Em 1870, foi fundado no Rio de Janeiro o Partido Republicano. Em 1873, surgiu o Partido Republicano Paulista. No mesmo ano, reunidos na Convenção de Itu, os cafeicultores de São Paulo – o setor mais dinâmico da economia brasileira – aderiram à causa republicana. A campanha crescia, mas não obtinha bons resultados eleitorais. Cada vez ficava mais claro que apenas a luta política não seria suficiente. Em 1888, pressionado, o governo publicou a Lei Áurea, abolindo a escravidão (veja a matéria na pág. 92). A medida abalou a monarquia, que perdeu o apoio dos latifundiários escravocratas. Os republicanos aproveitaram o momento e intensificaram a conspiração contra o regime. Comandante de prestígio, Deodoro da Fonseca foi convidado a chefiar o levante. Em 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, à frente de suas tropas, ele proclamou a República. A família real foi desterrada para a Europa e Deodoro assumiu o governo provisório. PARA IR ALÉM Ilustrada por Spacca, As Barbas do Imperador é uma brilhante adaptação para os quadrinhos do clássico livro sobre dom Pedro II publicado em 1998 por Lilia Schwarcz. [1] REPRODUÇÃO/BIBLIOTECA NACIONAL

IMIGRAÇÃO O café teve papel fundamental na disseminação do uso da mão de obra assalariada. Em 1850, quando a pressão inglesa pelo fim da escravidão levou à proibição do tráfico negreiro, o café estava em plena expansão, e os imigrantes europeus passaram a ser alternativa aos escravos negros. Italianos, portugueses, espanhóis, japoneses e alemães constituíram os maiores fluxos. Inicialmente, vigorou o sistema de parceria, segundo o qual os fazendeiros financiavam a vinda e a instalação dos estrangeiros em troca de parte da produção. Porém, os imigrantes ficavam altamente dependentes dos latifundiários, sem nunca conseguir quitar suas dívidas, submetidos a um estado de semisservidão. No fim da década de 1850, esses trabalhadores se rebelaram e o sistema fracassou. Foi então adotado o sistema do colonato. O governo pagava a viagem da Europa, o fazendeiro custeava o primeiro ano de estada no Brasil e o imigrante recebia um salário fixo anual e mais um rendimento variável, conforme a colheita.

INDUSTRIALIZAÇÃO Desde 1844, os preços dos produtos importados estavam mais elevados em razão da Tarifa Alves Branco. Com o fim do tráfico de escravos, em 1850, os capitais alocados no tráfico buscaram nova forma de se valorizar. A situação favoreceu o surgimento de novos empreendedores, como o gaúcho Irineu Evangelista de Sousa, o visconde e barão de Mauá. Ele investiu em companhias de bonde, navegação, iluminação urbana, em estradas de ferro e na instalação de um telégrafo submarino ligando o Brasil à Europa. Devido à sua atuação, as primeiras décadas da segunda metade do século XIX ficaram conhecidas como Era Mauá.

A ECONOMIA NO SÉCULO XIX Veja quais eram e por onde se estendiam as atividades econômicas brasileiras no período

Belém Manaus

São Luís

Fortaleza Natal Recife

Salvador

Cuiabá Cana-de-açúcar

Oceano Atlântico

Pecuária Mineração Drogas do sertão e borracha Indústria Estrada de ferro Café Erva-mate Algodão Cacau

Rio de Janeiro Curitiba

São Paulo

O AVANÇO DO CAFÉ EM SP

Início do séc. XIX 1836 1854 1886 1920 1935

Porto Alegre

Tabaco

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 38 GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL IMPÉRIO LINHA DO TEMPO

Império

1847

Veja os principais eventos do período. Os fatos com indicação de páginas são os mais cobrados no vestibular.

1831

1836

1845

Isolado no poder, em abril dom Pedro I abdica do trono em nome de seu filho, Pedro, então uma criança. Pág. 102

Gonçalves de Magalhães lança Suspiros Poéticos e Saudades, marco do romantismo no Brasil. O movimento desenvolve uma linguagem própria nacional e aborda temas ligados à natureza e às questões políticosociais.

O Parlamento britânico aprova a Bill Aberdeen, lei que dá à Marinha inglesa o direito de prender navios negreiros no Atlântico. A partir daí, o tráfico de escravos para o Brasil cai significativamente. Pág. 93

1831

[1]

1822 Após proclamar a independência do Brasil, dom Pedro I é coroado imperador, dando início ao Primeiro Reinado. Pág. 102

Após a abdicação de dom Pedro I, um grupo de líderes políticos assume interinamente o governo do país. É o período das Regências. Pág. 103

1830

É instituído no país o “parlamentarismo às avessas”, em que o imperador permanece com grande poder: é ele quem nomeia o gabinete e pode dissolver o Executivo e a Câmara. Pág. 105

1848 Em Pernambuco, tem início a Revolta Praieira. Pág. 105

1840

1850

1825 1824 As províncias do Nordeste revoltamse contra o poder imperial, formando a Confederação do Equador. Pág. 102

Começa a Guerra da Cisplatina, que acaba em 1828, com a independência do Uruguai, que fora anexado pelo Brasil como província Cisplatina em 1821. Pág. 102

1824

1831

Dom Pedro I outorga a primeira Constituição brasileira. Pág. 102

Cumprindo acordos firmados com a Inglaterra, o governo brasileiro declara suspenso o tráfico negreiro. Mas a entrada de escravos africanos permanece em grande escala. É o trabalho forçado que garante os bons preços no mercado externo do café – principal produto da economia na época.

1837

Um ano depois de o Ato Adicional de 1834 substituir a Regência Trina pela Regência Una, o ex-ministro da Justiça Diogo Feijó assume como regente. Pág. 104

O médico Francisco Sabino lidera uma revolta separatista na Bahia, a Sabinada. Pág. 104

[3]

1835

1840

No Sul, tem início a maior rebelião ocorrida durante o período regencial, a Revolta dos Farrapos. Pág. 104

Aos 14 anos, dom Pedro II é declarado maior de idade e começa a reinar. Tem início o Segundo Reinado. Pág. 105

1835

1838

Um levante popular contra o governo regencial no Pará fica conhecido como Cabanagem. Pág. 104

No Maranhão, irrompe a Balaiada. Pág. 104

1835 Um grupo de malês – nome pelo qual eram conhecidos os negros muçulmanos – rebelase em Salvador. É a Revolta dos Malês. Ex-escravos que conseguiram comprar a liberdade, os revoltosos reclamam que continuam marginalizados e sofrem opressão tanto pela cor quanto pela religião. O levante é violentamente reprimido.

[2]

108 GE HISTÓRIA 2017

1835

1850 O tráfico de escravos é definitivamente extinto no país com a Lei Eusébio de Queiroz. Aos poucos, trabalhadores assalariados passam a substituir os escravos, principalmente nas fazendas de café. Pág 93


1883

1872 A Questão Religiosa, choque entre a Igreja Católica e o governo monárquico, leva o clero brasileiro a apoiar a República, enfraquecendo o regime imperial. Pág. 106

Uma série de conflitos entre o governo imperial e o Exército – a Questão Militar – abala ainda mais a monarquia. Pág. 106

[5]

1888 Em 13 de maio, a princesa Isabel assina a Lei Áurea (pág. 93), que extingue a escravidão no Brasil. A abolição desagrada aos fazendeiros, que exigem indenização pela perda de propriedade. Sem conseguir, aderem ao movimento republicano como forma de pressão. O Império perde sua última base de sustentação política. Pág. 107

[4]

1864 Pretensões territoriais e interesses econômicos levam à Guerra do Paraguai, o maior conflito da história da América do Sul. Pág. 105

1860

1870

1880

1885 1870

1871

No Rio de Janeiro, fazendeiros, políticos, jornalistas e intelectuais lançam o Manifesto Republicano, defendendo um regime presidencialista, representativo e federativo.

É promulgada a primeira lei abolicionista, a Lei do Ventre Livre. Ela dá liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir da data da assinatura, mas os mantém sob a tutela de seus senhores até os 21 anos. Pág. 93

1854

1870

O empresário gaúcho Irineu Evangelista de Souza, o visconde de Mauá, inaugura a primeira ferrovia brasileira, entre Petrópolis e o Rio de Janeiro. Pág. 107

O maestro paulista Carlos Gomes ganha projeção internacional ao apresentar no Teatro Scala de Milão, na Itália, sua ópera O Guarani.

[6]

[1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [9] REPRODUÇÃO [8] INSTITUTO MOREIRA SALLES

[7]

1880 Políticos e intelectuais como Joaquim Nabuco (na foto) e José do Patrocínio criam no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, que estimula a formação de dezenas de agremiações similares pelo país. Pág. 93

É criada a Lei dos Sexagenários, que liberta os escravos com mais de 60 anos mediante compensações aos proprietários. Pág. 93

1889 É proclamada a República, pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca. Pág. 107

[8]

1881 Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, Machado de Assis lança Memórias Póstumas de Brás Cubas, marco no país do realismo, movimento que se caracteriza por uma abordagem objetiva da realidade.

[9]

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COMO CAI NA PROVA

1. (ESPM 2015) A revolta começou a partir de uma série de dispu-

tas entre grupos da elite local. A instabilidade política provocou a falta de confiança nas autoridades. As rivalidades acabaram resultando em uma revolta popular. Ela se concentrou no sul do Maranhão, onde atuavam grupos armados chefiados pelo vaqueiro Raimundo Gomes Vieira Jutaí, o Cara Preta, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, artesão que fazia cestos, e o preto Cosme, ex-escravo que liderava três mil escravos fugidos. Hélio Viana. História do Brasil

O texto apresentado no enunciado deve ser relacionado a uma revolta ocorrida no Brasil durante o Período Regencial (1831-1840). Assinale a alternativa que apresente essa revolta: a) Sabinada; b) Cabanagem; c) Farroupilha; d) Praieira; e) Balaiada. RESOLUÇÃO

A crise do algodão, principal produto do Maranhão, teve consequências para vários grupos sociais e econômicos. Os privilégios das elites e as disputas entre liberais e conservadores levaram à reação popular, dando início a uma série de movimentos, dos quais participaram vaqueiros, artesãos, escravos e negros libertos. Podemos dizer que a Balaiada foi mais do que uma rebelião, pois representou uma série de revoltas realizadas pelos diferentes grupos que se aproveitaram do início da crise para se manifestarem. Resposta: E

2. (ENEM 2015)

RESOLUÇÃO

As ilustrações de dom Pedro II apresentadas no enunciado desta questão tentam passar a imagem de um imperador equilibrado, maduro e seguro, apesar da pouca idade – no início dos anos 1850, quando estas imagens foram produzidas, ele teria menos de 30 anos. Essse período é imediatamente posterior a uma fase conturbada na política interna brasileira, com a instituição do parlamentarismo às avessas, para acomodar os interesses políticos divergentes, e o fim da Revolta Praieira, que eclodiu em Pernambuco, no fim da década de 1840. Dessa forma, as imagens procuram mostrar à sociedade brasileira que dom Pedro II era um governante responsável e respeitador das leis, tentando, ainda, apagar a impressão de aventureiro construída por seu pai, dom Pedro I, durante seu breve reinado. Resposta: B

3. (UNESP 2015) Não há dúvida de que os republicanos de São Paulo e do Rio de Janeiro representavam preocupações totalmente distintas. Enquanto os republicanos da capital, ou melhor, os que assinaram o Manifesto de 1870, refletiam as preocupações de intelectuais e profissionais liberais urbanos, os paulistas refletiam preocupações de setores cafeicultores de sua província. [...] A principal preocupação dos paulistas não era o governo representativo ou direitos individuais, mas simplesmente a federação, isto é, a autonomia estadual. José Murilo de Carvalho. A Construção da Ordem, 1980.

As diferenças entre os republicanos de São Paulo e do Rio de Janeiro, nas décadas de 1870 e 1880, podem ser explicadas, entre outros fatores, a) pelo interesse dos paulistas em reduzir a interferência do governo central nos seus assuntos econômicos e em concentrar, na própria província, a maior parte dos recursos obtidos com exportação. b) pela disposição dos intelectuais da capital de assumir o controle pleno da administração política nacional e de eliminar a hegemonia econômica dos cafeicultores e comerciantes de São Paulo. c) pela ausência de projetos políticos nacionais comuns aos representantes de São Paulo e do Rio de Janeiro e pela defesa pragmática dos interesses econômicos das respectivas províncias. d) pelo esforço dos paulistas em eliminar as disparidades regionais e em aprofundar a unidade do país em torno de um projeto de desenvolvimento econômico nacional. e) pela presença dos principais teóricos ingleses e franceses do liberalismo no Rio de Janeiro e por sua influência junto à intelectualidade local e ao governo monárquico. RESOLUÇÃO

Essas imagens de D. Pedro II foram feitas no início dos anos de 1850, pouco mais de uma década após o Golpe da Maioridade. Considerando o contexto histórico em que foram produzidas e os elementos simbólicos destacados, essas imagens representavam um a) jovem maduro que agiria de forma irresponsável. b) imperador adulto que governaria segundo as leis. c) líder guerreiro que comandaria as vitórias militares. d) soberano religioso que acataria a autoridade papal. e) monarca absolutista que exerceria seu autoritarismo.

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O texto apresentado no enunciado da questão faz referência às divergências entre os projetos republicanos de paulistas e fluminenses. O domínio econômico dos cafeicultores de São Paulo, agregados no Partido Republicano Paulista, levou o grupo a desejar, como modelo a ser adotado após a proclamação da República, o federalismo. Dessa forma, São Paulo teria uma autonomia plena, o que reduziria a interferência do governo central em seus assuntos. O principal objetivo era concentrar na própria província os lucros obtidos com as exportações de café. Resposta: A


RESUMO

4. (UNESP 2016) O fato de ser a única monarquia na América levou

os governantes do Império a apontarem o Brasil como um solitário no continente, cercado de potenciais inimigos. Temia-se o surgimento de uma grande república liderada por Buenos Aires, que poderia vir a ser um centro de atração sobre o problemático Rio Grande do Sul e o isolado Mato Grosso. Para o Império, a melhor garantia de que a Argentina não se tornaria uma ameaça concreta estava no fato de Paraguai e Uruguai serem países independentes, com governos livres da influência argentina. Francisco Doratioto. A Guerra do Paraguai, 1991.

Segundo o texto, uma das preocupações da política externa brasileira para a região do Rio da Prata, durante o Segundo Reinado, era a) estimular a participação militar da Argentina na Tríplice Aliança. b) limitar a influência argentina e preservar a divisão política na área. c) facilitar a penetração e a influência política britânicas na área. d) impedir a autonomia política e o desenvolvimento econômico do Paraguai. e) integrar a economia brasileira às economias paraguaia e uruguaia. RESOLUÇÃO

Disputas pelo controle sobre a região da Bacia do Rio Prata ocorriam desde o século XVII entre Portugal e Espanha. Após a concretização dos movimentos de independência das colônias ibéricas, as nações surgidas herdaram o interesse pela região e as disputas por seu controle. Entre as maiores preocupações do governo imperial brasileiro, estava a possibilidade de a Argentina se tornar uma grande potência e ameaçar seus interesses na região. O agravamento das disputas na região culminou com a eclosão da Guerra do Paraguai. Vale ressaltar, que, apesar das rivalidades históricas, Brasil e Argentina acabaram se unindo contra as pretensões expansionistas do Paraguai, que contrariava seus interesses na região. Resposta: B

SAIBA MAIS

Veja no mapa as mudanças nas fronteiras do Paraguai após o fim da guerra. Veja como o país perdeu territórios para o Brasil e a Argentina, apesar de conquistar uma área que pertencia à Bolívia, ao norte. Fronteira antes da guerra

ESCALA

Território perdido 0

500 km

BOLÍVIA BRASIL PARAGUAI Assunção

URUGUAI

O AT CEA LÂ NO NT ICO

ARGENTINA

Brasil Império PRIMEIRO REINADO O Primeiro Reinado estendeu-se da concretização da independência, em 1822, à abdicação de dom Pedro I, em 1831. Foi um período marcado pela instabilidade política e econômica. Centralizador, dom Pedro I outorgou uma nova Constituição, em 1824, que lhe conferia amplos poderes. Revoltas populares, crise econômica, envolvimento na questão sucessória de Portugal e a derrota na Guerra da Cisplatina (que levou à independência do Uruguai, anexado anos antes pelo Brasil) fragilizaram dom Pedro I. O monarca acabou abdicando em nome do filho, Pedro II. REGÊNCIAS Dom Pedro II não pôde assumir o trono, pois só tinha 5 anos quando seu pai renunciou. Instituíram-se, então, governos provisórios, as regências. Esse período é dividido, tradicionalmente, em duas fases. Na Avanço Liberal, o Partido Moderado efetivou medidas progressistas, como a criação das Assembleias Legislativas Provinciais. Durante o Regresso Conservador, o Partido Regressista tentou implantar um governo forte e centralizador. Em 1840, com o Golpe da Maioridade, dom Pedro II foi coroado imperador, com apenas 14 anos. SEGUNDO REINADO Dom Pedro II foi o mais longevo mandatário brasileiro: ficou 49 anos no poder. Seu reinado foi marcado pelo fortalecimento da economia, graças à produção cafeeira, e por relativa tranquilidade na política interna. Em 1847, foi adotado o parlamentarismo, para acalmar os ânimos dos partidos Liberal e Conservador. No entanto, o sistema implementado no Brasil apresentava diferenças em relação às monarquias parlamentaristas clássicas. Nelas, o rei tinha uma atuação limitada; aqui no Brasil, cabia ao imperador a nomeação do primeiro-ministro. SEGUNDO REINADO – POLÍTICA EXTERNA No plano internacional, incidentes envolvendo cidadãos e interesses britânicos no Brasil abalaram as relações com a Inglaterra, levando ao rompimento entre os dois países (a Questão Christie). O Brasil também se envolveu em guerras contra seus vizinhos continentais, interferindo nas questões internas de Uruguai e Argentina para preservar seus interesses. A Guerra do Paraguai deixou o país endividado com a Inglaterra, da qual comprou armas e equipamentos, e promoveu o fortalecimento do Exército, contribuindo para o processo de crise do Império. CRISE DO SEGUNDO REINADO A queda da monarquia resultou da ruptura do regime com três importantes setores sociais: a Igreja, o Exército e a aristocracia escravagista. O clero revoltouse por causa da submissão da Igreja ao Estado, em vigor desde 1824; os militares passaram a defender ideais republicanos; e a aristocracia escravocrata ressentiu-se com os prejuízos decorrentes da abolição da escravidão. Os republicanos viram nesse cenário a chance de proclamarem a República, o que foi feito em 15 de novembro de 1889.

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7

BRASIL REPÚBLICA CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO

� República da Espada ....................................................................................114 � República Oligárquica ..................................................................................115 � Primeiro governo Vargas.............................................................................118 � República Democrática................................................................................120 � Ditadura Militar .............................................................................................123 � Nova República...............................................................................................126 � Linha do tempo ..............................................................................................128 � Como cai na prova + Resumo .....................................................................130

Um governo sob pressão Manifestações populares pedem a saída da presidente Dilma Rousseff, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, autoriza a abertura de processo de impeachment

A

pós sair vitoriosa da mais acirrada eleição presidencial da história em 2014, Dilma Rousseff não teve muito tempo para comemorar. Assim que assumiu o segundo mandato, em janeiro de 2015, a presidente já estava sob intensa pressão. As denúncias de corrupção na Petrobras, a relação turbulenta com o Congresso e a elevação da inflação e do desemprego serviram de combustível para que o Brasil mergulhasse em uma grave crise econômica e política durante o ano. A popularidade de Dilma logo despencou, culminando em três grandes manifestações contra o seu governo em março, abril e agosto. No meio dos protestos, houve até quem apoiasse o retorno da ditadura militar, como se a volta da repressão e de um governo autoritário como o vivenciado pelo Brasil entre 1964 e 1985 fosse uma solução para os problemas do país. As manifestações populares serviram de estímulo para que a oposição lançasse uma campanha para pedir o impeachment da presidente – ou seja, a cassação de seu mandato. O principal argumento para o impeachment de Dilma é a edição de decretos que ampliaram os gastos federais sem a autorização do Congresso – segundo a acusação, a medida seria ilegal por ferir a Lei Orçamentária.

112 GE HISTÓRIA 2017

Em 2 de dezembro, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), autorizou a abertura do processo de impeachment contra Dilma. Sua decisão foi considerada uma retaliação ao PT – horas antes, o partido havia decidido apoiar o pedido de cassação do mandato de Cunha no Conselho de Ética, onde o deputado é acusado de mentir sobre a existência de contas secretas na Suíça. O processo de impeachment deve tramitar nos primeiros meses de 2016. Como a cassação depende da aprovação de deputados e senadores, o impeachment é considerado um julgamento político, sob comando do Congresso. Por isso, quanto mais debilitada a relação de Dilma com o Legislativo, maiores são as chances de impeachment. Foi o que aconteceu com Fernando Collor em 1992. Enfraquecido politicamente, ele se tornou o primeiro presidente brasileiro cassado por um pro- INSATISFAÇÃO POPULAR cesso de impeach- Manifestantes protestam ment. Neste capítulo contra Dilma Rousseff na você confere este e Esplanada dos Ministérios, outros momentos de em Brasília, em março crise institucional vi- de 2015: pressionada, vidos pelo Brasil no a presidente enfrenta período republicano. processo de impeachment


SERGIO LIMA/FOLHAPRESS

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BRASIL REPÚBLICA REPÚBLICA DA ESPADA MAGNA CARTA Assembleia reunida para redigir a primeira Constituição da República, que instituiu a divisão dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário

Com mão de ferro O início da República foi marcado por governos militares autoritários e centralizadores que enfrentaram a oposição de setores da sociedade civil, das oligarquias e dos monarquistas

Governo Floriano Peixoto (1891-1894)

N

os primeiros cinco anos da República, de 1889 a 1894, o Brasil foi governado por militares. O Exército era favorável a um regime centralizador e com reformas que favoreciam as nascentes classes médias urbanas e os setores industriais. As oligarquias, entretanto, preferiam uma república federativa descentralizada alinhada com seus interesses econômicos.

Governo Provisório (1889-1891)

Com o fim da monarquia foi implantado um Governo Provisório, presidido pelo marechal Deodoro da Fonseca. Suas primeiras medidas foram a extinção do Conselho de Estado, a nomeação de interventores estatais, a expulsão da família real, a separação entre Igreja e Estado e a naturalização de todos os estrangeiros que viviam no país. No plano econômico, o ministro da Fazenda, Rui Barbosa, adotou uma política de expansão monetária e do crédito visando a dinamizar a economia e impulsionar os novos negócios. Boa parte do crédito, contudo, foi investida em empresas fantasmas e no consumo. O resultado foi uma onda de especulação na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, conhecida como encilhamento, e a elevação dos preços. Desgastado pelos efeitos da política emissionista, Rui Barbosa renunciou em 1891. O período também marca a promulgação, em 1891, da segunda Constituição brasileira. Inspirada na dos Estados Unidos, a nova Carta definia o Bra-

114 GE HISTÓRIA 2017

[1]

sil como uma República Federativa (Estados Unidos do Brasil), presidencialista e com voto aberto limitado aos homens alfabetizados. Estabelecia também a divisão em três poderes: Executivo, exercido pelo presidente eleito por voto direto para um mandato de quatro anos; Legislativo, formado pelo Congresso Nacional (Câmara e Senado) e eleito pelo povo; e Judiciário, exercido pelos juízes federais sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal.

Governo Deodoro da Fonseca (1891)

Depois da aprovação da Constituição, Deodoro foi eleito indiretamente presidente do Brasil – de acordo com a nova lei, deputados e senadores do Congresso Nacional escolheriam o primeiro governante. No curto período em que ocupou o cargo, Deodoro enfrentou dura oposição parlamentar, que tentou silenciar, em 1891, fechando o Congresso e determinando estado de sítio. O golpe enfrentou a resistência do próprio Exército, chefiado pelo vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto. Deodoro acabou renunciando ao cargo.

Ao assumir a Presidência, Floriano Peixoto reabriu o Congresso e suspendeu o estado de sítio. Ele governou com mão de ferro e impôs uma política centralizadora, que priorizava um Executivo forte. Usou o apoio popular para radicalizar a luta contra os setores monarquistas, acusados de conspirar contra o novo regime. No âmbito econômico e social, implementou reformas que favoreceram a nova burguesia e as classes média e baixa. Ele lançou uma política de protecionismo alfandegário, de empréstimos às indústrias e baixou o preço do peixe e da carne. Apesar de ter conquistado o apoio de muitos setores da sociedade, o presidente precisou enfrentar uma polêmica sobre a legalidade da sua permanência no poder e teve de lidar com rebeliões e protestos até o fim de seu mandato, em 1894. Em setembro de 1893, alguns comandantes da Marinha exigiram o afastamento de Floriano Peixoto do poder. A Revolta da Armada conseguiu pouco apoio no Rio de Janeiro e foi rapidamente reprimida. Sem chances de vitória, os oficiais revoltosos dirigiram-se ao Sul e tentaram articular-se com os federalistas gaúchos para tirar o presidente do poder. No Rio Grande do Sul, a disputa de poder entre os federalistas (maragatos), representantes da velha elite do Partido Liberal do Império, e os republicanos históricos (pica-paus) do Partido Republicano Rio-Grandense descambou para uma guerra civil. Floriano Peixoto recusou o pedido dos maragatos de intervenção federal no estado e apoiou os pica-paus. Os maragatos reagiram e, em janeiro de 1893, teve início a Revolta Federalista, que se espalhou para Santa Catarina e Paraná. O confronto foi violentamente reprimido pelas forças oficiais.


BRASIL REPÚBLICA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

Poderosos oligarcas Após o breve comando militar no ínicio do período republicano, o Brasil passou a ser controlado pelas oligarquias de Minas Gerais e São Paulo

E

ntre 1894 e 1930, o Brasil esteve sob o comando de setores das oligarquias paulista e mineira, que controlaram eleições, fizeram presidentes e dominaram o país. Esses grupos controlavam as principais questões políticas do país com o apoio de outras oligarquias estaduais.

Receita de café com leite

A denominação República do Café com Leite é feita em alusão à aliança que garantia o controle político para os estados de Minas Gerais (grande produtor de leite) e São Paulo (líder cafeeiro). Por meio dessa política, instalada para garantir os interesses de suas oligarquias regionais, os dois estados mais ricos e populosos do Brasil – reunidos nos partidos Republicano Paulista (PRP) e Republicano Mineiro (PRM) – escolhiam um candidato único às eleições presidenciais. Dessa forma, mineiros e paulistas dominaram o país e ditaram os rumos da nação.

Prudente de Morais (1894-1898)

[2]

SENHORES DA TERRA Prudente de Morais (ao centro) foi o primeiro presidente civil do Brasil

Campos Salles (1898-1902)

Para garantir o domínio das oligarquias, o presidente seguinte, o paulista Campos Salles, montou o esquema conhecido como política dos governadores: o presidente dava suporte aos candidatos oficiais nas eleições estaduais, e os governadores, por sua vez, apoiavam o indicado do governo nas eleições presidenciais. O plano contava com a autoritária prática do coronelismo, por meio da qual os coronéis usavam seu poder sobre o eleitorado regional. Cada coronel controlava o próprio “curral eleitoral”, garantindo os votos dos eleitores para os candidatos por ele indicados. Além disso, o governo mantinha o controle da Comissão de Verificação de Poderes do Congresso Nacional, responsável pelos resultados eleitorais e pela diplomação dos eleitos. Organizava-se, assim, a fraude eleitoral.

Rodrigues Alves (1902-1906)

Em 1902 foi eleito o paulista Rodrigues Alves. O novo presidente adotou uma política de valorização do café, batizada de socialização das perdas: sempre que o preço do produto caía no mercado internacional, o governo reduzia a taxa cambial, desvalorizando a moeda e aumentando, assim, o lucro

As eleições de 1894 fizeram do paulista Prudente de Morais o primeiro presidente civil do Brasil. Ele procurou conter a oposição militar e restaurar as finanças, mas enfrentou muitas crises. Dois anos após sua posse, estourou a Guerra de O QUE ISSO TEM A VER COM PORTUGUÊS Canudos (veja o boxe na pág. seguinte). A Ao cobrir a Guerra de Canudos para o situação econômica também não melho- jornal O Estado de S. Paulo, o escritor Euclydes da Cunha produziu a obra-prima rou, e a moeda brasileira quase perdera o Os Sertões, considerada o marco inicial do valor. Apesar disso, Prudente de Morais pré-modernismo. Saiba mais no GUIA DO elegeu seu sucessor. ESTUDANTE PORTUGUÊS. [1] REPRODUÇÃO/MUSEU DA REPÚBLICA [2] ACERVO DO DR. MODESTO CARVALHOSA

dos cafeicultores. Essa desvalorização provocava mais inflação e aumentava o custo de vida da população, que pagava caro para beneficiar a classe dominante. Amparados por essa política benevolente, os fazendeiros elevaram demasiadamente a produção cafeeira, causando uma crise de superprodução. Para tentar valorizar o produto, foi criado, em 1906, o Convênio de Taubaté – acordo entre os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para comprar o excedente estocado. Em troca, os barões do café evitariam futuras superproduções. Apesar de ser cafeicultor paulista, o presidente não reconheceu o convênio, e suas políticas só foram implantadas no governo seguinte. Ainda no plano econômico, Rodrigues Alves investiu na realização de obras públicas. Com o auxílio do prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, modernizou a capital federal, que, naquele momento, era uma cidade suja, com focos de ratos e mosquitos transmissores de doenças. A falta de saneamento básico no Rio de Janeiro deixava os moradores vulneráveis a epidemias de febre amarela, varíola e outras doenças. Coube ao governo realizar o alargamento de ruas, o saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas e o acerto do serviço de limpeza pública. Uma reforma sanitária foi conduzida pelo prefeito e pelo cientista Osvaldo Cruz, chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública. Mas a tensão foi imediata quando, em 1904, o governo impôs a vacinação à população. Na raiz GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL REPÚBLICA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA LUTA MESSIÂNICA Sob a liderança de Antônio Conselheiro, milhares de camponeses combateram na Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897

da chamada Revolta da Vacina estava a reurbanização do centro da cidade, que removeu parte da população à força dos cortiços e morros centrais para bairros distantes. O descontentamento fez da cidade um campo de batalha. A oposição militar aproveitou-se da situação para tentar depor o presidente. Mas a revolta foi sufocada, deixando centenas de mortos de ambos os lados.

Afonso Pena (1906-1909)

O paulista Rodrigues Alves foi sucedido pelo mineiro Afonso Pena, que pôs em prática as decisões do Convênio de Taubaté. Promoveu a construção de estradas de ferro e portos e ampliou a colonização do interior brasileiro. Em 1907 expandiu a rede de comunicações do país ao ligar a Amazônia ao Rio de Janeiro por meio do telégrafo. Na sucessão de Afonso Pena, porém, ocorreu um cisma na aliança entre mineiros e paulistas: o nome indicado pelos paulistas não foi aceito pela maioria do Partido Republicano Mineiro, e o desacordo fez com que os mineiros se aliassem aos gaúchos na escolha do marechal Hermes da Fonseca. Os paulistas, por sua vez, uniram-se aos baianos para lançar a candidatura de Rui Barbosa. O esforço de Rui Barbosa ganhou o nome de Campanha Civilista, por opor um civil a um militar. À época das eleições, o governo já era ocupado pelo fluminense Nilo Peçanha, vice de Afonso Pena, que assumira em 1909, com a morte do presidente. O triunfo de Hermes da Fonseca, em 1910, representou a vitória da situação.

Hermes da Fonseca (1910-1914)

Hermes da Fonseca buscou recuperar para os militares a influência antes exercida na esfera pública. Com esse objetivo, pôs em prática a política das salvações, que derrubou as velhas oligarquias estaduais do Nordeste por meio de intervenções militares e colocou no poder grupos mais afinados com o presidente.

116 GE HISTÓRIA 2017

[1]

SAIBA MAIS CANUDOS E CONTESTADO: A FÉ EM ARMAS

Os movimentos de Canudos e do Contestado foram bem diferentes, apesar do caráter messiânico de ambos. O primeiro ocorreu em 1896, no sertão da Bahia. Sob a liderança do pregador Antônio Conselheiro, milhares de pessoas juntaram-se no Arraial de Canudos. Conselheiro proclamava o início de uma nova era e convocava os fiéis a combater a República. Fazia duras críticas à Igreja Católica, além de recusar o pagamento de impostos. Canudos, com cerca de 20 mil moradores, começou a ser visto não só como “arraial de fanáticos”, mas também como reduto de rebeldes monarquistas, apesar de seu líder não defendê-la. Em 1897, o povoado foi destruído por tropas federais, deixando milhares de mortos. Já o Contestado ocorreu em Santa Catarina, entre 1912 e 1916. O beato José Maria aglutinou milhares de camponeses no Contestado, região de Santa Catarina na divisa com o Paraná. Uma enorme massa de desempregados engrossava o rol dos aflitos: eram trabalhadores da Brazil Railway Company, contratados em cidades como Salvador para a construção de uma estrada de ferro na região e, após concluído o trabalho, demitidos e largados à própria sorte. Nos primeiros combates com as tropas estaduais, José Maria foi morto. Os fiéis resistiram, mas o Exército decidiu o conflito, com milhares de revoltosos mortos.

CANUDOS

O CONTESTADO

Veja a dimensão do movimento de Antônio Conselheiro

Entenda a pendenga no sul do país

Área de influência de Antônio Conselheiro (1893-1897)

PARANÁ Rio Iguaçu

São Luís Fortaleza

MARANHÃO CEARÁ

Teresina

PIAUÍ

RIO GRANDE DO NORTE PARAÍBA

Natal João Pessoa Recife

Cabrobó PERNAMBUCO Petrolina Canudos Maceió Juazeiro ALAGOAS Monte Santo Jerembabo SERGIPE Jacobina Aracaju

BAHIA

Salvador

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3 ed., Ática, pág. 40

Curitiba União da Vitória Curitibanos

Campos Novos

São Francisco do Sul

SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL

Lages

Região da Guerra do Contestado Área do Paraná pretendida por Santa Catarina

Florianópolis

Oceano Atlântico

Área de Santa Catarina pretendida pelo Paraná Ferrovia Fonte: Alfredo Boulos Júnior, História: Sociedade & Cidadania – 8ª série, 1 ed., FTD, pág. 109


Várias rebeliões ocorreram no seu governo. A Revolta da Chibata, também conhecida como Revolta dos Marinheiros, ocorreu no Rio de Janeiro, em 1910. Os rebelados queriam o fim dos castigos corporais aplicados por oficiais brancos em marujos negros, a redução da jornada de trabalho e a concessão de anistia. Liderados pelo gaúcho João Cândido, assumiram o controle de navios da Marinha de Guerra, ancoradas na Baía de Guanabara. O presidente prometeu, inicialmente, atender às reivindicações, mas acabou prendendo e deportando muitos deles. Já a Revolta de Juazeiro foi consequência da política das salvações, que, no Ceará, opôs oligarquias locais ao governo federal, em 1911. Para retirar o poder da família Acioli, o presidente indicou um novo governador, Marcos Franco Rabelo. Os coronéis, apoiados pelo padre Cícero, então prefeito de Juazeiro do Norte, reagiram armando centenas de sertanejos e enviando-os à capital, onde foram contidos pelas forças federais. Rabelo renunciou, e Hermes da Fonseca nomeou um novo interventor, o general Setembrino de Carvalho. No fim do mandato de Hermes da Fonseca ainda estouraria a Guerra do Contestado (veja o boxe na pág. ao lado).

Venceslau Brás (1914-1918)

Passado o mandato de Fonseca, o mineiro Venceslau Brás foi eleito presidente em 1914. É durante seu governo que o Brasil toma parte na I Guerra Mundial. Nesse contexto do conflito global, a atividade industrial crescia no país, formando, um contingente expressivo de operários nos grandes centros. Em 1917, influenciados pela Revolução Russa, os trabalhadores do bairro paulistano da Mooca formaram um movimento que se espalhou por todo o país. Foi organizada uma greve nacional por aumento salarial, jornadas de oito horas e abolição do trabalho noturno para mulheres e menores. Após intensos confrontos, a classe patronal concordou em negociar, pondo fim à mobilização.

Tenentismo

O paulista Rodrigues Alves foi eleito para suceder Venceslau Brás, mas morreu antes de assumir o cargo. Seu vice, o mineiro Delfim Moreira, governou por um ano até convocar novas eleições, em [1] FLÁVIO DE BARROS/WIKIMEDIA

Veja onde ocorreram os movimentos dos jovens oficiais e a revolta que derrubou a República do Café com Leite

RR

AP

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RO

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PA

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MT

BOLíVIA

PARAGUAI

CE PI

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SP RJ

PR SC RS

Rio de Janeiro

São Paulo Oceano Atlântico

para união à Coluna Prestes

Fonte: José Arruda e Nelson Piletti, Toda a História, 3ed., Ática, pág. 40

1919. No novo pleito, venceu o paraibano Epitácio Pessoa, candidato apoiado pelo PRM e pelo PRP, que governou de 1919 a 1922. Seu sucessor foi o mineiro Artur Bernardes (1922 a 1926), que não conseguiu obter a unanimidade de paulistas e mineiros. Bernardes também despertou uma oposição militar, principalmente da ala jovem do Exército. Descontentes diante das instituições fraudulentas da República, os oficiais formaram um movimento armado para derrubar o governo – o Tenentismo. Contavam com o apoio de oligarquias dissidentes e de parte da classe média e defendiam o voto secreto, o combate à corrupção e um governo central forte. Em 1922, os tenentistas tomaram o Forte de Copacabana, mas a revolta foi sufocada e a maioria dos líderes, morta. O auge do movimento tenentista ocorreu após uma tentativa frustrada de tomar a cidade de São Paulo em 1924, que ficou conhecida como Revolução Paulista. Derrotados, os oficiais fugiram para o interior e, unidos com rebeldes paranaenses e gaúchos, lutaram

sob a liderança de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes. Buscando conquistar a adesão popular, a Coluna Prestes – também conhecida como Coluna PrestesMiguel Costa – marchou por 25 mil quilômetros de sul a norte do país, mas seu esforço foi em vão. Em 1927, embora não tenham perdido uma única batalha, cansados e sem o apoio popular, os rebeldes refugiaram-se na Bolívia.

Revolução de 1930

Em 1926 foi eleito o paulista Washington Luís. Durante seu governo, ele enfrentou o endividamento interno e externo do país, a retração das exportações e, a partir de 1929, os problemas provocados pela crise econômica mundial com a quebra da Bolsa de Nova York (veja a matéria na pág. 70). Na verdade, era o auge de toda uma década de crise, com a falência do Convênio de Taubaté e a ascensão da classe média e dos movimentos operário e tenentista formando uma oposição importante ao governo, com demandas por maior liberdade, modernização e democracia. Para sua sucessão, para defender os interesses da cafeicultura, Washington Luís lançou como candidato o governador de São Paulo, Júlio Prestes, do PRP. Ao indicar outro paulista, rompeu com a política do café com leite. Em represália, o PRM foi para a oposição e, com o apoio do Rio Grande do Sul e da Paraíba, compôs a Aliança Liberal. O gaúcho Getúlio Vargas seria candidato a presidente e o paraibano João Pessoa, a vice. O programa da Aliança Liberal continha reivindicações democráticas, como a defesa do voto secreto e da Justiça Eleitoral. Mas, em 1930, a chapa de Júlio Prestes venceu a eleição. A princípio, a oposição aceitou o resultado. Mas quando João Pessoa foi assassinado, em crime passional, os aliancistas atribuíram motivos políticos ao crime, deflagrando uma rebelião político-militar. Articulada entre o Sul e o Nordeste, e liderada por Getúlio Vargas, a Revolução de 1930 tomou o poder, pondo fim à República Velha. PARA IR ALÉM Na HQ A Luta contra Canudos, os desenhos de Jozz e Akira Sanoki captam a essência da pobreza do interior da Bahia no fim do século XIX, enquanto o roteiro de Esteves utiliza uma linguagem interiorana carregada, típica da região. GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL REPÚBLICA PRIMEIRO GOVERNO VARGAS

EMERGE O LÍDER Getúlio Vargas (ao centro) celebra a vitória na Revolução de 1930, movimento que lhe garantiu a tomada da Presidência do Brasil

[1]

Carisma e poder Em seu primeiro período à frente do governo, Getúlio impulsionou o desenvolvimento do país e implementou ganhos sociais. Mas também criou o autoritário Estado Novo

D

epois de liderar a revolução que pôs fim à República Velha, em 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo e conduziu o país durante um período caracterizado pelo desenvolvimento industrial e pela ampliação das leis trabalhistas. Seu governo, que durou até 1945, foi marcado ainda pelo Estado Novo, período de forte autoritarismo, calcado na personificação quase mítica da figura do presidente, que ficou conhecido como o “pai dos pobres”.

Governo Provisório (1930-1934)

Uma das primeiras medidas de Getúlio ao assumir o poder foi nomear interventores para ocupar o lugar dos governadores nos estados. Na maior parte, esses cargos foram preenchidos pelos tenentes, que defendiam um Estado forte e centralizado. A indicação de um tenente oriundo do Nordeste como interventor em São Paulo, associada à indefinição do prazo para realização de eleições para a Constituinte, acirrou a oposição da oligarquia paulista contra Getúlio Vargas. Numa das manifestações contra o governo patrocinada

118 GE HISTÓRIA 2017

por esses opositores, quatro estudantes (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo) foram mortos pelas forças oficiais. Esse acontecimento, em maio de 1932, catalisou a oposição contra o governo em São Paulo e deu início, em 9 de julho, à denominada Revolução Constitucionalista de 1932. O movimento ganhou as ruas da capital e de cidades do interior paulista e contou com o apoio de industriais, estudantes, intelectuais e políticos ligados à Velha República. A luta, porém, acabou restrita a São Paulo, já que mineiros e gaúchos não efetivaram o prometido apoio. Os revoltosos acabaram derrotados. A Revolução Constitucionalista foi sufocada, deixando um saldo de 633 paulistas mortos. A tentativa da oligarquia paulista de depor Vargas e voltar ao poder, sob o pretexto da reconstitucionalização do país, havia fracassado.

Governo Constitucional (1934-1937)

Em 1934, foi promulgada a nova Constituição, de caráter liberal. Estabelecia o princípio federativo, mas a União passava a ter maior influência na esfera

econômica e na social. As riquezas do subsolo e as quedas-d’água foram nacionalizadas, assim como os bancos e as seguradoras. A Carta Magna instituía importantes mecanismos de proteção ao trabalhador, como a Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de oito horas, férias remuneradas e o descanso semanal. Por fim, o texto – que também criava a Justiça Eleitoral – estabelecia que o primeiro pleito presidencial após sua aprovação se daria de forma indireta, pelos membros da Assembleia Constituinte. Foi assim que, em 17 de julho de 1934, Getúlio foi eleito presidente da República por 175 votos a 71. A calmaria com a promulgação da nova Constituição e a eleição do presidente, entretanto, não duraria muito. À época, em território brasileiro se reproduzia um quadro europeu de radicalização e polarização política entre grupos de esquerda e de direita, com o crescimento de partidos nazifascistas e comunistas. No Brasil, essa politização se manifestou principalmente por meio de duas instituições opostas: a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL). De cunho fascista, a AIB foi criada em 1932, por Plínio Salgado. Era composta de setores mais reacionários e anticomunistas da sociedade. Já a ANL, fundada em 1935, era formada sobretudo por intelectuais liberais nacionalistas, sindicalistas e membros do Partido Comunista, sob a liderança de Luís Carlos Prestes.


No mesmo ano de sua criação, a ANL lançou um programa de reformas que pregava, entre outras coisas, a nacionalização imediata das empresas e a suspensão do pagamento da dívida externa. O governo reagiu com a implementação da Lei de Segurança Nacional, que dava ao Estado poderes para combater qualquer tipo de movimento considerado subversivo. A ANL, por sua vez, ampliava sua aceitação entre as massas empobrecidas. Em novembro de 1935, o governo fechou as portas das sedes da ANL. Foi a deixa para que os aliancistas iniciassem uma insurreição político-militar, que ficou conhecida como Intentona Comunista. Mas o sonho de envolver as massas numa revolução acabou logo nos primeiros dias. Revoltosos e simpatizantes foram perseguidos, presos ou mortos, e o movimento abriu caminho para Getúlio endurecer o regime. O principal líder comunista, Luís Carlos Prestes, ficou preso até 1945. Já sua mulher, a militante alemã Olga Benário Prestes, apesar de estar grávida, foi torturada e enviada de volta à Alemanha, onde foi entregue à Gestapo – a polícia política nazista – e acabou morrendo num campo de concentração em 1942. O levante veio ao encontro dos planos de Getúlio, que usou o pretexto do perigo comunista para decretar estado de sítio, abolindo as garantias constitucionais. Tudo estava preparado para o golpe que o deixaria no poder por mais oito anos.

O Estado Novo (1937-1945)

De acordo com a Constituição, deveria haver eleições em 1938. Entretanto, em setembro de 1937, os jornais publicaram o Plano Cohen. Segundo informavam, tratava-se de um plano de tomada do poder elaborado pelos comunistas. Diante dessa ameaça, o Legislativo decidiu outorgar poderes excepcionais para Vargas enfrentar a ameaça comunista. Baseado nesses poderes, ele implantou, em novembro de 1937, o Estado Novo e impôs ao país uma nova Constituição. Apelidada de “polaca”, por se inspirar na Constituição corporativista da Polônia, dava ao Executivo poder para dissolver o Congresso e nomear e substituir interventores, suprimia a autoridade dos estados e extinguia os partidos políticos. A AIB, que havia [1] CLARO JANSSON/WIKIMEDIA

Crise do regime SAIBA MAIS O BRASIL NA II GUERRA MUNDIAL

Simpatizante do ideário fascista, Getúlio Vargas optou por manter a neutralidade do Brasil no início da II Guerra Mundial, mas dava sinais de que poderia aproximar-se de Hitler e de Mussolini. Sob pressão dos Estados Unidos, contudo, em 1942 declarou guerra aos países do Eixo e constituiu a Força Expedicionária Brasileira (FEB). O grupo foi enviado, em 1944, para lutar ao lado dos Aliados, e, apesar da falta de preparo bélico e técnico, as tropas brasileiras participaram de importantes batalhas e sucessivas vitórias. Mas o apoio não foi de graça. Ele foi condicionado à ajuda financeira norte-americana para a construção de grandes obras, como a CSN, e para a modernização do aparato militar nacional.

sido usada pelo governo contra a ANL, foi fechada. A fim de divulgar as ações do governo e manter rígido controle sobre os meios de comunicação, Getúlio criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Por outro lado, o Estado Novo foi marcado por avanços nas políticas sociais. A nova legislação trabalhista, que inclui garantias históricas, como salário mínimo e direito a férias, foi unificada na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que entrou em vigor em 1943. Na economia, o período foi marcado pela aceleração do crescimento industrial. Entre 1933 e 1939, por exemplo, o aumento da produção industrial foi de aproximadamente 11% ao ano. Isso se deveu, sobretudo, à desvalorização cambial, às tarifas sobre importações, aos investimentos estatais em infraestrutura (como ferrovias e navegação) e a uma política protecionista e nacionalista. Getúlio criou, entre outras iniciativas, o Conselho Nacional do Petróleo, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a mineradora Companhia Vale do Rio Doce.

Com a deflagração da II Guerra Mundial e a posterior adesão do Brasil à causa aliada, Getúlio passou a enfrentar uma grave contradição em seu governo: se, no plano exterior, lutava contra as ditaduras nazista e fascista, internamente era, ele próprio, uma ditadura. À medida que os aliados avançavam e o fim da II Guerra Mundial se tornava iminente, os movimentos de oposição no Brasil foram ganhando força. Os grupos empresariais liberais, a imprensa e a classe média se organizaram num agrupamento político que, posteriormente, originou o principal partido de oposição ao ideário nacionalista e intervencionista de Vargas, a União Democrática Nacional (UDN). Líderes políticos regionais e setores da burocracia estatal do Estado Novo, aliados a fazendeiros e empresários próximos ao governo Vargas, criaram o Partido Social Democrata (PSD). Os sindicalistas e os trabalhadores em geral, por sua vez, constituíram o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Certo de que dificilmente conseguiria manter a ditadura por muito tempo depois que a guerra acabasse, Vargas se antecipou e adotou um conjunto de reformas de caráter democrático, como a liberdade de expressão e organização e a lei antitruste. Essa legislação previa a possibilidade de nacionalização de empresas estrangeiras que tivessem atuação lesiva ao interesse nacional. Além disso, estabeleceu relações diplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e convocou, para o fim de 1945, eleições gerais e para uma nova Assembleia Constituinte. Essas medidas provocaram uma divisão na oposição. Os militares e a UDN radicalizaram sua postura contra Vargas, enfurecidos com as medidas nacionalistas e a aproximação com a URSS. Os setores populares, ligados ao PTB e à esquerda do PCB, passaram a apoiar Getúlio e a defender a sua permanência no poder até que a nova Constituição ficasse pronta. Sob o slogan “Queremos Getúlio”, organizaram um movimento de apoio ao presidente, o “Queremismo”. No entanto, em outubro de 1945, os opositores deram um golpe e depuseram Getúlio, encerrando a ditadura do Estado Novo. GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL REPÚBLICA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA “O PETRÓLEO É NOSSO” Getúlio Vargas comemora o sucesso da campanha que culminaria com a criação da Petrobras, em 1953

A volta de Getúlio Vargas (1951-1954)

[1]

Respiro (quase) democrático Após o Estado Novo, o Brasil viveu uma conturbada democracia, que terminou com o golpe militar de 1964

N

o período compreendido entre o fim do Estado Novo, em 1945, e o golpe militar, em 1964, o Brasil viveu anos de transição e de adaptação. A democracia havia substituído um sistema ditatorial, mas o populismo – política calcada na figura de um líder paternalista voltada para as massas populares – dominou a maioria dos mandatos presidenciais, e as forças de direita e de esquerda viveram em permanente e exacerbada tensão. No plano internacional, a Guerra Fria polarizava o mundo e exigia o posicionamento dos países periféricos. O Brasil, na maioria do tempo, manteve-se ao lado do capitalismo, encabeçado pelos norte-americanos.

O governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951)

Após a derrubada de Getúlio Vargas, foram convocadas eleições. O vencedor foi o ex-ministro da Guerra de Getúlio, Eurico Gaspar Dutra, do Partido Social Democrático (PSD), com o apoio do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Saíram derrotados o brigadeiro Eduar-

120 GE HISTÓRIA 2017

do Gomes , candidato da União Democrática Nacional (UDN), e Iedo Fiuza, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Dutra tomou posse em 1946 e instalou a Assembleia Constituinte. Em setembro, foi promulgada a quinta Constituição nacional, que definia cinco anos de mandato para o presidente, garantia a liberdade de expressão e concedia ampla autonomia administrativa e política a estados e municípios. Um ano depois, contudo, os ares democráticos já davam sinais de mudança. Primeiro, foi extinto o PCB. A medida foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal, com base no texto constitucional que proibia a existência de partido político contrário ao regime democrático. Em seguida, o Ministério do Trabalho fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), controlada por comunistas, e interveio em mais de 100 sindicatos, acusados de serem focos de agitação operária. O governo rendeu-se às pressões norte-americanas e rompeu relações com a URSS. Na economia, ao contrário da política intervencionista de Getúlio, Dutra adotou o liberalismo, abrindo o país às importações, o que, de certa forma, quase paralisou o processo de industrialização alavancado por Getúlio. Para conter a inflação, o presidente tentou organizar os gastos públicos. Lançou o Plano Salte, prevendo investimentos em saúde, alimentação, transporte e energia. Mas a falta de recursos minou o projeto, e o país continuou com seu déficit social.

Nas eleições de 1950, o “pai dos pobres” voltou ao poder, dessa vez eleito pelo PTB. Em seu novo mandato, continuou o processo de industrialização. Inaugurou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e promoveu a estatização da produção de energia elétrica. Para atender os trabalhadores urbanos, Getúlio flexibilizou a legislação sindical. Tudo era feito para reforçar o caráter nacionalista de seu governo. O auge dessa política ocorreu quando o presidente enviou ao Congresso o projeto de lei que estabelecia o monopólio estatal sobre a perfuração e o refino do petróleo brasileiro. O texto causou polêmica entre os nacionalistas e os “entreguistas”, os defensores da entrega da exploração do petróleo ao capital estrangeiro. Após forte campanha promovida pelo governo e intitulada “O petróleo é nosso”, em 1953, a lei que criou a Petrobras foi sancionada. A vitória governista, acrescida do êxito da greve geral por reajuste salarial que reuniu 300 mil trabalhadores em São Paulo, causou a ira dos conservadores liderados pela UDN. Em 1954, no Rio de Janeiro, um atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor udenista, matou um major da Aeronáutica. Ficou comprovado o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial de Getúlio. Após esse episódio, o governo se fragilizou, num processo conturbado que atingiu seu ápice com a divulgação de um manifesto dos militares exigindo a renúncia do presidente. Sob pressão e abandonado politicamente, Getúlio se suicidou em 24 de agosto, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Sua morte foi seguida de grandes manifestações populares. Considera-se que tenha sido a comoção popular que tornou desfavorável o contexto político para um eventual golpe udenista, garantindo, assim, uma transição do poder dentro da legalidade.


EM OBRAS O presidente Juscelino Kubitschek (ao centro, de chapéu) visita o prédio do Congresso em construção, em 1959, na futura capital do país, Brasília

Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Com a morte do presidente, tomou posse o vice, João Café Filho. Cercado por udenistas, o novo mandatário tentou conciliar os interesses dos golpistas favoráveis à ditadura, dos conservadores antigetulistas e dos que queriam manter a política de Getúlio. Nas eleições de 1955, saiu vencedor o candidato da coligação PTB-PSD, Juscelino Kubitschek, tendo como vice o ex-ministro do Trabalho de Getúlio, João Goulart, o Jango. Derrotada, a UDN tentou impedir a posse dos eleitos, em manobras como a mobilização da população e de militares antigetulistas por meio do jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda. Nas matérias, os udenistas diziam que os novos governantes tiveram apoio dos comunistas e incitavam os leitores a rejeitar a posse. Mas a tentativa de golpe foi frustrada por comandantes legalistas, tendo à frente o ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, que mobilizou o Exército, cercando as bases aéreas e navais envolvidas com os golpistas. O presidente pôde, então, tomar posse em 1956. Com um discurso desenvolvimentista, cujo lema era “Cinquenta anos (de progresso) em cinco (de governo)”, JK manobrou as diversas facções políticas e se aproximou dos militares. Em seu mandato, os operários ganharam concessões salariais, a classe média aplaudiu o progresso econômico e os industriais ampliaram sua ação por meio da facilidade de crédito. Essa relativa estabilidade política foi resultado, principalmente, do crescimento industrial. O governo apostou no “nacionalismo desenvolvimentista”. Apesar do nome, a política de expansão industrial não teve nada de nacionalista. Foi, pelo contrário, repleta de medidas de desnacionalização, com a abertura do mercado ao capital es[1] ACERVO PETROBRAS [2] AG. ESTADO

[2]

trangeiro, atraído pela ampliação dos serviços de infraestrutura. Com esses investimentos externos, JK estimulou a diversificação da economia nacional, aumentando a produção de máquinas e insumos, o transporte ferroviário e a construção civil. Isso favoreceu, entre outras coisas, a implantação do polo automobilístico no ABC paulista. Para sistematizar seu projeto, o presidente lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento. Conhecido como Plano de Metas, ele privilegiou cinco setores: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação. O crescimento da Região Nordeste foi incentivado com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Em 1957, o presidente decidiu que o Brasil deveria ter uma nova capital, que integrasse melhor todo o território e facilitasse o desenvolvimento do interior. Começou, assim, a construção de Brasília, meta símbolo do governo. O projeto urbanístico foi assinado por Lúcio Costa e os principais prédios foram projetados por Oscar Niemeyer. Três

anos depois, a cidade era inaugurada, à custa do endividamento externo e da emissão de moeda. Na verdade, toda a política econômica de JK ocasionou um endividamento externo, associado à alta da inflação e ao consequente arrocho salarial.

Jânio Quadros (1961)

Nas eleições de 1960, o candidato do Partido Trabalhista Nacional (PTN), Jânio Quadros, apoiado pela UDN, venceu a disputa. Era a primeira vez, desde 1945, que a coligação PTB-PSD não elegia o presidente – conseguiu apenas o vice, João Goulart. A derrota do candidato de JK ocorreu principalmente pelo estado em que se encontrava o país no fim de seu governo: inflação alta, desvalorização da moeda e aumento do custo de vida. O novo presidente tinha carisma, e seu discurso populista conseguiu fascinar o povo. O símbolo de sua campanha foi uma vassoura, segundo ele, “para varrer a corrupção”. Jânio aplicou a austeridade na economia, restringiu o crédito e congelou os salários. Adotou GE HISTÓRIA 2017

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BRASIL REPÚBLICA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA

SAIBA MAIS EFERVESCÊNCIA CULTURAL

[1]

DEMOCRACIA POR UM FIO Jango discursa na Central do Brasil (RJ) dias antes de ser derrubado

uma política externa independente daquela ditada pelos EUA. Entretanto, ao manter-se neutro diante da Revolução Cubana, duramente criticada pelos EUA, foi atacado por setores conservadores do país, e a UDN rompeu definitivamente com o presidente. Pressionado com a explosão de denúncias, segundo as quais apoiaria o comunismo, Jânio partiu para uma medida arriscada: renunciou, em agosto de 1961, na esperança de que seus ministros militares e a população pedissem sua volta. Nenhuma força social, contudo, se mobilizou a seu favor. A crise institucional acirrou-se na hora de passar o cargo ao vice, pois os militares e os setores conservadores não admitiam que o esquerdista Jango ficasse no poder. Sua posse só foi aceita após uma manobra no Congresso, que instituiu o parlamentarismo no país. A Constituição de 1946 foi reformada, reduzindo-se os poderes do presidente em favor de um gabinete ministerial chefiado por um primeiro-ministro.

João Goulart e o golpe (1961-1964)

Mesmo com poderes limitados, Jango aceitou a proposta e assumiu o governo num contexto de inflação ascendente, queda de investimento e baixo crescimento. Numa tentativa de reverter a situação, mobilizou, em 1963, suas forças políticas para a campanha pelo retorno do presidencialismo em referendo popular. Com o restabelecimento do presidencialismo, Jango retomou as rédeas da nação.

122 GE HISTÓRIA 2017

A crise econômica exigia soluções rápidas. Foi então que o governo implementou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, ou somente Plano Trienal. O programa propunha uma taxa de crescimento de 7% ao ano e a redução da inflação por meio de empréstimos externos e da renegociação da dívida. Mas o plano fracassou, e a inflação voltou a crescer. Outras tentativas de reestruturação, como as reformas de base (agrária, bancária, eleitoral, fiscal, urbana e salarial), também não conseguiam vencer a forte resistência da oposição. Seguiu-se um período de intensa radicalização política: de um lado, greves e manifestações populares a favor das propostas do presidente; de outro, adversários de oposição, que responsabilizavam o governo pela crise econômica. Buscando reforçar sua base política e se fortalecer no poder, Goulart tentou mobilizar as massas trabalhadoras, o que levou o empresariado, parte da Igreja Católica e os partidos de oposição, liderados pela União Democrática Nacional (UDN) e pelo Partido Social Democrático (PSD), a denunciar a preparação de um suposto golpe comunista, que contaria com a participação do próprio presidente. A tensão chegou ao ápice em março de 1964. No dia 13, o presidente promoveu um comício popular na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, com a presença de cerca de 300 mil pessoas para apoiá-lo. Seis dias depois, seus

A vida cultural brasileira passou por grande efervescência na década de 1950. Um grupo de atores criou, em 1953, o Teatro de Arena, com o objetivo de levar o teatro ao povo. As apresentações ocorriam em escolas, fábricas e clubes. Em 1958, um baiano de Juazeiro abriu novo caminho para o desenvolvimento da música brasileira. No seu primeiro LP, Chega de Saudade, João Gilberto inovou com uma interpretação refinada e uma batida original e criou a bossa nova. No início dos anos 1960, uma nova estética cinematográfica ganhou forma por meio de um grupo de cineastas liderado por Glauber Rocha. Eles se insurgiram contra os padrões hollywoodianos e fizeram filmes com poucos recursos e linguagem e temática comprometidas com os problemas que o país enfrentava. O movimento foi batizado de Cinema Novo.

adversários reagiram com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu entre 300 e 500 mil pessoas na cidade de São Paulo. A queda de braço continuou até que, no dia 31, tropas do Exército ocuparam as ruas das principais cidades do país e, no dia seguinte, declararam vaga a presidência da República, destituindo Jango, que se refugiou no Uruguai. O pretexto para a manobra, que recebeu apoio de grande parte da classe média e de setores importantes da elite nacional, foi o combate à “ameaça comunista”, à corrupção e à crise político-econômica brasileira. No dia 1º de abril de 1964, uma junta militar assumiu o controle da nação, implantando um longo e lamentável regime militar no Brasil. PARA IR ALÉM A HQ O Golpe de 64, de Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha, trata dos dez anos que se passam entre a morte de Getúlio Vargas, em 1954, e o golpe militar de 1964. Com riqueza de detalhes retrata a crise política do período, as ações golpistas da UDN, o desenvolvimentismo de JK e, claro, a deposição de Jango em 1964.


BRASIL REPÚBLICA DITADURA MILITAR

Tempos de chumbo Com o golpe de 1964, o Brasil passou mais de 20 anos sob uma ditadura militar caracterizada pela violação dos direitos políticos e civis

A

ditadura militar no Brasil, instaurada pelo golpe de Estado de 31 de março de 1964, durou 21 anos. Chamada por seus defensores de “revolução”, foi marcada pela ruptura do regime democrático, por forte centralismo e autoritarismo, pela cassação dos direitos políticos de opositores e pela violação das liberdades individuais da população. No período, o país viveu ainda a euforia – e, mais tarde, a decepção – do “milagre econômico”. Após a deposição de João Goulart seguiu-se uma onda de repressão, que atingiu entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e as Ligas Camponesas. Os militares passaram a decretar os atos institucionais (AI), utilizados para dar força de lei às suas ações. O primeiro deles, o AI-1, imposto em abril de 1964, cassou mandatos e suspendeu a imunidade parlamentar, o caráter vitalício dos cargos dos magistrados, a estabilidade dos funcionários públicos, entre outros direitos constitucionais. Com a cassação de membros da oposição, os apoiadores do golpe tornaram-se maioria no Parlamento, que referendou como próximo presidente o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.

Humberto Castelo Branco (1964-1967)

O militar assumiu com a promessa de que a intervenção seria curta e o poder voltaria aos civis logo que o país superasse os problemas que levaram [1] [2] AG. O GLOBO

[2]

DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA Tanques de guerra na ruas do Rio de Janeiro colocam o golpe em marcha

ao golpe. No entanto, o que se viu foi apenas o início do que seria um longo período de desmandos militares. Três meses após sua posse, Castelo Branco promulgou a emenda constitucional que prorrogou seu mandato até 1967. Em outubro de 1965, editou o AI-2, que estabelecia a eleição indireta para presidente, extinguia partidos políticos e permitia ao Executivo cassar mandatos. O presidente também instituiu o bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de situação, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição – ou o que sobrou dela após as cassações. Foi criado, ainda, o Serviço Nacional de Informações (SNI), uma espécie de polícia política. Em fevereiro de 1966, como resposta às pressões pelo fim do regime, foi editado o AI-3, tornando indiretas as eleições para governador. Em dezembro veio o AI-4, que fechou o Congresso e determinou as regras para a aprovação da nova Constituição, votada em janeiro de 1967. O texto incorporou os atos institucionais, ampliou os poderes do presidente e reduziu ainda mais a força do Legislativo.

No plano econômico, Castelo Branco implementou uma política recessiva, com seu Plano de Ação Econômica, cuja principal meta era conter a inflação. Para isso, cortou os gastos públicos e aumentou impostos.

Arthur da Costa e Silva (1967-1969)

O sucessor de Castelo Branco foi o general Arthur da Costa e Silva, exministro do Exército. Em seu mandato, a oposição se acentuou e as manifestações pelo fim do regime se multiplicaram. Em março de 1968, o estudante Edson Luiz Lima Souto é morto pela polícia militar durante uma passeata no Rio de Janeiro. O incidente provoca nova onda de protestos e passeatas estudantis. Em junho, uma manifestação organizada pela UNE contra a ditadura, a Passeata dos Cem Mil, tomou o centro da capital fluminense. Enquanto isso, o governo também era pressionado pelos militares da linha dura, que defendiam a intensificação das ações repressivas. Em setembro, num ousado discurso contra o regime, o deputado oposicionista Márcio GE HISTÓRIA 2017

123


BRASIL REPÚBLICA DITADURA MILITAR NINGUÉM SE MEXE Estudantes deitados, sob revista da polícia no Campo de Botafogo (RJ), em 1968: a repressão militar se intensificou após o AI-5

[1]

Moreira Alves, do MDB, convocou, na tribuna da Câmara, a população a boicotar a parada militar de 7 de Setembro. Profundamente irritados, os militares solicitaram ao Congresso licença para processar o parlamentar. Por não ter obtido autorização para processá-lo, o governo decidiu fechar o Congresso Nacional. Em seguida, decretou o AI-5, iniciando a fase mais dura do regime. As forças policiais e militares passaram a ter carta branca para prender opositores do governo sem precisar de acusação formal nem registro. A repressão policial aumentou em larga escala, enquanto grupos radicais de esquerda se voltaram para ações de guerrilha urbana.

Emílio Garrastazu Médici (1969-1974)

Afastado por problemas de saúde, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar, que governou o país durante dois meses e realizou a própria reforma constitucional, instituindo, entre outras medidas, a prisão perpétua e a pena de morte a quem praticasse ações “subversivas”. Ao fim do período, os ministros reabriram o Congresso para que os parlamentares pudessem oficializar a escolha do novo presidente, o general Emílio Garrastazu Médici. Conhecido como “anos de chumbo”, o mandato de Médici foi caracterizado pela multiplicação das acusações de tortura e de desaparecimento de opositores. Espalharam-se pelo país os

ABUSOS INSTITUCIONAIS No Brasil da ditadura foram impostos ao todo 17 atos institucionais. Confira os principais

AI-1 (9 de abril de 1964)

Cassou mandatos e suspendeu a imunidade parlamentar, a vitaliciedade dos magistrados, a estabilidade dos funcionários públicos e outros direitos constitucionais.

AI-2 (27 de outubro de 1965)

Estabeleceu a eleição indireta para presidente, extinguiu partidos políticos e permitiu ao Executivo cassar mandatos.

AI-3 (5 de fevereiro de 1966)

Fixou eleições indiretas para governador, vice-governador, prefeito e vice-prefeito.

AI-4 (7 de dezembro de 1966)

Fechou o Congresso e determinou as regras para a aprovação da nova Constituição.

AI-5 (13 de dezembro de 1968)

Deu ao presidente plenos poderes para cassar mandatos, suspender direitos políticos, demitir e aposentar juízes e funcionários; acabou com a garantia do habeas corpus; ampliou e endureceu a repressão policial e militar.

124 GE HISTÓRIA 2017

centros de tortura do regime, ligados ao Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). A guerrilha urbana perdeu terreno nas capitais e tentou afirmar-se no interior, como no Araguaia, mas acabou enfraquecida e derrotada. Os dirigentes de esquerda Carlos Marighella e Carlos Lamarca foram mortos nessa época. Enquanto isso, o regime apelava ao ufanismo, tentando criar a imagem do “Brasil Grande” com projetos megalomaníacos, como a rodovia Transamazônica e slogans do tipo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Como trunfo, o governo alardeava o vigor da economia. De fato, entre 1969 e 1973, o Brasil viveu o “milagre econômico”, crescendo, em média, 11,1% ao ano. Tal pujança se deveu, entre outros fatores, a uma política de investimentos no setor financeiro, a subsídios e incentivos fiscais para a indústria e a agricultura, à imposição de um arrocho salarial, ao apoio às exportações e a intensos empréstimos no exterior. A euforia começou a se transformar em decepção com a eclosão da crise mundial do petróleo, ocorrida em 1973, e a escalada das taxas dos juros internacionais. Uma das consequências da política governamental, por exemplo, foi o salto vertiginoso da dívida externa no período, que passou de 3,5 bilhões para 17 bilhões de dólares.

Ernesto Geisel (1974-1979)

O presidente seguinte, o general Ernesto Geisel, enfrentou uma série de dificuldades econômicas e políticas. Era o fim do milagre, e a oposição se fortalecia, provocando temores na cúpula militar pela estabilidade do regime. Diante do contexto adverso, o governo decidiu iniciar um processo de liberalização controlada, e Geisel anunciou o projeto de abertura política “lenta, gradual e segura”. Ela, de fato, foi lenta e teve grandes solavancos. Apesar da diminuição das denúncias de tortura e da suspensão da censura prévia à imprensa, em outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi encontrado morto nas dependências do Exército, em São Paulo. Segundo a versão oficial, tratava-se de suicídio, mas protestos e manifestações públicas denunciavam a morte de Herzog por tortura.


Um ano depois, foi editada a Lei Falcão, que proibia o debate no rádio e na televisão. Mesmo assim, a oposição venceu as eleições legislativas. O MDB ampliou sua bancada de 12% para 30% no Senado. Na Câmara, o salto foi de 28% para 44%. Em 1977, ante a iminência de nova derrota eleitoral, Geisel fechou temporariamente o Congresso e editou um conjunto de regras eleitorais conhecido como Pacote de Abril. Entre as principais mudanças estavam a ampliação das bancadas do Norte e do Nordeste na Câmara dos Deputados – o que garantia maioria parlamentar à Arena –, o aumento do quórum para mudar a Constituição de 50% dos parlamentares para mais de dois terços (medida que seria decisiva, em 1984, para a não aprovação da emenda das Diretas Já) e a criação do senador biônico: dos três senadores de cada estado, um passou a ser escolhido diretamente pelos deputados estaduais. Em 1977, o regime assistiu ao ressurgimento do movimento estudantil e das greves. No ABC paulista, renasceu o movimento metalúrgico, liderado pelo torneiro mecânico Luiz Inácio da Silva. Em 1978, Geisel enviou ao Congresso emenda constitucional que acabava com o AI-5 e restaurava o habeas corpus. Com isso, abriu caminho para a volta gradual da democracia.

João Baptista Figueiredo (1979-1985)

A gestão do general João Baptista Figueiredo manteve o processo de abertura que culminaria na redemocratização. Em 1979, o presidente decretou a lei da anistia, que permitiu a libertação e a volta ao país dos opositores do regime. Entretanto, de acordo com a mesma lei, a anistia era ampliada aos próprios militares, que não poderiam ser processados pelos crimes cometidos durante a ditadura. No mesmo ano, o pluripartidarismo foi restabelecido e, em 1980, desapareceu a figura do senador biônico, e voltaram a vigorar as eleições diretas para governador. No pleito de 1982, foram eleitos 12 governadores pelo partido alinhado ao governo e dez pelas legendas de oposição, entre eles os governantes de estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além disso, a oposição garantiu maioria na Câmara Federal. Mas faltava ainda restabelecer a eleição direta para presidente da República. [1] AGENCIA JB [2] CARLOS NAMBA

TRANSIÇÃO Último presidente militar, o general João Figueiredo (à esquerda) seria sucedido por Tancredo Neves (à direita), que morreu antes de assumir o poder

[2]

O sucessor de Figueiredo deveria ser escolhido pelo Colégio Eleitoral em novembro de 1984. Um ano antes, porém, o deputado oposicionista Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou uma emenda à Constituição que previa a volta das eleições diretas para a Presidência. Ao mesmo tempo que a emenda tramitava no Congresso, a campanha ganhava as ruas de todo o país: eram as Diretas Já, e chegou a reunir 1,7 milhão de pessoas em São Paulo. Mas, apesar disso, a Emenda Dante de Oliveira não obteve os dois terços necessários para sua aprovação. O regime, contudo, estava definitivamente abalado. O PMDB e uma dissidência do PDS, ligado à ditadura, for-

maram a Aliança Liberal e lançaram o governador de Minas Gerais Tancredo Neves como candidato a presidente no Colégio Eleitoral. Em janeiro de 1985, ele obteve a maioria, com 480 votos, contra 180 de Paulo Maluf, do PDS. Tancredo, porém, adoeceu três dias antes da posse e morreu sem assumir. A Presidência foi ocupada pelo vice, José Sarney, cuja posse, em 15 de março de 1985, marcou o fim do longo regime militar no Brasil. PARA IR ALÉM Além de textos relevantes sobre o período da ditadura militar, o livro Os Cartazes Desta História – Resistir É Preciso, de Vladimir Sacchetta, Ricardo Carvalho e João Luiz del Roio, traz 243 pôsteres com mensagens contra os governos dos militares no país.

A HISTÓRIA HOJE COMISSÃO DA VERDADE IDENTIFICA CRIMINOSOS DA DITADURA

Instalada em maio de 2012 para investigar as violações contra os direitos humanos entre 1946 e 1988, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) teve como foco maior de atuação o período da ditadura militar, entre 1964 e 1985, quando as violações ocorreram de forma mais sistemática, por meio de torturas, assassinatos, sequestros e desaparecimento de opositores do regime. Entre outras ações, a investigação da CNV confirmou um dos casos mais emblemáticos da repressão: o deputado federal Rubens Paiva foi, de fato, morto nas dependências cariocas do DOI-Codi, o órgão de inteligência subordinado ao Estado. O relatório final, divulgado em 2014, lista 434 vítimas, entre mortos e desaparecidos, da repressão cometida pelo regime. Também é apresentada uma lista com a identificação de 377 responsáveis por crimes durante o período. A entidade defende que os 196 responsáveis ainda vivos sejam levados à Justiça. No entanto, a comissão não tem poderes para punir criminosos. Isso porque a Lei da Anistia, aprovada em 1979, livra de qualquer processo os que cometeram crimes como funcionários do Estado. A Corte Internacional de Direitos Humanos pressiona para que esses crimes sejam apurados e punidos. GE HISTÓRIA 2017

125


BRASIL REPÚBLICA NOVA REPÚBLICA

De volta à democracia Com o fim da ditadura, os governos civis se pautaram por solidificar as instituições democráticas e pelas tentativas de estabilizar a economia do país e retomar o crescimento

C

[1]

NOVOS RUMOS Em sessão presidida por Ulysses Guimarães, o Congresso promulga a Constituição de 1988

om o fim do regime militar, o Brasil voltou a eleger diretamente seus governantes. Os presidentes que se seguiram à ditadura tentaram resolver a crise econômica que emperrava o crescimento, adotando uma sequência de planos econômicos, muitos infrutíferos e com fins eleitoreiros.

Sarney apresentou mais três programas de estabilização: os planos Cruzado II, Bresser e Verão, todos sem sucesso. No fim de seu governo, a inflação ultrapassava 80% ao mês. Em 1988 foi promulgada a nova Constituição, que ampliou os direitos individuais e coletivos.

José Sarney (1985-1990)

Na primeira eleição direta para a Presidência desde 1960, o ex-governador de Alagoas Fernando Collor de Mello venceu, no segundo turno, sobretudo por causa do apoio de setores da mídia, o rival Luiz Inácio Lula da Silva, um dos fundadores do PT. A fim de debelar a inflação, Collor lançou, em março de 1990, seu programa de estabilização, o Plano Collor, baseado no confisco monetário de contas-correntes e de poupanças e no congelamento de preços e salários. Tais medidas visavam conter a demanda, numa visão errônea das causas inflacionárias. A inflação voltou a crescer, levando à nova crise econômica. O quadro se agravou com o surgimento de suspeitas de envolvimento de ministros e altos funcionários em uma grande rede de corrupção. Em maio, o Congresso instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar o caso e votou o impeachment (destituição) presidencial. Durante o julgamento no Senado, Collor renunciou. Mesmo assim, ele teve os direitos políticos cassados por oito anos, sendo substituído pelo vice, Itamar Franco.

Após a morte de Tancredo Neves, seu vice, José Sarney, tornou-se o primeiro presidente civil após 21 anos de regime militar. Os desafios iniciais não eram poucos: consolidar a democracia, realizar a reforma constitucional, estabilizar a economia e retomar o crescimento. Tudo num quadro de recessão e de inflação alta. Sarney revogou a legislação autoritária herdada dos governos militares, tomando medidas como o restabelecimento da eleição direta para a Presidência da República e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Para conter a inflação, o presidente lançou, em 1986, o Plano Cruzado. Os preços foram congelados, e os salários, reajustados. A estratégia teve bons resultados no início. Por todo o país, por exemplo, consumidores incorporaram o slogan de “fiscais do Sarney” para vigiar se o congelamento de preços dos produtos era respeitado. Entretanto, como os ajustes necessários no plano foram protelados para não prejudicar os candidatos do governo nas eleições estaduais, a economia se desequilibrou.

126 GE HISTÓRIA 2017

Fernando Collor de Mello (1990-1992)

Itamar Franco (1992-1995)

Em dezembro de 1992, Itamar Franco herdou o mesmo problema: a inflação elevada. Em julho de 1994, Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, anunciou o Plano Real, novo pacote econômico que mudou o nome da moeda para real, com valor cambial fixado em estreita paridade com o dólar. Dessa vez, o combate à inflação funcionou, abrindo espaço para a candidatura de FHC nas eleições seguintes.

Fernando Henrique Cardoso (1995-2003)

Apresentado ao eleitorado como o idealizador do Plano Real, FHC elegeuse presidente no primeiro turno, passando a praticar uma política neoliberal, que defende a intervenção mínima do Estado na economia. Privatizou empresas das áreas de siderurgia, mineração e telecomunicações. Em 1997, um ano antes das eleições que definiriam o sucessor de FHC, o governo aprovou a emenda que permitia a reeleição. FHC foi reeleito e deu continuidade ao Plano Real, promovendo ajustes para manter a inflação baixa. Mas surgiram sinais de recessão, o que levou à adoção de medidas para estancar a saída de divisas, como o aumento da taxa de juros. Em 1999, no início do seu segundo mandato, FHC utilizou o câmbio flutuante, desvalorizando o real, com vista a incentivar as exportações e a equilibrar as contas públicas. Em seu último ano no poder, FHC enfrentou


duras críticas: se o Plano Real trouxe benefícios, como o controle da inflação, também aprofundou o desemprego e a desnacionalização da economia. O desgaste de FHC garantiu o triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito presidencial de 2002.

Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)

Lula tomou posse em janeiro de 2003, após ter sido derrotado em três eleições presidenciais consecutivas. Principal nome da esquerda nacional, Lula iniciou o mandato cercado por expectativas de mudanças na condução da política nacional. Mas os dois primeiros anos de mandato do petista frustrariam seus seguidores mais antigos. A pretexto de garantir a tranquilidade econômica, Lula manteve os princípios adotados por seu antecessor. A contenção da inflação, por meio da obtenção de altos superávits primários e juros elevados, impediu o investimento na produção e manteve o freio no crescimento. No âmbito político, em meados de 2005 surgiria o mais grave escândalo de seu governo, o chamado mensalão.

Denúncias deflagradas pela imprensa apontaram a existência de um esquema de compra de votos no Congresso Nacional para reforçar a base de apoio do governo. Isso envolveu membros do governo, deputados, banqueiros e empresários. A aprovação de Lula caiu, mas o presidente conseguiu se reeleger em segundo turno, derrotando o candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006. Em sua segunda gestão, marcada pela deliberada expansão do Estado e por uma agressiva política de redistribuição de renda, o país viveria anos de crescimento, avanços sociais e relativa tranquilidade política. O segundo governo de Lula combateu a desigualdade por meio da ampliação de programas sociais, como o Bolsa Família, e da política de valorização do salário mínimo, com reajustes acima da inflação. O segundo governo Lula também seria beneficiado pela alta das commodities agrícolas, impulsionadas pela abertura ao mercado consumidor chinês. Com aprovação de 83%, Lula elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher a governar o Brasil.

SAIU NA IMPRENSA INFLAÇÃO FECHA 2015 COM ALTA DE 10,67%, A MAIOR DESDE 2002 A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2015 com alta de 10,67%, a maior taxa anual desde 2002 (12,53%), informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (...) Os chamados preços administrados foram os principais responsáveis pela volta da inflação ao patamar de dois dígitos, o que não se via há 13 anos. Esses são os itens cujos preços são controlados pelo governo – como energia, gasolina, gás de cozinha e plano de saúde. (...) Com as fortes altas de energia, gasolina (20,10%), ônibus urbano (15,09%), taxa de água e esgoto (14,75%) e gás de botijão (22,55%), o ano de 2015 fechou com uma alta de 18,08% nos preços administrados. Já os serviços subiram em menor ritmo, 8,09%. (...) O Estado de S.Paulo, 8/1/2016

A ERA DOS PLANOS Confira o que foi cada um dos pacotes econômicos baixados pelo governo na Nova República e como eles influenciaram a inflação e a variação do crescimento da nossa economia Inflação* (%)

PIB (%)

1.782,8

1.037,5

2.708,4 1.476,7

909,7

480,2

415,9

235,1

1.157,8

65 14,8

7,85

1985

7,49

1986

3,53

-0,06

3,16

-4,35

1,03

-0,54

1987

1988

1989

1990

1991

1992

4,92 1993

5,85 1994

9,3

4,22

2,15

1995

1996

20 7,5

9,8

10,4

4,31

1,31

2000

2001

1,7

3,38

0,04

0,25

1997

1998

1999

* IGP-DI Fonte: Banco Central Obs: gráfico sem proporção precisa de escala PLANO CRUZADO

PLANO BRESSER

PLANO VERÃO

PLANO COLLOR

PLANO REAL

Implantado em fevereiro de 1986 pelo ministro da Fazenda, Dilson Funaro, do governo José Sarney, combina austeridade fiscal e monetária com a preocupação de elevar a renda dos assalariados. Muda a moeda de cruzeiro para cruzado, congela preços e salários, extingue a correção monetária e cria o seguro-desemprego e o gatilho salarial. No plano externo, o governo decreta moratória e suspende o pagamento das dívidas do país. Porém, medidas de ajuste no plano, chamadas de Cruzado II, são adiadas para depois das eleições de novembro de 1986, comprometendo a eficácia do programa.

Em 1987, o novo ministro da Fazenda do governo Sarney, Luís Carlos Bresser Pereira, lança o Plano Bresser, voltado principalmente para o equilíbrio das contas públicas. Além do congelamento de preços e salários, aumenta as tarifas públicas e extingue o gatilho salarial. No plano externo, mantém a moratória. Também não dá resultado no que se refere ao controle da inflação.

Em 1989, ainda durante o governo Sarney, o ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, implanta o Plano Verão. Busca deter a inflação pelo controle do déficit público, privatização de empresas estatais e demissão de funcionários. A moeda muda de cruzado para cruzado novo. Além de não evitar a elevação acelerada da inflação, causa forte recessão.

O governo Collor toma posse em março de 1990 implantando o Plano Collor, que é baseado em um inédito confisco monetário, com a retenção do dinheiro das contas-correntes, da poupança e dos diversos tipos de aplicação financeira. Há ainda o congelamento de preços e salários. A moeda muda de cruzado novo para cruzeiro. Inicia-se também o processo de abertura econômica, facilitando a entrada de mercadorias e capitais estrangeiros no país.

Em julho de 1994, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, do governo Itamar Franco, lança o Plano Real, que se apoia no corte dos gastos públicos, na privatização de estatais, na elevação dos juros e no incentivo à abertura econômica. A moeda, que havia mudado de cruzeiro para cruzeiro real em agosto de 1993, muda para real em julho de 1994. Durante o governo FHC, que toma posse em 1995, o Plano Real segue apresentando bons resultados no combate à inflação.

[1] CLAUDIO VERSIANI

GE HISTÓRIA 2017

127


BRASIL REPÚBLICA LINHA DO TEMPO

República Acompanhe um resumo da história republicana. Os fatos com indicação de página referem-se aos temas que mais caem nos vestibulares.

1903

1910

1937

Pelo Tratado de Petrópolis, o Brasil compra da Bolívia o Acre, região que havia sido invadida por seringueiros brasileiros no fim do século XIX, com o ciclo da borracha.

No Rio de Janeiro, irrompe a Revolta da Chibata. Pág. 117

Getúlio Vargas implanta a ditadura do Estado Novo. A quarta Constituição é outorgada, oficializando o regime. Pág. 119

1891

1904

É promulgada a segunda Constituição brasileira, a primeira da República. Em seguida, Deodoro da Fonseca é oficialmente eleito, pelo Congresso, o primeiro presidente do Brasil. Pág. 114

A Revolta da Vacina ocorre no Rio de Janeiro. Pág. 115 [2] [1]

1891

1932

Deodoro renuncia. O vice, marechal Floriano Peixoto, assume a Presidência. Pág. 114

1890

1900

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, é morto a mando do governo em Sergipe. Ele é o maior expoente do cangaço. O movimento entra para a história como expressão da revolta contra a pobreza e o abandono dos sertanejos.

Inicia-se a Revolução Constitucionalista de 1932. Pág. 118

1910

1920

1938

1930

1940

1950

1889-1930

1893

1897

1922

1935

1942

Vigência da República Velha, como é conhecido o período que compreende a República da Espada e a República Oligárquica.

Oficiais da Marinha dão início à Revolta da Armada. Pág. 114

O governo federal massacra o povoado de Canudos, fundado pelo líder políticoreligioso Antônio Conselheiro. Pág. 116

A Revolta dos 18 do Forte é a primeira das Revoltas Tenentistas, fruto da insatisfação de setores militares com a República Velha. O maior desses levantes é a Coluna Prestes, que tem início em 1924. Pág. 117

Inspirada nas frentes populares europeias antifascistas, é criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL). No mesmo ano, é organizada a Intentona Comunista. Pág. 118

O Brasil entra na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados. O primeiro contingente é deslocado em 1944. Pág. 119

1912

1930

Um violento conflito social ocorre no Contestado, área disputada por Santa Catarina e Paraná. Pág. 116

A Revolução de 1930 põe fim à República Velha. É o início do Primeiro Governo Vargas. Pág. 118

1893 No Rio Grande do Sul, eclode a Revolta Federalista. Pág. 114

1889 Logo após proclamar a República, o marechal Deodoro da Fonseca assume provisoriamente o governo do país. É o início da República da Espada, que dura até 1894. Pág. 114

1894 Prudente de Moraes é eleito, pelo voto direto, o primeiro presidente civil brasileiro. Começa a República Oligárquica. Pág. 115

[5]

1945

[3]

[4]

128 GE HISTÓRIA 2017

Getúlio Vargas renuncia. Eurico Gaspar Dutra é eleito presidente e toma posse no ano seguinte, quando promulga a quinta Constituição brasileira. É o início da República Democrática. Pág. 120


[6]

1951 Reeleito, dessa vez por voto direto, Getúlio Vargas assume a Presidência. Ele permanece no cargo até 1954, quando se suicida. Pág. 120

1968

1974

Costa e Silva fecha o Congresso e decreta o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que institucionaliza a repressão. Pág. 124

O general Ernesto Geisel assume a Presidência. Ele inicia a abertura política “lenta, segura e gradual”. Pág. 124

[7]

1964 João Goulart é deposto pelos militares, que impõem um regime autoritário. É o início da ditadura militar. Pág. 122

1969

1979

1984

O general Emílio Garrastazu Médici é empossado presidente. Ele comanda o período mais brutal da ditadura, batizado de anos de chumbo. Pág. 124

É sancionada a lei que concede anistia aos acusados ou condenados por crimes políticos. Pág. 125

O movimento pelas eleições diretas para presidente cresce, e grandes comícios ocorrem nas principais cidades brasileiras, sob o lema Diretas Já. Pág. 125

1992

1994

Acusado de corrupção, Collor tem processo de impeachment aberto na Câmara, é afastado e renuncia. Seu vice, Itamar Franco, o substitui. Pág. 126

É lançado o Plano Real. O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, elege-se presidente. Em 1999 tem início seu segundo mandato. Pág. 126

[8]

1960

1970

1980

1990

2000

2010

1967

1973

1985

1990

É aprovada a sexta Constituição brasileira, institucionalizando a ditadura. Pág. 123

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ultrapassa 14%. É o auge do milagre econômico. Pág. 124

O governo lança o Plano Collor, que também não consegue conter a inflação. Pág. 126

1956

1968

1978

Após uma série de governos provisórios, Juscelino Kubitschek é empossado presidente. Pág. 121

Contra as violentas ações repressivas do governo, é realizada no Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil. Pág. 123

Os sindicatos começam a reorganizar-se, e Luiz Inácio Lula da Silva, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, lidera a primeira greve do ABC paulista desde 1964. Pág. 125

O civil Tancredo Neves é eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, mas morre antes de ser empossado. Seu vice, José Sarney, torna-se o primeiro presidente civil desde o início do Regime Militar. Pág. 125

[9]

1961 Jânio Quadros assume como presidente, mas renuncia em agosto. A posse de João Goulart, tido como esquerdista, é aceita com a condição de o Congresso instituir o parlamentarismo. Só em 1963 o presidencialismo é restaurado. Pág. 121

1986 O governo Sarney lança o Plano Cruzado. Pág. 126

1988

2010

É promulgada a sétima Constituição brasileira, atualmente em vigor. Pág. 126

Eleito em 2002 e reeleito em 2006, Lula sai de seu segundo mandato com prestígio suficiente para eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher a governar o país.

1989

[10]

[1] REPRODUÇÃO/RENATO CHAUÍ [2] [3] [6] [8] REPRODUÇÃO [4] CLARO JANSSON [5 ] FORÇAS ARMADAS/FAB [7] ORLANDO BRITO [9] DIVULGAÇÃO [10] IRMO CELSO [11] ROBERTO STUCKERT FILHO

Ocorrem as primeiras eleições diretas para a Presidência desde 1960. O vencedor é Fernando Collor de Mello. Pág. 126

[11]

GE HISTÓRIA 2017

129


COMO CAI NA PROVA

1. (FGV-RJ 2016) A imagem a seguir é uma foto que retrata a

marcha dos “18 do Forte”, ocorrida em 5 de julho de 1922, quando o Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi tomado durante um levante militar.

ações do governo, através da criação do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda. d) A política externa do governo Vargas foi marcada pelo apoio irrestrito aos EUA em troca de vantagens econômicas. Isso levou o país a enviar um contingente militar para a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – a Força Expedicionária Brasileira (FEB) –, a fim de lutar contra o Eixo ao lado de tropas norte-americanas. e) Na fase final do regime, Getúlio evitou a sua deposição, permitindo a volta das eleições e a criação de novos partidos, como a UDN, o PTB e o PSD. Dessa maneira, conseguiu manter-se politicamente atuante na democracia, elegendo-se novamente presidente em 1950. RESOLUÇÃO

Esse movimento está relacionado a) à indignação dos militares, em relação à política externa brasileira, considerada subserviente aos interesses norteamericanos. b) à reação contra a chamada Coluna Prestes, que percorria o interior do Brasil combatendo as forças do Exército. c) à repressão ao Partido Comunista Brasileiro, que acabara de ser fundado por influência da Revolução Bolchevique. d) aos interesses das elites de São Paulo e Minas Gerais, que estimulavam o levante contra o centralismo do Rio de Janeiro. e) ao tenentismo, movimento nacionalista que propunha reformas na estrutura do poder político oligárquico do país. RESOLUÇÃO

O tenentismo foi um movimento militar realizado por jovens oficiais do Exército, oriundo das classes médias surgidas e/ou fortalecidas após a industrialização ocorrida durante a I Guerra Mundial. Entre suas reivindicações, presentes no chamado Ideal de Salvação Nacional, estavam a moralização da política nacional, por meio da derrubada das oligarquias dominantes e da instituição do voto secreto, e a ampliação do ensino público de base. Não eram, no entanto, revolucionários, mas sim reformistas. Os tenentistas chegaram a tomar o forte de Copacabana, como diz o enunciado da questão, mas o movimento foi controlado pelo governo, e a maioria dos líderes acabou sendo morta. Resposta: E

2. (PUC-RS 2015) Sobre as políticas e medidas adotadas por Ge-

túlio Vargas, durante o Estado Novo, é correto afirmar: a) Nesse período, Getúlio Vargas completou a sua política trabalhista, criando o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1942, e instituindo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. b) O governo desenvolveu uma política de incentivo à industrialização, inibindo a importação de bens manufaturados e criando algumas empresas estatais importantes, como a Cia Siderúrgica Nacional, a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Petrobras. c) Vargas desenvolveu uma política autoritária de repressão aos opositores, com censura ferrenha à imprensa e ampla propaganda das

130 GE HISTÓRIA 2017

Para responder à questão, é necessário conhecer as principais realizações dos governos de Getúlio Vargas e saber relacionálas aos diferentes períodos em que ele esteve na presidência do Brasil. A questão trata da ditadura do Estado Novo, o regime que vigorou entre 1937 e 1945 e tinha como principais características o autoritarismo, o centralismo e o corporativismo. A alternativa a aborda duas medidas que, de fato, foram implementadas por Getúlio Vargas. No entanto, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio data de 1930 e não de 1942, como indica de forma equivocada a alternativa. Já a Consolidação das Leis do Trabalho foi mesmo criada em 1943. A alternativa b está errada porque a Petrobras surgiu apenas em 1953, durante o segundo governo de Vargas (1951-1954). Já a Cia. Siderúrgica Nacional foi criada em 1941 e a Fábrica Nacional de Motores surgiu em 1942, ambas no período correspondente ao Estado Novo. A alternativa correta é a c, que trata da política repressiva do Estado Novo, cujo principal marco é a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), para divulgar as ações do governo e vigiar ideologicamente os meios de comunicação. A alternativa d está errada porque Vargas era simpatizante do ideário fascista, e o alinhamento com os Estados Unidos só se concretizou com o envio de um contingente militar brasileiro para lutar na II Guerra Mundial ao lado dos aliados em 1944. Em troca, o Brasil recebeu apoio financeiro para a construção de grandes obras. Por fim, a alternativa e está errada porque Getúlio foi deposto. Resposta: C

3. (UNESP 2016) Brasília simbolizou na ideologia nacional-desen-

volvimentista o “futuro do Brasil”, o arremate e a obra monumental da nação a ser construída pela industrialização coordenada pelo Estado planificador, pela ação das “forças do progresso” (aquelas voltadas para o desenvolvimento do “capitalismo nacional”), que paulatinamente iriam derrotar as “forças do atraso” (o imperialismo, o latifúndio e a política tradicional, demagógica e “populista”). José William Vesentini. A Capital da Geopolítica, 1986.)

Segundo o texto, a construção de Brasília deve ser entendida a) como uma tentativa de limitar a migração para o centro do país e de reforçar o contingente de mão de obra rural. b) dentro de um conjunto de iniciativas de caráter liberal, que buscava eliminar a interferência do Estado nos assuntos econômico-financeiros.


RESUMO

c) dentro do rearranjo político do pós-Segunda Guerra Mundial, que se caracterizava pelo clima de paz nas relações internacionais. d) dentro de um amplo projeto de redimensionamento da economia e da política brasileiras, que pretendia modernizar o país. e) como um esforço de internacionalização da economia brasileira, que provocaria aumento significativo da exportação agrícola. RESOLUÇÃO

O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) tinha como projeto fundamental o desenvolvimentismo, resumido no slogan “50 anos de progresso em 5 anos de governo” e no Plano de Metas. A construção de Brasília era considerada a “meta síntese” do projeto, procurando demonstrar que as modernizações política e econômica finalmente haviam se concretizado. Dentro dessa visão, JK acreditava que a transferência da capital, que migrava do litoral do Sudeste para a região Centro-Oeste do país, poderia integrar melhor o território nacional e estimular o desenvolvimento do interior. Durante o mandato de JK, o Estado fez pesados investimentos em setores estratégicos da economia, que impulsionaram o crescimento do país, mas provocaram grande endividamento externo e alta da inflação. Resposta: D

4. (FATEC 2015) No dia 25 de janeiro de 1984, milhares de pesso-

as se reuniram na Praça da Sé, na cidade de São Paulo, para a realização do primeiro grande comício de um movimento que se espalharia por todo o Brasil e ficaria conhecido na história nacional como ‘Diretas Já’: Sobre esse movimento é correto afirmar que a) foi um dos movimentos de maior participação popular da história do Brasil e pedia, após quase vinte anos de ditadura, a realização de eleições diretas para presidente da República. b) foi bem-sucedido em suas pretensões e, em abril daquele mesmo ano, a população foi às urnas pela primeira vez para eleger o presidente da República. c) ocorreu no momento em que a população brasileira foi chamada a decidir, via plebiscito, entre os sistemas parlamentarista e presidencialista de governo. d) foi comandado pelas classes sociais mais altas, banqueiros e empresários, que receberam apoio dos Estados Unidos para garantir a continuidade da ditadura. e) ocorreu por iniciativa dos militares, preocupados em preparar a população civil para a participação na vida política do regime democrático que se iniciava. RESOLUÇÃO

O movimento das Diretas Já foi uma tentativa de, por meio de iniciativas populares lideradas por grupos de oposição ao regime militar, pressionar o Congresso a aprovar a Emenda Constitucional proposta pelo deputado Dante de Oliveira, do PMDB, que reivindicava que as eleições seguintes, marcadas para janeiro de 1985, fossem diretas. Apesar de a Emenda ter recebido a maioria dos votos favoráveis, não atingiu os 2/3 dos deputados, número necessário para a sua aprovação. Resposta: A

Brasil República REPÚBLICA DA ESPADA No início do período republicano (1889 a 1894), o Brasil foi governado por militares. Em 1891, o país ganhou uma nova Constituição. Em seguida, o marechal Deodoro da Fonseca foi eleito, pelo Congresso, o primeiro presidente brasileiro. Foi sucedido pelo marechal Floriano Peixoto, que enfrentou a Revolta da Armada, promovida por oficiais da Marinha, e a Revolta Federalista, na Região Sul. O período foi marcado por uma grave crise econômica. REPÚBLICA OLIGÁRQUICA As elites de São Paulo e Minas Gerais controlaram a vida política nacional entre 1894 e 1930, por meio da chamada política do “café com leite”. Nesse período, paulistas e mineiros contaram com o apoio dos coronéis (líderes políticos regionais) para sustentar seu poder. Mas os governantes tiveram que enfrentar rebeliões no Arraial de Canudos e no Contestado. A República Oligárquica teve fim com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. PRIMEIRO GOVERNO VARGAS Vargas assumiu o poder provisoriamente. Enfrentou a Revolução Constitucionalista de 1932, fruto do descontentamento dos paulistas, e foi eleito, de forma indireta, dois anos depois. Em 1937, legitimou um autogolpe e inaugurou o Estado Novo. Seu governo nacionalista e populista foi marcado por avanços nas políticas sociais e econômicas e pelo caráter autoritário. Em 1945, Getúlio foi deposto. REPÚBLICA DEMOCRÁTICA Entre o Estado Novo e a ditadura militar (1964), o Brasil viveu forte tensão entre conservadores e progressistas. Em 1951, Getúlio voltou ao poder, mas não resistiu à pressão oposicionista e se suicidou em 1954. Foi sucedido por Juscelino Kubitschek, cujo governo desenvolvimentista foi responsável pela inauguração de Brasília. Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, o parlamentarismo foi instituído no país. João Goulart governou sob forte radicalização política e acabou deposto num golpe militar. DITADURA MILITAR Durante 21 anos, o país viveu sob o signo do autoritarismo. Os militares implementaram medidas arbitrárias, como o fechamento do Congresso, o endurecimento da repressão e a violação dos direitos civis. O processo de abertura foi gradual. A campanha pela volta das eleições diretas para a Presidência (Diretas Já) ganhou as ruas, mas a medida não foi aprovada pelo Congresso. O regime militar terminou em 1985 com a posse do presidente José Sarney. NOVA REPÚBLICA O maior desafio dos governos civis que se sucederam no comando do país a partir da redemocratização foi colocar a economia nos trilhos. Vários planos econômicos fracassaram nos governos Sarney e Collor. Na esteira do sucesso do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente e controlou a inflação. Seu sucessor, o ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, implantou medidas sociais de impacto.

GE HISTÓRIA 2017

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RAIO X DECIFRE OS ENUNCIADOS E VEJA AS CARACTERÍSTICAS TÍPICAS DAS QUESTÕES QUE CAEM NAS PROVAS FUVEST 2016 – 1a FASE Examine o gráfico. [1] [2]

[3] [3]

O gráfico fornece elementos para afirmar: a) A despeito de uma ligeira elevação, o tráfico negreiro em direção ao Brasil era pouco significativo nas primeiras décadas do século XIX, pois a mão de obra livre já estava em franca expansão no país. b) As grandes turbulências mundiais de finais do século XVIII e de começos do XIX prejudicaram a economia do Brasil, fortemente dependente do trabalho escravo, mas incapaz de obter fornecimento regular e estável dessa mão de obra. c) Não obstante pressões britânicas contra o tráfico negreiro em direção ao Brasil, ele se manteve alto, contribuindo para que a ordem nacional surgida com a Independência fosse escravista. d) Desde o final do século XVIII, criaram-se as condições para que a economia e a sociedade do Império do Brasil deixassem de ser escravistas, pois o tráfico negreiro estava estagnado. e) Rapidamente, o Brasil aderiu à agenda antiescravista britânica formulada no final do século XVIII, firmando tratados de diminuição e extinção do tráfico negreiro e acatando as imposições favoráveis ao trabalho livre.

1 Cada vez mais os grandes vestibulares e o Enem exigem análise de gráficos em suas provas. Saber interpretar as informações apresentadas dentro do contexto a que eles se referem é fundamental para um bom desempenho na prova. 2 Fique atento para o período estabelecido pela questão e tente relacionar esta época com o contexto histórico do Brasil. O gráfico delimita o período de entrada de negros no território brasileiro, iniciando no final do século XVIII, quando a mineração se encontrava praticamente esgotada, e as primeiras décadas do século XIX, momento pós-independência e de início da produção cafeeira voltada para a exportação. 3 No período determinado pelo gráfico, podemos identificar uma série de acontecimentos significativos – alguns deles têm relação direta com a variação da curva nele presente. Vale a pena observar dois acontecimentos: 1810 – Assinatura dos Tratados de Aliança e Amizade entre Portugal e Inglaterra. Note a queda no número de navios negreiros que chegaram ao Brasil a partir daí, devido ao compromisso da Coroa portuguesa de reduzir o comércio de escravos. 1822 – A Independência do Brasil é concretizada. Perceba um aumento no número de navios negreiros entrando no Brasil entre 1821 e 1822. Sem as limitações impostas pelo pacto colonial, a elite agrária e escravista pôde intensificar a compra de escravos. Apesar de uma queda no início da década, decorrente da montagem do Estado pós-independência, note que durante os anos de 1820 o comércio cresceu de forma significativa, demonstrando a dependência do Brasil em relação à mão de obra escrava negra.

DICAS PARA A RESOLUÇÃO A Lembre-se de que foi apenas a partir da segunda metade do século XIX que a mão de obra dos imigrantes

europeus passou a entrar de forma maciça no Brasil. A curva ascendente do gráfico desmente a afirmativa.

B As “grandes turbulências” podem ser compreendidas como a Revolução Francesa e a expansão napoleônica, que não prejudicaram o fornecimento de escravos, como mostra o gráfico. C ESTA É A ALTERNATIVA CORRETA. Pelos Tratados de Aliança e Amizade, em 1810, Portugal concordou em reduzir gradativamente a entrada de negros no Brasil. Mas, mesmo com seu compromisso com os britânicos, a Coroa manteve o comércio, garantindo a manutenção da economia escravista. D e E Uma simples análise do gráfico, que mostra uma curva ascendente durante praticamente todo o período em questão, anula as alternativas.

132 GE HISTÓRIA 2017


FUVEST 2015 – 2a FASE Examine a seguinte imagem: [1] 1 Além dos gráficos, cada vez mais os grandes vestibulares e o Enem têm exigido a análise de imagens, podendo ser uma charge, um mapa, uma história em quadrinhos, uma fotografia ou uma pintura, como é o caso desta questão. [3] [3]

[3]

[3]

[3]

Louis-Michel van Loo e Claude Joseph Vernet – O Marquês de Pombal, 1766. [2]

2 Note que, além do nome da obra, que se refere ao Marquês de Pombal, a única outra informação escrita relevante para a resolução da questão é o período histórico por ela retratado. No caso, trata-se da segunda metade do século XVIII em Portugal. Portanto, pelo nome da obra e pelo período, fica claro que a questão exige conhecimentos da Administração Pombalina. 3 Portanto, para se dar bem nesta questão, você deve analisar os principais elementos apresentados pela pintura. Nesta obra, podemos ver o Marquês de Pombal sentado, apontando para as embarcações atrás de si. Note que à direita há uma banqueta com algumas folhas de papel que parecem ser mapas e plantas arquitetônicas. Ao fundo também se veem algumas edificações, além de uma fumaça preta no céu.

a) Identifique e analise dois elementos representados na imagem, relativos ao contexto sociopolítico de Portugal na segunda metade do século XVIII. b) Aponte e explique uma medida relativa ao Brasil, adotada por Portugal nessa mesma época. DICAS PARA A RESOLUÇÃO A Com base na leitura visual da obra, você precisa recapitular alguns dos principais acontecimentos em

Portugal nesse período. O elemento mais evidente na imagem é a presença do Marquês de Pombal. Representante do Despotismo Esclarecido em Portugal, Pombal, ministro do rei dom José I entre 1750 e 1777, foi responsável pela tentativa de conciliação do absolutismo lusitano com o ideário iluminista, promovendo uma série de modernizações visando a realização de dois objetivos fundamentais: reduzir o poder da ordem dos jesuítas e a influência econômica da Inglaterra sobre Portugal. Outro elemento presente na imagem são as embarcações, que representam a valorização da burguesia, beneficiada pelo comércio ultramarino e pela exploração das colônias no além-mar, notadamente o Brasil. Perceba sua mão esquerda apontando para os navios e para o oceano, demonstrando a importância da atividade marítimo-comercial e das colônias para a realização de seus projetos. Uma outra referência que pode ser notada na pintura, produzida em 1766, são os mapas à frente do marquês. Onze anos antes, em 1755, Lisboa foi abalada por um terremoto seguido de um grande incêndio e dois tsunamis, que destruíram quase toda a cidade. Um dos objetivos imediatos de Pombal era a reconstrução da sede do Império. Note que os mapas retratam desenhos de prédios, fazendo uma referência à reconstrução da cidade que estava em curso. Alguns estudiosos de arte afirmam, também, que a nuvem preta ao fundo seria a fumaça provocada pelo incêndio após o terremoto, em mais uma referência à necessidade da reconstrução da capital.

B A análise da imagem não ajuda a responder a questão b, mas você pode aproveitar aqui a linha de raciocínio desenvolvida para resolver a questão a. Portanto, tente abordar a questão da seguinte forma: como o Iluminismo e as questões econômicas afetaram as relações entre metrópole e colônia? Visando à reorganização administrativa nos moldes do Iluminismo, bem como uma maior eficiência na fiscalização sobre a colônia, a administração de Pombal realizou uma série de intervenções no Brasil. Neste caso, destacam-se a instituição da derrama, a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, a expulsão dos jesuítas e a extinção das Capitanias Hereditárias. GE HISTÓRIA 2017

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SIMULADO QUESTÕES SELECIONADAS ENTRE OS MAIORES VESTIBULARES DO PAÍS COM RESPOSTAS COMENTADAS

1. (FUVEST 2015) Examine estas imagens produzidas no antigo Egito:

d) Na verdade, era mais demagógico do que democrático, pois negava a representação direta dos cidadãos atenienses. e) O fato de não existir escravos em Atenas proporcionava uma participação quase total da população ateniense na vida política da Cidade-Estado.

3. (ESAMC 2014) Leia os excertos abaixo: As imagens revelam a) o caráter familiar do cultivo agrícola no Oriente Próximo, dada a escassez de mão de obra e a proibição, no antigo Egito, do trabalho compulsório. b) a inexistência de qualquer conhecimento tecnológico que permitisse o aprimoramento da produção de alimentos, o que provocava longas temporadas de fome. c) o prevalecimento da agricultura como única atividade econômica, dada a impossibilidade de caça ou pesca nas regiões ocupadas pelo antigo Egito. d) a dificuldade de acesso à água em todo o Egito, o que limitava as atividades de plantio e inviabilizava a criação de gado de maior porte. e) a importância das atividades agrícolas no antigo Egito, que ocupavam os trabalhadores durante aproximadamente metade do ano.

2. (UPF 2014) Nunca, em toda a história da humanidade, a demo-

cracia, como regime de governo, recebeu atenção como nos dias de hoje. Entendida como um regime de governo no qual todas as importantes decisões políticas estão com o povo, que elege seus representantes por meio do voto, tem princípios que protegem a liberdade humana e baseia-se no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias. Atenas, na Grécia antiga, é considerada o berço da democracia. Sobre o regime democrático ateniense, é correto afirmar: a) Era baseado na eleição direta dos representantes nas Assembleias Legislativas, que se reuniam uma vez por ano na Ágora e deliberavam sobre os mais variados assuntos. b) Apenas os homens livres e proprietários eram considerados cidadãos e participavam diretamente das decisões tomadas na Cidade-Estado. c) As mulheres maiores de 21 anos tinham um papel fundamental, participando ativamente nas decisões tomadas nas assembleias da Cidade-Estado.

134 GE HISTÓRIA 2017

Espártaco é singular entre os guerreiros do mundo antigo, e também da maioria dos outros mundos. [...] A maioria dos grandes comandantes da história obteve suas conquistas em busca de poder, dinheiro, fama e riqueza. Alexandre, o Grande, disse que se não houvesse mais mundos para conquistar, iria competir consigo mesmo. [...] Mas Espártaco lutou para se livrar dos grilhões da escravidão, para ser um homem livre e permitir que outros miseráveis da Terra também se libertassem do jugo de Roma. MCLYNN, Frank. Heróis & Vilões. SP: Larousse, 2007, p. 11.

A ex-escrava Francisca da Silva viveu no arraial do Tejuco durante o período da mineração, no século XVIII. Ela foi casada não oficialmente com o contratante de diamantes João Fernandes de Oliveira. [...] Chica recebeu alforria em 1753. Pode-se dizer que ao longo de sua vida atravessou diferentes esferas da sociedade colonial. Ela transitou por diferentes mundos e sua história representou as fortes contradições da colônia. Do cativeiro à liberdade. De escrava a senhora de escravos. RAMOS, Fábio Pestana e MORAIS, Marcus Vinícius de. Eles Formaram o Brasil. SP: Contexto, 2010, p. 221.

Os dois fragmentos tratam de momentos distintos da história da escravidão no mundo: o primeiro remete à Antiguidade Romana, enquanto o segundo trata da escravidão no Brasil do século XVIII. A análise atenta de seu conteúdo nos mostra que a melhor relação entre eles se encontra na seguinte alternativa: a) Apesar do romano Espártaco lutar contra a escravidão de seu povo, a essência de sua luta se assemelha à situação de Chica da Silva como dona de escravos, uma vez que povos derrotados por ele foram escravizados. b) A ex-escrava Chica da Silva possuir escravos após sua libertação pode ser explicado pelo fato de, ao contrário do romano Espártaco, não se lutar pelo fim da instituição escravidão no Brasil colonial, mas pela liberdade individual. c) Ao contrário de Espártaco, que conseguiu sua liberdade com lutas contra Roma, Chica da Silva foi presenteada com a alforria. Apesar disto, depois da libertação ambos se tornaram senhores de escravos. d) Ao contrário de Roma à época de Espártaco, o Brasil do século XVIII não mais possuía a escravidão como uma de suas bases de sustentação, por isto Chica da Silva foi alforriada, enquanto o romano teve de lutar por sua liberdade.


e) A escravidão é uma das bases da economia tanto na Roma antiga como no Brasil setecentista, a diferença entre os modelos consiste na possibilidade da alforria ser concedida no Brasil, enquanto em Roma não.

4. (UNESP 2016) Eis dois homens à frente: um, que quer servir; o ou-

tro, que aceita, ou deseja, ser chefe. O primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de submissão, cujo sentido, por vezes, era ainda acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece “o homem” de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram estes – muito simples e, por isso mesmo, eminentemente adequados para impressionar espíritos tão sensíveis às coisas – os gestos que serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a época feudal conheceu. Marc Bloch. A Sociedade Feudal, 1987.

Miniatura do Liber feudorum Ceritaniae, século XIII

a) A crise econômica decorrente do final do Império Romano, a guerra constante, as invasões bárbaras, a baixa demográfica, as pestes, tudo isso aliado a um forte conteúdo religioso de punição divina aos pecados contribuiu para o clima de insegurança medieval. b) A peste bubônica provocou redução drástica na demografia medieval, levando a crenças milenaristas e apocalípticas, sufocadas, por sua vez, pela rápida ação da Igreja, disponibilizando recursos médicos e financeiros para a erradicação das várias doenças que afetam seus fiéis. c) O clima de insegurança que predominou em toda a Idade Média decorreu das guerras constantes entre nobres – suseranos – e servos – vassalos –, contribuindo para a emergência de teorias milenaristas no continente. d) As enfermidades que afetavam a população em geral contribuíram para a demonização de algumas práticas sociais, como o hábito de usar talheres nas refeições, adquirido, por sua vez, no contato com povos bizantinos. e) A certeza da punição divina a pecados cometidos pelos humanos predominava na mentalidade medieval; por isso, nos vários séculos do período, eram constantes os autos de fé da Inquisição, incentivando a confissão em massa, sempre com tolerância e diálogo.

6. (PUC-RIO 2014)

(www.mcu.es)

O texto e a imagem referem-se à cerimônia que a) consagra bispos e cardeais. b) estabelece as relações de vassalagem. c) estabelece as relações de servidão. d) consagra o poder municipal. e) estabelece as relações de realeza.

5. (MACKENZIE 2014) Aquilo que dominava a mentalidade e a sensibilidade dos homens da Idade Média era o seu sentimento de insegurança (...) que era, no fim das contas, a insegurança quanto à vida futura, que a ninguém estava assegurada (...). Os riscos da danação, com o concurso do Diabo, eram tão grandes, e as probabilidades de salvação, tão fracas que, forçosamente, o medo vencia a esperança.

Jacques Le Goff. A Civilização do Ocidente Medieval.

O mundo medieval configurou-se a partir do medo da insegurança, como retratado no texto acima. Encontre a alternativa que melhor condiz com o assunto.

A imagem acima, “A Escola de Atenas”, é considerada uma das maiores obras de arte renascentista. Foi elaborada sob a forma de afresco, realizado entre os anos de 1506-1510, sob encomenda do Vaticano para ornar um dos aposentos do palácio principal. Rafael Sanzio soube representar de modo magistral o espírito de sua época. No centro do afresco, as figuras dos filósofos Platão e Aristóteles bem como de outros sábios da Antiguidade. Considerando o contexto histórico retratado na obra e as proposições que se seguem, marque a alternativa CORRETA. I. A realização da grandiosa obra foi em parte possível pela prática do mecenato, que propiciava ao artista as condições materiais para a produção de obras de arte e de inventos científicos. II. A técnica da perspectiva, a valorização do volume dos corpos pelo contraste claro-escuro, e a utilização, no original, de cores vivas revelam a preocupação em representar as pinturas da forma mais realista possível. GE HISTÓRIA 2017

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SIMULADO III. Apesar da crença em um conhecimento racional do mundo, os intelectuais desse contexto acreditavam na existência de Deus, que dotou o homem de raciocínio para desvendar as leis do universo. IV. Os intelectuais renascentistas buscaram inspiração nos padrões estéticos e nos conhecimentos produzidos pelos clássicos grecoromanos da Antiguidade.

9. (MACKENZIE 2014)

a) I, II, III e IV. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e IV, apenas. e) I e III, apenas.

7. (FUVEST 2015) Uma observação comparada dos regimes de

trabalho adotados nas Américas de colonização ibérica permite afirmar corretamente que, entre os séculos XVI e XVIII, a) a servidão foi dominante em todo o mundo português, enquanto, no espanhol, a mão de obra principal foi assalariada. b) a liberdade foi conseguida plenamente pelas populações indígenas da América espanhola e da América portuguesa, enquanto a dos escravos africanos jamais o foi. c) a escravidão de origem africana, embora presente em várias regiões da América espanhola, esteve mais generalizada na América portuguesa. d) não houve escravidão africana nos territórios espanhóis, pois estes dispunham de farta oferta de mão de obra indígena. e) o Brasil forneceu escravos africanos aos territórios espanhóis, que, em contrapartida, traficavam escravos indígenas para o Brasil.

8. (UNICAMP 2014)

Tendo como base de análise a figura e os aspectos que definiram a Primeira Revolução Industrial, considere as afirmativas a seguir: I. Inicia-se nas últimas décadas do século XVIII e estende-se até meados do século XIX. A invenção da máquina a vapor e o uso do carvão como fonte de energia primária marcam o início das mudanças nos processos produtivos. II. O Reino Unido foi o primeiro país a reunir condições básicas para o início da industrialização devido à intensa acumulação de capitais no decorrer do Capitalismo Comercial. III. Os mais destacados segmentos fabris desta fase foram o têxtil, o metalúrgico e o de mineração. IV. As transformações produtivas desta fase atingiram rapidamente outros países, como a Alemanha, França e Estados Unidos ainda no século XVIII recrutando operários com salários atrativos, promovendo, assim, um intenso êxodo rural. Estão corretas, a) apenas I, II e III. b) apenas I, II e IV. c) apenas II, III e IV. d) apenas I, III e IV. e) I, II, III e IV.

Observe a obra do pintor Delacroix, intitulada A Liberdade Guiando o Povo (1830), e assinale a alternativa correta. a) Os sujeitos envolvidos na ação política representada na tela são homens do campo com seus instrumentos de ofício nas mãos. b) O quadro evoca temas da Revolução Francesa, como a bandeira tricolor e a figura da Liberdade, mas retrata um ato político assentado na teoria bolchevique. c) O quadro mostra tanto o ideário da Revolução Francesa reavivado pelas lutas políticas de 1830 na França quanto a posição política do pintor. d) No quadro, vê-se uma barricada do front militar da guerra entre nobres e servos durante a Revolução Francesa, sendo que a Liberdade encarna os ideais aristocráticos.

136 GE HISTÓRIA 2017

10. (UNESP 2015) Era o fim. O general Simón José Antonio de la

Santísima Trinidad Bolívar y Palacios ia embora para sempre. Tinha arrebatado ao domínio espanhol um império cinco vezes mais vasto que as Europas, tinha comandado vinte anos de guerras para mantêlo livre e unido, e o tinha governado com pulso firme até a semana anterior, mas na hora da partida não levava sequer o consolo de acreditarem nele. O único que teve bastante lucidez para saber que na realidade ia embora, e para onde ia, foi o diplomata inglês, que escreveu num relatório oficial a seu governo: “O tempo que lhe resta mal dá para chegar ao túmulo”. Gabriel García Márquez. O General em Seu Labirinto, 1989.

O perfil de Simón Bolívar, apresentado no texto, acentua alguns de seus principais feitos, mas deve ser relativizado, uma vez que Bolívar


a) foi um importante líder político, mas jamais desempenhou atividades militares no processo de independência da América Hispânica. b) obteve sucesso na luta contra a presença britânica e norteamericana na América Hispânica, mas jamais conseguiu derrotar os colonizadores espanhóis. c) defendeu a total unidade das Américas, mas jamais obteve sucesso como comandante militar nas lutas de independência das antigas colônias espanholas. d) teve papel político e militar decisivo na luta de independência da América Hispânica, mas jamais governou a totalidade das antigas colônias espanholas. e) atuou no processo de emancipação da América Hispânica, mas jamais exerceu qualquer cargo político nos novos Estados nacionais.

e) o processo de descolonização, que estabeleceu por princípio o pan-africanismo, conquistada pela Unidade Africana, por meio de negociações pacíficas e de retorno de vantagens econômicas com a Inglaterra e a França.

12. (ESAMC 2014) As informações abaixo dizem respeito ao iní-

cio da Primeira Guerra Mundial, há 100 anos. Leia-as para responder a questão.

11. (UNEB 2014) Lembranças de Makoko, uma das mais famigera-

das comunidades de posseiros em Lagos, na Nigéria — metrópole presa entre a modernidade e a miséria. Com centenas de modos de transferência assíncronos (ATM, na sigla em inglês), recordes de centros de internet e milhões de telefones celulares, essa cidade agitada e congestionada com 8 milhões a 17 milhões de habitantes (dependendo de onde se traça a linha de contorno ou de quem faz a contagem) está conectada à grade global. Centro internacional de negócios empresariais e capital comercial do país mais populoso da África, Lagos atrai perto de 600 mil novos visitantes todos os anos. Mas a maioria dos bairros, mesmo alguns dos melhores, não dispõe de água encanada, saneamento básico e eletricidade. Makoko – parte sobre terra firme, parte flutuando sobre lagoas – é uma das comunidades mais carentes da megalópole. Bairros como esse existem no mundo todo. [...] Quando os governos negam a essas comunidades o direito de existir, as pessoas demoram mais para melhorar suas casas. Quando as autoridades do Rio de Janeiro decretaram guerra às favelas nos anos 60, por exemplo, as pessoas temiam ser expulsas de suas casas, ou que estas fossem incendiadas e por isso não tinham pressa em melhorá-las. A maioria das favelas permaneceu primitiva – pouco diferentes das cabanas de barro e dos barracos de madeira de Mumbai e Nairóbi. Mas quando os políticos perceberam a reação e passaram a se comprometer com as comunidades, elas começaram a proliferar sem controle. NEUWIRTH, 2013. p. 22-24-26.

A África é um continente marcado pelos contrastes e teve sua história intimamente relacionada ao desenvolvimento econômico da Europa, durante a) a utilização, pelo europeu, do modelo de escravidão africano e de sua modalidade de tráfico, na implantação do sistema colonial americano. b) a penetração do elemento europeu no interior do continente a partir da expansão imperialista do século XIX, interessada na ampliação dos mercados e na aplicação do excedente de capital industrial. c) a Segunda Guerra Mundial, contribuindo para o desenvolvimento autônomo das sociedades africanas, em função de os conflitos armados terem sido restritos ao continente europeu. d) a Guerra Fria, quando se estabeleceu uma política desinteressada dos europeus e dos norte-americanos em relação a esse continente, devido ao fato de estarem focados nas suas divergências com a União Soviética.

http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2012/04/saiba-mais-sobre-primeira-guerra.html

Em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, capital da província da BósniaHerzegóvina, o estudante bósnio Gavrilo Princip matou a tiros o sucessor do trono da monarquia Austro-Húngara e sua mulher. [...] Em 1908 a Áustria-Hungria anexou formalmente a Bósnia-Herzegóvina [...], província eslava que vinha ocupando desde 1848. [...] A Áustria, depois de obter o aval da Alemanha, enviou um ultimato à Sérvia. [...] A 29 de julho [os austríacos] declaram guerra à Sérvia [...]. A 30, a Rússia e a Áustria decretaram a mobilização geral e a 31 os russos rejeitaram o ultimato alemão para voltar atrás. Estava dado o sinal de partida [...]. ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In____MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. SP: Contexto, 2006, p. 319-320.

Em relação ao tema apresentado, estão corretas as seguintes afirmativas: I. As disputas pela península Balcânica entre Rússia, que pretendia uma saída para o Mar Mediterrâneo, e Alemanha, que objetivava a construção da ferrovia Berlim-Bagdá, são causas fundamentais para a eclosão do conflito. II. A anexação da Bósnia-Herzegóvina pela Áustria, aliada da Alemanha, visava garantir aos alemães a vitória sobre a Rússia na disputa pelos Bálcãs. III. O assassinato do herdeiro ao trono austro-húngaro levou as tensões entre os países envolvidos no conflito ao seu máximo, pondo em funcionamento a política de alianças – Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria-Hungria) e Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) – e deflagrando a Primeira Guerra Mundial. GE HISTÓRIA 2017

137


SIMULADO

15. (MACKENZIE 2015)

a) I apenas. b) I e II apenas. c) I e III apenas. d) II e III apenas. e) I, II e III.

13. (UNESP 2015) A influência e o domínio do povo pelo “parti-

do”, isto é, por alguns recém-chegados (os ideólogos comunistas procedem dos centros urbanos), já destruiu a influência e a energia construtiva desta promissora instituição que eram os sovietes. No momento atual, são os comitês do partido e não os sovietes que governam a Rússia. E sua organização padece de todos os defeitos da organização burocrática. Piotr Kropotkin. “Carta a Lênin (04.03.1920)”. Textos Escolhidos, 1987.

As críticas do anarquista Kropotkin a Lênin, presentes nessa carta de 1920, indicam a sua a) crença de que o partido bolchevique consiga reconhecer o poder supremo dos sovietes e extinguir a injustiça social, a hegemonia burguesa e o autoritarismo. b) insatisfação em relação à diminuição da influência das associações de soldados e trabalhadores e ao aumento da influência política das lideranças bolcheviques. c) disposição de anular a influência dos sovietes, para que o Estado russo seja eliminado e se instale uma nova organização política, baseada na supressão de toda forma de poder. d) avaliação de que o partido social-democrata se tornou, após a Revolução de Outubro de 1917, o único grupo político capaz de conter as manifestações sociais e reestruturar o Estado russo. e) discordância diante do esforço organizativo do país, empreendido pelos bolcheviques, e sua aposta no retorno da monarquia parlamentar derrubada pela Revolução de Outubro de 1917.

As imagens acima são de cartazes chineses, que circularam por todo o país durante a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76). Considere as assertivas abaixo a respeito desse movimento revolucionário. I. O movimento impulsionado por Mao Tsé-tung, teve grande influência nas artes chinesas, principalmente no teatro e na ópera, que adquiriram um aspecto mais realista e influenciado pela cultura soviética. II. A Revolução Cultural tinha uma proposta de radicalizar, ainda mais, tópicos como igualitarismo, antiburocratismo e autogestão do comunismo chinês. III. No plano econômico, esse movimento atrasou o avanço tecnológico do país, devido às perseguições a inúmeros intelectuais, cientistas e educadores. Assinale a) se somente a assertativa I está correta. b) se somente a assertativa II está correta. c) se somente a assertativa III está correta. d) se somente as assertativas I e II estão corretas. e) se somente as assertativas II e III estão corretas.

14. (MACKENZIE 2014) Com relação aos dois grandes conflitos 16. (UFPR 2014) Considere as seguintes afirmativas sobre a so-

mundiais, de 1914-1918 e de 1939-1945, considere as afirmativas. I. O imperialismo e o nacionalismo encontram-se nas origens dos dois conflitos mundiais, uma vez que o primeiro intensificou as tensões mundiais devido à disputa por áreas de influência e o segundo favoreceu a formação dos regimes totalitários fascistas. II. As duas guerras mundiais, envolvendo povos extraeuropeus, desenvolveram a consciência nacional deles, influenciando decisivamente no processo de descolonização afro-asiática. III. O questionamento dos postulados liberais do capitalismo foi intensificado a partir dos dois conflitos, o que criou as condições favoráveis para a expansão dos ideais anarquistas em todo o mundo. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa I está correta. b) Somente a afirmativa II está correta. c) Somente a afirmativa III está correta. d) Somente as afirmativas I e II estão corretas. e) Somente as afirmativas II e III estão corretas.

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ciedade e a economia açucareiras entre os séculos XVI e XVII do período colonial brasileiro: 1. O período de produção açucareiro pode ser compreendido em seus aspectos econômicos como a primeira iniciativa de colonização do Brasil, em que o açúcar era o principal produto no comércio com a metrópole. 2. Entre 1630 e 1654, os espanhóis controlaram as fontes brasileiras de produção de açúcar em Pernambuco com o apoio dos indígenas e dos escravos, que podiam viver sob uma administração política mais tolerante aos seus costumes religiosos. 3. O declínio da economia açucareira ocorreu após a expulsão dos holandeses, que investiram na produção de açúcar nas Antilhas. 4. O sistema açucareiro caracterizou-se por uma agricultura em grandes propriedades, comandadas pelo senhor de engenho, que possuía plenos poderes políticos sobre a estrutura que os engenhos mobilizavam no campo e nas vilas. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.


c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

17. (FUVEST 2012) Os indígenas foram também utilizados em deter-

minados momentos, e sobretudo na fase inicial [da colonização do Brasil]; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor “aptidão” ao trabalho escravo [...]. O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígenes, e as dificuldades de seu apresamento, transporte etc. Mas na “preferência” pelo africano revela-se, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se processa num sistema de relações tendentes a promover a acumulação primitiva de capitais na metrópole; ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com escravos. Abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígenes mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse “gênero de vida”; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole; realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa “mercadoria”. Esse talvez seja o segredo da melhor “adaptação” do negro à lavoura [...] escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e não o contrário. Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Hucitec, 1979, p. 105. Adaptado.

Nesse trecho, o autor afirma que, na América portuguesa, a) os escravos indígenas eram de mais fácil obtenção do que os de origem africana, e por isso a metrópole optou pelo uso dos primeiros, já que eram mais produtivos e mais rentáveis. b) os escravos africanos aceitavam melhor o trabalho duro dos canaviais do que os indígenas, o que justificava o empenho de comerciantes metropolitanos em gastar mais na obtenção, na África, daqueles trabalhadores. c) o comércio negreiro só pôde prosperar porque alguns mercadores metropolitanos preocupavam-se com as condições de vida dos trabalhadores africanos, enquanto que outros os consideravam uma mercadoria. d) a rentabilidade propiciada pelo emprego da mão de obra indígena contribuiu decisivamente para que, a partir de certo momento, também escravos africanos fossem empregados na lavoura, o que resultou em um lucrativo comércio de pessoas. e) o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável comércio para a metrópole, que se articulava perfeitamente às estruturas do sistema de colonização.

18. (UEPB 2014) Tanto na Conjuração Mineira, quanto na Baiana,

com graus e níveis diferenciados de envolvimento dos grupos mais pobres da população, estão presentes os seguintes aspectos do pensamento iluminista.

João A. de Freitas Neto e Célio Ricardo Tasinafo. História Geral e do Brasil. SP. Editora Habra.

Assinale a alternativa que aponta aspectos desta influência iluminista:

a) A Conjuração Baiana defendia o regime monárquico e não teve a participação popular como o da Mineira, embora adotasse as ideias liberais. b) O movimento rebelde que teria sido deflagrado na Capitania de Minas Gerais em 1789 defendia o centralismo lusitano, porque sua principal preocupação era com a libertação dos escravos. c) As noções de que os governos deveriam existir para garantir direitos naturais dos homens, como a liberdade e a ideia de que a soberania residia no povo e não em um monarca. d) Compreendiam que as Leis deveriam expressar a vontade da nobreza e do clero e não a dos escravos. e) A experiência de independência dos Estados Unidos da América em 1776 não influenciou as Conjurações Baiana e Mineira, apesar de ambas defenderem ideias liberais.

19. (ENEM 2014) A transferência da corte trouxe para a América por-

tuguesa a família real e o governo da Metrópole. Trouxe também, e sobretudo, boa parte do aparato administrativo português. Personalidades diversas e funcionários régios continuaram embarcando para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes após o ano de 1808. Novais, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (org.) História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.

Os fatos apresentados se relacionam ao processo de independência da América portuguesa por terem a) incentivado o clamor popular por liberdade. b) enfraquecido o pacto de dominação metropolitana. c) motivado as revoltas escravas contra a elite colonial. d) obtido apoio do grupo constitucionalista português. e) provocado os movimentos separatistas das províncias.

20. (UEPA 2014) A crise política do I Império Brasileiro, que re-

sultou na abdicação de D. Pedro I, teve como cerne a disputa entre a inclinação centralista-absolutista do monarca e a defesa do federalismo pelas elites econômicas regionais. A renúncia do imperador em 1831 resultou: a) na transferência de poder às elites regionais e aos regentes, ordem política que se mostrou frágil e abriu caminho para levantes oposicionistas e populares. b) na transformação imediata de Pedro II em monarca do Reino Português na linha de sucessão da Casa de Bragança. c) no fortalecimento de movimentos separatistas regionais, em desacordo com a manutenção do regime monárquico e da escravidão. d) no surgimento de grupos políticos republicanos, que seriam embrionários do movimento que promoveu a Proclamação da República em 1889. e) na emergência de uma identidade nacional brasileira, em oposição a qualquer posição de mando de autoridades portuguesas em território nacional.

21. (UNICAMP 2012) A política do Império do Brasil em relação ao

Paraguai buscou alcançar três objetivos. O primeiro deles foi o de obter a livre navegação do rio Paraguai, de modo a garantir a comunicação marítimo-fluvial da província de Mato Grosso com o restante do GE HISTÓRIA 2017

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SIMULADO Brasil. O segundo objetivo foi o de buscar estabelecer um tratado delimitando as fronteiras com o país guarani. Por último, um objetivo permanente do Império, até o seu fim em 1889, foi o de procurar conter a influência argentina sobre o Paraguai, convencido de que Buenos Aires ambicionava ser o centro de um Estado que abrangesse o antigo vice-reino do Rio da Prata, incorporando o Paraguai. Adaptado de Francisco Doratioto, Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 471.

Sobre o contexto histórico a que o texto se refere é correto afirmar que: a) A Guerra do Paraguai foi um instrumento de consolidação de fronteiras e uma demonstração da política externa do Império em relação aos vizinhos, embora tenha gerado desgastes para Pedro II. b) As motivações econômicas eram suficientes para empreender a guerra contra o Paraguai, que pretendia anexar territórios do Brasil, da Bolívia e do Chile, em busca de uma saída para o mar. c) A Argentina pretendia anexar o Paraguai e o Uruguai, mas foi contida pela interferência do Brasil e pela pressão dos EUA, parceiros estratégicos que se opunham à recriação do vice-reino do Rio da Prata. d) O mais longo conflito bélico da América do Sul matou milhares de paraguaios e produziu uma aliança entre indígenas e negros que atuavam contra os brancos descendentes de espanhóis e portugueses.

22. (PUC-RS 2014) Considere as afirmações abaixo sobre a Proclamação da República no Brasil, em 1889.

I. Teve, como uma das suas principais causas, a abolição da escravidão, em 1888, pois essa medida levou a oligarquia cafeeira e escravocrata carioca, uma das bases de apoio do Imperador, a se sentir traída pela monarquia e abandonar o regime imperial. II. Resultou em profundas alterações estruturais no Brasil, na medida em que a queda da monarquia acarretou a perda de poder da oligarquia cafeeira, que foi alijada do sistema político, em favor da ascensão das classes médias urbanas. III. Teve, como um dos seus principais agentes, o Exército brasileiro, que, desde a Guerra do Paraguai, desejava ampliar o seu papel político no Império, o que não era permitido pelo Imperador. IV. Atendeu aos interesses das camadas mais humildes da população brasileira, tendo em vista a impopularidade do Imperador e a tendência de o regime republicano permitir a participação popular no sistema eleitoral recém-implantado. Estão corretas as afirmativas a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

23. (ENEM 2014) O problema central a ser resolvido pelo Novo Re-

gime era a organização de outro pacto de poder que pudesse substituir o arranjo imperial com grau suficiente de estabilidade. O próprio presidente Campos Salles resumiu claramente seu objetivo: “É de lá,

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dos estados, que se governa a República, por cima das multidões que tumultuam agitadas nas ruas da capital da União. A política dos estados é a política nacional”. CARVALHO, J.M. Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República Que Não Foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987 (adaptado).

Nessa citação, o presidente do Brasil no período expressa uma estratégia política no sentido de a) governar com a adesão popular. b) atrair o apoio das oligarquias regionais. c) conferir maior autonomia às prefeituras. d) democratizar o poder do governo central. e) ampliar a influência da capital no cenário nacional.

24. (UNICAMP 2016) “O Rio civiliza-se!” eis a exclamação que irrom-

pe de todos os peitos cariocas. Temos a Avenida Central, a Avenida Beira Mar (os nossos Campos Elíseos), estátuas em toda a parte, cafés e confeitarias (…), um assassinato por dia, um escândalo por semana, cartomantes, médiuns, automóveis, autobus, autores dramáticos, grandmonde, demi-monde, enfim todos os apetrechos das grandes capitais. “O Chat Noir”, em Fon-Fon! Nº 41, 1907. Extraído de www.objdigital.bn.br/ acervo_digital/div_periodicos/fonfon/fonfon1907.

A partir do excerto, que se refere ao período da Belle Époque no Brasil, no início do século XX, é correto afirmar que: a) O Rio de Janeiro procurava apagar aspectos da época do Império e impulsionar a cultura francesa, renegada por D. Pedro II. b) A cidade expressava as contradições de um processo de transformações urbanas, sociais e políticas nas primeiras décadas da República. c) Os costumes franceses eram elementos incorporados pela sociedade carioca como sinônimo da modernização republicana obtida pelo tenentismo. d) A modernização representou um processo de exclusão social e cultural, patrocinado pelo governo francês, que financiava obras públicas e impunha os produtos franceses à população brasileira.

25. (UFRGS 2014) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, referentes ao Estado Novo brasileiro (1937-1945). ( ) Significou uma ruptura com as tendências centralizadoras dos anos anteriores e um retorno à política descentralizada, típica da República Velha. ( ) Impôs uma Constituição autoritária ao país, popularmente conhecida como “Polaca”, dada sua suposta inspiração na constituição polonesa de 1935. ( ) Buscou incentivar a agroexportação de produtos primários, em detrimento da industrialização do país. ( ) Implementou uma política de dura repressão aos opositores do regime e de nacionalização das minorias étnicas, consideradas ameaçadoras, como italianos e alemães. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – F – V – F. b) F – V – F – V. c) F – F – V – F. d) V – F – V – V. e) V – V – F – V.


26. (ENEM 2013) Meta de Faminto JK — Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gazolina brasileira. Que mais quer? JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô!

c) critica o presidente João Goulart e faz alusão a protestos, greves e forte crise política e social, que ocorriam durante seu governo. d) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e defende a rebelião como única saída para superar as dificuldades políticas e econômicas. e) destaca o uso político da mídia pelo presidente João Goulart e critica a influência do rádio e da televisão no cotidiano dos brasileiros.

28. (UFPR 2015) Considere a charge abaixo, publicada na revista humorística brasileira Pif-Paf, em 27 de julho de 1964:

THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil Através da Caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001.

A charge ironiza a política desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, ao a) evidenciar que o incremento da malha viária diminuiu as desigualdades regionais do país. b) destacar que a modernização das indústrias dinamizou a produção de alimentos para o mercado interno. c) enfatizar que o crescimento econômico implicou aumento das contradições socioespaciais. d) ressaltar que o investimento no setor de bens duráveis incrementou os salários de trabalhadores. e) mostrar que a ocupação de regiões interioranas abriu frentes de trabalho para a população local.

27. (PUC-SP 2014)

Augusto Bandeira. Correio da Manhã. 21.09.1963. Apud: Rodrigo Patto Sá Mota. Jango e o Golpe de 64 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 104.

É correto afirmar que a charge, publicada em setembro de 1963, a) celebra as reformas realizadas pelo presidente João Goulart e as interpreta como resultado das mobilizações populares. b) mostra que o golpe militar é iminente e que o presidente João Goulart defende a necessidade de reprimir os movimentos sociais.

CARDOSO, Oldimar. Tudo é História (9º ano). S. Paulo: Ática, 2006, p. 231.

A partir dos elementos da charge e dos conhecimentos sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), identifique as seguintes afirmativas como verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) A charge faz referência ao símbolo da suástica nazista, pois iguala a cassação de direitos civis e políticos que ocorreu após o golpe militar brasileiro com a cassação de direitos civis dos judeus alemães no regime nazista. ( ) A direita na América Latina, durante o período da Guerra Fria (1945-1989), recebeu apoio da União Soviética para instituir governos autoritários que afirmavam proteger o bem maior da população contra inimigos comunistas. ( ) A charge faz referência ao caráter do governo instituído ser de direita, para proteger o país de uma alegada “ameaça comunista”, que foi associada pelos militares e seus apoiadores ao presidente deposto João Goulart e demais grupos de esquerda. ( ) Eventos como a Revolução Cubana (1959) não somente inspiraram diversos movimentos de esquerda antes e depois do golpe militar, como impulsionaram os Estados Unidos para o estreitamento de laços com a direita na América Latina. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo. a) V – F – V – V. b) V – V – V – V. c) F – V – F – F. d) F – V – V – F. e) V – F – F – V. GE HISTÓRIA 2017

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SIMULADO

29. (ESAMC 2014 – ADAPTADA) Leia atentamente as informações abaixo:

O mês de janeiro de 1985 trouxe nas páginas dos jornais de circulação nacional notícias sobre as eleições que levariam o candidato Tancredo Neves a ser declarado o novo Presidente do país [...]. [Ao] lado de tais notícias, no entanto, era possível encontrar nos mesmos jornais notícias sobre um evento cultural que aconteceria também naquele mês na cidade do Rio de Janeiro [...]: o Rock in Rio. É interessante observar que os dois eventos tenham acontecido no mesmo período, mesmo que um não tenha ligação direta com o outro, pois ambos representavam uma ruptura, tanto política como cultural, numa sociedade que parecia sair de sua própria letargia, rompendo com as amarras impostas pelo regime de exceção que cerceava não apenas a participação política de seus cidadãos, mas também suas manifestações culturais [...]. Fonte: SEVILLANO, Daniel Cantinelli. Aconteceu em Janeiro: Rock e o Fim da Ditadura no Brasil. Disponível em: http:// www.congressodorock.com.br/evento/anais/2013/artigos/1/artigo_simposio_2_14_dcsevillano@uol.com.br.pdf. Acesso em: 21 ago. 2014, às 10h00.

Tomando por base o conteúdo das informações e o contexto histórico nelas retratado, julgue as afirmativas a seguir: I – Pode se entender a eleição de Tancredo Neves e a realização do Rock in Rio no mesmo momento como parte do processo de ruptura com as estruturas mantidas pelos governos militares, promovendo, ao mesmo tempo, uma mudança política e cultural no país. II – Durante a vigência do regime militar, havia um cerceamento de liberdades, fossem políticas ou de manifestações culturais. A realização do Rock in Rio no momento da transição para a democracia ilustra, em certa medida, a luta pelo direito de livre expressão cultural da juventude. III – Por ter sido organizado por grupos culturais vinculados aos partidos apoiadores de Tancredo Neves, o Rock in Rio acabou por se tornar um dos movimentos mais significativos na luta pelo fim do regime limitar. Está (ão) correta (s): a) I apenas. b) II apenas. c) I e II apenas. d) II e III apenas. e) I, II e III.

30. (PUC-RS 2015 – ADAPTADA) Para responder à questão, as-

socie os nomes dos presidentes brasileiros do período da Nova República (coluna A) às características de sua Presidência (coluna B). Coluna A 1. José Sarney 2. Fernando Collor de Mello 3. Fernando Henrique Cardoso 4. Luiz Inácio “Lula” da Silva Coluna B ( ) Seu mandato foi marcado pela busca da estabilidade monetária, pelo controle da emissão de moedas e pelo baixo crescimento industrial, devido aos efeitos negativos sobre a indústria, decorrentes da abertura da economia brasileira ao mercado internacional.

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( ) Sua presidência foi marcada pela estabilidade monetária, pelo crescimento da economia, impulsionado pela exportação de commodities, e pelo incremento do consumo interno, através de políticas de ampliação de renda e crédito, e de redistribuição de renda. ( ) Seu governo enfrentou uma forte inflação através de planos econômicos como o Plano Cruzado, o Plano Cruzado II e o Plano Verão, que acabaram fracassando e gerando grande impopularidade ao presidente no fim de seu mandato. ( ) Em seu mandato, procurou combater a inflação através do confisco da poupança, tentou modernizar a economia brasileira, iniciando a sua abertura para o mercado internacional, e enfrentou grande instabilidade política, perdendo o apoio do Congresso. ( ) Tentou marcar o seu governo pelo slogan “Tudo Pelo Social”, promovendo a criação da “farmácia básica” e do seguro desemprego, a extensão dos benefícios da previdência ao trabalhador rural e a aplicação do Programa do Leite. A numeração correta, de cima para baixo, é a) 1 – 2 – 3 – 4 – 3 b) 2 – 3 – 4 – 1 – 2 c) 3 – 1 – 4 – 2 – 4 d) 3 – 4 – 1 – 2 – 1 e) 3 – 4 – 2 – 1 – 4

RESPOSTAS 1. A produção agrícola no antigo Egito era a base da atividade eco-

nômica da civilização. Grandes tecnologias foram desenvolvidas pelos egípcios, o que lhes garantia a possibilidade de uma farta produção durante aproximadamente metade do ano e supria as necessidades do povo durante o período de cheias do Rio Nilo. O trabalho compulsório, baseado na servidão coletiva, era a base da mão de obra da produção agrícola. Além disso, a pecuária, a pesca e o comércio também apareciam como atividades importantes para os antigos egípcios. Resposta: E

2. O conceito de democracia, praticado pelos atenienses, era de parti-

cipação direta de todos os cidadãos. No entanto, eram considerados cidadãos apenas homens livres e proprietários, nascidos em Atenas, excluindo-se, portanto, do processo político, as mulheres, os estrangeiros e os escravos, além da maioria da população, que não possuía propriedades. Resposta: B

3. A escravidão era base das atividades econômicas tanto na Ro-

ma antiga como no Brasil do século XVIII. A alternativa b está correta, uma vez que, no caso de Roma, a luta de Espártaco era contra a escravidão como um todo, enquanto no Brasil, até meados do século XIX, a luta dos escravos era mais por sua libertação individual, não existindo, de fato, uma luta sistemática contra a escravidão como instituição econômica. Daí deriva o fato da ex-escrava Chica da Silva ter se


tornado senhora de escravos após sua libertação. Tanto em Roma como no Brasil setecentista havia a prática de concessão de alforria para o escravo, realizada por seu senhor, fosse como forma de premiar determinados escravos ou em momentos de crise econômica, período durante o qual o sustento do escravo tendia a agravar a situação. Resposta: B

roa terras na América e um determinado número de nativos para explorar na produção econômica. Esses nativos pagavam impostos na forma de trabalho, em troca de catequização. Os nativos não eram considerados propriedades dos espanhóis, ao contrário dos escravos africanos. Resposta: C

4. A base da estrutura social no feudalismo são as relações de de-

O autor da obra A Liberdade Guiando o Povo, Eugène Delacroix, fez uma homenagem à Revolução de 1830, que levou ao final o governo do rei Carlos X, o que já demonstra por si só sua posição política. Além disso, a pintura remete à Revolução Francesa de 1789, ao retratar a Bastilha ao fundo e, principalmente, na bandeira tricolor nas mãos da Liberdade, que, ao lado da Igualdade e da Fraternidade, encarnava os ideais da Revolução. O levante foi conduzido pelo Terceiro Estado – formado por burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses – que se revoltaram contra os privilégios da nobreza e do clero. Resposta: C

pendência pessoal entre os membros da nobreza, chamadas de vassalagem. Há uma relação direta entre autoridade e posse da terra. O vassalo oferece ao senhor – ou suserano – fidelidade e trabalho em troca de proteção e do acesso à terra. Além de produzir para o seu sustento, o vassalo deve obrigações ao suserano, como os impostos e a corveia – trabalho obrigatório e gratuito três dias por semana. O acordo era selado em uma cerimônia na qual vassalo e suserano trocavam um beijo. Resposta: B

8.

5. A transição do mundo antigo para o Medieval foi extremamen- 9. A Revolução Industrial do século XVIII teve seus efeitos imedia-

te traumática para os europeus. Crises econômicas e sociais surgidas no processo de declínio do Império Romano, as invasões bárbaras, as guerras, as epidemias, tudo permeado pelo domínio ideológico da Igreja Católica, serviram para provocar um clima de medo e insegurança na população do continente. Como tudo era apontado como vontade divina, o medo da punição espiritual, até maior do que o da morte, contribuiu para o fortalecimento do poder do catolicismo durante a Idade Média. A Inquisição, que aplicava métodos de tortura e condenava à morte os réus considerados infiéis, também teve papel fundamental para consolidar a força da Igreja no período. Resposta: A

6.

A produção artística do Renascimento Cultural teve como uma de suas características o financiamento feito aos artistas por reis, papas e burgueses. Essa prática era o mecenato. Outra característica importante foi, do ponto de vista estético, a utilização de novas técnicas que permitiam ao artista uma representação o mais próximo possível da realidade. Racionalismo, antropocentrismo e humanismo são bases do Renascimento, mas, em nenhum momento, os artistas negaram a existência de Deus, afirmando, em certos casos, que ao se tornar “criador” de uma nova realidade, estavam se aproximando da divindade. Outra característica fundamental é que a produção buscou inspiração na cultura greco-romana, como demonstrado pela presença dos personagens na obra. Resposta: A

7.

Tanto nas colônias espanholas como na portuguesa, na América, houve a utilização da mão de obra escrava africana. No entanto, nas terras da Espanha, alguns tipos de mão de obra foram herdados dos antigos impérios asteca, maia e inca, como a mita e a encomienda, que eram baseadas no trabalho compulsório dos nativos. A mita, herdada pelos espanhóis dos antigos incas, consistia na obrigação de a própria tribo ceder cerca de 5% de seus homens para o trabalho nas minas ou na agricultura. O tempo de serviço variava de 4 a 12 meses e, em grande parte dos casos, os nativos não retornavam. Dessa forma, a mita foi determinante para o extermínio das populações nativas da América Espanhola. Já os encomienderos eram os espanhóis que receberam da Co-

tos restritos à Inglaterra, que, ao longo do período do capitalismo comercial, acumulou as condições econômicas necessárias para realizar o processo. As tecnologias básicas dessa fase foram o carvão e o ferro, abundantes na Inglaterra, o que fez com que alguns dos principais setores produtivos do período fossem a mineração e a metalurgia. Além disso, a abundância de matéria-prima, como a lã e o algodão, produzidos no sul dos Estados Unidos, garantiu o pioneirismo inglês. Outros países, mesmo considerados participantes da Primeira Revolução Industrial, como a França, iniciaram o processo ao longo do século XIX. Em todas as nações onde o sistema industrial foi instituído, os operários foram submetidos a baixos salários e extenuantes jornadas de trabalho. Resposta: A

10. O texto faz referência a um dos maiores líderes do processo de in-

dependência da América espanhola, Simón Bolívar. Ao lado de José de San Martín, liderou grande parte dos movimentos de independência, além de ter sido comandante militar na resistência colonial ao domínio de Napoleão Bonaparte sobre a Espanha. Promoveu a libertação da Bolívia, da Colômbia, do Equador, do Panamá, do Peru e da Venezuela, lançando bases ideológicas democráticas no restante da América Espanhola. Após as independências, foi presidente da primeira união de nações latino-americanas, a Grã-Colômbia, entre 1819 e 1830. No excerto o autor relata o fracasso de Bolívar na tentativa de realizar o projeto pan-americano, que visava a união das antigas colônias da Espanha em uma única e grande nação. Resposta: D

11. Os contrastes presentes nas sociedades africanas até os dias de

hoje são decorrências diretas da presença das grandes potências industriais do século XIX. Na disputa por mercados consumidores para sua produção, por matérias-primas e por locais para investir o excedente de capital, sem provocar crises internas, as potências europeias voltaram suas atenções para a África e a Ásia, num processo conhecido como Neocolonialismo ou Imperialismo. Além do domínio econômico e político, houve, ainda, uma dominação militar e um processo de desculturação das regiões dominadas, tendo como justificativa a “missão civilizadora do homem branco”. A partilha arbitrária do continente entre os países euroGE HISTÓRIA 2017

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SIMULADO peus durante a Conferência de Berlim (1884-1885) reuniu artificialmente dezenas de territórios, sem levar em conta as áreas ocupadas pelas etnias nativas, produzindo resultados devastadores. Resposta: B

foram perseguidos e executados, atrasando o desenvolvimento tecnológico e científico do país. Vale destacar, ainda, que desde os anos de 1950 a China havia rompido com o modelo soviético de organização. Resposta: E

12. A Primeira Guerra Mundial pode ser definida como uma guerra 16. O início efetivo da ocupação portuguesa de suas terras ame-

entre potências econômicas que, na tentativa de aumentarem seu poder, disputavam territórios, efetivamente, desde o século XIX. Uma das regiões mais conturbadas nesse cenário era a Península Balcânica, disputada por Alemanha, que pretendia ter acesso ao petróleo do Oriente Médio por meio da construção da ferrovia Berlim-Bagdá, e Rússia, que pretendia realizar o projeto do pan-eslavismo (união de todos os povos eslavos) e obter uma saída para o Mar Mediterrâneo. Objetivando garantir o controle sobre os Bálcãs aos alemães, seus aliados austríacos anexaram a região da Bósnia-Herzegóvina. Após o assassinato do herdeiro ao trono da Áustria, em Sarajevo, Bósnia, os austríacos declararam guerra à Sérvia, a quem pertencia a região, colocando em funcionamento a política de alianças que vinha se constituindo desde o final do século XIX. Resposta: E

13. Piotr Kropotkin, um dos mais importantes teóricos do anar-

quismo, critica o aumento do poder dos bolcheviques após a Revolução de Outubro de 1917, à medida que o governo se afastava de um dos princípios fundamentais da oposição destes aos governos anteriores, presente nas chamadas “Teses de Abril”: “todo poder aos sovietes”. A crítica é feita em nome dos anarquistas que participaram da Revolução, e condena o processo de burocratização e de centralização do poder empreendido pelos bolcheviques liderados por Lênin. Resposta: B

14.

Imperialismo e Nacionalismo foram ideologias presentes nos dois conflitos mundiais: no primeiro, potências industrializadas disputavam mercados consumidores e áreas de influência na África e na Ásia. As crises geradas após o final do conflito promoveram o surgimento das ideias totalitárias que desembocaram no nazifascismo, que apresentava entre suas principais características o nacionalismo exacerbado e o projeto de expansão territorial. Após o final dos dois conflitos, como decorrência do enfraquecimento das potências envolvidas, o sentimento nacionalista foi acentuado nas colônias africanas e asiáticas, levando ao início do processo de descolonização. A afirmativa III está errada, já que, após o final da Segunda Guerra, houve o fortalecimento do capitalismo liberal, que rivalizou com os ideais comunistas durante a Guerra Fria. Quanto ao anarquismo, após o sucesso da União Soviética houve seu enfraquecimento. Resposta: D

15. Apesar de ter ficado conhecido como Revolução Cultural, o pro-

cesso teve caráter mais político do que, propriamente, cultural, o que anula a primeira assertiva. Já as demais estão corretas. Ocorrida entre 1966 e 1976, a Revolução Cultural foi uma manobra do líder Mao Tsé-tung (Mao Zedong) para mobilizar os estudantes radicalizados pela leitura do Livro Vermelho de Mao e direcionar sua ação para eliminar a oposição ao Partido Comunista e ao seu líder, crescente após o fracasso do Grande Salto para Frente. Neste período, intelectuais, professores, artistas e cientistas

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ricanas deu-se a partir da opção pelo açúcar como carro-chefe da colonização. A produção apresentava aspectos fundamentais da política mercantilista: grandes propriedades (administradas pelos grandes senhores de engenho que exerciam um poder quase absoluto em suas terras), monocultura, mão de obra escrava africana e produção voltada para o mercado externo. A presença de capitais holandeses foi fundamental para o sucesso da empresa açucareira. Depois de ocupar as regiões produtoras do nordeste, entre 1630 e 1654, os holandeses, e não os espanhóis, foram expulsos do Brasil e intensificaram sua produção nas Antilhas, levando ao declínio da produção brasileira. Resposta: B

17.

Uma das fórmulas encontradas pela Coroa portuguesa para evitar o desenvolvimento da colônia e, ao mesmo tempo, aumentar sua lucratividade, foi organizar um intenso comércio de escravos africanos. Ao decretar leis que proibiam a escravização dos indígenas, Portugal estimulava o lucrativo comércio de negros e impedia, a longo prazo, um desenvolvimento interno e um acúmulo de capitais na colônia. A mão de obra escrava indígena foi utilizada desde o início da colonização. Mas, como os nativos conheciam o território, suas fugas eram praticamente definitivas, sendo difícil a recaptura por parte dos senhores. Já os africanos, por não conhecerem o território, eram mais facilmente dominados, apesar de jamais aceitarem a escravidão durante o período em que existiu no Brasil. Resposta: E

18. Apesar de diferenças fundamentais entre as Conjurações Mi-

neira e Baiana, como o fato de a mineira apresentar um caráter elitista e a baiana ser fundamentalmente popular, ambas receberam influências do Iluminismo e da Independência dos Estados Unidos. Em relação às propostas dos dois movimentos, influenciadas pela filosofia iluminista, podemos apontar o desejo de rompimento das relações coloniais e a defesa da liberdade, da igualdade e da fraternidade, além de defender a soberania do povo em relação aos regimes políticos. Resposta: C

19. As medidas tomadas pelo regente dom João VI encaminha-

ram o Brasil no sentido da libertação em relação à Coroa. A mais significativa foi a decretação da Abertura dos Portos às Nações Amigas, que, na prática, colocou fim ao pacto colonial ao permitir o comércio do Brasil com outros países, rompendo o exclusivismo metropolitano. A partir daí, a elite econômica brasileira percebeu que a independência poderia ampliar ainda mais seus lucros. Resposta: B

20. A abdicação de dom Pedro I e a impossiblidade de dom Pe-

dro II assumir o trono até adquirir a maioridade levaram à instalação do governo regencial em 1831. As regências promoveram o for-


talecimento das elites regionais, contrárias desde a Constituição de 1824, ao centralismo adotado pelo Imperador. O Brasil, inclusive, chegou a vivenciar o que pode ser compreendido como uma “experiência republicana”, já que a autonomia das províncias foi aumentada e existiam eleições para o cargo de regente, com mandato determinado. A disputa pelo poder entre os principais grupos políticos, associada à crise econômica e social herdada do Primeiro Reinado, abriu espaço para uma série de rebeliões de caráter popular durante as regências. A maior parte dessas rebeliões possuía caráter separatista, o que quase levou o território brasileiro à fragmentação semelhante ao ocorrido na América Espanhola, mas poucas possuíam em seus projetos a libertação dos escravos, já que contaram com a participação de grupos de elites. Vários movimentos também defendiam, além da separação, o modelo republicano. Porém, não houve durante as regências a formação de grupos republicanos organizados, o que ocorreria, oficialmente, apenas em 1870. Resposta: A

21. A Guerra do Paraguai deve ser compreendida no contexto do

imperialismo brasileiro, que interveio na Argentina e no Uruguai antes do início do conflito. As disputas regionais foram, fundamentalmente, responsáveis pela eclosão da guerra, já que a Argentina pretendia restaurar as chamadas Províncias Unidas do Prata, com a anexação do Uruguai e do Paraguai. Este, por sua vez, objetivava a criação do Paraguai Maior, ou Grande Paraguai, por meio da anexação de territórios do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Após a guerra as fronteiras do extremo sul foram praticamente definidas. Apesar de o Brasil estar do lado vencedor, a crise econômica se agravou após o conflito, e o Exército se fortaleceu como instituição política, o que levou ao enfraquecimento da imagem do imperador. Vale destacar, ainda, que a maior parte dos brasileiros que lutaram no conflito era formada por negros ou mulatos. Resposta: A

22. O processo que levou à queda da monarquia e à consequente

proclamação da República no Brasil está diretamente relacionado às mudanças ocorridas, principalmente, a partir dos anos de 1870. Dentre essas mudanças, destaque especial para o fortalecimento do Exército, que, a partir do final da Guerra do Paraguai, passa a exigir maior autonomia e participação política, defendendo o fim da escravidão e a República. A questão da abolição da escravidão é outro fator relevante, uma vez que uma das últimas bases de apoio ao regime monárquico eram os cafeicultores do Vale do Paraíba, paulistas e cariocas, que, após a abolição da escravidão em 1888 retiraram seu apoio, contribuindo para a queda do império. Com a implementação da República, os cafeicultores ganharam mais poder, e as camadas mais humildes da população continuaram afastadas do processo político. Resposta: C

23. Durante a Primeira República, consolidou-se o poder e o controle político das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Porém, para garantir esse poder e conter as revoltas da oposição, era necessário o apoio de outras oligarquias importantes do país. A “Política dos Governadores” ou “Política dos Estados” tinha a função de, por meio de troca de favores entre o governo federal e as elites estaduais, garantir a domínio dos paulistas e mineiros. Resposta: B

24. Após a proclamação da República, em 1889, criou-se a expec-

tativa de que o país ingressaria em uma época de progresso e modernidade. A capital do país, a cidade do Rio de Janeiro, seria a vitrine dessa onda modernizadora, que teria como modelo as grandes metrópoles europeias, como Paris. Entre 1902 e 1906, o prefeito Pereira Passos iniciou um projeto de saneamento e urbanização do Rio de Janeiro. Mas as contradições desse processo ficaram evidentes: a reurbanização da cidade, que modernizou a arquitetura fluminense, acabou removendo parte da população à força dos cortiços e morros centrais para bairros distantes. A tensão explodiu em 1904, quando o governo impôs a vacinação aos moradores. Esse foi o estopim da Revolta da Vacina, que externou a insatisfação das camadas mais populares com o processo de marginalização conduzido pelo governo. Resposta: B

25. O período compreendido entre 1937 e 1945, o chamado Esta-

do Novo, é a fase de institucionalização da ditadura de Getúlio Vargas. Essa institucionalização ocorreu por meio da outorga da “polaca”, a Constituição de 1937, que teria sido inspirada na polonesa de 1935. Acelerou-se no período o processo de industrialização, caracterizado pela abertura de indústrias estatais de base. Além disso, a oficialização dos órgãos de repressão, política e ideológica, garantia a eliminação sistemática da oposição ao governo. Por ter rompido com os países do Eixo no contexto da Segunda Guerra Mundial, indivíduos e grupos ligados a alemães e italianos foram perseguidos. Um dos exemplos da nacionalização desses grupos foi a exigência da mudança do nome de agremiações esportivas que possuíam “Itália” em seu nome. Em São Paulo, o Palestra Itália passou a se chamar Palmeiras, e o Palestra mineiro teve de mudar seu nome para Cruzeiro, dois símbolos nacionais. Resposta: B

26.

Os efeitos do projeto desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek foram diferentes para os diferentes grupos sociais e econômicos. As camadas urbanas foram privilegiadas, uma vez que, de fato, ocorreu um grande crescimento econômico durante o período. Para o campo, no entanto, esses efeitos, quando sentidos, foram negativos, mantendo os camponeses atrelados a uma estrutura arcaica e opressora. Vale ressaltar que a crise econômica gestada em seu governo veio a ser sentida pelos governos posteriores, daí a sensação de que em seu governo o Brasil transformou-se em potência industrial. Resposta: C

27. É possível identificar na charge a existência de conflitos, que

levaram à instabilidade política durante o governo de João Goulart. Apesar disso, o presidente afirma que “reina a tranquilidade”. Algumas propostas de Jango para as Reformas de Base acabaram aproximando Jango dos movimentos sociais, como a de reforma agrária (apoio das Ligas Camponesas, por exemplo) e de reforma educacional (apoio do movimento estudantil). Dentro do próprio grupo de militares, uma parcela significativa defendia o presidente e suas propostas. A polarização exacerbada e a instabilidade política são alguns dos principais argumentos que os militares utilizaram para dar o golpe de Estado que levou à deposição do presidente em 1964. Resposta: C

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SIMULADO

28.

As referências à suástica nazista e ao comando “direita volver”, presentes na charge, podem ser interpretadas como uma crítica aos rumos do Brasil após o golpe militar de 1964, uma vez que uma das justificativas para o golpe foi a aproximação do presidente João Goulart ao comunismo internacional. Fim de liberdades individuais e coletivas, perseguições a grupos de oposição e cassação de direitos políticos são algumas práticas dos militares no Brasil que podem ser associadas às medidas tomadas pelos nazistas na Alemanha. A partir da Revolução Cubana de 1959, em plena Guerra Fria, os Estados Unidos aproximaramse de grupos conservadores em toda a América Latina, apoiando e, em alguns casos, financiando os golpes militares que procuraram eliminar as tendências mais socializantes de governos no continente. Resposta: A

Fundada em 1950

VICTOR CIVITA (1907-1990)

ROBERTO CIVITA (1936-2013)

Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), Thomaz Souto Côrrea (Vice-Presidente), Eurípedes Alcântara, Giancarlo Civita e José Roberto Guzzo Presidente Abril Mídia: Giancarlo Civita Presidente Editora Abril: Alexandre Caldini Diretor Comercial: Rogério Gabriel Comprido Diretora de Vendas de Publicidade: Virginia Any Diretor de Vendas para Audiência: Dimas Mietto Diretor de Marketing: Tiago Afonso Diretora Digital e Mobile: Sandra Carvalho Diretor de Apoio Editorial: Edward Pimenta Diretora Editorial: Alecsandra Zapparoli

29. A realização do Rock in Rio ao mesmo tempo em que pressões

para a redemocratização aconteciam por todo o Brasil pode ser entendida como a tentativa da juventude brasileira de romper com as estruturas culturais dominadas pelos militares no período de seu governo, onde a rígida censura à produção cultural e às manifestações eram características básicas. Apesar de os dois eventos estarem relacionados a mudanças em estruturas políticas e culturais que durante anos permaneceram estreitamente ligadas, não há nenhuma ligação entre os organizadores do Rock in Rio com os partidos ligados a Tancredo Neves. Resposta: C

30. A primeira afirmativa refere-se ao presidente Fernando Henrique

Cardoso (FHC) (1995-2003), cujo governo consolidou a estabilidade monetária por meio do Plano Real – criado no governo anterior, de Itamar Franco, quando FHC era o ministro da Fazenda. Com a abertura da economia brasileira ao mercado internacional, decorrente da adoção de medidas neoliberais, e o câmbio favorável às importações, as indústrias sofreram com a concorrência de produtos estrangeiros, afetando o seu crescimento. A segunda afirmativa diz respeito ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Em seu mandato, a inflação foi controlada, e o Brasil aproveitou a elevada demanda do mercado chinês por commodities agrícolas para alavancar suas exportações. A política econômica foi baseada no estímulo ao mercado consumidor, que se expandiu devido a políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família. A terceira afirmativa caracteriza o governo de José Sarney (1985-1990). O primeiro presidente após o fim da ditadura enfrentou um período de longa crise econômica e hiperinflação. Seu mandato foi marcado por sucessivos planos que fracassaram em conter a alta dos preços. A quarta afirmativa refere-se ao mandato de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Para debelar a hiperinflação que recebeu de Sarney, Collor adotou um radical plano econômico baseado no confisco de contascorrentes e de poupança da população que não deu certo. Alvo de graves denúncias de corrupção e sem apoio no Congresso Nacional, Collor acabou renunciando após a abertura de um processo de impeachment, em 1992. A quinta afirmativa trata de ações ligadas ao governo de José Sarney. A adoção do slogan “Tudo Pelo Social” reflete um anseio da população, que, com a redemocratização, passa a ter mais esperança de igualdade social. Além disso, a Constituição de 1988, promulgada em seu mandato, incluiu diversos benefícios e direitos sociais e trabalhistas – por isso, ficou conhecida como “Constituição Cidadã”. Resposta: D

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