Casa deLuxe: paradigmas do luxo arquitectónico

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CASA DE LUXE_paradigmas do luxo arquitectónico

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frenTes de invesTigação: o objecTo decomposTo Luxo: historiografia do conceito, definições operativas e taxonomia Apesar de o “Luxo” andar nas bocas do mundo, Arquitectura incluída, a Disciplina não parece haver produzido nenhum estudo conhecido sobre o tema, pelo menos nenhum digno de registo. As poucas publicações que fazem menção ao Luxo associado à Arquitectura, baseiam-se de modo genérico em compilações de projectos produzidas sem qualquer critério aparente que não a subjectividade do próprio autor, o impacto mediático das obras ou o seu valor comercial; ou então abordam o tema de uma perspectiva manifestamente infeliz como o número publicado pelo Jornal Arquitectos intitulado “Ser Rico”,1 quando a riqueza deixou de ser garantia de qualquer tipo de luxuosidade. Assim, a reflexão sobre o que é o Luxo e o que define a sua mesma essência terá de ser desenvolvida, à falta de referências directas, a partir de leituras genéricas. O primeiro aspecto que sobressai na historiografia do Luxo parece ser o facto de esta começar e terminar paradoxalmente, e de um modo recorrente no século XIX: uma das primeiras “histórias do Luxo”, a de Henry Baudrillart data de 1880,2 o ensaio de Thorstein Veblen sobre o consumo ostentatório remonta a 18993 e o mesmo se aplica de um modo diferente ao livro de John Sekora “Luxury: The Concept in Western Thought, Eden to Smollett” (1977)4 uma das obras mais influente sobre o tema. O estudo de Sekora dividido em três partes começa por traçar a génese do conceito a partir da Bíblia, o seu desenvolvimento na Grécia e Roma, a sua adopção pela Igreja Católica e o seu estabelecimento como ideia de referência no pensamento ocidental até ao século XVIII, período em que o Luxo, especialmente na Inglaterra, seria o foco de um aceso debate político, social, moral e económico quanto à sua validade, que terminaria com a emergência gradual de novas redefinições positivas do conceito, a partir dos argumentos de pensadores como David Hume e Adam Smith. A segunda parte do estudo foca-se na atenção prestada ao conceito tradicional (pejorativo) pelo escritor Tobias Smollet, cujo romance picaresco “The Expedition of Humphry Clinker” (1771), visto por Sekora como uma síntese literária da crítica em torno do Luxo durante o século XVIII, será adoptado como objecto de investigação na última parte do estudo sendo reinterpretado a partir da discussão moral em torno do Luxo. Como a organização do livro e o próprio título deixam claro, o século XVIII, e Smollett em particular, constituem os alvos principais do ensaio. A identificação por Sekora deste período histórico especialmente influente para a definição das concepções morais do Luxo, determinaria uma certa “abordagem escolástica” do tema do Luxo tipicamente anglo-saxónica, influenciando e condicionando de modo decisivo os textos mais recentes dos restantes autores de língua inglesa.

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1. J.A (Jornal Arquitectos); no. 235; Ser Rico (Being Rich); Abril-Junho 2009. 2. Baudrillart, Henri; Histoire du luxe privé et public de l’Antiquité jusqu’à nos jours; París: Hachette; 1878-1880. 3. Veblen, Thorstein; The Theory of the Leisure Class; 1899. 4. Sekora, John; Luxury: The Concept in Western Thought, Eden to Smollett; Baltimore: Johns Hopkins University Press; 1977.

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historiografia do conceito, definições operativas e taxonomia


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