Casa deLuxe: paradigmas do luxo arquitectónico

Page 100

CASA DE LUXE_paradigmas do luxo arquitectónico

Neste processo perdeu-se o sentido de pertença e identidade que se redescobre agora na diversidade de oferta. Aumentando as possibilidades de sucesso e a visibilidade dos projectos, não raras vezes os investidores promovem a casa de luxo no contexto de empreendimentos que captam a participação de vários autores - a nível internacional o exemplo mais sonante talvez seja Dellis Cay Island e em Portugal o Bom Sucesso Resort. A casa de autor a la carte aparece como a resposta do mercado imobiliário a uma “Sociedade Hipermoderna” e a um “Indivíduo Eclético” 21 que constrói a sua identidade na possibilidade de eleição - “ESCOLHA O SEU PROJECTO” pode ler-se num dos panfletos promocionais do Bom Sucesso Resort que apresenta em revista uma mostra dos vários projectos acompanhados por uma fotografia dos arquitectos autores com direito a comentário. Assim, o ideal elevado da casa como obra de arte está a desaparecer e a ser substituído pela ideia da casa como imagem destinada ao consumo da diferença. De construção cultural a Casa de Luxo passou a marca de cultura, e esta transformação representa toda a diferença, pois abre o perigoso espaço onde se desenvolve e instala a arquitectura da falsa sofisticação. O luxo arquitectónico poderá estar a caminhar dissimuladamente para a banalidade. Um sentido que a confirmar-se implica um duro embate com um caminho sem saída cujo desfecho aponta para a destruição inevitável de uma ideia da exclusividade construída sobre a inconsistência, e com ela da própria Casa deLluxo que contudo lutará até ao último momento para reinventar a sua imagem por meio de constantes operações de cosmética. Nesta conjuntura, cabe unicamente ao arquitecto, que agora responde unicamente perante a opinião pública, a responsabilidade pela manutenção desta ténue barreira apelando ao seu sentido profissional e evitando a degradação do Luxo através da promoção de uma verdadeira qualidade (cultura) arquitectónica.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

[90]

Albrecht, Donald e Pelkonen, Eeva-Liisa (eds.); Eero Saarinen: Shaping the Future; New Haven: Yale University Press; 2006. Ascher, François; “Hypermodern Society and the Ecletical Individual. Revealed and illustrated by dietary practices” (ed. original: “Hypermodernité et éclectisme. Une illustration par les pratiques alimentaires” ; Futuribles 317; Mars 2006.) (in) Harvard Design Magazine; no.30 vol.1; (Sustainability) + Pleasure; 2009; pp. 18-23. Brandão, Pedro; O arquitecto e outras imperfeições: ética, identidade e prospectiva da profissão; Lisboa: Livros Horizonte; 2006. Brandão, Pedro; A cidade entre desenhos: profissões do desenho, ética e interdisciplinaridade; Lisboa: Livros Horizonte; 2006. Jencks, Charles; The iconic building: the power of enigma; London: Frances Lincoln; 2005. Jenck, Charles; Movimentos Modernos em Arquitectura; Lisboa: Edições 70; 1985. (ed. original 1973) Fein, Sondra; “Condo Cool: Starchitect Branding and the Cost of “Effortless Living” OR Another Episode in the Continuing Quest for Social Status through Design” (in) Harvard Design Magazine; no.26; New Skyscrapers in Megacities on a Warming Globe, Spring/Summer 2007. disponivel em: http://www.gsd.harvard.edu/research/publications/hdm/back/26_Fein.pdf Friedman, Alice T.; American Glamour and the Evolution of Modern Architecture; New Haven: Yale University Press; 2010; Chapter 3:“Modern architecture for the “American century”: Eero Saarinen and the art of corporate image-making”. Lipovetsky, Gilles; “Lujo eterno, lujo emocional” (in) Lipovetsky, Gilles e Roux, Elyette. El lujo eterno: de la era de lo sagrado al tiempo de las marcas; Barcelona: Editorial Anagrama; 2005. (ed. original: Le luxe éternel; Paris: Éditions Gallimard; 2003) Merkel, Jayne; Eero Saarinen; London: Phaidon Press Limited; 2005. Rybczynski, Witold; “The Bilbao Effect” (in) The Atlantic Monthly; volume 290, No. 2; September 2002; pp. 138–142. disponivel em: http://www.theatlantic.com/past/docs/issues/2002/09/rybczynski.htm Román, António; Eero saarinen: an architecture of multiplicity; London: Laurence King; 2002. Roux, Elyette; “Tiempo de lujo, tiempo de marcas” (in) Lipovetsky, Gilles e Roux, Elyette. El lujo eterno: de la era de lo sagrado al tiempo de las marcas; Barcelona: Editorial Anagrama; 2005. (ed. original: Le luxe éternel; Paris: Éditions Gallimard; 2003) Saarinen, Eero; “Function, Structure and Beauty; Architectural Association Journal” (ed. original: Architectural Association Journal; LXXIII; July-August 1957) (in) Coles, William (ed.); Architecture in America: A Battle of Styles; New York: Appleton-Century-Crofts; 1961; pp. 123-125. Weston, Richard; A casa no século vinte; Lisboa: Editorial Blau, Lda; 2002.

21. O termo de “Hipermodernidade” surgiu em meados da década de 70 para descrever a ideia de exacerbação dos aspectos próprios da Modernidade. O termo ganharia especial destaque com a publicação em 2004 por parte do filosofo francês Gilles Lipovetsky, ao qual se atribui a autoria do termo, em conjunto com Sébastien Charles do livro “Os tempos hipermodernos”. No ensaio anterior “Lujo eterno, lujo emocional” (in) Lipovetsky, Gilles e Roux, Elyette. El lujo eterno: de la era de lo sagrado al tiempo de las marcas; 2005. (ed. original: Le luxe éternel; Paris: Éditions Gallimard; 2003) Lipovetsky faz referência à “Hipermodernidade” para explicar as constantes variações comportamentais e de gosto do consumidor de luxo. Na mesma linha de raciocínio a “Sociedade Hipermoderna” tem vindo a ser interpretada como produtora daquilo que convencionalmente se chamou um “Indivíduo Eclético”. Esta ideia é desenvolvida por François Ascher no ensaio “Hypermodern Society and the Ecletical Individual. Revealed and illustrated by dietary practices” (2006) (in) Harvard Design Magazine; no.30 vol.1; (Sustainability) + Pleasure; 2009 ; pp. 18-23.: «Today, however, we are witnessing the emergence of what one might call a "third modernity," after a first modernity that from the Renaissance to modern times broke with traditional European societies in all areas, and then a second modernity carried along by the triumph of industrial capitalism. Thereafter the outlines of a hypermodern society appear, with the prefix hyper having a double meaning: "of an even stronger modernity, affecting all areas of social life," and also "to the nth dimension." Indeed, contemporary modernity is made up of multiplicities, various and distinct aims and modes of reasoning. The hypermodern individual does not operate with consistent rules, according to a single norm, or in a unique and coherent field of relations. He continuously changes his frame of reference; he presents himself as an eclectic being.»

02. CONSTRUINDO A CASA DE LUXO...


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.