Revistabang 11

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to que elaborar e melhorar a cena torna-se a parte mais divertida. Quando era jovem e um professor obrigava-me a reescrever um ensaio, odiava tal coisa. Mas na ficção podemos tornar os diálogos mais inteligentes, tornar uma cena mais subtil ou acrescentar um toque de emoção. Por isso, nenhuma cena é fácil para mim quando está a ser escrita pela primeira vez. São sempre mais fáceis quando as reescrevo. SdE: Disse uma vez que a personagem do Bobo é a personagem que mais se recusa a seguir os seus planos e manifesta vontade própria. São as personagens que a conduzem pela estrada que desejam tomar? RH: De certa forma, todas as minhas personagens têm livre-arbítrio, mas nenhuma goza dessa vantagem tanto quanto o Bobo. Ele era tanto difícil como surpreendente na medida em que transformava cenas sem qualquer respeito pelo meu enredo. O meu objectivo com as personagens é colocá-las em situações e depois obter reacções de acordo com a sua natureza. Às vezes uma personagem como o Bobo segue o

Com capas apelativas e mais adultas, o design da segunda saga (O Regresso do Assassino) procura reflectir o amadurecimento da trama e o crescimento da personagem principal que, no início da primeira saga, é apenas uma criança

seu próprio caminho e deixa-me a pensar o que irá acontecer a seguir na história. Ele foi difícil, mas nunca aborrecido. SdE: As suas personagens são submetidas, por vezes, a situações muito angustiantes. A fantasia da demanda exige sempre uma necessidade por redenção através de sacrifício, um pouco à semelhança do que aconteceu com Frodo, Sam ou Aragorn em O Senhor dos Anéis? Tornam-se melhores personagens no fim? RH: Não tenho bem a certeza de que circunstâncias adversas nos tornam melhores pessoas. Penso que algumas pessoas exibem as suas melhores qualidades quando são confrontadas com uma crise. E em grande parte dos casos, o auto-sacrifício é o que define um herói. Se posso salvar-te sem qualquer custo para mim, será isso heróico? Por outro lado, se não me custa salvar-te, e recusar-me a fazê-lo, então estamos próximos de um certo tipo de vilania. Ouço frequentemente da parte dos meus leitores de que sou “cruel” para com as personagens pelas ad-

versidades que enfrentam. Mas é esse tipo de desafios que tornam uma história boa. Uma história onde nada de errado acontece, e os heróis nunca precisam de enfrentar grandes desafios ou decisões não seria uma grande história. SdE: Em Portugal, os contos ainda são uma forma literária desprezada, ignorada e considerada pouco lucrativa. A maioria dos nossos escritores dedica-se a romances e evita a escrita de contos. A Robin tem romances muito longos mas também escreve contos com o pseudónimo Megan Lindholm. Como efectua a transição entre um e outro? RH: Os contos são muito difíceis de escrever para mim, e tenho alguns por publicar no meu computador. O problema é o facto de requererem habilidades especiais, um pouco como polir um diamante. Tudo o que é excessivo deve ser cortado até restar apenas a ideia da história que brilha. Posso escrever um romance por ano, mas duvido que conseguisse escrever doze excelentes contos no mesmo período de tempo. Es-

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