Revista Visão Ambiental - ed. 06

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• GESTÃO DE RESÍDUOS • TECNOLOGIA • SUSTENTABILIDADE

Ano 1 • no 6 • Maio/Junho 2010 • R$ 19,00

FEIRAS

Cobertura Fiema e Ambiental Expo

CRÉDITOS DE CARBONO Negócio bom para o planeta

HIDRELÉTRICAS A polêmica é necessária?

CÓDIGO FLORESTAL Da preservação ambiental à reforma agrária

SUSTENTABILIDADE SEMEADA Ano 1 • no 6 • Maio/Junho 2010 • R$ 19,00 •

VISÃO AMBIENTAL

A indústria do papel busca soluções para aperfeiçoar seus processos e preservar o meio ambiente




SUMÁRIO

6 MATÉRIA DE CAPA

Papel Sustentabilidade semeada

14 Código florestal

44 Fiema

18 Visão Internacional

52 Visão Ambiental

O agronegócio pede socorro

O futuro do mercado verde

Por Guilherme Stolle Paixão e Casarões

Por Ricardo Ernesto Rose

56 Ambiental Expo

24 Meio ambiente

Foco no tratamento de resíduos

Tragédia em alto mar

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Mercado de trabalho

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22 Fórum Empresarial Lide Sustentabilidade pode ser um diferencial lucrativo

Consumo consciente Produtos que ajudam a preservar o planeta

28 Eco estilo VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Remando pela natureza

32 Cidades

Praça Victor Civita: um espaço sustentável

34 Visão Administrativa

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Crédito de carbono

Alternativa de financiamento para projetos verdes

Tecnólogo em biocombustíveis: promessa de uma carreira de sucesso

62 Agência de Fomento Paulista 1º Concurso de Ideias e Projetos “Economia Verde”

64 Expo Xangai

Por Welinton dos Santos

Pavilhão brasileiro exibe tecnologia e sensibilidade

38 Usina hidrelétrica

66 Agenda / Radar

Os prós e os contras dessa obra complexa

Eventos e contatos das empresas e colaboradores desta edição


EXECUTIVO EDITORIAL Nilberto Machado de Sá nilberto@rvambiental.com.br EXECUTIVO FINANCEIRO José Antonio Gutierrez gutierrez@rvambiental.com.br EDITORA-CHEFE Susi Guedes susiguedes@rvambiental.com.br PROJETO GRÁFICO e DIREÇÃO DE ARTE Flora Rio Pardo flora@rvambiental.com.br JORNALISTAS Arielli Secco, Henriete Mirrione, Maria de Lourenzo, Melissa Sayki, Samuel Nunes e Vera Damian jornalismo@rvambiental.com.br REVISÃO Cris Barbieri e Giovana Franzolin jornalismo@rvambiental.com.br COLABORADOR Paulo César Lamas (tratamento de imagens) COLUNISTAS DESTA EDIÇÃO Guilherme Stolle Paixão e Casarões, Ricardo Ernesto Rose e Welinton dos Santos FOTOGRAFIA Gilmar Gomes e Luciana Yole COMERCIAL e PUBLICIDADE comercial@rvambiental.com.br PRODUÇÃO Cristopher Raineri atendimento@rvambiental.com.br Jurema Jardin jurema@rvambiental.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL Susi Guedes (MTb 44.447/SP) PERIODICIDADE – Bimestral TIRAGEM – 8.000 exemplares IMPRESSÃO – Vox Editora

ATENAS EDITORA Rua José Debieux, 35, Cj. 42 Santana – São Paulo/SP – CEP: 02038-030 Fone: 55-11- 2659-0110 www.rvambiental.com.br

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Um ano para comemorar Em nossa sexta edição e comemorando um ano de lançamento, temos muito a celebrar, uma revista que nasceu com a intenção de atingir um público interessado em sustentabilidade e meio ambiente, abordando assuntos diversificados dentro do tema, e que a princípio foi distribuída entre um mailing segmentado, cresceu, passou a ter assinantes, tornou-se leitura desejada entre vários membros da sociedade, e hoje é uma publicação que circula dentro de ambientes corporativos e órgãos públicos e é levada para os lares, onde várias abordagens podem ser usadas no cotidiano familiar. Uma nova fase começa agora e nos próximos números ampliaremos ainda mais a abrangência e distribuição, ao encontro das necessidades de nossos parceiros, anunciantes e leitores e cumprindo nosso papel de informar e conscientizar. Os negócios sustentáveis passam também a ter novo papel a partir das próximas edições, em que, por meio de nosso portal e também de novos projetos, promoveremos networking corporativo setorial em busca de troca de conhecimento e busca de soluções criativas e ecologicamente corretas – assim, empresas e empresários interessados em participar devem fazer contato conosco para não ficarem de fora. Nesta edição, seguimos com a série sobre materiais, falando agora sobre papel, as hidrelétricas que estiveram em foco ultimamente ganham destaque, o código florestal que tanta polêmica cria sobre as questões de ocupação da terra é analisado por todos os lados envolvidos, créditos de carbono são um ótimo negócio para empresários e para a natureza, e os eventos ligados ao meio ambiente estão em alta – aqui, a cobertura completa da Ambiental Expo e da Fiema das quais participamos com espaços feitos dentro do conceito de sustentabilidade, espaços estes sempre abertos a nossos leitores. Esperamos você nas próximas. Boa leitura! José Antonio Gutierrez, Nilberto Machado de Sá e Susi Guedes

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EXPEDIENTE


CAPA

Sustentabilidade semeada Presente na vida do homem desde que sua história começou a ser registrada, o papel evoluiu: de vilão da natureza, hoje se orgulha de ser reconhecido pela estrutura sustentável que envolve sua produção

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Por Maria de Lourenzo


Celso Foelkel, professor doutor e mestre pela New York University

CONSUMO MUNDIAL DE PAPEL (kg/ hab./ano)

Finlândia 341,7 EUA 265,9 Alemanha 247,4 Japão 241,5 Canadá 208,8 Itália 190,8 Reino Unido 184,9 França 167,6 Chile 79,5 México 59,6 Argentina 59,5 Brasil 44,6 Fonte: RISI

rial. Líderes de todo o planeta unem-se em torno de grandes temas, especialmente mudanças climáticas, em busca de soluções urgentes que possam, ao menos, frear situações dramáticas. Até muito recentemente, meados dos anos 1970, conhecia-se um único processo de produção de papel, extremamente agressivo ao meio ambiente, cuja extração de matéria-prima era feita desordenadamente e sem qualquer critério. Muita árvore nativa foi derrubada em nome de brochuras, rolos, bobinas, caixas, sacolas, sacos, blocos, cadernos, embalagens, rótulos e incontáveis itens indispensáveis ao cotidiano. “Desde sua invenção na antiga China, há quase 2000 anos, o papel é produzido conceitualmente sob os mesmos princípios: utilização de fibras vegetais individualizadas para compor uma folha úmida que depois é secada. Essas fibras vegetais são, em sua maioria, originadas das madeiras e entram na composição do papel em proporções que variam de 70 a 95% de seu peso. Ou seja, pode-se dizer que o papel é um produto derivado primordialmente das florestas”, resume Celso Foelkel, Professor Doutor e também Mestre pela New York University, considerado uma das maiores autoridades do País em papel e celulose. FLORESTAS RESPEITADAS Há décadas, a indústria papeleira tenta transformar sua imagem negativa de pre-

“As empresas do setor de celulose e papel investem em pesquisas para aprimorar o manejo florestal e os processos industriais. Também aperfeiçoam os cuidados com o solo e o monitoramento das florestas plantadas” Celso Foelkel, professor doutor e mestre pela New York University dadora da natureza. Apesar disso, ainda é muito comum associar a produção de papel ao desmatamento. Entretanto, a madeira das fábricas é produzida sem qualquer tipo de derrubada de matas nativas. Em quase sua totalidade, as florestas plantadas para a fabricação do papel utilizam terras empobrecidas em seu potencial produtivo, intensamente usadas pela agricultura e pecuária e já desprovidas de matas nativas. “Em relação ao resto do mundo, o Brasil tem assumido uma posição de vanguarda na área ambiental e já é considerado benchmarking em sustentabilidade”, informa a presidente da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes. Entre os principais produtores mundiais do setor, o Brasil é,

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Divulgação/www.celso-foelkel.com.br

A vida é impensável sem a presença do papel. Ainda que o mundo virtual ciclicamente anuncie a morte dos jornais, cada vez mais embalamos o nosso dia a dia com papel de todos os tipos e com as mais diversas aplicações. Somos o 12º País do mundo no ranking de consumo de papel. Trocando por valores, isso significa que cada brasileiro consome 44,6kg desse material por ano. Embora a média do consumo mundial seja de 57,8 kg/hab./ano, o número é respeitável! Para ter uma ideia do tamanho desta indústria, ela movimentou R$ 28.371.906,00 em 2008. “O Brasil é o 11º produtor mundial de papel e produziu 9,4 milhões de toneladas em 2009”, contabiliza Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). O País já exporta cerca de 2 milhões de toneladas de papel por ano. Sem dúvida, dos rústicos pergaminhos para cá, o papel ganhou inúmeras caras e usos. Contudo, além do avanço tecnológico que possibilita tantas aplicações, o que de fato revolucionou a indústria papeleira foi o despertar para a urgência de preservar a saúde da Terra. A conscientização e a busca por soluções foram fundamentais para a mudança de mentalidade em relação ao papel. Como sabemos, no Brasil e no mundo, governos e iniciativa privada são cobrados pela sociedade para que suas ações sejam baseadas em responsabilidade socioambiental e empresa-


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CAPA

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Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa

atualmente, referência internacional por suas práticas sustentáveis e por ter 100% da produção de celulose e papel proveniente de florestas plantadas, que são recursos renováveis. “No plantio florestal, as árvores são cultivadas em uma área específica com insumos de alta qualidade e, depois, colhidas para uso industrial. Em seguida, o terreno recebe novo plantio de mudas. É um processo semelhante ao da agricultura, de plantio e colheita. Assim, se um produto procede de florestas plantadas bem-manejadas, sem dúvida ele conquista melhor aceitação em mercados que exigem e demandam altos padrões de sustentabilidade”, acrescenta Elizabeth. As empresas do setor de celulose e papel investem em pesquisas para aprimorar o manejo florestal e os processos industriais. Também aperfeiçoaram os cuidados com o solo — revolvimento mínimo e em faixas, evitando emissões de CO2 — e o monitoramento das florestas plantadas. Os plantios que mesclam mata natural e florestas plantadas, chamados de mosaicos, formam corredores ecológicos que preservam a vegetação nativa e a biodiversidade. Os clones obtidos por meio de melhoramento genético dão origem a árvores com maior taxa de crescimento, mais resistência a pragas, qualidade e quantidade de celulose por metro cúbico de madeira. Além disso, por crescerem rapidamente, o eucalipto e o pínus são altamente

eficientes na captura de CO2. Segundo Flávia Tayama, coordenadora de projetos especiais e estratégicos da Fibria (empresa que surgiu da união da Aracruz Celulose e da Votorantim Celulose e Papel), “a empresa possui atualmente 1 milhão de hectares plantados, sendo 400 mil só de áreas preservadas de mata nativa. Hoje, é a pioneira no conceito do Carbon FootPrint, isto é, para cada tonelada de celulose produzida, sequestramos o equivalente a 3,7 toneladas de CO2. Entre as diversas ações de sustentabilidade implantadas, destaca-se o Programa de Ecoeficiência na gráfica, que além de disseminar o conceito da ecoeficiência, auxilia os gráficos a maximizar a produção com o uso racional de recursos do meio ambiente”. O mercado, os ambientalistas e, inclusive, os próprios consumidores finais cada vez mais exercem seu poder, ou seja, escolhem e privilegiam os bons fabricantes; dessa forma, forçam a concorrência a melhorar os seus produtos. Isso leva a indústria a tornar-se mais e mais correta política e ecologicamente. “Hoje, nós temos como prática a utilização de produtos

“Em relação ao resto do mundo, o Brasil tem assumido uma posição de vanguarda na área ambiental e já é considerado benchmarking em sustentabilidade” Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa

QUAL É O SEU PAPEL? Crepom, canson, couché, vergê, kraft, jornal, de seda, de arroz, vegetal, manteiga, sulfite, cartão, bíblia, toalha, papelão, higiênico, fotográfico, celofane, pergaminho, artesanal, de presente, de embrulho, de parede; alcalino ou ácido; liso ou texturizado; mate, brilhante, fino, espesso, cru, ultrabranco, laminado, colorido, transparente, macio ou áspero. Qual é o papel desta indústria, que embala sonhos, embrulha presentes, imprime dinheiro, livros, jornais, revistas, documentos, transforma o virtual no concreto? “Subdividimos os papéis em seis categorias: Imprimir e Escrever, Papel-cartão, Embalagem, Imprensa, Fins Sanitários e Papéis Especiais. Cada uma dessas categorias tem uma grande variedade de produtos”, explica Elizabeth de Carvalhaes, da Bracelpa. “Entre as principais aplicações, destacam-se jornais, revistas, livros, guardanapos, papel higiênico, papéis para impressão, embalagens de alimentos, de remédios e outros itens, papelão ondulado etc.”, acrescenta.


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Stora Senso: utilização de produtos renováveis

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PROCESSOS INDUSTRIAIS REVISTOS A atividade de base florestal intensiva e sua indústria correspondente possuem impactos ambientais que devem ser minimizados e controlados. “Eles ocorrem em função da magnitude dessa atividade, que requer grandes quantidades da natureza (madeira, terra, água, ar, solo, energia, produtos químicos etc.)”, observa o especialista Celso Foelkel. Dessa forma, é absolutamente necessário que o setor invista em pesquisas para aperfeiçoar os processos e torná-los menos invasivos ao meio ambiente. “As empresas não usam mais o cloro para branqueamento da fibra de celulose e mais de 80% do combustível utilizado nos processos industriais tem origem na biomassa, proveniente de fonte renovável. Além disso, elas estão diminuindo o consumo de água, fechando circuitos e otimizando as etapas. Quando a água é descartada, passa por processos de tratamen-

to, para que volte ao meio ambiente de acordo com os padrões ambientais estabelecidos”, esclarece Elizabeth de Carvalhaes. Este ano, a Stora Enso fez um desassoreamento na captação de água do rio, o que custou um investimento de R$ 200 mil. “Reduzimos a geração de efluentes de 9400m³/dia em 2008 para 7600m³/dia em 2009. Uma das ações que contribuíram para essa diminuição foi o reaproveitamento de água da fábrica utilizada na produção da nossa pasta mecânica, usada no nosso processo de fabricação de papel”, detalha Pontes.

Otávio Pontes, vice-presidente de Sustentabilidade da Stora Enso

Otávio Pontes, vice-presidente de Sustentabilidade da Stora Enso

“Para 2010, ainda concluiremos o projeto de eliminação do aterro de cinzas geradas pela nossa caldeira, no qual teremos um investimento em torno de R$ 2,4 milhões. E estamos trabalhando para conseguir até dezembro a Certificação da ISO 14001”, antecipa. O crescimento sustentável da Fibria ocorrerá com a utilização de ferramentas de gestão ambiental que permitam produzir de maneira mais limpa. “Os papéis são fabricados de forma ecoeficiente, ou seja, usando menos recursos da natureza. Um bom exemplo é a gestão da utilização da

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renováveis, não compramos matéria-prima de empresas que poluem o meio ambiente. Toda a madeira consumida pela nossa empresa para a fabricação do papel vem de reflorestamento. A água que utilizamos no processo é tratada antes de ser devolvida ao rio, observando os parâmetros estabelecidos pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP)”, reforça Otávio Pontes, vice-presidente de Sustentabilidade da suecofinlandesa Stora Enso na América Latina.

“Hoje, nós temos como prática a utilização de produtos renováveis, não compramos matéria-prima de empresas que poluem o meio ambiente”


CAPA

água. A empresa usa 60% a menos de água, durante a produção de uma tonelada de celulose, do que a média internacional. Outro ponto importante é que reutilizamos 87% dessa água durante o processo.”

CICLO DO REFLORESTAMENTO O eucalipto toma quase a totalidade das áreas de reflorestamento com fins industriais no Brasil. Uma fração muito pequena, ainda, dedica-se ao pínus. Pois o eucalipto cresce mais rápido – sete anos para atingir o ponto de corte contra 12 – e a produtividade também é maior, o que representa mais árvores por hectare. De um modo geral, faz-se o plantio de três metros entre as linhas e de dois entre uma muda e outra. Quando chega a época do corte, coloca-se a planta nova no meio. Ao final dos sete anos, o toco que sobrou já terá morrido e virado adubo para a nova geração. Estudos apontam que na Mata Atlântica só há regeneração onde se planta o eucalipto. O manejo florestal dessas áreas colhidas implica em repor imediatamente as mesmas áreas com novas florestas plantadas. Não há exaustão florestal, pois existe imediata reposição.

lutamente voluntária, muitos setores têm mostrado grande proatividade para a adequação e a inovação nesses novos requisitos, dentre os quais está o setor brasileiro de plantações florestais”, analisa Foelkel. Uma das formas mais criativas para conquistar e comprovar modelos

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CONTROLE DE QUALIDADE O plantio florestal é uma atividade reconhecida internacionalmente por órgãos certificadores de grande prestígio que, por meio de auditorias e monitoramento constante, garantem que os trabalhadores envolvidos no processo de extração de madeira tenham seus direitos respeitados, que nenhuma madeira seja retirada ilegalmente para a produção de celulose e papel e que as florestas sejam manejadas cuidadosamente, a fim de minimizar os impactos na natureza e na comunidade aos arredores. “Na indústria papeleira do Brasil, já é realidade o fato da fonte de matéria-prima para a produção do papel ser renovável e isto é um grande diferencial. Outros pontos são a certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal) e Cerflor (Certificação Florestal) nas nossas florestas, bem como na produção de papel”, avalia Flávia Tayama, coordenadora de projetos especiais e estratégicos da Fibria. As demandas por maior ecoeficiência e sustentabilidade continuam a pressionar os setores produtivos em todo o mundo. “De forma abso-

sustentáveis na indústria de base florestal é a rotulagem ambiental. Existem diversos selos para o nosso setor florestal, sendo os verdes os mais conhecidos: Conselho de Manejo Florestal (FSC), de cadeia de custódia, e a Certificação Florestal (Cerflor); e os rótulos ecológicos tipo I, que possuem uma abrangência maior de todo o processo produtivo por serem focados no ciclo de vida do produto. “A certificação florestal se consolidou para o setor de florestas plantadas no Brasil, sendo que praticamente todos os fabricantes líderes de produtos florestais já possuem a certificação florestal de suas

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Parque industrial da Fibria

“Na indústria papeleira do Brasil, já é realidade o fato da fonte de matéria-prima para a produção do papel ser renovável e isto é um grande diferencial. Outros pontos são a certificação FSC e Cerflor nas nossas florestas, bem como na produção de papel”, Flávia Tayama, coordenadora de projetos especiais e estratégicos da Fibria


PAPEL: DA MATÉRIA-PRIMA AO PRODUTO FINAL Colheita mecanizada

Peneira de discos classificando cavacos de eucalipto pelas dimensões

Pilha de cavacos de eucalipto

Tanques de estocagem

Esteira transportando cavacos de eucalipto

Fibras de sisal para fabricar celulose especial

Folhas de celulose úmidas

Polpa de celulose de Pínus sendo lavada

Cilindros secadores de máquina de papel

Folhas de celulose

Massa de fibras celulósicas sendo agitada

Bobinas de papel de impressão

Folhas de celulose de Pínus dobradas

Bobinas de celulose fluff para fabricar fraldas

Enfardadeira de folhas de celulose

Acabamento de papel impresso

Papel Impresso

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Imagens: Divulgação/www.celso-foelkel.com.br

Colheita de floresta de eucalipto

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florestas ou do conteúdo de madeira de origem certificada (certificação da cadeia de custódia)”, acrescenta Foelkel. Essas empresas líderes na fabricação de produtos originados dos eucaliptos (papel, celulose, carvão vegetal, madeira serrada, painéis, chapas etc.) estão certificadas conforme ISO 9001, ISO 14001, OHSA 18000, FSC e/ou Cerflor. As certificações de manejo florestal e da cadeia de custódia (rastreabilidade da madeira certificada presente em um determinado produto) são dominantes no Brasil hoje. Elas agregam qualidade e comprometimento ambiental, justiça social e educação nas empresas. A Stora Enso, por exemplo, concluiu, em fevereiro de 2009, a certificação Cerflor. “Em janeiro de 2010, fomos certificados no FSC – Cadeia de Custódia. Essa certificação garante que 60% da matéria-prima utilizada em nosso papel vêm de fontes certificadas”, conta Otávio Pontes. OUTROS VERDES A procedência da matéria-prima e a certeza de que todo o processo, desde o cultivo até a extração, foi realizado de acordo com as normas preestabelecidas também podem ser conferidos com os selos verdes. Os do tipo II são autodeclarações dos fabricantes, baseadas em alguns conceitos de produto pré-definidos pelas entidades normalizadoras: reciclável, reciclado, não contém CFCs etc. O fabricante usa essas declarações e seus respectivos logos, mas

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CAPA

Armando Varella, diretor comercial da Papirus

pode ser auditado ou confrontado em relação a elas. Já, os selos do tipo I, são aqueles nos quais existem critérios bem definidos, com limites para cada um e amplo envolvimento das partes interessadas — fabricantes, fornecedores, clientes, trabalhadores, consumidores finais, bancos de financiamento, entidades ambientalistas, universidades e associações de classe — na sua elaboração. “Eles agregam credibilidade e imagem fortalecida ao produto, pois implicam em disputar a sua concessão, em ser o melhor frente aos critérios selecionados, diferentemente das autodeclarações”, defende Foelkel.

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MADEIRA DE LEI

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A legislação que rege o setor florestal no Brasil é o Código Florestal (lei 4.771, de 1965). Atualmente, está em vigor a Medida Provisória 2.166-67 (criada em 2001), que estabeleceu a obrigatoriedade das Áreas de Reserva Legal (RL) – a área particular equivalente a 20%, no mínimo, do total da propriedade ou posse rural, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais para a conservação da biodiversidade, o abrigo e a proteção da fauna e da flora nativas e a reabilitação dos processos ecológicos – e de Preservação Permanente (APP). As áreas de RL representam um percentual sobre a área do imóvel que varia de acordo com a região do País: 80% na Amazônia, 35% no Cerrado e 20% nas demais regiões. Para a definição das APPs, não existe um percentual de área predeterminado, dependem das ocorrências passíveis de preservação em cada propriedade, como presença de matas ciliares, nascentes, lagos etc. Apesar de o País contar com um total de 1,7 milhão de hectares de florestas plantadas para fins industriais, as empresas do setor conservam outros 2,8 milhões de hectares. Quer dizer, vão além do simples cumprimento da lei.

“A Papirus é responsável pela produção de 82 mil toneladas líquidas de papelcartão por ano, reciclando 60 mil toneladas de aparas de papel” Armando Varella, diretor comercial da Papirus

O DOM DA RECICLABILIDADE Segundo a Bracelpa, a reciclagem no Brasil confunde-se com as próprias origens da fabricação de papel no País, iniciada há mais de 100 anos. As primeiras fábricas brasileiras usavam papéis descartados para a produção de novos papéis. Hoje, além de ser comprovadamente importante, a atividade confere às empresas preocupação com a sustentabilidade. Na busca da inclusão social da parcela da população que sobrevive nos lixões, a Papirus (fábrica de papel) criou o Projeto Catadores e passou a comprar aparas de papel (utilizada como matéria-prima) de cooperativas de catadores de lixo, sem qualquer intermediário. “Uma relação de negócio que beneficia 2.500 famílias, pois os catadores são devidamente cadastrados, seguem regras fiscais e rigorosos controles de qualidade exigidos pela fábri-


ca. O projeto gerou um aumento de renda para todos os cooperados”, conta o diretor comercial Armando Varella. Em 2008, a participação dos cooperados no consumo de aparas da empresa representava 8%, hoje, chega a 28%. A Papirus é responsável pela produção de 82 mil toneladas líquidas de papel-cartão por ano, reciclando 60 mil toneladas de aparas de papel. Ser reciclável é uma preciosa característica do papel, porém, sua reciclabilidade tem um limite, ele pode ser recuperado e reusado de 3 a 6 vezes. Após esse número de ciclos, perde muito de sua estrutura fibrosa, prejudicando sua qualidade. A reciclagem é de extrema importância para a preservação do meio ambiente e a conta é muito simples: aumenta a reciclagem, diminui a necessidade de plantar florestas para colher a fibra virgem, bem como as chances de abarrotar os lixões e aterros sanitários; otimiza-se o ciclo de vida do papel e melhora a sua ecoeficiência, reduzindo os impactos na cadeia produtiva. Do ponto de vista social, abrem-se frentes de trabalho e a formação de cooperativas de catadores de papel. No mercado, o preço do papel reciclado é menor, já que a matéria-prima fibrosa é mais barata do que a fibra virgem. Para preservar a qualidade, fibras recicladas podem ser mescladas a uma porção de fibras

virgens. “Ou seja, fibras virgens e fibras recicladas são parceiras e complementam-se muito bem na fabricação do papel, mesmo do papel reciclado. Isso porque um papel para ser definido como reciclado não precisa conter 100% de fibras reusadas”, destaca Foelkel. A legislação brasileira define que é necessário no mínimo 50% de conteúdo fibroso reutilizado para que o produto seja considerado reciclado. E ainda deve conter pelo menos 25% de aparas com origem de pós-consumo — normas criadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CB29), em parceria com a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) e a Bracelpa. Um selo para estampar a embalagem informando o conteúdo de aparas de pós-consumo já foi oficializado, para ajudar a esclarecer o consumidor de papel reciclado. Nem todos os papéis disponíveis podem ser reciclados, cerca de 15 a 20%. São os papéis higiênicos, os rótulos de papel, as fraldas descartáveis e outros. Incluem-se nesse grupo, ainda, aqueles cujo ciclo de vida é prolongado, por exemplo, livros e revistas que vão para as bibliotecas, ou documentos. O problema, entretanto, reside em outro aspecto: a reciclagem inadequada do lixo domiciliar, que provoca a contaminação. Daí a impossibilidade de atingir os 100% da reciclagem.

As primeiras fábricas brasileiras usavam papéis descartados para a produção de novos papéis. Hoje, além de ser comprovadamente importante, a atividade confere às empresas preocupação com a sustentabilidade.

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AGRONEGÓCIOS

O agronegócio pede socorro

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Eduard Trag's/SXC

Da preservação ambiental à Reforma Agrária, produtores reclamam que a legislação brasileira está defasada: discussões no Congresso prometem pôr fim a isso, mas causam polêmicas

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Por Samuel Nunes Não é de hoje que setores ligados ao agronegócio pedem a revisão das leis que o regem. Lados que se opõem na mesa de discussão – ruralistas, ambientalistas e semterra – concordam em um único ponto: é necessário atualizar os códigos e adaptá-los à realidade. Dois projetos de lei, atualmente discutidos no Congresso, devem mudar o rumo do agronegócio no Brasil. São eles: o novo Código Florestal e o Estatuto do Produtor Rural. Se aprovados, ambos vão legislar sobre assuntos diferentes, mas que se cruzam em um ponto-chave o impacto promovido pela agricultura ao meio ambiente. A questão, no Congresso, tem rendido um amplo debate entre ambientalistas e produtores rurais. Os primeiros aceitam que as leis precisam ser atualizadas, todavia defendem que, por ser este um ano eleitoral, seria melhor que deixassem a matéria para o início da nova legislatura. Já os produtores não querem esperar, pois há muito vêm pedindo pela flexibilização das leis e a regularização de situações, segundo eles, comuns, porém, passíveis de punições de acordo com a atual legislação. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB) diz que “o atual Código Florestal não condiz com a realidade econômico-social do nosso País”. A entidade defende que cabe aos Estados a aplicação de políticas ambientais que definam a partir de suas particularidades, os percentuais de Reserva Legal e as áreas de Preservação Permanente.

Para Rafael Cruz, membro da campanha Desmatamento Zero do Greenpeace, “a discussão das leis neste momento visa atender apenas critérios eleitorais”. Ele acredita que discutir este assunto pode levar os parlamentares a atender pedidos dos produtores apenas em busca de votos. O Greenpeace iniciou na internet uma campanha para que as pessoas enviem um e-mail ao relator do projeto do novo Código Florestal, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB – SP), pedindo que dê fim à discussão neste ano. No entanto, Mario Mantovani, diretor da ONG SOS Mata Atlântica, acredita que é necessário atualizar a legislação, mas que este não é um bom ano. Ele elogia a escolha da Câmara ao nomear Aldo Rebelo para a relatoria do projeto. “Ele não é ruralista, nem ambientalista, mas sim um nacionalista. Isso dá a ele a distância necessária para avaliar com calma a questão”. O deputado, porém, diverge quanto ao debate ocorrer neste ano. “Acho que o melhor ano é este. Não é possível fechar o Congresso só porque é ano eleitoral”, diz Rebelo. E ainda acrescenta que o novo código deverá se ajustar à lei atual e à realidade dos produtores. Afirmando que o mesmo vai respeitar o meio-ambiente e a agricultura. Um dos pontos mais polêmicos do projeto de lei é o que cria novas delimitações para a chamada Reserva Legal. De acordo com a legislação em vigor, toda propriedade rural deve manter uma área de mata nativa preservada, em proporções diferentes, de acordo com cada bioma. “Esses espaços são

de 20%, 35% e 80% do total da área da propriedade. O maior deles é o das propriedades que se localizam na Amazônia”, explica Valdez Adriani Farias, procuradorsubstituto regional do INCRA em Santa Catarina. De acordo com ele, os órgãos ambientais dos Estados são os responsáveis pela fiscalização e delimitação das áreas, mas atualmente o INCRA também tem feito suas inspeções analisando também a questão ambiental. O projeto do novo Código Florestal prevê a redução das áreas de Reserva Legal para 50% na Amazônia e 20% no restante do País. Segundo os ambientalistas, isso seria um sinal verde para que o desmatamento aumente ainda mais. Já, o projeto de lei do Estatuto do Produtor Rural em discussão no Senado, previa originalmente, em relação à proteção ambiental, que os produtores não fossem diretamente responsabilizados pela degradação de áreas nem criminalmente pelo Poder Público. Porém, o texto indicava que esses


LEGISLAÇÃO CATARINENSE COMO PARÂMETRO Em abril do ano passado, o novo Código Ambiental do Estado foi sancionado pelo então governador Luiz Henrique da Silveira. Na época, houve muitas discussões em torno do tema, pois o texto também previa a redução de áreas de Preservação Permanente em propriedades rurais. No caso catarinense, essa diminuição ocorre nas matas ciliares, ou seja, a vegetação que fica às margens dos rios. Segundo a legislação federal, essas áreas devem ter, pelo menos, 30 metros de largura a partir das margens, em ambos os lados. A lei aprovada em Santa Catarina reduzia para apenas cinco metros. Porém, o Ministério do Meio Ambiente considerou inválida e orientou fiscais do Ibama a seguirem apenas o Código Florestal. Ambientalistas também se revoltaram com essa lei e o Ministério Público entrou com uma ação de inconstitucionalidade, já que ela fere a legislação federal. Porém, os ruralistas consideram que a lei é um avanço com relação ao que eles acusam ser um dos entraves para o crescimento da atividade em Santa Catarina. A responsabilização do Estado pela preservação das matas é um dos pontos que aparecem no relatório da senadora. “Durante as discussões do Código Florestal, vez ou outra o código catarinense

é citado”, diz Mantovani. O relatório sobre o novo Código Florestal ainda não foi apresentado e o deputado Aldo Rebelo é bastante cuidadoso ao falar sobre o assunto. “Ainda não posso adiantar nada sobre meu relatório, pois sequer comecei a fazê-lo. Já tenho todo o material que preciso para isso”, afirma. Ele diz ainda que só espera pelo prazo que a comissão especial responsável pela análise do projeto dará na próxima reunião, em maio. Se aprovado na comissão, o projeto será encaminhado ao plenário da Câmara, onde passará por novas votações e talvez seja modificado até a sanção da lei. O mesmo ocorre com o Estatuto do Produtor Rural. Enquanto esses projetos ainda tramitam pelo Congresso, os produtores tentam se adequar às legislações atuais. Os dois projetos são relevantes pelo fato do agronegócio brasileiro ser responsável pela maior parte das exportações do País. Só no ano passado, 6 dentre os 15 produtos mais vendidos ao exterior, vinham da agricultura. Só a soja e seus derivados foram responsáveis por 11,3% de todo o volume de exportações do Brasil, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. ÍNDICES DEFASADOS A legislação ambiental não é a única que está defasada em relação à realidade brasileira. Os índices de produtividade rural, utilizados para fins de reforma agrária têm como base dados do primeiro Censo Agropecuário realizado no Brasil, no ano de 1976. Esses índices servem para definir como e quais propriedades cumprem a função social da terra, termo cunhado no Estatuto da Terra, de 1964 e que foi incorporado à Constituição de 1988. De acordo com a Lei nº 8629/93, que regula como deve ocorrer a reforma agrária, para cumprir a função social, o imóvel rural deve atingir todos os anos “os graus de utilização da terra (GUT) e de eficiência na exploração (GEE), segundo índices fixados pelo órgão federal competente”. Essa conta, bastante complexa, é feita por engenheiros agrônomos, levando-se em conta os índices de rendimento estabelecidos para cada mi-

crorregião do País, instituídos pelo Governo Federal. O problema é que a legislação não prevê a atualização desses índices e, por isso, muitas grandes propriedades acabam se livrando da desapropriação. Além disso, pequenas e médias propriedades não podem ser desapropriadas para fins de Reforma Agrária, desde que o dono não possua outro imóvel rural. Enquadram-se nessas duas categorias as que possuem menos de 15 módulos fiscais, um conceito variável de acordo com cada região que pode fazer com que propriedades de 100 hectares sejam consideradas pequenas. José Batista de Oliveira, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), diz que “há um debate entre os movimentos de trabalhadores quanto à questão do tamanho máximo da propriedade rural”. Ele explica que a atualização dos índices de produtividade é uma antiga reivindicação. O MST defende que a agricultura seja baseada no modelo familiar, com pequenas propriedades. Quem já tem suas propriedades se defende. A Cartilha do Produtor Rural, produzida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), traz diversos conselhos sobre como os proprietários devem proceder quanto à questão ambiental e Reforma Agrária. Segundo a entidade, a publicação visa “cumprir o papel da instituição de orientação aos

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espaços deveriam ser restaurados num prazo máximo de 10 anos. O relatório apresentado no dia 28 de abril deste ano, pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que também preside a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sugere emendas a essa questão. O texto apresentado transfere a responsabilidade pela manutenção dessas áreas ao Poder Público e ainda assegura indenização aos proprietários que restaurarem áreas degradadas. Basta apenas que se comprove que os estragos não tenham ferido a legislação vigente. A FAEB, que é filiada à CNA, concorda com a proposta. “A preservação não poderá onerar somente o produtor rural, que deve, em verdade, ser remunerado, de modo direto ou indireto, pela preservação da biodiversidade e recursos hídricos, como já ocorre em algumas localidades.”

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Divulgação/ Eduardo Prado/Agência Câmara

AGRONEGÓCIOS

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Deputado Federal Aldo Rebelo, PCdoB - SP

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produtores, incluindo a defesa e preservação de seu patrimônio”. Dentre as dicas do material, o texto mostra uma das brechas na lei atual. Por exemplo, quando fala de que, caso seja considerada improdutiva, o dono pode “dividir a grande propriedade em partes menores, de até 15 módulos fiscais, no nome de quem não possua outro imóvel”. Ele também explica como se dá todo o processo de desapropriação e mostra como advogados devem agir para evitar a perda do bem. Para Valdez Adriani Farias, procurador-substituto regional do INCRA em Santa Catarina, esse tipo de orientação é reprovável, pois inviabiliza o processo de Reforma Agrária. Na prática, o dono de um imóvel pode dividir a área em nome de pessoas próximas no papel, mas se manter no comando de tudo. Porém, ele acrescenta que “na maioria dos casos, o INCRA consegue anular essas ações”. A FAEB se defende alegando que “a orientação no tocante ao desmembramento de fazendas com áreas superiores a 15 módulos, entre pessoas e familiares que trabalham na terra,

tem por finalidade principal ajustar a realidade à formalidade, permitindo que quem efetivamente trabalha tenha acesso a linhas de crédito, somente concedidas aos portadores de título”. ESTATUTO DO PRODUTOR RURAL DEVE MUDAR REGULAMENTAÇÃO O relatório da Senadora Kátia Abreu (DEMTO) sobre o Estatuto do Produtor Rural sugere que sejam feitas algumas mudanças na lei de Reforma Agrária. Segundo o texto, o GUT deixa de ser considerado para determinar se o imóvel é ou não produtivo e apenas o cálculo do GEE servirá para tal. Porém, o GUT deverá ter outra função: a de comprovar se o imóvel é ou não sustentável. Além disso, o Poder Executivo perde a autonomia quanto aos índices regionais para o cálculo do GEE. A proposta é de que esses cálculos fiquem a cargo de lei específica. Um produtor rural que não quis se identificar para evitar represálias, expressou de maneira coerente e realista o que, ao que tudo indica, seja o pensamento da maioria dos produtores rurais: “Os agropecuaristas sempre foram vistos como vilões da história, ninguém nunca pergunta o lado do produtor que se dedica ao árduo trabalho no campo. As avaliações e métodos para calcular se uma terra é ou não produtiva, são feitos por burocratas que não conhecem o cotidiano da vida numa fazenda, decidem com calculadoras o que o produtor rural vive em seu trabalho, sem ouvir quem está diretamente ligado a esta atividade”. “Definem, por exemplo, que é viável que uma determinada quantidade de gado deva viver em certo espaço de terra para que a mesma seja considerada produtiva, mas não vão lá para ver se o pasto é suficiente para aquela quantidade de gado, não levam em conta as intempéries do clima, não convivem com o gado magro e por vezes doente por falta de nutrientes que a ‘lei’ decidiu que sejam suficientes para ele, não têm amor à terra e ao que ela produz, acham que os suplementos alimentares seriam solução para o gado, por exemplo, mas não analisam que além de isso tornar a atividade inviável economicamente, as rações e suplementos, em sua cadeia produtiva, muitas vezes geram um impacto ambiental enorme, não consideram nada disso em suas análises técnicas”. “Um outro exemplo, são os alimentos orgânicos, produzi-los em grande escala não é

viável porque não atenderia às leis, uma vez que por ter um índice de produtividade menor, não atinge aos níveis indicados como corretos para ser considerada terra produtiva, então induzem, empurram o produtor ao uso de fertilizantes e outros tantos produtos químicos, que impactam o meio ambiente, isso é se preocupar com o planeta? Com a biodiversidade e com a divisão justa de terras?” “Desta forma, os produtores rurais seguem como os vilões e únicos responsáveis por todos os problemas ligados ao setor primário, sem que sejamos ouvidos, somos julgados e condenados em nome de políticas assistencialistas que jogam pessoas iludidas em terras que eles desconhecem, sem informação sobre como trabalhar a terra, sem infraestrutura e sem nenhum apoio, tirando deles os sonhos de crescer, e de nós a ferramenta para produzir dignamente e gerar divisas para o País”, completa o produtor rural. UM POUCO DE HISTÓRIA Desde os tempos coloniais, a economia brasileira é sustentada basicamente pela produção e exportação de produtos agrícolas. Em 2009, dentre os 15 principais produtos exportados que compuseram a balança comercial brasileira, seis deles vinham do agronegócio, estando a soja e seus derivados na primeira colocação, conforme mostram os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Daí a importância das discussões de hoje no Congresso. Mas o processo de formação


do agronegócio no Brasil nunca foi democrático e, muito menos, sustentável. Primeiro com relação à distribuição de terras: o sistema de Capitanias Hereditárias deu a 12 donatários a possibilidade de governar as recém-descobertas terras do Brasil com recursos privados de cada um deles. A eles cabia cobrar impostos, distribuir porções de terra e controlar o funcionamento das atividades econômicas. Isso fez com que poucas pessoas vindas de fora pudessem ter direito a grandes porções de terras. Os colonos menos abastados acabavam trabalhando como empregados. Além disso, ainda houve a escravatura, que durou até 1888. Os negros, depois de libertos, não puderam sequer registrar os quilombos onde viviam. Do outro lado, tinha a questão ambiental. Naquele período não se pensava nisso. Em um artigo de 2003, o engenheiro florestal Sérgio Ahrens escreve que no início do século 20, “A cafeicultura avançava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraíba, substituindo toda a vegetação nativa. A criação de gado, outra forma de utilização das terras, fazia-se de modo extensivo e com mínima técnica”. Apenas em 1934, surgiu o primeiro Código

Florestal brasileiro, por meio de decreto do presidente Getúlio Vargas, de indicação do Serviço Florestal do Brasil, órgão semelhante ao Ibama. A lei que hoje é debatida na Câmara se trata de uma revisão do primeiro código, realizada em 1965. Assim como o Estatuto da Terra, ela foi promulgada no início do governo militar. Para justificar a intervenção, os militares prometeram diversas reformas legais. Porém, o Estatuto da Terra mostra que essas leis existiam mais no papel do que na realidade. O conceito de “função social da terra” só foi retomado na Constituição de 1988 e a primeira lei que regulamenta a Reforma Agrária só entrou em vigor quase 30 anos depois do Estatuto. Rolf Hackbart, presidente do INCRA, escreveu que “As elites e as oligarquias sempre conseguiram abortar a concretização de reformas estruturais, como a agrária”. Segundo ele, a produção agropecuária como um todo é fundamental para a economia brasileira e, portanto, necessária para conseguir a paz no campo e o desenvolvimento da economia com recuperação e preservação ambiental.

“Os agropecuaristas sempre foram vistos como vilões da história, ninguém nunca pergunta o lado do produtor que se dedica ao árduo trabalho no campo. As avaliações e métodos para calcular se uma terra é ou não produtiva, são feitos por burocratas que não conhecem o cotidiano da vida numa fazenda”.

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VISÃO INTERNACIONAL

Guilherme Stolle Paixão e Casarões

Os refugiados da água:

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problemas globais, soluções locais?

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exaustão dos aquíferos – seja pela poluição, pelo mau uso dos mananciais ou pelo desmatamento. O “déficit hídrico” que daí decorre, para utilizar um termo de Lester Brown em seu livro Eco-Economia, tem causado impactos econômicos e sociais devastadores. Na África, há problemas visíveis de assoreamento nas margens do Nilo; no centro do continente, o lago Chade está secando e representa, hoje, menos de 5% de sua dimensão original. Rios de grande extensão e capacidade, como o Amarelo, na China, e o Jordão, no Oriente Médio, estão diminuindo a ponto de colocarem em risco as populações que deles dependem. Deve-se ressaltar que os problemas gerados pela falta de água não são somente locais. A produção global de grãos, por exemplo, sai comprometida desse processo. Isso pode gerar, em um futuro próximo, racionamento de comida em algumas regiões, aumento do preço das commodities, disputa predatória pelo mercado de grãos e até mesmo a intensificação do desmatamento em países como o Brasil, por exemplo, onde a fronteira da soja esbarra nos limites da mata virgem. O problema, porém não está somente na escassez, mas também na abundância: somadas ao aquecimento global, as questões hídricas assumem uma dimensão ainda mais preocupante. O aumento dos níveis dos mares pode inviabilizar a vida humana em várias regiões costeiras. Ilhas do Pacífico encontram-se em processo de desaparecimento, fazendo com que populações inteiras tenham que migrar para países vizinhos. As catástrofes ambientais observadas nos últimos anos com uma frequência espantosa, de furacões a tsunamis, atingem indiscriminadamente ricos e pobres, dos Estados Unidos à Indonésia, passando por Chile e Sri Lanka. Mais refugiados entram nessa conta e, com o perdão do trocadilho, menos países (principalmente os que habitualmente servem de refúgio) dispõem-se a pagá-la – que, mesmo sem estimativa concreta e agregada, sempre ronda a casa das dezenas de bilhões de dólares anuais. Por fim, uma autorreflexão. Passamos, nos últimos meses, por repetidas tragédias causadas pelas

tais tempestades tropicais. Para gerações passadas, uma chuva forte não significava, necessariamente, calamidade pública. Hoje, essa relação é imediata. Do Sudeste para baixo, o verão foi recebido embaixo d’água. Cidades em alerta, enchentes, alagamentos de toda sorte, deslizamentos de terra viraram notícia diária, sem que muito pudesse ser feito a respeito. Os que acreditam que nosso país está imune aos efeitos dos maustratos à natureza devem pensar novamente. Em pouco tempo, ampliadas as proporções, não poderão os desabrigados pelas chuvas torrenciais se transformar em refugiados da água? Resta saber se essa é a forma como queremos ver o Brasil nas manchetes dos jornais, ou se, ao contrário, faremos algo a respeito com um certo senso de urgência.

Divulgação

Existe uma categoria de indivíduos, os refugiados, que muito interessa aos estudiosos de política internacional. No início, o interesse vinha do contexto que levou ao surgimento de grandes grupos humanos que buscam refúgio em outro país. Afinal, onde há guerras, onde há ditaduras ou perseguição política, há também uma grande chance de surgirem refugiados em números expressivos. A recorrência do fenômeno fez com que se mudasse o foco do problema e agora a preocupação relaciona-se não somente com o contexto, mas com o impacto que os refugiados podem causar sobre as sociedades que os recebem. Por isso mesmo, uma das preocupações fundamentais da Organização das Nações Unidas, ainda no calor da Guerra Fria, foi criar uma agência especializada para lidar com os refugiados – o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Enquanto as mazelas do mundo se resumiam às guerras, conflitos e perseguições a liberdades individuais, os refugiados eram encarados como um fenômeno único. O contexto internacional mais complexo em que vivemos hoje, contudo, demanda o uso de certos adjetivos como forma de tornar a análise mais clara e permitir soluções mais específicas. Se fogem não de guerras, mas das condições cada vez mais precárias de clima, solo, ou mesmo de catástrofes naturais, falam-se em refugiados ambientais ou climáticos. Caso o deslocamento maciço de pessoas para outras áreas se dê em função da falta de água potável, presente ou potencial, ou de catástrofes relacionadas com questões hídricas, o nome correto é refugiados da água. Embora o problema não seja novo, esse subgrupo dos refugiados ambientais foi criado há pouco tempo, face aos problemas hídricos que crescem exponencialmente. É fundamental pensarmos que tipo de impactos a escassez ou a má gestão dos recursos hídricos tem causado sobre as comunidades humanas. As previsões mais catastróficas, como aquela realizada pela ONG cristã Tearfund há alguns anos, sugerem que duas a cada três pessoas sofrerão de racionamento de água em 2025. A causa principal dessa redução na oferta de água está na

GUILHERME STOLLE PAIXÃO E CASARÕES é professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec).


MERCADO DE TRABALHO

Cursos de biocombustíveis despontam no Brasil Profissionais formados para produção de combustíveis e energias alternativas são novidade e promessa de sucesso para o mercado de trabalho

SXC/ H. Berends

O curso e o assunto ainda são novos. Há pouco tempo, o termo biocombustíveis veio à tona. As primeiras resoluções e normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que em 2005 incorporou Gás Natural e Biocombustíveis ao nome, são de 1998, mas um acompanhamento mais rigoroso só passou a ocorrer a partir de 2004, com a resolução nº 41, que estabelece a regulamentação e a obrigatoriedade de autorização da Agência para esse tipo de atividade. A ANP define os biocombustíveis como “derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás natural em motores a combustão ou em outro tipo de geração de energia”. Frente às necessidades desse novo segmento de mercado, um profissional surge para atender à demanda e desenvolver as especificidades do setor: o tecnólogo em biocombustíveis. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a

primeira instituição de ensino a oferecer essa possibilidade de formação com a implementação do curso de Tecnologia em Biocombustíveis, no Campus Palotina. Leda Maria Saragiotto Colpini, coordenadora do curso, explica que a carência de profissionais na área é um impedimento para o desenvolvimento do setor. “Há alguns anos não existia o profissional na área de biocombustíveis, sendo que o mercado de trabalho era totalmente ocupado por outros profissionais com um estágio ou especialização na área, como químicos, engenheiros químicos, engenheiros mecânicos, engenheiros agrônomos e biólogos”, diz Leda. Ela acredita que o espaço no mercado de trabalho para esses profissionais será constante, já que o pequeno impacto ambiental faz com que os biocombustíveis estejam em pauta atualmente. “Além disso, essa produção no País é crescente e faz parte das estratégias do governo para médio e longo prazo”, opina.

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Por Arielli Secco

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VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Colheita de cana-de-açúcar crua (sem queimar), realizada por colhedoras mecânicas

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SOLUÇÃO AMBIENTAL Combustível e energia são primordiais para a sociedade e, ao mesmo tempo, constituem um problema quando a questão é poluição e uso dos recursos naturais. O petróleo, por exemplo, tem reservas finitas e seus derivados são extremamente poluentes. O processo de combustão da gasolina, do diesel e do álcool, combustíveis fósseis e nãorenováveis, libera o monóxido de carbono (CO), gás incolor e altamente tóxico. Informações do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet) apontam que, só na região metropolitana de São Paulo, onde se concentra um quinto dos veículos do País, cerca de 1,46 milhão de toneladas de CO são lançadas por ano na atmosfera. Não é à toa que a solução para esses agravantes recebe o nome de “combustível da vida” na tradução literal da palavra. “A produção dos biocombustíveis é totalmente sustentável nos aspectos ambientais, sociais e econômicos”, diz Helton José Alves, vice-coordenador do curso da UFPR. Ele pontua que os produtos são fontes alternativas de energia renovável que ganharam espaço no cenário mundial devido à possibilidade de substituição dos combustíveis fósseis e de redução das emissões de gases poluentes e de efeito estufa. “Vale destacar que a produção dos biocombustíveis também incentiva a agricultura familiar, contribuindo para o desenvolvimento econômico regional, gerando emprego e renda”, completa. No Brasil, segundo dados da ANP, aproxi-

Divulgação/ UNICA

MERCADO DE TRABALHO

Colunas de destilação na Usina Santa Adélia, entre as cidades de Jaboticabal e Pereira Barreto (SP)

madamente 45% da energia e 18% dos combustíveis já são renováveis. Atualmente, o etanol – álcool extraído da cana-de-açúcar – e o biodiesel – obtido a partir de óleos vegetais ou gordura animal – são os biocombustíveis líquidos que se destacam na produção. No caso do etanol, há uma compensação da emissão de gases poluentes, uma vez que as plantações de cana-de-açúcar minimizam os efeitos por reabsorverem parte do dióxido de carbono liberado durante as combustões. Para o uso do biodiesel, os números são mais significativos. A Agência cita no site os estudos da National Biodiesel Board, dos Estados Unidos, que comprovam a redução de 48% na emissão de monóxido de carbono, além de 47% menos material particulado e 67% menos hidrocarbonetos. Ainda de acordo com estatísticas publicadas pela ANP, quando se fala em biodiesel o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores do mundo. Só em 2009, foram produzidos 1,6 bilhão de litros e neste ano a capacidade de armazenagem instalada passou para 4,7 bilhões de litros. Os incentivos para inserção desse produto no mercado são gradativos. Até outubro do ano passado, por exemplo, o percentual obrigatório para mistura de biodiesel no óleo diesel era de 4%; a partir de janeiro, uma regra estabelecida pelo Conselho Nacional de Política Energética tornou obrigatório que todo óleo diesel comercializado no País tenha 5% de biodiesel na composição. É com esse mercado em ascensão que pessoas especializadas na área vão se deparar.

PERFIL PROFISSIONAL Quem pretende se tornar tecnólogo em biocombustíveis deve estar sintonizado com as questões de manutenção dos recursos naturais em primeiro lugar. “O perfil desse profissional foi desenhado com vistas à proposição de soluções para os problemas relativos à cadeia produtiva de biocombustíveis. A formação de um bom profissional está diretamente ligada à preservação, que deve ser garantida em todas as etapas dessa cadeia”, afirma Leda Colpini. Durante o curso da UFPR, a questão ambiental é enfatizada desde as primeiras disciplinas. Os alunos aprendem noções de microbiologia, bioquímica, economia ambiental, poluição e química ambiental, agronegócio, educação e legislação ambiental, climatologia, gerenciamento de resíduos, etc. Na sequência, o módulo profissionalizante oferece aulas como controle de qualidade, tecnologia de produção (de etanol, biodiesel, biogás, gasogênio, dendroenergia, biomassa), culturas agroenergéticas, entre outras.


O curso também possibilita a atuação do estudante como técnico em meio ambiente quando, ao final do terceiro semestre, fornece um certificado intermediário de Qualificação Profissional de Nível Tecnológico em Meio Ambiente. “Essa formação é extremamente importante, pois permite ao futuro profissional uma visão crítica das diversas atividades exercidas pelo homem sobre o meio ambiente e confere ao aluno que ingressar no próximo módulo do curso a base necessária para tratar da produção de biocombustíveis, visando à manutenção da natureza”, comenta Leda. Tecnologia em Meio Ambiente é uma graduação em nível superior, mas o caráter tecnológico do curso permite uma formação mais rápida e também possibilita o ingresso do aluno em mestrado e doutorado, como qualquer curso de graduação. A diferença, segundo a coordenadora, é que a formação profissional é mais

OUTRAS INSTITUIÇÕES • Tecnologia em Biocombustíveis – Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Mato Grosso (Campus Cáceres) – www.cas.ifmt.edu.br • Técnico em Biocombustíveis (à distância) – Universidade Federal de Pelotas (RS) - Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça (CAVG) – www.ufpel.edu.br • Técnico Integrado em Biocombustíveis – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Campus Porto Seguro) – www.ifba.edu.br

direcionada ao mercado de trabalho, o que diferencia o egresso de um curso de bacharelado, por exemplo. COMPETÊNCIAS E DESAFIOS A formatura da primeira turma do curso da UFPR está prevista para setembro de 2012. Por isso, para o vice-coordenador Helton, ainda não foi possível perceber e quantificar o nível de inserção dos profissionais no mercado de trabalho. O tecnólogo em biocombustíveis pode trabalhar em laboratórios de controle de qualidade, usinas de açúcar e álcool, destilarias, empresas distribuidoras, indústrias siderúrgicas demandantes de carvão vegetal, fazendas de produção, cooperativas e indústrias de biodiesel. “Ele deve ser um profissional capaz de conhecer as matérias-primas com potencial de utilização na fabricação de biocombustíveis, produzi-los com poucos impactos na economia e na sociedade, desenvolver novas tecnologias de produção, prevenir acidentes de trabalho, conhecer e atender a legislação relacionada”, descreve Helton. Débora Merediane Kochepka, aluna do terceiro semestre do curso da UFPR, optou por tecnologia em biocombustíveis por ter percebido a relevância do assunto e dessa produção no mercado mundial. Porém, uma das dificuldades que ela cita é justamente o fato de que o curso é uma novidade e o reconhecimento da importância desse profissional por parte das empresas do setor ainda é pouco. Débora não fez nenhum estágio até o momento e acredita que a comu-

Divulgação/ UNICA/Niels Andreas

nicação entre as corporações e os alunos precisa evoluir. “O mercado é vasto, promissor, mas também desafiador. A sociedade tem aquela visão de que os biocombustíveis vão gerar crise alimentar no mundo e sabemos que isso é falso”, opina. “Gosto muito da parte ambiental, do cuidar, preservar e conservar. Mas o que realmente me empolga é a parte química que poderemos desempenhar fazendo biocombustíveis. Produzir biocombustível é fácil, o difícil é fazê-lo de forma correta dentro das normas aceitas pela ANP com o controle de qualidade específico”, continua. A estudante está desenvolvendo uma pesquisa que pretende testar a degradação de alguns poluentes e quer se especializar no ramo acadêmico e na área de análises. Links relacionados: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – www.anp.gov.br Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural – www.conpet.gov.br Universidade Federal do Paraná (Campus Palotina) – www.palotina.ufpr.br

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Divulgação/ UNICA/Niels Andreas

Equipamento de inspeção de destilaria de etanol

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EVENTO

9º Fórum Empresarial Lide Sustentabilidade pode ser um diferencial lucrativo, assim como a qualidade dos produtos

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Por Divulgação/Lide

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O 9º Fórum Empresarial, que ocorreu de 21 a 24 de abril de 2010, no hotel Transamérica da Ilha de Comandatuba, na Bahia, discutiu temas de grande relevância para o desenvolvimento do país. Promovido pelo LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, o Fórum cumpriu seu papel ao disseminar a importância do comprometimento com o desenvolvimento econômico e sustentável do Brasil ao segmento empresarial brasileiro.O evento teve como pauta o crescimento econômico sustentável, o esporte como fator de desenvolvimento econômico e social no país, ética e eficiência na gestão pública e crescimento com

sustentabilidade ambiental. O Fórum funcionou também como centro de debates para analisar a sustentabilidade econômica e o crescimento do Brasil no período de crescimento pós-crise. O Brasil poderia investir no reposicionamento de sua imagem, com foco na economia verde, para vender seus serviços ao mundo. Foi o que sugeriu o ex-ministro da do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que também é presidente do conselho administrativo da Brasil Foods. “Quando se compra um produto japonês, aceita-se pagar mais pela qualidade em comparação aos produtos chineses, por exemplo. O mesmo pode acontecer com o Brasil. Qualidade é diferencial, sustenta-

bilidade também”, disse o exministro aos empresários que participaram do Fórum. O comentário de Furlan foi uma forma de mostrar aos empresários que o investimento em ideias e em tecnologia que reduzam ou zerem o impacto da produção ao meio ambiente, embora representem aumento de custo em um primeiro momento, poderão gerar bons resultados no futuro. “O consumidor aceita pagar mais por um produto ambientalmente


correto? Geralmente não. Mas as empresas precisam fazer o que é certo e acreditar que este é o caminho daqui pra frente. A Europa hoje já vive o consumo sustentável no dia a dia”, afirmou o executivo. “Quanto mais avançar a necessidade de uma economia sustentável, mais restrições teremos em todos os setores que tenham impacto ambiental. Por isso, já precisamos pensar em uma evolução tecnológica ligada ao meio ambiente”, acrescentou Furlan. Para dar início a esse reposicionamento de imagem, Furlan sugeriu que o Brasil seja o primeiro país a realizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas com as emissões de carbono neutralizadas. E mais: apostou na criação de commodities ambientais que poderiam ser comercializadas, como são atualmente os créditos de carbono na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. “Podemos pensar em coisas semelhantes para a água e o ar. É uma maneira de remunerar os países que possuem reservas florestais”, explicou. O ex-ministro dividiu o painel com o presi-

dente da Fundação SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin, que também preside o Lide Sustentabilidade. Em sua exposição, Klabin afirmou que as políticas públicas são frágeis no que se refere à preservação do meio ambiente e criticou vários projetos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que seriam considerados ameaças ao meio ambiente, como o Complexo Intermodal Porto Sul, na região de Ilhéus, na Bahia, que prevê a construção de porto, ferrovia, rodovia e aeroporto dentro da Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada, e o escoamento de minério de ferro para exportação. “Alguns políticos vendem a ideia de que o meio ambiente é um entrave ao desenvolvimento. O que impede nosso crescimento sustentável é a falta de vontade política”, disse Klabin. “Costumamos atribuir a terceiros a vontade de tomar nossas riquezas, dizemos que isso é uma ameaça à nossa soberania, quando na verdade eles estão apenas falando com base na experiência que tiveram”, continuou. Luiz Fernando Furlan, APROVAÇÃO ACELERADA ex-ministro do Durante o painel, o presidente da Tetra Pak Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e atual no Brasil, Paulo Nigro, aproveitou a presença de presidente do conselho alguns senadores na mesa debatedora para pedir atenção especial à lei de resíduos sólidos, aprova- administrativo da Brasil Foods da recentemente na Câmara dos Deputados, após 19 anos de espera. “Ajudem-nos a tirar o Brasil da era medieval”, pediu o empresário. O senador sete anos de atuação, regisRomero Jucá (PMDB-RR), um dos participantes, trando crescimento de 600%. garantiu que a lei será votada em até três meses Atualmente, são 650 empresas e, que se for necessário algum ajuste, pode ser associadas (incluindo braços feito através de Medida Provisória posterior. “Me- regionais), que representam lhor do que uma lei perfeita é uma que avance”, 44% do produto interno bruto privado nacional. O objetivo do afirmou Jucá, aplaudido pela plateia. Segundo Nigro, as redes de reciclagem que grupo é difundir e fortalecer atuam hoje no país empregam cerca de 450 mil os princípios éticos de goverpessoas na informalidade. Do total de 150 mil nança corporativa no Brasil, toneladas diárias de resíduos sólidos produzidos promover e incentivar as relaem todo o território nacional, apenas 6% são ções empresariais e sensibilizar reciclados. “Trata-se de um grande projeto de o apoio privado para prograinclusão social. Se conseguíssemos, por exem- mas comunitários. Para isso, plo, aumentar esse índice de reciclagem para são rea­lizados diversos eventos 18%, dentro dessa nova lei de resíduos sólidos, ao longo do ano, promovendo já teríamos 1,5 milhão de pessoas trabalhando a integração entre empresas, organizações, entidades prina formalidade”, disse. vadas e representantes do poder público, por meio de SOBRE O LIDE Fundado em junho de 2003, o Lide - Grupo debates, seminários e fóruns de Líderes Empresariais completou em 2010 de negócios.

“Quanto mais avançar a necessidade de uma economia sustentável, mais restrições teremos em todos os setores que tenham impacto ambiental. Por isso, já precisamos pensar em uma evolução tecnológica ligada ao meio ambiente”.

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Divulgação/ Elias Kitosato

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, durante o 9º Fórum Empresarial

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MEIO AMBIENTE

Guarda Costeira americana luta para apagar o fogo da plataforma Deepwater Horizon

U.S. Coast Guard

Tragédia em alto-mar Vazamento incontrolado de petróleo no Golfo do México ainda não permite conclusões concretas quanto aos danos ambientais

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Por Arielli Secco

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Do planeta, explora-se o que está em terra firme, na água, no ar ou a quilômetros de profundidade. Os recursos são necessários, mas as consequências e prejuízos de alterar a disposição natural do meio ambiente podem ser incalculáveis. O ocorrido com a plataforma semissubmersa Deepwater Horizon, operada pela petroleira britânica British Petroleum (BP) no Golfo do México, foi um exemplo disso. Durante extrações ao sudoeste de Venice, na Louisiana, uma explosão no dia 20 de abril causou um dos maiores desastres ambientais da América. A estrutura permaneceu em chamas por trinta e seis horas e, dois dias depois do incidente, afundou. Ainda não há números reais para serem divulgados e, enquanto isso, estimam-se os litros de petróleo lançados ao mar diariamente, as quantificações dos danos

ambientais, os gastos e o tempo necessário para amenizar a catástrofe. A Deepwater tornou-se o poço de gás e petróleo mais profundo do mundo em setembro do ano passado, com uma perfuração de 10,6 km em um dos pontos de exploração do México. Informações sobre a quantidade de petróleo lançada pelo vazamento são contraditórias. O primeiro cálculo, divulgado pelo governo local e pela British Petroleum (BP), correspondia a 800 mil litros por dia (equivalentes a cerca de 5 mil barris), mas especialistas declararam à Agência EFE de Notícias que a avaliação poderia chegar a quatro milhões de litros diários, de acordo com estudos de Ian MacDonald, professor de oceanografia da Universidade da Flórida. Menos de uma semana depois da explosão, a mancha de óleo já ocupava uma extensão de 1,5 mil km² no mar. As primeiras tentativas de contenção do vazamento foram feitas com submarinos robôs

equipados com câmeras que operaram a 1,5 km de profundidade, controlados por um navio na superfície. O objetivo era fechar as válvulas de extração em uma operação que poderia durar de 24 a 36 horas. De acordo com reportagem da BBC, foi a primeira vez que esse sistema remoto foi utilizado. Sem sucesso, o petróleo continuou a esvair dos canos e a mancha ocupou uma área de mais de 70 mil km² no dia 28 de abril. Trinta navios e vários aviões despejaram agentes químicos na tentativa de dispersar a camada superficial do resíduo. No dia 29, a mancha atingiu a costa da Louisiana.


NASA/Earth/MODIS/Jesse Allen

Na primeira semana de maio, a British Petroleum (BP) iniciou a perfuração de um poço de emergência. A empresa estimou os gastos em seis milhões de dólares por dia para a contenção do vazamento e afirmou que as atividades devem continuar por até três meses. Outra tentativa fracassada foi a de conter o petróleo com uma caixa de aço e concreto com peso de 100 toneladas e mais de 12 metros de altura, que começou a ser instalada no local no mesmo dia em que a imensa mancha chegou a uma das reservas ambientais mais antigas dos Estados Unidos, a ilha de Freemason, no arquipélago de Chandeleur. A intenção, segundo a BP, era bombear o óleo cru para um navio na superfície, o que poderia reduzir em até 85% o petróleo lançado pelo vazamento. FOGO E CABELO Enquanto planos sem êxito eram executados

nas profundezas, incêndios foram provocados na superfície para queimar o petróleo e evitar que as manchas atingissem as regiões de pântano, berço de várias espécies. Para os ambientalistas, o fogo amedronta os animais, que se afastam e, assim, não são intoxicados pelo óleo, apesar de que a fumaça ser extremamente tóxica e também colocar a fauna do local em risco. De acordo com a Guarda Costeira americana, em entrevista à BBC, incêndios controlados já foram testados e mostraram-se eficazes, já que o índice de petróleo queimado fica entre 45% e 95%. Todo esforço é fundamental para que o desastre não seja ainda pior, mesmo que seja algo inusitado. O recolhimento de parte do óleo será feito com fios de cabelo. Isso mesmo: 370 mil salões estão participando de uma mobilização para arrecadar fios do mundo inteiro. Especialistas dizem que os folículos capilares têm grande área de absorção à qual os óleos aderem facil-

A estrutura da plataforma semissubmersa Deepwater Horizon permaneceu em chamas por trinta e seis horas e, dois dias depois do incidente, afundou.

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Imagem feita pelo satélite MODIS da NASA, mostra o vazamento de óleo no Golfo do México, perto do Delta do Rio Mississipi

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U.S. Coast Guard

MEIO AMBIENTE

Menos de uma semana após a explosão, o óleo já ocupava uma extensão de 1,5 mil km² no mar

Esse é o tipo de tragédia que perdura consequências por anos. Ainda é possível notar reflexos de um dos episódios mais conhecido de vazamento de petróleo: o caso do petroleiro Exxon Valdez, em 1989. Duas décadas depois do derramamento de 41 milhões de litros de petróleo, estudos demonstram dificuldades na recuperação das espécies que habitam a área atingida nas proximidades do Alasca. Foram 500 milhas de costa coberta por óleo. O Greenpeace afirma que até hoje a área contém resíduos tóxicos que continuarão agravando o impacto ambiental com o passar do tempo. No caso da Deepwater Horizon, outro agravante ameaça a fauna e as atividades econômicas da região: a extensão tomada pelo petróleo abrange um dos principais pontos de desova do atum-azul do Atlântico Ocidental, além de ser o foco das indústrias de frutos do mar dos EUA, responsável, segundo a WWF, por aproximadamente metade do camarão silvestre desembarcado e 40% das ostras, em fase reprodutiva nesta época.

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Equipes transportam as barreiras de proteção

U.S. Coast Guard photo by Petty Officer 3rd Class Patrick Kelley

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

U.S. Coast Guard

mente e podem ser bons aliados na contenção das manchas. Os cabelos serão colocados dentro de meias que formarão uma barreira nas praias para reter os resíduos e evitar que cheguem à areia. A técnica é aprovada pela segunda maior empresa fabricante de materiais para conter petróleo, a Applied Fabric Technologies. ECOSSISTEMAS EM PERIGO Cerca de 40% dos manguezais, ilhotas e pântanos dos Estados Unidos estão concentrados na região atingida pela catástrofe. O Fundo Mundial da Natureza (WWF) estima que o número de espécies ameaçadas pode ficar entre 400 e 600, já que a desgraça coincidiu com o período de migração e reprodução das aves. Informações publicadas no site apontam que a área contaminada pelo petróleo é o local de hibernação e descanso para quase três quartos das aves aquáticas dos EUA e o momento corresponde à fase em que os filhotes se aventuram nas lagoas e pântanos situados na trajetória da mancha.

Navios carregam barreiras de contenção

Guarda Costeira na região de Venice, Louisiana

Cerca de 40% dos manguezais, ilhotas e pântanos dos Estados Unidos estão concentrados na região atingida pela catástrofe.


REFERÊNCIAS: www.bbcbrasil.com.br www.g1.globo.com www.efe.com www.folha.uol.com.br www.anp.gov.br

Equipes técnicas monitoram as praias de Dauphin Island

Barreiras de proteção na Costa de Louisiana

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U.S. Coast Guard

U.S. Coast Guard photo by Petty Officer 3rd Class Stephen Lehmann

as emissões de carbono, com metas de 80% até 2050, e também a dependência do petróleo estrangeiro, incentivando a produção de energia nuclear e a tecnologia de carvão limpo. Depois da explosão da Deepwater, a proposta que previa o aumento da exploração de petróleo em alto-mar, foi adaptada para que a operação seja vetada quando ultrapassar 100 quilômetros da costa e apresentar riscos ambientais ou econômicos.

U.S. Coast Guard

já adotou medidas de precaução para reforçar a proteção operacional das plataformas e, em nota publicada no site, afirma que a regulamentação brasileira para esse tipo de atividade é a mais avançada do mundo, o que significa incentivo ao uso de equipamentos de controle remoto (desde 2007); critérios de segurança e fiscalização de responsabilidade da ANP para educação, prevenção e repressão de condutas violadoras; e sistema de gestão que atende às 17 práticas de segurança operacional com elaboração de documentação prévia para iniciar operações. Nos EUA, o governo pretende aumentar o teto das indenizações que devem ser pagas por danos ambientais. A tragédia também mobilizou outras ações relacionadas ao meio ambiente: Senadores estadunidenses apresentaram uma proposta de lei do clima no dia 12 de maio. De acordo com informações da BBC, algumas alterações no projeto foram motivadas pelo incidente. O objetivo da nova lei é reduzir

U.S. Coast Guard photo by Petty Officer 3rd Class Stephen Lehmann

FALTA SEGURANÇA No momento da explosão, 126 funcionários estavam na Deepwater Horizon. Destes, onze estão desaparecidos. As causas do incidente ainda são uma incógnita, mas há rumores de que uma bolha de gás metano se formou, fugiu do controle e subiu até a plataforma. Uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, informou que, segundo os trabalhadores, a plataforma havia deixado de ser uma estação de pesquisa para tornar-se um poço de extração recentemente. A British Petroleum (BP) já havia sido multada no ano passado depois de uma explosão que matou quinze pessoas em uma refinaria no Texas. A acusação era de que a empresa não se preocupou em melhorar as condições de segurança depois do incidente. O desastre no Golfo do México repercutiu em forma de alerta para a necessidade de segurança nas operações de perfurações exploratórias. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

Aviões despejam agentes químicos na tentativa de dispersar a camada superficial do resíduo

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ECO ESTILO

Remando pela natureza Canoístas unem esforços e constituem exemplos de ações simples que ajudam na preservação da natureza

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A história desse esporte passa pelos egípcios, astecas, ingleses e escoceses. De acordo com informações da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), os primeiros registros de embarcações simples impulsionadas por pás de madeira datam do século XV a.C. Antes de serem denominados canoas e caiaques, esses pequenos barcos receberam o nome de “gronelandais” pelos ingleses no século XIX, quando eram utilizados para lazer e se tornaram populares em toda a Europa. Dessa época – em que eram construídos com madeira e peles de animais – mudaram muito, e os materiais evoluíram para poliéster, fibra de vidro, resina epóxi com kevlar ou fibra de carbono, plástico injetado ou rotomoldado. A definição dada pela CBCa para canoagem abrange a prática de atividades com canoas, caiaques e waveskis em águas calmas ou agitadas, seja em lagos, rios ou mares. É o passaporte para se aventurar em descidas conturbadas, como na modalidade rafting, ou em navegações de maior contemplação, como na modalidade oceânica. Mas, independente do local ou das características das águas, remar pode ser também uma oportunidade de observar os atos invasivos do homem nas paisagens naturais. A presença constante de lixo e resíduos nas águas, por exemplo, foi um fator determinan-

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A quantidade de lixo que chega ao mar com as chuvas é tão grande que prejudica a navegação

te para o fortalecimento de ideais ambientais dos integrantes do Clube Carioca de Canoagem (CCC), do Rio de Janeiro (RJ), e do Grupo Kentucky de Canoagem, de Jaraguá do Sul (SC); que são amostras de como a aliança entre esporte e meio ambiente pode gerar resultados significativos. CLUBE CARIOCA DE CANOAGEM Rodrigo Magalhães, fisioterapeuta e educador ambiental, é sócio-fundador do Clube. Para ele, o caiaque é uma alternativa para realizar pequenas excursões e conhecer lugares com segurança e liberdade. É uma diversão. “Divertir vem do latim divertere, isto é, divergir, ser diferente. A canoagem recreativa tem a ver com um estilo de vida simples, muito desejado nessa época de crise civilizatória em que vivemos”, descreve. Canoísta há dez anos, Rodrigo conta que o CCC surgiu em 2000, ano em que comprou seu primeiro caiaque e se aventurou em Ilha Grande com dois amigos. Após a experiência, tiveram a ideia de organizar uma representação para o esporte na cidade: “continuamos remando pela orla, conhecemos outros canoístas e rapidamente formamos um grupo com o objetivo de implantar uma base na Praia Vermelha e viabilizar expedições costeiras”. O Clube Carioca de Canoagem (CCC) foi formalizado legalmente em 2006, com um núcleo composto por sete membros. Atualmente, são mais de noventa pessoas que participam direta ou indiretamente

das atividades, compartilhando experiências, conhecimentos e informações presencialmente ou através do grupo de e-mails criado na internet. A canoagem oceânica foi a modalidade escolhida por Rodrigo. Para praticá-la, é preciso ter um caiaque – com quatro metros de comprimento no mínimo e cerca de sessenta centímetros de largura – com proa alta e cortante. Se tiver compartimentos para armazenar e transportar alguns materiais, melhor ainda. O remo utilizado neste caso é chamado de padelo e tem duas pás. É fundamental estar munido do colete salva-vidas e da cobertura contra respingos, que protege a abertura da cabine em caso de chuva. “Quem faz travessias longas em mar aberto também deve levar sinalizadores pirotécnicos, importantes se for preciso realizar algum resgate”, recomenda o canoísta. No Rio de Janeiro (RJ), as paisagens que se pode observar durante o percurso reservam praias

Limpeza da Praia do Forte, Niterói (RJ)

Chinelos recolhidos na Praia do Forte, Niterói (RJ)

Fotos: Divulgação/ Acervo de imagens Clube Carioca de Canoagens

Por Arielli Secco


Equipe reunida para a limpeza da Praia do Forte

Reflorestamento da Ilha da Cotunduba, na entrada da Baía de Guanabara

A dificuldade do transporte de mudas para a ilha

Descida do Rio botas em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense

quase desertas e águas cristalinas. Rodrigo destaca a Baía da Ilha Grande e várias ilhas pequenas que ficam em torno da região. “O litoral daqui apresenta ilhas paradisíacas que todo canoísta deveria conhecer”, opina. Porém, as travessias também podem revelar o contrário: lixo e águas sujas, como no caso da Baía de Guanabara. “A canoagem também pode despertar uma certa revolta quando vemos a enorme quantidade de poluição no mar. Esse sentimento faz com que vejamos isso como um problema que deve ser resolvido. É importante porque nos damos conta de que o meio ambiente é o lugar em que vivemos! Logo, desejamos cuidar dele, pois cuidar do ambiente é cuidar da nossa casa”, desabafa. O CCC não ficou de braços cruzados diante disso e decidiu pôr ordem na casa. O grupo promove mutirões de limpeza e de reflorestamento das áreas que abrangem a orla do Rio e de Niterói. As ações não têm periodicidade, mas a participação dos canoístas é sempre garantida. “A maior contribuição para a preservação ambiental tem se dado de forma subjetiva por meio da conscientização sobre a necessidade de adotarmos posturas e valores sustentáveis”, relata Rodrigo. Ele acredita que o mais importante é “fazer a cabeça” de quem frequenta esses lugares, pois o lixo sempre volta a aparecer. Além disso, o canoísta chama a atenção para outro problema percebido frequentemente durante as travessias: o óleo que vaza de médias e grandes embarcações polui a água e deixa um cheiro muito forte no ar. “Quando voltamos às áreas trabalhadas, constatamos novamente um grande

Abraço simbólico na praia de Botafogo durante manifestação por causa da poluição da enseada

volume de detritos. Já retiramos televisores, sofás, camas, garrafas plásticas etc.”. Entre as atividades organizadas, Rodrigo destaca algumas parcerias que auxiliam o grupo no desenvolvimento do trabalho de preservação. Ele cita a Associação de Moradores da Urca, da 4ª Região Administrativa do Rio de Janeiro; o projeto Golfinho-Flíper, vinculado ao site de um grupo de estudiosos do Arquipélago de Cagarras, que tem o objetivo de catalogar o ecossistema do local; e o SESC, que proporcionou o envolvimento do Clube em uma campanha de conscientização ambiental realizada em 2006 pela unidade de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense). “Descemos o Rio Botas vestidos com capas de chuva brancas, luvas e óculos de proteção, simulando trajes de técnicos de usinas nucleares, para chamar a atenção sobre o estado deplorável dos cursos d’água da Baixada”, recorda Rodrigo. Depois da remada, o canoísta e o diretor e ator Thierry Trémouroux proferiram uma palestra sobre a história da região e as consequências socioambientais provocadas pela ocupação desordenada do território. Recentemente, o CCC esteve presente nas audiências públicas para discutir a criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras em proteção do arquipélago. O projeto de lei criado pelo deputado Fernando Gabeira do PV - RJ foi sancionado pelo presidente Lula e proíbe qualquer extração de recursos naturais do local. Rodrigo também cita a participação do Clube no Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que aconteceu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no

ano passado. Com tantas possibilidades de atuação, a relação entre canoagem e natureza não deixa dúvidas de que o esporte é impulsor de uma interação agradável e possível entre o homem e o ambiente. Os caiaques e as canoas são meios de transporte não poluentes, silenciosos e permitem o conhecimento de áreas com difícil acesso a outros tipos de embarcações. “A canoagem pode favorecer o meio ambiente por oferecer oportunidades de contemplação da natureza e, consequentemente, possibilitar um reencantamento do mundo, proporcionando um contexto psico-social propício à mudança de hábitos e comportamentos”, diz Rodrigo. Para ele, a melhor experiência que o esporte o permitiu foi, e continua sendo, desfrutar da companhia das pessoas, aprendendo a respeitar e conviver harmoniosamente com a diversidade e a adversidade. O registro dessas aventuras estão em seu livro Trilhas do Mar: passeios de caiaque pelo litoral carioca, publicado em 2008 pela editora Plubit, do Rio de Janeiro.

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Fotos: Divulgação/ Acervo de imagens Clube Carioca de Canoagens

Capinação para poder plantar as mudas

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Canoístas recolhem lixo das margens do rio Jaraguá

Lucio Sassi

ECO ESTILO

Crianças também participam da limpeza

Márcio Ludvichak

Tânia Manske

Tânia Manske

Canoístas dão exemplo à população

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

O lixo é recolhido com auxílio de caiaques, botes e canoas

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CLUBE DE CANOAGEM KENTUCKY A história do Kentucky é mais antiga, mas coincide nas missões e ideais do CCC. Em 1988, um grupo de amigos que se reuniam para remar em Jaraguá do Sul (SC) resolveu fundar um clube para os interessados nesse tipo de atividade. Kentucky foi o nome com que todos concordaram, essa denominação vem de um rio dos Estados Unidos, afluente do rio Ohio, com 417 quilômetros de comprimento. Desde 15 de julho daquele ano, a entidade participa de eventos estaduais, nacionais e internacionais; além de se dedicar a limpeza e fiscalização dos rios, reflorestamento das margens e implantação de programas de educação ambiental. Os principais rios de Jaraguá do Sul (SC) são o Itapocu – que banha também os municípios de Corupá e Guaramirim, e deságua no Oceano Atlântico – e o Jaraguá. São nessas localidades que se concentram as ações do Kentucky. Glauco Rhuan Manske, estudante de Engenharia Mecânica, tornou-se canoísta por incentivo do pai, que também era membro do grupo. Para ele, o esporte se resume em adrenalina, liberdade e emoção. “A visão que se tem do rio quando se está remando é muito diferente do que observá-lo da margem. Conseguimos chegar a lugares aonde

Herbet Carvalho de Freitas

O trabalho é em equipe

poucas pessoas vão, lugares ainda preservados. A adrenalina ao descer uma corredeira ou cachoeira é inexplicável. É sempre um momento de superação”, descreve. O Clube faz limpeza de rios há quinze anos e, de acordo com Glauco, a distância percorrida durante essas travessias varia de acordo com o rio, mas quatro quilômetros, em alguns casos, chega a ser o suficiente para encher uma caçamba de lixo. No entanto, os resíduos visíveis, como garrafas PET, sacolas e pneus, não são a única ameaça às paisagens e à salubridade das águas e ecossistemas. “Em determinados pontos, empresas da região despejam produtos químicos nos rios, geralmente aos domingos, quando não há fiscalização”, relata. Márcio José Ludvichak, personal trainer e presidente do Clube, explica que, para combater problemas como esses, a organização conta com um calendário de atividades ecológicas e com parceiros como a Rádio Brasil Novo e a Fundação Jaraguaense do Meio Ambiente (FUJAMA). As ações têm surtido efeito. “A cada ano observamos uma melhora na qualidade da água e de suas margens, mas acreditamos que ainda podemos melhorar e estaremos sempre observando e fiscalizando nossos rios”, constata. O presidente destaca um percurso em que foram retirados dez sacos (de 100

litros cada) com roupas e cerca de duzentos quilos de lixo. “No clube de canoagem, percebi que estava ali a chance de mostrar às pessoas que é muito importante modificarmos os nossos hábitos. A forma que achamos para isso é mostrando o quanto é importante, para a população e para o meio ambiente, vivermos em harmonia”, comenta. A prova de que a missão e a filosofia do Kentucky prevalecem até hoje está no depoimento de Glauco. “Se as ruas, local onde as pessoas circulam todos os dias, têm lixo, quem dirá os rios! As pessoas têm que ter anseio por uma cidade verde, com ar puro e águas limpas. É o que eu desejo!”. E é o que a ECOESTILO também torce para que aconteça.

Links relacionados: www.clubecariocadecanoagem.com.br www.canoken.blogspot.com www.cbca.org.br


XII FIMAI

XII Feira e Seminário Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade Participe do maior evento da América Latina no setor de meio ambiente industrial

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XII Seminário Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade

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Fotos: Divulgação/ Rafael Cusato

CIDADES

Praça Victor Civita – Espaço aberto da Sustentabilidade

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Por Divulgação

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Desde 2008, a cidade de São Paulo conta com mais um equipamento público de lazer, esporte, educação e cultura. Trata-se da Praça Victor Civita, projeto pioneiro da Prefeitura de São Paulo realizado em Termo de Cooperação com o Grupo Abril e em parceria com a Even Construtora e Incorporadora, o Banco Itaú e a Petrobras. A Praça é resultado do primeiro trabalho de revitalização de uma área degradada. Foi instalada no terreno de cerca de 14 mil m² que abrigava o antigo Incinerador Pinheiros e se propõe como um espaço de informação, inspiração e reflexão acerca da preservação ambiental e dos grandes problemas urbanos. Através dos decks de madeira legalizada que guiam o passeio pela Praça, a comunidade pode descansar e participar gratuitamente de atividades físicas, culturais e educativas. A Praça Victor Civita conta com atividades de educação ambiental, com cursos, palestras e visitas escolares; área verde com cerca de 80 árvores; horta e oficina de educação ambiental; palco para espetáculos com arquibancada para 250 pessoas; equipamentos de ginástica ao ar livre; pista de caminhada e o Centro de Informação, Integração e Preparação para o Envelhecimento (CIIPE).

Além disso, dentro das normas técnicas referentes à acessibilidade, a área conta com uma exposição permanente sobre as formas, materiais e tecnologias empregadas na reabilitação ambiental do terreno, assim como abre espaço para intervenções artísticas – um bom exemplo de como a arte pode ser pensada em espaços públicos. O objetivo é tornar a Praça Victor Civita um modelo a ser reproduzido em outras localidades, por tratar-se de um centro de convivência e qualidade de vida originado da transformação de uma área pública que se encontrava em condições precárias. HISTÓRICO DO TERRENO O espaço, em condições degradadas, funcionou como centro de processamento de resíduos domiciliares e hospitalares até 1989 e vinha sendo ocupado por três cooperativas que faziam a separação do lixo da região. Amostras coletadas e pesquisadas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) e pela Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA), com apoio de outros órgãos técnicos e ambientais – como a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) – , detectaram a presença de furanos, dioxinas e metais pesados em quantidades acima do aceitável, solicitando intervenções que visassem

à recuperação da área, sem oferecer riscos aos futuros visitantes. O prédio do Incinerador foi totalmente descontaminado e o projeto da Levisky Arquitetos Associados, propôs a solução para o terreno com a construção dos decks de madeira e concreto, que isolam os visitantes das áreas de solo deteriorado. Todas as áreas permeáveis do terreno receberam 50cm de terra limpa, por recomendação dos órgãos técnicos. Foram mais de 3500m³ de terra limpa, o suficiente para encher quase duas piscinas olímpicas. DESCRIÇÃO DA PRAÇA A Praça Victor Civita conta com soluções arquitetônicas de reuso de água, economia energética e projeto paisagístico educativo. É aberta à comunidade diariamente, das 6h30 às 19h, com atividades gratuitas de lazer, educação e cultura,


A horta construída sobre um sistema de reuso de água da chuva, em formato circular, serve ao programa de educação ambiental

PROGRAMAÇÃO

é possível conhecer espécies vegetais ligadas à produção do etanol, do biodiesel, plantas fitoterápicas, entre outras. Tudo devidamente explicado aos visitantes em painéis posicionados ao longo do percurso pelo deck. • Bosque: as cerca de 80 árvores existentes no terreno foram mantidas. As espécies como fícus, eucaliptos e seringueiras chegam a alcançar 20 metros de altura. • Energia: sistema de economia energética com máximo aproveitamento da luz natural nos prédios da Oficina de Educação Ambiental, Centro da Terceira Idade e Museu da Sustentabilidade. Há também a iluminação em LEDs em toda a parte externa da Praça. São lâmpadas sem filamentos, que não queimam e, portanto, oferecem economia em longo prazo. • Museu da Sustentabilidade: o prédio do antigo Incinerador foi totalmente recuperado e transformado em Museu da Sustentabilidade. No piso térreo da construção, foi instalada uma exposição permanente sobre o histórico do terreno que abriga a Praça e todo o seu processo de recuperação. Neste mesmo andar, ainda é possível abrigar exposições temporárias que tratem do tema da sustentabilidade. No primeiro andar do prédio, fica a cenografia: trata-se de um auditório para 60 pessoas. Com espaço para a realização de palestras, bate-papos e pequenos cursos. • Intervenções artísticas: sob a curadoria do Museu de Arte de São Paulo, obras de arte são expostas gratuitamente em espaços ao ar livre da Praça Victor Civita. Desde a inauguração, já passaram pela Praça as intervenções “Iluminaluz”, da artista plástica

• Concertos didáticos de música popular e erudita • Atividades esportivas coordenadas por professores da Academia Bio Ritmo, realizadas com equipamentos de ginástica instalados ao ar livre na Praça • Atividades esportivas para todos os gostos, ministradas aos fins de semana por uma academia convidada • Atividades artísticas e esportivas oferecidas em parceria com o SESC Pinheiros • Vivências de Biomúsica: atividade musicoterápica, que mistura percussão, dança, improviso e interação • Oficinas culturais • Atividades de educação ambiental • Contação de histórias • Percurso de 700 metros lineares para caminhadas • Espetáculos de dança e teatro • Horta • Centro para a Terceira Idade • Museu da Sustentabilidade • Palestras • Artes plásticas *Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade ** A Praça possui estacionamento para deficientes físicos

Regina Silveira e “The Thinker”, uma escultura do artista Saint Clair Cemin. Para mais informações sobre o projeto, acesse: www. pracavictorcivita.com.br . Localização Praça Victor Civita: Rua Sumidouro, 580 Pinheiros - São Paulo (SP)

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ligadas à sustentabilidade. Conheça os principais pontos da Praça: • Deck de madeira: construído a 1 metro do solo original do terreno, com madeiras legalizadas de três espécies brasileiras (ipê, garapa e sucupira), o deck isola os visitantes das áreas de solo degradado, além de ser um excelente percurso para caminhadas. • Deck de concreto: feito em placas cimentícias prémoldadas, o deck de concreto possui as mesmas funções do deck de madeira. • Palco e arquibancada: sobre o deck de madeira, foi construído um palco com arquibancada para 250 lugares. Um projeto de placas acústicas e uma cabine de som propiciam a ocorrência de espetáculos de música, dança, teatro, palestras e outras atividades educativas. • Praça de paralelepípedos: os paralelepípedos originais do terreno foram reaproveitados. As calçadas foram reconstruídas e, sobre elas, colocaram bancos de concreto. É um espaço de lazer e descanso para os visitantes da Praça. • Centro de Informação, Integração e Preparação para o Envelhecimento (CIIPE): uma associação de 200 idosos da região de Pinheiros ganhou uma nova sede. Uma casa de 290m² integrada ao restante da Praça, para a realização de atividades de artesanato, dança de salão, aulas de francês, pintura, bordado, além de práticas de ginástica e Tai Chi Chuan. • Oficina de Educação Ambiental: um espaço para receber 40 crianças que participam de uma trilha ecológica pela Praça e de oficinas de reciclagem junto dos educadores do Instituto Verdescola. A oficina conta com uma estrutura de móveis fabricados com materiais reciclados, traz conhecimentos sobre a “rota do lixo” e ainda possui uma revisteca com títulos para crianças. Também possui uma lajejardim, que propicia conforto acústico e térmico à construção. • Horta: é construída sobre um sistema de reuso de água da chuva, em formato circular, serve ao programa de educação ambiental. Crianças de escolas públicas, privadas e projetos sociais vão poder aprender mais sobre a chamada “permacultura”, além de cultivarem a horta. • Paisagismo: o projeto paisagístico da Praça, do arquiteto Benedito Abbud, possui mais de 2000m² de canteiros suspensos sobre um sistema que promove o reuso das águas pluviais para a irrigação das espécies. Todos os canteiros possuem temáticas educativas, que podem ser abordadas durante as atividades de educação ambiental. Na Praça,

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VISÃO ADMINISTRATIVA

Welinton dos Santos

Como lidar com as catástrofes ambientais

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Divulgação

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WELINTON DOS SANTOS é economista, psicopedagogo e especialista internacional de cidades

Com os efeitos climáticos, são necessárias discussões sobre assuntos como atendimentos de emergências, socorros, manipulação de recursos humanos e materiais, auxílio aos desabrigados, distribuição de donativos, centros de agrupamentos, controle de epidemias, gestão de obras, controle de vias, normas de segurança pública, dentre outros graves problemas ambientais que atingem as populações. A coordenação de atividades é importantíssima em situações como essas para salvar para salvar vidas e evitar maiores dores na comunidade em que ocorreram os fatos. Organizar o pessoal disponível para aperfeiçoar esforços e recursos; analisar os prognósticos meteorológicos das próximas horas e os estados das vias de acesso ao socorro; determinar as responsabilidades de cada grupo; comunicar outras autoridades oficiais, inclusive Defesa Civil estadual e federal, ONGs de apoio, Forças Armadas, comunidades civis organizadas e equipes de especialistas do Corpo de Bombeiros; evacuar áreas de risco; criar mecanismos de transporte de pessoas e instrumentos a serem utilizados; verificar a disponibilidade de helicópteros mais próximos para assistência nas áreas de maior risco; organizar logisticamente o transporte de suprimentos humanitários; integrar ações civis e militares em uma força conjunta de resgate; simular situações de evacuação com intuito de diminuir efeitos durante um desastre natural; informar a sociedade e os meios de comunicação de tal forma que não atrapalhe o andamento das atividades de socorro; determinar para onde para onde devem ser transferidos os feridos e mortos; assistir as fa-

mílias junto a cartórios, polícia e hospitais. Dentre tantas providências, não é possível agir com competência sem discussões preventivas sobre situações emergenciais, portanto compete a cada prefeitura ter uma equipe preparada para situações de risco para minimizar seus efeitos ou então estabelecer parcerias através de consórcios de cidades. Podem ser considerados desastres naturais situações como seca, tremores de terra, terremotos, trombas d´água, tornados, maremotos, enchentes, ciclones, deslizamentos de terra, incêndios florestais e outros. Em casos de necessidade de se montar hospitais de campanha, a divisão/classificação é a seguinte: cirurgia maior e menor; medicina geral; epidemiologia; atenção médica básica; assistência neurológica e a queimados, dentre outras. A elaboração de um programa de melhoramento de comunicação para a coordenação de gestão preventiva ou de resposta a situações emergenciais é essencial. Prioritário em situações emergenciais são o restabelecimento da infraestrutura básica como ligações de água, energia elétrica, telefone, gás e outros; limpar as áreas contaminadas com pessoal treinado; coordenar ajuda médica aos afetados; realizar trabalho conjunto e coordenado com outros órgãos; adequar ou construir albergues para alojar a população afetada; realizar a transição de socorro ao desenvolvimento em parceria com governo estadual e federal, dentre outros. Como analisamos, é complexo o desenvolvimento de ações de socorro – para tal, é necessário o treinamento dos gestores públicos municipais para o atendimento mais adequado à população atingida. Que os políticos tomem ciência de suas responsabilidades de governar com maior responsabilidade pública. Espero que os avisos da natureza estabeleçam ações preventivas coordenadas pelos governos municipais.


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Fotos: Divulgação

CONSUMO CONSCIENTE Ainda sem previsão de chegada ao mercado, o Panthera Leo é uma das grandes promessas da multinacional sueca HUSQVARNA. Traz um novo conceito em cortadores de grama que atende aos mais rígidos critérios ambientais, trata-se de um equipamento movido à bateria recarregável, com painel de navegação em visor LCD, sensores de obstáculos e volante ergonômico. O modelo também será fabricado com materiais reciclados e tecnologia antipoluição, com índice zero em emissão de poluentes. www.husqvarna.com.br

A linha de metais sanitários Smart System da Lorenzetti é caracterizada pelo fechamento automático alguns segundos após ser acionada. Além de proporcionarem redução de até 60% no consumo de água, têm como diferencial o design moderno e que se adapta a qualquer ambiente. www.lorenzetti.com.br

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Brinde pode se tornar objeto de desejo, confeccionado em uma peça única de papelão reciclável, pode ser montado e desmontado com um só movimento. Muito fácil de carregar, o Canguru pesa cerca de 600 gramas e vem envolto em uma fita que faz as vezes de uma alça. Montado, tem 43cm de altura, o que é suficiente para ser utilizado confortavelmente. www.nominadesign.com.br

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Com a chegada dos dias frios, a busca pelo aconchego do lar aumenta. Pensando nisso, a loja Via Flor acaba de lançar uma linha de almofadas com o agradável toque das fibras naturais. Elas são customizadas em Tricô e feitas com tecidos de fios reciclados em diversas cores e padrões. Criadas com exclusividade pela proprietária Daniela Féres, as peças harmonizam com variados sofás e poltronas. www.viaflor.com.br

A água que escoa pelos ralos é cheia de produtos químicos nocivos à natureza e, com o intuito de minimizar os prejuízos ambientais, a SuperBAC desenvolveu uma pastilha para ralos feita a partir de um blend de microorganismos aptos a aumentar a capacidade de tratamento e a reutilização da água que sobra da limpeza doméstica. O produto será comercializado pela Bombril. www.bombril.com.br


Divulgação/Alexandre Perroca

A Conexão Solidária abriu o Dragão Fashion Brasil com uma coleção de roupas produzida por empreendimentos solidários de diferentes partes do Brasil. A empresa, criada para promover a economia solidária, tem como objetivo estreitar as relações entre os empreendimentos solidários e os empresários de diferentes setores da economia em favor da inclusão social, do desenvolvimento de negócios justos e sustentáveis e da democratização econômica. Agência de Desenvolvimento Solidário: www.ads.org.br www.dragaofashion.com.br

Os jogos de cama da linha Fall, da Trisoft, têm estampa inspirada no outono, são compostos por lençol, lençol de baixo, fronha e edredom, todos confeccionados em tecido 100% algodão 180 fios e ecologicamente corretos, pois não utilizam água no processo de fabricação. www.trisoft.com.br

Linha GE adere a consciência ecológica, a lavadora EcoPerformance tem uma função que ajusta automaticamente o volume da água de acordo com a quantidade de roupas diminuindo o consumo, a secadora possui a função Eco Secagem, que ativa um sensor de umidade, desligando automaticamente o aparelho quando a roupa estiver seca, com capacidade de 15 kg permite que um grande volume de roupas seja seco de uma só vez, poupando energia. www.gedako.com.br

Pedro Petry ficou conhecido nacionalmente ao incorporar nós e rachaduras de madeiras descartadas por outros mercados em objetos de decoração. Graças à parceria firmada com a Orsa Florestal - empresa do Grupo Orsa, que produz madeira tropical serrada e certificada pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC). Agora, o ecodesigner poderá criar suas peças tendo como matériaprima um portfólio de mais de 25 espécies certificadas, como Angelim Vermelho, Cedrinho, Jatobá, Pequiá, Sucupira e tantas outras que serão transformadas em puffs, mesas de centro, bancos, cadeiras, vasos e muito mais. www.orsaflorestal.com.br

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Banco de Imagens Grupo Orsa–Barabani

Coca-Cola Brasil lança garrafa PET ecológica - A PlantBottle é a primeira garrafa PET feita parcialmente de material de origem vegetal, o etanol da cana-de-açúcar, que substitui parte do petróleo como insumo na nova embalagem. Ela reduz em até 25% as emissões de CO² e impulsiona o setor sucroenergético do Brasil. www.cocacolabrasil.com.br

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ENERGIA

Usina Hidrelétrica

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Por Melissa Sayki

SXC/ Robert Linder

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Conheça os prós e os contras dessa obra complexa que envolve questões de engenharia, jurídicas, de viabilidade econômica e socioambientais


FORÇA E POTÊNCIA A palavra energia vem do grego “energeia”, que significa “força em ação”. A energia hidrelétrica é a obtenção de eletricidade por meio do aproveitamento hidráulico de um rio. O Brasil usa essa fonte de geração de energia desde o final do século 19, mas as décadas de 60 e 70 marcaram a fase de maior investimento na construção de grandes usinas. Devido a essas opções feitas no passado, essa potência natural vem atraindo cada vez mais olhares do modelo econômico brasileiro. Isso devido ao alto rendimento que esse tipo de fonte de energia pode trazer não só para a economia do País como também para quem empreende. O Brasil mesmo possui um grande número de atividades eletrointensivas, como a produção de minério, aço, alumínio e cimento, entre outras commodities. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a força das usinas hidrelétricas é responsável por aproximadamente 20% da produção de energia elétrica no mundo. Esses dados só não são maiores pelo fato de poucos países apresentarem as condições naturais para a instalação de hidrelétricas. As nações que possuem grande potencial hidráulico são os Estados Unidos, Canadá, Brasil, Rússia e China. No nosso País, um dos grandes destaques está no rio Paraná, mais precisamente na divisa entre Brasil e Paraguai, que abriga a segunda maior produtora de energia do mundo, a usina de Itaipu Binacional. Sua capacidade instalada (potência) é de 14 mil MW (megawatts), com 20 unidades geradoras de 700 MW cada. Só perde para hidrelétrica chinesa Três Gargantas, instalada no Rio Yang-Tsé, que opera em 18,2 mil MW. O engenheiro eletricista e consultor na área de energia elétrica, Roberto Pereira d’Araújo, ressalta que ao adotar uma regulação apropriada para esse modo de produção, é possível oferecer

Funcionamento de uma usina hidrelétrica As águas de um rio são captadas em um reservatório. Então, elas são conduzidas por tubulações até a casa de força ou usina geradora, onde estão instaladas as turbinas e os geradores. A pressão das águas sobre as pás do rotor da turbina produz um movimento giratório, transformando a energia hidráulica em um trabalho mecânico que, por sua vez, aciona o gerador. Este equipamento é composto por um eletroímã e por um enorme fio de cobre bobinado. O campo magnético entre os dois gera a corrente elétrica que, na sequência, é enviada ao transformador para aumentar sua tensão em milhares de volts. Dessa forma, a eletricidade pode ser mais bem transportada para longas distâncias.

energia limpa e extremamente barata. “O que é geralmente esquecido nas discussões sobre o tema é que, dentre as energias renováveis, as hidrelétricas têm uma vida útil muito mais longa do que as outras formas. Isso quer dizer que elas ‘se pagam’ várias vezes. O Brasil já tem exemplos de usinas que funcionam por mais de 80 anos. Os Estados Unidos têm usinas de mais de um século de existência produzindo energia continuamente”, diz. E COMO OCORREM OS APAGÕES? Quando há um período grande de seca, os rios perdem volume e o nível do reservatório das usinas cai, diminuindo a força da queda d’água. Consequentemente, algumas turbinas têm que ser desligadas, o que causa um déficit na produção de energia. Acontece que boa parte das usinas brasileiras funciona em regime de fio d’água. Isso significa que elas não possuem um reservatório que permita grande capacidade de armazenamento. O Brasil é capaz de guardar água equivalente ao consumo de 6 meses.

Dessa forma, com o sistema altamente interligado, as usinas que não têm reservatório geram “no máximo” em época das cheias, enquanto as usinas que possuem capacidade de armazenamento guardam a água para o futuro. O problema é que a falta de investimento em novas fontes de energia e linhas de transmissão em 2001 foram os fatores que mais contribuíram para a crise do apagão. Sem planejamento, houve o uso abusivo da reserva. A partir daí, o governo enxergou a real necessidade de reestruturar a matriz energética brasileira, com o propósito de organizar melhor e planejar a exploração da força d’água para a produção de energia elétrica. Nesse viés, as termoelétri-

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Não é novidade que esse tipo de empreendimento é uma fonte importante de energia no mundo atual, pois alavanca o desenvolvimento de um país, gera empregos e diminui o risco dos temidos apagões, mas como qualquer atividade econômica em meio à natureza, acaba provocando sérios danos ao ambiente. E quando falamos em desenvolvimento sustentável, esses impactos são motivo de polêmica e dúvidas, afinal, qual a verdadeira dimensão do prejuízo ambiental na construção de uma usina hidrelétrica? Como ele pode ser amenizado? Veja a seguir.

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ENERGIA cas, que sempre foram necessárias na complementação de energia de base, no entorno de 12 a 15%, ganharam mais força na tentativa do governo suprir as demandas do País, já que não havia como expandir a produção hidráulica na época. O que o consumidor não esperava, de fato, era o aumento do preço da energia e a redução da força para o mercado consumidor com a prática do racionamento. DESAFIO ENERGÉTICO BRASILEIRO Devido à falta de projetos e ao complicado processo de licenciamento ambiental das obras, o governo tem tido dificuldade em licitar hidrelétricas. Por essa razão, termoelétricas a óleo, carvão ou gás têm gerado mais energia no País. De acordo com o último relatório de fiscalização da Aneel, cerca de 180 usinas estão sem previsão de construção, por causa de problemas ambientais, jurídicos e econômicos. Juntas, elas somam 10 mil MW de capacidade instalada, o que equivalente a 25% da potência dos novos projetos de geração elétrica no Brasil. No total, elas custariam cerca de R$ 26 bilhões, com a vantagem de não estarem concentradas em um local nem dependerem só de uma fonte de energia. O empenho do governo para viabilizar engenhosas construções de usinas hidrelétricas, como a de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), também põe à prova o modelo energético brasileiro. Afinal, essas obras são realmente a melhor opção? No território nacional, a abundância de recursos hí-

Proporção de energia inserida na matriz energética brasileira Hidrelétrica: 73,63% 838 usinas – Potência: 78.793.231 KW

Gás: 11,27% VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

125 usinas – Potência: 12.055.295 KW

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Biomassa: 5,82% 356 usinas – Potência: 6.227.660 KW

Petróleo: 5,36% 829 usinas – Potência: 5.735.637 KW

Nuclear: 1,88% 2 usinas – Potência: 2.007.000 KW

Carvão mineral: 1,43% 9 usinas – Potência: 1.530.304 KW

Eólica: 0,62% 37 usinas – Potência: 659.284 KW

Solar: menos de 0,01% 1 usina – Potência: 20 KW) Fonte: Ministério de Minas e Energia e PAC-2

Prós e contras na construção de uma usina hidrelétrica PRÓS • Baixo custo do MW (megawatt), ou seja, tem um valor operacional mais baixo do que as outras fontes de energia. • Forma de energia limpa, pois não polui o meio ambiente. • Criação de milhares de empregos diretos e indiretos. • Desenvolvimento econômico para o país. CONTRAS • Impactos ambientais, como a mudança do clima, espécies de peixes desaparecem, animais fogem para refúgios secos, árvores viram madeira podre debaixo da inundação, entre outros. • Desapropriação de terras pela inundação. • Interferência social com a relocação de moradores da região, ou seja, milhares de pessoas deixam suas casas e têm de recomeçar sua vida do zero em um outro lugar. • Perdas de heranças históricas e culturais. Fonte: www.itaipu.gov.br

dricos (aproximadamente 12 mil rios) é a grande mola propulsora para a preferência pelas hidrelétricas. Segundo ambientalistas, não é à toa que a megausina vai sair do papel. De acordo com os dados do Ministério de Minas e Energia (MME), apenas 28% do potencial energético dessa fonte é explorado pelo Brasil. As três grandes bacias hidrográficas do País (Amazonas, São Francisco e Paraná) cobrem cerca de 72% do território nacional e concentram 80% do volume de água. Calcula-se que até 2030 o País terá esgotado a capacidade dos principais rios, forçando o governo a fazer anualmente novos investimentos em fontes de energia mais caras. Na visão de Roberto Brandão, analista do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a opção nacional por investimentos pesados em eletricidade de fonte hídrica é acertada. “O consumo de eletricidade deve aumentar mais de 60% nos próximos anos. Há, portanto, grande necessidade de contratação de novas geradoras. Belo Monte, por exemplo, era o único projeto de hidrelétrica em condições de ser leiloado e, por seu porte, representa uma reversão na tendência à contratação de usinas termoelétricas”, afirma. A avaliação diverge dos argumentos apresentados por Francisco Hernandez, engenheiro eletricista da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do painel de especialistas que apontou falhas no projeto da hidrelétrica de Belo Monte. Ele sugere métodos alternativos para que o País possa avançar economicamente

sem abrir mão de nossos recursos naturais. “O governo deve aplicar a co-geração de energia elétrica com o aproveitamento real do bagaço de cana, abundante em várias localidades do Brasil e que coincide com o período mais baixo de acumulação das águas. Também é necessário redefinir parâmetros de gerenciamento dos reservatórios brasileiros. Há estudos aprofundados e seriíssimos que revelam a possibilidade de otimização do que já existe. Outra saída é a manutenção preventiva e ampliação da capacidade do sistema de transmissão de energia elétrica. E, por fim, aproveitar o real potencial das fontes alternativas, além de fazer racionamentos programados na indústria eletrointensiva no período sazonal desfavorável, e os preventivos através de campanhas quando os reservatórios estão no período de menor acumulação”, enfatiza. USINAS X MEIO AMBIENTE Diferente do que se pensa, todas as formas de produção de energia afetam de algum modo a natureza, pois elas advêm da


BELO MONTE VALE A PENA? Encarada pelo governo Lula como assunto prioritário no setor de energia, a usina hidrelétrica de Belo Monte está no centro de uma polêmica. Enquanto a União afirma que a obra pode beneficiar milhões de brasileiros, os ambientalistas e representantes de movimentos sociais argumentam que o impacto socioambiental poderá causar prejuízos irreversíveis ao local e apontam para uma suposta ineficiência do empreendimento. Para entender melhor esse impasse, acompanhe os capítulos dessa história recente: DADOS DO RIO XINGU Nasce no Mato Grosso, corta o Pará e deságua no rio Amazonas. Tem 1,8 mil quilômetros de extensão, segundo dados do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Sócioambiental da Transamazônica e Xingu. O nível das águas está

mais baixo que o de costume porque a incidência de chuvas foi menor neste início de ano. Quem navega por ele, aprecia bem a paisagem que mostra somente o topo das árvores em determinadas épocas do ano. Durante as secas, é possível vê-las totalmente para fora da água, formando ilhas. RAIO-X DE BELO MONTE Origem do projeto: as prospecções começaram em 1970. Na década seguinte, havia a previsão da construção de seis usinas na região, entre elas Belo Monte. Após protestos de líderes indígenas e de ambientalistas, o projeto foi modificado várias vezes e reapresentado em 1994, com a previsão de redução da área represada para evitar a inundação de terras indígenas. Somente em 2008 o Conselho Nacional de Política Energética definiu que o empreendimento seria o único a explorar o potencial energético do Rio Xingu. Em fevereiro deste ano, o Ibama concedeu a licença prévia para Belo Monte, mesmo com três pareceres ambientais dos seus próprios técnicos desfavoráveis ao projeto. E no dia 20 de abril foi realizado um leilão para definir o grupo de empresas que se responsabilizaria pela construção da usina. Localização: Volta Grande do rio Xingu, entre os estados do Pará e Mato Grosso. Ocupará também parte da área de cinco municípios paraenses: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. Indígenas da região: são 28 etnias em um total de 20 mil pessoas, segundo o Instituto Socioambiental, instituição sem fins lucrativos que atua em questões dos direitos indígenas. Tamanho: será a terceira maior do mundo, com capacidade instalada de 11,2 mil MW. O lago da usina terá uma área de 516 km² distribuídos em três casas de força com capacidade para abastecer uma região de 26 milhões de habitantes com a mesma intensidade de con-

sumo como São Paulo. Potência: o Xingu não é um rio de regime perene. Isso indica que a vazão da água não é constante e Belo Monte irá gerar apenas 40% de sua capacidade total. Em outras palavras, a usina vai usar os seus 11,2 mil MW no período das cheias, enquanto outras podem reduzir sua geração e guardar água. Já nas temporadas de seca, a vazão da usina será de apenas 700 metros cúbicos por segundo (m³/s), e em regime de ociosidade produzirá menos que 3 mil MW. Previsão das operações: devem iniciar em fevereiro de 2015 e ser concluídas até 2019. Custo do empreendimento: o governo calculou R$ 19 bilhões, o que torna o empreendimento o segundo mais custoso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), atrás apenas do trem-bala entre São Paulo e Rio, com orçamento de R$ 34 bilhões. Porém os investidores prevêem gastos de até 30 bilhões. A vencedora do leilão ofereceu o menor lance na relação megawatts-hora (MWh), resultando em R$ 78 e em um deságio de 6,02% em relação ao valor estabelecido pelo Ministério de Minas e Energia: R$ 83 por MW/h. Um dos grandes benefícios concedidos no leilão foi o desconto de 75% no Im-

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transformação dos recursos naturais. “A energia solar, apesar de não poluir na fase de operação, utiliza células fotovoltaicas cuja fabricação envolve a produção de perigosos materiais, tais como o arsênico, cádmio ou silício inerte. A queima de biomassa, apesar da absorção do CO2 emitido pelo replantio, polui a atmosfera com particulados. A biomassa também estaria associada à necessidade de extensas áreas voltadas para o cultivo de energéticos, podendo deslocar o plantio de outras culturas voltadas ao consumo humano. Já a energia eólica causa problemas de ocupação extensiva de terras, ruído e pode ser uma ameaça à vida de aves silvestres”, explica d’Araújo. Apesar de ser considerada uma fonte “limpa”, por não emitir poluentes, e ser economicamente rentável, a construção de uma usina hidrelétrica também não está isenta de problemas (Veja box Prós e contras na construção de uma usina hidrelétrica).

Fotos: Greenpeace/Agência Brasil

Protesto de integrantes do GreenPeace contra a construção da usina de Belo Monte

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Divulgação

ENERGIA

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James Cameron durante visita à Manaus

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posto de Renda da usina nos primeiro dez anos de operação, além da ampliação para 30 anos do prazo para o financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que poderá financiar até 80% da obra. Concessionária vencedora: Norte Energia, composta pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf ), com 49,98%, Construtora Queiroz Galvão S/A, com 10,02%, Galvão Engenharia S/A, com 3,75%, Mendes Junior Trading e Engenharia S/A, com 3,75%, Serveng-Civilsan S/A, com 3,75%, J Malucelli Construtora de Obras S/A, com 9,98%, Contern Construções e Comércio Ltda, com 3,75%, Cetenco Engenharia S/A, com 5%, Gaia Energia e Participações, com 10,02%. Concessionária contrária: Belo Monte Energia com as aliadas Andrade Gutierrez Participações S/A, com 12,75%, Vale S/A, com 12,75%, Neoenergia S/A, com 12,75%, Companhia Brasileira de Alumínio, com 12,75%, Furnas Centrais Elétricas S/A, com 24,5%, Eletrosul Centrais Elétricas S/A, com 24,5%. FUTUROS LEILÕES NO BRASIL Mais 478 empreendimentos de origem eólica, biomassa e PCHs (pequenas centrais hidrelétricas), foram cadastrados para o próximo leilão de energia renovável, que será realizado brevemente no Brasil. A informação é da Empresa de Pesquisa

PROTESTOS CONTRA A USINA No dia 20 de abril, manifestantes do Greenpeace despejaram três toneladas de estrume na frente do prédio da Aneel em Brasília, local onde foi realizado o leilão. Lá, os ativistas também ficaram acorrentados às grades de entrada. “O Brasil tem atualmente uma sobra de energia de 4 mil MW e um potencial enorme de exploração de energia eólica e de biomassa, complementares à geração hidrelétrica, que evitarão a operação das termelétricas a diesel e óleo combustível, as piores opções em termos de emissões. A construção desses parques de projetos de biomassa e eólicos levaria menos tempo do que é estimado para a construção de grandes usinas como é o caso de Belo Monte”, diz Ricardo Baitelo, coordenador de campanha de energia do Greenpeace. James Cameron, o famoso diretor de Titanic e Avatar – filmes de maior bilheteria da história do cinema – também quer encabeçar uma cruzada contra a hidrelétrica de Belo Monte. Ele até escreveu uma carta ao presidente Lula, pedindo que interrompesse a obra. Em sua participação no Fórum Internacional de Sustentabilidade, no dia 27 de março, em Manaus (AM), o cineasta fez um sobrevoo no rio Xingu e se impressionou com a semelhança entre o local e as paisagens mostradas em Avatar. No evento, ele não deixou de manifestar sua preocupação com a Amazônia. “Essa questão é uma história real de Avatar. É uma parábola de Pandora”, compara a situação dos índios brasileiros com o filme em que os habitantes originais de Pandora são ameaçados por invasores.

Energética (EPE). Os ambientalistas e representantes de movimentos sociais já deram o recado: “Já estamos cansados de ouvir e não sermos ouvidos. Então, lutaremos até o fim contra projetos equivocados como é o caso de Belo Monte”, desabafa Luiz Cláudio Brito Teixeira, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Norte II (PA/AP). Totalizando, os projetos têm capacidade instalada de 14.529 MW, superior à potência da usina de Belo Monte. A energia deve ser entregue a partir de 2011. A maior parte do volume cadastrado para o leilão é de centrais eólicas: 399, com potência de 10.569 MW. Depois, vêm as térmicas a bagaço de cana, com 55 projetos e 3.518 MW. Há ainda propostas de duas usinas abastecidas por resíduos de madeira (57 MW) e quatro (131 MW) por capim-elefante. Dezoito PCHs se cadastraram, com oferta total de 255 MW. Diante desse cenário, o consultor de energia renovável e sustentabilidade, Antonio Carlos Porto Araújo, também faz um alerta sobre a necessidade de o governo repensar o planejamento energético brasileiro. “Devemos tratar a questão energética sob a ótica do contexto do desenvolvimento econômico salutar, que planeja e executa políticas socialmente justas, ambientalmente amigáveis, com retorno ao

investimento prudentemente realizado. E esses desafios deverão ser vencidos com urgência se quisermos efetivamente democratizar o acesso à energia, já que 20 milhões de brasileiros ainda não a possuem em seus lares”, frisa. A exemplo disso, Roberto Pereira d’Araújo cita o caso da Hydro-Quebec, estatal canadense, que para projetar o aproveitamento do rio Romaine, no norte do país, desde os estudos iniciais, integrou a comunidade atingida nas discussões. “Parte da receita da usina será destinada a um fundo de desenvolvimento a ser gerido pela própria comunidade e, dessa maneira, os ‘atingidos’ também se sentem ‘sócios’ do empreendimento. Se, aqui no Brasil, as usinas fossem imaginadas sob uma ótica regional, sendo projetos de vários ministérios e não só do Ministério de Minas e Energia, as resistências seriam bem menores”, conclui.


Debate Veja, a seguir, as opiniões de especialistas que acompanham há anos esse projeto “O custo de R$ 19 bilhões representa pouco mais que a metade da produzida em uma usina termelétrica, por exemplo, com a vantagem de ser uma fonte de energia renovável. A maioria absoluta da população local é a favor da usina porque ela trará benefícios à região. O Brasil é um país que tem demanda crescente de energia por conta do crescimento constante da economia. Precisamos agregar nova oferta. Um país que quer ser a quinta economia do mundo e oferecer ao investidor energia tem que pensar cinco anos para frente. E é por isso que estamos fazendo essa usina (Belo Monte), Santo Antônio, Jirau, Estreito e o Complexo do Tapajós.” Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional

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O que a hidrelétrica representa para o Brasil? “Muita gente que estudou e conheceu esse projeto estima que o seu custo real ficaria em mais de R$ 25 bilhões. O fato é que os padrinhos do projeto e todas as instâncias estatais (MME, EPE, Aneel) mentiram primeiro dizendo que custaria menos de 10 bilhões, depois, que custaria 19 bilhões. Afirmaram que era um bom projeto de engenharia e que salvaria o Brasil do próximo black-out. Na verdade é o contrário: ao usar essa soma enorme na construção da usina, deixaremos de gastar em opções mais inteligentes de transmissão, de distribuição e de economia de energia – o que afastaria o risco de déficit no futuro.” Oswaldo Sevá, professor da Universidade Estadual de Campinas, engenheiro, colaborador dos ameaçados e dos atingidos pelas barragens, estudioso de hidrelétricas há 35 anos e do projeto Belo Monte há 22

“Belo Monte não nasceu da noite para o dia. Os estudos sobre a hidrelétrica vêm sendo desenvolvidos há mais de 30 anos, com debates e discussões envolvendo os mais diferentes segmentos da sociedade. O resultado é que o projeto original foi profundamente alterado, no sentido de minimizar as interferências ambientais. Por exemplo, a área alagada pelo reservatório, que seria de 1.225 km², foi reduzida para 516 km².” Presidente Lula em entrevista ao Jornal Diário do Pará, 06/05/2010

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Devemos temer os impactos socioambientais? “As dimensões da obra são enormes, tal como suas consequências. O ineditismo é a criação de um trecho de vazão reduzida que reduz a oferta de água em 120 km do trecho original do rio, uma região que não aparece no EIA-Rima (estudo e relatório de impacto ambiental) como região diretamente afetada, nem sua população. A interrupção da Volta Grande muda o modo de vida daquelas populações ribeirinhas, desde a inviabilização do transporte, pois os níveis de água abaixam até cinco metros, compromete a pesca, a obtenção da proteína animal, a segurança hídrica da região. Um projeto ruim, remendado desde os anos 1980 que alaga, seca e produz pouca energia e até hoje a população brasileira não sabe o preço.” Francisco Hernández, engenheiro eletricista e pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo

“Esta barragem está submetida aos interesses dos grupos de poder que mandam naquela região e dos grupos políticos que se instalaram nos ministérios. O governo tenta convencer a sociedade de que os opositores do projeto não têm argumentos contra o mesmo e, assim, eximir-se dos debates. As liminares concedidas pela Justiça Federal foram embasadas técnica e juridicamente, o que não se pode dizer o mesmo das liminares que as derrubaram.” Luiz Cláudio Brito Teixeira, missionário do Conselho Indígena Missionário (Cimi) Regional Norte II (PA/AP)

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“O sistema BNDES é a principal fonte de empréstimos de longo prazo no Brasil, oferecendo prazos, taxas e condições melhores que as do mercado de capitais. Também é um instrumento de política industrial, por meio do qual o Estado direciona recursos em condições vantajosas para atividades consideradas estratégicas.” Roberto Brandão, analista do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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Leilão suspeito ou justo?

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Sustentabilidade é uma opção política Nos corredores da Fiema Brasil, muita tecnologia, muito movimento e muita juventude. Uma boa combinação para o futuro dos negócios do chamado mercado verde

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Por Vera Damian

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A organização da Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente, que aconteceu de 27 a 30 de abril em Bento Gonçalves (RS), recebeu mais de 22 mil visitantes, com uma expressiva participação de jovens de até 30 anos. Eles circulavam atentos pelos corredores da feira, participavam das atrações paralelas – congresso, seminários e palestras – e faziam a linha de frente em alguns estandes, como o da Enerbio, empresa responsável pela neutralização das emissões de carbono da Fiema Brasil 2010. Com apenas 21 anos, formado em Administração, Bruno Oliva Peroni é um dos responsáveis pela análise de projetos da Enerbio Consultoria e projeta os números da Fiema. “As emissões geradas nesta

feira devem ficar em torno de 30 toneladas de dióxido de carbono, sendo 75% correspondentes a viagens aéreas, 17% a deslocamentos de veículos por via terrestre, 7% ao consumo de energia e 1% à geração de resíduos. A compensação se dará por meio da compra de créditos de carbono no mercado voluntário, que estão sendo comercializados no Rio Grande do Sul pela Usina Hidrelétrica de Barra Grande”, informa Bruno Peroni. Se o cálculo parece simples, a conta final mais ainda. No mercado voluntário – aquele em que a empresa se certifica pela redução de emissões mesmo sem a obrigação legal – a compensação gira em torno de cinco dólares por tonelada de CO2. O valor final das compensações de carbono da Fiema será algo em torno de US$ 150. O baixo número denota a realidade de uma sociedade

que ainda paga pouco pelos impactos ambientais que gera e que reconhece como verde prioritário a cor presente nas notas de dólar. EDUCAÇÃO A Fiema se define como feira de tecnologia e negócios, mas não deixa de promover a educação. As crianças de escolas do município participam do projeto Viva a Natureza, enquanto congressos e seminários atualizam os participantes sobre as últimas pesquisas e desenvolvimentos em tecnologias para o meio ambiente.

Fotos: Gilmar Gomes

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Nos 50 mil metros quadrados de estandes, cursos, moda e artesanato com temática ambiental, a profusão de tecnologias e soluções para a reciclagem impressionam. Vão desde a fabricação de tijolos e telhas com plásticos reciclados até megausinas de reciclagem, onde automóveis entram em picadores gigantes e têm todas as suas partes posteriormente separadas para reaproveitamento ou incineradas para geração de energia. A maior parte das tecnologias apresentadas corresponde aos “erres” de “reciclagem” e “reúso”. O conceito de “reduzir” ainda não parece prioridade, embora do ponto de vista da sustentabilidade seja ainda o mais urgente. Os efluentes líquidos domésticos e industriais ganham estações de tratamento com tamanho adequado às diferentes demandas e avançam em minúcias para garantir maior eficiência. Para um país que trata menos de 10% do esgoto dos municípios, as soluções representam grandes perspectivas de negócios, caso haja vontade política dos gestores. Um dos expositores apresentou estações compactas para tratar esgotos, desde uma pequena residência até uma população de dez mil habitantes. O custo da estação para tratar os efluentes de mil pessoas fica em torno de R$ 110 mil. O tratamento dos efluentes é uma das providências da Casa sustentável principal vedete da Fiema. Ocupando uma área de 155 m2, a construção de dois andares reuniu diversos itens ecologicamente corretos, como iluminação e ventilação natural, telhado verde, divisórias internas com tijolos de encaixe que dispensam o uso de argamassa, uso de madeira de reflorestamento, isolamento térmico, entre outros. Na área externa, jardins e um lago onde termina o tratamento dos esgotos domésticos. O encantamento dos visitantes com os conceitos e com o aconchego da construção denota a vontade latente de poder participar ativamente de práticas ecologicamente corretas no seu dia a dia. Pela mesma razão e por ser de uma forma ainda mais acessível, os visitantes da Fiema paravam curiosos e entusiasmados em frente a um pequeno quiosque em meio aos corredores para conhecer o Ecopo. O copo descartável de fibras de papel para embalagem alimentícia surge no mercado como alternativa ao uso dos copos plásticos para água. A fábrica paulista quer introduzir no País um hábito que já é praticado há mais de dez anos na Coreia, onde os copos plásticos para água são proibidos.

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Além de reciclável, o Ecopo pode custar até 30% a menos do que o convencional. Outra pequena solução na prática do “erre” de “reduzir” foi apresentada por uma pequena empresa da Serra Gaúcha e propõe a lavagem de automóveis e outras superfícies metálicas sem o uso de água. Conferido de perto, o produto mostrou um desempenho excelente sem deixar riscos na superfície. A “façanha” é obtida pela composição química devidamente patenteada, à base de cera de carnaúba e óleo de mamona.

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ENERGIA DE SOBRA, POLÍTICA DE MENOS O II Fórum Brasileiro de Energia integrou a programação da Fiema e polarizou debates acirrados entre os defensores das fontes renováveis e das fontes fósseis/nucleares. Promovido pelo Instituto Venturi para Estudos Ambientais, o Fórum procurou contemplar espaço para apresentação das diferentes formas de geração de energia e tem entre seus maiores trunfos a capacidade de gerar interlocução entre os diversos interessados. Representantes de universidades, da Confederação Nacional da Indústria, da Eletrobrás e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), deram o seu recado sobre os avanços em cada área. Entre as contabilidades já capitalizadas do primeiro Fórum, realizado há dois anos, a diretora do Instituto Venturi, Arlinda Cezar, cita o projeto de instalação de semáforos em Porto Alegre (RS) com tecnologia “no-break”, para o caso de falta de energia elétrica, e lâmpadas LED, significativamente mais econômicas e duráveis do que as convencionais. “Neste II Fórum, ficou clara a necessidade de avançar em programas de eficiência energética, já que o Brasil perde cerca de 40% da energia no trajeto entre a geração e o consumo, devido a sistemas e equipamentos inadequados”, explica Arlinda Cezar. Do ponto de vista real da sustentabilidade, o Fórum deixou claro que o País tem grande potencial para aproveitamento de energias renováveis eólica e solar para a geração de eletricidade. A novidade é a recente conclusão de uma pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul sobre a viabilidade de implementação de uma empresa para a fabricação de módulos fotovoltaicos para geração de energia. “O Brasil tem matéria-prima e insolação mais do que suficientes, mas não tem se comportado de uma forma muito inteligente no aproveitamento desse seu potencial”,

Fotos: Gilmar Gomes

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observa a diretora do Instituto Venturi. Segundo ela, o governo federal precisa incentivar e investir no desenvolvimento de projetos nessa área ou optar pela adoção da tecnologia internacional já consagrada. A Alemanha é pioneira na adoção do sistema de produção residencial de energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas. O sistema consiste na instalação das placas nos telhados das casas, que irão utilizar a energia para seu próprio consumo sem custos e injetar o excedente em uma rede ligada a uma central. A central então venderá vender o conjunto de excedentes para outros consumidores. Na Fiema, empresas italianas buscavam parceiras para o desenvolvimento desse tipo de projeto no Brasil. O surgimento desse sistema na Europa aconteceu após o acidente da usina nuclear de Chernobyl, na década de 80. A própria população pressionou os governos a encontrarem uma fonte alternativa à energia nuclear, que resultou

na opção pelo aproveitamento da energia solar. Já o Brasil continua optando por mega-usinas hidrelétricas, como a de Belo Monte, no Pará, e pelo uberprojeto do pré-sal. Na semana em que aconteceu a Fiema, um grave acidente em uma plataforma no Golfo do México fez jorrar milhões de toneladas de petróleo no mar e os Estados Unidos não tiveram tecnologia suficiente para estancar o fluxo do poço localizado a 1.500 metros de profundidade. O pré-sal está a oito mil metros de profundidade. O que mais falta acontecer para que um país tropical passe a pensar de forma verdadeiramente sustentável?


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Fotos: Gilmar Gomes

FIEMA BRASIL 2010 João Raimundo Feldkirchen, diretor da Fel-Plast Não demorou para o estande da Fel-Plast na Fiema passar a ser conhecido como “casinha de Lego”. Os tijolos feitos de plástico reciclado se apresentam com vantagens de serem térmicos e acústicos, além de poderem vir em diferentes cores. O interior é perfurado para permitir a passagem de canos de água. A montagem das paredes se dá por meio de sistema de encaixe, já que dispensa argamassa. Segundo João Raimundo Feldkirchen, o material pode reduzir em até 30% os custos da obra, em relação a uma parede de alvenaria.

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Evandro Bavaresco da Bambuaria Art Bambu Móveis, objetos de decoração e estruturas para construção civil. A Bambuaria Art Bambu apresentou seus produtos na Fiema também com o objetivo de divulgar a versatilidade do material. “É a matéria-prima do futuro. A fibra do bambu é tão resistente quanto o aço. As serras que utilizamos para trabalhar o bambu são as mesmas utilizadas para cortar aço “, explica o empresário Evandro Bavaresco. Para ele, a Fiema foi uma feira de contatos e de negócios. “Tivemos várias encomendas e consultas”, declarou.

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Bruno Dinamarco, gestor da B&F Dias Especializada em sistemas de aeração para ar difuso em estações de tratamento de esgotos e efluentes industriais, a B&F Dias comemora 20 anos de atuação, em 2010, como líder na América Latina em seu segmento. Na Fiema, apresentou novidades como o difusor tubular para a difusão de ar longitudinal, que permite a redução de até 15% no consumo de energia, e a membrana de silicone para aplicação em estações de tratamentos de hidrocarbonetos, comuns em plantas de refinarias. “São produtos que representam o avanço da tecnologia nesta área”, explica Bruno Dinamarco. Reginaldo Nacata, gerente de projetos agrícolas da Ihara Indústrias Químicas A Ihara participou da Fiema como patrocinadora de seminários ligados a agricultura realizados durante a feira e para divulgar seu projeto Planta Forte Sobre Rodas. “O projeto consiste em cinco vans que rodam pelo País prestando assessoria a pequenos e médios agricultores, com vistas ao aumento de sua competitividade”, explica Reginaldo Nacata.

Adejanir Vasconcelos, gestor comercial da Biolavagem Automotiva O produto devidamente patenteado impressiona pela eficiência na limpeza de superfícies metálicas. A biolavagem se resume a borrifar o produto, que tem em sua composição cera de carnaúba e óleo de mamona, passar um pano para retirar os resíduos e uma flanela para lustrar. “A superfície não risca porque a cera envolve as partículas, que acabam retiradas pelo pano. O produto já está em uso no Centro-Oeste do Brasil há dois anos e aqui na Fiema buscamos parcerias para difundir no Sul do País”, explica Adejanir Vasconcelos, gestor comercial da Biolavagem Automotiva. O sistema economiza cerca de 300 litros de água, usados na lavagem convencional. O kit para lavar de seis a oito vezes estava sendo comercializado na feira por R$ 35,00. Mariela Klee, consultora da Câmara de Comércio Italiana no Rio Grande do Sul A Câmara de Comércio Italiana no Rio Grande do Sul participou da Fiema para divulgar um projeto da União Europeia na área de resíduos sólidos industriais e urbanos. O objetivo, segundo a consultora Mariela Klee, é transferir tecnologia e qualificação para as empresas participantes, que serão definidas pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul e pelaFepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental - RS). A previsão é de que os trabalhos iniciem em julho de 2010 e tenham duração de três anos. Ale Zanonato, artista plástico Famoso pelas obras criadas a partir de cascas e sementes, o consagrado artista plástico participou da Fiema para firmar parcerias com arquitetos e decoradores para sua mais nova criação: placas de revestimento criadas a partir de podas de videiras. A técnica desenvolvida por ele foi patenteada e depois difundida entre agricultores. “As podas de parreira normalmente não têm qualquer utilidade. Agora podem contribuir para gerar renda complementar no meio rural. Temos matéria-prima em abundância e pessoal disposto a produzir”, afirma. Marçal Paim da Rocha, diretor da Quinea A Quinea foi à Fiema para divulgar o portal Voccie Sustentabilidade e Inovação, voltado para a divulgação de profissionais na área ambiental. O portal foi lançado em outubro de 2009 pela Quinea, uma empresa de consultoria criada dentro da incubadora tecnológica da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Já temos mais de três mil perfis postados. O portal é gratuito e aberto a todos os profissionais e estudantes que queiram postar seu currículo”, conta Marçal da Rocha.


Bruno Oliva Peroni, analista de projetos da Enerbio Consultoria “A Enerbio Consultoria fez o estudo para compensar a geração de carbono gerado pela Fiema. Nossa presença nesta feira é para divulgar as possibilidades que existem hoje em termos de mercado de compensação de carbono”, afirma Bruno Oliva Peroni. Além do trabalho de consultoria, a empresa também opera como certificadora da redução de emissões, comercializa ativos de carbono e desenvolve projetos de redução de emissão de gases do efeito estufa por meio do mecanismo de desenvolvimento limpo, entre outras atividades.

Alessandra Calvo Abolis, engenheira comercial da Flipper Atuando há 17 anos em pesquisas e aplicação de equipamentos voltados para a área de saneamento, a Flipper levou para a Fiema estações compactas para o tratamento de esgoto que atendem desde uma residência a uma comunidade de até dez mil habitantes. Com sede em Atibaia (SP), a Flipper estreou sua participação comercial no Sul do País por meio do evento, onde estabeleceu muitos contatos. “Nossas soluções para pequenas cidades surpreenderam vários representantes de prefeituras pela eficiência e economia”, declarou Alessandra. A empresa comercializa equipamentos para o tratamento anaeróbico e aeróbico de esgotos. Combinados, apontam uma eficiência superior a 90%. O custo para o tratamento do esgoto de mil pessoas fica em torno de R$ 110 mil.

Stephano Shin, da Indústria de Copos de Papel Ltda. “Estamos na Fiema divulgando e procurando representantes no Sul do Brasil”, informa Stephano Shin, que apresentou o Ecopo na Fiema. Segundo ele, o copo descartável é feito de fibra de papel não branqueado próprio para embalagem alimentícia e custa de 20 a 30% menos do que os convencionais copinhos plásticos, com a vantagem de não gerar resíduos de difícil degradação. O produto é patenteado e fabricado pela empresa paulista Indústria de Copos de Papel Ltda.

Ralf Speranzoni, representante da Adelmann Umwelt para a América Latina A Fiema é a primeira participação em feira da alemã Adelmann Umwelt, empresa especializada na implantação de usinas de grande porte para reciclagem de lixo. Unidades Adelmann já estão em operação em vários países da Europa, Estados Unidos, Canadá e Dubai, com custos que variam de dois a 50 milhões de euros. Segundo Ralf Speranzoni, o pacote completo inclui os equipamentos, a instalação e o próprio financiamento, para facilitar o negócio. “Na Alemanha, nossas usinas estão removendo milhões de toneladas de antigos aterros sanitários para reciclar matérias-primas que estavam enterradas”, exemplifica Ralf.

Marcio Chiaramonte, presidente da Fiema 2010 A cada edição, percebemos que o tema ambiental ganha amplitude. De certa forma, todo mundo se tornou um pouco responsável pela causa. A Fiema se propõe a ser uma feira de negócios. Acreditamos que a partir desta edição sejam efetivados negócios em torno de R$ 15 milhões. Isso representa um incremento de 30% em relação à edição anterior. Esse crescimento reflete a consolidação da Fiema, mas também o aumento de oportunidades de negócios no setor. Em paralelo, a feira também realizou seminários e congressos, visando a promover debates técnicos, e o projeto Viva a Natureza, voltado para a promoção da educação ambiental de crianças em idade escolar.

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Luiz Chemello, representante da System Tollinger Italia SRL A produção de energia elétrica por meio do sol e dos ventos é o produto que a System Tollinger Italia SRL apresentou na Fiema. O representante Luiz Chemello aproveitou a feira para estabelecer contatos e difundir novos conceitos. “A aplicação dessas tecnologias inclusive em nível doméstico é um conceito ainda muito pouco conhecido no Brasil e já bastante difundido na comunidade europeia. É uma tecnologia mais ecológica do que as formas convencionais de captação de energia, com reduzidos impactos ambientais”, explica.

Depoimentos

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EcoSoftware

Sistema de Administração de Resíduos Aumente o lucro diminuindo as perdas


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VISÃO AMBIENTAL

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Interação e adaptação das espécies

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Os estudos da ciência concluem, cada vez mais, que a relação entre as espécies vivas é muito maior do que imaginávamos no passado

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RICARDO ERNESTO ROSE é diretor de meio ambiente e sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria BrasilAlemanha; é formado em jornalismo e filosofia e possui cursos de extensão em gestão ambiental e de especialização em energia, economia, marketing e finanças

À medida que os nossos conhecimentos sobre os seres vivos avançam, chegamos cada vez mais à conclusão de que todo o sistema vivo da Terra, aquilo que no passado chamávamos de “natureza”, só consegue se manter devido a uma intensa interdependência entre as diversas espécies. Como exemplo da interação das espécies, citamos o caso de três tipos de urubus, que eram muito comuns na Índia e em outras partes da Ásia: o urubu de bico longo, o de bico estreito e o de cabeça branca. Por meio de estudos científicos realizados há poucos anos, ficamos sabendo que essas espécies de urubus estavam em rápido processo de extinção, sem que se encontrasse sua causa. Depois de muitas pesquisas, os cientistas descobriram que a morte das aves era provocada por um tipo de anti-inflamatório utilizado nas vacas, de cujos cadáveres os urubus se alimentavam. Nos bovinos e nos seres humanos o medicamento atenua a dor, mas nos urubus causa falência renal. Como consequência do rápido desaparecimento das aves, milhares de carcaças de vacas apodreciam ao sol, quando incubavam antraz (doença infecciosa causada por bactérias) e serviam de alimento para cães. Além disso, com a fartura de carne que não era consumida, dada a redução na quantidade de urubus, houve um grande aumento na população de cães selvagens e, com isso, a ameaça de propagação da raiva. Assim, a quase extinção de três espécies de urubus aumentou a probabilidade de disseminação de epidemias perigosas ao homem. Por ser o resultado de um processo evolutivo que começou há 3,8 bilhões de anos e que ainda continua, a vida conseguiu adaptar-se a todos os nichos. Nas profundezas dos

mares, a 9 ou 10 mil metros de profundidade; debaixo de milhares de metros de gelo na Antártida; no fundo do solo, a 4 mil metros abaixo da superfície, em todos os lugares encontram-se seres vivos. A maioria dessas espécies é formada por microorganismos, espalhados por todos os ambientes. Recentemente, cientistas descobriram novos tipos de bactérias sobrevivendo em águas com altíssimos teores de acidez, localizadas perto de fontes termais. A capacidade que bactérias e fungos têm em adaptar-se aos ambientes mais adversos é utilizada em benefício do homem e da proteção do meio ambiente. Pesquisadores desenvolveram técnicas nas quais utilizam fungos para descontaminção de áreas poluídas por gasolina, óleos lubrificantes, corantes e solventes. Da mesma forma, águas contendo metais pesados (cromo, mercúrio, chumbo, etc.), extremamente danosos à saúde, podem ser recuperadas por meio da cultura de microor­ganismos ou por acumulação em plantas, que posteriormente são removidas do local contaminado. Outra técnica desenvolvida é a utilização de certas espécies vegetais e animais como “marcadores”, por meio dos quais os cientistas têm condições de determinar o tipo e a quantidade de poluição que está afetando determinada área ou bioma. A importância de preservarmos espécies ou ecossistemas não está baseada simplesmente no fato de que temos a obrigação ética de preservar a biodiversidade do planeta. Os ecossistemas nos oferecem vários serviços – alimentos, recursos genéticos, controle do clima, preservação da água e do solo, para citar apenas alguns – que não poderemos obter de nenhuma outra maneira.


CRÉDITO DE CARBONO

Alternativa de financiamento para projetos verdes

SXC

Por Samuel Nunes Na mesma proporção em que aumentam as demandas por políticas menos agressivas ao meio ambiente por parte das empresas, do poder público e dos cidadãos, crescem também as necessidades do mercado por maior produção. Juntos, esses dois fatores levam a uma equação difícil de resolver: como fazer mais e poluir menos? Investir em novas tecnologias é caro e demanda iniciativas próprias, mas desrespeitar o meio ambiente pode afetar a imagem de uma empresas e levá-la a perder espaço entre os concorrentes. Para auxiliar as organizações a resolverem o problema, uma das alternativas é a Redução Certificada de Emissão (RCE), popularmente conhecida como crédito de carbono. Um relatório publicado em fevereiro pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) mostra que o Brasil é, hoje, o terceiro maior mercado de carbono do mundo, atrás apenas de China e Índia. Segundo o mesmo documento, há 438 atividades no País envolvendo RCE e mais de dois mil projetos já foram registrados e se encontram em alguma das fases do ciclo de validação. Gráficos apontam que o crescimento do mercado que atua com os créditos tem sido bastante alto desde novembro de 2004, quando foi registrado o primeiro projeto para obtenção de RCE. A proposta dos créditos de carbono surgiu no Protocolo de Kyoto, assinado em 1997. Os países signatários comprometeram-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos anos seguintes, em porcentagens que levaram em conta o grau de desenvolvimento econômico de cada um. “Porém, para os países em desenvolvimento, seria difícil alcançar os índices do documento, visto que

muitas tecnologias ainda nem existiam ou eram muito caras na época”, lembra o economista João Randolfo Pontes, conselheiro do Conselho Regional de Economia de Santa Catarina (Corecon–SC) e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mesmo assim, projetos que contemplaram a redução dos GEE foram beneficiados com certificados correspondentes aos créditos. Janice Mileni Bogo, professora da Escola Superior de Administração e Negócios da Universidade do Estado de Santa Catarina (ESAG/Udesc), diz que “os créditos de carbono são considerados commodities e podem ser vendidos nos mercados financeiros nacionais e internacionais”. Dessa forma, investimentos para a redução dos GEE podem ser integralmente financiados pela venda dos créditos. “O montante de compra e venda dos créditos é controlado por órgãos governamentais, que fazem os cálculos e os apresentam à Organização das Nações Unidas (ONU) para provar que as emissões estão sendo reduzidas e que o protocolo está sendo cumprido”, explica João Pontes. Para se conseguir os certificados é preciso passar por uma série de processos. Ao todo, são sete etapas desde a concepção do projeto até que eles sejam liberados e possam ser transformados em dinheiro. Daí decorre o risco da operação, pois essas etapas são bastante demoradas e exigem investimento próprio dos empresários, sendo que é difícil prever como estará o mercado no momento da venda dos créditos e de onde sairão os recursos para financiar a implantação e manutenção dos projetos. De acordo com Mateus Bonadiman, diretor de negócios da Hdom Engenharia e Projetos Ambientais, “o primeiro passo consiste em criar um Inventário de Emissão de Car-

bono para verificar o quanto se está poluindo”. Com isso em mãos, partese para a escolha da metodologia a ser adotada. A mais comum tem sido a sugerida pelo Protocolo de Kyoto, baseada no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em seguida, há o processo de aprovação, que, no Brasil, é feito pela Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas, liderada pelo MCT. Depois, vem a aprovação e certificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão das Nações Unidas que trata das questões relativas ao clima, também chamado de Conselho Executivo de MDL. Passada essa etapa, o projeto sai do papel e vira realidade. Porém, a venda dos créditos de carbono só pode ser feita depois da obtenção dos primeiros resultados. “Estes créditos são negociados diretamente com as empresas interessadas ou em bolsas de valores”, ressalta Janice Bogo. No Brasil, as negociações são feitas pela BM&FBovespa. Nos Estados Unidos, elas passam pela Chicago Climate Exchange. A União Europeia também possui seu próprio mercado de carbono, a European Climate Exchange. Nos

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Apesar dos riscos, os créditos de carbono têm retorno garantido

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Tubos que levam o gás do aterro sanitário para a usina

acaso”. João Pontes avalia que é preciso evitar especuladores nesse mercado. Para ele, o mais importante não é o projeto em si, mas a conscientização que promove. Diversos tipos de empresas podem usufruir dos créditos de carbono para melhorarem suas práticas ambientais. A lista completa de fontes emissoras de GEE pode ser encontrada no Anexo A do Protocolo de Kyoto, bem como uma série de processos elegíveis à concessão dos créditos. O documento completo, traduzido para

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GASES DE EFEITO ESTUFA

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O nome “crédito de carbono” se refere ao dióxido de carbono (CO2), gás que é um dos principais causadores do efeito estufa. Porém, ele não é o único, e nem mesmo o mais perigoso. Outros gases também contribuem para o aquecimento global e, por esse motivo, são abrangidos pela Redução Certificada de Emissão. “Cada um tem uma porcentagem distinta, calculada com base no seu potencial de risco em comparação ao gás carbônico”, explica o economista João Randolfo Pontes. Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que deixa de ser lançado à atmosfera. Então, uma tonelada de gás metano, que é 21 vezes mais poluente que o CO2 equivale a 21 créditos. • Dióxido de carbono (CO2) = 1 • Metano (CH4) = 21 • Óxido nitroso (N2O) = 310 • Hidrofluorcarbonos (HFC) entre 140 e 11.700 • Perfluorcarbonos (PFC) entre 6.500 e 9.200 • Hexafluoreto de enxofre (SF6) 23.900

SXC/David Carrick

EUA, cada crédito de carbono vale hoje cerca de US$ 0,10. Já na bolsa europeia, os contratos futuros estão sendo negociados por pouco mais de 11,5 euros. É importante lembrar que as empresas que corriqueiramente emitem baixas quantidades de gases de efeito estufa não têm direito aos créditos de carbono. Segundo o Protocolo de Kyoto, é necessário que as atividades previstas no projeto de obtenção das RCEs visem diminuir ainda mais as emissões. Assim, uma empresa que trabalha com reflorestamento precisa comprovar em seu projeto que pretende diminuir as emissões através de atividades alternativas, como a substituição de fontes de energia fósseis por fontes renováveis, por exemplo. Nas palavras do protocolo, “as reduções devem ser adicionais às que ocorreriam na ausência da atividade certificada do projeto”. Outro fator importante a se destacar é que a iniciativa deve ser voluntária da parte que pretende obter os créditos. Reduções impostas por legislação não estão aptas a receber créditos de carbono. Nesses casos, as empresas devem fazer sozinhas os investimentos para as adaptações previstas na lei, sem a ajuda dos créditos para financiar os projetos. Devido à burocracia, muitas empresas temem investir na neutralização de emissões. Só que, além de financiarem projetos, os créditos podem se reverter em lucro, não só pela melhora da imagem da empresa no mercado, mas também pela venda de produtos derivados dos processos de redução. Felipe Bottini, da Green Domus Desenvolvimento Sustentável, diz que “os projetos são feitos para que o lucro seja o motivador da redução de emissões, não um prêmio para as reduções que ocorrem por

Divulgação/Marcos Rovaris

CRÉDITO DE CARBONO

o português, está disponível no site www.onu-brasil.org. br/doc_quioto.php. PROJETOS VERDE-AMARELOS Como as fontes emissoras são bastante variadas, diversos tipos de empresas podem obter créditos de carbono, com ações que vão desde a redução do lixo proveniente dos escritórios até processos mais complexos, como o reflorestamento e a substituição de energia fóssil por energia de fontes renováveis. A seguir, apresentamos dois exemplos de empresas nacionais que utilizaram as RCEs para terem um processo produtivo menos poluente. Conforme pontua Bonadiman, para entrar no mercado de carbono as empresas só precisam querer. “O mercado livre é como diz o


Divulgação/Marcos Rovaris

Usina de captação e queima de metano em Biguaçu (SC)

adesão de novos parceiros. O case da Sadia foi tema de um documento da ONU, intitulado Criando valores para todos: Estratégias para se fazer negócios com pobres. O trabalho colheu dezenas de exemplos em todo o mundo de empresas que utilizam práticas sustentáveis para melhorar a forma de se negociar, obter lucro e ainda ajudar a erradicar a pobreza. Outras duas empresas nacionais, Natura e Votorantim Papel e Celulose, são citadas no documento, mas só o projeto da Sadia é voltado para a redução de emissões. Empresas da área de bioenergia também

podem ser beneficiadas com as RCEs. Um exemplo é a ETH Bioenergia, que produz etanol a partir da cana-de-açúcar. A empresa iniciou suas atividades recentemente, em 2007, mas já está estudando maneiras de aproveitar o bagaço da cana para gerar energia. Com isso, a ETH pretende contribuir para que a matriz energética brasileira seja mais limpa e baseada em fontes renováveis.

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nome. Qualquer um pode entrar nele. Existem até casos de farmácias de manipulação querendo neutralizar suas emissões”, diz. Os negócios da Proactiva são voltados para o tratamento e destinação do lixo. Há projetos em vários países da América Latina. No Brasil, porém, só um desses projetos utiliza o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).Trata-se de um aterro sanitário localizado no município de Biguaçu, na Grande Florianópolis. Esse aterro recebe o lixo de toda a região e hoje conta com um projeto que, segundo a empresa, deve começar a gerar lucro até 2012. Segundo Vincent Rebillard, gerente de Projetos de MDL da Proactiva, o projeto de Biguaçú consiste na captação e queima completa do metano, também conhecido como biogás, proveniente da fermentação dos compostos orgânicos existentes no aterro. O gás é captado por meio de uma rede de tubos subterrâneos, comprimido e destruído. Esse caso é curioso porque o resultado da queima do metano continua sendo o dióxido de carbono. Porém, o metano é 21 vezes mais poluente que o gás carbônico. Devido a essa diferença, créditos de carbono podem ser gerados a partir da queima do biogás. Mesmo sem ainda ter obtido lucro com esse projeto, a empresa avalia que já tem resultados positivos. “Não é só a imagem da empresa que melhora no mercado; melhoram também as condições de trabalho dos nossos funcionários, que não sofrem mais com a exposição ao metano”, diz Rebillard. “São projetos arriscados por causa da instabilidade do mercado, mas, se ele permitir, é uma determinação da empresa seguir nessa linha”. O Programa Suinocultura Sustentável Sadia, conhecido internamente como Programa 3S, começou a ser implantado pela empresa ainda em 2005, muito antes da fusão com a Perdigão. Esse programa consiste na instalação de biodigestores nas propriedades de suinocultores em cinco estados. Ao todo, quase 1,1 mil produtores já participam do programa. Segundo a empresa, a diminuição dos gases poluentes ocorre por meio da instalação de biodigestores nas granjas. Com eles, os dejetos dos suínos são fermentados por bactérias em tanques cobertos, evitando a emissão de metano. Em novembro de 2009, a empresa obteve da ONU um registro que facilita ainda mais a

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Ambiental Expo: foco no tratamento de resíduos Evento cresce e se consolida no mercado nacional

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Por Henriete Mirrione

Jean-Paul Joarlette, gerente de produto da Atlas Copco “Nesta primeira participação percebemos que o público do evento é bastante específico e qualificado. Nosso principal objetivo foi de divulgar a nova tecnologia para o tratametno de afluente, o soprador de parafuso, que consome 30% a menos de energia que seu produto antecessor”.

Maysa Motta Gadelha, presidente da Cooperativa Natural Fashion “Participamos pela primeira vez e percebemos que o evento atende a diferentes setores voltados para a sutentabilidade. Divulgamos o cultivo do algodão orgânicos e o produto Gasolimp, que recolhe gotas de gasolina direto da bomba de abastecimento, para não sujar nem o carro e nem o frentista, e que depois podem ser usadas em fornos industriais”.

Sérgio Costa, adido comercial do setor do meio ambiente e energia do Consulado da França ligado a Ubifrance “Apresentamos serviços e tecnologias de 14 empresas, além de trazer um espaço representando a Agência do Meio Ambiete e Energia do governo francês. Metade dessas empresas já tem filial ou representação no Brasil, as outras estão conhecendo o mercado, identificando representantes e divulgando as marcas para estreitar laços com futuros clientes. Como nosso negócio não permite que fechemos contratos imediatos, há grandes expectativas de termos feitos relacionamentos promissores”.


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Arturo Cante, representante para América Latina da FPZ Effepizeta de México “Estamos na feira para conhecer, entender a aprender sobre o mercado brasileiro. Queremos montar uma filial no País e já estamos procurando 15 representantes para atuar em diferentes regiões do Brasil para comercializar nossos compressores, sopradores e bombas de ar de origem italiana, entre outros produtos”.

de serviço e soluções. Entre os expositores, empresas como Masterserv, Emae, Etatron, Euroair Brasil Aspiração Industrial, Fortlev, Foz do Brasil, Bioagri, Koch Membrane Systems, Nutrenzi, Reciclo Ambiental e Rinen Chemical Group. A feira também contou com expositores de outros países, como França, Itália, Suíça, México e Taiwan, que mostraram novas tecnologias ligadas à sustentabilidade do meio ambiente e que são bem aplicadas em seus países. “Atingimos nossa expectativa ao recebermos 9.674 mil visitantes”, ressaltou Marly Parra, diretora do evento. “Nossos expositores ficaram bastante satisfeitos com a qualificação do público visitante e com as expectativas de negócios futuros. Creio que demos um grande passo ao entregar ao mercado um evento comprometido com a nova economia e com o futuro do planeta”. Vale destacar que a abertura do salão foi marcada pela presença do presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado, Juan Pablo de Vera; do vice-presidente da Abdib, Newton Lima Azevedo; do secretário nacional de saneamento ambiental, Leodegar da Cunha Tiscoski; do secretário de es-

Massimiliano Santavicca, gerente comercial da GE Water & Process Technologies “Participamos do evento pela primeira vez para dar visibilidade para a tecnologia de membrana da empresa, uma tendência que vai acontecer fortemente no mercado brasiliero é que já é realidade nos Estados Unidos e na Europa”.

tado do meio ambiente de São Paulo, Francisco Graziano, que representou o governador Alberto Goldman; Volf Steinbaum, da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e Marly Parra. Para Juan Pablo, a Ambiental Expo é a grande aposta da empresa pelo seu tema atual.“Temos orgulho em realizar a primeira feira de negócios de meio ambiente do Brasil. É muito importante discutir com os setores público e privado a sustentabilidade. Por meio do evento, percebemos que estamos no caminho certo”, disse o executivo. Já Francisco Graziano afirmou que a saída para o desenvolvimento sustentável e o grande impulso para o incremento da economia verde estão na tecnologia e reforçou a importância do evento como polo gerador e

Taís Paes De Barros, coordenadora de comunicação da Cab Ambiental “Buscamos visibilidade para a marca, difundindo a cultura e a tecnologia voltada para a água. Além de troca de experiências e novas parceiros, a feira nós dá oportunidade de conhecer melhor o nosso mercado”.

Margarete Sugiura, diretora da Biosol, porta-voz do Grupo Ecogeo (Geoklock, Biosol, Bachema, Biolatina, Algae Biotecnologia e Instituto Ekos Brasil) “Depois da primeira ediçao, percebemos o potencial do evento e o grupo decidiu participar para divulgar produtos e serviços dos setores de consultoria e engenharia ambiental, serviços geotécnicos e remediação ambiental, mudanças climáticas, mercado de carbono e energias renováveis. Este ano estamos presentes para experimentar e verificar os resultados. Apenas pela movimentaçao do primeiro dia, achei muito bom, é também muito interessantes ter um congresso acontecendo paralelamente à feira”.

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O tratamento de resíduos sólidos foi o tema central da 2ª Ambiental Expo – Feira Internacional de Equipamentos e Soluções para o Meio Ambiente, realizada entre 27 e 29 de abril, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo. A edição consolidou a representatividade da feira no mercado brasileiro e o fomento dos negócios na área ambiental, apresentando lançamento de produtos, serviços, equipamentos e soluções voltados para o desenvolvimento sustentável e para a nova economia, abrangendo a prevenção, o tratamento e a remediação nas áreas de resíduo, saneamento, ar, solo, energia e ruído. Organizada e promovida pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, em parceria com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), com patrocínio da Foz do Brasil, Caixa Econômica Federal, Eletronorte e Sebrae, e inspirada na Pollutec, (maior evento de meio ambiente do mundo, realizado na França há mais de 20 anos), o salão teve o apoio dos governos federal, estadual e municipal, reunindo 120 empresas atuantes na área ambiental, investidores nacionais e internacionais, entidades governamentais e prestadores

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multiplicador de soluções ambientais. “O poder público precisa incentivar iniciativas como essa”, afirmou o secretário. A próxima edição da feira, que continua no Anhembi, será realizada em abril de 2011.

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DESTAQUES Um dos destaques desta edição foi a Casa Aqua (Alta Qualidade Ambiental) Leroy Merlin, construída e mantida sob os mais rigorosos padrões de economia de recursos naturais. Durante a feira foi apresentado o projeto de uma casa térrea, no tamanho original de 40 m², que foi projetada pelo arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb. Além disso, foram apresentadas soluções que ajudam na eliminação de poluentes gasosos, incineração de resíduos sólidos, tratamento de efluentes, reuso de água, descarte de lixo eletrônico, reciclagem de materiais sintéticos, tratamento de esgoto, entre outros. Seis empresas brasileiras pertencentes à câmara

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suíça, Geoklock, Bachema, Biosol e Biolatina (do grupo Ecogeo), além de EcoWin e Syngenta, apresentaram tecnologias e serviços com alta precisão no estande da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira (Swisscam Brasil). “A área de meio ambiente na Suíça é muito forte e altamente desenvolvida. Podemos contribuir bastante com o mercado brasileiro. Devido a novas resoluções, há a necessidade de trazer equipamentos de alta tecnologia e serviços para poder atender às normas internacionais”, diz Hanna Weisskopf, responsável pelo desenvolvimento de negócios e feiras comerciais da Swisscam. Para a entidade, a feira pode ajudar a alavancar a área de meio ambiente no Brasil. Presente em 90 países e com mais de 25 mil funcionários, a Syngenta, por exemplo, dedica-se ao propósito de trazer o potencial das plantas para a vida. A empresa apresentou o Projeto Escola no Campo, direcionado à educação ambiental das crianças e adolescentes da rede pública de en-

Mauro Banderali, gerente técnico da Ag Solve “Apresentamos dois lançamentos de sondas e medidores de vazão com uma nova tecnologia, oferecendo uma solução completa desde a escolha do ponto de monitoramento até o uso dessa informação dentro da indústria, passando pela transmissão e pela formação de dados”.

João do Nascimento, técnico gestor em meio ambiente do Instituto PNBE de Desenvolvimento Social “Estamos divulgando o Projeto Bióleo pela segunda vez neste evento, que funciona como uma excelente ferramenta de divulgação e também nos proporciona entrar em contato com novos parceiros e empresas interessadas em investir no projeto, unindo em um único espaço sociedade civil, poder público e setor privado”. Marco Aurélio Cabral, gerente de departamento de política e estudos do meio ambiente do BNDES “Divulgamos nosso financiamento voltado para este setor e tivemos uma boa procura por parte de empresas interessadas em conhecer nossa linha de crédito. A feira nos possibilitou atender futuros clientes, percebendo suas necessidades, esclarecendo dúvidas e discutindo o desenvolvimento do País neste segmento.”

sino que moram na zona rural. O projeto já atendeu mais de 460 mil crianças e jovens, que multiplicam a mensagem sobre a importância da agricultura sustentável. Em 2009, a Syngenta firmou uma parceria com a Fundação Abrinq. A empresa também mostrou o projeto Soja + Verde do qual é uma das patrocinadoras – iniciativa do governo do estado do Mato Grosso, da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) e da ONG The Nature Conservancy (TNC), com o objetivo de promover a legalização das propriedades rurais no que diz respeito ao Código Florestal Brasileiro. Com esse projeto, o estado do

Tatiane Araújo, integrante da secretaria da Associação Brasileira De Águas Subterrâneas (Abas) “Apoiamos institucionalmente o evento e estamos em busca de novos associados, divulgando nossas ações dentro da feira, que conta com visitantes ávidos por informações”.


Diego Tomassini, representante no Brasil do Ministério do Meio Ambiente Italiano “Nossa entidade atua pela promoção de empresas italianas no exterior. Na Ambiental Expo, estabelecemos contatos institucionais e com empresas públicas e privadas, trocando informações sobre tecnologia e criando possibilidades de parcerias com empresários e indústrias”.

DIVERSIDADE DE TEMAS SUSTENTÁVEIS O 2º Congresso Ambiental Expo, que aconteceu simultaneamente à Ambiental Expo 2010, contou com uma programação diversificada, enfocando vários temas ligados ao meio ambiente, inclusive debatendo seu aspecto macroeconômico e sua relação com os setores governamentais, por meio de mesas-redondas, palestras e painéis. Uma das inovações da edição foram as consultas técnicas, que os organizadores chamaram de hot chais: uma espécie de “Roda Viva” em que especialistas da área abordaram temas como Financiamento no BNDES e Banco Mundial, Financiamento da Caixa Econômica Federal e Modelagem para os Municípios, além de Gestão de Riscos/Manuseio de Produtos Perigosos e consultas sobre assuntos jurídicos e regulatórios. O Congresso foi aberto com foco na discussão sobre os três anos da Lei 11.445/07, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento

Guilherme Sarzedas, coordenador comercial da Mizumo “Estamos na feira pela importância de divulgar a marca, estreitar relacionamento com quem já é cliente, estabelecer contato com futuros clientes e disseminar o conceito do equipamento de esgoto. Achei o evento muito positivo, recebemos muitos visitantes, especialmente do Sul e Sudeste do Brasil”.

Milena K. Berno, secretária da Dürr “Estamos apresentando para o mercado nacional um sistema para diminuir emissão de gases para pequenas e médias empresas, com um valor muito convidativo para esses tipos de indústrias”.

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Mato Grosso, grande produtor de soja, busca a certificação e o licenciamento de 100% das propriedades rurais, sendo pioneiro e assegurando competitividade para o Brasil no mercado. A Recicla Ambiental, companhia recém-lançada no mercado, apresentou soluções específicas para a questão da destinação de resíduos eletrônicos no Brasil, como celulares, pilhas, baterias, chamando a atenção de visitantes e expositores para o descarte sustentável de lixo eletrônico. Já a Espectro, no mercado há 23 anos, mostrou produtos ergonômicos voltados para postos de trabalho informatizados, oferecendo soluções que auxiliam na prevenção de problemas ocasionais pelo mau uso de equipamentos, utilizando matérias-primas renováveis, obtidas de maneira sustentável. São itens como apoio para pés, suportes de monitores, mouse pads e estação ergonômica para notebooks confeccionados com materiais recicláveis.

básico do País, cujo alvo é a necessidade de regulamentação do marco regulatório, que trará mais segurança às companhias. Atualmente, o Brasil gera cerca de 170 mil toneladas diárias de lixo; 75% vão para os lixões, somente 25% são depositados de forma adequada para reciclagem. De acordo com Newton Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), 100 milhões de brasileiros não têm rede de esgoto e 45 milhões de crianças carecem de água. “Os setores ainda estão se adaptando às leis de consórcios, de água e esgoto, bem como às PPPs (parcerias público-privadas). Isso é um sinal de amadurecimento”, afirmou o executivo. A previsão de entrega do documento final do Plano Nacional de Saneamento deve ocorrer entre os meses de outubro e novembro deste ano, conforme disse Leodegar Tiscoski, secretário nacional de saneamento ambiental do Ministério das Cidades. O primeiro vice-presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), Silvio José Marques, reforçou que o Brasil precisa de R$ 200 bilhões nos próximos 20 anos para atender à população com

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(Empresa Baiana de Água e Saneamento) e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Além disso, foram defendidos também os subsídios diretos. A Sabesp garantiu que está fazendo de tudo para atingir a universalização do acesso até 2020. “Para alguns municípios já oferecemos 300% de prestação de serviço, divididos igualmente entre as categorias de esgoto, água e coleta, mas temos alguns obstáculos, ou seja, locais em que é difícil levar projetos adiante. Para ajudar nisso, fornecemos assessoria para que os municípios possam desenvolver o Plano Municipal de Saneamento (PMS)”, explicou Paulo Massato Yoshimo, diretor metropolitano da empresa, que ainda mencionou o investimento de cerca de US$ 300 milhões no Programa de Redução de Perdas (PRP). Para dar continuidade nos investimentos e financiamento, Rogério de Paula Tavares, superintendente nacional de saneamento e infraestrutura da Caixa Econômica Federal, relatou as possibilidades disponíveis no

mercado, tais como FGTS, orçamento do BNDES, mercado de capitais e organismos internacionais de crédito. Fechando o segundo dia do Congresso, a advogada Svetlana Miranda, da Azevedo Sette Advogados, falou sobre as PPPs em apoio ao meio ambiente para o saneamento. A profissional ressaltou que a Lei de Parcerias Público-Privadas – Lei Federal 11.079, de 2004 – é fundamental para a viabilização de investimentos em infraestrutura e serviços, importantíssimas para o cumprimento das missões do Estado e para o emprego dos recursos na sociedade. Conforme dados do Comitê Brasileiro do Programa das Na-

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o serviço de saneamento integrado, enfatizando que somente 13% dos municípios possuem aterros sanitários para resíduos sólidos. Sobre a participação do setor privado nos planos de saneamento, Yves Besse, presidente da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas dos Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), explicou que a Lei 11.445 está reacendendo a chama de interesse das empresas na área de saneamento. “Muitas companhias vieram para o País no período de privatização, entre 1999 e 2002, mas, como o projeto não foi bem-sucedido, foram embora. Então essas diretrizes têm sido responsáveis por atraí-las novamente”, diz, mas para a prestação de serviço se universalizar levará, em média, 63 anos, caso esse processo não se acelere. A falta de uma gestão de qualidade foi motivo de críticas, portanto criou-se um programa de recuperação das Companhias Estaduais de Saneamento Básico (Cesb), que trabalha a gerência. Os primeiros contratos contaram com a participação da Embasa

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Elizabeth Pereira, engenheira elétrica da Hexa Eficiência Energética “Nosso foco principal é divulgar e comercializar luminárias e iluminação de LED, tanto para interior como para áreas externas. Essa é uma ‘iluminação verde’, pois o LED é 98% reciclável e não contém mercúrio, fósforo e vapor de potássio”.

Daniel Zanetti, show manager da Ambiental Expo – Reed Exhibitions Alcantara Machado “ A feira está conquistando seu lugar no mercado e abrindo espaço para a geração de negócios e discussões relevantes para o segmento. Nesta edição, recebemos mais de nove mil visitantes, dos quais 80% são do estado de São Paulo e capital, 15% de diversas regiões do País e 5% de países da América Latina”.

Ricardo Romano, gerente de manutenção do Saneamento Ambiental de Atibaia (SAAE) “Esta é a segunda vez que vistamos o evento para pesquisar, conhecer novas tecnologias e serviços e procurar produtos que compraremos no futuro. Buscamos sempre os melhores equipamentos que se adequam à necessidade de nosso município”.


Maira de Mello G. Pires, coordenadora de comunicação da ITT Water & Wastewater Brasil “Estamos presentes na feira pela primeira vez para dar visibilidade para projetos e soluções. Conseguimos contatos interessantes com visitantes de todo o País”.

O impacto de uma não conscientização sobre as necessidades de se implantar medidas imediatas pode refletir, por exemplo, na falta de acesso à água potável para até 250 milhões de africanos até 2020. Eduardo revelou que os projetos para redução de emissão de gases de efeito estufa mais seguros são os renováveis, de eficiência energética, com troca de combustíveis, emissões fugitivas, processos industriais, aforestamento, reflorestamento e dejetos. Para colaborar com o setor, a Nossa Caixa Desenvolvimento, agência de fomento paulista, anunciou recentemente a linha de financiamento Economia Verde. O objetivo é contribuir com a lei promulgada pelo estado de São Paulo que prevê meta de 20% até 2020 nas emissões. “Em março deste ano, completamos 365 dias de inauguração dessa linha e atingimos R$ 200 milhões de crédito”, disse Gilberto Fioravante, superintendente de operações e negócios. Para finalizar o debate, Bianca Focante de Oli-

Fábio Cosmo, relações corporativas da Clarus Technology do Brasil “Trouxemos uma grande novidade para esta edição do evento, a área digital da empresa, que desenvolve programas virtuais pioneiros e sustentáveis com objetivo exclusivo e específico para a necessidade de cada cliente, simulando, por exemplo, treinamento da brigada de incêndio em um ambiente virtual igual ao da empresa ou uma visita pela fábrica virtual sem que as pessoas precisem entrar efetivamente dentro da empresa”. Frederico Gama, diretor do meio ambiente da prefeitura de Pindamonhangaba “Viemos com o objetivo específico de conhecer o espaço, participar do congresso e buscar soluções que poderão beneficiar nosso município”.

Newton de Lima Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) “Aqui na feira conseguimos reunir governo federal, estadual e municipal com o setor privado para discutir alternativas para a área de saneamento ambiental, criando uma nova consciência e buscando também soluções tecnológicas, econômicas e sociais”.

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ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 25% das mortes ou causas de invalidez são ocasionadas por falta de saneamento básico. Um bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 63,6% dos resíduos sólidos vão para os lixões. “Tudo isso gera prejuízos para o meio ambiente e afeta diretamente a saúde das pessoas. Logo, as PPPs funcionam como alternativas positivas, já que possibilita que o governo amplie os investimentos públicos”, disse a advogada. No último dia do Congresso, o foco foi o apoio ao mercado de carbono e foram apresentadas ao setor todas as alternativas para medição e controle de emissão de gases de efeito estufa existentes. O empresário Eduardo Freitas, sócio-diretor da empresa EcoAct, relembrou o Protocolo de Kyoto, que determina metas de emissões a seus paísesmembros e reforçou que, para a disseminação do uso das novas tecnologias acontecer, será preciso equacionar as ferramentas de maneira global.

veira, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, disse que a capital tem hoje mil quilômetros quadrados de áreas urbanizadas e destacou que São Paulo fora construída nos locais favoráveis à urbanização. No entanto, seu intenso e rápido crescimento provocou graves problemas. “Há muitas indústrias nas regiões centrais. O cidadão utiliza o meio de transporte e se desloca por grandes distâncias, o que gera trânsito e emissão de poluentes”. Também o Inventário de Emissões de 2005 da cidade revelou um total de 15.741 emissões de gases de efeito estufa, sendo 75% oriundos do uso de energia e 25% de resíduos sólidos. Para agregar novas forças a esse combate, desenvolveu-se em São Paulo, no ano de 2009, o Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia, voltado para abranger os setores de transportes, energia e gerenciamento de resíduos. “A Prefeitura estuda a possibilidade de como realizar a recarga de veículos para que o projeto de levar às ruas meios de transporte movidos à eletricidade seja viável. Alguns ônibus a etanol já circulam na capital desde janeiro deste ano”, salientou a executiva.

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INCENTIVO

1º Concurso de Ideias e Projetos “Economia Verde” SXC/Svilen Milev

Com premiação de até R$ 25 mil, concurso tem inscrições gratuitas até 22 de julho

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Para incentivar o desenvolvimento sustentável do estado de São Paulo, a Agência de Fomento Paulista Nossa Caixa Desenvolvimento promove o 1º Concurso de Ideias e Projetos “Economia Verde”. As inscrições são gratuitas e divididas em duas categorias: pessoa física e jurídica. O concurso é voltado tanto para pessoas físicas quanto para empresas de pequeno e médio portes e irá identificar, reconhecer, estimular e premiar iniciativas inovadoras que contribuam para o desenvolvimento de tecnologias e práticas de redução de emissões de gases de efeito estufa de acordo com as metas definidas pela Política Estadual de Mudanças Climáticas. “O lançamento do Concurso de Ideias vem ao encontro do compromisso da Agência de Fomento Paulista com o desenvolvimento socioeconômico, de maneira sustentável. Lançamos a Linha Economia Verde para financiar as empresas que tem projetos de redução de emissão dos gases de efeito estufa, mas é preciso também reconhecer as ideias e os projetos para que sejam implementados na prática e com benefícios para toda a sociedade”, destaca o presidente da agência, Milton Luiz de Melo Santos.

Para participar do concurso, os projetos precisam ter potencial de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) por não-emissão ou pela compensação das emissões ou ainda ter potencial de geração de empregos verdes, incluindo a criação de empregos permanentes ou temporários, a qualificação de profissionais e a geração de renda. O vencedor da categoria pessoa física receberá um prêmio em dinheiro de R$ 10 mil e o segundo e terceiro lugares receberão R$ 7 mil e R$ 3 mil, respectivamente. Já a categoria pessoa jurídica premiará o primeiro lugar com R$ 25 mil, o segundo lugar com R$ 10 mil e o terceiro lugar com R$ 5 mil. Na categoria pessoa física poderá se inscrever qualquer cidadão residente no estado de São Paulo que tenha o Ensino Médio completo. Já na categoria pessoa jurídica poderão se inscrever organizações com fins lucrativos com faturamento entre R$ 240 mil e R$ 100 milhões e que estejam em dia com suas obrigações legais e tributárias. As inscrições podem ser feitas a partir do edital disponível no site www.seminarioeconomiaverde. com.br e deverão ser encaminhadas pelos Correios ou entregues na Nossa Caixa Desenvolvimento entre 16 de junho e 31 de julho de 2010.

Os projetos serão analisados por uma comissão técnica, formada por profissionais das áreas envolvidas, como técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e por uma comissão de notáveis, composta por especialistas em desenvolvimento sustentável que hoje são referência no Brasil para ações de Economia Verde, sustentabilidade, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e redução de emissão de gases de efeito estufa. Criada em março de 2009, a Agência de Fomento Paulista Nossa Caixa Desenvolvimento está vinculada à Secretaria da Fa­zenda do Estado de São Paulo e tem como objetivo dar apoio por meio de linhas crédito às pe­quenas e médias empresas dos diversos se­tores da economia pau­lista. Saiba mais pelo site www.nossacaixadesenvolvimento.com.br


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INTERNACIONAL

Brasil leva cenas do cotidiano para Expo Xangai

Exposição mundial indica recorde de visitantes e a previsão é de que o Pavilhão Brasileiro receba 1.500 pessoas por hora

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Por Divulgação/ApexBrasil

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A Expo Xangai 2010, inaugurada em 1º de maio e com visitação prevista de 600 mil pessoas já no primeiro dia, indica um recorde durante sua realização. A estimativa é que o pavilhão brasileiro receba um público entre 1.000 e 1.500 pessoas/hora. O Parque da Expo – com mais de 5 Km2 – abriga 130 pavilhões de países, grandes corporações e organizações internacionais. Um grande show de fogos de artifício na inauguração, cumpriu a promessa dos organizadores de ser o mais espetacular de todos os tempos. A Exposição Mundial terá duração de seis meses e mostrará o melhor de cada um dos 192 países participantes. A expectativa cresceu nos últimos dias com o grande interesse do público durante o chamado soft opening (teste de funcionamento realizado durante seis dias) e os organizadores preveem que, no período total da Expo, 100 milhões de visitantes passarão pela área do evento. “Com o tema Cidades Pulsantes, o Pavilhão do Brasil apresentará a diversidade humana e cultural das cidades brasileiras, o dinamismo de suas

grandes metrópoles e de sua pujante economia, com destaque para os setores de alta tecnologia e para os principais avanços do País na área da sustentabilidade e de inclusão social e política”, explica Alessandro Teixeira, presidente da ApexBrasil e comissário geral para a participação do País no evento. Para a China, que investirá o correspondente a R$ 4,8 bilhões na realização da Expo, esta será outra grande oportunidade de atrair a atenção mundial para o país, depois das Olimpíadas, e também para trocar informações, já que o tema da Expo é “Cidade Melhor, Vida Melhor”. Fóruns Temáticos estão programados ao longo de todo o período do evento, com foco em projetos de inovação urbana e desenvolvimento sustentável. A meta dos organizadores é destacar iniciativas criativas e ideias talentosas em diferentes áreas, que promovam debates sobre o crescimento acelerado das grandes cidades. “Não haverá outra Expo como a de Xangai, que certamente norteará grandes projetos de arquitetura, tecnologia e políticas urbanas neste século”, destaca Pedro Wendler, diretor do Pavilhão Brasileiro.

O Brasil terá participação ativa nesta discussão técnica e realizará quatro seminários nos meses de maio, junho, julho e setembro com os temas: Tecnologia da Informação e Inclusão Digital; Ciência, Tecnologia e Informação; A Energia que Move as Cidades Brasileiras; e Água para o Desenvolvimento. TECNOLOGIA E SENSIBILIDADE O Pavilhão Brasileiro na Expo foi idealizado para mostrar, de forma tecnológica e visual, o que é o Brasil. Filmes idealizados pela Produtora O2 Filmes, do cineasta Fernando Meirelles, mostram, no corredor de entrada do Pavilhão, em uma enorme tela curva do chão ao teto (16m de largura por 9m de altura), o cotidiano urbano do País. A projeção inicia com uma amostra de imagens de cida-


des brasileiras, seguida de um filme que destaca a interligação entre o cotidiano do cidadão comum, o concreto dos prédios e casas e a natureza. Em um segundo ambiente, chamado Sala da Alegria, o visitante irá descobrir o carnaval de várias cidades, do sul ao norte, o ritmo e as cores das festas regionais, os esportes olímpicos praticados no País e o futebol brasileiro, que os chineses tanto admiram, projetados em uma tela de 140 graus. No coração do Pavilhão, um cubo de imagens, suspenso a 2 metros do chão, feito com quatro telas contínuas de 12x5m cada, conta, através de um filme, um dia na vida de quatro brasileiros que trabalham nas áreas cultural, siderúrgica, agrícola e petrolífera. A beleza das imagens, as cores e a música impactam o visitante. Ao falar da vida dessas quatro pessoas – um agricultor, um engenheiro aeronáutico, uma artista plástica e um químico – o filme mostra também o Brasil moderno, com capacidade tecnológica em várias áreas, desde a exploração de petróleo em águas profundas e construção de aviões, até o cultivo agrícola com maquinário de grande porte. A beleza plástica do design também foi contemplada. O Pavilhão tem, ainda, telas interativas que possibilitam melhor conhecimento das 12 cidades

que irão abrigar os jogos da Copa do Mundo de 2014, com destaque para a beleza natural e turística, além das soluções urbanas aplicadas no País em painéis touch screen. Um jogo da diversidade leva o visitante a combinar, também em telas touch screen, partes de cidadãos comuns, porém com características diferenciadas, enfatizando a diversidade étnica brasileira. “A ideia é mostrar que qualquer face se encaixa no Brasil, que abriga uma imensa variedade de tons de pele, cabelos, olhos e portes físicos”, detalha Pedro Wendler. Do lado de fora do Pavilhão, um grande LED exibe uma partida de futebol, que pode ser jogada pelos visitantes por meio de celular. Este mesmo LED exibirá os jogos do Brasil na Copa da África do Sul. NEGÓCIOS Rodadas de negócios e seminários de atração de investimentos também fazem parte da programação do Brasil na Expo. Palestras para os investidores irão mostrar um País que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a nona maior economia do mundo e a maior da América do Sul, com a previsão de ser a quinta maior do planeta nos próximos anos. Atualmente, o Brasil vivencia uma combinação equilibrada de crescimento econômico estável e sustentabilidade socioambiental que, junto a medidas eficazes

para uma melhor distribuição da renda, gerou, nos últimos anos, um clima favorável para novas oportunidades de negócios. “O fluxo de investimentos estrangeiros que ingressam no Brasil cresce em ritmo acelerado e espera-se uma forte expansão da atividade econômica nos próximos anos. Por tudo isso, o Brasil se tornou uma ótima oportunidade para grandes investidores, também atraídos pelas obras de infraestrutura necessárias para a Copa do Mundo. Vamos explorar isso ao máximo, divulgando informações detalhadas a empresários e estimulando-os a aproveitar o momento”, analisa Alessandro Teixeira. A exposição de Xangai, a primeira realizada em um país emergente, se propõe a ser um marco entre as grandes feiras mundiais, que começaram em Londres, em 1851, e que deixaram legados como a Torre Eiffel a Paris.

VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Fotos: Divulgação/ ApexBrasil

O Pavilhão Brasileiro foi idealizado para mostrar, de forma tecnológica e visual, o cotidiano urbano do País

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CODESAN – Congresso para o Desenvolvimento do Setor de Saneamento

CAPACITAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Data: 24 e 25 de Maio 2010 Horário: das 9h às 18h Local: Blue Tree Towers Faria Lima - Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3989 – Vila Olímpia, São Paulo - SP Fone: 11- 5093.7423 Site: www.codesan2010.com.br

Data: 24 a 28 de Maio 2010 Horário: das 8h às 15h Local: Embrapa Meio Ambiente Rod. SP 340 - km 127,5 / Jaguariúna / SP Fone: 19 - 3311.2700 Site: www.cnpma.embrapa.br

EXPOALUMÍNIO – Exposição / IV ConInternacional do Alumínio mínio / Alu do nal cio rna Inte gresso de nal X Seminário Internacio io mín Alu Reciclagem do Data: 18 a 20 de Maio 2010 Horário: das 10h às 19h s ImigranLocal: Centro de Convençõe 1,5 / SP km s, nte gra Imi tes - Rod. dos Fone: 11- 3060.5000 om.br Site: www.expoaluminio.c

Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil) www.apexbrasil.com.br

Data: 25 a 27 de Maio 2010 Horário: das 8h às 18h Local: Teatro SESIMINAS - Belo Horizonte/MG Fone: 31-3241.7181 Site: www.greenmeeting.org

Agência de Desenvolvimento Solidário www.ads.org.br Aldo Rebelo www.aldorebelo.com.br

Flipper www.flipper.ind.br

Oswaldo Sevá www.unicamp.br seva@fem.unicamp.br

Ambiental Expo www.ambientalexpo.com.br

Fibria www.fibria.com.br

Papirus www.papirus.com

Antonio Carlos Porto Araújo antonio.araujo@trevisan.com.br

Francisco Del Moral Hernández www.iee.usp.br - delmoral@hotmail.com GE www.gedako.com.br Greenpeace www.greenpeace.org.br Guilherme Stolle Paixão e Casarões casaroes@gmail.com

Ricardo Baitelo www.greenpeace.org/brasil ricardo.baitelo@greenpeace.org

Bom Bril www.bombril.com.br Bracelpa www.bracelpa.org.br British Petroleum www.bp.com Celso Foelkel www.celso-foelkel.com.br VISÃO AMBIENTAL • MAIO/JUNHO • 2010

Data: 24 de Maio 2010 Horário: das 9h às 18h Local: CRQ-IV Região Rua Oscar Freire, 2.039 – Pinheir os Fone: 11- 3917.2878 Site: www.interacaoambiental.c om.br

GREENMEETING

Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) www.faeb.org.br Fiema www.fiema.com.br

Atenas Consultoria Empresarial 11 - 2283-2264 gutierrez@atenasconsultoria.com

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ENCONTRO TÉCNICO DE GERENCIAMENTO DE RES ÍDUOS

Clube Carioca de Canoagem www.clubecariocadecanoagem.com.br Clube de Canoagem Kentucky http://canoken.blogspot.com Coca-Cola www.cocacolabrasil.com.br Débora Kochepka d_kochepka@hotmail.com Dragão Fashion www.dragaofashion.com.br

Helton José Alves helton.alves@ufpr.br Husqvarna www.husqvarna.com.br Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) www.incra.gov.br Legas www.legas.com.br Lorenzetti www.lorenzetti.com.br Luiz Cláudio Brito Teixeira www.cimi.org.br - luizclaudio99@yahoo.com.br Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) www.mst.org.br Nomina Design www.nominadesign.com.br

NR Ambiental 11 - 2281-9751 Orsa Florestal www.orsaflorestal.com.br

Ricardo Rose 11-5187-5147 - mambiente@ahkbrasil.com Roberto Brandão www.nuca.ie.ufrj.br/gesel robertobrandao@gmail.com Roberto Pereira d'Araújo araujorcm@globo.com SOS Mata Atlântica www.sosmatatlantica.org.br Stora Enso www.storaenso.com Trisoft www.trisoft.com.br Universidade Federal do Paraná www.ufpr.br Via Flor www.viaflor.com.br Welinton dos Santos welinton@coreconsp.org.br WWF Brasil www.wwf.org.br SXC

AGENDA E RADAR


Congresso para o Desenvolvimento do Setor de Saneamento Nacional 24 a 25 de Maio - Blue Tree Towers Faria Lima - São Paulo s¬ Cenários e avaliações legais pós-marco regulatório s¬ Os desafios da operacionalização da regulação s¬ Mecanismos de financiamento e gestão financeira eficaz das operações s¬ O Saneamento na disputa eleitoral: quais as propostas dos candidatos a presidência para o setor s¬ Parcerias estratégicas entre operadores públicos e privados s¬ Responsabilidade e melhores práticas ambientais para o setor de saneamento Com apresentações de mais de 30 autoridades do setor, incluindo:

Arnaldo Jardim

Dilma Seli Pena

Hugo Sérgio Carlos Alberto de Oliveira Rosito

Cassilda Carvalho

Rogério de Paula Tavares

Raul Pinho

Newton de Marcelo Salles Lima Azevedo de Freitas

Informações e Inscrições: Telefone: +55 11 5051-6535 E-mail: atendimento@viex-americas.com.br Inscrição online: http://www.viex-americas.com.br/inscrevase

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