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SAÚDE & BEM-ESTAR

O BEM-ESTAR ANIMAL E A DOR EM BOVINOS

USO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS EM BOVINOS

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TEXTO SIMÃO ROCHA, MÉDICO VETERINÁRIO, INOGENVET, SIMAO.ROCHA@INOGEN.PT

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os nossos dias, o tema do bem-estar animal (BEA) é cada vez mais recorrente e os animais têm, aos olhos da maioria das pessoas, um estatuto bem diferente daquele que tinham há algum tempo. Se nos animais de companhia isto parece natural, nas espécies pecuárias também acontece, havendo um número crescente de consumidores que dão mais importância ao tema e que tomam decisões de comprar ou não determinado produto baseadas nessa premissa. Este tema é, portanto, transversal a vários grupos de intervenientes na cadeia de produção, desde os produtores aos consumidores, passando pelos médicos veterinários (MV). Para os MV esta questão é natural, pois faz parte dos seus deveres éticos e deontológicos. Já no caso dos produtores, este conceito pode ser mais difícil de implementar, seja por questões financeiras – custo ou investimento? – ou culturais. Felizmente, a nova geração de

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produtores, apoiada principalmente pelos técnicos (veterinários, nutricionistas, etc.) reconhecem que o BEA tem um alto impacto na produção dos seus animais, traduzindo-se numa maior rentabilidade da sua exploração. Como a dor é um conceito indissociável do BEA, a ausência da mesma é um fator importante para maximizarmos o bem-estar e a produção. É neste contexto que entram os anti-inflamatórios, pois são um dos grupos de fármacos que podemos utilizar para minimizar a dor num animal e permitir que recupere mais rapidamente.

ANTI-INFLAMATÓRIOS EM BOVINOS Os anti-inflamatórios são um dos grupos de fármacos mais usados em Medicina Veterinária, em particular na clínica de animais de produção, sendo os bovinos uma das espécies em que estes produtos mais são utilizados. Para simplificar, os anti-inflamatórios podem ser divididos em dois grandes grupos: os esteróides (vulgarmente designados corticóides) e os não esteróides. Apesar dos primeiros também serem bastante utilizados, focar-se-á este artigo no grupo dos anti-inflamatórios não esteróides (AINEs). Estes têm um efeito analgésico, anti-pirético e anti-inflamatório, podendo ser usados em situações tão diversas como doença respiratória, mamites, problemas músculo-esqueléticos, e podendo ser administrados por várias vias (parenteral ou oral), tornando-os fármacos muito versáteis. Se utilizados corretamente, são bastante seguros, podendo também ser utilizados em conjunto com outros analgésicos ou anestésicos locais. Os AINEs atuam sobre a cascata de inflamação, mais concretamente sobre as enzimas Cicloxigenase (COX), que têm o papel de converter o Ácido Araquidónico em Prostaglandinas (PG), Prostaciclinas e Tromboxano, que são substâncias mediadoras da inflamação. Esta enzima COX tem duas isoformas: as COX 1 e 2, sendo que foi recentemente descoberta uma terceira – COX 3, que se pensa derivar da COX


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