Em Órbita n.º 110 Abril de 2011 (Edição Dourada)

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Em Órbita

O boletim Em Órbita, dedicado à Astronáutica e à Conquista do Espaço, é da autoria de Rui C. Barbosa e tem uma edição electrónica mensal. Versão web (http://www.zenite.nu/orbita/ - www.zenite.nu): Estrutura: José Roberto Costa; Edição: Rui C. Barbosa +este número colaboraram Asif A. Siddiqi, James Oberg, Manuel Montes, André Dupont, Yoh Mizumoto, Michael Cassutt e José Roberto Costa. Qualquer parte deste boletim não deverá ser reproduzida sem a autorização prévia do autor. Rui C. Barbosa BRAGA PORTUGAL 00 351 93 845 03 05 rmcsbarbosa@gmail.com


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Agradecimentos Ao pensar numa forma de comemorar o 50º aniversário do primeiro voo especial tripulado, depressa se fez luz sobre a forma como o Boletim Em Órbita o iria fazer. Sendo um acontecimento importante para toda a Humanidade, o Em Órbita pretendeu repartir as histórias do voo e da vida de Yuri Gagarin por todos. Assim, decidiu-se convidar várias pessoas para escreverem os seus relatos e artigos sobre a missão de Gagarin nas suas línguas nativas. Estes artigos acompanham o artigo principal sobre a missão da Vostok-1 baseado no capítulo 7 “Gagarin” do livro “Challenge To Apollo – The Sovet Union and the Space Race, 1945 – 1974” de Asif A. Siddiqi, editado pela Divisão de História da agência espacial norte-americana NASA em 2000. O segundo artigo vem escrito em lingual russa e faz uma descrição do diálogo levado a cabo entre Yuri Gagarin, Serguei Korolev e o controlo de voo durante a missão Vostok-1. O terceiro artigo é da autoria de Manuel Montes que em castelhano faz uma resanha histórica da missão de Gagarin e dos acontecimentos que a antecederam. James Oberg assina o quarto artigo, “Celebrating Gagarin's Anniversary”, que em ingles analisa as implicações que a épica missão de Gagarin tive na sociedade de então. “Le printemps de Youri” foi escrito por André Dupont, entusiasta especial, que num pequeno artigo nos fala sobre as suas memórias do primeiro voo especial tripulado. Yoh Mizumoto, escreveu um texto em japonês sobre a missão de Yuri Gagarin. Esta edição termina com uma biografia de Yuri Gagarin escrita por Michael Cassutt e publicada no seu “Who’s Who In Space – The International Space Station Edition” editada em Maio de 1998. É assim que o Boletim Em Órbita leva até aos seus leitores uma edição dourada sobre a épica viagem de Yuri Gagarin, o primeiro representante da Humanidade no Cosmos.

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Gagarin Por Asif A. Siddiqi. Tradução e edição Rui C. Barbosa As discussões sobre o tipo de passageiros que seriam utilizados para as primeiras missões espaciais orbitais tiveram início concorrentemente com o decreto de Janeiro de 1959 relacionado com os preparativos biomédicos para o voo espacial humano. Quatro meses mais tarde, representantes dos militares, do sector científico e dos centros de desenho, encontraram-se nas instalações da Academia das Ciências na supervisão do Vice-presidente Keldysh, para discutir os meios e os standards de selecção de voluntários para as missões espaciais. Os presentes na reunião tiveram em consideração indivíduos provenientes de uma grande variedade de meios profissionais, tais como aviação, na marinha, da indústria de foguetões, e das corridas de automóveis. Foi após a insistência dos médicos da Força Aérea que Keldysh aprovou um plano para estreitar a selecção somente a pilotos qualificados da Força Aérea. Os médicos argumentaram de forma convincente que o treino da Força Aérea, que incluía a exposição à hipoxia, altas pressões, cargas g em vários eixos, e experiência na utilização de assentos ejectáveis, seria relevante para o treino para as missões espaciais. Um outro factor pode também ter afectado a decisão para escolher pilotos. Em Abril de 1959, a NASA seleccionara os seus primeiros astronautas, e todos os sete provinham de uma formação na aviação nas forças armadas norte-americanas. Na altura a Força Aérea Soviética emitiu um documento, intitulado “Directivas do Corpo Geral para a Selecção de Cosmonautas”, que instruía um Comandante em Chefe Executivo da Força Aérea, Coronel General Filip A. Agaltsov, com os deveres administrativos para levar a cabo a tarefa. O trabalho de Agaltsov foi facilitado pelo facto de que o grupo de medicina espacial no Instituto de Medicina de Aviação da Força Aérea possuir uma longa história de envolvimento na indústria de foguetões. Dirigido pelo ubíquo Tenente-coronel Yazdovskiy, esta equipa desenvolveu requisitos iniciais básicos para os candidatos em coordenação com os engenheiros do OKB-1. Num encontro inicial para discutir estas especificações, o desenhador Chefe Serguey Korolev apresentou as especificações para os candidatos a cosmonautas. Os homens, e somente seriam considerados homens, deveriam ter entre os 25 e os 30 anos de idade, não deveriam ser maiores do que 1,70 a 1,75 metros, e com um peso não superior a 70 a 72 kg – todos os requisitos suficientes para permitir a sua acomodação na pequena cápsula 3KA, a variante tripulada do Objecto K. Korolev foi directo sobre as habilidades destes candidatos: Tal como foi repetidamente demonstrado nos nossos voos tripulados e naqueles com animais a bordo, a nossa tecnologia é tal que não necessitamos, tal como o projecto Mercury Americano necessita, que os nossos primeiros cosmonautas sejam engenheiros habilidosos. Os astronautas Americanos devem ajudar a controlar os sistemas do foguetão em todas as fases de voo.

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Enquanto isto na realidade não era verdade, era uma indicação da profundidade à qual a automatização era um factor intrínseco no programa espacial tripulado Soviética na sua fase inicial. Durante toda a fase de selecção, Korolev repetidamente enfatizou que um dos critérios primários para os pilotos seria a necessidade de levarem a cabo de forma precisa as funções programadas – um requerimento que na verdade deixava os candidatos com muito menos controlo do que teriam ao voar um simples avião. As especificações finais para os futuros cosmonautas foram decididas em Junho de 1959 num documento aprovado por três instituições da Força Aérea – o Instituto de Medicina de Aviação, o Hospital Central de Pesquisa Cientifica de Aviação, e a Comissão Central para a Medicina de Aviação – bem como a Academia de Ciências da URSS e a Academia de Ciências Médicas da URSS. A equipa de Yazdovskiy no Instituto de Medicina de Aviação, sendo um grande grupo de médicos com uma grande variedade de interesses, havia sido organizada em diferentes departamentos para o processo de selecção, com secções para fisiologia geral, psicologia, sistemas de suporte de vida e higiene, e para a selecção de cosmonautas propriamente dita. Yazdovskiy nomeou Nikolay N. Gurovskiy e Yevgeniy A. Karpov, dois médicos da Força Aérea, para supervisionar o processo de selecção de candidatos1. Grupos de pares de médicos foram então enviados a um determinado número de bases aéreas principais na parte ocidental da União Soviética. Os médicos nas bases foram também consultados sobre o assunto, e por Agosto, o processo de selecção havia começado com inspecções aos registos de mais de 3.000 pilotos. A maior parte foi eliminada numa fase inicial devido a factores como a altura, peso, e historial médico. Factores de exclusão, baseados no último critério, incluíam certas doenças tais como bronquite crónica, angina, predisposição para gastrite e colite, cólica renal e hepática, e alterações patológicas na actividade cardíaca. Os pilotos restantes foram então entrevistados, iniciando-se este processo a 3 de Setembro, com questões sobre a sua saúde, objectivos, modos, trabalho, e qualidade de vida. Mesmo neste ponto, nenhum dos voluntários estava ciente da natureza da missão, que foi disfarçada sobre o eufemismo de ‘voos especiais’. Mais tarde, Gurovskiy referia:

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A cada médico no instituto foi atribuída uma especialidade no campo da medicina bioespacial em preparação para as missões pilotadas. Eles eram V. I. Yazdovskiy (chefe), O. G. Gazenko (fisiologia), A. M. Genin e A. D. Seryapin (higiene e sistema de suporte de vida), F. D. Gorbov (psicologia), e N. N. Gurovskiy e Ye. A. Karpov (selecção e preparação dos cosmonautas, que era o Departamento 7 no instituto). Para além do Instituto de Medicina de Aviação da Força Aérea, o Hospital Central de Pesquisa Cientifica de Aviação (TsNIAG) e a Comissão Central para a Medicina de Aviação (TsVLK), estavam também envolvidos nos estágios preliminares de selecção dos cosmonautas. 4


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A conversação (com os pilotos) nada tinha a ver seja de que forma, com o espaço. Alguns oficiais não tinham ideia pelo que tínhamos vindo, enquanto que outros, pelo contrário, aperceberam-se imediatamente e pediram autorização para consultar com as suas famílias. Tivemos de proibir isto de forma absoluta, era um projecto novo ultra-secreto, e o prospecto tinha de tomar a sua própria decisão, sem ajuda exterior. Pouco mais de 200 indivíduos passaram a fase inicial de selecção e foram então enviados em grupos de vinte para mais testes no Hospital Central de Pesquisa Cientifica de Aviação em Moscovo. Os testes ao abrigo do programa “Tema n.º 6” tiveram início formalmente a 3 de Outubro. Muitos abandonaram a corrida neste ponto à medida que a resiliência e a vontade dos jovens pilotos cedida perante os testes extremamente exigentes e rigorosos. Para além de novas entrevistas, ocorreram um sem número de testes físicos. Num destes os pilotos eram colocados em cadeiras estacionárias rotativas para testar o aparato vestibular. Um outro sujeitava os voluntários a baixas pressões numa câmara barométrica. Um terceiro teste consistia numa centrifugadora clássica para testar as cargas gravíticas. Parecia que os planos originais previa um pequeno grupo de sete ou oito pilotos, mas Korolev insistiu em triplicar este número porque ele queria um grupo muito maior do que a equipa de astronautas da NASA. Em finais de 1959, uma equipa de médicos aprovou vinte homens para servirem como candidatos para a primeira equipa de cosmonautas2. Estes foram instruídos para regressarem às suas unidades e aguardarem novas ordens. A 11 de Janeiro de 1960, o Comandante em Chefe da Força Aérea Soviética, Marechal Konstantin A. Vershinin assinava formalmente os planos para o estabelecimento de um centro dedicado exclusivamente para o treino dos cosmonautas para os voos pilotados que se seguiriam. A directiva apontava para a utilização de um velho edifício de dois andares situado nas instalações do campo de Aviação Central de M. V. Frunze em Leninskiy Prospect, Moscovo. Institucionalmente, o novo centro, oficialmente denominado Centro de Treino de Cosmonautas (TsPK), estava subordinado ao Instituto de Medicina de Aviação da Força Aérea. Karpov, de 38 anos de idade, que havia estado envolvido na selecção dos cosmonautas, foi nomeado o primeiro Director do TsPK por uma ordem oficial de 24 de Fevereiro3. A equipa inicial nas instalações era composta por cerca de 250 pessoas. Apesar do novo centro estar sobre

o controlo de médicos, a Equipa Geral da Força Aérea exercia uma supervisão total de todos os assuntos dos cosmonautas através de um oficial de alta patente que se tornou numa das personalidades mais proeminente na história do programa espacial Soviético, Nikolay Petrovich Kamanin. Tenente General na Força Aérea Soviética, Kamanin era bem conhecido da população Soviética mesmo antes da existência do programa espacial. Como piloto de 25 anos de idade em Fevereiro de 1934, participou numa missão de salvamento arriscada no Árctico para salvar os tripulantes do navio Chelyushkin, que estava preso no gelo flutuante. Por este acto em particular, Kamanin teve a distinção de ser o primeiro cidadão Soviético a ser agraciado com o título de ‘Herói da União Soviética’, uma honra reservada para os grandes actos de bravura. Em finais dos anos 50, Kamanin estava a servir como presidente adjunto de uma organização de jovens voluntários dedicada ao treino de rapazes e raparigas para serviços futuros nas forças armadas. Claramente, a sua estatura como um aviador público famoso foi crucial na sua nomeação dado que parece não ter estado envolvido em qualquer projecto militar significativo de alta prioridade em toda a sua carreira. Foi substituído nas suas funções naquela altura e oficialmente designado Chefe Adjunto do Corpo Geral da Força Aérea para as Preparações para Combate. As suas funções incluíam a supervisão da selecção, treino, e administração dos novos cosmonautas e relatava directamente ao alto comando da Força Aérea, incluindo o Comandante em Chefe Marechal Vershinin4. Apesar do júnior Karpov dirigir oficialmente o Centro de Treino de Cosmonautas, era efectivamente Kamanin, de 51 anos de idade, que controlava as suas actividades mais importantes. Nos anos seguintes, nenhum cosmonauta Soviético seria lançado no espaço sem a sua «bênção». A 22 de Fevereiro, Kamanin aprovou formalmente a curta lista final de vinte candidatos a cosmonautas seleccionados nos finais de 1959. Estes jovens homens, juntamente com outros sete do outro lado do mundo, representavam o primeiro grupo de pessoas a serem preparadas para viagens no espaço exterior. Os vinte eram:

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A comissão de selecção incluía V. I. Yazdovskiy, N. N. Gurovskiy, Ye. A. Karpov e F. D. Gorbov do Instituto de Medicina de Aviação e K. F. Borodin, I. I. Bryanov, Ye. A. Fedorov e M. D. Vyadro do TsNIAG e do TsVLK. 3 A equipa de Karpov era constituída pelos oficiais da Força Aérea N. F. Nikersayov (trabalho político), Ye. Ye. Tselikin (director do treino de voo), V. V. Kovalev (dirigente da secção de treino) e A. I. Susuyev (director da secção logística). A verdadeira designação do TsPK era a ‘Unidade Militar n.º 26266. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Tenente Sénior Ivan N. Anikeyev (27 anos)

Major Pavel I. Belyayev (34)

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Kamanin reportava nominalmente a quatro oficiais da Força Aérea: o seu superior imediato o Chefe do Corpo Geral da Força Aérea Coronel General P. I. Brayko, o Comandante em Chefe Adjunto da Força Aérea Coronel General F. A. Agaltsov, Primeiro Adjunto da Força Aérea Comandante em Chefe Marechal S. I. Rudenko, e Vershinin. 5


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Tenente Sénior Valentin V. Bondarenko (23)

Tenente Sénior Valery F. Bykovskiy (25)

Tenente Sénior Valentin I. Filatyev (30)

Tenente Sénior Yuri A. Gagarin (25)

Tenente Sénior Viktor V. Gorbatko (25)

Capitão Anatoly Y. Kartashov (27)

Tenente Sénior Yevgeniy V. Khrunov (26)

Capitão Engenheiro Vladmir M. Komarov (32)

Tenente Alexei A. Leonov (25)

Tenente Sénior Grigori G. Nelyubov (25)

Tenente Sénior Andian G. Nikolayev (30)

Capitão Pavel R. Popovich (29)

Tenente Sénior Mars Z. Rafikov (26)

Tenente Sénior Georgi S. Shonin (24)

Tenente Sénior Gherman S. Titov (24)

Tenente Sénior Valentin S. Varlamov (25)

Tenente Sénior Boris V. Volynov (25)

Tenente Sénior Dmitry A. Zaikin (27)

Do grupo, cinco não cumpriam o critério da idade de ser entre os 25 e 30, mas esta condição foi ignorada devido às suas performances nos procedimentos de selecção. Dois em particular, Belyayev e Komarov, eram os mais formados e experientes membros da equipa, tendo-se já formado em academias da Força Aérea. Devido à restrição de idades, nenhum dos seleccionados era piloto de testes, ao contrário dos seus colegas norte-americanos. Komarov tinha alguma experiência como engenheiro de teste ao voar novos aviões, mas o piloto mais experiente, Belyayev, havia somente acumulado 500 horas de tempo de voo. Outros como Gagarin haviam voado somente 230 horas. Só um piloto, Popovich, havia voado o que era então considerado um avião de alta performance, o MiG-19. Em grande parte, isto era um resultado directo do alto grau de automação dos veículos espaciais Soviéticos; simplesmente não havia requisitos para uma significativa experiência de pilotagem ou habilidade nesta fase. Os candidatos tinham de se

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inteligentes, estar confortáveis com situações de alto stress, e acima de tudo fisicamente aptos. Em finais de Fevereiro de 1960, doze dos vinte cosmonautas seleccionados chegaram para testes médicos finais a serem realizados no Hospital Central de Pesquisa Cientifica de Aviação. Foi ali que a 7 de Março o Marechal Vershinin proferiu um discurso de boas-vindas, que uma testemunha caracterizou de “palavras festivas antes da partida para uma jornada longa e difícil.” No mesmo dia, Kamanin assinou as ordens finais oficialmente colocandoos na equipa de cosmonautas e instruindo-os a regressar às suas unidades da Força Aérea, resolver todos os assuntos pendentes, e depois deslocaram-se para o novo centro de treino. As ordens para os restantes oito treinandos foram assinadas entre 9 de Março e 17 de Junho de 1960, após as quais todos os vinte estavam permanentemente colocados no centro5. As aulas de treino para os candidatos tiveram início às 0800UTC do dia 14 de Março com uma palestra introdutória feita pelo médico Yazdovskiy. Durante os quatro meses iniciais, o treino foi dividido entre um pesado ênfase em disciplinas académicas e regimes gerais de treino físico diário. Estes treinos incluíam duas horas por dia de exercícios calisténicos intensivos levados a cabo no Estádio Central do Exército em Moscovo. Meses mais tarde, foi construído um pavilhão para a prática de exercício físico nas instalações do centro de treino. Para proporcionar uma ligação distinta entre o veículo espacial no qual iriam voar e o treino, os candidatos tinham três vezes por semana aulas com especialistas do OKB-1 que leccionavam aulas relacionadas com sistemas de foguetões espaciais, biomedicina espacial, navegação, comunicações via rádio, geofísica e astronomia6.

5 Os primeiros doze a ingressarem oficialmente na equipa a 7 de Março de 1990 foram Anikeyev, Bykovskiy, Gagarin, Gorbatko, Komarov, Leonov, Nelyubov, Nikolayev, Popovich, Shonin, Titov e Volynov. Khrunov juntou-selhes a 9 de Março. Zaikin e Filatyev ingressaram na equipa a 25 de Março. Belyayev, Bondarenko, Rafikov e Varlamov ingressaram a 28 de Abril e Kartashov juntou-se-lhes a 17 de Junho. As suas ordens oficiais foram assinadas pelo Comandante em Chefe da Força Aérea Soviética Marechal K. A. Vershinin. 6 Nas fases iniciais as aulas do OKB-1 eram leccionadas por K. D. Bushuyev, K. P. Feoktistov, M. K. Tikhonravov, B. V. Raushenbakh, V. I. Sevastyanov, e Ts. V. Solovyev. As aulas de biomedicina eram inicialmente leccionadas por O. G. Gazenko, V. V. Parin, e V. I. Yazdovskiy.

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De cima para baixo e da esquerda para a direita: Ivan Nikolayevich Anikeyev, Pavel Ivanovich Belyayev, Valentin Vasilyevich Bondarenko, Valery Fyodorovich Bykovskiy, Valentin Ignatyevich Filatyev, Yuri Alexeiyevich Gagarin, Viktor Vasilyevich Gorbatko, Anatoly Yakovlevich Kartashov, Yevgeniy Vasilyevich Khrunov, Vladmir Mikhailovich Komarov, Alexei Arkhipovich Leonov, Grigori Grigorievich Nelyubov, Andian Grigorievich Nikolayev, Pavel Romanovich Popovich, Mars Zakirovich Rafikov, Georgi Stepanovich Shonin, Gherman Stepanovich Titov, Valentin Stepanovich Varlamov, Boris Valentinovich Volynov, e Dmitry Alexeyevich Zaikin.

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O treino de salto com pára-quedas, que preparou os cosmonautas para eventos nominais e de emergência que poderiam ocorrer durante as suas missões, foi iniciado a 13 de Abril quando a maior parte dos pilotos foi transportada de avião para a região de Saratov perto de Engels para começar os saltos a partir de um avião Antonov An-2 convertido. Dentro de cerca de seis semanas, cada um havia levado a cabo cerca de quarenta a cinquenta saltos, e tornaram-se aclimatizados com a descida na água e no solo, a partir de grandes e baixas altitudes, e há noite7. Ao mesmo tempo, o treinando Vykosvkiy tornou-se no primeiro indivíduo a ser submetido a um teste de quinze dias na câmara anecóica TBK-12, iniciando a 6 de Abril, para simular os efeitos de um isolamento psicológico completo. Outros testes médicos incluíam a utilização do baloiço Khilov para testar o sistema vestibular, as cadeiras rotativas Barani e Rotor, uma câmara barométrica de baixa pressão para simular altitudes até 12 km, uma centrifugadora capaz de induzir até 10 g’s, e uma câmara térmica para sujeitar os treinandos a temperaturas até 70ºC durante uma ou duas horas. Testes médicos regulares eram administrados antes e após cada exercício. Não foi surpreendente o facto de, de todos os regimes de treino, os cosmonautas eram mais resistentes aos testes médicos e de resistência, e aparentemente foi difícil convencer o grupo para se sujeitar a uma série de testes que parecia interminável. Para manter a sua proficiência, era permitido aos treinandos pilotar o avião de treino MiG-15UTI sobre a supervisão de Mark L. Gallay, um dos mais famosos pilotos de teste na União Soviética. Os aviões eram cedidos pelo prestigiado Instituto de Pesquisa de Voo M. M. Gromov em Zhukovskiy. Com a direcção de Gallay, os treinandos voavam trajectórias parabólicas para simular a microgravidade por períodos até trinta segundos em aviões Tupolev Tu-104 especialmente equipados. Devido às limitações de espaço das instalações existentes, a Força Aérea incumbiu o seu pessoal no novo centro a explorar a possibilidade de o deslocar para uma localização mais amena para as necessidades do treino dos cosmonautas. Inicialmente foi recomendado duas potenciais localizações perto de Moscovo: uma em Balashikha e a outra perto da Estação de Caminho de Ferro de Tsiolkovskiy em Shelkovo. Após analisarem os prós e contras, a Força Aérea decidiu deslocar a totalidade do programa de treino para a última área devido à sua localização isolada e grande área disponível. A proximidade de várias instalações chave, incluindo o OKB-1, um grande complexo de habitação, a Academia de Ciências, e o aeródromo de Monino, foram também factores importantes na selecção. O pessoal do centro de treino e os cosmonautas foram formalmente recolocados para a nova localização a 29 de Junho de 1960. Este novo subúrbio de Moscovo, a cerca de 30 km a nordeste da capital, foi rebaptizado como Zelenyy (‘Verde’). Porém, a localidade é conhecida pelo seu mais recente nome de Zvezdniy Gorodok8 (‘Cidade 7

O treino de saltos de pára-quedas era dirigido pelos instrutores do TsPK, I. M. Dzuba, M. I. Maksimov, N. K. Nikitin, A. K. Starikov, e K. D. Tayurskiy. 8 A localidade recebeu este nome a 28 de Outubro de 1968. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Estrelada’ ou ‘Cidade das Estrelas’), o local onde os cosmonautas e astronautas treinam para voos nos veículos espaciais russos. À medida que o treino básico para os treinandos se aproximava do fim, um simulador rudimentar de uma cápsula espacial, denominado TDK-1, o primeiro do género na União Soviética, foi construído no Instituto de Pesquisa de Voo M. M. Gromov para permitir o treino de vários modos da missão9. Devido aos facto de os médicos acreditarem que seria ineficiente treinar todos os vinte homens num único simulador nesta fase inicial, Korolev, Karpov e Kamanin recomendaram que os responsáveis seleccionassem um núcleo de seis pilotos que iria cumprir um treino acelerado. Este grupo iria levar a cabo os primeiros voos pilotados, enquanto que os restantes catorze elementos iriam continuar o treino básico para voar numa data posterior. Alguns como Volynov, que era muito largo de ombros, e Shonin, que era muito alto, não foram considerados para o grupo primário. Komarov, que era claramente o candidato mais forte, sendo um engenheiro e um piloto capaz, teria sido incluído na equipa não tivesse sido o facto de uma anomalia cardíaca ter sido descoberta inadvertidamente pelos médicos durante um exercício de treino. A Força Aérea acabou eventualmente por elaborar uma pequena lista de seis nomes a 30 de Maio de 1960. Informalmente intitulada “Os Seis de Vanguarda”, eles eram Gagarin, Kartashov, Nikolayev, Popovich, Titov e Varlamov. Para se encontrar com eles, Korolev visitou o centro pela primeira vez a 18 de Junho. Os cosmonautas haviam tomado conhecimento pela primeira vez da sua existência somente três meses antes, apesar de mesmo então ele ser simplesmente designado como “desenhador chefe” para esconder a sua identidade. Os seis, por sua vez, devolveram a honra com a visita às instalações do OKB-1 no mês seguinte, vendo pela primeira vez o veículo espacial que estavam destinados a voar. O grupo central de cosmonautas sofreu as suas primeiras baixas, ambas de forma coincidente em Julho de 1960, logo após se transferir para a nova localidade de Zelenyy. A 16 de Julho, após um teste de centrifugação onde atingiu 8 g’s no TsPK, os médicos descobriram um vermelhão na coluna vertebral de Kartashov. Testes subsequentes levados a cabo na centrifugadora confirmaram o diagnóstico original de hemorragias, o que implicava a fraqueza dos vasos sanguíneos. De outra forma uma pessoa completamente saudável, Kartashov foi imediatamente removido do grupo central, apesar de ter permanecido no centro a continuar o treino básico com os outros cosmonautas. Apesar de apelos dos seus colegas, tais como Titov, Kartashov foi eventualmente dispensado da equipa em Abril de 1962 sem nunca ter sido nomeado para qualquer missão. Um pouco mais de uma semana após o acidente de Kartashov, a 24 de Julho, um segundo treinando do grupo central, Varlamov, esteve envolvido num acidente de natação nos Lagos 9

O simulador foi desenhado e construído pelo Grupo de Desenho Experimental Estatal do Instituto de Pesquisa de Voo (SOKB LII), dirigido pelo Desenhador Chefe S. G. Darevskiy. 8


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Medvezzhiy enquanto nadava com outros dois pilotos, Bykovskiy e Shonin. Durante um mergulho, Varlamov atingiu o fundo do lago com a sua cabeça e magoou a coluna vertebral. Após o diagnóstico, descobriu-se que tinha uma vértebra cervical deslocada, o que o desqualificava do treino10. Nelyubov e Bykovskiy, respectivamente, ocuparam as posições de Kartashov e Varlamov. Bykovskiy foi aparentemente favorecido devido á sua aparência magra, baixo peso, e uma alta tolerância às cargas gravíticas. Assim em finais de Julho, seis homens estavam na linha de partida para competir pelo grande prémio de um deles ser o primeiro cidadão Soviético no espaço: Gagarin, Bykovskiy, Nelyubov, Nikolayev, Popovich e Titov. Se tudo corresse segundo os planos de Korolev, um deles também teria a distinção de ser o primeiro homem no espaço. Korabl-Sputnik O programa de teste para o primeiro veículo espacial tripulado Soviético teve início em 1960. Nessa altura, ao veículo foi atribuído o nome actual: Vostok (‘Este’). Em Abril, os engenheiros do OKB-1 dirigidos por Bushuyev e Tikhonravov haviam finalizado o plano para a primeira versão, designada 1K (ou Vostok 1), essencialmente um modelo para teste em órbita dos sistemas primários do veículo espacial. Também mencionados nos planos estavam o veículo 2K (Vostok 2) e o veículo 3K (Vostok 3). O veículo 2K seria um satélite de reconhecimento automático, enquanto que o veículo 3K seria o veículo espacial tripulado. Existia uma pressão considerável para acelerar o calendário da cápsula Vostok 3, principalmente devido à corrente de notícias originadas do Projecto Mercury. Em princípios do Verão de 1960, os oficiais da NASA marcaram um alvo informal para o OKB-1: para Korolev em particular, era absolutamente imperativo que a primeira Vostok pilotada estivesse em órbita antes de uma Mercury suborbital. O prazo estabelecido de ‘final de 1960’ foi especificado num documento oficial do governo Soviético, datado de 4 de Junho de 1960, intitulado “Sobre o Plano para o Domínio do Espaço Cósmico”; todos os testes para um voo Vostok pilotado estariam completos em Dezembro de 1960. O programa de testes para se conseguir este objectivo envolvia não só o lançamento das cápsulas Vostok 1 e Vostok 3, mas também o lançamento de uma série de mísseis de curto alcance para a atmosfera superior para testar os vários elementos do sistema de suporte de vida e a instrumentação de suporte biológico. Enquanto que nenhum dos testes espaciais utilizou o veículo Vostok, os voos 10

Kartashov demitiu-se oficialmente da equipa de cosmonautas a 7 de Abril de 1962, após o que se tornou num piloto de teste para o Ministério da Defesa. Trabalhou durante muitos anos no GSOKB-472 de O. K. Antonov antes de se reformar, Varlamov demitiu-se oficialmente da equipa de cosmonautas a 6 de Março de 1961. Após a sua demissão, serviu como chefe adjunto do posto de controlo de voo espacial do centro e mais tarde como instrutor chefe. Faleceu a 2 de Outubro de 1980 em resultado de uma hemorragia cerebral.

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fizeram uma importante contribuição para o progresso do programa Vostok como um todo. A maior parte destes lançamentos foram anunciados publicamente pelos media Soviéticos como sendo uma extensão do programa científico incluído no Ano Geofísico Internacional de 195758. Dois tipos diferentes de mísseis foram utilizados para estas experiências, o R-2A e o R-5A, ambos variantes científicas de mísseis balísticos militares. Pelo menos cinco lançamentos bem sucedidos do R-2A em 1957 foram seguidos por mais seis entre Julho de 1959 e Setembro de 1960, todos para altitudes de cerca de 212 km. Cada um transportou dois cães11. Um programa de lançamentos mais avançado mas menos intensivo foi levado a cabo pelo R5A, que permitiu a duplicação do tempo em imponderabilidade para os cães a bordo. Quatro lançamentos foram executados entre Fevereiro e Outubro de 1958, cada um transportando dois cães para altitude de cerca de 470 km, um recorde mundial para um míssil balístico de um só estágio.

O sucesso dos lançamentos verticais destes mísseis ajudou a reforçar a confiança no programa Vostok geral. De um ponto de vista político, porém, o projecto pilotado ainda se encontrava em competição com objectivos militares mais importantes. Desde finais de 1958, o OKN-1 estava a trabalhar num esforço de desenvolvimento paralelo de um satélite de reconhecimento denominado Zenit. Apesar de inicialmente haver um apoio implícito para enfatizar a porção pilotada, em princípios de 11

A segunda série foi inaugurada a 2 de Julho de 1959 e finalizada a 22 de Setembro de 1960. Ocorreram duas falhas adicionais no programa num total de 13 lançamentos. 9


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1960, talvez originada pela alteração de posições estratégicas entre as duas superpotências, o governo Soviético expressou uma crescente impaciência no calendário do projecto de vigilância. Numa reunião a 9 de Janeiro de 1960, o Presidente da Comissão Militar Industrial Ustinov relembrou aos líderes do OKB-1 que “não existia objectivo mais importante no tempo presente” do que o programa de reconhecimento. O criticismo foi directamente apontado ao entusiasmo idealista de Korolev pelo voo espacial tripulado, e também sublinhou a crescente brecha entre os objectivos militares e civis no programa espacial Soviético. Quanto o Concelho de Desenhadores Chefe havia originalmente decidido em finais de 1958 dar uma maior prioridade á Vostok do que à Zenit, o Ministro da Defesa ainda estava relativamente incerto dos requerimentos do reconhecimento espacial. Esta posição havia mudado de forma drástica em menos de dois anos, possivelmente exacerbada pelos lançamentos dos satélites espiões norte-americanos CORONA sobre o disfarce do programa Discoverer. O programa Vostok como um todo atingiu um marco importante no princípio do Verão de 1960, quando o primeiro artigo pronto para o voo foi transportado para Baikonur para lançamento. Supervisionando o programa de testes da Vostok estava outra ‘Comissão Estatal’ ad hoc, esta originalmente estabelecida para dirigir a série de lançamentos do míssil balístico intercontinental R-7A que estava a decorrer. O Marechal Nedelin, o Comandante em Chefe da Forças Mísseis Estratégicas, servia como presidente da comissão, com a sua presença a sublinhar a desenfreada influência dos militares sobre um projecto «civil». O primeiro veículo Vistok 1 que foi preparado para o lançamento era uma subvariante designada 1VP (ou Vostok 1P), com o ‘P’ a significar que era um veículo simples (‘Prostoy’) e que não havia sido desenhada para ser recuperada. O veículo não possuía escudo térmico para o módulo de descida e nem um sistema de suporte de vida. Em vez do grande assento ejectável que iria transportar o piloto, o veículo espacial transportava um modelo para simular as cargas correctas. Ao contrário de veículos Vostok que iriam surgir mais tarde, foram instalados dois painéis solares em forma de semi-círculo num bastão na parte frontal do aparelho de descida. Este sistema, designado Luch (‘Raio’), iria fornecer energia ao veículo espacial na forma de uma experiência para avaliar a efectividade da energia solar sobre as baterias químicas12. O principal objectivo da missão era o de testar os elementos básicos do veículo, em particular o complexo sistema de orientação Chayka, que iria colocar o veículo espacial na atitude apropriada para a reentrada. Apesar do veículo ser destruído na reentrada, os dados de telemetria iriam indicar se o veículo teria sido devidamente orientado. A massa total do veículo espacial era de 4.450 kg.

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O sistema de painéis solares foi desenhado pelo Instituto de Pesquisa Científica de Toda a União de Fontes de Corrente (VNIIT) dirigido por N. S. Lidorenko. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Os engenheiros começaram a chegar a Baikonur a 28 de Abril de 1960, em preparação para o voo, que estava planeado para os princípios de Maio. Existiram numerosos problemas com o sistema Chayka que ameaçaram adiar a missão. Os engenheiros entregaram um sistema pronto para o voo vários dias mais tarde e instalaram-no no veículo somente a 5 de Maio. Anomalias contínuas com o sistema forçaram o Marechal Nedelin a alterar a data de lançamento a 15 de Maio, exactamente três anos após o primeiro lançamento do R-7. Foi um lançamento levado a cabo de manhã cedo com o Sol a brilhar no céu quando o veículo lançador 8K72 apressou-se para a órbita terrestre com a sua carga Vostok 1P13. O veículo entrou com sucesso numa órbita de 312 km por 369 km com uma inclinação de 65º. Mal receberam as notícias de uma inserção orbital com sucesso, os principais membros da Comissão estatal reuniram-se para escrever um comunicado para a imprensa Soviética. Existiu alguma indecisão sobre a designação a dar ao veículo nos media: “Existem navios no mar, navios no rio, «navios» no ar, e agora existirão navios espaciais!”14 Apresar do termo “navio espacial” ter sido utilizado pela primeira vez no anuncio oficial da agência TASS sobre a missão, o veículo foi simplesmente designado Korabl-Sputnik15 (‘navio-satélite’). Não existia qualquer indicação de que a missão tinha alguma relevância para um programa espacial tripulado.

O voo, planeado para ter uma duração de quatro dias, procedeu sem incidentes, com os testes bem sucedidos dos sistemas eléctricos e de fornecimento de energia. A reentrada, a parte mais crítica da missão, estava prevista para a manhã cedo do dia 19 de Maio. Antes da prevista entrada em funcionamento dos motores de travagem TDU1, o grupo de controlo em Baikonur (Grupo T) havia detectado anomalias no sistema de controlo de atitude primário, que utilizava sensores de infravermelhos. Apesar do sistema como um todo parecer estar a funcionar perfeitamente, o sensor não estava a responder correctamente. A equipa de Baikonur relatou o problema ao grupo de controlo em Moscovo (Grupo M), mas o desenhador do sistema, Boris V. Raushenbakh, recusou-se a 13

O lançamento teve lugar às 0000:05,6UTC do dia 15 de Maio de 1960 e foi levado a cabo por um foguetão 8K72 Vostok (Л1-11). (Nota do Tradutor) 14 Outros presentes eram L. A. Grishin, A. Yu. Ishlinskiy, e M. V. Keldysh. 15 O satélite Korabl-Sputnik (000036 1960-005A 1960 Epslon 3) é por vezes identificado como Sputnik-4. (Nota do Tradutor) 10


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concordar com as recomendações do Grupo T para utilizar o sistema de orientação suplente. O Chefe Desenhador Adjunto do OKB-1 Boris Ye. Chertok, que era o responsável pelo Grupo T, rapidamente convocou uma reunião em Baikonur e chegou a um consenso de que o sistema primário não deveria ser utilizado, em favor do ainda operante sensor solar Grif. Ele passou então esta recomendação para Moscovo. Apear de parecer que Korolev concordava no princípio com Chertok, ele cedeu aos argumentos persuasivos por parte de Keldysh e de Raushenbakh para seguir com o sistema primário. Infelizmente, na 64ª órbita, o sistema primário sofreu uma avaria e os catorze motores que trabalhavam a azoto comprimido (10 kg cada motor) inseriram o satélite numa atitude errada. Os motores de travagem TDU-1 accionaramse automaticamente à hora prevista de 2352UTC, mas o veículo espacial, em vez de reentrar na atmosfera, foi propulsionada para uma nova órbita mais elevada de 307 km por 690 km. O módulo de descida acabou eventualmente por reentrar cinco anos mais tarde a 15 de Outubro de 1965. Korolev, indignado pelo erro de controlo, enviou reprimendas a vários dos seus engenheiros, incluindo a um dos desenhadores da Vostok, Feoktistov16. Após uma curta investigação sobre a avaria, o OKB-1 optou por remover o sistema de infravermelhos da variante Vostok 3A pilotada. Estes veículos estariam em vez disso equipados com dois sistemas: um sistema automático solar e um sistema manual que utilizaria o horizonte terrestre. O segundo veículo Vostok I preparado para o voo, enquanto possuía um velho conjunto de sistemas de orientação, era mais avançado do que o seu modesto predecessor; estava equipado com um sistema de suporte de vida operacional e meios de recuperação. Dois cães, Chayka e Lisichka, foram treinados para voar em órbita a bordo. Korolev gostava particularmente de Lisichka, um gosto que era evidentemente mútuo; de outra forma um cão calmo, tornava-se invariavelmente animado quando Korolev o visitou durante as operações de pré-lançamento. Os dois cães foram lançados a 28 de Julho de 196017, mas a missão correu mal logo desde o início. Logo 16 segundos após o lançamento, o veículo lançador começou a “tombar para um dos lados” em resultado de um incêndio e da ruptura da câmara de combustão num dos propulsores laterais (no Blok G). o propulsor inerte separou-se do lançador, e o foguetão acabou eventualmente por explodir a 16

O tempo de queima foi de cerca de 26 segundos, o que implica que o motor TDU-1 foi desligado antes de uma queima completa ou também terá sofrido uma avaria. 17 O lançamento teve lugar às 0931UTC e foi levado a cabo por um foguetão 8K72 Vostok (Л1-10). Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

T+28,5 segundos. Apesar do aparelho de descida ter-se separado do conjunto, a explosão matou ambos os passageiros. O acidente forçou a sérias considerações para testar um sistema de emergência no foguetão 8K72. O Departamento de Tikhonravov, responsável pelo desenho do veículo espacial, propôs um sistema em finais de Agosto que iria garantir que qualquer cosmonauta a bordo teria a capacidade de abortar a missão em quatro diferentes estágios da ascensão para a órbita terrestre. Os primeiros quarenta segundos do lançamento eram considerados a parte mais perigosa, e no caso de uma avaria no lançador, o piloto poderia ejectar-se da cápsula através de um sistema de catapulta e aterrar separadamente por pára-quedas18. A adição de um sistema de emergência bem como as alterações nos sistemas de orientação não eram usuais num programa cuja fase de testes em voo havia já sido iniciada. O programa Vostok tinha de facto a estranha distinção de ser talvez o único programa espacial pilotado cujo plano – isto é, o documento técnico que especifica o seu desenho – evoluir continuamente ao longo do período do projecto. Isto era sem dúvida atribuível aos limites de tempo colocados em parte pelos planos para o Projecto Mercury. A seguinte missão Vostok 1 iria transportar para órbita dois novos cães, Belka e Strelka. Juntamente com os cães, existiam outros numerosos especímenes biológicos. A cabina pressurizada continha doze ratos, insectos, plantas, fungos, culturas, sementes de milho, centeio, ervilhas, cebolas, micróbios, faixas de pele humana, e outros especímenes. Adicionalmente haviam 28 ratos e dois ratos brancos no exterior do assento ejectável, mas dentro do módulo de descida. Duas câmaras internas de televisão, desenvolvidas pelo NII-30, iriam permitir a observação dos cães durante o voo espacial. O veículo espacial estava totalmente equipado com uma catapulta funcional, um sistema de suporte de vida, e páraquedas. O lançamento, originalmente agendado para 15 de Agosto, foi adiado devido a problemas numa válvula de oxigénio no foguetão, mas os cães foram finalmente lançados para órbita às 0844:06UTC do dia 19 de Agosto19. Após entrar com sucesso numa órbita de 306 km por 339 km com uma inclinação de 64,96º, o satélite foi designado “Segundo Korabl-Sputnik”. A massa total em órbita era de 4.600 kg. A notícia do lançamento foi imediatamente 18

De notar que nos apontamentos de Korolev datados de 1961 nos quais sumariza os lançamentos dos KorablSputnik, ele refere que o sistema foi instalado em todas os voos Vostok após o acidente de Julho de 1960, o que implica que tal sistema fora utilizado no lançamento de Agosto de 1960. 19 O lançamento foi levado a cabo pelo foguetão 8K72 Vostok (Л1-12). 11


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transmitida para a Câmara dos Comuns durante os minutos nos quais os juízes estavam a considerar a sentença para o norte-americano Francis Gary Powers, que havia sido abatido por um míssil Soviético S-75 em Maio do ano anterior. Ao longo da missão de um dia, os médicos monitorizaram de forma contínua a condição médica dos cães enquanto que vários outros parâmetros do sistema de suporte de vida eram cuidadosamente observados. Devido ao facto de haver duas câmaras a abordo do veículo espacial, o grupo de apoio médico de Yazdovskiy era capaz de observar as reacções dos cães enquanto em voo. As imagens provenientes da cápsula não eram encorajadoras. Inicialmente, os cães pareciam mortalmente quietos, e sem o fluxo de dados relativos aos seus sinais de vida, era impossível dizer se eles estavam vivos ou não. Mais tarde ficaram mais animados, mas os seus movimentos pareciam convulsivos. Belka ganiu e acabou por vomitar na quarta órbita. Silenciosamente, Yazdovskiy observava as imagens provenientes do satélite e pesadamente relataria à Comissão Estatal que um voo com um cosmonauta deveria ser limitado a uma órbita e não mais. Simplesmente ainda existiam muitos pontos desconhecidos acerca do efeito da ausência de peso no organismo humano. Um número de experiências científicas foi levado a cabo durante a missão, incluindo as experiências para a detecção de raios cósmicos e a monitorização das emissões de alta energia nos comprimentos de onda ultravioleta e de raios-x.

primeiros seres vivos a serem recuperados desde a órbita terrestre. O Korabl-Sputnik 2 era na altura somente o segundo objecto a ser recuperado da órbita terrestre; o satélite Americano Discoverer-1320 havia antecipado o satélite soviético em 9 dias21. Os médicos encontraram ambos os cães em boas condições apesar das preocupações durante a missão. Testes fisiológicos extensivos provaram que não ocorreram alterações fundamentais ao nível da saúde dos dois cães.

Este voo em particular do veículo espacial Vostok 1 foi um momento decisivo e verificou quase todos os elementos primários do desenho do veículo. Korolev regressou a Moscovo a 28 de Agosto para escutar os relatórios do Chefe Desenhador Adjunto Bushuyev e do Chefe de Grupo Feoktistov acerca do progresso do desenho da variante pilotada Vostok 3A. Muito satisfeito com o trabalho realizado, Korolev, em coordenação com os outros principais desenhadores chefe envolvidos no programa (Glushko, Ryazanskiy, Pilyugin, Barmin, Kuznetsov, Bogomolov, Isayev, Kosberg, Alekseyev e Yazdovskiy), preparou um documento intitulado “Estado Básico do Desenvolvimento e Preparação do Objecto 3KA (O Veículo Espacial tripulado ‘Vostok 3A')”, que incluía listagens e descrições dos principais sistemas do veículo espacial bem como um ciclograma para um voo nominal com planos de contingência para todas as falha possíveis. A telemetria mostrava que o sistema de orientação de infravermelhos havia falhado de novo. Após uma noite atarefada a verificar as suas capacidades, os engenheiros recomendaram a utilização do sistema suplente de orientação solar. Este sistema teve uma performance sem qualquer anomalia na 18ª órbita, e o módulo de descida entrou na atmosfera terrestre no ângulo correcto. O sistema de catapulta operou na altura devida e ejectou a cabina com os cães no simulador do assento de ejecção. A cabina aterrou com sucesso somente a 10 km do local designado para aterragem na região de Orsk no Cazaquistão após um voo de 1 dia e 2 horas. Belka e Strelka tornaram-se nos

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O Dicoverer-13 (00048 1960-008A 1960 Teta) foi lançado às 2037:54UTC do dia 10 de Agosto de 1960 por um foguetão Thor Agena A (231) a partir do Complexo de Lançamento 75-3-5 da Base Aérea de Vandenberg, Califórnia. 21 O Doscoverer-13 era um satélite de reconhecimento CORONA numa missão de diagnóstico sem câmaras a bordo. De notar que uma fonte sugere que o módulo de descida do Korabl-Sputnik 2 (00055 1960-011A 1960 Lambda 1) aterrou a 200 km do seu local de descida previsto. 12


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A importância do documento, datado de 7 de Setembro de 1960, não era tanto pelo seu detalhe técnico, mas por causa da fantástica preocupação pela segurança do piloto que surgia em cada secção do relatório. Uma secção era completamente dedicada à enumeração das redundâncias e medidas de segurança para cada um dos principais sistemas do veículo espacial, desde os críticos sistemas de orientação até aos pequenos cartuchos pirotécnicos na escotilha ejectável. Finalmente, e no que deve ter sido um toque pessoal de Korolev, os autores enfatizaram que as anteriores práticas de gestão na industria de mísseis não seriam mantidas no projecto Vostok pois as falhas não eram resultados aceitáveis. O sistema Vostok completo era composto de um veículo de lançamento de seis unidades a três estágios com cerca de trinta sistemas térmicos, estáticos e dinâmicos, tais como turbo-bombas para os motores do foguetão. O veículo espacial por seu lado consistia de 241 tubos de vácuo, mais de 6.000 ligações, 56 motores eléctricos, e cerca de 800 relés e interruptores ligados por 15 km de cabos, para além de 880 ligações tendo cerca de 850 contactos por cabo. Claramente, o sistema na sua totalidade não poderia ser visto como à prova de falhas. Aqui Korolev utilizou a sua técnica de gestão para enfatizar a cada desenhador chefe, director de fábrica, e gestor de operações militar, de que a vida do cosmonauta dependia da parte do seu trabalho. A cadeia de responsabilidade era delegada até ao trabalhador mais inferior na fábrica. Os onze signatários do documento representavam de forma indirecta 123 organizações, incluindo 36 fábricas, que estavam a participar no projecto.22

“O lançamento bem sucedido, voo espacial, e aterragem do veículo espacial (o objecto “Vostok 1”) projecta nova luz nas datas para a realização de um voo pilotado no espaço cósmico. Uma análise dos dados das medições telemétricas recebidas durante os voos do “Vistok 1” sugere a possibilidade de se criar condições normais de vida para um humano durante um voo espacial.”23 Os autores recomendaram que mais um ou dois voos Vostok 1 deveriam ser levados a cabo em Outubro – Novembro de 1960, seguidos por duas missões automáticas da variante Vostok 3KA em Novembro – Dezembro de 1960. a 1 de Dezembro, os cosmonautas em treino para as suas missões deveriam estar prontos, e um voo pilotado em grande escala poderia ser realizado numa Vostok 3KA em Dezembro, a tempo de bater o lançamento Mercury. Ao contrário de todos os anteriores projectos espaciais Soviéticos, o facto deste documento ter sido assinado por dirigentes ministeriais em vez dos usuais ministrosadjuntos, claramente sublinhava a importância com a qual a liderança Soviética via o programa. Se em 1959 havia alguma hesitação por parte do governo em se empenhar completamente num programa espacial tripulado, em finais de 1960, essas preocupações tinham sem dúvida sido superadas pela eminente ameaça do Projecto Mercury. Tendo consistentemente mantido a liderança na fase inicial da corrida espacial, a União Soviética era forçada a fazer esforços para manter continuamente essa preeminência. Apesar da prioridade nacional nos mísseis estratégicos, o espaço havia-se tornado numa arena não só para aplicações militares mas também para simples orgulho nacional. A euforia auto congratulatória que havia seguido os lançamentos dos Sputnik e das Luna, forçou o governo Soviético a manter a imagem no novo estado Soviético avançado. Era uma corrida que eles haviam iniciado e na qual não estavam em posição para a terminar agora. 23

A preparação deste documento provou ser um catalisador para uma intervenção a nível estatal no programa. Três dias mais tarde, a 10 de Setembro, os dez mais poderosos líderes na industria de defesa Soviética (dirigidos por Ustinov) e das forças armadas, juntamente com os seis membros originais principais do Concelho de Desenhadores Chefe, assinaram e enviaram um documento sobre o programa Vostok para o Comité Central do Partido Comunista. Finalmente desclassificado em 1991, a carta estipulou pela primeira vez um calendário para a realização do primeiro voo espacial pilotado. Começava assim:

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Existe também um outro documento intitulado “Regulamentos para o 3KA”, que foi publicado em Dezembro de 1960 e que especificava as responsabilidade de específicas de produção e desenho para cada desenhador chefe, director de fábrica, etc.

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Os signatários do documento foram (pela ordem das suas assinaturas): D. F. Ustinov (Presidente da Comissão Industrial Militar), R. Ya. Malinovskiy (Ministro da Defesa), K. N. Rudnev (Presidente da Comissão Estatal para as Tecnologias da Defesa), V. D. KalmYkov (Presidente da Comissão Estatal para a Rádioelectrónica), P. V. Dementyev (Presidente da Comissão Estatal para as Tecnologias da Aviação), B. Ye. Butoma (Presidente da Comissão Estatal para a Construção de Veículos), M. I. Nedelin (Comandante em Chefe das Forças Estratégicas de Mísseis), S. I. Rudenko (Comandante em Chefe Adjunto da Força Aérea), V. M. Ryabikov (Presidente Adjunto do Conselho de Ministros da República Socialista Soviética da Federação Russa), M. V. Keldysh (Vice Presidente da Academia de Ciências da URSS), S. P. Korolev (Desenhador Chefe do OKB-1), V. P. Glushko (Desenhador Chefe do OKB-456), M. S. Ryazanskiy (Desenhador Chefe e Director do NII-885), N. A. Pilyugin (Desenhador Chefe do NII-885), V. P. Barmin (Desenhador Chefe do GSKB SpetsMash), e V. I. Kuznetsov (Desenhador Chefe do NII944).

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A petição pelos dezasseis líderes do programa espacial Soviético foi recebida no Comité Central do Partido Comunista – isto é, por Nikita S. Khrushchev e Frol R. Kozlov. Ambos aprovaram o plano e emitiram uma resposta ultra-secreta datada de 11 de Outubro, listando cada uma das jurisdições ministeriais dos signatários: I. A proposta da Comissão Estatal de Tecnologias de Defesa do Concelho de Ministros da URSS, a Comissão Estatal para a Rádioelectrónica do Concelho de Ministros, O Ministério de Defesa da URSS, a Comissão Estatal para a Construção de Veículos do Concelho de Ministros da URSS, a Comissão Estatal para as Tecnologias da Aviação do Concelho de Ministros da URSS, e a Academia de Ciências da URSS, que foi examinada e aprovada pela Comissão do Presidium do Concelho de Ministros da URSS para os Assuntos Militares Industriais, sobre a preparação e lançamento de um veículo espacial (o objecto “Vostok 3ª") com um homem a bordo em Dezembro de 1960, é aprovada, pois é uma tarefa de grande importância. Assim, foi criado palco para o cenário no qual se daria o lançamento do primeiro ser humano para o espaço no último mês de 1960. Era um calendário ambicioso. Não havia precedente para a rápida cadência do calendário – o OKN-1 tinha sido capaz de levar a cabo três tentativas de lançamento no Verão de 1960, e este nível teria de ser quase duplicado. A decisão foi claramente tomada após uma discussão exaustiva, e não existe qualquer evidência para sugerir que Korolev teria aprovado tal calendário se ele não pensasse que era realista. Os planos do governo Soviético foram porém, subitamente e tragicamente prejudicados por um dos piores desastres na história do desenvolvimento dos foguetões e mísseis, uma negra recordação dos perigos da nova tecnologia ao seu dispor. Desastre e atrasos Na noite de 24 de Outubro, Korolev chamou o engenheiro sénior do OKB-1 Arkadiy I. Ostashev ao seu gabinete para lhe dar informações importantes. O desenhador chefe havia acabado de receber uma chamada de Baikonur através de linhas de comunicações restritas, do seu Adjunto Yevgeniy V. Shabarov relacionada com um grande acidente no polígono de lançamento no qual o irmão mais velho de Ostachev, Yevgeniy, havia estado envolvido. Ainda sem saber da escala do acidente, Korolev permitiu imediatamente que o jovem Ostashev voa-se para o local de lançamento. A magnitude e a natureza catastrófica do acidente só se tornou clara a Korolev ao longo da noite à medida que mais e mais relatórios chegavam tanto de Baikonur como de fontes indirectas em Moscovo. O desastre estava para lá da compreensão mesmo dos mais negros pesadelos, e envolveu um foguetão desenhado não por Korolev, mas pelo seu rival, o Desenhador Chefe Yangel. Com uma dura competição contra Korolev para o desenho de uma nova geração de ICBM, Yangel havia surgido com

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a sua primeira proposta, o R-16, na plataforma de lançamento em meados de Outubro para o seu primeiro lançamento. Após a falha relativa do R-7 de Korolev como um ICBM operacional, havia uma tremenda importância focada em colocar em estado operacional o novo R-16 de Yangel. Finalmente daria à União Soviética uma detent activa e estratégica em larga escala, apoiando assim o discurso de Khrushchev sobre o poderio Soviético. Dias antes do planeado lançamento, o líder Soviético, num discurso nas Nações Unidas, havia declarado que os mísseis estratégicos estavam a ser produzidos na União Soviética “como salsichas por uma máquina”, uma declaração que não era claramente verdade no caso dos ICBM. Numerosos oficiais importantes estavam em Baikonur para testemunhar o primeiro lançamento, incluindo o Comandante em Chefe das Forças Estratégicas de Mísseis Nedelin, que também presidia à Comissão Estatal para o R-16. Consumindo propolentes armazenáveis, hipergólicos, e altamente tóxicos, tinha havido muita dificuldade antes do lançamento, especialmente nos procedimentos de abastecimento, que causara grande consternação no local de lançamento. O primeiro lançamento esteve originalmente agendado para 23 de Outubro, mas uma grande fuga de propolente nessa noite forçara um adiamento para o dia seguinte. Às ordens da Comissão Estatal, todas as reparações no míssil foram levadas a cabo com este totalmente abastecido, criando uma situação notavelmente perigosa na plataforma. As reparações foram levadas a cabo com sucesso ao longo da noite, e todas as operações prélançamento procederam como previsto até trinta minutos antes da hora marcada a 24 de Outubro. Nesta altura, ainda estavam cerca de 200 oficiais, engenheiros, e soldados perto da plataforma, incluindo o Marechal Nedelin, que escarnecia sugestões ao lhe sugerirem que abandonasse a área. “De que é que deva ter medo? Qão sou um oficial?”, terá supostamente perguntado. Por um golpe de sorte misericordioso, Yangel foi convencido a entrar num bunker de segurança para fumar um último cigarro pelo major General Alexander G. Mrykin, o homem de Nedelin para os mísseis e para o espaço. Mrykin estava aparentemente a pensar em deixar de fumar, e havia decidido fumar o seu último cigarro mesmo ali. Foi nesse momento, exactamente tinta minutos antes do lançamento, que o míssil subitamente explodiu na plataforma, libertando um inferno de destruição em expansão em torno da plataforma. Em segundos, o míssil partiu-se ao meio e caiu na plataforma, esmagando quem ainda pudesse estar vivo. Neste ponto, o incêndio e o calor cresciam em intensidade à medida que os propolentes se incendiavam num crescendo.

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Algumas pessoas foram simplesmente engolidas pelo fogo, enquanto outros que conseguiram fugir a arder sucumbiram em minutos devido aos gases tóxicos. Alguns técnicos permaneceram pendurados dos seus arneses em guindastes à medida que os seus corpos ardiam. O Presidente Adjunto da Comissão Estatal para as Tecnologias de Defesa, Lev A. Grishin, que havia estado junto a Nedelin, conseguira saltar sobre uma grade, correr ao longo do alcatrão derretido, e saltar para a porta da rampa de uma altura de 3,5 metros, partindo ambas as pernas enquanto chegava a um ponto seguro. Tragicamente, viria a sucumbir às suas queimaduras pouco depois de ter sido transportado para o hospital24. À medida que a temperatura atingia os 3.000ºC, as pessoas eram simplesmente derretidas na tempestade de fogo, muitos a serem reduzidos a cinzas.

evidentemente ocorrido quando o segundo estágio do R-16 havia espontaneamente iniciado a queima na plataforma devido a uma falha no sistema de controlo, fazendo com que os propolentes do primeiro estágio entrassem em combustão. Este sistema de controlo, desenvolvido pelo OKB-692 em Kartashov, não tinha um circuito para bloquear comandos, impedindo-os que chegar ao segundo estágio. Foram necessárias catorze horas de tormento antes do jovem Ostashev identificar o seu irmão. O próprio Nedelin foi identificado devido à sua medalha Estrela Vermelha fixada no seu uniforme. O Desenhador Chefe do OKB-692 Boris M. Konoplev, o talentoso engenheiro de sistemas de orientação que se encontrava entre as estrelas em ascensão no programa de mísseis e foguetões da União Soviética, foi identificado pela sua altura, sendo um dos homens mais altos na plataforma. Todos contados, 126 indivíduos pereceram na explosão, incluindo oficiais militares seniores, desenhadores chefe adjuntos, e numerosos soldados25. O acidente foi mantido em segredo e o Marechal Nedelin foi referido como tendo falecido num acidente de aviação, um pedaço de ficção que os Soviéticos mantiveram oficialmente até ao princípio de 1989. A proibição de se discutir o acidente entre os sobreviventes não foi levantada até 1990, trinta anos após a tragédia. O desastre com o R-16 foi um golpe devastador para o programa de mísseis Soviético. Apesar de não ter qualquer impacto directo com o esforço espacial pilotado, ocorreu evidentemente um atraso repercussivo no programa Vostok. Muitas das organizações, tais como o OKB-456 (Glushko), NII-944 (Kuznetsov), NII-88 (Tyulin), e NII-229 (Tabakov), tinham grandes contribuições para ambos os projectos. O Marechal Nedelin, para além do seu papel como Comandante em Chefe das Forças Estratégicas de Mísseis, também presidia a vários Comissões Estatais importantes, incluindo a do programa Vostok, e o desastre pôs assim término à sua carreira de 15 anos como uma das figuras mais importantes no crescimento dos programas espacial e de mísseis da União Soviética. Kirill S. Moskalenko, o Comandante do Distrito Militar de Moscovo, com 52 anos de idade, foi nomeado como novo comandante das Forças Estratégicas de Mísseis. Teve a pouco usual distinção de ser um dos homens a participar na execução do Presidente do NKVD, Lavrenti Beria, em Dezembro de 1953. Konstantin N. Rudnev, 49 anos de idade, o líder industrial do programa espacial e de mísseis, tomou o lugar de Nedelin como presidente da Comissão estatal para a Vostok. Foi o ponto alto da ascensão de dez

Ao longo dos dias seguintes, os trabalhadores começaram a grotesca tarefa de identificar os cadáveres. Foi imediatamente formada uma comissão especial dirigida por Yangel para investigar o acidente. A falha havia 24

Grishin ainda estava vivo quatro dias depois do acidente, a 28 de Outubro. Nessa altura, as suas lesões eram referidas como “queimaduras do 2º, 3º e 4º na face, cabeça, pescoço metade esquerda do tórax. Fractura exposta em ambos os ossos da canela. Extremidade inferior esquerda amputada a partir do terço médio da canela.” Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

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Chertok, Rakety i lyudi, p. 397. Ainda existem muitas discrepâncias em relatórios acerca da contagem final do desastre do R-16, variando de um número limite baixo de 92 até a um número de 165. A 28 de Outubro, 74 pessoas haviam sido identificadas como mortas. Um número de documentos importantes previamente classificados relacionados com o desastre, foi publicado em 1994. Estes incluíam o comunicado original enviado por Yangel para Moscovo minutos após o desastre, um relatório preliminar do acidente pela comissão técnica no dia após o acidente, a listagens daqueles que haviam sido identificados (ambos os falecidos e os feridos) a 28 de Outubro. 15


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anos de Rudnev como um dos mais importantes gestores industriais na União Soviética. O seu primeiro trabalho nesta área tinha sido como director do famoso NII-88 em princípio dos anos 50. Passariam mais de duas semanas após o desastre do R-16 até que os trabalhos fossem retomados no programa Vostok. Por esta altura, era claro que o calendário original para um voo pilotado em Dezembro de 1960 era irrealista. Numa carta datada de 10 de Novembro, Ustinov, Keldysh, Korolevm Rudnev, e Moskalenko, pediam ao Comité Central uma permissão formal para lançar duas Vostok 1 precursoras antes de iniciarem os testes da variante Vostok 3A pilotada. No melhor dos cenários, um primeiro voo pilotado não poderia ser levado a cabo antes de Fevereiro de 1961. Nesta altura, a NASA estava também a prever o seu voo suborbital em princípios da Primavera. Assim, apesar dos atrasos associados com o desastre do R-16 e outros problemas técnicos, ainda existia uma estreita margem de segurança no novo calendário. A autorização para o lançamento de dois veículos espaciais Vostok 1, o quarto e o quinto na série, foi dada quase de imediato pelo Comité Central, que permitiu o processamento da fábrica do OKB-1 e em Baikonur para apressar os trabalhos. Ambos os veículos espaciais eram idênticos ao veículo lançado em Agosto, exceptuando a omissão do sistema de orientação por infravermelhos que havia sido a causa de tantos problemas nas missões anteriores. O primeiro foi lançado sem incidentes a 1 de Dezembro de 1960 para uma órbita que reproduziu exactamente a órbita planeada naquela altura para a missão pilotada: 180 km por 249 km com uma inclinação de 64,95º. A bordo do satélite, denominado Terceiro KorablSputnik26 na imprensa Soviética, estavam os cães Pchelka e Mushka. A massa total em órbita era de 4.563 kg. Aparentemente existia uma instrumentação biomédica melhorada a bordo, bem como um conjunto diferente de instrumentos para estudos cósmicos e de radiação.

O voo correu bem e realizaram-se com sucesso doze sessões de comunicações para recepção de telemetria. Após cerca de 24 horas em órbita, na 17ª órbita o motor principal 26

O Korabl-Sputnik 3 (0065 1960-017A 1960 Ro 1) foi lançado às 0730:04UTC por um foguetão 8K72 Vostok (Л1-13). O satélite é também por vezes designado Sputnik6.

Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

TDU-1 deveria entrar em ignição para iniciar a reentrada. Infelizmente, ocorreu uma avaria no sistema de estabilização do motor; a queima resultante foi muito mais curta do que estava previsto. Apesar da cápsula ainda reentrar na atmosfera, as computações mostravam que a aterragem iria ocorrer fora do território Soviético. O veículo espacial ainda fez mais uma órbita e meia, após a qual o módulo de descida com os cães no interior se separou do resto do veículo. Uma sessão de comunicação adicional com o satélite confirmou a falha do TDU-1. Neste ponto, um sistema especial e pouco usual foi colocado em operação – um sistema que estava instalado para resolver situações desta natureza. Durante o planeamento inicial da missão, tinha havido muita preocupação acerca da possibilidade da cápsula vir a aterrar longe do local planeado e em “território estrangeiro”. Dado o extremo secretismo e xenofobia do programa espacial e de mísseis, a única opção para os desenhadores era a instalação de um sistema de auto-destruição a bordo do veículo para destruir as “provas” antes de serem recolhidas por outras nações. Desenhado pelo NII-137, o sistema para uma explosão de emergência do objecto foi desenhado para se detonar se um sensor gravítico a bordo não detectasse a reentrada num momento determinado. Misericordiosamente, tal sistema só estava previsto para as missões Vostok precursoras e não para as missões pilotadas. No caso do Korabl-Sputnik 3, o sistema foi activado no início da reentrada e destruiu o veículo espacial juntamente com os seus passageiros. Na altura, a imprensa Soviética meramente anunciou que por causa de uma incorrecta atitude, o módulo de descida tinha ardido na reentrada. O problema com o TDU-1 foi rapidamente identificado ao se “adoptar meios para garantir o normal funcionamento da Unidade do Motor de Travagem”, e o próximo veículo espacial Vostok 1 foi colocado na plataforma de lançamento na Zona 1 na terceira semana de Dezembro. Havia uma pequena alteração no foguetão para este voo. Todas as missões Korabl-Sputnik anteriores haviam utilizado o veículo lançador 8K72 também utilizado para os lançamentos das sondas lunares Luna. Este voo em particular seria o primeiro a utilizar uma variante ligeiramente alterada designada 8K72K, que substituía o motor RD-0109 (pouco acima d 5,5 t) pelo RD-0105 (um pouco acima das 5,0 t) como motor de inserção orbital do terceiro estágio27. O aumento de força nominal iria permitir uma massa ligeiramente mais elevada para a variante pilotada. Assim, o quinto veículo espacial Vostok 1, transportando os cães Kometa e Shutka, foi lançado às 0745:19UTC do dia 22 de Dezembro de 196028. Os dois

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Os primeiros testes da variante 8K72K podem ter ocorrido mais cedo. Ocorreram dois voos suborbitais relacionados com o R-7 (ou R-7A) a 5 de Julho e 7 de Julho de 1960, durante os quais as cargas foram depositadas no Pacífico. 28 Outras fontes (N. P. Kamanin, Skrytiy kosmos: kniga pervaya, 1960-1963gg) referem que os nomes dos cães eram Zhemchuzhnaya e Zhulka.

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Em Órbita primeiros estágios do foguetão 8K72K29 tiveram uma performance sem problemas, mas o novo motor do terceiro estágio desactivou-se prematuramente a T+425 segundos devido à destruição do gerador de gás no motor. O sistema de escape de emergência foi accionado, e o veículo espacial foi separado com sucesso à medida que a sua trajectória de voo descrevia um arco ao longo da União Soviética. A carga atingiu uma altitude de 214 km e aterrou a cerca de 3.500 km do local de lançamento numa das áreas mais remotas e inacessíveis da Sibéria, na região de Podkamennaya Tunguska, perto do local de impacto do famoso meteorito de Tunguska. Nas horas tardias de 22 de Dezembro, as forças de resgate começaram a detectar sinais do módulo de descida, e um grupo de busca liderado pelo velho amigo de Korolev, Arvid V. Pallo, foi enviado para tentar localizar a cápsula. A missão de resgate acabou por se revelar um dos episódios mais horrorosos daquela altura. Quando o grupo de resgate foi largado na área geral do local de aterragem dois dias mais tarde a 24 de Dezembro, Pallo e os restantes viram-se enterrados na neve até ao peito. Ao terem aviões a voarem na direcção do objecto, eles conseguiram atingir a cápsula. Uma vez a cápsula encontrada, eles tiveram de se aproximar da mesma com toda a precaução devido ao facto de que o sistema de explosão de emergência deveria automaticamente detonar-se sessenta horas após a aterragem. Na altura em que o grupo chegou ao veículo espacial, já haviam passado sessenta horas, mas a cápsula ainda não havia explodido, forçando-os a desactivar o sistema a temperaturas de -44ºC. Mais tarde descobriram que os cabos do sistema explosivo haviam sido queimados, neutralizando a bomba. Apesar de ambas as escotilhas do módulo de descida terem sido descartadas, o assento ejectável havia permanecido no interior da cápsula esférica em vez de ter sido ejectado com os cães. Mais tarde as investigações mostraram que durante a ejecção, o assento havia embatido na parte lateral da escotilha de saída e permanecido no veículo espacial. Pallo e o seu adjunto regressaram ao local no dia seguinte, e os cães foram finalmente retirados do interior da cápsula, um pouco frios mas vivos, e finalmente transportados por ar para um local seguro, chegando a Moscovo a 26 de Dezembro. Mais complicado foi trazer de volta para Moscovo o veículo espacial, à medida que utilizavam uma variedade de estratégias para literalmente arrastar a cápsula através de quilómetros de neve. A certo ponto, a equipa de Pallo teve de terminar todas as operações de resgate e passar a noite no meio do gelo e da neve quando as temperaturas baixaram para -62ºC. Era a primeira semana de Janeiro de 1961 quando o veículo finalmente chegou a Moscovo. Apesar das opiniões de Korolev de que a falha deveria ser anunciada na imprensa Soviética, a Comissão Estatal vetou a ideia. Uma análise da abortagem do lançamento a 22 de Dezembro mostrou que existiram um número de grandes anomalias na missão. Após a falha do terceiro estágio do foguetão, o veículo Vostok 1 deveria separar-se nos seus 29

O foguetão era o 8K72K Vostok (Л1-13А). (Nota do Tradutor)

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dois componentes: o módulo de descida e o módulo de instrumentação. Isto nunca aconteceu. Os dois módulos acabaram por ver os cabos cortados somente devido ao aquecimento térmico na reentrada atmosférica. Para além do mais, o assento ejectável deveria ter sido catapultado para fora da cápsula dois segundos e meio após a escotilha ter sido por sua vez ejectada; nesta missão, ambos os eventos ocorreram simultaneamente, causando a deformidade na cápsula devido ao choque da ejecção falhada. Depois ocorreu a falha fortuita do sistema de autodestruição. Todos estes problemas, por razões óbvias, não eram encorajadores. O programa Korabl-Sputnik tinha agora dois grandes acidentes consecutivos. A data provisória da Comissão Estatal de Fevereiro de 1961 para um voo pilotado não era agora viável. Numa reunião da comissão realizada a 5 de Janeiro de 1961, o Desenhador Chefe Adjunto Bushuyev apresentou um calendário para os meses seguintes. Tal como os planos prévios, os próximos dois lançamentos na série seriam voos automáticos da variante pilotada, a Vostok 3A. O primeiro iria voar a 5 de Fevereiro e o segundo entre 15 e 20 de Fevereiro. Contingente do seu sucesso, a comissão iria aprovar uma missão pilotada. O Caminho para a Vostok O treino do principal grupo de cosmonautas seleccionados para a primeira missão pilotada atingiu um ponto culminante em Janeiro de 1961. Por essa altura, todos os seis haviam terminado dos regimes finais nos simuladores com uma duração de três dias, bem como a um treino a grande escala de salto de pára-quedas e recolha. Durante dois dias em meados de Janeiro, os seis – Capitão Bykovskiy, Tenente Gagarin, Tenente Nelyubov, Capitão Nikolayev, Capitão Popovich e Tenente Titov – levaram a cabo os seus exames finais para determinar o respectivo grau de prontidão. Uma comissão interdepartamental especial dirigida pela supervisão do Tenente General Kamanin iria rever os resultados e recomendar os candidatos mais prováveis para a primeira missão30. A 17 de Janeiro, cada candidato passou quarenta a cinquenta minutos num simulador no Instituto de Pesquisa de Voo M. M. Gromov descrevendo a operação do veículo espacial, os seus instrumentos, e as várias fases de uma missão, após os quais os membros da comissão colocaram questões específicas. Foi dada uma particular atenção à operação do motor TDU-1 e à orientação do veículo espacial, ambos os quais haviam falhado várias vezes nas missões prévias 30

Os membros da comissão eram: Major General A. N. Babichuyk (Chefe dos Serviços Médicos da Força Aérea Soviética), Tenente General V. Ya. Klokov (Instituto de Aviação e Medicina Espacial), V. I. Yazdovskiy (Instituto de Aviação e Medicina Espacial), Coronel Ye. A. Karpov (Director do TsPK), Académico N. M. Sisakyan (Departamento de Ciências Biológicas da Academia das Ciências da URSS), K. P. Feoktistov (OKB-1), S. M. Alekseyev (Desenhador Chefe da Fábrica n.º 918) e M. L. Gallay (piloto de testes do Instituto de Pesquisa de Voo M. M. Gromov). O Desenhador Chefe do Instituto de Pesquisa de Voo N. S. Stroyev estava presente durante os testes. 17


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Korabl-Sputnik. No primeiro dia, Nikolayev, Popovich, Gagarin e Titov receberam qualificações de ‘excelente’, enquanto que a Bykovskiy e Nelyubov foram atribuídas as classificações de ‘muito bom’. No dia seguinte, os candidatos realizaram um exame escrito, que completou o programa. Os resultados foram coligidos de seguida, e a comissão recomendou a seguinte ordem para se utilizar os treinandos nos voos: Gagarin, Titov, Nelyubov, Nikolayev, Bykovskiy, Popovich31. Esta série particular de testes ajudou a estreitar a selecção de candidatos para a primeira missão aos três melhores cosmonautas: Gagarin, Titov e Nelyubov. Apesar de factores menos técnicos tais como as características fisiológicas e a ideologia iriam reduzir os três homens somente a um para a primeira missão, os três iriam viajar para Baikonur dentro de alguns meses.

memória fantástica; distingue-se a sai próprio dos seus colegas pelo seu agudo e abrangente sentido de atenção a tudo o que se passa ao seu redor; uma imaginação bem desenvolvida; reacções rápidas; perseverante; prepara-se intensamente a si próprio para as suas actividades e exercícios de treino; lida com a mecânica celeste e com as fórmulas matemáticas com destreza e é esperto nas matemáticas avançadas; não se sente constrangido quando tem de defender o seu ponto de vista se considera que tem razão; parece que compreende a vida melhor do que muitos dos seus amigos.

Mesmo nesta fase inicial, Yuri Gagarin de 26 anos de idade, parecia claramente ser o favorito. As origens de Gagarin provinham da classe trabalhadora na região de Smolensk a Oeste de Moscovo, formando-se no ensino secundário em 1949. Passou os anos seguintes em vários institutos técnicos ingressando na Escola Superior da Força Aérea de Orenburg em 1955. Até à sua selecção como treinando para cosmonauta, servira como piloto em serviço activo em Zapolyarniy, a Norte do Círculo Árctico. Em todos os relatos é referido como um indivíduo afável e inteligente, e havia fortuitamente causado uma extremamente boa impressão a Korolev na primeira vez que os cosmonautas se encontraram com ele em meados de 1960. Apesar de ter havido uma tendência para colocar o jovem homem num estatuto de herói adorado por todos, mesmo aqueles que não eram dados muito a hipérboles não tinham nada de negativo a dizer sobre ele. Mais tarde o cosmonauta Khrunov lembrava que: Gagarin era extremamente focado, e quando era necessário, muito exigente de si próprio e dos outros. É por isso que eu penso que se nos concentrarmos naquele seu famoso sorriso, podemos perder o seu verdadeiro ser e até diminuir a imagem de quem ele realmente era. O engenheiro do OKB-1, Raushenbakh, relembra que “Gagarin nunca iria tentar ser ingrato consigo próprio e nunca era insolente. Ele nasceu com um dom inato.” Numa das primeiras avaliações da sua personalidade datada de Agosto de1960, quando ele era apenas um dos vinte homens em treino para um voo, uma comissão de médicos da Força Aérea escreveu sobre os atributos positivos de Gagarin sem qualquer ambiguidade: Modesto; fica embaraçado quando o seu humor se torna um porco despregado; o alto nível de desenvolvimento intelectual é evidente em Yuri; 31

Os restantes onze cosmonautas activos – Anikeyev, Belyayev, Filatyev, Gorbatko, Khrunov, Komarov, Leonov, Rafikov, Shonin, Volynov e Zaykin – fizeram o teste a 4 de Abril de 1961. De uma possível classificação de ‘5’, KOmarov e Leonov receberam ‘5+’, Anikeyev, Filatyev, Shonin e Volynov receberam ‘5’, e Belyayev, Gorbatko, Khtunov e rafikov receberam ‘4’.

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Quando o grupo de cosmonautas levou a cabo uma votação anónima e informal para ver quem entre o grupo gostariam de ver a voas a primeira missão, todos com excepção de três nomearam Gagarin. Para lá das suas altas qualificações, ele também satisfazia os critérios não escritos do Partido Comunista de que o primeiro Soviético no espaço deveria ser completamente Russo e ter uma descendência na classe trabalhadora. German Titov, com 25 anos de idade na altura, havia crescido no Distrito de Kosikhinskiy no Território de Altay antes de ingressar na Escola Superior da Força Aérea de Kacha em 1953. Após a sua formação em 1957, serviu como piloto em serviço activo no Distrito de Leninegrado. Surpreendeu muitos por ser o mais falante dos seis, e foi notado por se

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ter rebelado contra o que chamava de ‘questões sem sentido’ durante os processos de selecção em 1959. O mais novo dos seis, portara-se excelentemente e sem problemas ao longo do ano que passara nos treinos e era um competidor muito próximo de Gagarin. O último dos três, Grigoriy Nelyubov, de 26 anos de idade, era talvez o mais talentoso e qualificado do grupo dos seis. Crescido na Crimeia, tinha-se graduado na Escola Superior da Força Aérea de Ieisk em 1957 e servido como piloto de MiG-19 no Mar Negro. Pouco após a sua selecção como cosmonauta, demonstrou de forma consistente a sua capacidade como um dos melhores membros do grupo de vinte. Ele tinha também apoiantes influentes no OKB-1; o Chefe de Departamento Raushenbakh foi referido como ter apoiado a candidatura de Nelyubov para ser o primeiro Soviético no espaço. Pelo lado negativo, Nelyubov era também extremamente expressivo e individualista. Para Kamanin, um fervoroso Estalinista da velha guarda, o que de outra forma seriam os excelentes registos de Nelyubov nos treinos eram neutralizados pela sua natureza directa e crítica. Gagarin, que era de ‘carácter sereno’, era um candidato muito mais óbvio de uma perspectiva ideológica. Em termos de preparação para a primeira missão Vostok, o treino dos cosmonautas era só a ponta do iceberg de um gigantesco empreendimento. Os requisitos de rastreio para uma missão pilotada eram muito mais estritos do que para os modestos Sputnik nos anos anteriores, e o instituto militar NII-4 foi mais uma fez encarregado com a coordenação de criar uma rede para apoiar no novo projecto. Os sete pontos de comunicações originais espalhados ao longo da União Soviética (em Baikonur / Tyura-Tam, Makat, Sary-Shagan, Yeniseysk, Iskhup, Yilizovo e Klyuch) para apoiar o programa inicial de satélites, foram aumentados por seis novas estações (em Leninegrado, Simferopol, Tbilis, Kolpashevo, Ulan-Ude e Moscovo)32. Apesar da União Soviética ter um comprimento quase duas vezes e meia o comprimentos dos Estados Unidos continentais, existiam limitações claras à monitorização das missões espaciais a partir de uma única massa de terra, tendo em conta de forma especial os elevados requisitos para uma missão pilotada. Talvez relutante em negociar tratados como a NASA fez para a colocação de estações de rastreio em solo estrangeiro, os 32

Cada um dos destes centros era denominado um Ponto de Medições Científicas (NIP), e cada um tinha um número em separado: NIP-1 (Baikonur / Tyura-Tam), NIP-2 (Makat), Nip-4 (Yeniseysk), NIP-5 (abandonado em 1958), NIP-6 (Yelizovo), NIP-7 (Baikonur / Tyura-Tam), NIP-8 (não foi construído), NIP-9 (Leninegrado), NIP-10 (Simferopol), NIP-12 (Kolpashevo), NIP-13 (Ulan-Ude) e NIP-14 (Moscovo). Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Soviéticos criaram navios de rastreio totalmente equipados e colocados em todo o planeta. A primeira geração de navios de rastreio Soviéticos – Sibir, Sucha, Sakhalin, e o Chukota – estavam originalmente estacionados para monitorizar os impactos das ogivas dos ICBM e mais tarde para os eventos críticos das missões dos Korab-Sputnik. Estes navios foram comissionados como parte da oficialmente designada Expedição Oceanográfica do Oceano Pacífico n.º 4. A frota foi aumentada em Agosto de 1960 por uma nova segunda geração estacionada no Atlântico que fora especificamente construída para os programas Vostok, lunar e interplanetário: Dolinsk, Ilichevsk e o Krasnodar. A duração dos contactos de comunicações entre para ponto na superfície e o ceículo espacial em órbita era limitada a cinco ou dez minutos, com uma altitude de rastreio chegando aos 1.500 km a 2.000 km33. Para as primeiras missões espaciais pilotadas, a NASA optou utilizar um centro de controlo no local de lançamento em Cabo Canaveral. Enquanto que os Soviéticos mantinham tal centro de controlo em Baikonur, o centro nevrálgico para todos os primeiros voos espaciais Soviéticos encontrava-se no subúrbio de Bolshevo, Moscovo, nas instalações da unidade militar NII-4. Era aqui que o denominado Complexo de Medição e Comando estava localizado, no controlo directo das Forças Estratégicas de Mísseis. O centro albergava pessoal vindo principalmente do NII-4 e era dirigido desde Julho de 1959 pelo Coronel Andrey G. Karas, um veterano dos lançamentos de Kapustin Yar. O apoio balístico e computacional durante as missões era dado or três diferentes centros de computação, cada um com o seu grupo de operações – um localizado no NII-4 e dois na Academia de Ciências. Apesar de Karas ser nominalmente o principal responsável por todo o Complexo de Medição e Comando, as operações técnicas diárias eram dirigidas pelo Coronel Amos A. Bolshoy, um cientista militar que teria um papal proeminente no controlo de todas as primeiras missões espaciais Soviéticas ao fornecer à Comissão Estatal as suas recomendações sobre os eventos mais críticos das mesmas34. O facto de que esta posição, quase análoga ao conceito Ocidental de um director de voo, ser ocupada por um coronel das Forças de Mísseis Estratégicas era meramente outro sintoma do crescimento do programa espacial Soviético a partir do esforço de desenvolvimento de mísseis balísticos. Esta foi uma das razões para que até os anos 70, os Soviéticos recusaram sempre identificar a localização do seu principal centro de controlo para o início do seu programa espacial tripulado. Para além do comando e controlo, a Força Aérea Soviética aceitou o fardo de organizar as forças de recolha para os cosmonautas que regressavam às Terras. Esta grande armada consistia em 25 aviões (20 Illyushin Il-4, 3 Antonov An-12 e 2 Tupolev Tu95) bem como 10 helicópteros. Adicionalmente, sete equipas separadas de pára-quedistas foram estabelecidas 33

Um quarto navio de segunda geração, o Aksay, foi adicionado em Setembro de 1962. 34 Bolshoy seria substituído por P. A. Agadzhanov em meados dos anos 60. 19


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para chegar de forma rápida a um cosmonauta no final da sua missão para fornecer apoio médico em primeira-mão35. Ao longo de Janeiro e Fevereiro de 1961, ocorreram preparativos intensivos para o lançamento das duas restantes missões precursoras Vostok. Cada um destes veículos espaciais seria idêntico à variante pilotada, com excepção do facto de que cada uma transportar um único cão até à órbita terrestre. Um manequim do tamanho de um cosmonauta seria colocado no assento ejectável, enquanto que o cão seria colocado num contentor separado do mecanismo do assento ejectável. Ao contrário dos anteriores voos com cães, as missões deveriam ter a duração de uma única órbita – isto é, exactamente o mesmo que era planeado para o primeiro voo humano. Numa reunião da Comissão estatal presidida por Rudnev a 22 de Fevereiro, foram estabelecidos os calendários para as duas missões preliminares. A primeira missão Vostok 3A com um manequim seria lançada nos primeiros dias de Março antes da finalização dos testes no solo e da eleminação de todos os defeitos no modelo; a segunda Vostok 3A iria chegar à órbita terrestre somente após os testes no solo terem sido completos. Os problemas com o primeiro veículo espacial eram limitados a anomalias nos sistemas de suporte de vida e de ejecção, certamente elementos importantes para um satélite biológico. Numa reunião a 27 de Fevereiro, os Desenhadores Chefe Semyon A. Alekseyev (Fábrica n.º 918) e Grigoriy I. Voronin (OKB-124), responsáveis pelos sistemas do mecanismo de ejecção e de suporte de vida, respectivamente, aprovaram um plano detalhado para testar estes sistemas para o segundo veículo espacial Vostok 3A. Em particular, Voronin havia introduzido um novo sistema de ar condicionado, que tinha de ser submetido a um teste de treze dias para simular a contingência de ter um cosmonauta em órbita por esse período de tempo em caso de avaria dos motores de travagem. A 2 de Março, o Chefe de Grupo do OKB-1 Feoktistov e o seu assistente Oleg G. Makarov, ambos destinados a serem cosmonautas anos mais tarde, prepararam um conjunto detalhado de instruções para o piloto na primeira missão, que incluíam acções para os vários estágios da missão bem como um número de diferentes situações de emergência. Os dois engenheiros tiveram o cuidado de incluir instruções para alterar de forma manual a atitude do veículo espacial em órbita e para levaram a cabo uma retrotravagem completamente manual, ambas as quais não estavam planeadas para serem executadas durante uma missão nominal. O documento final foi entregue a Komarov, Keldysh, Bushuyev e Voskresenskiy, que encurtaram de forma significativa a lista, argumentando que durante a primeira missão, o piloto não deveria controlar activamente qualquer instrumento no veículo espacial. Uma luta 35

Aparentemente também existiam três equipas de Illyushin Il-8 dirigidas por V. M. Pekin, M. A. Chernovskiy e G. P. Perminov. Entre os médicos que faziam parte da equipa estava B. B. Yegorov, que mais tarde se tornaria no primeiro médico a voar no espaço. O comandante do serviço de busca e salvamento era o General da Força Aérea A. I. Kutasin. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

vigorosa teve lugar por Kamanin, pelo piloto de teste Gallay e pelo médico Yazdovskiy, que argumentavam que os cosmonautas estavam extremamente bem treinados e que se poderia esperar que levassem a cabo qualquer tarefa que lhes fosse atribuída sem qualquer problema. No final, após uma longa discussão com o Académico Keldysh sobre os méritos do controlo humano de um veículo espacial, Korolev e os outros acabaram por recuar, e o longo conjunto de instruções foi formalmente aprovado. Apesar de o primeiro cosmonauta vir a ter a opção de controlar manualmente certos sistemas, todos os membros da Comissão Estatal estavam de acordo de que as actividades do piloto deveriam ser o mais conservativas possível. A única concessão feita à pesquisa científica foi a inclusão de sementes secas, drosophila, e de bactérias lisogénicas como parte da carga para estudos biomédicos. No início de Março de 1961, vários importantes chefes desenhadores e oficiais de alta patente das Forças de Mísseis Estratégicas deixaram Moscovo para a cidade de Leninsk perto de Tyura-Tam para dirigirem as operações para as duas próximas missões automáticas36. Um total de trinta a quarente dias seriam gastos durente este período no local de lançamento para testar cada sistema do terceiro veículo espacial, o veículo que iria transportar um humano, e o seu veículo lançador. Neste ponto, o primeiro Vostok 3A estava previsto para 9 de Março e o segundo para finais de Março. A pressão aumentava sobre os Soviéticos à medida que o Projecto Mercury parecia estar cada vez mais parte de um lançamento pilotado. A opção para lançar o primeiro Vostok 3A sem o benefício de um teste a grande escala no solo era uma prova evidente de que o OKB-1 não estava somente a tentar manter-se com o seu próprio calendário, mas também a tentar ultrapassar o seu principal rival a milhares de quilómetros de distância. Nos Estados Unidos, em meados de Fevereiro, o QASA Space Task Group havia recomendado seguir com uma missão suborbital pilotada na próxima tentativa de lançamento Mercury-Redstone. Numa movimentação de última hora que parece um momento chave em retrospectiva, Wernher von Braun, segundo os conselhos dos seus especialistas de foguetões, argumentou que seria necessário um voo automático adicional do Redstone antes de o certificar para um lançamento humano. A recomendação de von Braun foi aceite, adiando assim o primeiro lançamento de um astronauta de 25 de Abril para o princípio de Maio. Para Korolev, cuja competição de décadas com von Braun era somente excedida pela sua intensa vontade de ser o primeiro, esta janela provou-se propícia em finais de Abril para coincidir com as celebrações do Primeiro de Maio. O líder Soviético estava, porém, categoricamente contra o agendamento de uma grande missão espacial com um feriado nacional, sem dúvida preocupado com a possibilidade de uma falha catastrófica. Em vez disso, Khrushchev pediu a Korolev para antecipar ou adiar o lançamento. Assim, a opção era clara: o desenhador chefe agendou informalmente o primeiro lançamento Vostok 36

A cidade de Zarya perto do local de lançamento foi rebaptizada de Leninsk a 28 de Janeiro de 1958. 20


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tripulado para meados de Abril. Num volte face cauteloso, o próprio Khrushchev anunciava a 14 de Março durante uma entrevista muito divulgada no Ocidente: “Qão está longe a hora quando o primeiro veículo espacial (Soviético) com um homem a bordo irá voar no espaço.” A primeira Vostok 3A foi lançada com sucesso às 0628:59,6UTC do dia 9 de Março 1961 e entrou numa órbita de 183,5 km por 248,8 km com uma inclinação de 64,93º. O veículo foi designado Quarto Korabl-Sputnik37 na imprensa Soviética. Uma pequena esfera pressurizada no veículo espacial transportava o cão Chernushka juntamente com quarenta ratos brancos e quarenta ratos pretos, vários porquinhos da Guiné, répteis, sementes de plantas, amostras de sangue humano, células cancerígenas humanas, microrganismos, bactérias e amostras de fermentação. Ao contrário dos voos anteriores com cães, o assento ejectável estava ocupado por um manequim à escala normal (Ivan Ivanovich) completamente vestido com um fato espacial funcional SK-1 Sokol. Ratos adicionais, além de porquinhos da Guiné, micróbios e outros especímenes biológicos foram colocados no peito, estômago, coxas e outras partes do ‘corpo’ do manequim. Este grande conjunto de animais e plantas foi submetido a intensas experiências biomédicas durante o voo de uma única órbita. Um desenhador não identificado da Vostok revelou mais tarde um aspecto lateral interessante sobre a missão: O principal propósito era o de garantir a recepção de transmissões de voz (da nave). Rejeitamos uma contagem decrescente numérica, temendo que as estações de rádio Ocidentais pudessem monitorizar a voz humana e levantar o clamor em todo o mundo alegando de que um Russo havia sido secretamente colocado em órbita. Uma música também levantou objecções porque seria dito no Ocidente que o cosmonauta “Russo” havia enlouquecido e começado a cantar! Foi então decidido gravar um coro popular russo Piatnitsky, e quando o manequim, vestido por propósitos de decência com uma blusa branca, de repente começou a cantar, foi muito engraçado. Num ensaio para a exacta sequência de eventos que iriam ocorrer num voo espacial pilotado, o motor de retrotravagem TDU-1 foi accionado no tempo exacto e durante cerca de 42,5 segundos. Quase dez segundos mais tarde, o módulo de instrumentação separou-se do módulo de descida, com este a realizar uma reentrada balística na 37

O Korabl-Sputnik 4 (00091 1961-008A 1961 Teta 1) foi lançado por um foguetão 8K72K Vostok (E103-14). (Nota do Tradutor)

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atmosfera. O manequim foi ejectado com sucesso do módulo de descida após a reentrada, enquanto que a cápsula principal com o cão no interior aterrou separadamente com o auxílio de um pára-quedas. A missão tinha durado apenas uma 1 hora 46 minutos. Os dois objectos da cápsula aterraram a cerca de 260 km a Nordeste de Kuybyshev no meio de um grande campo aberto coberto de neve. Aparentemente houve algum atraso em ter os representantes do OKB-1 junto da cápsula para neutralizar o sistema de auto-destruição. A equipa de salvamento dirigida pelo Tenente General Kamanin escolheu retirar o cão da cápsula antes da chegada do especialista do OKB-1 para assim impedir que o cão congelasse até à morte.

O sucesso inequívoco do Korabl-Sputnik 4 foi uma injecção de moral no programa Vostok, que até então não tinha tido uma missão sem qualquer problema desde Agosto de 1960. A euforia em relação à missão foi, porém, um pouco ofuscada por uma tragédia que atingiu a equipa de cosmonautas da maneira mais inesperada. A 23 de Março, somente dois dias antes do lançamento do último Vostok 3A precursor, o cosmonauta Bondarenko encontrava-se no décimo dia de um exercício de quinze dias na câmara de isolamento nas instalações do Instituto de Aviação e Medicina Espacial em Moscovo. A câmara continha 50% de oxigénio a uma pressão reduzida para simular a atmosfera de um veículo espacial, e era completamente à prova de som para testar os efeitos do isolamento. Após a finalização de alguns testes médicos na conclusão do seu período de isolamento, Bondarenko removeu os sensores que estavam fixados ao seu corpo e com algodão ensopado em álcool, limpou as zonas onde os sensores estavam colocados. Sem olhar, ele atirou o algodão com álcool que acabou por cair no anel de um aquecedor eléctrico que estava ligado. O algodão começou a arder de imediato e a chama tornou-se muito intensa numa atmosfera rica em oxigénio. Ao princípio, em vez de fazer soar o alarme, Bondarenko tentou apagar o fogo por ele próprio, mas o seu fato de treino de lã começou também a arder. O médico de serviço, Mikahil A. Novikov, tentou abrir a porta da câmara mal se apercebeu do incêndio, mas esta operação demorou vários minutos durante os quais Bondarenko ficou completamente queimado. Enquanto era retirado da câmara,

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repetia constantemente, “Foi culpa minha, não se culpa mais ninguém.” O principal médico do hospital para onde Bondarenko foi transportado referiu mais tarde que “o corpo do cosmonauta estava totalmente sem pele, a cabeça de cabelo, não havia olhos na face – tudo tinha sido queimado. Era uma lesão total do pior grau.” Bondarenko acabou por falecer às 1200UTC do dia 23 de Março, oito horas após o acidente, de choque resultante das queimaduras. Foi a primeira morte de um treinando espacial na história do programa espacial. Somente com 24 anos de idade e o mais novo da equipa, ele foi enterrado no seu local de nascimento em Kharkov, onde moravam os seus pais. A sua esposa Anya e o seu filho Sasha permaneceram em Zelenyy, recebendo uma pensão especial do estado por ordem directa do Ministro da Defesa Marechal Rodion Ya. Malinovskiy38. As notícias do acidente foram completamente suprimidas no interesse da moral, especialmente considerando que a primeira missão pilotada Vostok estava então prevista para menos de três semanas. Não é claro se algum dos outros cosmonautas foi na altura ou várias semanas de pois informado acerca da tragédia. O acidente ou a existência de Bondarenko só foram revelados em 1986 como parte de uma série de artigos do jornal Izvestia celebrando o 25º aniversário do primeiro voo espacial pilotado. Os preparativos para a última missão precursora continuaram com a tragédia de Bondarenko na memória de todos. Os seis cosmonautas principais voaram para Baikonur a 17 de Março para testemunhar as operações de pré-lançamento do próximo Korabl-Sputnik, e participar em exercícios de treino de última hora. Os treinandos realizaram uma variedade de testes, incluindo uma sessão de perguntas e respostas com Korolev. Ocorreu um pequeno atraso com o lançamento devido a um problema com o aparelho de comunicações de bordo, mas verificou-se que tal problema não era importante. As operações de lançamento foram também brevemente interrompidas devido a uma avaria num sensor do terceiro estágio do foguetão lançador, e com ordens do Desenhador Chefe Kosberg, os trabalhadores rapidamente substituíram a unidade em falha. Antes do lançamento, os controladores levaram a cabo testes de comunicações entre o centro de

controlo perto da plataforma de lançamento e o veículo espacial para simular as condições de uma missão tripulada. Popovich havia sido designado para ser o principal comunicador durante o lançamento, uma posição análoga ao papel de «capcom» no programa espacial dos Estados Unidos. O veículo espacial, designado Quinto Korabl-Sputnik na imprensa Soviética, foi lançado39 com sucesso às 0554:00,431UTC do dia 25 de Março, somente dois dias após a morte de Bondarenko. O veículo de 4.695 kg transportava outro grupo de animais e amostras biológicas, incluindo o cão Zvezdochka numa missão de uma única órbita. Os parâmetros orbitais eram de 178,1 km por 247 km com uma inclinação de 64,9º, próximo do previsto para um voo pilotado. A missão decorreu sem problemas, bem como todos os procedimentos de reentrada. Tal como aconteceu em várias missões anteriores, a recuperação dos animais e do manequim foi adiada devido ao mau tempo. O módulo de descida e o assento ejectável aterraram no meio de uma forte tempestade de neve, causando dificuldades na localização exacta do ponto de descida. Na altura em que um grupo de engenheiros da Fábrica n.º 918 chegou ao local, já haviam passado 24 horas desde a aterragem. Após viajarem várias horas em trenós puxados a cavalo sobre neve com metro e meio de espessura, o grupo chegou finalmente ao aparelho de descida com o cão, e eventualmente encontraram o manequim numa floresta próxima. As pessoas que viviam na vizinhança do local estavam aparentemente muito desconfiados das equipas de recolha, suspeitando de que pudessem querer fazer algum mal ao ‘homem’ que havia aterrado por pára-quedas. Os aldeões acabaram por se retirar quando lhes mostraram provas conclusivas de que o ‘homem’ era apenas um manequim. O Vice-presidente da Academia de Ciências Aleksandr V. Topchiyev sumarizou os resultados dos cinco bem sucedidos Korabl-Sputnik numa conferência de imprensa em Moscovo a 28 de Março. Presentes não estavam somente jornalistas Soviéticos e estrangeiros, mas também Gagarin, Titov e outros cosmonautas na fila da frente. É claro que ninguém tinha algum conhecimento sobre o facto de algum deles voar no espaço dentro de dias. A aterragem em segurança do Korabl-Sputnik 5 abriu efectivamente o caminho para o primeiro veículo espacial Vostok pilotado. Para Korolev e Tikhonravov, este seria o ápex das suas longas carreiras no desenvolvimento de

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A ordem foi assinada a 15 de Maio de 1961 e incluía o seguinte: “Fornecer a família do Primeiro-tenente Bondarenko com tudo que necessitar, como benefício da família de um cosmonauta.” Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

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O Korabl-Sputnik 5 (00095 1961-009A 1961Iota 1) foi lançado por um foguetão 8K72K Vostok (E103-15). (Nota do Tradutor) 22


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foguetões, que havia iniciado trinta anos antes com os amadores do GIRD numa cave em Moscovo. Korolev convidou alguns dos veteranos originais do GIRD para as suas instalações em Kaliningrado em Março de 1961, um mês antes ao primeiro lançamento previsto de uma missão tripulada. Foi uma reunião surpresa para os convidados, pontuada por muita reminiscência, apear de não terem ideia do verdadeiro trabalho de Korolev devido à sua natureza classificada. Perto do final da conversação, Korolev, falando sobre o frutuoso trabalho levado a cabo no GIRD, adicionou que “agora chegamos muito longe!” Convidou então os presentes para uma sala de montagem ali próxima. Nikolay I. Yefremov, um dos veteranos do GIRD, recordou mais tarde esta viagem: Quando entramos na sala espaçosa e bem equipada, imediatamente vimos o nosso sonho de longa data. Segey Pavlovich (Korolev) apresentou-a, literalmente apresentou-a como se fosse uma coisa viva, o lindo foguetão. A um lado, num pedestal especial, vimos o cockpit do veículo espacial preparado para um voo tripulado. Era o veículo espacial “Vostok”. Mesmo naqueles dias hécticos em direcção ao primeiro voo Vostok, foi traçada uma ligação entre o trabalho pioneiro dos anos 30 e o programa espacial Soviético dos anos 60. Após trinta anos de postulados e hipóteses, a realidade do voo espacial humano estava a pouco dias de distância. Gagarin em Órbita Após a missão do Korabl-Sputnik 5 Korolev regressou a Moscovo na noite do dia 28 de Março. Na tarde seguinte numa reunião da Comissão Estatal presidida pelo Presidente Rudnev, Korolev apresentou os resultados do programa Vostok completo e declarou a prontidão para lançar um humano para a órbita terrestre no próximo veículo Vostok 3A40. Mais tarde à noite, os principais membros da Comissão Estatal encontraram-se uma vez mais para escrever um documento formal requerendo a autorização do Partido Comunista para lançar um humano para o espaço. Pela primeira vez, um oficial de alta patente do Comité para a Segurança do Estado (KGB), o seu Primeiro Presidente Adjunto Petr I. Ivashutin, estava presente41. O memorando, 40

O documento apresentado por Korolev tinha o título “Sobre o Estado do Trabalho Experimental”. Um segundo documento, intitulado “O Sistema de Orientação do Veículo satélite Vostok”, foi também assinado por Korolev no mesmo dia. 41 Segundo Kamanin, os presentes nesta reunião eram S. P. Korolev (Desenhador Chefe do OKB-1), G. I. Voronin (Desenhador Chefe do OKB-124), S. M. Alekseyev (Desenhador Chefe da Fábrica n.º 918), L. I. Gusev (Desenhador Chefe do NII-695). M. V. Keldysh (Vicepresidente da Academia das Ciências da URSS), P. I. Ivashutin (Primeiro Presidente Adjunto do KGB), S. I. Rudenko (Primeiro Comandante em Chefe Adjunto da Força Aérea Soviética) e N. P. Kamanin (Chefe Adjunto do Grupo Geral da Força Aérea para as Preparações de Combate) Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

endereçado ao Comité Central e classificado como ‘Absolutamente Secreto’, começava: De acordo com o decreto do Comité Central do KPSS e do Concelho de Ministros da URSS de 11 de Outubro de 1960 sobre a preparação e lançamento de uma nave espacial com um humano, todos os trabalhos necessários para garantir um voo humano no espaço cósmico foram finalizados no tempo presente… Duas naves espaciais “Vostok-3A" foram preparadas para este propósito. A primeira nave está no local (de lançamento), e a segunda está a ser preparada para o lançamento. Seis cosmonautas estão preparados para o voo. A nave satélite com um humano a bordo será lançada para uma órbita da Terra e irá aterrar no território da União Soviética numa linha que vai desde Rostov – Kuybyshev – Pern. Uma secção do documento detalhava os procedimentos de emergência em caso de eventos não previstos: Para a órbita escolhida para a nave satélite, na eventualidade de avaria dos sistemas da nave para a aterragem na Terra, a nave pode descer devido à travagem natural da atmosfera após um período de 2 – 7 dias, com uma descida entre as latitudes de 65º Qorte e Sul. Qa eventualidade de uma aterragem forçada em território estrangeiro ou do resgate do cosmonauta por uma embarcação estrangeira, o cosmonauta tem instruções apropriadas. Adicionalmente a um abastecimento de emergência de dez dias de alimentos e água, a cabina do cosmonauta está equipada com um abastecimento de emergência de alimentos e água que irá durar 3 dias, e também com meios de rádio comunicações e com o transmissor ‘Peleng’ cujos sinais podem ser utilizados para determinar o local de aterragem do cosmonauta. A nave satélite não está equipada com um sistema para a destruição de emergência do Aparelho de Descida. O assunto da instalação de um sistema de auto-destruição no veículo espacial foi discutido longamente durante o encontro. Todos os presentes, com a única excepção do representante do KGB Ivashutin, opuseram-se fortemente à inclusão de tal sistema num veículo pilotado. Ivashutin só desistiu quando todos os outros membros recusaram-se a concordar com a sua ideia. A Comissão Estatal também teve o cuidado de detalhar cuidadosamente a maneira de publicitar a missão nos media Soviéticos. Não houve a tentativa por parte dos membros em esconder ou mentir acerca de uma falha potencial, apesar do quase paranóico secretismo do programa espacial. Todas as tentativas foram feitas para dar precedência à segurança do cosmonauta sobre outras considerações políticas, tais como ter de admitir uma falha: Consideramos que é aconselhável publicar o primeiro relatório da TASS imediatamente após a inserção orbital pelas seguintes razões:

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a.

Se se torna necessário um salvamento, irá facilitar a sua rápida organização;

b.

Impossibilita qualquer governo estrangeiro de declarar que o cosmonauta é um espião com objectivos militares.

Se a nave satélite não entrar em órbita devido a velocidade insuficiente, pode descer no oceano. Qeste caso, também consideramos aconselhável publicitar o relatório da TASS para assim facilitar o salvamento do cosmonauta. Tinha havido discussões durante algum tempo sobre que designação das ao veículo espacial na imprensa. Um lado propôs reter o nome Korabl-Sputnik para a missão, meramente listando-a como a seguinte na série – isto é, o Sexto Korabl-Sputnik. Foi Tikhonravov que apaixonadamente argumentou que tal monumental missão não deveria ser referida por tal genérica designação. Em vez disso, ele propôs a divulgação do nome ultra secreto “Vostok” no relatório TASS. Korolev concordou e a Comissão Estatal ratificou a sua posição. O memorando da Comissão Estatal para o lançamento terminava com o seguinte: “Pedimos a permissão para lançar a primeira nave satélite Soviética com um humano a bordo e a aprovação para a preparação dos comunicados da TASS.” O voo foram agendado para entre 10 e 20 de Abril de 1961. O Documento foi assinado pelo Presidente da Comissão Militar Industrial Ustinov, pelo Presidente da Comissão Estatal Rudnev, pelos ‘ministros’ da industria de defesa Kalmykov, Dementyev e Butoma, pelo Académico Keldysh, pelo Comandante das Forças Estratégicas de Mísseis Moskalenko, pelo Comandante da Força Aérea Vershinin, pelo representante da Força Aérea Kamanin, pelo representante do KGB Ivashutin e pelo Desenhador Chefe Korolev42.

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De notar que K. N. Rudnev era também o Presidente do Comité Estatal para as Tecnologias de Defesa, o ‘ministro’ que supervisionava os programas espaciais e de mísseis. V. D. Kalmykov era o Presidente do Comité Estatal para a Rádio Electrónica, P. V. Dementyev era o Presidente do Comité Estatal para as Tecnologias de Aviação, e B. Ye. Butoma era o Presidente do Comité Estatal para a Construção de Veículos. É aparente da lista que algumas alterações importantes tinham sido feitas desde o decreto original sobre a Vostok em Outubro de 1960. O Marechal Moskalenko havia tomado o cargo do falecido Marechal Nedelin como Comandante em Chefe das Forças Estratégicas de Mísseis, mantendo assim uma representação de alto nível do velho lobby militar. A Força Aérea tinha ganho em força com dois membros na comissão. O Comandante em Chefe Adjunto da Força Aérea Marechal Rudenko foi substituído em favor do Comandante em Chefe Marechal Vershinin e do Tenente General Kamanin. Rudenko estava, porém, estreitamente envolvido nos preparativos para o voo, mas a importância da missão talvez necessitasse da inclusão de Vershinin. A ‘promoção’ de Kamanin é notável em retrospectiva porque indica o seu rápido aumento de influência. Por óbvias razões de Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

O memorando foi oficialmente endereçado ao Comité Central do Partido Comunista, que em papel era composto por um grande grupo de indivíduos. Na prática, porém, e em especial no caso de um projecto de tão alta prioridade, somente dois indivíduos estiveram envolvidos na autorização final: Nikita S. Khrushchev e Frol R. Kozlov. O último havia herdado a posição de topo mo Partido Comunista para os sectores do espaço, mísseis e da defesa no Secretaria do em Julho de 196043. A partir daí, como membro do ‘gabinete’ do Partido responsável por importantes decisões políticas no programa espacial, Kozlov só tinha uma pessoa que podia anular a sua palavra. Como novo Secretário do Comité Central para a defesa e espaço, ele ajudaria a definir e reforçar uma posição que havia sido tratada de forma desigual pelo seu predecessor Leonid Brezhnev, que após a promoção de Kozlov se viu num posto largamente cerimonial. A 3 de Abril, três dias após a recepção do memorando da Comissão Estatal, o seguinte ‘Estritamente Secreto’ decreto intitulado “Acerca do Lançamento da Qave Espacial Satélite” foi emitido pelo Presidium (mais tarde Politburo) do Comité Central: 1. A proposta de Ustinov, Rudnev, kalmykov, Dementyev, Butoma, Moskalenko, Vershinin, Keldysh, Ivashutin, e Korolev acerca do lançamento da nave satélite “Vostok 3ª" com um cosmonauta a bordo. 2. os planos para o comunicado da TASS para anunciar o lançamento da nave espacial com um cosmonauta a bordo de um satélite da Terra é aprovado, e garante à Comissão para o Lançamento o direito, se necessário, de introduzir actualizações acerca dos resultados do lançamento e à Comissão do Presidum do segurança, o representante do KGB Ivanishin foi incluído na comissão, e isto sublinha a importância com a qual o Partido Comunista via o projecto. As notáveis omissões do grupo central de Outubro de 1960 eram o Ministro Soviético da Defesa Malinovskiy, o antigo Presidente da Comissão Estatal para o Sputnik Presidente Ryabikov, e o resto do Conselho de Desenhadores Chefe. Malinovskiy provavelmente abandonou o seu papel para Moskalenko e Vershinin. A omissão de Ryabikov é algo confusa porque esteve envolvido no programa espacial e de mísseis desde 1946, ascendendo à elevada posição de topo de presidente do denominado Comité Especial em 1955, e assim supervisionando o seu antigo dirigente Ustinov. Com as alianças na indústria de defesa a serem constantemente alteradas, parece que o caminho de Ryabikov para o poder chegara a uma estagnação em 1960. Na altura da primeira missão Vostok, ele era o presidente do Conselho de Economia Nacional da República Socialista Soviética da Federação Russa, certamente uma ‘despromoção’ dos seus anteriores papéis na indústria de defesa. 43 De notar que a nomeação de Kozlov para o Secretaria do foi anunciada a 5 de Maio de 1960, apesar do seu predecessor Brezhnev não ter sido formalmente liberado do cargo até Julho de 1960. 24


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Concelho de Ministros da URSS para os Assuntos Militares Industriais, o direito de o publicitar44. O actual comunicado da TASS foi autorizado pelo NII-4 militar sobre a supervisão do Director Adjunto do instituto Coronel Yuri A. Mozzhorin. A preparação do relatório noticioso foi um processo estranhamento surreal, tal como recordou Mozzhorin anos mais tarde: Para não se perder tempo a escrever e transmitir os textos necessários para os comunicados na rádio e televisão, esses comunicados foram preparados no nosso instituto, com o acordo de S. P. Korolev e da liderança, e enviados de ante mão para as rádios, televisões e para a TASS em envelopes selados. Qo caso (do cosmonauta) entrar com sucesso em órbita, eles receberiam um sinal autorizando-os a abrir e a anotar os parâmetros orbitais (que seriam comunicados) por telefone, e a informação seria então tornada pública internacionalmente. Existiam também mais dois pacotes de material juntamente com o envelope (referido em cima) … com … comunicados para resultados imprevistos. (O primeiro era) breve – na eventualidade da morte do cosmonauta durante a inserção orbital ou durante o lançamento. O segundo seria utilizado no caso de não ter atingido a órbita, mas tendo aterrado em algum território estrangeiro ou nas regiões equatoriais dos oceanos mundiais. Este continha um apelo a todos os governos, em particular ao governo do território no qual o cosmonauta havia aterrado, requerendo a assistência necessária para a (sua) busca e regresso. A aprovação oficial do Partido Comunista para o lançamento pode ter sido de facto o último passo para ter um humano no espaço, mas os problemas técnicos com o veículo espacial Vostok continuaram a ameaçar a possibilidade de um lançamento na hora prevista. A 24 de Março, o OKB-124, responsável pelo sisyema de suporte de vida, anunciou num encontro da Comissão estatal que existiam sérias limitações nas unidades de secagem do ar condicionado do veículo espacial Vostok 3A. Testes de longa duração levados a cabo no Instituto de Aviação e Medicina Espacial haviam provado que lignina impregnada no sistema havia começado a verter após absorver uma certa quantidade de humidade, resultando na formação de grandes quantidades de salmoura no interior do veículo espacial. Numa segunda reunião a 28 de Março, o Desenhador Chefe do OKB-124 Voronin defendeu de forma veemente o seu sistema, afirmando que o cloreto de lítio seria inofensivo para o cosmonauta. Uma proposta 44

Note-se a curiosa omissão do nome de Kamanin no decreto do Partido Comunista, apesar de ele ser um signatário do pedido original. A Comissão do Presidum do Concelho de Ministros da URSS para os Assuntos Militares Industriais era mais usualmente conhecida como a Comissão Militar Industrial (VPK).

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competidora pelo médico do instituto Abram M. Genin para utilizar um novo sistema de secagem no veículo foi tema de muito debate. O problema com o sistema de suporte de vida permaneceu sem resolução quando Korolev voou para Baikonur desde Moscovo ao final do dia 3 de Abril. Os seis cosmonautas principais chegaram na tarde do dia 5 de Abril como parte de um grupo de três aviões Iliyushin Il-14 fretados, seguidos pelo Presidente da Comissão Estatal Rudnev no dia seguinte. Deixando para trás as suas esposas em Moscovo, os cosmonautas foram instruídos para dizer às suas esposas de que o lançamento estava previsto para 14 de Abril, três dias mais tarde do que actualmente pretendido – para reduzir a preocupação. A primeira reunião da totalidade da Comissão estatal em Baikonur teve lugar imediatamente após a chegada de Rudnev, às 0830UTC, com o principal tema de discussão a ser o sistema de suporte de vida e os resultados dos testes adicionais do fato espacial e do sistema de ejecção. O Desenhador Chefe Voronin relatou, de certa forma pouco convincente, que a suspeitosa unidade de secagem estava completamente pronta para uma missão de contingência de dez dias. Devido ao facto de uma missão nominal ter uma duração de somente uma hora e meia, as preocupações foram de certa forma aliviadas; simplesmente não haveria tempo suficiente para a formação de salmoura no interior do veículo espacial. A comissão também aprovou a proposta do treinador dos cosmonautas Mark L. Gallay para que os candidatos levassem a cabo sessões de treino no actual veículo espacial que um deles iria pilotar em vez de um veículo suplente. Estes testes foram realizados a 7 de Abril sem qualquer incidente por Gagarin e Titov, então os principais candidatos para o voo. Nelyubov, o terceiro candidato, estava considerado fora da corrida. A Comissão estatal conclusivamente abordou a questão de quem iria voar a primeira missão numa reunião a 8 de Abril. O Tenente General Kamanin, como supervisor da equipa de cosmonautas, teve um papel importante na selecção de Gagarin. Tanto Gagarin como Titov haviam desempenhado sem qualquer falha durante os treinos, com Gagarin a ter uma ligeira vantagem sobre Titov nos exames de Janeiro de 1961. Apear de Gagarin ser um favorito marginal, Kamanin começou a inclinar-se para Titov nos dias finais antes do lançamento. A 5 de Abril, ele escreveu no seu diário: Ambos são excelentes candidatos, mas nos últimos dias eu ouço mais e mais pessoas a falar em favor de Titov e a minha confiança pessoal nele está também a crescer … A única coisa que me impede de escolher (Titov) é a necessidade de ter uma pessoa forte para a (segunda) missão de um dia. Enquanto Kamanin possa ele mesmo ter sido uma peça importante na selecção, existiu muita especulação no Ocidente de que a escolha final fora de facto feita por ‘ordens superiores’ como seria de esperar numa sociedade altamente centralizada tal como a União Soviética. Dias antes do lançamento, foram evidentemente enviadas fotografias e biografias de Gagarin e de Titov para o

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Departamento do Defesa do Comité Central, o gestor do programa espacial. Cada candidato tinha duas fotos, uma em roupas civis e uma em uniforme militar. Aqui, um variado número de apparatchiks consultou os seus registos e relatou a Ivan D. Serbin, o temido dirigente do Departamento de Defesa. Serbin mostrou então as fotografias a Kozlov, que por sua vez as mostrou a Khrushchev. Após ver as fotografias, o líder Soviético terá dito: “Ambos são excelentes! Eles que decidam por eles próprios!” Um notável historiador aeroespacial Russo, Yaroslav K. Golovanov, sugeriu que a única razão para um procedimento tão complicado foi o facto de simplesmente permitir aos apparatchiks do Partido serem capazes de dizer que a decisão foi tomada “ao mais alto nível”. No final, na reunião da Comissão Estatal de 8 de Abril, Kamanin levantou-se e formalmente nomeou Gagarin como o piloto principal e Titov o seu suplente. Sem muita discussão, a comissão aprovou a proposta e avançou para outros assuntos logísticos de última hora. Era assumido que na eventualidade de Gagarin desenvolver problemas de saúde antes do lançamento, Titov tomaria o seu lugar, com Nelyubov a servir como seu suplente. A data de lançamento foi limitada na reunião entre 11 ou 12 de Abril. Os parâmetros orbitais seriam de 180 km por 230 km, e a missão duraria uma única órbita. Deu-se alguma discussão sobre a ideia de registar a missão como um recorde mundial absoluto. No interesse da manutenção do sempre patente secretismo, alguns membros da comissão, em particular Moskalenko e Keldysh, opuseram-se ao envolvimento de comissionários desportivos. No final, a comissão decidiu não divulgar o local de lançamento nem o tipo de veículo lançador, mas preencher os documentos junto das organizações internacionais para estabelecer um recorde mundial. Apesar da missão ser completamente automática, os membros da comissão propuseram dar num envelope ao cosmonauta os códigos para desbloquear o sistema de orientação manual para a reentrada. Em caso de avaria do sistema automático, o cosmonauta iria abrir o envelope selado e activar o sistema manual. A reunião terminou com a decisão de levar a cabo uma última sessão, mais uma formalidade, dois dias mais tarde. No dia seguinte, Kamanin convidou Gagarin e Titov para um encontro privado no seu escritório e anunciou então que Gagarin iria voar e que Titov iria servir como seu suplente. Quando questionado anos mais tarde como se sentiu, Titov respondeu, “Porquê perguntar? Doloroso ou não – era no mínimo desconfortável.” Os dois homens relaxaram o resto do dia à medida que os procedimentos pré-lançamento para o foguetão 8K72K continuavam no Edifício de Montagem e Teste. Notavelmente, Korolev e os seus principais adjuntos Mishin e Chertok estavam ao mesmo tempo envolvidos no

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primeiro lançamento crítico do novo ICBM R-9 a partir do complexo 51. Era um programa de extrema alta prioridade não só para o OKB-1 mas para a União Soviética como um todo, e pode-se imaginar a intensidade das operações no cosmódromo durante a segunda semana de Abril de 1961. O primeiro lançamento do R-9 teve lugar a 9 de Abril45, somente três dias antes do lançamento de Gagarin do complexo 1. No dia seguinte às 0800UTC, teve lugar uma grade reunião da Comissão Estatal num local com vista para as margens do majestoso Rio Syr Darya. Esta sessão foi simplesmente uma formalidade, primariamente para a imprensa Soviética, mas foi aberta a muitos trabalhadores curiosos que ainda não tinha tido a oportunidade de ver os cosmonautas. Presentes estavam setenta pessoas, incluindo os desenhadores chefe (tais como Korolev, Glushko, Pilyugin, Barmin, Ryazanskiy, Kuznetsov, Isayev, Kosberg, Alekseyev, Voronin, Bykov e Bogomolov), ministros, oficiais da Força Aérea, oficiais das Forças Estratégicas de Mísseis, e representantes do Partido Comunista e da Academia de Ciências, bem como os seis cosmonautas principais. O Desenhador Chefe Korolev, o Presidente da Comissão Rudnev, o Comandante das Forças Estratégicas de Mísseis Moskalenko, e o Director do Centro de treino de Cosmonautas Karpov, todos fizeram curtas mas dramáticas apresentações sobre a iminente missão, seguidos de discursos de agradecimento por Gagarin, Titov e Nelyubov. No final, Kamanin evidenciou Gagarin que se tornaria no primeiro humano a ir ao espaço. O jovem cosmonauta proferiu um discurso de aceitação, que foi interrompido a meio quando um operador de cinema fez saber que o seu filme tinha inadvertidamente terminado. Gagarin repetiu todo o seu discurso para que pudesse ser gravado de novo. Na madrugada, o foguetão 8K72K foi transportado para a plataforma de lançamento no complexo 1. O lançamento foi marcado para a manhã do dia 12 de Abril de 1961. Os engenheiros haviam calculado a hora exacta do lançamento, 0607UTC, dado que permitiria a melhor iluminação solar para os sensores do sistema de orientação algures sobre África mesmo antes da retrotravagem.

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O lançamento do míssil 8K75 (E103-08) teve lugar às 0916UTC a partir do Complexo 51/5. 26


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No dia anterior ao lançamento, os engenheiros do OKB-1 Raushenbakh e Feoktistov instruíram Gagarin e Titov durante uma hora sobre vários eventos da missão, Raushenbakh recordou mais tarde que ele ainda tinha dificuldade em se aperceber da magnitude do que estava para acontecer: Eu olhei (para Gagarin) e na minha mente eu compreendi que amanhã este rapaz iria acordar o mundo inteiro. Mas ao mesmo tempo eu não conseguia acreditar que amanhã alguma coisa iria acontecer que o mundo nunca havia visto – que este Primeiro-tenente sentando à minha frente iria amanhã tornar-se o símbolo de uma nova época. Eu comecei por dar-lhe instruções, tais como, “Liga isto, não te esqueças de ligar isto,” – todas estas observações normais e até mundanas, e então eu fiquei silencioso e algum tipo de impulso interno começou-me a sussurrar, “Isto é um monte de tretas. Tu sabes bem que nada disto vai acontecer amanha.” Sendo o centro de tudo, os cosmonautas estavam talvez menos conscientes da sua centralidade neste vértex de eventos. Testemunhas lembram-se de Gagarin a sorrir todo o dia, feliz por ter sido o escolhido para a missão. Os cosmonautas também visitaram a plataforma de lançamento para conhecer os jovens soldados, oficiais e sargentos que haviam trabalhado no foguetão nos últimos dias. Foi uma pragmática movimentação de gestão – uma que não só elevou a moral entre os trabalhadores de baixa patente, mas também teve um papel em instilar um sentido de responsabilidade, tanto entre os cosmonautas como nas equipas de trabalho. A Gagarin e Titov foram atribuídas pequenas casas perto da área da plataforma. Essa noite tomaram uma ligeira refeição com, o Tenente General

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Kamanin e estavam a deitar-se pelas 1830UTC quando Korolev calmamente os visitou para verificar o estado dos dois homens. Os médicos fixaram sensores em ambos os cosmonautas para monitorizar os seus sistemas vitais durante a noite. Adicionalmente, e desconhecido para ambos, calibradores de tensão haviam sido fixados às suas camas para verificar se ambos haviam tido uma noite calma ou se haviam revoltado e mexido muito nas camas46. Ambos os homens acabaram por ter um sono notavelmente pacífico. Korolev não dormiu de todo nessa noite. Entre as suas maiores preocupações, talvez a que mais o incomodava era a perspectiva de uma falha no terceiro estágio do foguetão durante a ascensão para a órbita, depositando o veículo espacial Vostok no oceano perto do Cabo Horn na ponta da América do Sul, um local infame devido às constantes tempestades. O Desenhador Chefe exigiu que houvesse um sistema de transmissão de telemetria no centro de controlo em Baikonur para confirmar que o terceiro estágio havia funcionado como planeado. Se o motor funcionasse de forma nominal, a telemetria iria imprimir uma série de ‘cincos’; caso contrário, seria imprimida uma série de ‘dois’. Apesar de todas as precauções, todos os testes, e todos os preparativos, Korolev ainda tinha as suas dúvidas. Um oficial militar recorda que “Por alguma razão, era somente o Cabo Horn que não dava a Korolev um momento de descanso.” As operações de pré-lançamento no complexo 1 iniciaramse às 0000UTC do dia 12 de Abril, mesmo antes do amanhecer, quando os controladores começaram a tomar os seus lugares nas estações de controlo não só em Baikonur, mas em toda a União Soviética. Uma muito curta reunião da Comissão Estatal para verificar que tudo estava pronto teve lugar às 0300UTC e terminou com a conclusão de “tudo preparado”, após a qual os membros dispersaram-se para as suas várias funções. Gagarin e Titov haviam sido acordados meia hora antes pelo Director do Centro de Treino de Cosmonautas Karpov que os presenteou com um ramo de flores silvestres, um presente de uma mulher que previamente havia habitado naquela casa. Após um 46

Os médicos principais responsáveis por Gagarin e Titov na altura eram I. T. Akulinichev e A. R. Kotovskaya. Os calibradores de tensão foram desenhados pelos engenheiros I. S. Shadrintsev e F. D. Gorbov.

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curto pequeno-almoço com comida de um tubo (pasta de carne, marmelada e café), um grupo de médicos liderados por Yazdovskiy, quase dez anos após ter dirigido o primeiro voo histórico de cães dos desertos de Kapustin Yar, examinou os cosmonautas. Dois assistentes ajudaram Gagarin e Titov a vestirem os seus volumosos fatos espaciais Sokol – primeiro, um fato pressurizado azul, seguido de uma cobertura cor de laranja. Titov foi o primeiro a vestir-se para assim impedir que Gagarin sobreaquecesse dado que os fatos dependiam de uma fonte de energia externa para os seus ventiladores, que somente se encontravam no autocarro de transporte. Uma hora após despertarem, ambos os cosmonautas estavam no autocarro, acompanhados por outros onze indivíduos, incluindo os cosmonautas Nelyubov e Nikolayev e dois operadores de vídeo que gravaram toda a viagem47.

A viagem foi curta, e aparentemente ocorreram conversações alegres entre Gagarin e os outros. Numerosas 47

Para além de Nelyubov e Nikolayev, estavam no autocarro o Director do TsPK Ye. A. Karpov, o Desenhador Chefe da Fábrica n.º 918 S. M. Alekseyev, F. A. Vostokov, V. I. Svershchek, G. S. Petrushin, Yu. D. Kilosanidez (todos da Fábrica n.º 918), o médico L. G. Golovkin e os cameraman V. A. Suvorov e A. M. Filippov.

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fotografias dessa curta viagem mostram por vezes um Gagarin pensativo, convenientemente pouco afectado por ser o centro de tal empreendimento. Ao chegar à plataforma, Gagarin e Titov foram saudados por Korolev, Keldysh, Kamanin, Moskalenko, pelo Presidente da Comissão Estatal Rudnev, e por outros oficiais. Korolev parecia fatigado e cansado enquanto calmamente observava Gagarin nas suas despedidas finais. Á medida que os observadores rondavam Gagarin, este virou-se para Rudnev e anunciou brevemente que estava pronto para a missão. Um dos mais duradouros mitos do voo era o de que antes de tomar o elevador até ao topo do foguetão, Gagarin teria feito um discurso de despedida. Os jornalistas da era Soviética durante anos superaram-se a si mesmos ao juntar e a embelezar referências de tal discurso de Gagarin com floreados melodramáticos tais como “Eu fui tomado por uma total elevação das minhas forças espirituais, como todo o meu ser eu escutei a música da natureza…” até este dia, os documentários usualmente exibidos mostram Gagarin a falar para a multidão reunida na base do foguetão, mas este discurso foi de facto gravado muito mais cedo, em Moscovo, quando Gagarin foi essencialmente forçado a dizer uma torrente de banalidades preparadas por anónimos escritores de discursos. Foram também gravados discursos similares por Titov e Nelyubov48. Após os últimos abraços com Rudnev, Moskalenko e Korolev, Gagarin foi escoltado para o elevador de serviço onde parou e saudou excitadamente uma última vez antes da ascensão de dois minuto até ao topo. Titov foi deixado para trás, separando assim os futuros destes dois homens – um para a História outro para a Posteridade.

48 O discurso já preparado incluía o seguinte: “Caros amigos, que estais junto de mim, e a vocês que não conheço, caros Russos, e às pessoas de todos os países e de todos os continentes: Em poucos minutos um poderoso veículo espacial irá me transportar para os distantes domínios do espaço. O que vos posso dizer neste minutos finais antes do lançamento? Toda a minha vida parece-me como um lindo momento. Tudo o que anteriormente vivi e fiz, foi vivido e sentido para este momento.”

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O principal desenhador da Vostok, Oleg G. Ivanovskiy, ajudou Gagarin a entrar no veículo espacial, que activou o sistema de comunicações por rádio às 0410UTC. Nas duas horas seguintes, ele conversou efusivamente com Korolev e com o cosmonauta Popovich, ‘capcom’ da missão. Kamanin, o Desenhador Chefe Bykov e o Presidente da Comissão Rudnev, também desejaram ao cosmonauta uma boa viagem. O principal bunker de comando, composto por várias salas, estava perto da plataforma de lançamento. No dia do lançamento, foi colocada na sala principal uma pequena mesa com uma manta verde especialmente para Korolev. Aqui estava um rádio transmissor receptor e um único telefone vermelho para fornecer a palavra passe que catapultaria o cosmonauta em caso de emergência durante os primeiros quarenta segundos do lançamento. Somente três pessoas conheciam a palavra passe: Korolev, o seu Adjunto Leonid A. Voskresenskiy e o Coronel Anatoliy S. Kirillov, um oficial das Forças Estratégicas de Mísseis que havia sido recentemente nomeado para dirigir o Primeiro Directorado em Baikonur – isto é, a divisão responsável pelas operações de voo. O seu predecessor havia sido morto no recente desastre com o R-16. Para Voskresenskiy, era a culminação de uma longa carreira como adjunto de Korolev para os testes de voo. As suas façanhas nos testes dos mísseis alemães A-4 em Kapustin Yar nos anos 40 haviamse tornado parte de uma lenda. Para além de Korolev, Voskresenskiy e Kirillov, os três homens primariamente responsáveis pela direcção do lançamento, outros presentes na sala principal incluíam Mark L. Gallay, o reconhecido pilote de teste Soviético que havia assistido o treino dos cosmonautas. Korolev aparentemente havia permitido a sua presença para testemunhar o lançamento não pelas suas capacidades como piloto, mas porque Gallay era um escritor famoso – um que podia escrever a crónica dos eventos para aqueles que não tinham tido a sorte de estarem presentes. A maior parte dos membros da Comissão Estatal, bem como engenheiros seniores tais como Glushko e Feoktistov, estavam alojados numa segunda sala denominada a ‘sala de convidados’ do bunker. Numa terceira sala, o Desenhador Chefe Ryazanskiy actuava como dirigente dos sistemas de telemetria49. O nome código de Gagarin era ‘Kedr’ (‘Cedro’), enquanto que o nome código do solo era ‘Zaria-1’ (‘Amanhecer-1’), provavelmente assim escolhido devido à mesma designação do sistema primário de comunicações por voz na Vostok.

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Outros na sala principal incluíam o engenheiro do OKB-1 B. A. Dorofeyev, o oficial da Força Aérea N. P. Kamanin, o Desenhador Chefe do NII-85 N. A. Pilyugin, o cosmonauta ‘capcom’ P. R. Popovich e o Desenhador Chefe Adjunto V. P. Finogenov. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Às 0450UTC a escotilha foi fechada, mas dos contactos indicava que não havia sido pressionado como deveria. Três engenheiros no topo do foguetão removeram todos os trinta parafusos na escotilha e fecharam-na uma segunda vez, com todos os indicadores a darem sinais positivos. Esta acção demorou quase uma hora, e os técnicos finalmente deixaram a vizinhança do veículo cerca de trinta minuto antes do lançamento. Um excerto das comunicações entre Kedr e Zarya-1 mostra que apesar dos riscos envolvidos, havia tentativas para aliviar alguma tensão: 0514UTC Popovich: Yuri, não estás enfadado aí, pois não? Gagarin: Se houvesse música, aguentava-se melhor. Popovich: Um minuto. 0515UTC Korolev: Estação Zarya, aqui Zarya-1. Cumpram o pedido de Kedr. Dêem-lhe alguma música, dêem-lhe alguma música Popovich: Ouviste isso? Zarya responde: Vamos tentar cumprir o teu pedido. Tenhamos alguma música ou ele fica enfadado. 0517UTC Popovich: Bem, que tal está? Já há música? Gagarin: Qada de música ainda, mas espero que haja rápido.

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Korolev: Bem, eles deram-te música, certo? Gagarin: Ainda não. 0519UTC Korolev: Claro, é a maneira de ser dos músicos; agora estão aqui, agora estão ali, mas não fazem, nada muito depressa, como diz o ditado, Yuri Alekseyevich. Gagarin: Deram-me canções de amor. A T (lançamento) menos quinze minutos, Gagarin calçou as suas luvas e dez minutos mais tarde fechou o seu capacete. A torre foi afastada da plataforma ao mesmo tempo. Nesta altura, a tensão subia claramente, e Korolev e Voskresenskiy tomaram ambos calmantes para relaxar os seus corações. O registo do foguetão 8K72K não era algo que instilasse confiança. Até aquela altura tinham ocorrido dezasseis lançamentos do R-7 com a combinação do estágio superior Blok Ye, tal como a que iria enviar Gagarin para a órbita. Destes dezasseis lançamentos, seis haviam falhado devido a problemas no R-7, enquanto que dois haviam falhado devido ao Blok Ye, isto é um rácio de sucesso de exactamente 50%. No caso dos sete veículos Vostok que voaram, dois veículos não haviam atingido a órbita terrestre devido a problemas no foguetão, enquanto que outros dois não haviam completado as suas missões. Para um empreendimento que na teoria requeria uma garantia de 100% de sucesso, se o registo anterior era alguma indicação, o potencial para um acidente era significativo na missão de Gagarin.

0609UTC Korolev: T mais 100. Como te sentes? Gagarin: Eu sinto-me bem. Como te sentes?

Enquanto que Korolev e Voskresenskiy necessitavam de calmantes, Gagarin, afastado de certa forma do rebuliço de actividade, estava calmo como nunca: 0541UTC Kamanin: Estás-me a ouvir bem? Gagarin: Eu ouço-te bem. Como me ouves? Kamanin: A tua pulsação é de 64, respiração 24. Tudo corre normalmente. A pulsação de Gagarin chegaria a umas excitadas 157 batidas por minutos segundos antes do lançamento, apesar do seu tom permanecer completamente calmo. Finalmente, exactamente às 0606:59,7UTC do dia 12 de Abril de 1961, o veículo espacial Vostok era lançado50 com o seu passageiro de 27 anos de idade, o Tenente Sénior Yuri Alekseyevich Gagarin. A sua primeira exuberante expressão foi “Poyekhali!” (“Aqui vamos!”). Korolev, Voskresenskiy e Kirillov tinham os códigos para abortar a missão caso o foguetão 8K72K não conseguisse uma performance nominal, mas a trajectória de lançamento era a prevista. Nos primeiros minutos após o lançamento, Gagarin referiu que sentia a carga gravítica da aceleração no seu corpo, mas não deu qualquer indicação de alguma falta de conforto. De facto, mantinha o bom humor:

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A Vostok-1 (00103 1961-012A 1961 Mu 1) foi lançada pelo foguetão 8K72K Vostok (E103-16). (Nota do Tradutor) Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

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A T+119 segundos, os quatro propulsores laterais na base do R-7 separaram-se, permitindo ao estágio central continuar a sua queima. A carenagem de protecção separouse do veículo espacial Vostok exactamente cinquenta segundos mais tarde como planeado. A cerca de cinco g, Gagarin relatou alguma dificuldade em falar, referindo que todos os músculos na sua face estavam esticados e tensos. A carga gravítica aumentou lentamente até que o estágio central do foguetão cessou a sua operação e se separou a T+300 segundos. Após a separação do estágio já gasto e dos propulsores laterais, o motor RD-0109 do estágio superior entrou em ignição para acelerar a nave para a velocidade orbital. Korolev estava literalmente a tremer ao longo de todo este processo, tendo-se obcecado com a possibilidade de descer no oceano a Sul do Cabo Horn em caso de falha do estágio superior. A telemetria começou a emitir uma série de ‘cincos’, indicando que tudo estavam bem. Então, de repente, os números mudaram para uma série de ‘três’. Ocorreram uns breves segundos de terror – um ‘dois’ era uma avaria, mas o que era um ‘três’? Após uns segundos agonizantes, os números reverteram para os ‘cinco’. O engenheiro Feoktistov recorda que “estas interrupções, de alguns segundos, encurtam as vidas dos desenhadores.” Durante a fase propulsionada do voo, o pulso de Gagarin atingiu um máximo de 150 batidas por minuto. Apesar de Popovich ser oficialmente o ‘capcom’ para a missão, a excitação de Korolev absorveu-o por completo e tomou as comunicações pessoalmente durante uma boa parte da ascensão orbital, constantemente perguntando a Gagarin acerca do seu bem-estar: 0610UTC Korolev: A carenagem foi separada, tudo está normal. Como te sentes? Gagarin: … Separação da carenagem… Eu vejo a Terra. A carga g está a aumentar um pouco. Eu sinto-me excelente, bem disposto. Korolev: Bom rapaz! Excelente! Tudo está a correr bem. Gagarin: Eu vejo as nuvens. O local de aterragem… É lindo. Que beleza! Como me escutas? Korolev: Ouvimos-te bem, continua o voo. A inserção orbital ocorreu finalmente a T+676 segundos logo após o final da queima do motor RD-0109 do terceiro estágio. Pela primeira vez na história, um ser humano havia escapado às garras gravíticas da Terra e entrado no espaço exterior. Os parâmetros orbitais iniciais para o veículo espacial Vostok eram 175 km por 302 km com uma inclinação de 65,07º em relação ao equador. A órbita era muito mais elevada do que a que havia sido planeada para o voo; o apogeu era cerca de 70 km mais elevado, indicando uma performance imperfeita do foguetão lançador. Quando os parâmetros foram relatados a Baikonur a partir do centro de controlo de voo no NII-4 em Moscovo, sem dúvida que se criou uma pequena ansiedade devido ao facto de que a órbita mais elevada poderia resultar numa missão mais longa caso ocorresse um problema na retrotravagem.

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Imediatamente após entrar em órbita, Gagarin relatou que se sentia excelente e descreveu vividamente as imagens no exterior da sua escotilha. No seu relatório secreto após o voo, ele recordou as suas sensações de ser o primeiro ser humano a experimentar a microgravidade prolongada:

Comi e bebi normalmente. Podia comer e beber. Qão notei qualquer dificuldade fisiológica. A sensação de ausência de peso era de certa forma pouco familiar comparado com as condições na Terra. Aqui, sentes como se estivesses suspenso por cintas numa posição horizontal. Sentes como se estivesses em suspensão. Obviamente, o sistema de suspensão à medida pressiona o tórax… Mais tarde habituei-me e não tinha sensações desagradáveis. Escrevi algumas notas no meu livro de registo, relatei, trabalhei com o teclado de telégrafo. Quanto comia, também bebia água. Deixei a placa de escrita sair das minhas mãos e ela flutuou juntamente com a caneta à minha frente. Então, quando tive de escrever o relatório seguinte, peguei na placa, mas a caneta não estava onde a havia deixado. Havia flutuado para algum sítio. Fechei o meu livro de registo e arrumei-o no meu bolso. Já não tinha qualquer utilidade, porque não tinha nada com que escrever. Uma vez os parâmetros orbitais precisamente determinados, os controladores no NII-4 enviaram os números para as agências de notícias em Moscovo, instruindo os jornalistas a abrir os envelopes secretos. Devido a uma grosseira ineficiência, a agência de notícias Soviética TASS não foi capaz de anunciar o lançamento até uma hora após a partida de Gagarin. Todos em Baikonur estavam desconcertados, pouco certos sobre a razão pelo facto de a notícia ainda não ter sido anunciada após as garantias de que seria. Finalmente, cinquenta e cinco minutos após o lançamento, a famosa personalidade Soviética Yuri B. Levitan anunciava: O primeiro navio espacial do mundo “Vostok” com um humano a bordo foi lançado para uma órbita em torno da Terra a partir da União Soviética. O piloto-cosmonauta do satélite navio espacial “Vostok” é um cidadão da União das

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Repúblicas Socialistas Soviéticas, Major da Aviação Yuri Alekseyevich Gagain. Os serviços de inteligência norte-americanos estavam já conhecedores da missão antes do anúncio. Uma estação de inteligência electrónica no Alasca havia detectado as transmissões do veículo espacial, vinte minutos após o lançamento. Outras intercepções das comunicações em tempo real trinta e oito minutos mais tarde mostraram claramente um humano movendo-se no interior do veículo espacial. A maior parte da órbita única de Gagarin foi passada a observar a vista através da escotilha e os sistemas do veículo. Não estavam planeadas quaisquer experiências para a missão, e não foram detectadas anomalias durante o seu tempo em órbita. Devido à preocupação dos médicos acerca dos efeitos adversos da ausência de peso na psicologia do cosmonauta, foram tomadas precauções para garantir que o cosmonauta não poderia controlar o veículo espacial e colocar a sua vida em perigo. Um código especial de seis dígitos foi programado num ‘livro lógico’ especial para bloquear o sistema de controlo da cápsula; a Gagarin, não foram ditos três dos dígitos. Se a Vostok perdesse a ligação de comando com o solo, então Gagarin poderia abrir o envelope especial que continha o código (1-2-5) e assim desbloquear o sistema de controlo. De outra forma, todas as acções durante o voo teriam lugar de forma automática ou eram controladas pelo solo. Quando o contacto com Zarya-1 em Baikonur foi perdido acerca de sete minutos após o lançamento, Gagarin manteve o contacto com Zarya-2 em Kolpashevo e Zarya-3 em Yelizovo51. Antes da retrotravagem, a nave foi orientada para a atitude correcta utilizando o sistema de sensores solares, resultando em três comandos para activar os pequenos motores. O sistema de retrotravagem TDU-1 foi accionado com sucesso às 0725UTC, e Gagarin notou o estado de todos os sistemas, gravando os seus comentários num gravador porque se encontrava fora da cobertura das comunicações com o solo. O motor de travagem foi accionado exactamente por 40 segundos. Durante este período, ocorreu o seguinte. Mal o motor de desligou, ocorreu um abanão e a nave começou a rodar em torno do seu eixo a uma velocidade muito alta. A Terra passava no ‘Vzor’ do topo superior direito para a parte inferior esquerda. A rotação era de cerca de 30 graus por segundo, pelo menos. Eu estava num ‘corps de ballet’: cabeça, depois os pés, cabeça, depois os pés, rodando rapidamente. Tudo estava a andar à roda. Agora 51

Os comunicadores em Zarya-2 eram o Tenente-coronel da Força Aérea G. I. Titarev e o representante da unidade militar n.º 32103 Tenente B. V. Seleznez. O comunicador em Zarya-3 era o Coronel da Força Aérea M. F. Karpenko. Adicionalmente, as comunicações eram também mantidas com a estação em Khabarovsk (Coronel da Força Aérea M. P. Kaduskin) e em Moscovo (Desna) no NII-4 (Capitão V. I. Khoroshilov) 33


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vejo África (isto aconteceu sobre a África), a seguir o horizonte, depois o céu. Tinha pouco tempo para me cobrir para proteger os meus olhos dos raios de Sol. Eu pus as minhas pernas na escotilha, mas não fechei as cortinas. Após a ignição do motor de retrotravagem, a grande secção instrumental do veículo deveria separar-se do módulo de descida esférico, com este a descer nas camadas superiores da atmosfera. Foi precisamente neste ponto que a única avaria significativa ocorreu na missão: Perguntava-me o que se estava a passar e esperei pela separação. Qão houve separação. Eu sabia que estava prevista para 10 a 12 segundos depois a actuação do retro motor. Quando foi actuado, todas as luzes do painel de controlo apagaram-se, eu senti que mais tempo havia passado, mas não havia separação. A luz do painel ‘Aterragem 1’ não se havia apagado. O mecanismo de separação, composto por quatro tiras de metal que se juntavam num único fecho, evidentemente libertara os dois módulos a tempo, mas os compartimentos mantiveram-se frouxamente ligados por alguns cabos; o módulo de descida mais pesado permanece por debaixo do módulo de instrumentação mais leve à medida que o veículo espacial reentrava na atmosfera. Apesar da situação ser preocupante, não parece que a vida de Gagarin esteve ameaçada, tal como havia sido sugerido por alguns analistas ocidentais quando este incidente foi finalmente revelado em 1991. Gagarin, que estava claramente ciente a situação, permanece calmo como sempre: …ainda não há sinais da separação. Continua o ‘corps de ballet’. Pensava que algo havia corrido mal. Verifiquei o tempo no relógio. Cerca de dois minutos haviam passado que não havia separação. Eu relatei através do canal de comunicações (de alta frequência) de que a retrotravagem havia ocorrido normalmente. Eu estimei de que seria capaz de aterrar normalmente de qualquer das formas, porque a distância até à União Soviética era de seis mil quilómetros e a União Soviética era de cerca de oito mil quilómetro de comprimento. Isso significava que eu poderia aterrar antes do extremo Leste da Soviético. Assim, eu decidi não me preocupar muito sobre isso. Utilizai o telégrafo para transmitir a mensagem de ‘VQ’ significando que ‘tudo corria bem’.

causava o som de algo a partir: se era a estrutura ou se era a expansão da camada resistente ao calor como resultado deste, mas eu ouvia som de fracturas. A frequência era de aproximadamente uma ruptura por minuto. De forma geral, sentia que a temperatura era alta… A seguir as sobrecargas começaram a aumentar gradualmente. A bola estava constantemente a oscilar em torno de todos os eixos. À medida que o factor de carga atingia o seu pico, eu podia ver o Sol. Os seus raios penetravam na cabina através das escotilhas. Pelos raios reflectidos do Sol eu podia determinar a forma como a nave espacial estava a rodar. Qa altura em que o factor de carga atingiu o seu máximo, as oscilações do veículo espacial reduziram 15 graus. Qesse momento eu senti que o factor de carga atingiu cerca de 10g. Houve um momento durante cerca de 2 ou 3 segundos quando as leituras dos instrumentos tornaram-se turvas. A minha visão ficou um pouco cinzenta. Eu estiquei-me de novo. Isto funcionou, e tudo assumiu os seus devidos lugares. A uma altitude de 7.000 metros, abriram-se os pára-quedas principais do módulo de descida e então a primeira escotilha foi ejectada da cápsula. Por sua vez, Gagarin foi ejectado do veículo, ainda no seu assento, só dois segundos mais tarde. Olhando para baixo, ele imediatamente reconheceu que a região de aterragem era perto do Rio Volga. Separou-se do assento e o seu pára-quedas pessoal abriu-se. Mais tarde recordava: Quando estava no treino de salto de páraquedas, saltamos muitas vezes sobre este mesmo lugar. Voamos muito aqui. Eu reconheci a linha de caminho de ferro, uma ponte ferroviária sobre o rio, e a longa camada de terra que se estendia pelo Volga. Pensei que era provavelmente Saratov. Eu estava a aterrar em Saratov.

A separação finalmente ocorreu às 0735UTC, cerca de dez minutos mais tarde do que o previsto, salvando o veículo espacial de uma perigosa reentrada. A descrição de Gagarin de uma reentrada balística, a primeira na história, foi vívida e cheia de detalhes: Subitamente apareceu uma brilhante luz púrpura nos bordos das cortinas. A mesma luz púrpura podia ser observada na pequena abertura na escotilha direita. Senti oscilações do veículo espacial e a cobertura a queimar. Qão sei o que

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O controlo no solo passou longos minutos em tensão a seguir a reentrada após o corte das comunicações. Pouco após a ocorrência do comando para a retrotravagem, Korolev telefonou a Khrushchev, que se encontrava na sua

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casa de férias em Pitsunda, dizendo-lhe que “o pára-quedas abriu-se, e ele está a aterrar. O veículo espacial parece estar Ok!” De forma excitada, Khrushchev perguntava, “Ele está vivo? Ele está a enviar sinais? Ele está vivo? Ele está vivo?” Gagarin aterrou de uma forma relativamente suave num campo próximo a uma profunda ravina às 0753UTC, somente uma 1 hora e 46 minutos após o lançamento52. O ponto de aterragem era a 26 km a Sudeste da cidade de Engels na região de Saratov, próximo da vila de Smelovka. Imediatamente após a aterragem, ele teve alguns problemas para abrir a válvula de ar do seu fato espacial, e demorou seis minutos de «luta» antes de ser capaz de respirar ar natural. A sua primeira preocupação foi a de relatar que se encontrava bem: Tinha de fazer algo para enviar uma mensagem a dizer que havia aterrado normalmente. Subi uma pequena colina e vi uma mulher com uma rapariga aproximando-se de mim. Ela estava a cerca de 800 metros de distância de mim. Eu caminhei na sua direcção para lhe permutar onde poderia encontrar um telefone. Então eu estava a caminhar na sua direcção, quando reparei que a mulher estava a abrandar e que a rapariga estava a afastar-se dela e a correr na direcção oposta. Quando vi isto, eu comecei a acenar as minhas mãos e a gritar: “Eu sou um amigo. Eu sou Soviético!” Ela disse-me que podia utilizar o telefone do campo. Eu pedi à mulher para não deixar ninguém tocar no meu pára-quedas enquanto eu me dirigia para o edifício. À medida que nos aproximávamos do pára-quedas, vimos um grupo de homens, cerca de seis no total – condutores de tractores e mecânicos do campo agrícola. Eu falei com eles. Disse-lhes quem eu era. Eles disseram que as notícias do voo espacial estavam a ser transmitidas naquele momento pela rádio.

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Durante anos a hora de descida de Gagarin foi indicada como sendo 0755UTC, porém novos dados referem que Gagarin aterrou às 0753UTC e a cápsula às 0748UTC. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

As equipas de resgate acabaram eventualmente por chegar ao local e levaram-no para uma unidade militar não muito longe de Engels, onde recebeu um telegrama de felicitações de Khrushchev e relatou oficialmente via telefone ao Comandante em Chefe da Força Aérea Vershinin, referindo-lhe ter finalizado a sua missão. O adjunto de Vershinin, Coronel General Agaltsov, foi o primeiro oficial espacial de alta patente a encontrar-se com o cosmonauta, e após mais telefonemas de felicitações de Khrushchev e de Brezhnev, Gagarin foi rapidamente escoltado para Kuybyshev nas colinas Zhiguli no Volga. Em Baikonur, uma vez conhecidas as notícias de que Gagarin estavam em segurança, as tensões que haviam permanecido durante toda a missão dissiparam-se instantaneamente. Após uma pequena reunião da Comissão Estatal, festejou-se com champanhe por entre congratulações mútuas. Korolev estava completamente fora de si, rindo e sorrindo pela primeira vez em muitos dias, excitado e animado para além do que muitos colegas alguma vez viram. Os membros da comissão voaram para o local de aterragem para inspeccionarem o módulo de descida; testemunhas recordam que Korolev simplesmente não retirava os seus olhos da cápsula, tocando-a e verificando tudo. Após a inspecção, ele voou para Kuybyshev para finalmente encontrar-se com Gagarin, que minutos antes havia sido promovido de Tenente Sénior directamente para Major. Após ver Korolev, Gagarin referiu calmamente, “Tudo está bem, Sergey Pavlovich, está tudo bem.” Segundo um jornalista, Korolev estava tão fora de si com o choque da euforia que ele estava sem palavras: “Qão tinha qualquer pista sobre o que (lhe) dizer ou de como responder (a Gagarin).” Durante a manhã seguinte, ocorreu uma última reunião oficial da Comissão Estatal, durante a qual Gagarin descreveu todo o seu voo em grande detalhe, uma narrativa que foi preservada em fita. Após o monólogo, os membros da comissão perguntaram-lhe uma série de questões sobre vários aspectos do voo. A 19 de Abril, o Marechal Vershinin 35


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apresentou formalmente as transcrições de ambas as sessões ao Comité Central. Ambas foram classificadas “Muito Secretas” e indisponíveis para os investigadores até 1991, trinta anos após a missão. A 14 de Abril, Gagarin regressou ao aeroporto de Vnukovo em Moscovo enquanto milhares de espectadores o aclamavam. Uma procissão de automóveis seguiu de seguida para a Praça Vermelha, onde Khrushchev, Brezhnev, Kozlov e outros líderes do estado Soviético se banhavam no sucesso inqualificável da primeira missão ao espaço por um humano. Foi um momento sem igual na história Soviética, muito possivelmente o zénite absoluto de mais de quarenta anos de feitos Soviéticos no espaço. Classificada durante anos pelo Ocidente pela sua tecnologia atrasada e costumes antiquados, a União Soviética tinha dado abruptamente um dos mais importantes passos na história da humanidade, a primeira viagem espacial humana. Foi um dia cheio de hipérbole para milhares de pessoas nas ruas, mas nada menos teria feito justiça ao que acabara de ocorrer. Korolev, o arquitecto chefe deste feito permanecia, como sempre, anónimo entre as multidões. Ele viajava vários carros atrás no veículo normal e sem identificação especial, impedido de utilizar as suas prévias condecorações estatais na sua lapela por receio de que agentes Ocidentais pudessem suspeitar de algo. Tal era o curioso e talvez triste legado de uma poderosa e grande nação, sem sentir o peso das noções de liberdade política. O voo de Yuri A. Gagarin irá sem qualquer dúvida permanecer como um dos maiores marcos não só na história da exploração espacial, mas também na história da humanidade. O facto de que este feito foi levado a cabo com sucesso pela União Soviética, um país completamente devastado pela guerra somente dezasseis anos antes, torna o feito ainda mais impressionante. Ao contrário dos Estados Unidos, a URSS teve de começar de uma posição de tremenda desvantagem. A sua infra-estrutura industrial havia sido arruinada, e as suas capacidades tecnológicas estavam na melhor das hipóteses desactualizadas. Uma boa porção da sua terra havia sido devastada pela guerra, e havia perdido mais de 25 milhões de cidadãos. Assim, comparações da estranha corrida entre as duas superpotências nos anos após o Sputnik são, em algumas maneiras, distorcidas pela ausência de contexto. No mais cruel dos termos, foi uma sociedade devastada pelo totalitarismo equipada por máquinas desactualizadas a competir contra um país democrático e intacto, e equipado com uma tecnologia muito superior. Ambos os exerciam o imperativo político de explorar o espaço, mas foi o estado totalitário que tomou a dianteira de forma opressiva.

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Полная стенограмма переговоров Юрия Гагарина с Землей с момента его посадки в корабль (за два часа до старта) до выхода корабля "Востока-1" из зоны радиоприема "Кедр" - позывной Юрия Гагарина, "Заря-1" Сергея Королева. Остальные позывные принадлежат Центру управления полетами и другим наземным службам. Гагарин: Даю отсчет: 1... 2... 3.... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10. Как поняли? Прием. Королев: "Кедр", "Кедр", я "Заря-1". Вас понял отлично. Продолжайте работать. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр", вас понял. "Заря-1", я "Кедр", проверка связи. 1... 2... 3... 4... 5... 6. Как поняли? Прием. Королев: Слышу вас хорошо. Как меня слышите? Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас слышу хорошо. 1... 2... 3... 4... 5. Как поняли? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Слышу отлично. Все понял. Продолжайте проверку. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Прием на телефон. Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Как чувствуете себя? Гагарин: Чувствую себя превосходно. Проверка телефонов и динамиков прошла нормально. Перехожу на телефон. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Понял вас, у нас дела идут нормально. Машина готовится нормально. Все хорошо. Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Я так и знал. "3аря-1", я "Кедр". Проверку связи закончил. Как поняли меня? Прием. Королев: Понял вас хорошо, все нормально, я "Заря". Прием. Пауза 10 секунд. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Исходное положение тумблеров на пульте управления заданное. Глобус на месте разделения: широта северная 63 градуса, долгота восточная 97 градусов. В окне коррекции цифра 510. Время разделения- 9 часов 17 минут 7 секунд. Магнитный индекс БКРФ в исходном положении. Первые сутки, день. Давление в кабине- единица, влажность - 65 процентов. Температура 19 градусов. Давление в отсеке 1,2. В системе ручной Ориентации155 атмосфер, первой автоматической ориентации- 155 атмосфер, во второй автоматической ориентации- 157 атмосфер. Давление в баллоне ТДУ - 320 атмосфер. Самочувствие хорошее. К старту готов. Как поняли? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1", "Кедр", я "Заря-1". Понял вас отлично, данные ваши все принял, подтверждаю их. Готовность к старту принял. У нас все идет нормально. Браво! Пауза около 10 секунд. Гагарин поет песню "о

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далеком курносом детстве". Королев: "Кедр", я "Заря-1", "Кедр", я "Заря-1". Как слышите меня? Мне нужно вам передать. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас слышу хорошо, прием. Королев: Юрий Алексеевич, значит, я хочу вам просто напомнить, что после минутной готовности пройдет минуток шесть, прежде чем начнется полет, так что вы не волнуйтесь. Прием. Гагарин: Вас понял, я совершенно спокоен. Королев: Ну и отлично, прекрасно. Имейте в виду, что после минутной готовности шесть минуток будет для всяких дел. Трубку председателю. Руднев: "Кедр", я "Заря-1". Говорит с вами Руднев (К.Н.Руднев - председатель госкомиссии по запуску корабля "Восток" с человеком на борту). Юрий Алексеевич, как у вас самочувствие? Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Чувствую себя хорошо, к старту готов, настроение бодрое. В общем, все в порядке. "Заря-1", как поняли меня? Прием. Руднев: "Кедр", поняли вас хорошо. Председатель вас слышал. У нас все нормально идет. Пауза 20 секунд. Королев: Я "Заря". Юра, как дела? Прием. Гагарин: Как учили. Все нормально, все хорошо. Как меня поняли? Прием. Королев: Да понял, чего с тобой говорить. Превосходно понял. "Кедр", я "Заря-1". Сейчас с тобой будут говорить. Я прошу вас, если у вас есть время, подключить передатчики KB и поговорить. Дать счет примерно до двадцати. Если у вас есть время и если вы не заняты. Сообщите, как поняли. Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Сейчас ваше задание выполню. Королев: Ты что будешь делать? Гагарин: Сейчас хочу проверить связь по КВ. Королев: Юра, только начинай через минуту примерно проверку, понял? Гагарин: Понял вас. Королев: Что? Говори с ним по KB, а потом я тебе покажу здесь все, что есть. Гагарин: Показывайте, а потом я поговорю. Помехи. Королев: Там в укладке тубы - обед, ужин и завтрак. Гагарин: Ясно. Королев: Понял? Гагарин: Понял. Королев: Колбаса, драже там и варенье к чаю.

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Гагарин: Ага. Королев: Понял? Гагарин: Понял. Королев: Вот. Гагарин: Понял. Королев: 63 штуки, будешь толстый. Гагарин: Хо-хо. Королев: Сегодня прилетишь, сразу все съешь. Гагарин: Не, главное - колбаска есть, чтобы самогон закусывать. Все смеются. Королев: Зараза, а ведь он записывает ведь все, мерзавец. Хе-хе. Гагарин: "Весна", я "Кедр". Даю передачу. Цифровую. 1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10... 11... 12... 13... 14... 15... 16... 17... 18... 19... 20. Как поняли? Прием. Королев: Але, але, "Кедр", я "Заря". Вас понял отлично. Благодарю за проверку. Не забудьте работать ключом и переключить при разделении тумблер "Заря" на "Сигнал". Гагарин: Вас понял. Конец. Пауза. Королев: Але. Гагарин: Да. Королев: Юра, счастливо, до встречи в Москве. Гагарин: До встречи. Хорошей встречи! Пауза. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял, понял вас. Стартовое положение, и при работе на орбите тумблер на "Телеграф" и на "Заря". При разделении - тумблер на "Сигнал". Королев: Поняли тебя, правильно. Юра. "Кедр", я "Заря". Вас понял. Пауза.Помехи. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Как слышишь? Прием. Еще раз, будь спокоен за все. До встречи в Москве. Гагарин: Слышу вас хорошо, как меня? Прием. Королев: Слышу тебя отлично. Юра. Ты сейчас занят? Гагарин: Да, есть тут работа. Но не очень занят. Что нужно? Королев: Нашел продолжение "Ландышей", понял? Гагарин смеется. Гагарин: Понял, понял. В камышах? Королев: Споем сегодня вечером. Пауза. Королев: Мерзавцы, замучают проверкой связи!

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Неразборчивые реплики. Шум. Пауза 20 секунд. Королев: Юра. Гагарин: Ага. Пауза 20 секунд. Гагарин: Олег Генрихович! (О.Г.Ивановский ведущий конструктор корабля "Восток"). Ивановский: Але? Гагарин: Востоков ушел? Ивановский: Да, а что ты хочешь? Гагарин: Чего? Ивановский: Что ему передать? Гагарин: А? Ивановский: Что передать ему? Гагарин: Привет! Ивановский: Привет? Смеется. Ивановский: Нормально? Гагарин: Нормально все. Ивановский: Тебе привет. Гагарин смеется. Неизвестный: Кусочек пластыря оторви, мы забыли приклеить эту штуку. Помехи. Голоса. Отдельные реплики. Шумы. Неизвестный: Еще одну, и хватит. Помехи. Голоса. Шумы. Неизвестный: Давай еще одну. Неизвестный: Хватит, хватит, не надо, спасибо большое. Спасибо. Все. Пауза 6 секунд. Гагарин насвистывает мотив "Родина слышит, Родина знает". Королев: "Кедр", я "Заря-1". У нас все идет отлично. Как чувствуете? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. У меня тоже все идет хорошо. Самочувствие хорошее. Сейчас буду прикрывать люк номер один. Прием. Королев: Понял вас. Прием. Пауза около минуты. Затем голоса. Шумы. Невнятная реплика про "механизм открытия люка". Пауза 10 секунд. Королев: Ну все. Ну, счастливо. Гагарин: Спасибо. Королев: Счастливо, дорогой. Гагарин: До свидания. Королев: Счастливо. До встречи. Гагарин: Сегодня. В Куйбышеве.

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Королев: Прилетай. Гагарин: Ладно. Гагарин смеется. Королев: Спасибо тебе. Гагарин: Все. Привет там всем. Королев: Тебе передаю привет большой. Пауза 15 секунд. Королев: Я "Заря-1 ", "Кедр", я "Заря-1 ". Как слышите? Проверяю связь из бункера. Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас слышу хорошо. Немножко потише говорите. Как поняли? Прием. Королев: Я "Заря-1". Слышу вас хорошо. Понял. Прием. Пауза 15 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Вы работали на УКВ по одной или по обоим кнопкам? Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Сейчас работаю кнопкой на пульте. Сейчас работаю кнопкой на ручке управления. Работу с обоих кнопок вы слышите хорошо. Как поняли? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Понял тебя хорошо. Слышу хорошо по обоим. Нормально. Прием. Гагарин: Ландыши, ландыши... Гагарин насвистывает "Ландыши". Пауза 30 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Как слышно? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Слышно вас хорошо. Прием. Королев: Юра, проверьте памятку, удобство пользования памяткой и видимость кодовой таблицы. Гагарин: Понял вас правильно. Прием. Проверяю. Пауза 45 секунд. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Пользование памяткой и возможность считывания сигнала проверил. Все нормально. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Понял вас. Все отлично, молодец. Гагарин насвистывает "Ландыши". Королев: "Кедр", я "Заря-1". Юра, тебе привет коллективный от всех ребят, кто сейчас здесь. Как понял? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Понял вас. Большое спасибо. Передайте им всем самый горячий привет от меня. Гагарин насвистывает "Ландыши". Шум усиливается.

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Королев: "Кедр", я "Заря-1". Как меня слышите? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Слышно вас хорошо. Как меня? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Слышу вас хорошо. Подготовка изделия идет нормально. Все отлично, Юра. Прием. Гагарин: Вас понял. Подготовка изделия нормально. У меня также. Самочувствие, настроение нормально. К старту готов. Королев: Понял. Прием. Пауза. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Юрий Алексеевич, как слышите меня? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Слышу вас хорошо. Знаю, с кем разговариваю. Прием. Королев: Юрий Алексеевич, я хочу вам напомнить, что я не буду давать слово "секунды", а просто давать цифры, примерно каждые полсотни: 50, 100, 150 и т.д. Понятно вам. Юра? Гагарин: Вас понял. Прием. Так я и думал. Королев: Хорошо. Пауза 15 секунд. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Прошу "Двадцатого" на связь. Королев: "Кедр", я "Заря-1 ". "Двадцатый" на связи. Гагарин: "Заря-1 ", я "Кедр". Прошу при надежной связи на сильном участке сообщить время, позже или раньше, до секунды старта, если таковое будет. Королев: Понял вас, понял. Будет ваша просьба выполнена, Юрий Алексеевич. Гагарин напевает, а затем насвистывает "Ландыши". Потом начинает петь "о далеком курносом детстве". Королев: "Кедр", я "Заря-1". Юрий Алексеевич, у нас так получилось: после закрытия люка вроде один контактик не показался. Он поджался, поэтому мы, наверное, сейчас будем снимать люк и потом его поставим снова. Как поняли меня? Гагарин: Понял вас правильно. Люк открыт. Проверяю сигнализаторы. Гагарин насвистывает. Пауза 30 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Объявлена готовность час. Продолжайте осмотр оборудования. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Объявлена часовая готовность. Все нормально. Самочувствие хорошее, настроение бодрое. К старту готов. Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Понял отлично тебя, Юра. Прием. Пауза 30 секунд.

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Королев: Я "Заря-1". Ты сейчас работаешь на ларинге или ДМШ? Гагарин: "Заря-1 ", я "Кедр". Работаю на ДМ. Королев: Понял тебя. Прием. Пауза 2 минуты. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Проверяю связь. Как слышите? Я "Заря-1". Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас слышно хорошо. Как меня? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Вас слышу отлично. Прием. Пауза 25 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Пакет смотрел? До него можешь дотянуться? Посмотри пакет и доложи. Я "Заря-1". Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Пакет проверил. Дотянуться легко, свободно. Как поняли? Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Вас понял хорошо.

Королев: "Кедр", я "Заря-1". Минутная готовность. Пауза 7 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Минутная готовность. Как вы слышите? Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял: минутная готовность. Занимал исходное положение, занял, поэтому несколько задержался с ответом. Прием. Королев: Понял вас. Пауза 12 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Во время запуска можете мне не отвечать. Ответьте, как у вас появится возможность, потому что я вам буду транслировать все подробности. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Королев: Ключ на старт. Гагарин: Понял. Пауза около 30 секунд.

Пауза 1 минута 30 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Готовность пять минут. Поставьте громкость на полную. Громкость на полную. Я "Заря-1". Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Объявлена пятиминутная готовность. Поставить громкость на полную. Полную громкость ввел. Прием. Пауза 15 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Все идет нормально. Займите исходное положение для регистрации физиологических функций. Я "Заря-1". Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Вас понял. Все идет нормально. Занять исходное положение для регистрации физиологических функций. Положение занял. Прием. Королев: Я "Заря-1", вас понял. Пауза 30 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1", "Кедр", я "Заря-1". У нас все нормально. До начала наших операций, до минутной готовности, - еще пара минут. Как слышите меня? Прием. Гагарин: "Заря-1", я слышу вас хорошо. Вас понял. До начала операции осталась еще парочка минут. Самочувствие хорошее, настроение бодрое, к старту готов. Все нормально. Прием. Королев: Понял вас, "Кедр", понял. Я "Заря-1". Хорошо. Пауза 10 секунд. Гагарин напевает "Летите, голуби, летите", затем насвистывает этот мотив. Пауза 8 секунд.

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Королев: "Кедр", я "Заря-1", дается продувка. Гагарин: Понял вас. Пауза около 10 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Ключ поставлен на дренаж. Гагарин: Понял вас. Я "Кедр". Королев: У нас все нормально, дренажные клапана закрылись. Гагарин: У меня все нормально. Самочувствие хорошее. Настроение бодрое. К старту готов. Прием. Пауза около 40 секунд. Слышно дыхание Гагарина. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Отошла кабель-мачта. Все нормально. Гагарин: Понял вас, почувствовал. Прием. Слышу работы клапанов. Королев: Понял вас. Хорошо. Пауза около 20 секунд. Королев: Дается зажигание, "Кедр", я "Заря-1 ". Гагарин: Понял вас, дается зажигание. Королев: Предварительная ступень. Гагарин: Понял. Королев: Промежуточная. Гагарин: Понял. Королев: Полный подъем. Гагарин: Поехали. Шум двигателей. Пауза 20 секунд. Помехи и шумы. Голоса сильно искажены. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Все проходит

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нормально. Шум в кабине слабый. Самочувствие хорошее, чувствую перегрузку, вибрация, все нормально. Королев: Я "Заря-1". Мы все желаем вам доброго полета. Все нормально? Гагарин: Спасибо. До свидания. До скорой встречи, дорогие друзья. До свидания, до скорой встречи. Шум. Пауза 6 секунд. Гагарин: Вибрация учащается, шум несколько растет. Самочувствие хорошее, перегрузка растет также. Пауза 10 секунд. Королев: "Кедр", время семьдесят. Гагарин: Понял вас. Семьдесят. Самочувствие отличное, продолжаю полет, растут перегрузки. Все хорошо.

Королев: "Кедр", я "Заря". Как самочувствие? Я "Заря". Прием. Гагарин: "Заря", я "Кедр". Самочувствие отличное. Продолжаю полет. Несколько растет перегрузка. Вибрации. Все переношу нормально. Самочувствие отличное. Настроение бодрое. В иллюминатор "Взор" наблюдаю Землю. Различаю складки местности, лес. Самочувствие отличное. Как у вас дела? Прием. Королев: "Кедр", "Кедр", я "Заря". Молодец, отлично все идет, хорошо! Я "Заря", прием. Гагарин: "Заря", я "Кедр". Наблюдаю облака над землей, мелкие, кучевые. И тени от них. Красиво, красота. Как слышите, прием? Королев: "Кедр", я "Заря", "Кедр", я "Заря". Слышим вас отлично. Продолжайте полет. Гагарин: Полет продолжается хорошо. Перегрузки растут медленно, незначительно. Все переносится хорошо. Вибрации небольшие. Самочувствие отличное. В иллюминатор "Взор" наблюдаю: Земля все больше закрывается облаками. Королев: "Кедр", я "Заря". Все идет нормально. Вас поняли. Слышим отлично. Я "Заря", прием.

Пауза 15 секунд. Резкий шум. Затем шум стихает. Королев: Жду, "Кедр". Я "Заря-1". Как чувствуете? Прием. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Чувствую себя хорошо. Вибрация и перегрузки нормальные. Продолжаем полет, все отлично. Прием. Шум усиливается. Пауза 9 секунд. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Закончила работу первая ступень. Спали перегрузки и вибрации. Полет продолжается нормально. Прием.

Гагарин: "Заря", я "Кедр". Произошло выключение второй ступени. Прием. Пауза 10 секунд. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Работает то, что нужно. Последний этап. Все нормально. Прием. Гагарин: Вас понял. Слышу включение. Чувствую работу. Самочувствие отличное. Наблюдаю Землю. Видимость хорошая. Прием. Королев: Понял вас.

Шум усиливается. Пауза 10 секунд. Королев: Прошло разделение, все нормально. Как чувствуете себя, прием. Гагарин: Слышу вас хорошо. Разделение почувствовал. Работает стандарт три. Все нормально. Королев: Понял вас, хорошо. Шум усиливается. Пауза 10 секунд. Гагарин: "Заря-1", я "Кедр". Произошел сброс головного обтекателя. Во "Взор" вижу Землю. Хорошо различима Земля. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Все в порядке. Машина идет хорошо. Прием. Гагарин: Понял вас. Вижу реки, складки местности, различимы хорошо, видимость хорошая. Отлично у вас там все видно. Прием. Королев: "Кедр", я "Заря-1". Все нормально. Гагарин: Понял вас. Докладываю: вижу Землю, видимость отличная. Хорошая видимость. Прием.

Гагарин: Полет продолжается хорошо. Работает третья ступень. Работает цвет (свет?) телевидения. Самочувствие отличное. Настроение бодрое. Все проходит хорошо. Вижу Землю. Вижу горизонт во "Взоре". Горизонт несколько сдвинут к ногам. Королев: "Кедр", "Кедр", я "Заря". "Кедр", я "Заря". Все идет хорошо. Как слышите, как самочувствие? Я "Заря". Прием. Гагарин: "Заря", я "Кедр". Слышу вас отлично. Самочувствие отличное. Полет продолжается хорошо. Во "Взор" наблюдаю Землю. Видимость хорошая. Различить, видеть можно все. Некоторое пространство покрыто кучевой облачностью. Полет продолжаем, все нормально. Прием. Королев: "Кедр", я "Заря", "Кедр", я "Заря". Вас понял. Молодец, связь отлично держите. Продолжайте в том же духе. Я "Заря". Прием. Гагарин: Понял вас. Все работает отлично, все отлично работает. Идем дальше.

Пауза 10 секунд. Пауза около 20 секунд.

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Гагарин: Вот сейчас Земля покрывается все больше облачностью. Кучевая облачность. Покрывается слоисто-дождевой облачностью. Такая пленка на Земле. Уже земной поверхности практически становится не видно. Интересно, да, вот сейчас открыто: складки гор, леса. (Пауза.) "Заря-1", "Заря-1", вас слышу очень слабо. Самочувствие хорошее. Настроение бодрое, продолжаю полет. Все идет хорошо. Машина работает нормально. Прием. (Дальнейшая запись на бортовом магнитофоне космонавтом частично стерта.)...320 атмосфер. Самочувствие хорошее, настроение бодрое. Продолжаю полет. Чувствую. Не чувствую, наблюдаю некоторое вращение корабля вокруг осей. Сейчас Земля ушла из иллюминатора "Взор". Самочувствие отличное. Чувство невесомости благоприятно влияет, никаких таких не вызывает явлений. Как поняли меня, прием? (Пауза.) А сейчас через иллюминатор "Взор" проходит Солнце. Немножко резковат его свет. Вот Солнце уходит из зеркал. (Пауза.) Небо, небо черное, черное небо, но звезд на небе не видно. Может, мешает освещение. Переключаю освещение на рабочее. Мешает свет телевидения. Через него не видно ничего. (Пауза.) "Заря", я "Кедр", "Заря", я "Кедр". (Пауза.) "Весна", я "Кедр", "Весна", я "Кедр". На связь. Как слышите? Прием. Пауза около 10 секунд. Гагарин: "Весна", я "Кедр". Произошло разделение с носителем в 9 часов 18 минут 7 секунд, согласно задания. Самочувствие хорошее, включился спуск-1. Магнитный индекс БКРФ движется к второму положению. Все пуски БКРФ горят. Самочувствие хорошее, настроение бодрое. Параметры кабины: давление единица, влажность 65, температура 20, давление в отсеке единица. В ручной системе - 155, в первой автоматической- 155, вторая автоматическая157. Чувство невесомости переносится хорошо, приятно. Продолжаю полет на орбите. Как поняли, прием. Пауза 30 секунд. Шум усиливается. Слышно чтото вроде морзянки. Гагарин: Бортотсек (?) продолжает вращаться. Вращение отсека можно определить по земной поверхности. Земная поверхность "Взора" уходит влево. Отсек несколько вращается вправо. Хорошо, красота, самочувствие хорошее. Продолжаю полет. Все отлично проходит. Все проходит отлично. Что там по "Заре", связи нет! Что по "Весне"? Тоже связи нет. Сильный шум. Пауза 6 секунд. Гагарин: "Весна", "Весна", я "Кедр", как слышите меня, прием. Весна, я "Кедр". Вас не слышу. Как меня слышите, прием. Шум. Пауза 5 секунд.

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Гагарин: Чувство невесомости интересно. Все плавает. (Радостно.) Плавает все! Красота. Интересно. Пауза 45 секунд. Гагарин: "Заря-3", "Заря-3" на связь. Как слышите меня, прием. "Заря-3" на связь. Как меня слышите, прием. Пауза 5 секунд. "Заря-3": "Кедр", я "Заря-3", "Кедр", я "Заря-3". Гагарин: "Заря-3", я "Кедр". Как меня слышите? Прием. "Весну" не слышу. Не слышу "Весну". Самочувствие хорошее, настроение бодрое. Все нормально, полет продолжаю. Невесомость проходит хорошо. В общем, весь полет идет хорошо. Что можете мне сообщить? Прием. "Заря-3": "Кедр", я "Заря", слышу вас хорошо. Гагарин: "Заря-3", я "Кедр". (Говорит очень тщательно, почти по слогам.) Полет проходит успешно. Чувство невесомости нормальное. Самочувствие хорошее. Все приборы, все системы работают хорошо. Что можете сообщить мне? Вас слышу отлично. "Заря-3": "Кедр", я "Заря-3". Слышим вас хорошо, приборы работают нормально. Самочувствие нормальное. Что можете мне сообщить по полету? Что сообщить мне можете? Прием. (Сильный шум.) "Кедр", я "Заря-3". Указание от двадцатого не поступает, не поступает. Все нормально. Гагарин: Понял вас. От двадцатого указание не поступает. Сообщите ваши данные о полете. Привет блондину! Пауза 35 секунд. Гагарин: Открыл светофильтр "Взор". Вижу горизонт, горизонт Земли выплывает. Но звезд на небе не видно. Земная поверхность, земную поверхность видно в иллюминатор. Небо черное, и по краю Земли, по краю горизонта такой красивый голубой ореол, который темнее по удалению от Земли. "Заря-3": "Кедр", я "Заря-3", "Кедр", я "Заря-3". Как слышите меня, прием. Гагарин: "Заря-3", я "Кедр". Вас слышу хорошо. Как меня? Прием. Объект освещается. Сильные помехи. Гагарин: "Весна", я "Кедр", 10 часов 4 минуты. Передаю очередное отчетное сообщение. Нахожусь в апогее. Работает Спуск-1, работает солнечная ориентация. Давление в кабине единица, влажность 65%, температура 20 градусов. Давление в отсеке один и две десятых. В ручной ориентации - 155. Первая автоматическая -150. Вторая автоматическая - 155. Самочувствие хорошее, настроение бодрое. Полет проходит успешно. Как поняли меня, прием.

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Пауза около 10 секунд. Слышно что-то вроде морзянки. Гагарин: Внимание, вижу горизонт Земли. Очень такой красивый ореол. Сначала радуга от самой поверхности Земли, и вниз такая радуга переходит. Очень красивое, уже ушло через правый иллюминатор. Видно звезды через "Взор", как проходят звезды. Очень красивое зрелище. Продолжается полет в тени Земли. В правый иллюминатор сейчас наблюдаю звездочку, она так проходит слева направо. Ушла звездочка, уходит, уходит... Внимание, внимание. 10 часов 9 минут 15 секунд. Вышел из тени Земли. Через правый иллюминатор и "Взор" видно: сейчас появилось Солнце. Объект вращается. Очевидно, работает солнечный системный иллюминатор. Вот сейчас в систему "Взор" наблюдаю Землю, наблюдаю Землю, пролетаю над морем. Направление движения над морем определить вполне можно. Сейчас я примерно движусь правым боком, некоторой облачностью закрыто. Направление над морем определить можно (одно слово неразборчиво). "Весна", я "Кедр", "Весна", я "Кедр". 10 часов 18 минут. Прошла вторая команда. Давление в

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системе ориентации 120 атмосфер. Давление в баллоне ТДУ 320 атмосфер. Самочувствие хорошее. Полет проходит успешно. Как поняли, прием. Все системы работают хорошо. (Сильные помехи.) "Весна", я "Кедр", "Весна", я "Кедр". Полет проходит успешно. Самочувствие отличное. Все системы работают хорошо. 10 часов 23 минуты. Давление в корабле единица. Влажность 65. Температура 20. Давление в отсеке 1, 2. В ручной системе -150. В автоматической110, во второй автоматической - 115. В баллоне ТДУ 320 атмосфер. Самочувствие хорошее, продолжаю полет. Как поняли, прием. На этом запись обрывается. В 10 часов 55 минут по московскому времени Юрий Гагарин совершил приземление.

Материал предоставлен Российским государственным архивом научно-технической документации (РГАНТД). Опубликовано в журнале "Коммеррсант-Власть" в номерах от 10 и 17 апреля 2001 года.

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GAGARI+, 50 AÑOS Por Manuel Montes En 1961, Shemya, una isla de las Aleutianas, era utilizada por el personal de la +.S.A. ( ational Security Agency) como punto de despegue y aterrizaje de un avión llamado Rivet Ball. El RC-135S de la Fuerza Aérea estadounidense era un aparato equipado con sistemas de inteligencia electrónica, y su misión era efectuar un seguimiento de la trayectoria de los misiles soviéticos en pruebas, cuyo destino era Kamchatka o el océano Pacífico. Pero un 12 de octubre, las señales procedentes de un nuevo lanzamiento de la U.R.S.S. revelaron un acontecimiento inesperado: se trataba de una misión espacial, y el vehículo que recorría la bóveda celeste parecía tener un inquilino humano.

desarrollo de grandes misiles para el lanzamiento de armas nucleares. Por el momento, pues, sólo se autorizarían vuelos parabólicos de cohetes semejantes a la V-2 alemana con perros a bordo, los cuales se desarrollaron durante varios años. Ante el éxito del primer satélite artificial, sin embargo, las cosas comenzaron a cambiar: uno de esos perros y su cápsula hermética, unidos a una copia del Sputnik-1, fueron lanzados en una misión suicida en el Sputnik-2. Pero Korolev quería más, y ahora que resultaba obvio el positivo impacto que estos vuelos habían producido en la opinión pública mundial, era el momento de proponer en serio el vuelo de un cosmonauta.

No era la primera vez que los soviéticos lanzaban un satélite, y vuelos como el del Sputnik-2, con la perrita Laika a bordo, habían sugerido ya que preparaban el envío de un hombre al espacio. A pesar de todo, la noticia volvió a ser una auténtica sorpresa en Occidente. El rival político y militar de los americanos había logrado otra primicia, y esta vez, la gesta tendría consecuencias. A nadie, en realidad, podía extrañarle lo ocurrido. La NASA tenía en marcha su propio programa tripulado, y era obvio que, antes o después, la Unión Soviética respondería con el suyo propio. Pero a diferencia del primero, que se desarrollaba a la luz del día, la iniciativa comunista era alto secreto, y por tanto se desconocían de ella todos los detalles. ¿Cómo empezó, pues, todo?

Fusion de Programas A finales de 1958, apenas un año después del Sputnik-1, la NASA estaba desarrollando ya el que se haría llamar proyecto Mercury. El Presidente estadounidense, que hubiera preferido centrar los esfuerzos espaciales en el área militar, había visto la histeria provocada por el primer satélite soviético, y tuvo que conceder la puesta en marcha de un programa tripulado para evitar que la U.R.S.S. volviera a asestar un golpe tan fuerte a su prestigio. Tan alta fue la prioridad otorgada que, en abril de 1959, el proyecto Mercury recibía la clasificación DX, como si fuera un arma nuclear. Se inició el desarrollo de la cápsula y comenzaron los ensayos con los cohetes que deberían lanzarla. También se efectuó una primera selección de los futuros astronautas. En otras circunstancias, la NASA hubiera seleccionado un diseño distinto para su vehículo tripulado. Lo lógico era convertir a un avión, como el X-15, en algo capaz de alcanzar la órbita y regresar planeando. Pero ello supondría mucho tiempo de desarrollo, y el camino más corto, la cápsula, era sin duda el que había elegido la Unión Soviética. Sergei Korolev, responsable máximo del programa espacial de la U.R.S.S., tenía como objetivo principal, ya a mediados de los años Cincuenta, el envío de hombres al espacio. Pero sus deseos no tenían necesariamente que coincidir con los de las altas esferas, que apostaban únicamente por el

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La prudencia aconsejaba una misión tripulada no antes de 1964, ante las incógnitas que suponía la exposición de un ser humano a los rigores del espacio. Se apostó primero por una serie de vuelos suborbitales, como el proyecto WR-190 de Tikhonravov, pero la existencia del proyecto Mercury aconsejó mirar directamente hacia la órbita. Mientras tanto, el centro de diseño de Korolev, el OKB-1, estaba trabajando en un programa espía que siguiera el camino de las misiones Corona americanas. Resultaba evidente que los satélites Discoverer (nombre tapadera) transportaban cámaras y que éstas, con su película mostrando los secretos soviéticos, estaban siendo recuperadas mediante cápsulas. La respuesta a estos satélites espías de la CIA fue el Object OD-1, una nave de una tonelada y media perfilada en 1956 pero que se desarrolló muy lentamente debido a empresas de mayor prioridad, como las sondas Luna o los propios Sputnik. La OD-1 estaba estabilizada de forma pasiva, de modo que los

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ingenieros crearon posteriormente un nuevo diseño llamado OD-2 que podría estabilizarse en sus tres ejes. El OD-2 utilizaría tecnologías apropiadas para un vuelo tripulado (como la recuperación), así que, dado que no existía ninguna posibilidad de que la Unión Soviética costease simultáneamente el desarrollo de un proyecto espía y otro tripulado, al menos de momento, se decidió fusionar ambos en uno solo. Debido a la carrera espacial, la versión tripulada tendría prioridad: la nueva nave se llamaría Object-K (Korabl). En mayo de 1959 se autorizó la construcción de cuatro versiones: 1K (Korabl-Sputnik, para las pruebas iniciales), 2K (el futuro satélite espía Zenit-2), 3K (la cápsula tripulada Vostok), y 4K (el satélite espía Zenit-4).

El diseño de la cápsula avanzó rápidamente, con sus características básicas dimanando de las limitaciones de la época. Por ejemplo, para afrontar de forma eficiente la reentrada de la nave, ésta debía estar equipada con un escudo térmico que disipara la energía orbital (a 29.000 km/h) y permitiera el aterrizaje seguro. Para que la desaceleración fuera tolerable, lo mejor era una cápsula parecida a la Mercury, de fondo casi plano y que pudiera amerizar y maniobrar ligeramente durante el descenso. Pero Khrushchev no quiso ni oír hablar de que los cosmonautas soviéticos no aterrizaran en Suelo Patrio, así que hubo que buscar una configuración con un comportamiento atmosférico más conocido y que permitiera el regreso directo a su país de origen. La cápsula sería pues esférica, más pesada y sencilla de lo que habría sido deseable. Su régimen de desaceleración sería mucho peor (hasta 10 Gs), y debería llevar un escudo térmico más resistente. El peso de este último obligó a sacar de la cápsula buena parte de los equipos (colocándolos en un módulo de servicio), para que se quedaran en el espacio y la nave fuera más ligera durante el descenso. Las incógnitas que proporcionaba la falta de un sistema de propulsión integrado que ayudara a amortiguar el aterrizaje en tierra firme, obligó a Korolev a diseñar un sillón expulsable, para que el cosmonauta abandonara su vehículo antes de tocar tierra, y descendiera bajo su propio paracaídas. Este detalle sería ocultado al principio, ya que las normas de la Federación Astronáutica Internacional decían que la homologación de un vuelo

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tripulado sólo sería posible si sus ocupantes permanecían en todo momento en su interior.

Vuelos de Prueba Los avances del proyecto Mercury espolearon a las autoridades soviéticas, que el 5 de enero de 1959 habían ordenado la puesta en marcha oficial del programa tripulado, y también la búsqueda de los candidatos a cosmonauta que pilotarían la nave. Estos debían ser todos hombres, pesar menos de 72 kg, medir menos de 1 metro y 70 cm, tener menos de 30 años, y ser pilotos militares. A finales de año, de 3.000 inicialmente presentados, sólo una veintena de candidatos restaba para la selección final. El 11 de enero de 1960, se puso en marcha el centro de entrenamiento, en la Ciudad de las Estrellas (Zvezdny Gorodok), y el 25 de febrero se efectuaba la elección de los 20 nombres que trabajarían en sus instalaciones: Ivan N. Anikeyev, Pavel I. Belyayev, Valentin V. Bondarenko, Valeriy F. Bykovskiy, Valentin I. Filatev, Yuriy Gagarin, Viktor V. Gorbatko, Anatoliy Y. Kartashov, Yevgeniy V. Khrunov, Vladimir M. Komarov, Aleksey A. Leonov, Grigoriy G. Nelyubov, Andrian G. Nikolayev, Pavel R. Popovich, Mars Z. Rafikov, Georgiy S. Shonin, German S. Titov, Valentin S. Varlamov, Boris V. Volynov y Dmitriy A. Zaykin. El 30 de mayo, se realizaba una primera selección de seis para que siguieran un entrenamiento acelerado. Integraban ese grupo Gagarin, Kartashov, Nikolayev, Popovich, Titov y Varlamov. Mientras estos hombres empezaban a estudiar todo lo relacionado con el vuelo espacial, se iniciaron las pruebas con la futura cápsula que los llevaría a la órbita, así como las del cohete que la elevaría (el 8K72K, una versión más potente del cohete lunar 8K72). Tras los ensayos suborbitales, uno de los cuales envió a la cosmonave hasta 10.000 km de distancia (en enero de 1960, un recorrido que levantó las sospechas americanas), se iniciaron los vuelos orbitales. El primero se llevó a cabo el 15 de mayo de 1960. La Korabl Sputnik-1 (Nave Espacial-1) fue bautizada como Sputnik-4 (1KP) y consistió en una cápsula no recuperable, sin escudo térmico para resistir la reentrada pero dotada del motor de frenado TDU-1. La confianza en el buen funcionamiento de los sistemas de recuperación era aún escasa y ante el temor de que el descenso fallara y la cápsula cayese fuera del territorio de la Unión Soviética, se prefirió permitir que se incinerase durante la reentrada. La misión se desarrolló bien, aunque el sistema de orientación dio problemas y el motor de frenado no hizo sino aumentar su altitud. La siguiente cápsula (1K-1) sí estaría equipada con sistemas de aterrizaje y llevaría además pasajeros biológicos. Despegó el 28 de julio de 1960 con los perros Chaika y Lisichka, que compartirían su viaje junto a otros animales y plantas. Por desgracia, 19 segundos después del lanzamiento, uno de los cuatro aceleradores del cohete provocó el desvío de su ruta y la pérdida del control. Acabaría estallando a los 28,5 segundos de vuelo. La cápsula con los perros se separó pero éstos perdieron la vida debido a la explosión.

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Tras la investigación, el 19 de agosto despegaba el Sputnik5 (Korabl Sputnik-2), con los perros Belka y Strelka, 40 ratones, dos ratas, plantas, semillas, frutas, insectos y otros seres vivos. La duración de su periplo debía ser un día, para garantizar un aterrizaje en la Unión Soviética, y supuso que los dos canes experimentaran por primera vez el posteriormente famoso “mareo espacial”. Aunque el sistema de orientación principal falló de nuevo, el secundario cumplió con su trabajo y tanto la cápsula como el asiento eyectable con los perros se posaron a sólo 10 km del lugar previsto. La explosión el 24 de octubre de 1960 de un misil R-16, en el cosmódromo de Baikonur, con el resultado de la muerte de al menos 126 personas, obligó a una investigación que retrasó la fecha del lanzamiento del primer vuelo tripulado soviético, que ahora no partiría antes de febrero de 1961.

estaba a un paso de apuntarse otra primicia, quizá antes de transcurridas 3 semanas.

El Vuelo de Gagarin La decisión más importante de esa época sería quizá la selección del hombre que gozaría de la oportunidad de convertirse en el primer ser humano que girase alrededor de la Tierra. Korolev lo sabía bien puesto que ese mismo hombre tendría después que afrontar el reconocimiento de medio mundo y por tanto debía encarnar al perfecto camarada soviético, trabajador, honesto y agradable en el trato, inteligente y atrevido, un líder nato que supiera desempeñar el papel de leyenda viva que el destino le reservaba.

Mientras, se produjo el despegue de un nuevo vuelo de prueba. El Sputnik-6 (1K-5, Korabl Sputnik-3), partió el 1 de diciembre con los perros Pchelka y Mushka, así como ratones, plantas y algunos tipos de insectos. Tras el vuelo de 24 horas, se activó el motor de reentrada, pero éste funcionó menos tiempo del previsto y la cápsula se desvió de su ruta: su sistema de autodestrucción acabó entonces con la cápsula y sus pasajeros. Debido a lo ocurrido, se decidió que la nave tripulada fuese colocada a baja altitud para propiciar una reentrada en un tiempo prudencial incluso aunque el motor de frenado fallara. La siguiente misión de prueba (1K-6), con los perros Shutka y Kometa en su interior, se convirtió únicamente en un vuelo suborbital por el fallo de su cohete, el 22 de diciembre. Por fortuna, pudieron ser recuperados. Huyendo hacia adelante, Korolev decidió probar la versión definitiva de la cápsula (3K-1), igual a las anteriores pero con los equipos de soporte vital necesarios para garantizar la vida del cosmonauta. La Korabl Sputnik-4 despegó el 9 de marzo de 1961, con el perro Chernushka, ratones, conejillos de indias, pequeños reptiles, y semillas de plantas a bordo. Un maniquí llamado Iván Ivanovich, que probaría el traje espacial SK-1, ocuparía el sillón eyectable. La misión simularía exactamente, y con gran éxito, el vuelo de una órbita del futuro ocupante. Con los definitivos seis candidatos a cosmonauta presentes en Baikonur (Gagarin, Titov, Nelyubov, Nikolayev, Bykovskiy y Popovich), se lanzaba el 25 de marzo la última prueba del programa. El Korabl Sputnik-5 (3K-2) alcanzó el espacio normalmente, con el perro Zvezdochka y una variedad de animales y muestras biológicas en su interior. El regreso se completó después de una órbita, si bien ocurrió en medio de una tormenta de nieve que retrasó el rescate 24 horas. El maniquí Iván Ivanovich fue encontrado por los lugareños, que creyeron se trataba de un cosmonauta muerto. En todo caso, todo parecía a punto para la realización del primer vuelo tripulado de la historia. La rueda de prensa sobre la más reciente misión, con presencia extranjera, fue parca en detalles, pero resultaba obvio que la U.R.S.S.

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Una comisión de estado se había reunido el 29 de marzo de 1961para emitir la solicitud oficial para el lanzamiento de la Vostok tripulada. Se autorizó el anuncio por parte de TASS del correspondiente comunicado una vez alcanzada la órbita, y se estableció la ventana de lanzamiento entre el 10 y el 20 de abril. El 3 de abril, el Presidium del Comité Central emitía la autorización secreta para proseguir con el despegue de la nave. La firmaron Khrushchev y Kozlov. También se prepararon con antelación otros comunicados de TASS, incluyendo aquellos relacionados con una misión fallida. Tan sólo dos días más tarde, los seis cosmonautas llegaban a Baikonur/Tyuratam. Titov y Gagarin, los dos principales candidatos al primer vuelo, realizaron entrenamientos específicos en el interior de la nave real. Y por fin, lo esperado se hizo oficial el 8 de abril: Yuriy Gagarin era nominado, en solemne reunión, cosmonauta principal para la misión tripulada. Titov sería el hombre de

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reserva, con Nelyubov como tercero. También se establecieron los días 11 ó 12 como la fecha indicada para el despegue. Gagarin, que agradeció la asignación, recibió el título de Cosmonauta Número Uno. Titov volaría en una misión posterior. El día 10 de abril, se solicitó el permiso para llevar el cohete (8K72K E103-16) hasta la rampa de salida. La cápsula, en su versión definitiva 3KA, estaba también a punto. Al día siguiente, en una nueva procesión semejante a la que precedió al Sputnik-1, el vector y su carga útil, montados sobre un ferrocarril especial, recorrieron en una hora la distancia que separaba los hangares de la zona de lanzamiento. Una reunión final en Baikonur, con presencia de ministros, cosmonautas, ingenieros y prensa, suponía el anuncio oficial de Gagarin como primer cosmonauta, quien realizó un nuevo y breve discurso de agradecimiento. Yuriy Alekseyevich Gagarin, un joven teniente nacido el 9 de marzo de 1934, asumía con responsabilidad el riesgo, reconociendo la enorme trascendencia del acontecimiento. Más tarde, tanto él como su reserva, Titov, recibieron las últimas indicaciones sobre el plan de vuelo. Con el cohete en posición, en la rampa de despegue, Korolev y Gagarin examinaron la cápsula desde la torre de servicio y después se fueron a dormir. Los cosmonautas lo harían en un pequeño chalet construido especialmente para ellos, que en lo sucesivo sería utilizado para pasar la noche anterior a cada misión. Allí durmieron bien. Ese mismo día, la inteligencia americana había obtenido pruebas del inminente lanzamiento de la Vostok. Kennedy encargó resignado un mensaje de felicitación a su secretario de prensa, Pierre Salinger. Tanto Gagarin como su compañero Titov fueron finalmente despertados para afrontar la gran jornada. En la zona de despegue ya hacía horas que la actividad era alta. A las seis de la mañana, hora de Moscú, la comisión de estado había dado luz verde definitiva al lanzamiento. Aún de madrugada, los dos cosmonautas fueron vestidos con los trajes espaciales de rigor por el personal de apoyo. Hacia las 7 de la mañana, eran transportados hasta la base del cohete en un autobús, donde diversas personalidades, incluido Korolev, les esperaban. A sólo 1 hora y media del despegue, Gagarin saludó a los presentes. Por fin, ya fuera del elevador, fue introducido en la cabina de su vehículo, y la escotilla fue cerrada. Su cosmonave estaba lista. Gagarin se acomodó en el módulo de descenso de la Vostok (llamado Sharik), cuya apariencia era prácticamente esférica. Bajo él se hallaba el módulo de instrumentos que sólo se usaría durante la estancia en órbita y en el cual se localizaba el motor retrocohete que propiciaría el regreso. La nave, al completo, medía 4,4 metros de altura (sin las antenas). El interior de la cápsula, cuyo diámetro alcanzaba los 2,43 metros (1,5 metros cúbicos de espacio interior), había sido preparado para un solo tripulante. La masa total alcanzaba los 4.725 kilogramos, perteneciendo 2,46 toneladas a la Sharik. Buena parte del peso correspondía a la cubierta térmica, de variable grosor, que la protegería durante la reentrada. Unos 800 kilogramos pertenecían al asiento eyectable en el que iría atado Gagarin, y que le

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sacaría de la nave antes del aterrizaje, para aumentar sus posibilidades de supervivencia. Dado que no se conocía muy bien cuál sería el comportamiento del ser humano en ingravidez, los vuelos de las Vostok serían automáticos, aunque el piloto podría adoptar el control manual si fuese necesario. Las instrucciones para desbloquear el sistema se encontraban en un sobre cuya posición sólo revelaría el personal de tierra en última instancia. La nave, además, transportaba todo lo necesario para la supervivencia del viajero, incluyendo paracaídas, sistemas de soporte vital, e instrumental informativo. Una pequeña ventana acristalada le permitiría ver el exterior, y podía utilizar un instrumento llamado Vzor para orientar visualmente el vehículo si los sistemas automáticos fallaban. La atmósfera interior era casi idéntica a la de la Tierra, al nivel del mar, con la misma proporción de gases y presión.

El módulo de servicio, por su parte, transportaba el retrocohete TDU-1, cargado con 280 kilogramos de propergoles. Podía proporcionar 1,6 toneladas de empuje durante 45 segundos, suficiente para frenar la nave y hacerla reentrar en la atmósfera. Además, se encontraban allí antenas, sistemas de guía y control, reservas de oxígeno, provisión energética, etcétera. El vuelo, a pesar de su dramatismo, se desarrolló casi por los cauces esperados. Durante la hora previa al despegue, el cosmonauta, Korolev y Popovich charlaron constantemente entre sí. Gagarin, en las comunicaciones, tendría el nombre de Kedr, y el segmento terrestre el de Zarya-I. El cosmonauta cerró su visor 5 minutos antes del lanzamiento. Después, sólo tuvo que esperar a que los motores de la primera fase de su cohete se encendieran. Exactamente a las 9 horas, 6 minutos y 59,7 segundos (a las 06:07 UTC), se producía la ignición, y con ello el rápido ascenso hacia la órbita. En tierra, Korolev disponía de las contraseñas para abortar la misión en caso necesario, lo que haría funcionar el asiento eyectable tras la separación del carenado protector. Pero éstas no serían necesarias. Unos 119 segundos después del despegue, los cuatro aceleradores laterales se desprendieron correctamente, y el citado carenado, 50 segundos más tarde. La etapa central se apagó a los 300 segundos del lanzamiento, permitiendo la entrada en acción

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de la etapa superior Bloque E. Su motor actuó como se esperaba y finalmente la Vostok entró en órbita, transcurridos 676 segundos desde la partida (06:21 UTC). Diez segundos después, la cápsula se separaba de su cohete portador. La órbita resultó ser bastante más alta de lo previsto (hasta 70 kilómetros en el apogeo), pero no era nada que el retrocohete no pudiese solucionar. La preocupación, sin embargo, era palpable, pues la situación demostraba que el gobierno del cohete aún no era perfecto. Además, si el retrocohete fallara, la Vostok tardaría mucho más en caer por sí sola a la atmósfera, mucho más de lo que el cosmonauta podría sobrevivir. Las noticias desde el espacio, a pesar de todo, eran magníficas, pues Gagarin se encontraba muy bien y contaba con detalle lo que veía y sentía en el ambiente de microgravedad. Su misión consistía en recorrer una sola órbita, apenas una hora y media de viaje.

las cosas. Pero Zarya-3 tenía poco que decirle, más que tranquilizarlo y afirmar que todo marchaba bien. Su conversación, por otra parte, había tenido oyentes no del todo inesperados. A las 06:26 UTC, la cosmonave se elevó sobre el horizonte local y sus señales fueron interceptadas en Shemya. Tras un rápido análisis, era evidente que no se trataba de un nuevo misil en trayectoria balística, sino de un satélite, pero uno muy especial: las voces que provenían del espacio pertenecían a un humano. Y a juzgar por lo que sugerían, no parecía un episodio previamente registrado. Los instrumentos de Shemya, óptimamente equipados para la inteligencia electrónica, detectaron una señal televisiva, si bien los técnicos no consiguieron descifrarla de forma correcta. Tendrán que pasar varios años para que fuentes diversas confirmen que la nave llevaba efectivamente una cámara de televisión a bordo, y que Gagarin activaba periódicamente las luces de la cabina para que su imagen pudiera verse en el centro de control mientras se mantenía sobre territorio soviético. Escapando de la huella de captación de Zarya-3 gracias a su rápido desplazamiento por el cielo, Gagarin siguió su viaje alrededor de la Tierra, ya con el contacto interrumpido. Futuras comunicaciones, ante la falta de estaciones de seguimiento, se harían mediante onda corta. Muy al sur de Shemya, en otra remota isla, esta vez en el archipiélago de Hawái, la historia parecía repetirse. Un grupo de americanos se encontraba en la Tern Island, donde se hallaba suficiente equipo militar para escuchas clandestinas. Con el crepúsculo instalado sobre la región, y la Vostok aún iluminada por el Sol debido a su altitud, sería muy sencillo para aquellos sorprendidos espectadores detectar su presencia vertiginosa en el cielo. Había transcurrido apenas media hora desde el despegue. Utilizando binoculares de 25 aumentos, el personal siguió el punto luminoso mientras cruzaba la bóveda celeste. Con este punto de referencia visual, una antena podía captar las señales direccionales procedentes del vehículo, incluyendo parte de la telemetría que transportaba las constantes vitales del piloto, como el ritmo cardiaco. Después, atrapada definitivamente por la oscuridad, la Vostok dejó de ser visible a simple vista y se perdió su rastro.

A las 06:25 UTC, unos 18 minutos después de su lanzamiento, el cosmonauta entraba en el área de influencia de la estación situada en Yelizovo, y reanudaba el contacto perdido poco antes con Kolpashevo, desde donde se siguió buena parte de la ascensión hasta el momento de la inyección orbital. Yelizovo, llamada Zarya-3 durante esta misión, recibía la señal en VHF procedente de la cápsula de Gagarin. A través de ella el viajero espacial solicitó información sobre el estado de su nave y su trayectoria. Mero espectador y pasajero dentro de un vehículo eminentemente automático, el joven Yuriy se limitaba a seguir el programa de vuelo (los experimentos quedaban para futuras empresas) y tenía deseos de conocer cómo iban

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En Moscú, hacia las 07:00 UTC, una vez confirmada la velocidad orbital, la agencia de noticias TASS daba lectura radiofónica al anuncio preparado con antelación. Habían transcurrido muchos minutos desde el lanzamiento, y el mundo se enteraba de que la U.R.S.S. había logrado la hazaña que muchos creían imposible. El control de tierra estuvo oyendo la excitada voz de Gagarin hasta que se iniciaron los preparativos para el retorno a casa. La nave tripulada más veloz del mundo (Mach 25) se orientó mediante su sensor solar, y activó el retrocohete TDU-1 durante 40 segundos. Eran las 07:22 UTC. El próximo paso debía ser la separación del módulo de servicio, mas ésta no se produjo. Los mecanismos habían funcionado, pero algunos cables no se habían cortado. De no mediar otra solución, arrastrando una mayor masa el aterrizaje se produciría más lejos de lo previsto, aunque aún dentro de territorio soviético. Por fin, a las 07:35 UTC,

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ocurría la separación definitiva, de forma que la cápsula Sharik pudo orientarse mejor para la reentrada, gracias a su particular centro de gravedad. Soportando un pico de desaceleración de 10 Gs, la nave frenó su caída a través de la atmósfera, en dirección a su país natal. Interrumpidas las comunicaciones a consecuencia de la nube de plasma formada alrededor de la cápsula, ésta colgó pronto grácil bajo su paracaídas, que se había abierto a unos 7 kilómetros de la superficie. A la misma altitud, Gagarin abandonó la nave gracias a la expulsión de su asiento (07:55 UTC), descendiendo merced a sus propios medios, y cayendo en las cercanías del río Volga, cerca de Saratov, en la estepa soviética. El paracaídas de emergencia también se abrió, pero afortunadamente no se enredó con el principal y el cosmonauta tomó tierra con suavidad a las 08:05 UTC. Korolev comunicó a Khrushchev que todo parecía ir bien, y que las fuerzas de rescate se dirigían hacia el lugar del aterrizaje. Gagarin, mientras tanto, decidió que debía enviar algún mensaje y se dirigió hacia una colina situada cerca de la población de Smelovka. Se encontró entonces con una mujer y una niña, y posteriormente otros lugareños, que le auxiliaron, reconociéndole por las noticias recién transmitidas por la radio. Minutos más tarde, las fuerzas de rescate hacían acto de presencia. Gagarin, saludado y felicitado por su compañero Titov, fue llevado a Moscú donde, en lo sucesivo, sería motivo de veneración pública. Sin duda, era el nuevo héroe soviético: su figura será convenientemente explotada frente al mundo, como claro exponente de lo que el régimen era capaz de llevar a cabo. La misión de 108 minutos de la Vostok era la hora del triunfo más esperada. Un triunfo muy superior al del propio Sputnik-1. Por fin, el Gobierno tenía a su disposición lo que quería, un líder carismático que pasease la antorcha del comunismo alrededor del mundo, mostrando a Occidente aquello que otros no habían sabido hacer todavía. La prensa y los políticos estadounidenses reaccionaron de forma casi histérica ante la noticia: de pronto, el programa espacial tenía mucha más importancia de lo que nadie había supuesto anteriormente. Gagarin había rodeado la Tierra cuando los planes inmediatos de la NASA apenas contemplaban un vuelo suborbital, y las sondas soviéticas que habían chocado contra la Luna, a 400.000 kilómetros de distancia, habían usado el mismo misil que podría transportar una ojiva nuclear sobre el continente americano. Las implicaciones estratégicas de la carrera espacial eran enormes. Los "rusos" parecían claramente destacados en el espacio. Su acción cambiaría el curso de la historia, pues lo ocurrido exigía una contestación inmediata y decidida. Y Kennedy decidió que la respuesta de los Estados Unidos debía ser el aterrizaje de hombres en la Luna. La Humanidad se disponía a entrar en la carrera más fascinante pergeñada por el Hombre...

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Celebrating Gagarin's Anniversary Por James Oberg Every nation has its own glorious anniversaries to celebrate, but few are shared by the whole world. The 30th anniversary of manned spaceflight, April 12, understandably is a red-letter day in the Soviet Union, homeland of the world's first space traveler, but it is a logical candidate for world-wide celebration as well. Centuries from now, it may be one of only a few earthborn anniversaries to be celebrated by off-world humanity. In anticipation of such a multiplanetary future for humanity, forward-looking people all over our present single planet should pause to consider what April 12, 1961, gave to Earth. First, of course, it gave a young, cocky hero: Yuri Gagarin, the jet pilot who was selected to be first in flight and whose first words in flight -- "Poyekhali," or "Off we go!" -perfectly epitomized the adventure. Gagarin was a confident, action-oriented young man, neither profound nor convoluted in his thinking, reliable and sturdy in his response to the challenge of the Vostok spacecraft. His image benefits from its eternal youth, since his early death a few years later preserved his fame against growing old. Such a man was needed to step across the frontier where unknown physical and psychological dangers lay in wait. Today we have forgotten just how much was feared about spaceflight and that is another implicit tribute to what Gagarin did. Gagarin's flight marked the most frantic lap in the space race, a competition that taught us lessons about space projects that are forgotten only at our peril. As with any military offensive, it is the short term concentration of forces and their coordination in pursuit of swell defined goal that lead to success. Space projects that worked - Vostok, Apollo, Viking, even the first shuttle mission--were characterized by a crash style over a short span of years, were staffed by the best people drawn from many different backgrounds and were successoriented. Space projects that have not worked (or are not working) lack these features. Second, the Vostok flight gave the United States the last and greatest kick in the pants to launch a crew to the moon. Newly inaugurated U.S. president John Kennedy was confronted with a spiritual challenge which demanded energetic, visionary response. Had the manned MercuryRedstone flight been a few weeks earlier, in time to beat the Vostok into space, few people would have later cared about the technical difference between sub-orbital and orbital

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missions. The United States could have declared the space race won and gone on to other interests, and the decades that followed might have been filled with, at best, Geminiclass orbits and Skylab-class space stations. It is a truism that the greatest athletic records are set when the best athletes compete head to head, each wringing out the superior performance from other competitors. In the same vein, Vostok spurred on Americans via a combination of humiliation, egotism and outright terror, and similar motivations drove Soviet space officials. Today, the Cold War that fueled the space race is gone, but perhaps another Vostok-type shock may come again in the future, to spark a similar U.S. surge. In the meantime, international coordination and joint projects are attractive for many reasons, but speed, economy and efficiency are not among them. Third, Vostok gave the Soviets another, crowning first of which to be genuinely proud. Consider the preceding years, as the Russians struggled with their fear of The West and their inferiority complex toward Western science, technology and weapons. Phony series of what were called Russian firsts were a poor domestic propaganda substitute for reality, and xenophobia (stoked for political purposes by the Kremlin) expressed itself in both internal and external violence. But with the space successes of Sputnik, Lunik, Vostok and others, the Russians basked in new world-wide admiration, and they reveled in the unaccustomed respect. This in turn coincided with (and may in no small part have contributed to) the relaxation of paranoia with which the Russians had viewed the outside world. Their space successes allowed them to feel they had come of age and could take their place in the big league of modern nations. Details of that world-shaking, world-circling feat have faded over the decades. Contemporary Soviet propagandistic lies about the flight path and landing profile have been exposed, repudiated and forgotten. Equally shameful Western rationalizations, such as the false belief that the flight was a fake, or was preceded by the slaughter of a legion of secret cosmonauts, or was due only to the Soviet Union's capture of "better Germans" also have faded into deserved obscurity. The fact that the pioneering flight was made is bound to survive in human consciousness indefinitely, as further details begin to fade. Uncounted millennia from now, when the names of 20th century presidents, premiers and even nations will slip from human memory, Yuri's name and smile will shine on, and rightly so53.

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Este texto foi originalmente publicado em Space Qews, 8 – 14 de Abril de 1991. 52


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Le printemps de Youri Por André Dupont Revenons au 12 janvier 1966 : Gagarine est chargé de remettre un cadeau à S. P. Korolev pour son anniversaire. Mais Korolev est hospitalisé depuis le 5 janvier. Il décèdera des suites de l’intervention chirurgicale le 14 janvier. Gagarine sera profondément marqué par la disparition de son « patron ».

Soumis à de nombreuses obligations politiques, nationales et internationales, depuis son vol du 12 avril 1961, Gagarine laisse paraître des signes d’un assombrissement de sa personnalité, même s’il a su gérer les deux faces de sa personnalité : celle de Héros de l’Union Soviétique et celle d’un homme, qui avec l’expérience, avait acquis plus de philosophie et de sagesse…… Le Bourget 1965 Gagarine est aussi frappé de l’interdiction de piloter un avion: c’est une grande peine pour lui de voir ses camarades cosmonautes s’entraîner sur avion de chasse. Il n’aura cesse de « harceler » Kamanine (directeur de l’équipe des cosmonautes) et Kouznetsov (directeur de la Cité des Etoiles) pour obtenir l’autorisation de reprendre son pilotage d’avion. Aussi quand il peut à nouveau reprendre son entrainement de pilote, l’espoir renait: voler, voler dans le cosmos Jusqu’à ce jour du 27 mars 1968. Ce jour-là, il doit effectuer un entraînement avec instructeur pour obtenir l’autorisation de voler seul. Son instructeur est Vladimir Serioguine, très expérimenté.

Une partie de son légendaire, et réel, sourire vient de se fissurer. Il déclarera à la veuve de Korolev: « Je ne suis plus Gagarine si je n’emporte pas sur la Lune les cendres de Sergueï » Le 23 avril de l’année suivante, 1967, son camarade Komarov décolle à bord du premier Soyouz habité. Ordre ayant été donné de procéder au lancement avant les fêtes du 1ier mai, malgré les imperfections du vaisseau et de ses préparatifs. Gagarine le sait et regrette encore plus l’absence de Korolev.

Il passe les journées précédentes d’une manière très habituelle, même s’il sait que ce vol est important. Il rend visite à son épouse Valia, hospitalisée. Il entretient sa Matra Djet, voiture que lui a offerte la firme Matra lors de sa venue au salon du Bourget, 1965 et avec laquelle il aimait aussi « piloter»!!! Le matin du 27 mars il a oublié son laissez-passer. Gagarine n’entendant pas user, abuser de son statut, retourne à son appartement pour le prendre. (Les russes sont souvent superstitieux: revenir à son domicile parce qu’on a oublié quelque chose est un mauvais présage). Quand Gagarine et Serioguine décollent de l’aérodrome de Tchakarov avec leur MIG15 vers 10H20, ils n’ont pas de données météo, elles leur seront communiquées pendant le vol. A 10H25, l’autorisation leur est donnée d’effectuer l’entrainement. A 10H30, Gagarine demande l’autorisation de rentrer à la base, plus tôt que prévu : autorisation accordée.Ce seront les dernières paroles de Gagarine. Quelques secondes plus

Très rapidement des anomalies apparaissent, obligeant le retour prématuré du Soyouz. Komarov devra prendre les commandes manuelles pour effectuer la désorbitation, ce qu’il réalise parfaitement. Malheureusement pour lui, les systèmes de parachute principal et secours vont défaillir. Komarov s’écrase au sol et décède dans le choc et l’incendie du vaisseau. Gagarine, doublure de Komarov est extrêmement marqué par ce fait dramatique. Ceci signifie également sa « mort » en tant que pilote-cosmonaute. Les « hautes instances » du parti le font retirer de la liste des cosmonautes aptes au vol. Son rêve de Lune, de retourner dans le cosmos, se brise.

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tard, l’infatigable sourire de Gagarine vient de se briser définitivement comme une de ces belles porcelaines que l’on laisse malencontreusement tomber alors qu’on y tient beaucoup L’épave de l’avion sera retrouvée vers 15h près du village de Novosselovo. Ce n’est que le lendemain que les restes de Gagarine seront retrouvés. Dans son blouson d’aviateur, une photo de Korolev………. Peu importe les conclusions des enquêtes : altimètre défaillant, données météorologiques erronées, évolution d’un SU15 (1) dans le périmètre de l’entrainement du MIG15, un symbole mondial vient de disparaître, bêtement. Bien plus tard, Alexis Leonov et Sergueï Bielotserkovski (directeur d’étude de Gagarine à l’académie Joukouski) reprendront toutes les données disponibles, pour faire la lumière sur la disparition de leur ami, pour honorer la mémoire de celui-ci.

d’enfant, qui me trottait dans la tête depuis que j’avais entendu à la T.S.F (comme on disait à l’époque pour la radiodiffusion) ce bip-bip de Spoutnik, ce premier satellite. Ils étaient partis tous les deux de « là-bas », lieu secret, quasi-inconnu. (De Gaulle premier étranger à visiter le cosmodrome le fit en 1966). Ce rêve, 45 ans après ce premier tour de terre par un humain, s’est réalisé. Merci monsieur Gorbatchev !!! On ne revient pas intact d’un séjour « là-bas », à Baïkonour. N’est pas Rui? Mon plus beau souvenir est ce flacon de terre ocre que j’ai rapporté de « là-bas ». Terre que j’ai prélevée près du pas de tir Gagarine et au pied de l’arbre de Gagarine dans l’allée des cosmonautes. Si Gagarine n’est pas allé déposer les cendres de Korolev sur la Lune, son âme est surement dans cette terre de « làbas »

J’avais 19 ans l’année de la disparition de Gagarine et cette disparition m’a renforcé dans l’espoir de réaliser ce rêve Bibliographie : (1) Two sides of the Moon, Alexis Leonov Gagarine ou le rêve russe de l’espace, Yves Gauthier Photos: http://www.rtc.ru/encyk/gagarin/foto.shtml

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A árvore de Gagarin (Fotografia: André Dupont)

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親父の 親父の背中 Por Yoh Mizumoto 打ち上げ前日の11日、ガガーリンとチトフの2人は、 発射場の近くに設営された小屋に入った。夕刻、彼ら

発射場へ到着すると、2人はコロリョフやカマーニン

はカマーニンと共に軽い食事を取り、21時半には床に

、戦略ミサイル軍司令官・モスカレンコや国家委員会

ついた。

委員長・ルドネフらの出迎えを受けた。コロリョフは 、明らかに疲労の表情を隠せなかった…積もる不安に

ところで、彼らには就寝の段階で、脈などを測定する

加え、この頃既に、日頃の健康状態、特に心臓があま

センサーが取り付けられていた。しかも、医師団は彼

りよくなかった。

らに内緒でベッドにも細工を施し、寝返りの回数など を記録するセンサーを取り付けていたという…医者と

彼はガガーリンに、送別の言葉をかけた。写真(下)

いうのは、コワいものである(笑)。

は、そんなワンシーンを切り取ったものである。左に ガガーリン、右で帽子を被っているのがコロリョフ、

なお、ガガーリンは何と、朝まで「爆睡」していた。

中央に立ち、穏やかな表情で2人を見つめるのはモス

コロリョフは隣の小屋でベッドに入ったものの、

カレンコ。

「明日の打ち上げは、それまでのテストから考えて、

ちなみにこのシー

成功する確率は約50パーセント…」

ン、私が一番気に 入っているものの

不安だらけで、一睡もできなかったといわれる。

1つだ。なんと感 慨深い瞬間であろ

う。ガガーリンの

12日午前3時

自信に満ちた顔、

、発射場での

そして、コロリョフの不安そうな姿勢…表情は殆ど伺

作業が始まり

えないが、その横顔と頭の傾き加減、その背中に漂う

、6時には完

哀愁は、我々に彼の気持ちを想像させるには充分すぎ

了が報告され

るものを与えている。まるで旅立つ息子を見送る「親

た。7時半、

父の背中」だ。

ガガーリンら も目覚め、軽

「最初に宇宙を飛んだガガーリンは、偉大だった」長

い食事とメデ

年言われ続け、今でもそうだが、コロリョフの仕事が

ィカルチェックの後、宇宙服を着込み、移動用のバス

明らかになるにつれ、「ガガーリンよりもコロリョフ

に乗り込んだ。バスには他の宇宙飛行士らや関係者、

が偉大だった」という見方も増えてきた。

それに、全てを記録する2人のカメラマンも同席した 。

なるほど、そうかもしれない…ガガーリンを見出した のは、コロリョフだ。だが、ガガーリン無くして、コ

車中、ガガーリンは普通に振る舞い、ジョークも飛ば

ロリョフの気持ちが燃えただろうか。彼は日頃から、

し、緊張感は無かったという…ただ、物思いにふける

ガガーリンに全幅の信頼を置いていた。死ぬ直前に会

瞬間はあったが(上写真:前がガガーリンで後ろがバ

って話をしたのも、ガガーリンだった。どちらが上か

ックアップのチトフ)。

、という議論はナンセンス…この二人が出会ったとい

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Em Órbita うことが、全くもって「歴史の奇跡」と言えないだろ

こに置かれたテーブルには緑のクロスがかけられ、そ

うか。

の上には通信機と、赤い電話が1台置かれた。もし打 ち上げの際ロケットに異常が生じた場合、ガガーリン

加えて、この一枚からは、冷戦時代に積み上げられた

は(戦闘機の緊急脱出のように)船外に放り出され、

“恐ろしいソビエト”の臭いが全く感じられない。敢え

パラシュートで救助されることになっていた。電話は

て言えば、ヘルメットの上に書かれた「CCCP」(ロ

、その指令(パスワード)を送るためのものだった。

シア文字で“ソビエト社会主義共和国連邦”を意味)の

ちなみにこのパスワードは、コロリョフを含めて3人

文字ぐらいか。中央のモスカレンコは、核ミサイルを

しか知らなかった。

管理する戦略ミサイル軍司令官。肩書きと職内容だけ を聞くとと怖々しいが、写真で見る限り、「ただの人

打ち上げ15分前、彼はグローブをはめ、5分前、ヘル

の良さそうな爺さん」である。勿論、軍トップに上っ

メットのバイザーを閉じた。ガガーリンには、緊張は

た男だから、それなりにオモテもウラもあるのだろう

なかった…コロリョフらは緊張の極を迎えようとして

。だが、「ソビエトとは一体、なんだったのだろうか

いたにも関わらず。8時41分、カマーニンは呼びかけ

?」そんな、悲哀に似た疑問が、ソ連宇宙開発を知る

た。

につれ、オーバーラップしてくる…。 カマ「こっちの声は、聞こえるか?」 ガガ「はい、よく聞こえます。こちらはどうですか

◇ 最後の挨拶が

?」 カマ「君の脈は64で、呼吸数は24だ。普通通りだな

終わった後、 ガガーリンは

」 ガガ「了解。私の心臓が動いていることの証ですね

宇宙船へ乗り 込むためのエ

レベータへ誘 導された。そ

…ジョークを言う余裕もあったようである。だが、打

こで、皆に向

ち上げ直前、彼の脈は157まで跳ね上がったことが記

かって大腕を

録されている。

振り、力強く 旅立ちを誓っ

た。チトフは

今、関係者が緊張の時を迎えた。多くの

この段階で残

技術者、政府関係者達の漲る汗と涙の結

された…その

晶が、まさに実ろうとしていた。セルゲ

後の二人の運命が分かれた瞬間だった。

イ・パブロビッチ・コロリョフ…空を飛 ぶことに憧れ、航空宇宙の志を抱くも、

午前7時10分、ガガーリンは宇宙船に乗り込んだ。こ

収容所へ放り込まれ、奇跡の生還を果た

れから打ち上げまでの約2時間、彼は待ち続けるのだ

し、優しい顔とは裏腹に、その強すぎる

が、退屈だったようである。管制部の「音楽でもかけ

意志は国家をも煽り、スプートニクを打

ようか?」という問いかけに対し、「うん、頼む」と

ち上げ、米国をロケットレースへ引きず

答えている。

り込んだ男。ついに、人間が宇宙を飛ぶ …彼とその仲間達の、若き日の夢が叶お

コロリョフに対しては、特製の部屋が設けられた。そ

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うとする瞬間だった。

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Em Órbita

R-7ロケットのターボポンプが起動、メーンエンジ

しい!」

ンに燃料が送られ、火がついた。最初は小さな炎だっ たが、すぐに力強い火炎に代わり、ぐんぐん推力を増

打ち上げは順

していく、巨大な白煙がもうもうと立ち上がる。一端

調に進み、R

火がついたらもう、止まることを知らないロケット。

-7ロケット

やがて、巨大な機体が発射台から浮かび上がろうとし

は切り離され

た!

、約10分後、 宇宙船は無事

1961年4月12日午前9時6分59.7秒(モスクワ時間)、ガガ

、周回軌道へ

ーリンを乗せたボストーク1号は天地を切り裂く轟音

到達した。地球を約90分で1周する軌道である。

と共に、ゆっくりと発射台を離れた。この、歴史の歯 車が動き始めた瞬間、彼は叫んだ

無事に軌道へ到達すると、当初の手順通り、全世界へ 発表することになった。それを受け、打ち上げ成功の

「パイェーハリ!」

暗号連絡が国営タス通信へ送られた。しかし…その後 の手違いのため、発表が遅れてしまった!宇宙基地の

日本語に直すと「しゅっぱーつ!」「それいけー!」

皆は、ラジオがなかなか発表しないため、不安を募ら

という意味になるだろうか。

せていた。だがついに、打ち上げから55分後、ラジオ から高々と打ち上げが宣言された(写真:船内のガガ

いや、某アニメではないが、「いきまーす!」の方が

ーリンを映したモニター)。

いいだろう(笑)。 「世界初の有人宇宙船“ボストーク”が飛行士を乗せ、 一方、コロリョフは緊張と興奮の極にあった。ロケッ

ソビエト連邦より打ち上げられた。飛行士はソビエト

トに何か事が起こったら…とにかく、無事に地球を周

社会主義共和国連邦市民、ユーリ・アレクセイビッチ

回する軌道へ達することだけを願っていた。

・ガガーリン空軍少佐である!」

と、その時だった。ロケットの状態をリアルタイムで

彼は、もともと中尉であった。この時点で、少佐に特

知らせる、いうなら心電図に相当する信号が、数字の

進したことになる。これは南米沖を飛行中だったボス

「3」を打ち始めた。これは、正常なら「2」、異常が

トークにも連絡され、ガガーリンはそれを喜んだ。

生じたら「5」を発するようになっていた。「3」など あり得ないはずだった…数秒後、元の「2」に戻った

だがこの時点で連絡が行われた真の心は、彼が生還で

が、その一瞬は、関係者の寿命を縮めたに違いない。

きなかった時を考えての配慮だったと言われている。

ロケットの加速に伴い、ガガーリンは強い「G」を感

ちなみに、米国はこの発表の前、すでに有人宇宙船が

じていた。最大で5G程度を感じたという…これは、

打ち上げられたことを察知していた。打ち上げ20分後

体に体重の5倍の力を受けたことを意味する。9時10分

、アラスカで無線が傍受され、船内のガガーリンの姿

、コロリョフは話しかけた。

も映し出されていたのである。

コロ「全ては順調だ。どんな気分だ?」

ガガ「地球が見えます。気分は良好です」

彼の任務は、窓から地上を眺め、また、宇宙船の計器

コロ「いいぞ!よくやった!全て順調だ」

をチェックすることだけだった。特別な実験などのミ

ガガ「雲が見えます。陸も…美しいです、なんと美

ッションは組まれておらず、とにかく、無事に帰って

Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

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Em Órbita くればそれでよかったのである。

れず燃え尽きてしまう可能性がある。だが、中のガガ ーリンにはどうすることもできなかった。彼はこの時

以前の号でも度々述べたが、飛行制御は全て、地上か

の様子を次のようにまとめている

らの遠隔操作と自動装置で行われていた。手動制御の 余地は残されていたが、そのためには特別な「ロック

「…分離を待ち続けました。しかし、分離は置きませ

」を解除せねばならず、それは6つの数字を組み合わ

んでした。逆噴射ロケットの停止後10秒かそこらで装

せた暗号になっていた。ガガーリンにはそのうち3つ

置部分は切り離されることになっていました。分離装

が教えられておらず、代わりに、それらを書いた紙を

置起動後、パネルの照明は全て消えましたが、暫くす

入れた封筒が渡されていた。地上と連絡がとれなくな

ると再び点灯しました…」

るなど、緊急事態の時だけそれを広げて、ロックを解 除するというわけである。 帰還後、「地球は青かった」と不滅の言葉を残した彼 は、どのような地球の姿を見たのだろう…。 地球1周に達しようとしていた10時25分、船の姿勢が 変わり、逆噴射ロケットが作動した…一番懸念されて

カプセルと装置を繋ぐケーブルが完全には離れていな

いた逆噴射システムが無事に作動したことで、コロリ

いことを意味している。

ョフらは胸をなで下ろしたに違いない。それはちょう どアフリカ上空だった。その後、カプセルと各種装置

「…未だに離れる様子がありません。"バレリーナ状

を詰めた部分が切り離され、カプセルだけが地上に帰

態"は続いています。しかし多分、無事に着地すると

還することになっていた。だが、最後の最後で、最大

思いました。なぜならソ連は広大な領土なので、どこ

のピンチが訪れた。

かに落ちるのは間違いないからです。それで、私は" 異常なし"の信号を発信しました。」

「逆噴射は正確に40秒続きました。エンジンが止まっ た後、鋭い衝撃があり、宇宙船は回転を始めました。

結局、最終的に分離したのは、約10分後だった。もう

回転は、1秒間に30度の角速度です。ちょうど、“バレ

少し続いていたら、彼はカプセルもろとも、燃え尽き

リーナ”のような状態になりました。窓からアフリカ

ていたかも知れない(因みにこの事実は、1991年にな

が見えたかと思うと地平線が見え、空が見えます。窓

ってから明らかにされた)。彼は大気圏突入の際の様

からはいる強い太陽光を足で辛うじて遮りました」

子を次のように振り返っている

カプセルと装置部分は4本の鎖で結びつけられており

「突然、紫色の光が窓から入ってきました。宇宙船は

、逆噴射後、爆薬が起動しそれらが切れるような設計

振動し、コーティング(耐熱材)が燃えているのを感

になっていた。しかし、そのうちの何本かが切れず、

じました…徐々に船内の温度があがり、体に重力が加

2つは緩やかにつながったまま、回転を始めたのだっ

わり始めるのを感じました。…約10Gを感じたでしょ

た!ちょうど、2つのおもりを紐で結んで回転させな

うが、これはホンの2、3秒ほどでした…」

がら投げて敵を絡め捕る、忍者の武器のような状態で ある。

高度7000mでカプセルのハッチが開き、彼は外へと投 げ出され、パラシュートが展開した。カプセルの方も

そのままでは加速がつきすぎ、カプセルは熱に耐えき

Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

独自にパラシュートを展開し、降下していった。

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Em Órbita 「鉄道線路が見える。川にかかった橋、長いボルガ川

を聞いていたため、近づいたガガーリンに、本当のこ

が眼下に広がる…」

となのか聞き返した。

コロリョフは、カプセルの大気圏突入後、書記長・フ

ガガーリンは再びニッコリ笑うと、「本当です!」と

ルシチョフに電話をかけた。「パラシュートが開きま

答えたという。

した。彼は着地しました。宇宙船はOKのようです! 」これに対しフルシチョフは返答した。「彼は生きて

いるのか?彼は信号を送ってきたのか?彼は生きてい

ガガーリンは何事もなく、救助隊に収容された。バイ

るのか?生き

コヌール宇宙基地では、無事の一報が基地中に広がっ

ているのか?

ており、大騒ぎの最中だった。関係者の間でシャンペ

…」

ンやウォッカがまわされた…コロリョフは完全に我を 忘れた興奮状態で、それまで見せたことのなかったよ

ガガーリンは

うな上機嫌に浸っていたという。

、無事に地表 に舞い降りた

関係者は着地地点へ移動し、カプセルのチェックを行

。カプセルも

った(右写真)。その後、ガガーリンはコロリョフと

また、地表に

面会し、報告した

降りたが、ドスンという鈍い衝撃音が走ったに違いな い。

「全て完璧でした、セルゲイ・パブロビッチ。完璧で す」

フライトタイムは108分。最高高度は約302km 、飛行距離は約38620km。

「息子」の立派な帰還にコロリョフは、感動のあまり 、もはや声が出なかったと言われる。

彼が降り立った近くでは、年老いた女性が農作業をし ていた。また、彼女の傍には手伝う孫娘と1頭の牛が

4月14日、モスクワに戻ったガガーリンは、フルシチ

佇んでいた。

ョフ書記長以下、政府高官らへの報告に臨んだ。勿論 フルシチョフはそれらも大いに、政治的に利用した。

老女は突然舞い降りた、赤い服を着た男に恐怖を感じ

派手な演出で正に「報告式」が挙行されたのだった。

、小さな孫娘は背中に隠れてしまった。前年に起こっ た米国の偵察機「U-2」の撃墜と、そのパイロット

飛行機で到着したガガーリンを待ち受けていたのは、

であるゲーリー・パワーの拘束事件を老女は思い出し

大観衆の喝采だった。タラップを降りると、長い、長

、再び別の米国人が降りてきたのかと思ったという。

い赤じゅうたんが敷かれ、その上をゆっくりと、優雅 に歩いていくガガーリン。先の方ではフルシチョフら

「おーい…!私はソビエト連邦の市民です!いま宇宙

が待ち受けており、そこへ到着すると、敬礼、任務を

から帰ってきたんです!」

完了したことを報告した。

「怖がらないでください!それから、電話を貸してく

彼は、世界中も訪問した。行く先々で歓迎レセプショ

れませんか!」

ンが開かれた。「共産主義の輝かしい勝利!」フルシ チョフはご満悦だった。

彼は満面の笑みを浮かべながら、そのように叫んだ。 老女らは、ラジオで祖国が人間を宇宙に飛ばしたこと

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だが彼は以前、打ち上げ日時を決めるにあたり、イチ

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Em Órbita ャモンをつけたことがある。「5月メーデーのお祝い

のは飛行機のみで、しかもインストラクター同乗の下

に華を添えることができますが…」という現場の提案

、というものだった。

に、「大切な日にバタバタ騒ぐのは…」と渋っていた のだ。

1968年3月27日。その日、彼はミグ15戦闘機に乗り込 み、滑走路を離陸した。彼はとにかく、飛行訓練を再

本音は、失敗した時に自分のメンツがつぶれるのを恐

開したかったようである。周囲は「おとなしくしてい

れていただけである。

て欲しい」という気持ちで一杯であったにもかかわら ず…彼の最初の飛行許可は却下されたが、2度目のそ れは、認可された。(写真・ラストフライトの直前) 10時19分、機体は宙に浮いた。その12分後、着地体勢 に入った彼らは、そのまま立ち木に向かって突っ込ん だ。最後のフライトは、僅か12分で終わった…墜落は 、乱気流が原因と言われている。 ◇ 今日、ソユーズロケットが工場から搬出されるのは、 午前7時である。 ガガーリンのボストークがそうだったからだ。 ロシアの男性宇宙飛行士は、発射場へ向かう途中、バ スを降りて立ち木(タイヤという話も)に放尿する「 儀式」を行う。 ガガーリンがそうしたからだ。 フライトに先立ち、必ず、モスクワにある、ガガーリ ンが生前使っていた書斎を訪問、献花する。この書斎

「輝かしい勝利」…しかし、こんな指導者の下で、心 底そう思っていた人間がどの程度いたのか、私には疑 問である。 ◇ ガガーリンはその後、再び宇宙を飛ぶことはなかった 。1967年、コマロフが事故死したソユーズ1号(開発 史(6)参照)のバックアップとして選ばれたことは あったものの、「重要な人間を不慮の事故で死なせて はならない」ということで、67年8月には宇宙飛行士 リストそのものからも除籍されている。今後許される

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は彼が死んだ時点のままに保存されている(写真・彼 が使用していた机)。日めくりは27日、壁時計は10時 31分で固定されたまま…。 彼の死後、宇宙飛行士訓練センターは「ガガーリン訓 練センター」と改称されている。毎年4月12日には、 モスクワで記念式典が開かれている。 ガガーリンは今なお、ロシア人の心の中に生きている のだ。 補足:一連の流れを動画にしたドキュメントビデオが

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Em Órbita 存在します→ユーリ・ガガーリン フライトビデオ ガガーリンがボストークに乗り込むところから始まり

注: 当ページ中央に記載の5枚のカラー画像は、

、コロリョフの力強い命令やガガーリンの「パイェー

近年、国際宇宙ステーションから撮影されたものです

ハリ!」の声など、見応えがあります!

【Reference】どの資料も詳しくわかりやすく、推薦です! Sven's Space Place http://www.svengrahn.pp.se/ NASA website http://www.nasa.gov S.P. Korolev Rocket and Space corporation Energia http://www.energia.ru/english/index.html Encyclopedia Astronautica (C)Mark Wade http://www.astronautix.com/ Videocosmos http://www.videocosmos.com “Sputnik and the Soviet Space Challenge” by Asif A. Siddiqi, University Press of Florida, 2003 “Disasters and Accidents in Manned Spaceflight” by David J. Shayler, Springer Praxis, 2000 「月を目指した二人の科学者」的川泰宣著

中公新書(1566), 2000

朝日新聞1998年1月4日日曜版「100人の20世紀」・ガガーリン編

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Yuri Alexeyevich Gagarin 1934 – 1968 Por Michael Cassutt de Lyubertsy durante dois anos seguida pela Escola Técnica Industrial de Saratov. Mas enquanto estudava para se tornar um trabalhador fabril, Gagarin juntou-se num clube de pilotos amadores e aprendeu a voar. Um dos seus instrutores recomendou-o para a força aérea e Gagarin ingressou na Escola Superior da Força Aérea de Orenburg em 1955. Após finzlizar os seus estudos em Novembro de 1957, foi oferecida a Gagarin a hipótese de se tornar instructor em Oreburg, mas ele optou pelo service na Frota do Norte. Durante dois anos foi piloto baseado em Zapolyarny, a Norte do círculo Ártico, até de voluntarear para o grupo de cosmonautas em Outubro de 1959. No mês de Março seguinte, após meses de testes medicos, psicológicos e politicos, Gagarin foi um dos 20 jovens pilotos que se apresentaram no Aeroporto Central de Frunze em Moscovo para iniciar o treino para o voo especial tripulado.

Yuri Gagarin tornou-se na primeira pessoa a realizar um voo especial quando tripulou um veículo especial Vostok numa única órbita da Terra na manhã da Quarta-feira, 12 de Abril de 1961 Era um dia de Primavera sem nuvens no centro de lançamentos de Baikonur nas estepes áridas do Cazaquistão quando os 24 motores do primeiro estágio do foguetão R-7 entraram em ignição. “Poyekhali”, disse Gagarin à medida que o foguetão se elevava. “Aqui vamos nós!” Em minutos ele estava no espaço dizendo que se sentia bem, que a Vostok estava a funcionar. “Eu consigo ver o horizonte,” disse, descrevendo imagens que nenhuma humano havia visto antes. “Tem uma espécio de halo, um arco-íris…” Ele passou sobre o Oceano Pacífico e sobre a América (e pensou em Alan Shepard, que Gagarin acreditava vir a ser o primeiro a ir ao espaço). Sobre Africa os retro-motores funcionaram, tirando o veículo especial de órbita. Após a reentrada, que se tornou complicada devido à falha na separação dos retro motores, Gagarin ejectou-se da Vostok tal como planeado e desceu de pára-quedas em segurança para um campo cultivado de uma quinta colectiva perto de Saratov. O voo de Gagarin teve uma duração de 1 hora e 48 minutos. Gagarin nasceu a 9 de Março de 1937 na vila de Klushino, região de Smolensk a Oeste de Moscovo. O seu pai era um carpinteiro, e afamília Gagarin viveu sobre ocupação alemã na vila de Gzhatsk durante vários anos durante a Segunda Guerra Mundial. Após de formar na escola secundária em 1949, Gagarin frequentou a Escola Técnica de Agricultura Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

Rapidamente Gagarin tornou-se um dos candidatos para o primeiro voo e em finais de Março de 1961 foi indicado pelo director do treino dos cosmonautas, O Tenente-general Nikolai Kamanin, que ele seria o piloto do primeiro Vostok. Uma reunião da Comissão Estatal a 8 de Abril de 1961, confirmou a nomeação de Gagarin.

Após o seu histórico voo Gagarin passou muitos dias e semanas a participar em encontros públicos e viagens, visitando a Checoslováquia, Grá-bretanha e Canadá. Foi-lhe difícil dedicar tempo à sua carreira de piloto activo e de cosmonauta e viu-se relegado para trabalhos administrativos. Ele foi, de facto, nomeado comandante da equipa de cosmonauta a 25 de Maio de 1961, um posto que manteve até Dezembro de 1963 quando foi nomeado director-adjunto do Centro de Treino de Cosmonautas. Nestes postos ele dirigiu o treino das primeiras mulheres cosmonautas (que chegaram ao centro em Março de 1962) e serviu como operador de comunicações para as missões conjuntas da Vostok-3 e Vostok-4, Voskhod-1 e Voskhod-

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2. Esteve também activo politicamente como delegado aos Congressos do Partido em 1961 e 1966. Até Junho de 1964, Gagarin esteve proibido de voar e treinar de forma active, uma restrição que ele achou crescentemente frustrante. Fez repetidos apelos ao General Kamanin para que lhe fosse permitido treinar de noco, e em Abril de 1966 Kamanin acedeu, permitindo que Gagarin se juntasse ao grupo de cosmonautas, iniciando assim o treino para um novo voo especial.

Após a reentrada, porém, os pára-quedas na cápsula de Komarov não se abriram devidamente. O veículo despenhou-se no solo e rompeu em chamas, matando Komarov e levando o programa especial Soviético a uma paragem repentina. Gagarin participou nos serviços funebres de Komarov, e esperou envolver-se na investigação e regressar ao voo. Mas cinco dias após o acidente, o General Kamanin removeu de novo Gagarin do treino e foi probido de voar. Ao longo de 1967 Gagarin continuo os seus estudos na Academia de Engenharia da Força Aérea em Zhukovsky (formar-se-ia em Fevereiro de 1968) e supervisionou o treino não só para os voos orbitais da Soyuz, mas também para as missões Soyuz-Zond circumlunares.

As nomeações prelminares para a missão Soyuz-1 / Soyuz2, feitas em Setembro de 1966, originalmente não incluiam Gagarin. Mas ele lutou pela sua inclusão, e foi finalmente nomeado como segundo ou piloto suplente de KOmarov na Soyuz-1. Esperava-se que participasse numa missão Soyuz de uma semana em 1967.

Mas após o seu lançamento a 23 de Abril de 1967, a Soyuz1 de Komarov viu-se com severos problemas técnicos: um painel solar não se abriu apropiadamente, deixando o veículo especial com escassez de energia. Também ocorreram problemas com o sistema de controlo de attitude. O lançamento da Soyuz-2 foi cancelado e foi ordenado o regresso da Soyuz-1.

A 12 de Março de 1968, após a finalização dos trabalhos académicos de Gagarin, Kamanin foi capaz de permitir que este voltasse aos treinos. Gagarin imediatamente se juntou aos cosmonautas Shatalov, Volynov, Gorbatko e outros em voos para similar a ausência de gravidade a bordo do Tu104, e requelificar-se como piloto de aviões a jacto. Às 10:19 da manhã de 27 de Março de 1968, Gagarin e o instructor de voo Vladimir Seregin levantaram voo da base aérea de Chkalov perto do Centro num MiG-15. Após um pedido dos pilotos para uma alteração de curso, nada mais foi escutado. Os controladores no solo ficaram alarmados. Foram ordenados helicópteros de busca e salvamento levantassem voo. Outras bases na região foram alertadas. As horas foram passando sem qualquer palavra. Finalmente foram avistados destroços numa floresta a pouco mais de 1,6 km da vila de Novoselovo. O próprio Kamanin voou até

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ao local, percorrendo neve profunda até ao local da cratera que estava agora cehia de água da neve que se havia derretido. Era já anoitecer e a escuridão tornou impossível verificar o que havia ocorrido. Somente com o amanhecer do dia seguinte é que os restos mortais de Gagarin foram encontrados. Uma investigação e reconstrução do acidente 20 anos mais tarde concluiram que o MiG-15 de Gagarin e de Seregin havia sido apanhado num vortex de outro avião a jacto e entrou numa pirueta. Os pilotos recuperaram, mas viram-se num mergulho extreme a uma altitude não muito superior a 1.000 pés. Foram incapazes de sair do mergulho ou mesmo ejectarem-se. Gagarin foi o tema de vários trabalhos biográficos em todo o mundo, incluindo “Órbitas de uma Vida” por Oleg

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Nudenko (1971), “Meu IrmãoYuri” por Valentin Gagarin (1973), “Qão Poderia Ter Sido de Outra Forma” por Pavel Popovich e Vasily Lesnikov (1980), “108 Minutos e Toda Uma Vida” pela sua esposa Valentina (1981), “Palavras Sobre Um Filho” pela sua mão Anna (1983) e “Gagarin” por V. Stepanov (1986). As autobiografias incluem “O Meu caminho para o Espaço” (1961) e “Chama” (1968). Gagarin também foi co-autor de vários trabalhos técnicos, incluindo “Sobrevivência no Espaço” (1969). Uma cratera no lado oculto da Lua, um navio de rastreio soviético, a Academia da Força Aérea do Estandarte Vermelho (Ordem de Kutuzov), o Centro de Treino de Cosmonautas e a sua cidade natal Gzhatsk, receberam o nome de Yuri Gagarin, o “primeiro cidadão” das viagens espaciais

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Lançamento de Yuri Gagarin nos jornais em Portugal Tal como seria de esperar, a missão espacial de Yuri Gagarin a bordo da Vostok-1 a 12 de Abril de 1961, mereceu destaques de primeira página nos jornais em Portugal. As várias edições do dia 13 de Abril traziam o relato da viagem de Gagarin, mas o destaque não era o de uma notícia tão importante que reflectia o acontecimento do dia anterior. As referências à missão de Gagarin surgiram misturadas com outras notícias nacinais e estrangeiras e somente o jornal Comércio do Porto revela uma fotografia de Yuri Gagarin na sua edição de 14 de Abril de 1961. No Jornal de Notícias de 13 de Abril, e para além da chamada na

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primeira página, o acontecimento é desenvolvido em mais pormenor na última página. Ambos os jornais voltam a referir a notícia a 14 de Abril com mais alguns detalhes sobre o voo, mas as edições do dia 15 já não fazem referência ao primeiro voo espacial tripulado. Para compreender estes destaques temos de ter em conta o ambiente político em Portugal. Com a imprensa dominada e sobre as rédeas curtas de uma Comissão de Censura, é natural que as referências ao primeiro voo espacial tripulado se ficassem pelo simples relato possível dos factos ocorridos, sem entrar em grandes hipérboles jornalísticas.

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As primeiras páginas do Comércio do Porto e do Jornal de +otícias (página anterior) a 13 de Abril de 1961 onde a referência à missão de Yuri Gagarin surge por entre várias notícias nacionais e estrangeiras. A 14 de Abril, o Comércio do Porto publica (em cima) uma fotografia de Yuri Gagarin, sendo esta a primeira vez que os portugueses conheciam o rosto do primeiro ser humano a viajar no espaço.

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Sobre os autores Asif Siddiqi Professor Assistente na Universidade de Fordham, Asif Siddiqi especializou-se na História da Ciência e Tecnologia e em História da Rússia Moderna. A maior parte do seu trabalho viu a intersecção destes dois campos, isto é, a História da Ciência e Tecnologia na Rússia. Mais recentemente, tem-se dedicado à ciência e tecnologia pós-colonial, particularmente no contexto Sul Asiático. Possuí também um grande interesse na História da Cultura Popular. Presentemente as suas investigações incluem a relação entre a ciência e a tecnologia e a identidade nacional, estando particularmente interessado na construção de categorias, tais como “indígeno”, “caseiro”, “cedido”, “roubado”, etc. e como estas categorias são desenvolvidas pelos actores investidores para simplificar fluxos muito complexos ao longo de comunidades, culturas, e tempo. Recentemente tem estudado a relalção entre ciência & tecnologia e repressão. Utilizando o caso Soviético como ponto de partida, tem explorado a relação recíproca entre a repressão (coerção, emprisionamento, encarceração, execução) e a prática da ciência e engenharia. Lecciona cursos sobre a História da Ciência e Tecnologia, História Europeia Moderna, e História da Rússia. É autor de duas obras, “Challenge to Apollo: The Soviet Union and the Space Race, 1945-1974” publicado em 2000 pelo QASA History Office (este livro foi dividido em dois volumes que foram republicados em 2003 pela University Press of Florida com os títulos “Sputnik and the Soviet Space Challenge (vol. 1)” e “The Soviet Space Race with Apollo (vol. 2)”), e “The Red Rockets’ Glare: Spaceflight and the Soviet Imagination, 1857-1957” publicado pela Cambridge University Press em 2010. Asif Siddiqi é também autor de vários artigos e ensaios.

Manuel Montes Nascido em 1965, Manuel Montes Palacio, é um escritor freelancer e divulgador científico desde 1989, especializando-se em temas relacionados com a Astronáutica e Astronomia. Pertence a diversas associações espanholas e internacionais, tais como a Sociedad Astronómica de España y América e a British Interplanetary Society, tendo colaborado com centenas de artigos para um grande número de publicações, entre elas a britânica Spaceflight e as espanholas Muy Interessante, Quo, On-Off, Tecnología Militar, Universo e Historia y Vida. Actualmente elabora semanalmente o boletim gratuito “Qoticias del Espacio”, distribuído exclusivamente através da Internet, e os boletins “Qoticias de la Ciencia y la Tecnologia” e “QC&T Plus”, participando também na realização dos conteúdos do canal científico da página “Terra”. É colaborador do Boletim Em Órbita.

James Oberg Um dos mais conhecidos divulgadores e intérpretes da exploração especial, James Oberg é consultor da NBC News. Como contribuidor de numerosas publicações dedicadas à tecnologia especial, analise aprofundadamente os importantes feitos e desenvolvimentos das actividades espaciais em todo o mundo. James Oberg foi engenheiro especial em Houston, Texas, onde se especializou nas operações do vaivém especial para encontros e acoplagens em órbita, tendo também trabalhado em vários centros da NASA.

André Dupont É um entusiasta espacial francês que por duas vezes acompanhou Rui Barbosa em memoráveis visitas ao Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, e a outros importantes locais da cosmonautica russa. O seu sonho de criança foi cumprido em 2006 quando pela primeira vez vez uma visita emocional à plataforma de lançamento a partir da qual foi lançado o primeiro satellite artificial e o primeiro ser humano para o espaço.

Yoh Mizumoto Entusiasta e divulgador especial japonês, escreveu vários artigos sobre o programa especial soviético e russo.

Michael Cassutt Michael Cassutt é um famoso produtor de televisão norte-americano, argumentista e escritor. As suas obras mais notáveis incluem The Outer Limits, Eerie, Indiana, Beverly Hills, 90210 e a Twilight Zone. Para além do seu trabalho na televisão, Cassutt escreveu mais de trinta contos na area da ficção-científica e fantasia. É autor da encliclopédia Who’s Who In Space. Em Órbita – Vol.11 – .º 110 / Abril de 2011 (Edição Dourada)

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