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Inês Nunes

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UMA AVENTURA...

UMA AVENTURA...

A professora Inês nasceu em Mampula, Moçambique e só dois anos depois veio viver para Leiria. Sempre gostou muito de desporto (chegou a praticar patinagem artística), mas, neste momento, confidenciou-nos, apenas faz umas caminhada.

A Capela Sistina, de Miguel Ângelo é eleita com a “Grande Obra de Arte” e, numa outra vertente também artística, elege os U2 e os Queen como as suas bandas favoritas.

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Vamos conhecê-la um pouco melhor…

Espiral (ESP) - Qual a primeira impressão que considera passar às pessoas?

Prof.ª Inês Nunes (IN) - Antipatia.... Acho que sou uma pessoa reservada e não me dou logo a conhecer; normalmente sou muito observadora. Então, na primeira etapa, eu não falo muito, mantenho-me calada e olho para as pessoas... por isso é que tenho a sensação que quando as pessoas me conhecem não simpatizam muito comigo. Depois têm que aprender a lidar comigo e aí já ficam a conhecer a verdadeira Inês.

ESP - Onde estudou e o que recorda com mais carinho desse tempo?

IN - Estudei na universidade de Coimbra, na Faculdade de Letras, curso de História da Arte. Recordo os bons tempos que se vivem na faculdade, toda a amizade que existe, a diversão… é aquele tempo que não volta mais. Também tem um lado “negativo” porque se tem que trabalhar muito e, se temos objetivos na nossa vida, há sempre que trabalhar muito… mas a parte da diversão foi muito boa. Daqui a pouco é a vossa vez!

ESP - Sente que está na melhor fase da sua vida? Porquê?

IN - Não sei… acho que todas as fases são boas. Cada etapa da nossa vida tem algo de positivo, algo de bom. Quando era mais nova tive o nascimento e crescimento dos filhos; hoje em dia é uma fase um bocadinho mais calma e serena, já sai dessa agitação.

ESP - Sabemos que praticou patinagem artística. Como foi essa experiência?

IN - Patinagem artística foi… espetacular. Foi a coisa que mais adorei fazer. Era a minha grande paixão! Na altura, queria seguir Desporto e entrei para a patinagem para além de outras atividades que também praticava. Mas a patinagem artística era a minha paixão e adorei aquilo. Entrei para lá só porque praticamente me obrigaram... uma amiga minha disse-me para ir experimentar porque era muito giro e eu acabei por ir; experimentei e adorei.

Ainda hoje, sempre que posso, ponho os patins e tento andar um bocadinho... já não consigo fazer quase nada, mas ainda vou tentando (risos gerais).

ESP - Hoje em dia os nossos alunos (não falamos exclusivamente dos de Artes) não são tão sensíveis à expressão artística?

IN - Concordo… e até acho que, mais do que falta de sensibilidade artística, os alunos, em geral, tem falta de cultura, visto que a sensibilidade artística fomenta-se pelo gosto da cultura e pelo gosto do que nos rodeia, do passado… Os nossos alunos não estão preparados para isso e conhecem muito pouco do que os rodeia, mesmo os alunos das Artes.

Faz muita falta essa sensibilidade artística porque depois origina faltas de respeito para com a arte e com a cultura.

ESP - Considera que há muita diferença entre ser criança / adolescente / jovem, na sua altura, e nos nossos dias?

IN - Sim. (risos gerais). Não tem quase nada a ver.

É tudo, completamente diferente. Começando pelo respeito pelo outro. Nós eramos muito divertidos e brincávamos muito, mas sabiamos respeitar os outros, principalmente os mais velhos. E hoje em dia noto que a maior parte dos alunos não sabe respeitar as pessoas mais velhas.

A nossa responsabilidade também era diferente, cresciamos mais cedo… se calhar porque acabavamos por ter mais liberdade. Hoje em dia, os meninos não podem sair à rua por todos os perigos que existem e eu andava a brincar na rua até anoitecer e quando era de noite a minha mãe vinha à rua chamar-me - “Inês, vem jantar!”. Isto também me ajudou a saber defender-me e a viver a vida de outra maneira.

Hoje em dia, as crianças são superportegidas e não estão capacitados para enfrentar a vida sozinhas.

ESP - Quais os momentos impactantes que contribuíram para o rumo da sua vida?

IN - A minha lesão porque mudou completamente o rumo da minha vida. Eu adorava patinagem artística e, por isso, queria seguir

Desporto... mas a minha lesão no joelho alterou o rumo dos acontecimentos. Talvez hoje não estivesse no Colégio de São Miguel se tivesse seguido o rumo que queria inicialmente... se não tivesse tido a lesão.

ESP - Que episódio da História gostaria de ter presenciado? Porquê?

IN - Eu acho que presenciei o mais fantástico de todos aqui assim em Portugal: o 25 de abril! Eu já o vivi e é, assim, o primeiro grande acontecimento de que me lembro... tenho muitas memórias. Era pequenina, tinha cinco anitos, quase seis na altura, e lembrome de muita coisa. Lembro-me do 25 de abril, depois também me lembro muito bem do verão quente… Vivemos coisas muito engraçadas e que ficaram na minha memória. e acho que é um grande episódio histórico do nosso país, principalmente o nosso país…Tive a sorte de o poder viver!

Eventos históricos para trás há muitos, há momentos que são fascinantes na História, que se calhar não são tão agradáveis e tão positivos como o 25 de abril, mas que também foram momentos interessantes de se viver… Ao nível das guerras, por exemplo, gostaria de perceber como é que foram a primeira guerra e a segunda guerra mundial.

ESP - Se pudesse sentar-se num café e falar de Arte, que interlocutor escolheria?

IN - Nunca me imaginei a conversar com nenhum artista…

Gosto muito de falar sobre Arte quando há oportunidade para isso. Converso muito com o meu marido que não percebe nada de Arte… e então entramos ali em discussões porque ele diz mal da Arte contemporânea e eu defendo-a! No fundo tento fazer com que ele perceba o que é a arte. Mas nunca imaginei ou desejei conversar com nenhum artista…

ESP - O que significa, para si, ter sucesso?

IN - (Risos gerais). Eu não tenho sucesso, por isso não tenho nada a dizer (risos).

Olhem, na minha vida, o sucesso consegue-se pelo respeito que tenho pelas outras pessoas e por conseguir, em termos profissionais, levar os meus alunos a atingir o conjunto de objetivos que estabeleci para eles e com eles. Não preciso muito de reconhecimentos…

ESP - O que a realiza enquanto professora?

LS - Tudo, exceto a burucracia (risos). Eu sempre disse, ao longo da vida, que queria ser professora e a relação com os alunos é o que mais me realiza. Por exemplo, o facto de, após 30 anos de carreira, ter muitos alunos que são meus amigos e antigos alunos com os quais ainda mantenho contacto é das coisas que mais me realiza.

ESP - E a burucracia tira-lhe o sono?

IN - Nada me tira o sono (risos). Mas tira-me muito tempo livre que eu precisava para mim e para a minha família… Nestes últimos anos, tem sido difícil porque essa parte burocrática está muito presente nas escolas e retira-nos demasiado tempo. Mas nada me tira o sono…

ESP - O que seria para si um “aluno perfeito”?

IN - Para mim o aluno perfeito é o que luta e se esforça. Dá tudo para fazer o melhor que consegue fazer. Às vezes nem são alunos brilhantes com notas muito altas, mas são super esforçados para atingir aquela que é a sua melhor nota… acho que isso é ser perfeito. Ao mesmo tempo, também têm de ser uma pessoa correta.

ESP - Que mensagem gostaria de deixar aos alunos do Colégio?

IN - Que não desistam nunca dos sonhos que tenham e que lutem por alcançá-los .Todos vocês têm um sonho na vossa vida, profissional ou pessoal. Não há nada que nos caia aos pés sem nós nos esforçarmos e trabalharmos muito para isso aconteça… e eu gostava de ver todos os alunos a lutarem pelos seus sonhos… Nem sempre vejo, mas gostava! Se houver uma lesão, há outros sonhos que podem vir a seguir… temos que saber dar a volta! Mas é muito difícil quando nos sentimos impotentes… passa-se ali um momento que nos tiram tudo de baixo dos pés e ficamos completamente perdidos. Mas que seguir em frente e não desistir!

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