RTRO #27

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Enquanto escrevo estas palavras, a euforia colectiva atinge o seu auge: começa hoje o Campeonato do Mundo de Futebol, no Brasil. Depois do cepticismo que caracteriza os portugueses – são anos de História de promessas que nunca se concretizaram e um complexo de inferioridade que José Gil sabe explicar bem melhor do que eu – o país deixa-se contagiar por algum optimismo – afinal, Cristiano recuperou e aquela vitória dilatada contra a Irlanda terá dilatado também o ego de muita gente. É curioso constatar que, no final, os portugueses rendem-se sempre. Aos seus sonhos, à sua esperança, à sua fome de ter um ídolo que lhes agite as águas e cultive o ego. No final, há sempre aquele brilhozinho que nos empurra para a frente, aquela sensação de “desta vez é que vai ser!”. No final, uma boa parte de nós dá por si a acreditar. No final, acabamos por dar o nosso voto de confiança a alguém, mesmo que esse alguém não tenha tido um selo de qualidade constante. É porque acreditamos mesmo ou porque precisamos de algo que nos entretenha?

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Se a palavra é “entretenimento”, então está na hora de chamar Kim Kardashian e Kanye West, protagonistas de um dos casamentos mediáticos da década. Nesta edição, explorámos a sua polémica capa da Vogue, um pretexto para mergulharmos nos meandros da fama e da cultura da meritocracia. Mérito teve também Augustus, o criador falecido há poucos meses, que a RTRO homenageia nesta edição.

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Editorial

Uma edição que celebra também a música, ao escolher, para It Girl e It Boy, dois protagonistas indiscutíveis da cena Pop actual: Rihanna e Pharell Williams. E porque nem só de grandes nomes se fazem revistas, a RTRO teve ainda tempo de entrevistar os Virar DaSquina, por ocasião da Queima das Fitas, no Porto. Aos estudiosos que se encontram em fase de preparação para exames, desejamos que os consigam fintar com muita classe, com ou sem trivela. Porque jogos há todos os dias da nossa vida – e cada um de nós tem de ser o seu próprio Cristiano Ronaldo.

Margarida Cunha Editora


rtro staff

editora Margarida Cunha redactores Ana Rodrigues Ana Cristina Silva Adriana Couto Julia Fernandes Margarida Cunha layout / paginação Manuel Costa fotografia Ricardo Costa foto de capa Jessica Sebastião

A rtro está sempre à procura de modelos, fotógrafos,stylists, maquilhadores, designers, que queiram colaborar, expor os seus trabalhos, se achas que tens o que é preciso contactanos para o nosso email.

geral@rtromagazine.com


INDร CE

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Focus on Designer Augustus

Cara Collection

Just DIY

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50

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Natรกlia Digna de Nota

It Boy The Hitmaker

Smells Like Boss Nuit


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20

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40

Virar Da Esquina

Sess達o Smells Like Summer

Factor K

It Girl Rude Girl

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58

60

Romance Divergente

Ler. Ver. Ouvir.

Wishlist


Focus on Designers por Adriana Couto

Augustus


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Focus on designers

O costureiro Augustus morre aos 64 anos vítima de doença prolongada. A RTRO deixa assim a sua homenagem a um dos mais conceituados estilistas portugueses. Poucos serão os amantes de moda que não reconhecem o nome Augustus. Adorado por muitos, um dos rostos da alta-costura portuguesa morre vítima de doença prolongada aos 64 anos, confirmando assim as suspeitas do seu afastamento das passerelles. De seu nome António Augusto Loureiro Ferreira, nasce na Figueira da Foz a 7 de Junho de 1949. Pouco tempo depois, muda-se com a sua família para Angola. É nesse país que a paixão pela moda nasce e onde, ainda adolescente, começa a desenhar e a confeccionar as suas primeiras peças pela diversão que lhe proporcionava. Rapidamente o hobby se transforma em amor e o jovem Augustus parte para Paris e Londres para estudar moda. Regressa novamente a Angola onde começa por fazer roupas para a sua mãe e amigas desta. Em 1973 decide abrir a sua primeira loja em Luanda, adoptando pela primeira vez o nome Augustus. No mesmo ano, abre a sua segunda loja na mesma cidade, conquistando a capital angolana. Com a revolução de 25 de Abril, em 1974, vê-se obrigado a regressa a Portugal como muitos outros retornados portugueses. Não desistindo da sua carreira no mundo da moda, o costureiro abre a sua primeira loja em Portugal, em Lisboa, passados dois anos do seu regresso. O sucesso que conquista junto do público português leva a que Augustus abre o seu atelier em 1978 que rapidamente começa a ser frequentado pela alta sociedade, acabando por criar as suas primeiras peças de alta-costura, altamente requisitadas pela sua já fiel clientela.


A inovação que sempre acompanhou o estilista, leva a que em 1979 surpreenda o público com a apresentação de uma das suas coleções a bordo de um avião de uma companhia aérea portuguesa, feito repetido 10 anos mais tarde. Após conquistar Portugal com as suas criações, exibe pela primeira vez o seu trabalho no estrangeiro em 86, sendo os primeiros países a acolherem o seu trabalho a Espanha e a Inglaterra. Desde essa data, Augustus passou a ingressar o exclusivo circuito da moda internacional, vendo as suas roupas a desfilar um pouco por todo o mundo. Tem no total quatro lojas com o seu nome, espalhadas por Lisboa e pelo Funchal, no qual para além de Alta Costura, há pronto-a-vestir, sapatos, acessórios e perfumes. As suas peças têm fortes influências da sua vida em África e da América do Sul, notada pelas cores e padrões utilizados. A morte de Augustus apanhou de surpresa a presidente da Associação ModaLisboa, Eduarda Abbondanza. "Partiu, mas deixa um legado. É um nome referência, juntamente com Ana Salazar ou Jorge Virgílio", disse ao PÚBLICO.

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Cara Collection

moda e solidaridade num s贸 por Adriana Couto


Usada pelos rostos mais conhecidos da Suécia, a Cara Collection apresenta os seus acessórios a Portugal, aliando o gosto pela moda à solidariedade. A Cara Collection foi fundada em 2009 em Gothenburg, na Suécia, por Sofia Bergqvist, conhecida designer de acessórios. Diabética desde criança, a criação da marca surgiu após o falecimento de um dos amigos mais chegados de Sofia devido a Diabetes, surgindo assim uma forma de poder contribuir para a investigação dos mesmos. Aliados à causa, várias celebridades apoiaram publicamente a marca, começando assim a estar presente na televisão Sueca como em várias revistas nacionais, como a Elle Suécia. Como resultado da crescente popularidade da marca, a Cara Collection doa parte dos seus lucros ao Swedish Diabetic Fund e em conjunto com a Diabetic Association sueca, foi lançada uma pulseira com design exclusivo de forma a publicitar a causa e a reunir algum apoio à investigação dos diabetes. Para a fundadora da Cara Collection não há dúvidas: "Foi uma honra ter criado uma pulseira para uma boa causa", diz Sofia. As pulseiras da Cara são produzidas em Londres e Gothenburg, num trabalho manual que junta o cetim com fita 'ballchains', em aço inoxidável, com ouro de 18k e cristais Swarovski. As pulseiras não contêm qualquer tipo de material que seja prejudicial para o meio ambiente, sendo assim conhecida não só pelas suas pulseiras coloridas mas também pela sua qualidade. A Cara Collection cresceu rapidamente e acabou por se integrar nos vários mercados da Europa e nos Estados Unidos da América. Com o sucesso alcançado, em 2011 a marca lança a sua primeira colecção masculina intitulada de 'Cara' e em 2013 a colecção para crianças chamada de 'A pequena Diva Chegou'. Existem ainda vários designs exclusivos criados através de colaborações entre a marca e algumas celebridades suecas. Para além de das conhecidas pulseiras, a Cara Collection lançou ainda uma linha de roupa jovem e outros acessórios de moda como carteiras ou bolsa e colares que integram vários elementos decorativos. Para conferirem a colecção completa e fazerem encomendas, consultem a loja online: http://carabracelets.com/

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Cara Collection


DESCONTO DE 20% PARA LEITORES DA RTRO Até dia 15 de Setembro, os leitores da RTRO que efectuem encomendas no site http://carabracelets.com/ recebem um desconto de 20% nas suas compras. Basta que acedam ao site e cliquem na imagem do(s) produto(s) desejado(s). Em seguida, cliquem "Checkout", no canto superior direito, e, na caixa "Coupon Code", insiram o código RTRO.

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just

DIY por Ana Rodrigues

A RTRO decidiu resgatar a rubrica DIY – do it yourself – nesta nova edição da revista. Temos ideias, propomos e queremos saber quais têm sido as vossas experiências neste tipo de criação! Desta vez sugerimos outros dois excelentes truques que pertencem à blogger love aesthetics e a a pair and a spare: “spot on nails” e ainda, um cordão de pérolas para óculos. O primeiro truque é especialmente dedicado a pessoas que não gostam de perder tempo com banalidades relacionadas com a beleza e moda em geral. Tudo que tenha a ver com processos complicados de obtenção de algum produto, está totalmente posto de lado nesta dica que vos damos. Ora vejam só: chama-se “spot on nails” e foi a manicure mais recente sugerida pela famosa blogger Ivânia Carpio, dona do excelente Love Aesthetics. Um truque muito simples e acima de tudo, rápido. Do que precisam? Apenas de um verniz branco mate e um top coat transparente. O processo passa por imitar o “desenho” que podem observar na figura acima, onde apenas as unhas do dedo indicador e médio não são pintadas uniformemente. Para finalizar, aplica-se o top coat e... voilà! Um truque simples, que resulta muito bem e sem grandes complicações. Passemos então ao cordão de pérolas para óculos. Embora necessitem de mais material, o processo de obtenção do cordão é, também, bastante simples. Do que precisam? Alguns centímetros de uma corda preta semelhante à que vêem na imagem, pérolas pequenas, duas borrachas para adaptar aos óculos (ver na imagem), duas peças prateadas, cola, tesoura e fio branco. Em primeiro lugar devem começar por cortar o fio branco (tem de ser um fio bem resistente, que não rompa com facilidade) em dois pedaços iguais com 25cm cada. De seguida, atam-se as duas borrachas aos terminais dos fios, deixando cerca de 2,5cm de fio para segurança; colocam-se as pérolas em cada um dos fios até os preencher totalmente e termina-se com a colocação das duas peças prateadas nas extremidades. Por fim, coloca-se um pouco de cola no interior das mesmas e adapta-se-lhes o fio preto, que permite unir os dois fios, criando finalmente, o cordão. Aconselha-se a deixar secar a cola durante 24h e, após este período de tempo está pronto a usar! Enviem-nos as vossas propostas DIY! Na próxima edição será seleccionada uma das ideias que nos enviarem e, apresentada na revista juntamente com mais duas outras propostas encontradas em blogs deste tipo de criação. Só precisas de enviar um texto com os teus dados (nome, cidade onde vives, endereço do blog pessoal (opcional)), a lista de material necessária para o DIY bem como todos os passos e fotografias before and after do DIY e enviar para: geral@rtromagazine.com. Fonte: www.love-aesthetics.nl; www.apair-andaspare.blogspot.pt


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VirarD

aEsquina por Julia Fernandes


Formaram-se a partir de uma amizade, que os uniu na paixão pela música. Os Virar DaSquina nasceram em 2011, com Nuno Meneses e Ana Rodrigues a convidarem o baterista João Cunha a ingressar no projecto. Depois de muitas mudanças, quer nos elementos, quer nos estilos musicais, eis que surge um projecto mais sério e arrojado, ao qual se juntaram o baixista Mário Ribeiro e o guitarrista João Alves. Actualmente, poucos são os factores comuns entre eles. Ana Rodrigues, vocalista dos Virar DaSquina, é Licenciada em Criminologia, Nuno Meneses e João Alves são estudantes de Cinema, enquanto João Cunha se dedica à enfermagem e Mário Ribeiro à Informática. Paixões distintas com um único ponto de encontro entre todos: o gosto pelo projecto musical que abraçam há quase quatro anos. Pretendem distinguir-se pelo género musical, que marque a diferença junto de todos os que já foram vistos na sua terra natal, a cidade de Guimarães. Com um estilo próprio que une o rock, jazz e o pop, os Virar DaSquina agendaram para o início de Setembro a saída do seu primeiro álbum, intitulado “Até ao Fim do Mundo”. O trabalho ainda não está terminado e decorre, nesta altura, uma campanha online de angariação de fundos, promovida pela banda, para suportar os custos de produção. Em todas as faixas deste novo álbum, os Virar DaSquina irão criar uma história, a crónica de Pedro e Inês. Uma ideia concebida, reproduzida e aceite por todos os membros, o que lhes confere uma identidade original no panorama musical. Um dos projectos de maior sucesso conquistados pela banda foi o primeiro lugar no “X” concurso de bandas de garagem, promovido pela Federação Académica do Porto, que lhes garantiu a estreia do palco na Queima das Fitas este ano. O grupo abriu a noite para a dupla de eletrónica The Bloody Beetroots, com um espectáculo que juntou centenas de pessoas no Queimódromo do Porto. Um marco especial para o grupo que já tem agendado mais concertos. Foi o concerto no Café Concerto, a 17 de Maio, CyberCentro de Guimarães.

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VirarDaEsquina


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Smells Like Summer Fotografia: Ricardo Costa (ricardocosta.org)

Modelo: Jessica SebastiĂŁo Makeup & Hairstyle: Lara Sousa Roupa: NewLook Multimarcas Local: Figueira da Foz

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Smells Like Summer


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Smells Like Summer


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Smells Like Summer


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Smells Like Summer


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Smells Like Summer


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Factor K

Por detrรกs da capa da Vogue, da meritocracia e da sexualidade por Margarida Cunha


Enquanto escrevo este artigo, Kanye West e Kim Kardashian devem estar em plena lua-de-mel, capitalizando toda a sua fama e poder mediático. Afinal, protagonizaram aquele que foi um dos mais populares e glamorosos casamentos de celebridades dos últimos anos. Se dúvidas houvesse quanto a esse estatuto, basta avaliar pela fotografia oficial da boda, que a noiva partilhou na rede social Instagram, e que rapidamente se tornou na foto com mais “gostos” naquela plataforma – perto de 2 milhões, até à data. O enlace entre a empresária e o rapper, que envergaram ambos Givenchy Couture, teve lugar em Paris e Florença e é ainda o assunto de que se fala. Contudo, houve um momento que catapultou o já célebre casal para a nata da nata dos famosos: a capa da Vogue.

IN VOGUE A publicação conduzida há décadas pela imperturbável Anna Wintour dispensa apresentações. Contudo, para mentes menos inteiradas acerca da linha editorial da Vogue americana, deve referir-se que é conhecida por ser muito exigente relativamente às protagonistas de capa. Segundo a própria Wintour, a revista aposta em figuras que definam a cultura num determinado momento, que agitem as coisas, cuja presença no mundo o molde e influencie a forma como olhamos para ele. Esta foi, pelo menos, a justificação que apresentou perante a enorme onda de contestação que surgiu na sequência da capa protagonizada por Kim Kardashian e Kanye West. Há muito que se especulava que uma capa da Vogue poderia estar a caminho para o casal, devido à proximidade entre o rapper e a editora (conhecida pelo seu círculo social exclusivo). Se Kanye já era presença habitual em desfiles, Kardashian nunca recolheu grande simpatia junto de Wintour. A aproximação terá começado no ano passado, graças a West, quando este conseguiu que Kim fosse incluída na restrita lista de convidados da MET Gala, organizada por Anna. As redes sociais e a euforia popular – ávida de mais um casal para amar, consumir e deitar fora – fizeram o resto. Eis que chega, enfim, a Vogue de Abril, protagonizada pelo casal-sensa-

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Factor K

ção: ela, vestindo Lanvin, e com um sorriso doce e delicado no rosto; ele, agarrando-a pela cintura, com uma expressão terna e apaixonada. O momento foi captado por Annie Leibovitz. Na legenda, numa alusão aos novos dialectos da pós-modernidade, pode ler-se a hashtag “worldsmosttalkedaboutcouple” (“o casal mais falado do mundo”). A filha do casal, North, surge também na sessão de fotos. A candura da família não conseguiu, contudo, tocar todos os corações. Um deles foi o de Sarah Michelle Gellar, a eterna “Buffy, a Caçadora de Vampiros”. A actriz utilizou o Twitter para mostrar o seu desagrado relativamente à escolha da Vogue, tendo mesmo escrito: “Bem, parece que vou cancelar a minha assinatura da Vogue. Quem está comigo?”. Apesar de ser a mais comentada, a reacção de Gellar foi apenas uma entre dezenas de utilizadores do Twitter. Houve até quem dissesse “RIP Vogue”. NÚMEROS REDONDOS Que impacto poderia uma escolha de capa polémica ter nas vendas da Vogue? Um impacto positivo, segundo os números viriam a revelar. De acordo com o site de moda TooFab, a edição protagonizada pelo casal – baptizado de “Kimye”, pelos media – superou as 500 000 unidades vendidas em banca – ascendendo a 1,2 milhões, se contabilizarmos os assinantes da revista. Especula-se que Kim Kardashian poderá ter contribuído, numa pequena parcela, para estes números, pois a empresária foi apanhada pelos fotógrafos a comprar várias edições da revista num mesmo quiosque. Para efeitos comparativos, refira-se que a edição protagonizada por Beyoncé (conhecida por vender muitas revistas) vendeu cerca de 350 000 unidades. Já a capa de Michelle Obama, uma das mais icónicas, situou-se perto das 300 000. Se os números positivos vos apanharam de surpresa (afinal, Kim e Kanye não são propriamente adorados pelo público), então não estão a prestar a devida atenção à cultura Pop. Foi precisamente Anna Wintour quem popularizou a prática de colocar celebridades na capa das revistas de moda. Até então, as publicações eram sempre protagonizadas por modelos. Não podem ainda esquecer-se da premissa número um do jornalismo cor-de-rosa: a polémica vende. Agora, a pergunta para 1 milhão de dólares: afinal, por que é que esta capa foi polémica?


Segundo Anna Wintour, a Vogue aposta em figuras que definam a cultura num determinado momento

A pergunta para 1 milhão de dólares é: por que é que esta capa foi polémica?

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Factor K

“THERE'S A THOUSAND YOU'S, THERE'S ONLY ONE OF ME” Se digitarem no vosso motor de busca os termos “Taylor Swift” e “Kanye West”, não irão surgir resultados muito abonatórios para o rapper. Em 2009, Swift subia ao palco para receber o prémio de “Best Female Video”, por ocasião dos MTV Video Music Awards, quando West resolveu juntar-se-lhe, roubar-lhe o microfone e disparatar, afirmando que Beyoncé deveria ter ganho o prémio – perante o ar chocado da cantora, que assistia na plateia. Uma prática que West começou a aperfeiçoar já em 2006, quando o seu vídeo “Touch the Sky” perdeu para “D.A.N.C.E.”, da dupla francesa Justice, na categoria de Best Video, nos MTV Europe Awards. O prémio de Best Hip Hop Artist não foi suficiente para confortar o artista, que considerou que o seu vídeo deveria ter ganho, pois tinha custado um milhão de dólares e incluía a actriz Pamela Anderson. Chegou mesmo a acrescentar que, se o seu vídeo não ganhasse, a cerimónia da MTV perdia credibilidade. Nem o presidente Obama ficou imune à postura de West, tendo-o mesmo apelidado de “jackass”. A estes comportamentos repreensíveis juntava-se a visão do rapper acerca do seu próprio trabalho – que considerava genial. Lembram-se de “Stronger”, remake da faixa “Harder, Better, Faster, Stronger”, dos parisienses Daft Punk, que contou com a participação dos próprios? Kanye debitava frases como “Bow in the presence of greatness/ Cause right now thou has forsaken us/ You should be honored by my lateness/ That I would even show up to this fake sh**. Ou: “There's a thousand you's, there's only one of me”. Um floco atrás do outro, e em breve temos uma gigante bola de neve mediática, que retrata West como uma figura delirante e narcisista. UM ESCÂNDALO DE MULHER O nome Kim Kardashian é-vos familiar, embora não consigam associá-lo a coisa alguma? Não é de estranhar. Afinal, a empresária junta-se ao rol de celebridades “famosas por serem famosas”. Um termo atribuído a personalidades que preenchem páginas de jornais e de Internet, sem percebermos bem como é que lá chegaram. Um bom pretexto para consultarmos a Wikipedia: de acordo com a enciclopédia digital, Kim Kardashian é modelo, socialite, atriz, empresária, produ-

West é retratado como uma figura delirante e narcisista


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Factor K

tora executiva e reality star norte-americana. Ficamos ainda a saber que Kardashian se tornou famosa “após protagonizar um vídeo de conteúdo erótico” com o ex-namorado, o rapper Ray J. Seguiram-se as páginas de mexericos, o reality show da família, “Keeping Up with the Kardashians”, capas para a Playboy, linhas de perfumes, jóias, roupas, etc. Kim fez questão de que nunca nos esquecêssemos dela, mesmo que a vasta maioria dos media e dos internautas a gozasse e subvalorizasse – sem, claro, nunca perder um passo seu. À semelhança de Paris Hilton, Kim nunca conseguiu junto do público um reconhecimento genuíno do seu estatuto de celebridade – apesar destes tempos polvilhados a reality shows e a estrelas que nascem e caem no mesmo ano, uma fatia mais conservadora dos internautas continua a exigir um mínimo de talento e mérito aos seus famosos. Afinal, um dos pilares fundamentais da nossa cultura, embora constantemente agredido, continua a ser a meritocracia: a crença de que o esforço, o talento e o desenvolvimento de competências devem ser as bases do sucesso. Na óptica de muitos, Kardashian não possui qualquer um desses elementos, considerando, assim, a sua fama injustificada. Muitos, mas não todos. A leitora do site The Powder Room, NinjaCate, assinou um artigo de opinião no qual defende o talento de Kardashian, atribuindo-lhe a ela (e apenas a ela) o mérito de se ter transformado num ícone global, financeiramente auto-sustentável. NinjaCate sublinha que, embora Kim se tenha tornado famosa graças a um vídeo erótico, manteve-se famosa graças ao seu empreendedorismo e à sua capacidade de abraçar diferentes negócios – e remata: “Kim Kardashian is in the business of being a celebrity, and it's a game she and her family play very well”. A leitora tenta ainda desconstruir os argumentos dos opositores de Kardashian, sobretudo os que a criticam pelo seu vídeo erótico. NinjaCate sustenta que essa postura nasce do desconforto que muitos de nós ainda têm perante o sexo e a sexualidade. Acrescenta ainda que, aos olhos de muitos, os dois divórcios de Kim são um atestado de falhanço moral. O FACTOR K Será realmente verdade? Será que, décadas volvidas desde o movimento de emancipação feminina, no geral, e sexual, em particular, continuamos a julgar mulheres que tenham tido um percurso de vida iminentemente sexual? E se a capacidade

Kim não se limitou a tornar-se famosa: manteve-se famosa


de exercer fascínio sexual for um talento como outro qualquer, que exige investimento e aperfeiçoamento? A juntar-se ao lado moral da história, outra questão se levanta: a do elitismo. Matthew Zuras, do site Refinery29, não hesita em afirmar que Kim Kardashian está a ser vítima de uma pretensiosa cultura de classes, que sempre caracterizou os leitores da Vogue. Aparentemente, tudo se resume a “Kim Kardashion não merece estar na capa da Vogue”. No final de contas, a escolha de Anna Wintour acaba por ser justificada no editorial da revista, quando afirma que praticamente não existe qualquer fio mediático que os Kardashian Wests não tenham conseguido dominar. E prossegue: “Kanye é um performer fantástico e um provocador cultural, enquanto Kim, através da sua força de carácter, criou um espaço para si própria no palco do mundo, e é preciso ter coragem para isso”. Talvez a meritocracia esteja a morrer. Talvez os critérios da Vogue estejam a ficar mais abrangentes. Talvez as revistas precisem de vender desesperadamente. Talvez estejamos a levar as coisas demasiado a sério. Talvez muitos de nós não tenhamos o Factor K e isso deixa-nos com inveja. No final, Kim e Kanye foram moldando as circunstâncias a seu favor: cada actuação, cada escândalo, cada manchete, cada “like”… até estar criado um capital mediático sólido. A capa da Vogue era o inevitável passo seguinte E se ambos tiverem estado a trabalhar para uma capa da Vogue desde o seu primeiro encontro? E se a capa da Vogue tiver sido o resultado da fama pela qual trabalharam? E se a capacidade de mobilizar partilhas e manchetes for uma arte como qualquer outra? Talvez o jogo da meritocracia se mantenha mas as regras tenham mudado. Talvez Kim e Kanye sejam mais perspicazes do que parecem. Uma coisa é certa: quem precisa de uma capa merecida quando tem uma capa inevitável?

E se a capacidade de mobilizar partilhas e manchetes for uma arte como qualquer outra? 38 – 39 | rtro


it girl

Rude Girl por Margarida Cunha


Acreditam se vos disser que, em 2015, Rihanna completa 10 anos de carreira? Parece que ainda ontem as pistas se enchiam com o ritmo contagiante de “Pon De Replay”. Hoje, depois de inúmeros hits, escândalos e looks, Rihanna consagra-se como uma entertainer que sabe como manter-se nas luzes da ribalta e alimentar conversas na Internet. As mais recentes prendem-se com o vestido que elegeu para ir à cerimónia dos CFDA Awards. Estamos a falar de uma criação de Adam Selman, incrustada com 216 000 cristais Swarovsky que lhe cobriam o corpo, deixando bem visíveis os seus seios e rabo. Nada que a tenha impedido de aceitar com orgulho o prémio de Fashion Icon Award, entregue em mãos por nada mais nada menos que a editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour. Houve quem dissesse que o vestido de Rihanna era uma provocação à rede social Instagram, que suspendeu a conta da cantora devido à constante publicação de fotos ousadas – embora a rede social tenha dito tratar-se de um acidente. Houve quem achasse estranho que vestidos transparentes ainda provoquem choque. Houve ainda quem lhe fizesse uma crítica velada – como no caso da retornada girls band TLC. As intérpretes de “Waterfalls” comentaram num programa de rádio australiano: “Vender sexo é fácil. Não precisas de estar nua sempre que te vemos”. Conhecida pelo seu sentido de humor mordaz, Rihanna não demorou a responder, tendo colocado como fundo da sua conta no Twitter uma foto das TLC nos anos 90, a cobrir os seios com as mãos. Se o guarda-roupa da cantora natural dos Barbados é uma fonte inesgotável de comentário social, a vida amorosa não lhe fica atrás, tendo protagonizado uma das mais conturbadas relações entre celebridades. Os anos em que se envolveu intermitentemente com o cantor Chris Brown valeram-lhe, em 2009, um episódio de violência que deixou a Internet boquiaberta – muitos foram os fãs que lhe apontaram o dedo por ter perdoado Brown, alguns anos mais tarde. Mais recentemente, é-lhe atribuído um romance, igualmente intermitente mas mais reservado, com o rapper Drake – com quem interpretou 40 – 41 | rtro


It girl

o dueto mais popular de 2010, “What’s My Name?”. De facto, esse ano marca um dos mais bem-sucedidos na carreira da cantora. O álbum Loud vendeu, até hoje, perto de 6 milhões de unidades, estabelecendo-se, em 2012, como o 5º álbum digital mais vendido de todos os tempos. Dele saíram sucessos como “Only Girl (in the World)”, “Man Down”, a controversa “S&M” e ainda a balada “California King Bed”. Reforçando uma abordagem que já vinha desde “Russian Roulette”, uma boa parte dessas músicas retrata os desencontros e intermitências de Rihanna com os homens. Nessa altura, os seus hits propagavam-se nos canais temáticos e nas rádios quase até à exaustão – devido ao ritmo frenético com que eram lançados (e alimentados pelos videoclipes). Hoje, sete álbuns de estúdio depois, Rihanna continua a dar que falar mas já não é uma presença tão polémica. Esse lugar é actualmente ocupado por Miley Cyrus e as suas infindáveis desventuras (exploradas a fundo na edição da RTRO #23). Quando Anna Wintour entregou à cantora de 26 anos o prémio de Fashion Icon Award, referiu que os ícones de estilo nos contam histórias cativantes acerca de nós próprios e do mundo em que vivemos, através da ousadia e da beleza das suas roupas. No caso de Rihanna, essa história apoia-se numa fórmula à base de hits, uma voz muito própria, uma boa dose de sensualidade e, claro, um “Umbrella”. Ella – ella.


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Natália, Digna de Nota por Margarida Cunha

Natália Gromicho não é um nome estranho aos leitores da RTRO. Entrevistámo-la no ano passado, a pretexto da inauguração da exposição LICE 2013, numa conversa que nos levou até às feridas mais profundas da Arte actual. Hoje, se o seu nome soa mais familiar lá fora do que cá dentro, é porque a internacionalização tem sido uma constante – e, acima de tudo, a única rota viável num país que há muito relegou a Arte para segundo plano. Não é, portanto, de admirar que tenhamos apanhado Natália Gromicho de malas feitas para Bordéus, onde iria inaugurar a exposição “Lisboa, Dignos de Nota”, que já passou por Moscovo. Segue-se Itália, no dia 22 de Junho, onde vai participar, com o acrílico “Guerra e Paz”, na exposição “Human Rights 2014”. Mas o percurso está longe de se ficar pela Europa...

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Natália, Digna de Nota

No ano passado, na entrevista que concedeu à RTRO em Setembro, dizia-me: “O meu processo criativo é alterado consoante o que vejo, e é meu dever marcá-lo em desenho, em cor e movimento.” De que forma é que a sua crescente internacionalização se reflecte no seu processo criativo? Antes de mais, muito obrigado à RTRO pela entrevista. Viver em ambientes diferentes dos usuais faz me crescer como artista, a minha pintura nunca mais foi a mesma. As primeiras viagens e o contacto com outras culturas fizeram com que a entrega às artes plásticas fosse total. Espero que isso passe para a tela. Diferentes formas de visualizar, de expressar. Em Março, esteve em Nova Iorque como única representante portuguesa na exposição The Power of Perception II: International Art in 2014, a cargo da Creative Concept Studios. Sente-se uma bandeira de Portugal no estrangeiro? Sim, foi muito gratificante. Adorei a visão global da cidade de Nova Iorque, a forma como a cidade nos acolhe, as pessoas de todo o mundo, é fantástico. O facto de me terem convidado para fazer um “live act” foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira, pintar ao vivo em Nova Iorque... Em relação à bandeira de Portugal ainda não, pode ser que um dia sinta essa responsabilidade, mas ainda é muito cedo para pensar nisso. Na mesma semana em que assinou contrato com a Creative Concept Studios, e ainda antes de ser inaugurada a exposição The Power of Perception II: International Art in 2014, vendeu um quadro - “Venus” - a um coleccionador italiano. Como interpreta esta adesão imediata ao seu trabalho? Primeiro com surpresa. Depois com satisfação, claro. Como já tive oportunidade de referir, não são as vendas que me movem como artista, contudo são um impulso para me sentir motivada e para continuar a pintar, pois é para isso que cá estou. E por falar em “perception”, como avalia a percepção da Arte actualmente? A percepção da Arte em Portugal é ainda pouco visível, mas já é usual por aqui. Criei o meu próprio espaço para tentar “remar” contra esta maré que tenta afastar as pessoas da cultura. Espero contribuir para o aumento do interesse pela arte, pelo menos em Portugal. No resto do mundo, acho que as coisas continuam no seu percurso habitual e cada vez mais se vê muito talento...


Em Maio, inaugurou a exposição Lisboa, Dignos de Nota, em Moscovo. Um marco importante na sua carreira, visto que foi a primeira vez que expôs na Rússia, bem como a primeira vez que foi oficialmente apoiada pelo Governo a nível internacional (através do Instituto Camões). Como é que os moscovitas sentiram a Natália Gromicho? Sente-se uma lisboeta “digna de nota”? Bem a recepção em Moscovo, foi uma agradável surpresa. Contei com a presença do Dr. Rui Baceira (Embaixador de Portugal em Moscovo) na abertura da exposição, posso dizer que tivemos sala cheia e que recebi criticas muito favoráveis ao meu trabalho – uma delas de um artista muito conhecido na Rússia, Yuri Kossagovsky, que, para além da sua presença na abertura da exposição, me convidou para o seu estúdio e também para fazer uma entrevista no canal de TV a que pertence. Foi um momento inesquecível. Outra das situações muito inesperadas foi a presença da Embaixadora do Cazaquistão, que demonstrou

Adorei a visão global da cidade de Nova Iorque, a forma como a cidade nos acolhe, as pessoas de todo o mundo, é fantástico

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Natália, Digna de Nota

interesse em adquirir a exposição inteira. Contudo, ainda não tenho noticias do desenvolvimento deste assunto, mas está a ser uma exposição muito singular. E, sim, considero-me uma lisboeta a ter em nota. Estabeleceu recentemente uma parceria com a Miami Art Scene, simultaneamente agência promotora de artistas contemporâneos e site temático de referência. Como surge esta aliança? A parceria com a Miami Art Scene tem a ver com a próxima exposição internacional que vamos realizar em Outubro, a Lisbon International Contemporary Exhibition 2014. A edição do ano passado teve muita visibilidade internacional e esta agência já tinha manifestado o interesse em realizar uma parceria connosco. Dessa forma vamos permitir aos artistas que vão estar em Lisboa uma visibilidade internacional, neste caso específico, para Miami, que é um dos mercados mais importantes das artes mundialmente. A sua galeria, meetiNG art gallery, está nomeada para o prémio Acesso Cultura, que visa, como pode ler-se no respectivo site, “colocar as questões de acessibilidade (…) no centro da reflexão e da acção do sector cultural português (...)”. De uma forma geral, e na qualidade de artista, como encara os prémios? Encaro os prémios como um incentivo. Fico muito contente por a minha galeria estar nomeada para os prémios, tem sido um projecto que nos tem dado muito trabalho. Como sabe, comercialmente é muito complicado manter um espaço aberto, a localização é premium mas tem custos muito elevados, e por isso tem sido muito difícil. Mas receber esta nomeação entre espaços como Museu Berardo, Mosteiro dos Jerónimos é uma honra, aliás, para mim já é uma vitória. No último trimestre do ano, e a assinalar 20 anos Criei o meu de carreira, a Natália levará o seu trabalho a locais tão diferentes como Inglaterra, Índia ou Timor. Sente que a próprio espaço da sua carreira se traça cada vez mais fora do país? para tentar “remar” rotaInfelizmente sim, com muita pena minha, mas isto é o reflexo contra esta maré das políticas que se praticam neste país e também a questão cultural, que já está a mudar, mas que irá demorar décadas. que tenta afastar A exposição de Londres, na Hay Hill Gallery, vai ser o marco da minha carreira. A forma como estão a tratar a minha as pessoas da obra é ímpar, as obras que seleccionaram... os requisitos para trabalhar com eles são muito superiores aos de todas as galerias cultura


com que já trabalhei, o que torna tudo muito estimulante. Esta semana estou a caminho de Bordéus, onde vou inaugurar, no dia 10 de Junho, Dia de Portugal, uma exposição que está inserida na comemoração deste dia tão importante para nós, Portugueses. Em relação a Índia, vai ser uma colaboração entre o Instituto Camões e o Instituto Cervantes para conseguirmos expor na United Art Fair, em Nova Deli. É uma feira de arte muito conceituada, em Outubro. Estamos a ultimar a exposição de Timor, que se irá realizar em Dezembro, e também promete...

A exposição de Londres vai ser o marco da minha carreira. A forma como estão a tratar a minha obra é ímpar

1 Natália Gromicho em Nova York 2 Vénus 3 Natália Gromicho e Rui Baceira, Embaixador de Portugal em Moscovo 4 No Telhado 5 O Amarelo 6 O Génio 7 Aqueduto 8 Calçada de Lisboa

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it boy!

The Hitmaker por Margarida Cunha


Se o nome Pharrell Williams vos surge como um fenómeno relativamente recente – sim, “Happy” começou a tocar automaticamente na vossa cabeça – instigo-vos seriamente a fazer o vosso trabalho de casa. Não devido a nenhum gene hipster, que me motive a apreciar fenómenos ainda antes de o serem, mas porque Williams possui uma carreira bem sólida que merece mais do que uma breve associação a um hit. Muitas das músicas que protagonizaram as vossas tardes de Verão junto à piscina têm o seu toque. As mais marcantes foram sem dúvida “Get Lucky”, em parceria com os Daft Punk, e “Blurred Lines”, com Robin Thicke e T.I. Mas muitos outros sucessos musicais, que provavelmente não vos passam pela cabeça, assim o foram devido à sua produção. Um deles foi o provocante “I’m a Slave 4 U” de Britney Spears – “Boys”, do mesmo álbum, Britney (2001), também foi remisturado por Williams. Sabem aquela música contagiante/irritante de Gwen Stefani, “Hollaback Girl”? E a divertida “Wind it Up”? Foram produzidas por Pharrell. As melhores faixas de “Bangerz”, de Miley Cyrus – como “4x4” e “Get it Right” – têm o seu toque de Midas. Podem juntar à lista artistas como Jennifer Lopez, Shakira, Beyoncé, Madonna… Se foi um êxito, provavelmente Pharrell esteve envolvido. Embora a sua vida tenha estado sempre associada à música, a carreira do artista de 41 anos (que não aparenta, de todo) ganhou fulgor enquanto, juntamente com Chad Hugo, compôs a dupla The Neptunes. É nesta fase que se notabiliza como produtor e passa a ser um nome reconhecido no segmento Hip Hop e R&B. No início da década de 2000, nasce o projecto N.E.R.D. (No One Ever Really Dies), que imortalizou a faixa “She wants to move”. Desde então, Pharrell não tem parado. Em 2010 chega mesmo a compor a banda sonora do filme “Despicable Me”, produzida pelo notável Hans Zimmer. A colaboração com a saga continua, tendo-se traduzido naquela que é actualmente a música mais tocada em todas as rádios: “Happy” – um fenómeno que transbordou da música para o audiovisual, 50 – 51 | rtro


It boy!

motivando centenas de reinterpretações filmadas nos mais diversos locais do mundo. Além do carinho do público, “Happy” valeu-lhe também uma nomeação para Óscar de Melhor Canção Original. Neste ano, o seu segundo álbum a solo, G.I.R.L., vê finalmente a luz do dia – o primeiro, In My Mind, datava já de 2006. “A solo” não será provavelmente o termo mais correcto para caracterizar este trabalho, pois Williams rodeou-se de artistas com os quais já trabalhou – como Miley Cyrus e Daft Punk – e de nomes como Alicia Keys e Justin Timberlake. Mais recentemente, Pharrell Williams viu-se no centro de uma polémica, ao posar para a capa da Elle britânica com um cocar indígena. As acusações de apropriação cultural espalharam-se como um vírus e Pharrell, que afirmou não se tratar de uma ideia sua mas da equipa da revista, acabou por pedir desculpa, afirmando que respeita todas as culturas e povos. Uma polémica que se junta à intrigante afirmação

que fez ao canal britânico Channel 4, em que disse não poder declarar-se feminista porque não é mulher. Mas acrescentou: “O que eu faço é apoiar as feministas. Acredito que haja injustiças. Há diferenças que precisam de ser discutidas”. Quando interrogado acerca da polémica frase “I know you want it”, do hit de 2013 “Blurred Lines”, Pharrell relativizou: “É sexualmente sugestivo se um vendedor de carros disser a um possível comprador, ‘eu sei que quer’? “Se uma mulher tem pensamentos sexuais, é errado um homem assumir que ela quer algo mais?” – para uma análise aprofundada da polémica em torno de “Blurred Lines”, consultem a edição da RTRO #23. Os fãs portugueses poderão vê-lo ao vivo, no Meo Arena, no dia 3 de Outubro. Com uma notável carreira, não será errado assumir que Pharrell veio para ficar. Quanto mais não seja porque já Britney afirmava, na faixa que ele produziu, “Boys – can’t live with them, can’t live without them”.


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Smells like…

Boss Nuit pour Femme by Hugo Boss por Margarida Cunha

Imaginem que recebem um elegante envelope preto, com as bordas levemente decoradas com um fio dourado. A selar o envelope, um autocolante no qual pode ler-se “Nuit Pour Femme”. Aceitam o convite? BOSS Nuit pour Femme é uma fragrância floral, quente mas suave, elegante e sedutora, que apela claramente às mulheres maduras. Não é por isso de estranhar que Gwyneth Paltrow tenha sido a eleita para a representar. Envergando apenas um longo vestido preto de corte simples – e uns stilettos da mesma cor – Paltrow convida à elegância clean e minimal, não à exuberância. Como obter esse equilíbrio? Apostando no pêssego branco para nota de topo, para depois libertar as notas de coração à base de um bouquet de flores brancas. Mais tarde, serão despertadas as notas de base, que consistem em madeiras sensuais. É sem dúvida uma boa aposta para quem não gosta de aromas frutados nem demasiado intensos. Procura um perfume sóbrio e elegante, marcante mas sem pesar? BOSS Nuit pour Femme é para si. Disponível nos seguintes formatos: Eau de Parfum 30ml/ 50ml/ 75ml; Shower Gel 200ml; Body Lotion 200ml; Déodorant 150ml.


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ROMANCE E MISTÉRIO:

Um mundo: 5 fações. E se não pertencesses a nenhuma? por Ana Cristina Silva

Título: Divergente [Divergente #1] Título original: Divergent Autora: Veronica Roth Tradutor: Pedro Garcia Rosado Editora: Porto Editora Edição: Março de 2014 Páginas: 352 Género: Fantástico, Aventura

“Divergente” trata-se de mais um best-seller americano inspirado numa sociedade distópica e futurista, na senda do tão famoso “Jogos da fome”. A autora, Veronica Roth, com apenas 21 anos criou um mundo fantástico e imaginativo, que pode ser lido ou visto nos cinemas portugueses desde abril deste ano. A história passa-se numa Chicago futurista, onde as pessoas vivem agrupadas de acordo com seus ideais. A sociedade encontra-se dividida em 5 fações: Cândidos, que valorizam sobretudo a sinceridade; Abnegados, que prezam o altruísmo e a bondade; Intrépidos, que encaram a coragem e o destemor como uma filosofia de vida; Cordiais, que consideram a amizade e o

companheirismo as melhores qualidades; e Eruditos, que acreditam que a inteligência e o conhecimento são o mais importante. Todos os jovens ao completarem 16 anos são obrigados a fazer um teste de aptidão, seguido de uma grande cerimônia, dando-lhes a oportunidade de escolher outro grupo ou permanecer naquele em que nasceram. Aqueles que não conseguem sucesso nos testes, acabam classificados como os sem-fação, tornando-se verdadeiros párias da sociedade. Existem alguns, no entanto, que não pertencem a uma só fação. São pessoas que nasceram para serem contrárias ao sistema: que não se moldam a um único princípio. Beatrice Pior é assim, ela é Divergente. É em torno desta mesma revela-


ção que o livro se desenrola. Beatrice nasceu e cresceu parte dos Abnegados, mas nunca se considerou altruísta o suficiente para tal. Na hora de decidir o seu futuro muda para os Intrépidos, e assim abandonar a sua família rumo ao desconhecido. Claro que esta transferência não será fácil. Os testes de iniciação são duros. “Divergente” retrata sobretudo o percurso de Tris para se tornar uma verdadeira Intrépida. Esta ênfase nos testes e múltiplos exercícios por que todos os iniciados passam é o ponto mais forte e ao mesmo tempo o mais fraco da obra. Roth tem um talento especial para descrever cenas de luta e uma grande imaginação para inventar diferentes testes e desafios. Acontece sempre algo de surpreendente quando Tris encara uma prova. No entanto, posso dizer que bem mais de metade da obra se foca quase só neste aspeto: o livro demora muito a desenvolver. A autora parece precisar de boa parte dele para nos contextualizar e fazer uma caracterização exata de quem Tris realmente é e o que significa ser um Intrépido. Sempre que encontro livros narrados na 1ª pessoa, fico com o receio de odiar o protagonista, mas neste caso – felizmente – foi ao contrário. Afeiçoei-me a Tris desde as primeiras páginas; a sua determinação é admirável e a sua personalidade bem real. É egoísta, ao auto preservar-se, mas altruísta ao defender e proteger os outros. É fraca fisicamente, devido ao seu tamanho, mas forte ao enfrentar os seus medos nos momentos mais decisivos. Mas nem só de Beatrice se trata a história, ficamos também a conhecer a sua família, assim como outros iniciados: o desprezível Peter, Will, Albert e a sua melhor amiga Christina. E depois há o Quatro (sim, a alcunha dele é um número!). Ele é um dos instrutores e líderes dos Intrépidos e, como seria de esperar, vai ser o interesse amoroso da nossa heroína. Demonstra ser quase sempre frio e inalcançável, embora diante da coragem de Tris mostre um outro lado: ainda frio, mas, de uma forma geral, bastante mais

alcançável! Não há um triângulo amoroso (graças a Deus!) e o aspeto do romance no livro foi suficientemente apelativo apesar de não ser de todo algo que a autora pareça interessada em focar. No entanto, confesso que apenas Beatrice e Quatro realmente me interessaram, não senti grande ligação aos restantes personagens. O que chama mesmo a atenção nesta obra é basicamente o seu contexto: a ideia de uma sociedade dividida em 5 “categorias” parece tremendamente redundante. Como poderia algo assim funcionar? Como pode uma pessoa encaixar numa só fação? A verdade é que “Divergente” nos mostra como o ser humano ainda precisa aprender a se importar com o todo e não somente com si mesmo, e como é importante entendermos a nossa sociedade e, de alguma forma, tentar fazer a diferença. E é isso que Tris, juntamente com Quatro, tenta fazer. Roth faz um ótimo trabalho ao demonstrar que mesmo as qualidades normalmente encaradas como positivas – altruísmo ou coragem, por exemplo –, podem ser destrutivas quando levadas ao extremo. Felizmente “Divergente” é apenas o primeiro de uma trilogia, o que nos permitirá entrar ainda mais neste curioso mundo distópico e ver respondidas muitas das questões que ficaram em suspenso neste primeiro volume.

“Uma escolha define as tuas crenças. Uma escolha determina as tuas lealdades – para sempre. Uma escolha pode transformar-te.”

Veronica Roth in “Divergente”

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Ler. Ver. Ouvir. por Margarida Cunha

Ler A Filha da Minha Melhor Amiga Autor: Dorothy Koomson Editora: Porto Editora Ano: 2006 Género: Romance “A filha da minha melhor amiga” foi o livro de estreia em Portugal da autora Dorothy Koomson. Depois deste primeiro sucesso já vários livros foram publicados no nosso país o que faz com que americana seja uma das escritoras mais vendidas atualmente em Portugal. É um livro que confronta o passado e o presente de duas (ex) amigas: Kamryn no passado foi traída pelo noivo, Nate, e pela melhor amiga, Adele, e desde então tem dificuldade em confiar em alguém, escolhendo refugiar-se no trabalho. Até ao dia em que recebe uma carta a pedir a sua ajuda. Adele está num estágio avançado de leucemia e conformada com o pouco tempo de vida que lhe resta, busca o perdão de Kam e um favor que somente ela poderia cumprir: adoptar Tegan como sua própria filha. Tegan não é outra senão o fruto da traição passada de Adele e Nate. É deste ponto que a narrativa realmente se constrói: uma história realista, que ressalta as inúmeras nuances do ser humano, e que aborda temas como o preconceito racial e as dificuldades que uma adoção implica. Koomson deixanos entrar na mente das personagens e dá-nos a entender o porquê de tudo o que lhes sucedeu mas deixa-nos a nós, leitores, o “moroso” trabalho de refletir e chegar às nossas próprias conclusões. Este livro não vos vai deixar indiferentes, põe-nos a pensar no que teríamos feito no lugar das personagens: teríamos perdoado, teríamos esquecido ou teríamos feito tudo de maneira diferente?


Ver

Ouvir

Oito Apelidos Bascos

Behind the light

Realização: Emilio Martínez-Lázaro

Autor: Phillip Phillips

Elenco: Dani Rovira, Clara Lago, Karra Elejalde

Editora: Interscope

Ano: 2014

Ano: 2014

Género: Comédia

Género: Pop, Rock

Em jeito de apresentação pode dizer-se que “Ocho Apellidos Bascos” está para Espanha, como “A Gaiola Dourada” está para Portugal. Trata-se de uma comédia de costumes baseada nas diferenças culturais entre o norte e o sul espanhóis.

Se não conhecem o nome Phillip Phillips, deviam. Foi o vencedor da temporada 11 do programa “American Idol” e lança agora o segundo álbum da sua, ainda curta, carreira.

A história centra-se em Rafa, um jovem rico de Sevilha que se apaixona aí por Amaia, uma jovem basca. Quando esta abandona Sevilha e regressa ao norte, Rafa decide ir atrás dela até à sua pequena vila, mas para se aproximar da sua amada terá de se fazer passar por basco. O filme está repleto de estereótipos, que se tentam ou não romper, entre as regiões espanholas de Andaluzia e País Basco. Mas não só, temas como o nacionalismo espanhol ou o terrorismo são também abordados através de piadas muito bem-construídas e de um humor bem afiado. O engraçadíssimo Dani Rovira tem aqui o seu primeiro protagonista no cinema espanhol e interpreta logo duas personagens; por um lado o Rafa andaluz, muito seguro de si mesmo e o Rafa “basco” que usa roupas a que não está habituado e uma pronúncia que não é a dele. “Oito Apelidos Bascos” é o filme espanhol com mais espectadores e melhor receita de sempre no país vizinho e já foi anunciada a realização de uma sequela. A data de estreia do filme em Portugal está ainda por revelar.

O álbum de estreia “The world from the side of the moon” foi lançado em 2012 e incluiu o single com que venceu o programa televisivo americano, “Home”, o single vencedor mais vendido de sempre na história do programa. Com um som que faz lembrar Mumford & Sons ou Dave Matthews Band, Phillip Phillips tem o seu próprio estilo: uma mistura de pop-rock e folk. Em entrevistas ou na televisão, é tímido e reservado; parece ser na música que realmente se liberta e deixa transparecer as suas emoções. Tem atualmente dois álbuns no topo da tabela da Billboard e este último para lá caminha. “Behind the Light” conta com os mesmos produtores do álbum anterior mas prometia, segundo o artista, ser mais pesado quer musical quer liricamente (cerca de metade do álbum foi escrito/composto pelo próprio). E não desilude. Uma lista de músicas todas possíveis candidatas a singles do disco, de base melódica acústica e com muita guitarra à mistura que nos conduzem a refrões que nos ficam na cabeça. Com uma voz e uma habilidade a tocar guitarra melhores do que nunca, e com a experiência de uma digressão mundial com nomes como Bruce Springsteen e John Mayer, neste seu segundo trabalho Phillip Phillips está mais seguro e isso (ou)ve-se.

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Wishlist por Ana Rodrigues

1

2

Narciso Rodriguez 1725€

Zara, aprox. 40€

6

7

H&M, 30€

Juju Gelly Shoes, 35€

3

5

Chic 7 1

v


3

4

5

Birkenstock, 165€

Zara, aprox. 50€

Zara, aprox. 80€

8 Boohoo, 16€

vs 4

6

Cheap!

8

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