Klein, Melanie
nha*, contribuiu para o desenvolvimento considerável da escola inglesa de psicanálise*. Transformou totalmente a doutrina freudiana clássica e criou não só a psicanálise de crianças*, mas também uma nova técnica de tratamento e de análise didática*, o que fizera dela uma chefe de escola. Sua obra, composta essencialmente de cerca de cinqüenta artigos e de um livro, A psicanálise de crianças, foi traduzida em quinze línguas e reunida em quatro volumes. Acrescenta-se uma Autobiografia inédita e uma importante correspondência. A tradução francesa, realizada em parte por Marguerite Derrida, é de excepcional qualidade. Muitas obras foram dedicadas a Melanie Klein, entre as quais as de Hannah Segal, sua principal comentadora, e a de Phyllis Grosskurth, sua biógrafa. Um dicionário dos conceitos kleinianos foi realizado por R.D. Hinshelwood em 1991. Nascida em Viena* em 30 de março de 1882, de pai judeu polonês, originário de Lemberg, na Galícia, que se tornou clínico geral graças a uma ruptura com pais tradicionalistas, e de mãe judia eslovaca, cuja família, erudita e culta, era dominada por uma linhagem de mulheres, Melanie Klein, pouco desejada, foi a quarta entre os filhos desse casal que não se entendia. Quando, por sua vez, se tornou mãe, também sofreria em sua vida particular as intrusões de sua mãe, Libussa, personalidade tirânica, possessiva e destruidora. A juventude de Melanie foi marcada por uma série de lutos, muito provavelmente responsáveis pela culpa, cujos vestígios se encontram em sua obra teórica. Tinha quatro anos quando sua irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de 8 anos; tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, desapareceu, deixando-a com a mãe; tinha 20 quando seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito e a quem estava ligada por uma relação de tons incestuosos, morreu esgotado pela doença, pelas drogas e pelo desespero. Phyllis Grosskurth observou que Melanie se casou pouco depois desse falecimento, pelo qual se sentia culpada, o que, acrescentou, “provavelmente tinha sido o objetivo perseguido por Emmanuel”.
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As dificuldades econômicas que se seguiram à morte do pai parecem ter sido a causa de sua renúncia aos estudos de medicina, que ela decidira empreender com o objetivo de ser psiquiatra. Essas mesmas dificuldades explicariam igualmente seu casamento precipitado, em 1903, com Arthur Klein, engenheiro de caráter sombrio, que ela conhecera dois anos antes e do qual se divorciaria em 1922. Em 1910, por insistência de Melanie, cronicamente deprimida, o casal, cujo desentendimento era alimentado pelas incessantes intervenções de Libussa, se fixou em Budapeste. Em 1914, sua mãe morreu e nasceu seu terceiro filho, Erich Klein (futuro Eric Clyne), que ela analisaria, como Hans e Melitta, o irmão e a irmã mais novos. Mas esse ano de 1914 foi também o de sua primeira leitura de um texto de Sigmund Freud*, Sobre os sonhos*, e do início de sua análise com Sandor Ferenczi*. Melanie Klein logo começou a participar das atividades da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, da qual se tornou membro em 1919. Antes, em 28 e 29 de setembro de 1918, sob a presidência de Karl Abraham*, o V Congresso da International Psychoanalytical Association* (IPA) se realizou nessa cidade, que Freud considerava como o centro do movimento psicanalítico. Era a primeira vez que Melanie Klein via Freud. Escutou-o ler, na tribuna, sua comunicação “Os novos caminhos da terapêutica psicanalítica” e, fortemente impressionada, tomou consciência de seu desejo de se consagrar à psicanálise. Em julho de 1919, levada por Ferenczi, apresentou, diante da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, seu primeiro estudo de caso, dedicado à análise de uma criança de cinco anos, que na realidade era o seu próprio filho Erich. Uma versão reformulada dessa intervenção, na qual ela dissimulou a identidade do jovem paciente chamando-o de Fritz, constituiu seu primeiro escrito, publicado no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse*. Um ano depois, uma terceira versão desse trabalho apareceu em Imago*: “A criança de que se trata, Fritz, escreveu ela, é um menino cujos pais, que são de minha família, habitam na minha vizinhança imediata. Isso permitiu encontrar-me muitas vezes, e sem nenhuma restrição, com a criança. Além do mais, como a mãe segue todas
Dicionário de Psicanálise (PSI) 1ª revisão – 06.05.98 2ª revisão – 28.07.98 3ª revisão – 14.09.98 4ª revisão – 23.09.98 – Letra K Produção: Textos & Formas Para: Ed. Zahar