AÇÃO POPULAR CONTRA A ABL

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futuro do presente e futuro do pretérito, nomes de tempos verbais são escritos sem hífen se mais‐que‐perfeito, também nome de tempo verbal, é hifenado? Como justificar que guarda‐chuva tem hífen e mandachuva não, se ambos são compostos de verbo+substantivo e a extinção do hífen sequer alteraria a pronúncia, fazendo‐o desnecessário? Giravolta não tem hífen, mas gira‐mundo tem. E no que concerne à relação entre primitivos e derivados: por que há duas grafias corretas para pré‐embrião e preembrião e somente uma para o derivado pré‐embrionário? Os derivados deveriam seguir a lógica do primitivo. Mas, se algum estudioso quiser descobrir aí alguma regra, logo verá um exemplo inverso, em que do primitivo pré‐esclerose resultam possíveis duas grafias para seu derivado que se pode escrever como preesclerótico e pré‐esclerótico. Não há qualquer lógica, só decorando. Qual a razão para tais absurdos? Obrigar todos à aquisição do novo dicionário que veicula o Vocabulário Ortográfico, “fruto” do Acordo de 1990? Exemplos outros de ilogicidade, muitos e sem pretensão de exaurir a imensa lista, estão descritos no folheto anexado à presente Ação sob o título “Convite à Reflexão” (ver Anexo III). 6. Improvisação: A ortografia da Língua Portuguesa sempre foi tratada de maneira superficial e cada proposta de alteração (foram nove só no século passado – 1911, 1931, 1943, 1945, 1971, 1973, 1975, 1986, 1990) não passou de um exercício tímido de atualização. Nunca se fez, e já é tempo e necessário que se faça um verdadeiro inventário dos radicais da língua portuguesa, um trabalho profundo e tão exauriente quanto possível da base etimológica da língua. Para quem opuser a reconhecida dificuldade de assim se proceder, convém lembrar a extrema minudência com que os modernos cientistas inventariam cadeias genéticas de elevada complexidade, para cujo mister contam com aparatos adequados da ciência da computação. Por que não se fazer tal esforço com vistas à estruturação racional da ortografia? Pessoas e recursos não faltarão. As Faculdades de Letras, e são muitas em todo o país, sem dúvida teriam com que colaborar. Enquanto algo sério não se produzir, a cada Acordo verificar‐se‐á um infindável cerzir ou remendar puídos de um tecido frágil. Remenda‐se aqui, rompe‐se acolá; cerze‐se acolá, desfia ali; costura‐se ali, esgarça noutro lugar. Em tempos passados, calava‐se ante tais superficialidades. Hoje, com o compartilhamento do saber, proporcionado pela rede mundial, não é mais possível usurpar o tempo do cidadão com improvisações. Há de se ter coragem de tecer, substituir Roberto Sobral robertosobral@uol.com.br


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