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dificuldade, acolhidos por uma escuta sustentada na teoria psicanalítica. Todo trabalho em grupo produz identificações e especularidade, contudo quando se trabalha para promover a articulação significante abrem-se novas cadeias para a significação histórica de cada um. Por meio desta atitude observa-se que os integrantes do grupo passaram a sustentar sua angústia por entender que a criança não possui recurso interno para ser depositária de seus fantasmas. Ao se compartilhar experiências descobre-se que existem outros meios de lidar com seus problemas e com as crianças, que denunciam os sintomas parentais. Todos ampliam o simbólico. Também, o trabalho de psicoeducação, ou seja, desmitificar e desmistificar a doença mental, por meio de explanação sobre a gênese tanto orgânica como psíquica das patologias. Com essa produção abre-se um campo de troca com a família na vertente da parceria e não mais do embate. O processo durou por volta de dois anos até que, de maneira consistente se apreendesse o que se estava a desenvolver. Conseqüentemente, a inexistência de bibliografia específica resultava em ignorância de onde poder-se-ia chegar com a metodologia construída sobre os alicerces da improdutividade anteriormente constatada e do desejo de fazer melhor. A dificuldade não era somente teórica, metodológica e técnica, outros problemas conjugavam o trabalho, a saber, a discriminação das crianças tanto pela família, escola e comunidade. Dentro do próprio serviço encontravam-se profissionais que torciam os narizes em dias de Condutas Típicas. Quando não se recebia solicitação de internamento da criança pela escola, enfurecida com o serviço, por não se ter normalizado ou medicalizado a criança. Paralelamente, a administração municipal e por vezes a comunidade discutiam os diagnósticos, as terapêuticas e questionavam a conduta da equipe sobre a validade do trabalho. Investir nestas crianças com equipe especializada e com farmacoterapia onerosa não seria um desperdício? Afinal, essas crianças reprovavam várias vezes, foram expulsas de muitas escolas, depredavam o patrimônio público, incomodavam as outras crianças, agrediam verbal e fisicamente 48


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