Reação 85

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crônica

por Tatiana Rolim

Comissão de Concurso e Candidato PcD

Q

uem nunca se inscreveu para um cargo em Concurso Público ? Sou psicóloga formada há 10 anos, e entre outros títulos e experiências, busco um cargo efetivo a longo prazo. Faço das provas uma forma de análise do meu conhecimento e aprendizado, angariado em praticamente uma década de atendimento psicológico a pacientes. Recentemente, estive inscrita para mais um Concurso, das empresas que realizam provas, conheço praticamente todas: Vunesp, Quadrix, Cetro, CesbUnb, RBO etc... mas cito especificamente a primeira. Nesta última inscrição, conforme exigências de todos os editais publicados, ao me inscrever obedeci o protocolo já conhecido, onde o candidato deve preencher se é ou não é candidato com deficiência, em caso de preencher a lacuna com um “x” para “candidato especial”, deve ainda enviar laudo médico expedido no prazo máximo de 6 meses (como se as deficiências tivessem prazo de validade...rs). Quem conhece um ex-lesado medular ? Ou um ex-surdo ? Uma pessoa que tinha e deixou de ter uma deficiência intelectual ? Enfim... Além de pagar a tarifa de inscrição, acrescentar mais um proporcional para envio do documento via-Sedex, já que não aceitam outra forma de envio, se não pessoalmente. Junto ao tal laudo deve ainda enviar uma requisição conforme a necessidade: prova em Braille, tempo maior para realização da prova, acessibilidade, liberação para amamentação e outras caso houver. Enfim, depois de toda a balela da inscrição é só acompanhar a data e local de prova via on-line. Nesta minha última inscrição, em protesto ao descaso com o candidato com deficiência, depois de todo o “blábláblá” do edital, me recusei a comparecer ao local de destino, praticamente 4 horas

de distância de onde moro, isto porque solicitei local com acesso. A Vunesp, empresa em questão, me encaminhou para realizar a prova numa faculdade localizada na Vila Maria Alta (bairro da zona norte da capital paulista). Um prédio da mesma universidade que, oras a filial se localiza, na Barra Funda (bairro da zona oeste da capital e bem mais próximo de onde fico, afinal pedi para fazer a prova em local próximo). Parece displicência... será ? Entrei em contato com eles que me alegaram considerar a carta enviada, solicitando acesso. Por acesso talvez entendessem: distância. Quanto mais longe, melhor ? É isso ? Melhor o trajeto, melhor a viagem, melhor o conforto, melhor o ânimo para chegar e realizar uma prova de quase 4 horas. Apenas agradeci e manifestei minha indignação via-online, afinal estamos num momento moderno, cheio de tecnologia. Naturalmente até conseguir falar com um “ser humano”, eu já tinha ouvido um monte de opções no atendimento eletrônico da empresa, me recomendando discar 1 para isto, discar 2 para aquilo, discar 3 para tal, discar 4... 5... 6...7...8... até chegar no tal “discar 9”, para falar com um de nossos operadores. Na semana seguinte, não desanimei e estive em Jandira/SP (cidade da região metropolitana de São Paulo) para outra prova, com outra prestadora de serviços. Cumpri o mesmo procedimento de inscrição, pagamento, envio de laudo atualizado e em prazo de validade (ainda sou lesada medular), requisição de acesso “x” na identificação do candidato especial. A pergunta é: para que tudo isto ? Se na hora que cheguei no local de prova me deparei com mil degraus de escada me esperando ?


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