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Correio da Feira 05.AGO.2013
Santa Maria da Feira // Estudo realizado pelo historiador feirense Roberto Carlos Reis mostra impactos deste tipo de eventos
Recriações históricas em Portugal ajudam a estimular a economia Abordando a origem da Feira de Santa Maria da Feira, a abundância de recursos permitiu a fixação de uma população numerosa que podia trocar com os mercadores que atravessavam a região, trazendo produtos artesanais e de luxo do Sul, os excedentes das suas culturas. A feira tão cedo estabelecida em Santa Maria da Feira é a sua expressão concreta e, ao mesmo tempo, o símbolo desta intensidade e variedade de trocas, entre os produtos agrícolas produzidos pelos camponeses e os artesanais trazidos pelos mercadores e almocreves. Pouco sabemos acerca da origem da feira primitiva, a não ser que já existia em 1315, e que se celebrava em Agosto. O facto de a mesma decorrer em Agosto poderá indiciar que se deva ao culto a Santa Maria. Porém, sabe-se que a pedido de D. João Álvares Pereira (2.º Senhor da Terra de Santa Maria), o Rei D. João I instituiu uma feira quinzenal na Vila da Feira, ... por o dicto lugar da feira seer mais nobre..., por...carta dante em santarem XXVij de junho ... era de mil iiij centos XLV annos. Esta carta viria instituir uma realidade que, de facto, parecia existir há muito tempo, basta registar o topónimo Feira. Certo é que a partir de Junho de 1407, por insistência do 2.º Senhor da Terra de Santa Maria, a Vila da Feira passava a ter uma feira quinzenal com ...todollos priullegios liberdades e franquezas que há a feira de trancoso... As realizações das feiras chegam a ser assinaladas pela concessão de certas indulgências e perdões, estabelecidos na chamada “Paz de Feira” (que proibia as hostilidades existias, e suspendia os castigos, por um período determinado). A “Carta de Feira”, concedida pelas autoridades, estabelecia certos benefícios a realizar localmente (como a construção de chafarizes e outras obras de interesse público).
O crescimento das feiras medievais
Como refere o Historiador Roberto Carlos Reis, “as recriações históricas em Portugal, nomeadamente as feiras medievais, registaram nos últimos anos "um "boom", que trouxe "óbvias vantagens" para quem trabalha na área, mas que tem redundado também numa maior falta de rigor histórico”. “Calcula-se que em 2012 se tenham realizado em Portugal mais de 120 Feiras Medievais e Quinhentistas de média ou grande dimensão, e pelo menos outras tantas recriações de outras épocas históricas. Algumas estão firmemente implantadas, e são já ex-líbris locais. A Feira
Medieval de Coimbra (com uma peculiar ligação a grupos amadores, associada ao melhor rigor histórico que encontramos em Portugal), a Viagem Medieval de Santa Maria da Feira (enraizada nas colectividades locais e que se destaca pela sua dimensão, sendo considerada a maior que se realiza em Portugal), os Dias Medievais de Castro Marim, a Feira Medieval de Silves cada vez mais vocacionada para a recriação da época moura, e o Mercado Medieval de Óbidos. A estes exemplos acrescentem-se outras recriações e de outras épocas” - completa.
DR
Viagem Medieval em Terra de Santa Maria
Roberto Carlos sublinha que o “evento Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, que se organiza em Santa Maria da Feira, é um extraordinário exemplo de projecto de rentabilização dos recursos patrimoniais. Ao analisarmos a trajetória de Santa Maria da Feira, a partir da segunda metade do século XX, percebe-se claramente a mudança de uma economia fortemente assente na indústria, para actividades económicas do sector terciário que envolve a prestação de serviços, o comércio, o turismo entre outros. Na década de 90, a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira procurou estimular a atração de empresas hoteleiras de grande dimensão, que foi mais ou menos bem conseguida, nomeadamente devido à construção do Europarque. Em 1999, a Câmara Municipal criou a Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira, S.A, uma entidade de capitais mistos que tem como fundamento conciliar interesses públicos e privados com o objectivo de rentabilizar esforços em prol do Turismo da região. A Viagem Medieval começou com um pequena feira dentro das muralhas do castelo, em 1996, sob proposta de duas Licenciadas em Turismo. Prosseguiu em 1997, durante dois dias em Setembro com a interrupção em 1998. Em 1999 a Federação das Colectividades de Cultura e Recreio, juntamente com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e a Escola Fernando Pessoa chamou a si a organização do evento, realizando-se o primeiro grande cortejo com a participação de 400 figurantes. Esta edição já decorreu durante 3 dias no mês de Junho, também dentro das muralhas do Castelo. O salto qualitativo decorreu em 2000, coincidindo com a presidência portuguesa da União Europeia cuja cimeira dos Chefes de estado decorreu no Europarque. A Câmara Municipal envolveu-se na organização da Viagem Medieval, constituindo-se no grande parceiro da Federação
das Colectividades de Cultura e de Recreio de Santa Maria da Feira. O evento alargou-se por toda a cidade e o número de dias aumentou para 11, decorrendo entre 10 e 20 de Junho. Outra mudança verificou-se no ano de 2003, quando o evento passou a ser realizado em Agosto, permitindo um grande afluxo de veraneantes, turistas e emigrantes. Em 2005, o início da Viagem Medieval em Terra de Santa passou a coincidir com última sexta-feira de Julho, porém na edição de 2009 passou a iniciar-se na última quintafeira do mesmo mês, decorrendo sempre até ao primeiro domingo de Agosto. Em 2010 uma das principais inovações foi Campo de Tendilhas que decorreu na (Quinta do Castelo) dinamizado
pelo Agrupamento 640 do Corpo Nacional de Escutas, permitindo desde então o alojamento em ambiente medieval. O orçamento do evento de 2010 foi de 750 mil Euros, gerando 550 mil Euros de receita. O apoio da Câmara Municipal foi 200 mil Euros. Em 2011, houve uma outra alteração profunda visando a sustentabilidade do projecto, ou seja a 15.ª edição do evento teve entrada paga em determinados horários. A entrada no perímetro da viagem medieval implicou a aquisição e a utilização de uma pulseira (pessoal, intransmissível e inviolável) com um custo de dois euros, permitindo o acesso a dez dias do evento. Registaram-se 228 mil entradas pagas no recinto, e com esta inovação ficou garantida a
auto-sustentabilidade do evento. A receita das pulseiras cobriu o apoio da Câmara Municipal, que neste ano já não investiu orçamento próprio na Viagem, num orçamento global de 900 mil euros. Em 2012 houve um acréscimo de três por cento, que reforça o prestígio e notoriedade do maior evento de recriação histórica do país. Para as contas entraram as 234 mil entradas vendidas, entre pulseiras e bilhetes, representando um encaixe financeiro de mais de 500 mil euros”. Em 2013, a 17.ª edição da Viagem Medieval realiza-se de 1 a 11 de Agosto e aborda o reinado de Afonso II, o Gordo. Em 2013 haverá um bilhete de um dia e a pulseira será para quem quiser vir ao recinto todos os dias.