R.Nott Magazine Issue #04

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abril de 2014

ISSUE#04

Raoul Sentenat: Faces - Ensaio Antoinette - bob kaufman: uma selva no jazz - O sumiço do Guitar Hero: a idade de ferro do Rock n’ Roll - Alternando entre chefs - Uma Poética do Acaso - Interrogando Horacio Fiebelkorn.


WHO ARE THESE PEOPLE?

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ISSN 2358-0127

VINICIUS FERREIRA BARTH

RAFAELA LAGARRIGUE

SE AUTO-INTITULA: EDITOR CHEFE

SE AUTO-INTITULA: DIRETORA DE ARTE

NA VERDADE É: Mestre em Literatura pela UFPR. Estudante de fotografia e desenho.

NA VERDADE É: Produtora de moda, excêntrica.

vinicius.rnott@gmail.com

rafaela.rnott@gmail.com

JULIANO SAMWAYS

GUILHERME GONTIJO FLORES

SE AUTO-INTITULA: COLABORADOR

SE AUTO-INTITULA: COLUNISTA

NA VERDADE É: Professor de filosofia, autor, músico, estudante, ex-enxadrista, ex-filatélico.

NA VERDADE É: Poeta, tradutor e professor no curso de Letras da UFPR.

jspetroski@hotmail.com

ggontijof@gmail.com

mais bem recebidas que já produzimos até agora.

Também, em certo aspecto, uma das mais tristes,

já que apresentamos uma matéria póstuma dedicada ao trabalho do pintor cubano, radicado em Nova York, Raoul Sentenat, que esteve desde o começo da R.Nott nos oferecendo apoio e incentivo, e também seria um dos nossos próximos entrevistados. A Issue #04 é, portanto, dedicada em parte ao trabalho desse querido artista. Trouxemos ainda mais material diretamente de Buenos Aires, como o ensaio de capa, Antoinette – um dos mais belos que já publicamos – e o Interrogatório em vídeo com o poeta platense Horacio Fiebelkorn. São todos materiais de primeira e que nos servem até hoje como referências importantes nos momentos de planejarmos nossos novos números. Finalmente, Baga Defente foi o multicolorido artista que estrelou a coluna R.You!, e em Visuais trabalhamos em conjunto com Zeca Milleo, que fotografou chefs de restaurantes alternativos de Curitiba. Guilherme Gontijo trata em Literatura do poeta beat Bob Kaufman e eu, assumindo provisoriamente a coluna Ruído, falo sobre o fim da era dos rockstars. E fim. Vinicius Ferreira Barth

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PROPOSTA DA REVISTA

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alvez a Issue #04 tenha sido uma das edições

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INTERROGATÓRIO

Raoul Sentenat: Faces

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m homenagem ao artista cubano Raoul Sentenat, falecido em dezembro último, a R.Nott reservou o espaço do Interrogatório deste mês para uma matéria que comenta a sua trajetória e mostra algumas de suas principais obras.

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bob kaufman: uma selva no jazz

uilherme Gontijo Flores apresenta e traduz alguns poemas de Bob Kaufman, poeta americano da geração beat. Talvez o mais selvagem deles, e todavia o menos conhecido. Até agora.

O sumiço do RUÍDO Guitar Hero: a idade de ferro do Rock n’ Roll

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Rock n’ Roll segue por aí, mas onde foi parar a mística, para onde foram os heróis? De overdose ou de aids, ou simplesmente aposentados, fato é que muitos deles sumiram, dando espaço para uma nova era do Rock, que ainda custamos a entender.

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LITERATURA

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VISUAIS

Alternando entre chefs

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fotógrafo Zeca Milleo correu por Curitiba retratando alguns dos mais novos e mais interessantes chefs de cozinha da cidade. Aproveitamos para conhecer um pouco mais esses espaços, apresentados pelos próprios. Confira!

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ANTOINETTE

SUMÁRIO

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R.YOU

Uma Poética do Acaso

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onheça o trabalho de Baga Defente, que faz basicamente tudo. Entre um romance, filmes em super-8, livros-objetos, xilogravuras e videoarte, Baga se mostra um artista de personalidade vibrante. E ele está aqui, apresentado por ele mesmo.

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INTERROGATÓRIO EM VIDEO

Interrogando Horacio Fiebelkorn

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ntrevistamos o poeta argentino Horacio Fiebelkorn em sua casa, no bairro de Almagro, Buenos Aires. Saiba como ele roubava livros de poesia brasileira na juventude e conheça sua carreira, suas raízes platenses e alguns de seus poemas.

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RAOUL RAUL SENTENAT

FAcES FACES por Vinicius Ferreira Barth

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INTERROGATÓRIO

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aoul Sentenat era um dinossauro. Um dos últimos. Caçava rostos nas paredes de Nova York e os fotografava. Caçava rostos na pintura, entre máscaras e faces humanas, e os desdobrava de maneira mágica. Seus rostos eram cerimoniais, austeros, religiosos. Dizia, ele mesmo, ser o rosto humano uma obsessão, a parte do corpo que era a mais comunicativa e eloquente, juntamente com as mãos. Raoul tinha o talento de se entranhar nos próprios muros da metrópole para encontrar beleza e significado, misturados entre camadas de papel velho, propagandas coladas e recoladas, tijolos, novidades, advertisings. Talvez isso se deva ao fato de Raoul não ser um Nova Iorquino de nascimento: o olhar apurado do estrangeiro, daquele que engole a capital ao invés do contrário.

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Raoul Sentenat: Faces

Raoul Sentenat era cubano de Havana, exilado nos Estados Unidos. Conta-se que conheceu em Cuba o ainda pequeno Che Guevara; que compartilhou a plateia de um teatro com Tennessee Williams; uma calçada com Akira Kurosawa. Titulado em pintura, pupilo de Emilio Estevez. Frequentou poetas e fotógrafos. Transitava ele mesmo pelos diversos meios e mídias sem problemas. Dedicou-se à literatura. Foi publicado, realizou leituras públicas, editou revistas. Seu trabalho de instalações fotográficas apareceu na CBS e teve Allen Ginsberg como convidado especial. Dirigiu um programa de televisão a respeito de percussão brasileira, com a aparição de Cyro Baptista. Apareceu na MTV. As faces de Raoul Sentenat são muitas. Como um autêntico artista do século XX, embrenhou-se em grupos literários, estéticos. Achou, no entanto, o caminho final de sua pintura nas máscaras rituais. Máscaras que

simbolizavam os tempos imemoriais do homem: um retorno às origens; um retorno à pintura, sua técnica primeira. Raoul procurava no instrumento maior da expressão humana o sentido de sua arte: o rosto virado máscara, que vira rosto novamente. Um trabalho de pintura acompanhado de um projeto, um statement: “Eu amo observar a infinita variedade e diversidade das faces humanas, o que cada um de nós mantém para si mesmo. Eu procuro por momentos desprotegidos nas expressões faciais das pessoas, as contorções da máscara humana, o mistério de outro ser humano”. Enquanto o próprio objeto cênicomáscara representa uma generalização de sentimentos e caricaturas da psiquê humana, um símbolo representativo de sentimentos comuns a todos nós, a procura de Raoul em sua pintura parece ser uma procura pelo rosto desprovido da máscara social, o particular, o oculto: aquilo que define a humanidade do ser em seu mais íntimo sentido. A máscara ritual, máscara do verdadeiro sentimento

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INTERROGATÓRIO 10

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Raoul Sentenat: Faces

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INTERROGATÓRIO

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Eu amo observar a infinita variedade e diversidade das faces humanas, o que cada um de nós mantém para si mesmo. Eu procuro por momentos

desprotegidos nas expressões faciais das pessoas, as contorções da

máscara humana, o mistério de outro ser humano.

interior, desprende-se da máscara diária, comum à espécie, o que acontece num lapso, em uma fração de segundos onde, como diz o próprio artista, o rosto baixa a guarda e revela aos outros aquilo que é íntimo para si mesmo. Uma lógica fotográfica de captura do momento decisivo. Ambivalentes, as faces de Raoul Sentenat revelam-se diante do espectador, expondo a grandeza da humanidade em gestos, expressões incertas, envoltas em auras e aspectos de tradição, religiosidade, vida em sociedade. Embora vivamos em sociedades não primitivas, percebe-se que a máscara é necessária, que é parte do ritual diário da vida e do que mostramos ao mundo e aos outros. As tintas de Raoul transbordam em grossas camadas borradas. As tonalidades do rosto e do fundo se confundem, as transições são pouco definidas. Os rostos são grosseiros, de traços largos, parecem estanhos aos nossos olhos, brutos, e igualmente comoventes. São ao mesmo tempo mais que um ser humano,

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imponentes, rústicos, ancestrais, e incrivelmente humanos em sua dimensão mais oculta. Comovem-nos. A não-forma da arte em seu estado atual – não-escola, não-tradicional, não mais século XX – e o seu formatomoda que se contenta com a novidade e com a originalidade, tornando muito mais rápidas as transições por estilos, sendo necessárias as breves transições, enfraquecendo-a ideologicamente, pois bem, esse estado da arte encontra uma barreira no projeto de Raoul Sentenat, fincado ideológica e esteticamente na investigação da transparência facial humana, do seu monitor social. Penso eu que o mesmo ocorre com seu projeto fotográfico. As linhas se convergem em um ponto em comum, já que as máscaras são também muros que escondem a intensidade da vida e a emoção. Em uma busca minuciosa, encontra-se rostos nos tijolos, bem como se vê emoções em uma máscara. Nada em sua arte é transitório, mesmo que o instante seja ínfimo, pois

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Raoul Sentenat: Faces

consiste no que há de eterno no ser humano e que o define como tal: humanidade. Achar rostos grudados sob camadas de cartazes nas paredes é semelhante a achar algum desconcerto no grande concreto da máscara social. Raoul despe seus rostos de pudor e sisudez. A ancestralidade das máscaras rituais e religiosas se desfaz no momento em que vemos a nós mesmo ali refletidos. Colocamos esses rostos em frente aos nossos, e ao mesmo tempo por detrás deles, máscaras simbólicas de nossas emoções.

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Raoul Sentenat: Faces

Raoul Sentenat faleceu nos últimos dias de 2013. Poucas semanas antes, não só aceitara nos conceder uma entrevista, que viria a sair já nos primeiros números, como demonstrara diversas vezes apoio ao nosso trabalho e ao projeto editorial da revista. Fica no Interrogatório deste mês essa homenagem da R.Nott Magazine e minha, já que, mesmo que por pouquíssimo tempo, tenhamos tido um contato tão saudável e enriquecedor.

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O sumiço do

guitar hero:

A idade de ferro do Rock n' Roll

Barth Por Vinicius F.

O Rock n’ Roll segue por aí, mas onde foi parar a mística, para onde foram os heróis? De overdose ou de aids, ou simplesmente aposentados, fato é que muitos deles sumiram, dando espaço para uma nova era do Rock, que ainda custamos a entender.

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ocê pode não ter percebido ainda os ventos da mudança passando por entre os fios dos seus cabelos, os clamores da guerra cada vez mais sussurrados, os tambores cada vez menos animalescos, os vocais cada vez menos distintos, e cada vez menos solos alucinados de qualquer coisa. Você pode não ter percebido que há cada vez menos solos de guitarra. Sim, senhores, a era dos heróis acabou. A guerra que o Rock n’ Roll vem travando há algumas décadas parece ter perdido em força e rebeldia, assim como em termos de heróis e de aura. Longe de ser mais um dos velhos profetas que anunciam o fim do estilo, considero que já tenhamos dado o

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RUÍDO passo definitivo da idade dos heróis em direção à idade de ferro: nossos heróis já morreram no campo de batalha e conquistaram os céus – ok, vários deles morreram de overdose, outros tantos só sumiram ou cortaram o cabelo – e, de qualquer modo, fizeram fama, alcançaram a glória imperecível em troca da vida curta, viraram constelações. O Rock n’ Roll fez a sua própria mitologia. E sossegou. Um dos traços característicos desse gênero “eternamente jovem”, e que parece ter se perdido – andamos meio velhacos ultimamente –, sempre foi a invenção de figuras imortais, simbólicas. Da genialidade incendiada e fulminante de Hendrix ao Zeppelin do deus-dourado e do cara das roupas de dragão e do peixe-espada; de Morrison a Janis; de Keith Moon a todo o Rush; do mago moreno Richie Blackmore ao delinquente Axl; do mago polaco Rick Wakeman a Nancy Wilson, que muito antes da fase These Dreams e do aparecimento de bandas como Vixen – quatro louras e uma morena, todas fatais –, já derretia multidões com solos longos e cabelos ao vento; assim também Coverdale. Freddie Mercury. Nos anos 80 o Rock e a ‘atitude’ tornam-se mainstream. Legiões de cabelos aloirados sobem ao patamar dos heróis. Eddie Van Halen, Adrian Vandenberg, Steve Vai, Paul Gilbert, Yngwie Malmsteen, Joe Satriani. Embora bastante mais encaixotado, o Rock se manejou de alguma maneira com a imposição do novo mercado. Novas lendas se criaram. De Mötley Crüe ao rockpop de Roxette e Duran Duran. O mito do Guitar Hero só se agigantou ao longo de apenas três décadas, tornando mitos os que escreveram de punho próprio uma história que por muito tempo não foi ditada por regras de mercado – demasiado simplificadas, pelo bem do “grande público” – e que representaram sonhos de liberdade de gerações. A própria aparição pública desses “monstros

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sagrados” aparentava-se a aparições de cunho divino, a revelações, a epifanias. Palcos, fogos, flashes e telões apenas reforçaram o que já estava criado no espetáculo musical. O Rock alimentava-se da tensão libertária: Steve Harris tinha um contra-baixo metralhadora; Simmons, um machado sangrento. Não era a simples aparição de estrelas, de empoadas bonecas de Hollywood, de galãs. O paralelo com o mito das raças de Hesíodo não é de todo despropositado, como pode ter parecido ao atento leitor. Considerado por muitos como um estilo morto, o Rock atravessa agora uma fase bastante conformada. Já há muito deixou de ser o foco da famigerada indústria musical, que ultimamente tem preferido reinventar Madonnas sangrentas e clones canadenses do pequeno Jordy, para sobreviver apenas alternativamente – em releituras pop, indie, disco, etc., rotuladas como “grande-gênero: Rock” – ou fugindo ao underground, onde legiões de músicos ao redor do mundo mantêm algo dessa chama acesa com novas bandas, bandas cover, tributos, mas sem ir muito além disso. Obviamente, vários dos antigos monstros sagrados continuam perambulando por aí. Notavelmente, as grandes turnês dos últimos anos têm sido de tributo à própria história e carreira, turnês que não lançam mais discos, mas que consistem num best of. Embora atrativas pelo conteúdo, tudo mudou, da idade avançada aos figurinos de pretinhobásico, e ver uma dessas bandas hoje representa, acima de tudo, imaginar o que foram as fases de auge. Não se pode negar que a era dos heróis do Rock n’ Roll se findou nos 1990, com a dispersão da atenção dada pela grande mídia ao estilo, e com um último grande herói, aquele que com uma camisa xadrez inaugurou em Seattle o último grande movimento. Desde então o que vivemos é uma tentativa de recuperação do passado, uma melancolia nostálgica. Strokes e seus pares já se inserem na onda retrô, Killers e Franz Ferdinand sampleiam, eletronizam. O estilo volta-se a si mesmo e não inventa. Como disse

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O sumiço do Guitar Hero: a idade de ferro do Rock n’ Roll Alejandro Dolina, o louvor à própria história é marca certa da decadência. A grande mídia, a grande indústria, trazem o Rock de novo ao mainstream, mas mesclado ao Pop, mesclado a tudo. Gaga é Rock, Renner, C&A e Zara são Rock, e chifrinhos com os dedos aparecem tanto nos shows do Kiss quanto nos festivais de reveillón da Globo. As guitarras distorcidas e os cantos guturais não assustam mais ninguém. A idade de ferro não concebe mais Guitar Heroes. O glamour dos gênios da guitarra deixou de ser parte do pensamento midiático do estilo. A imortalização passou a outros setores, para a mitificação de Gagas e Biebers – este último com uma atitude revoltosa controlada, cercada e protegida por seguranças. Outros, que intentam recriar atmosferas “rocknroll” de outros tempos, simplesmente falham. As músicas não podem ter mais que quatro minutos. Os solos devem ser tímidos e controlados, se é que ainda aparecem. O rompante de criatividade não entra nas salas das grandes gravadoras. A era da hiper-individualização tecnológica culmina na introspecção do Rock. Ele volta-se a si mesmo com timidez, relembrando os tempos áureos, repetindo-o de maneira comportada, com mais notas altas no colégio e menos mobiliário hoteleiro pregado no teto. Escasseiam-se os símbolos, mais deles morrem, pouco ou nada aparece, e a lenda do Guitar Hero parece cada vez mais distante. Não se sabe o que soa nos fones de ouvido pelas ruas. A hiperindividualização e a era da customização criaram também bandas que se adaptem ao estilo individualista, com a multiplicação de bandas underground para um público que valoriza o original, único, marca estética fundamental da customização. Poucas bandas atingem status celestes. Poucas delas chegam a ser globalmente relevantes em termos de aura, talvez com poucas exceções – Arctic Monkeys, Jack White? Mesmo assim, nada se vê de novos símbolos imortais e sagrados.

Em tempos de vida personalizada – comida personalizada no Subway; apps personalizados em celulares e pcs; carros e times de futebol personalizados no videogame, bem como o compartilhamento online de performances, scores e vídeos; rpgs online com personagens personalizados; playlists personalizadas via qualquer site de música; TV personalizada com a programação da operadora ou com o Netflix; a moda fashion, tida em geral como ‘ditadora’ e impositiva, passando por um período, mais do que em qualquer outro, de liberdade de tendências e encaixe em todas as formas de customização particular, onde praticamente tudo é possível desde que represente a sua personalidade original. Tudo aponta para a personalização também da vida musical. Ouvir as suas bandas, que você mesmo descobriu, é mais importante do que ouvir os top10’s. Por outro lado a grande mídia se esforça, e sempre com algum sucesso, em processar a sagração de novas estrelas. Na música pop o procedimento é em geral mais bem sucedido. O Rock parece impedido de gerar novas imortalidades. Ou parece incapaz? Mais do que nunca os heróis sagrados do passado permanecem sagrados, e cada vez mais no passado. Embora no auge da era hiper-individualista, milhares ainda se unem em homenagem a bandas de gerações passadas, que vêm acabando aos poucos, ou que já se foram. Apenas nesse estilo existe tamanho esforço em relembrar esses heróis. Algo existe aí de maior, de valoroso, embora não saibamos explicar bem o quê. Felizmente, ainda temos algumas oportunidades de ver alguns desses heróis ao vivo, mesmo que estejam com bengalas ou já em sobrevida. Me pergunto, e deixo a pergunta, o que será de nós e da música quando isso também já não for mais possível.

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EQUIPE Fotografia: Ailin Cordoba Assistente de fotografia: Stephanie Krzywinski Produção e estilismo: Rafaela Lagarrigue, Jorgelina Pussetto e Lorena Sim Modelo: Vale para Muse Management Maquiagem: Sophie Ledesma para Lemacé - Makeup Imagens de Back: Vinicius F. Barth

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Alternando e n t r e

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CHEFS www.rnottmagazine.com


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o longo dos últimos anos temos convivido com o surgimento de restaurantes com outra cara, diferente do padrão, com experimentações que vão desde o sabor dos pratos até o design ambiente. De uma maneira a lá Big Bang Theory, não é difícil variar o cardápio da semana para uma seleção abrangente, e mesmo global, indo de thay-food com hashis nas terças para pizza servida em toalhas xadrez verdes nas quartas, tendo pique para um mussaká na sexta e ainda

guardar espaço para um iogurte gelado de sobremesa. Tudo isso pode ainda ser acompanhado de uma apresentação e de um atendimento diferenciados. Foi percebendo esse movimento que o fotógrafo Zeca Milleo decidiu conhecer melhor três restaurantes alternativos de Curitiba e fazer com eles uma seção de fotos explorando os diferenciais de cada espaço. Nós aproveitamos e fomos conversar com cada um desses novos Chefs para saber um pouco mais sobre as suas especialidades.

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VISUAIS 40

Dod么 Cozinha Artesanal

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Alternando entre Chefs

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m 2009 eu trabalhava como cozinheira em Porto Alegre, servia em um bar, era responsável pelos Almoços Culturais no Studio Clio, além dos congelados que sempre gostei de preparar. Tinha a vontade de ter um espaço meu, mas que ainda pudesse manter a calma e a atenção no detalhe do preparo das refeições. Logo me dei conta de que meu apartamento em Curitiba – amplo, bem iluminado e com uma vista linda para o Paço da Liberdade – seria um local perfeito para fazer um bistrô secreto, do tipo dos restaurantes puertas cerradas, em que as refeições são servidas na própria casa do chef. As refeições só acontecem com reservas antecipadas, normalmente para grupos fechados, então é possível combinar o menu de acordo com o desejo e restrições dos comensais. Além disso, na medida do possível tudo é feito ali mesmo: pão, queijo, conservas, massalas; só não consegui ter uma horta no apartamento. Gosto muito de aprender, nunca quis ficar repetindo cardápio, por isso o combinar o menu com os comensais é muito estimulante; o número limitado de convivas também permite que cada refeição seja especial, pois cada grupo tem um jeito particular. Assim, foi muito fácil juntar as peças e saber que o que eu queria fazer era abrir a minha casa para grupos, por sorte isso estava começando, com alguns puertas cerradas em Buenos Aires, os Underground Restaurants em Londres já abrindo caminho. Meu público é de pessoas abertas que apreciam a proposta da sazonalidade, da falta de hierarquia entre os alimentos, das propostas de novos contextos para ingredientes conhecidos. No começo a maior parte do público eram artistas plásticos, pois sou formada na Belas Artes, mas logo começaram a trazer a própria família, e os convidados trouxeram convidados, agora imagino que o Dodô tenha um público bem eclético.

Outras informações:http://dodocozinhaartesanal.blogspot.com.ar/ Entrevista Realizada com Aline Higa

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VISUAIS

La Santa F

elipe e Rithi, amigos há 18 anos, se conheceram no prédio onde moravam, na mesma rua do bar, a Paula Gomes. Os anos se passaram e cada um tomou seu rumo. 4 anos sem se falar e se encontraram na gastronomia. Rithi formado em gastronomia e Felipe ingressado em um curso de cozinheiro pelo SENAC. Começaram a trabalhar juntos e decidiram abrir seu próprio negócio. O ponto apareceu por acaso na rua em que moravam e na região em que trabalhavam juntos num café. Levaram 5 meses para montar o bar, pois construíram-no com as próprias mãos. Cinco meses abertos e já receberam várias críticas positivas, sendo uma delas como vice colocados como bar revelação de Curitiba pela revista Veja Comer e Beber 2013 e um dos melhores da cidade pela revista Veja Melhores da Cidade até R$ 50,00. Nosso cardápio é inteiramente mexicano. Servimos nachos, tacos e burritos, sendo que o cliente monta seu prato do jeito que quiser. Temos 5 tipos de carnes, sendo 1 vegetariana, e 20 acompanhamentos. Possibilitando mais de 1800 pratos diferentes, nossos clientes podem vir por mais de quatro anos todos os dias e todo dia provar uma combinação diferente. De sobremesa temos o tradicional churros. No bar servimos drinks mexicanos como a tequila sunrise e margarita. De shots de tequila são mais de 20 rótulos, chope e cervejas artesanais também estão no cardápio. Agilidade no atendimento: os pratos saem em no máximo 2 minutos. Decoração: ambiente informal; nosso mezanino foi idealizado para nossos clientes ficarem à vontade, por isso optamos em montar uma sala de estar com pufes e sofás ao invés de colocarmos mesas. Recebemos clientes de várias faixas etárias, de 4 a 80 anos, mas o forte são os clientes que frequentam outros bares ou baladas da região.

Outras informações: Endereço: Rua Paula Gomes, 485 São Francisco Telefone: 41 3232-8899 Facebook /la santa bar y cocina mexicana > https://pt.foursquare.com/v/la-santa/ >www.lasantabar.com.br

Entrevista realizada com Rithi Rocateli e Felipe Mazzarotto

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Alternando entre Chefs

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VISUAIS 44

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Cozinha Tuk-tuk

Alternando entre Chefs

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Tuk-tuk foi criada em 2013, na garagem de uma casa que foi construída na década de 70 por meu pai. Um fato curioso é que a casa fica numa área de solo encharcado, meu pai trocou o terreno, que a época não valia nada, por um opala 77. Pouca coisa mudou na casa desde então.

Eu reformei um espaço onde era a lavanderia, onde fiz a cozinha, e na garagem, propriamente dita, é que atendo e sirvo o público, de maneira informal inspirado no conceito de comida de rua. No ambiente tento transmitir a ligação que tenho com a cozinha indiana e thai, pendurei uns quadros com fotos de comida de rua na Tailândia e de mercados de especiarias na Índia, locais em que estive; e também fotos minhas com meus mestres. Minha história com essas cozinhas é que me guiam no meu empreendimento, comecei em 2005 tirando férias de um chef indiano, o Murli, no restaurante Swadisht. Posso dizer que a (cozinha) Tuk-tuk foi criada pela paixão que tenho pelas cozinhas dos dois países, às quais me dedico desde então. O diferencial daqui é oferecer comida autêntica, ao estilo comida de rua. Ou seja: barata e descomplicada. Embora eu não economize tempo nem dedicação na elaboração dos pratos, a ideia é de que o prato seja servido de maneira descomplicada. Se a pessoa optar por comer no local temos algumas mesas e servimos água como cortesia. A água servida em uma moringa, vem fresquinha, representa a “restauração”, conceito original da palavra restaurante, restaurar a força, o ânimo. É isso que busco na comida, tocar a pessoa, fazer com que ela senta o prazer e o aconchego de uma refeição bem preparada. Na Tailândia come-se muito na rua, nos mercados ao ar livre e na rua mesmo. Eu comi arroz frito, o Nasi Goreng, em Jacarta, servido em um jornal! Comi Pad Thai nas ruas de Bangkok, feito na wok. É comida de uma panela, com jeito local, com um tanto de ar livre, comida despretensiosa. Queria algo assim, um lugar onde a comida fosse o principal. De uma maneira que meu investimento seja no ingrediente, fresco e original. O garfo pode ser de plástico, mas a primeira garfada tem de fazer o cliente se sentir um rei. O público da Tuk-tuk é em geral de vegetarianos e veganos, e também não vegetarianos. Tenho inclusive clientes indianos. Pessoas que viajaram ou moraram em países onde estas culinárias são onipresentes, pessoas que gostam de experimentar sabores diferentes do dia a dia, pessoas que acreditam nas propriedades nutritivas e terapêuticas -principalmente da comida indiana. Outras informações: Endereço: Rua Camões, 1.888 - Hugo Lange. Telefone: 41 3354-5125 Entrevista realizada com Yuri Ogurtsova www.rnottmagazine.com

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Uma PoĂŠtica

do Acaso

Texto por Baga Defente

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R.YOU

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enho certa facilidade em escrever roteiros para vender serviços de empresas. também não sinto dificuldades em criar textos institucionais para sites. já escrevi episódios de uma série infantil sobre a importância de uma boa alimentação (que na verdade queria era vender margarina). sempre gostei de manipular palavras e construir idéias a partir delas, seja partindo de demandas externas (trabalhos contratados) ou internas (dúvidas, angústias e reflexões que se convertem em poemas, contos, ensaios). mas escrever sobre meu próprio trabalho, sempre foi algo que deixei “pra depois”... aquele depois que nunca chega. quando recebi o email dos editores desta revista dizendo que gostaram do meu trabalho, que fariam uma matéria sobre e que o texto de apresentação deveria ser escrito por mim, soube que não queria fazer algo didático-linear, aquela coisa “nasci blá,

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Uma Poética do Acaso

estudei blá blá e blá blá blá” — nada contra quem o faz, pelo contrário, é até mais fácil de compreender e contextualizar — porém, não acho que isto tenha a ver comigo. com isso em mente, sentei para escrever. na primeira tentativa, gastei um terço dos caracteres disponíveis para (tentar) esboçar a idéia de como, dois dias antes, o fato de ter encontrado um toco de madeira enquanto caminhava até a porteira de onde moro — sim, porteira: em 2011 troquei o cinza de São Paulo pelo verde de um bairro rural localizado em Botucatu, a 240 km da capital paulista — havia expandido minha percepção da xilogravura (cheguei na cidade bem na época que surgiu um ateliê voltado à prática desta técnica, do qual ainda participo), buscando com isso fazer a ponte com a Poética do Acaso, principal conceito que permeia meu trabalho, que se apresenta em três meios principais: Artes Visuais, Audiovisual e Escrita Criativa. mas ok, vamos lá: nasci numa pequena cidade no interior de SP sob o signo de Capricórnio, ascendente em Câncer e lua em Aquário — ou seja, meu ser é um constante campo de batalhas onde razão & emoção se digladiam desde 1984. assim sendo, em 2014 completei 30 anos e desde os 28, sempre no início do ano, Saturno me dá uma surra, mas eu insisto, me levanto, o outono chega e as coisas [46 - 47] imagem 1 Já Dizia Axl Rose

[48] imagem 2 Um Lobisomen Americano no Arraial

[49] imagem 3 Trimurti

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R.YOU melhoram. mas você não estão aqui para ler sobre astrologia, né? comecei algumas faculdades (Publicidade, Cinema, Filosofia), mas jamais completei o primeiro ano de nenhuma delas, vindo a concluir um curso técnico de Cinema & Vídeo pela Academia Internacional de Cinema (AIC), na qual fui cobaia, integrando a primeira turma da mesma (2004-2006).

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desd’então comecei a trabalhar no meio publicitário, primordialmente com edição e roteiro. paralelo a isso, comecei a desenvolver meu trabalho autoral nesta área, com enfoque na videoarte, o que me transformou em uma espécie de oneman band, realizando obras nas quais acumulo praticamente todas as funções, salvo eventuais (e bem-vindas) ajudas de amigos. detalhe curioso: apesar de ter estudado (e trabalhar com) criação de roteiros, nenhum dos filmes por mim

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Uma Poética do Acaso feitos depois da escola partiu de alguma ideia ou pressuposto, surgindo a partir de imagens captadas ao léu que ganham significado narrativo durante a etapa de montagem. como boa parte das crianças, eu gostava de desenhar. muito. passava tardes rabiscando papéis com lápis de cor, guaches, giz de cera, aquarelas, batons e o que mais tivesse às mãos. assim foi até o colegial, onde os espaços em branco das minhas apostilas eram invadidos por personagens estranhos que divertiam e chocavam meus colegas de classe. a partir daí o desenho foi ficando pra trás, sendo gradualmente substituído pela escrita, em especial, a Poesia. aos 18 anos saí da casa dos meus pais, mudei para a capital e ganhei minha liberdade pessoal. mergulhei na cidade grande, conheci meu primeiro grande amor, vivia tudoaomesmotempoagora, e a escrita foi a forma que encontrei de não ficar (patologicamente) maluco. escrevia com frequência, geralmente poemas tão tristes e melosos que nas primeiras linhas matariam diabéticos. aos poucos isso foi sendo superado e, dois anos depois, morando em Curitiba — minha querida fase “pseudo-beatnik” — essa escrita ganhou ares compulsivos e mais experimentais, crescendo em volume e qualidade, refinando-se.

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[50] imagem 4 Scorpio, the Sexy Butcher

[51] imagem 5 Processo (in)Digestivo

[52 - 53] imagem 6 Love is Love

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Uma PoĂŠtica do Acaso

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...meu conhecimento é empírico, baseado na experimentação — e isso se reproduz em todas minhas áreas de atuação. trabalho com suportes encontrados em caçambas, frases e objetos achados na rua, restos de obras

alheias e demais elementos que geralmente são

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descartados como lixo.

após dois anos interessantes na capital paranaense, voltei para a Pauliceia e, graças ao contato com um grande amigo de infância que veio morar comigo, o desenho e a pintura voltaram a integrar meu cotidiano. nunca fiz cursos ou estudei técnicas de pinturas, meu conhecimento é empírico, baseado na experimentação — e isso se reproduz em todas minhas áreas de atuação. trabalho com suportes encontrados em caçambas, frases e objetos achados na rua, restos de obras alheias e demais elementos que geralmente são descartados como lixo. gosto bastante de colagens e há 4 anos minha principal influência vem do meu filho mais velho, hoje com 6. ainda nas artes visuais, uma das minhas séries mais recentes representa bem a influência do Acaso em minha obra: em O Outro (&) Eu, parto de suportes pré-trabalhados — telas pintadas por crianças, abandonadas por outros artistas, encontradas em entulhos — para continuar criando a partir dali, incorporando elementos que vão surgindo no decorrer 54

do processo. nos últimos anos, fiz experiências com super-8 (agora tô encantado com o VHS), participei de algumas mostras e festivais — destaque para prêmio de melhor videoclipe num festival no sul e uma exibição na Grécia. como artista visual, descobri a aquarela, participei de algumas exposições coletivas, atualmente estou interessado em publicações independentes e venho fazendo livretos onde misturo desenhos e textos. fiz também um livro-objeto, HaiKai(dos), composto por 12 xilogravuras e

[55] imagem 7 O Fantasma do Amor Passado

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[55] imagem 8 Lugarbonito Díptico


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[56] imagem 9 Conseil d'une souris

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[57] imagem 10 Asas para Arjuna

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[57] imagem 11 Uma Noite na Tunisia com Tim Maia


Uma Poética do Acaso

pretendo ainda este ano colocar no ar dois projetos de financiamento coletivo, um para viabilizar a impressão destes livros já finalizados, outro para concluir e publicar meu primeiro romance, iniciado sete anos atrás. no final das contas me empolguei, o espaço acabou e eu poderia falar muito mais à respeito de tudo isto, mas se vc ficou curioso ou gostou do que viu, meu trabalho pode ser conferido no site www. nada.art.br e meu email é baga@nada.art. br. gracias!

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INTERROGATÓRIO EM VIDEO 58

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Interrogando Horacio Fiebelkorn

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ntrevistamos o poeta argentino Horacio Fiebelkorn em sua casa, no bairro de Almagro, Buenos Aires. Saiba como ele roubava livros de poesia brasileira na juventude e conheça sua carreira, suas raízes platenses e alguns de seus poemas.

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