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“Não acreditei no que eu mesma tinha visto.”

Relatos de assédios recentes assustam universitárias falta de monitoramento ao redor do ambiente universitário ocorre pela falta de registro de boletins de ocorrência. Mas, para atender ao apelo das instituições, a polícia começou a realizar um movimento no sentido de aumentar a patrulha nos campus da UFU em Uberlândia, principalmente no Santa Mônica, bairro com mais relatos.

No ano passado, foi aprovado o projeto “Dossiê Mulher”, que tem como intuito divulgar estatísticas sobre a violência contra as mulheres e pressiona a prefeitura na coleta e tratamento desses dados. Porém, todas as informações acerca do assunto ainda são escassas.

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O início de mais um semestre na UFU é marcado por uma nova onda de assédios contra mulheres, principalmente ao redor dos campi da universidade. Neste ano, o grupo de comunicação de segurança do WhatsApp “Moradoras do Santa Mônica”, no qual estão presentes alunas da UFU, recebeu inúmeras histórias de assédio e agressão.

Lara Barbosa, estudante do curso de História da UFU, foi vítima de assédio e relatou sua história no grupo, contribuindo para a coleção de casos recentes que assustam as estudantes. Lara passeava com seu cachorro e sua namorada em um domingo por volta das 19h30 e, quando passou em uma rua com pouco movimento, avistou um homem com um comportamento estranho.

“Vi um homem parado sentado numa moto. Ele estava mexendo nas mãos e fiquei desconfiada, mas achei que ele estava usando o celular. Quando vi, percebi que ele estava se masturbando”, relata a estudante.

Desacreditada da situação, a vítima se dirigiu imediatamente para a sua casa, mas demorou alguns dias para assimilar a cena. “Nesse dia, eu me questionei muito se eu não estava errada. Mas quando eu vi que várias meninas relataram o mesmo, concluí que aquilo realmente aconteceu”, conta.

Posicionamento Das Institui Es

Diante desse contexto, não houve nota oficial da Universidade. No entanto, Elaine Saraiva Calderari, pró-reitora da assistência estudantil, afirma: “Hoje temos parceria com os projetos ‘Acolhidas’ e ‘Todas por Elas’, para apoio jurídico das mulheres que denunciam”. Ela aponta ainda que “quando acontece uma violência, temos o ‘Nua Vidas’, o núcleo da FAMED que fica dentro do HC, em que todas as estudantes, servidoras ou qualquer cidadã recebe não só tratamento jurídico ou psicológico, mas também o tratamento médico”.

Amanda de Castro, coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), conta que percebeu um aumento significativo dos casos de assédio na UFU e nos arredores, mas acredita que isso esteja ligado com o período de volta às aulas, em que há uma maior concentração de calouras. Amanda, como corpo da representação dos estudantes, afirma que o DCE mantém um papel de promoção do debate e cobrança de um posicionamento da Universidade.

Além disso, todas as entrevistadas afirmaram que, ao entrar em contato com a Polícia Civil para cobrar uma maior segurança em torno da faculdade, ouviram que a justificativa de que a

Em contraponto, a entrevistada Lara, que foi vítima recentemente, afirma que não realizou o boletim de ocorrência, pois não vê da Polícia ou da Universidade posicionamentos contundentes, e considera que a denúncia não mudaria nada. “Não pensei em ir à polícia, pois eu ia falar o quê? Que vimos um homem se masturbando no meio da rua, ficamos assustadas, mas que ele logo foi embora? Que e a gente não viu placa, rosto ou roupas? Ia ser o mesmo que nada”, relatou.

Situa O Das Universidades Brasileiras

Cerca de 63% das universitárias do país já foram vítimas de assédio sexual dentro dos campi. Sendo que 22% afirmaram ter sofrido essa violência mais de uma vez.

A Viol Ncia Contra A Mulher Em Uberl Ndia

Amanda Gondim, parlamentar que milita em prol da luta LGBTQIA+ e das mulheres, explica que a situação de assédio é complicada pois para a implantação de políticas públicas eficientes faltam dados e informações mais concisas.

Essa situação de insegurança envolvendo as mulheres nos bairros ao redor da UFU não é algo exclusivo do município de Uberlândia, nem dos bairros universitários em geral. Na realidade, ela se estende até mesmo para dentro dos muros dos campi, um ambiente que, em tese, deveria ser seguro. De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Avon e Data Popular, cerca de 63% das universitárias do país já foram vítimas de assédio sexual dentro dos campi. Sendo que 22% afirmaram ter sofrido essa violência mais de uma vez, evidenciando que não se trata de um problema isolado, mas sim algo recorrente e distribuído entre as várias instituições de ensino do país, criando um ambiente acadêmico hostil e intimidador para as estudantes, podendo afetar sua segurança,bem-estaredesempenho. As violências sofridas pelas mulheres podem se apresentar das mais variadas formas. Segundo o livro “Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas”, organizado por pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB) e publicado em 2022, há 31 tipos de violência sexual que uma pessoa pode sofrer, sendo 16 delas mais recorrentes contra mulheres, 7 contra homens e 8 comuns aos 2 gêneros. Nota-se que as violências que assolam majoritariamente as mulheres são mais abundantes. 