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Bar da Dona Antônia tem até junho para deixar Avenida Belarmino

Proprietária do terreno pretende demolir o estabelecimento para construção de prédios no local

Famoso entre as conversas dos universitários do bairro Santa Mônica pela porção de torresmo com mandioca e o litrão de cerveja a R$9,50, o Bar da Dona Antônia está em busca de um novo endereço. 90 dias antes de vencer o contrato de aluguel, a proprietária do bar, Antônia Gonçalves Guimarães, mais conhecida como Dona Antônia, foi notificada de que não haverá renovação. O espaço, ocupado pelo estabelecimento comercial há mais de 22 anos, dará lugar a edifícios residenciais. A expectativa é de que o bar feche as portas em junho, mas reabra em breve em novo endereço, na Avenida Segismundo Pereira.

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Inaugurado em dezembro de 2000, o estabelecimento começou sem a pretensão de ser um bar. Dona Antônia e seu ex-marido vendiam frango assado quando perceberam que os fregueses gostavam de consumir os produtos ali mesmo. “Um grupo da UFU começou a frequentar todo dia para comer frango assado e tomar uma cerveja, trazendo sempre mais pessoas e, quando vi, já tínhamos trocado tudo e transformado em bar", relembra.

Frequentador assíduo do bar, o estudante de Economia, Pedro Henrique Romão Parreira, conta que ao chamar seu colega para “ir na Tonha tomar uma cerveja e comer um torresmo", chegou a ignorar que faria uma prova de Cálculo na manhã seguinte. O que era para ser uma “saída rápida” se estendeu para além das 4 horas da manhã. Com tanto carinho pelo local, o universitário garante que é lá que celebrará sua festa de aniversário no mês de maio.

Com o bar enraizado no local há mais de duas décadas, a trajetória de muitos universitários foi profundamente marcada pelas histórias que ali foram vividas. O estabelecimento foi palco de primeiros encontros amorosos, casamentos, carnavais organizados por estudantes, transmissão de seis Copas do Mundo e marcou a vida de seus frequentadores de tal modo que o torresmo da Dona Antônia tornou-se uma das marcas registradas do bairro e tatuagem no peito de um fre- guês. “Minha maior alegria é ver os clientes que já se formaram voltarem com a família. Eles falam sobre o bar e os familiares têm curiosidade de conhecer”, relata.

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No início de 2022, Dona Antônia foi informada sobre o interesse de venda, contudo, não teve condições financeiras de adquirir o terreno. “A pandemia prejudicou muito os estabelecimentos comerciais e, mesmo tendo a preferência na compra, eu não tinha o dinheiro necessário. Então, a proprietária acabou vendendo para a construtora ATP”, explica.

Em entrevista ao Senso (in)Comum, Almir Garcia Fernandes, professor de Direito Civil, afirmou: “todos os procedimentos ocorreram dentro da lei. Tanto a antiga proprietária, como a construtora ATP agiram dentro de limites legais. Nenhum direito da inquilina foi infringido”. Esta também foi a percepção da Dona Antônia, que declarou não ter se sentido lesada em nenhum momento do processo. “Fechar a gente não vai. Encontrei na (avenida) Segismundo Pereiraumacasaquepodevirarcomércio”.

Inclusive, ela alega sempre ter mantido uma relação cordial com a proprietária. Durante a pandemia, quando todos os bares tiveram de fechar temporariamente devido à questões sanitárias, muitos não conseguiram arcar com o acúmulo de aluguéis e foram à falência. “Na verdade, a maioria teve problemas, fechou e tudo. Eu não fechei aqui porque a dona foi muito legal comigo, fiquei devendo um monte de alugueis, 4 meses, e ela nem me cobrou. Aí o resto eu fui pagando aos pouquinhos”, afirmou.

Competi O Gastron Mica

A reabertura do estabelecimento após o período da pandemia, entre os anos de 2020 e 2021, não significou regresso da antiga freguesia. Entretanto, o movimento voltou à normalidade em 2022. O motivo? Dona Antônia o atribuiu à participação no concurso Comida di Buteco. “Ano passado foi o que me salvou, tantas pessoas que vieram, pessoas que já tinham saído daqui ou que nem frequentavam mais, e ainda assim vieram prestigiar. Foi muito legal, movimentou bem o bar.”

O concurso gastronômico premia o melhor petisco preparado por cozinhas de boteco em diferentes cidades. Ele acontece todos os anos no decorrer do mês de abril, em 25 municípios brasileiros. “São mais de 20 bares em Uberlândia que participam e eles escolhem depois quem tem o melhor petisco. Em 2022, partici-

POR CAMILLA PIMENTEL E PEDRO KRÜGER

pei com o torresmo”, afirmou Dona Antônia. Quando indagada sobre a possibilidade de ganhar o concurso, replicou: “ah, pra isso, eu nem ligo, o importante é participar, ajuda muito na divulgação."

Para a edição de 2023, que aconteceu entre os dias 7 e 30 de abril, o petisco escolhido como carro chefe foi o “Delícia da Tonha”, bolinhos de queijo acompanhados de molho barbecue de goiabada. Além dele, o cardápio especial para o evento incluiu outras três porções: a Tortilha Frontera com cheddar e carne moída, o Chicken Supreme com molho de cebola e a Batata Pops.

VERTICALIZAÇÃO URBANA: DA FICÇÃO PARA A REALIDADE

Um viúvo, já idoso, é constantemente assediado por uma construtora que pretende comprar a sua velha residência para erguer edifícios comerciais modernos. Mesmo depois que todos os seus vizinhos cederem às investidas insistentes, Carl Fredricksen se recusa a renunciar ao seu lar, o único elo físico que ainda o liga a sua falecida esposa e companheira de toda uma vida, Ellie. Por fim, ele resolve “levantar voo” com a própria casa para um destino paradisíaco na América do Sul. O relato faz parte da animação Up – Altas Aventuras (2009, Disney/Pixar) e traduz de forma lúdica o fenômeno da verticalização de bairros, outrora pequenos e residenciais.

Verticalização urbana é o termo usado para referenciar o crescimento vertical pelo qual passam as grandes cidades através do aumento do número de prédios. No caso de Uberlândia, essa verticalização começou a ser notada com maior destaque a partir do ano de 2005, tendo no bairro Santa Mônica seu maior expoente. De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos (SEPLAN), entre os anos de 2005 e 2013 foram aprovados cerca de 922 edifícios com até quatro andares no município. Destes, aproximadamente 47% estão localizados no Santa Mônica, mesmo a população do bairro correspondendo a apenas 5,7% do município.

A razão dessa verticalização ter ocorrido de forma mais acentuada no Santa Mônica, segundo o professor Almir, reside no fato de que até os anos de 1990, esta parte da cidade não era tão valorizada, quadro que se alterou ao longo da década de 2000, por conta da construção do Centro Administrativo da Prefeitura, do Pátio do Sabiá e da revitalização da área do Parque Sabiá. A verticalização acompanhou a valorização do bairro. 