Jornal Abarca - Edição de Abril de 2020

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS

1,50€ (IVA 6% INCLUÍDO) • MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438 • DIRETORA: MARGARIDA TRINCÃO

MÁXIMO FERREIRA

Um dos astrónomos mais influentes e respeitados do país P. 12-13 SOCIEDADE AVIEIROS ATÉ AO FIM

Asua saga começa na pobreza, na fome e pelo instinto de sobrevivência, deixavam Vieira de Leiria e rumavam ao Tejo. P. 24-25

AUTORIZADO A CIRCULAR EM INVÓLUCRO FECHADO DE PLÁSTICO OU PAPEL AUTORIZAÇÃO Nº DE05292007MPC

TAXA PAGA POSTED PAID PORTUGAL CONTRATO Nº 537290

O Mundo em Estado de Emergência

Conto Um amor assim não devia morrer...

Parecia um vulto de outro planeta que por ali deambulava sem sentido nem propósito. P. 29 ECONOMIA Porque salvamos os bancos?

Aos contribuintes o Estado exige esforço e, ao mesmo tempo, injecta avultadas quantias nos bancos. P. 36 PUB

Entrevistas: Dra. Emília Valadas (Infecciologista Hospital Santa Maria) | Dra. Maria dos Anjos Esperança (Autoridade de Saúde) | Enf. Ângela Sousa | Informações Gerais | Evolução dos Casos na Região | Impacto Económico | Portugueses no Estrangeiro | Curiosidades e Mitos | Fotorreportagem: Uma Região em Quarentena.

(Imagem de Capa de Ricardo Santos) PUB

MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

PAGUE A SUA ASSINATURA não custa nada. basta utilizar uma caixa multibanco e Fazer a transferência para um dos nib abaixo indicados

EDITORIAL MARGARIDA TRINCÃO DIRECTORA

Dever cívico Embora tenha restringido consideravelmente a minha natural apetência para ler e ouvir notícias, é impossível não ser avassalada por elas. Tento ler com atenção as que julgo credíveis, correndo o risco de me enganar. Os números são os números, as suas leituras são variáveis.

Entre os textos que li houve uma frase que retive, quase como um lema: “as cidades quiseram acabar com o campo e o campo vai acabar com as cidades”. Sê-lo-á. Tal como os rios desviados do seu curso original, a ele retomam quando há cheias.

Acredito no equilíbrio universal. As forças que emanam da terra, dos mares, do universo, impõem os seus valores quando o limite do razoável é ultrapassado. Não sei se é isto que provocou a pandemia em que vivemos. Sei que o poder económico, os PIB, as subidas e descidas de brent comandam ou comandavam o mundo.

Nunca vivi uma guerra ao pé da porta. Senti, neste rectângulo, o drama dos que partiram para África e Timor. O longo arrastar no Tejo dos navios que largavam amarras do Cais da Rocha de Conde de Óbidos, carregados de mancebos, para muitos numa viagem sem volta.

Vi embarcar os meus primos, amigos e conhecidos... Ouvi relatos de quem não sabia quem era. Senti a dor da incerteza, de um regresso ameaçado... Mas nunca presenciei uma guerra no local onde vivia.

Hoje o inimigo pode estar em qualquer parte, em qualquer um de nós e por dever cívico é tempo da população mundial perceber que cada um é responsável directamente pela vida de muitos.

Não é assim tão mau ficar em casa. O mundo que se avizinha por certo sofrerá mudanças: Mas até quando os homens se lembrarão da ameaça que viveram?

Se alguma justiça existe na morte e na doença é que não escolhe os indigentes e poupa os senhores do dinheiro. Se bem que estes morrem com mais dignidade e sejam atendidos de outra forma. Mas também morrem...

A pandemia irá arrastar-se, não sei por quanto tempo, nem sei se alguém o pode afirmar. Sei que começou num grande aglomerado urbano. Sei que resulta da mutação de uma molécula conhecida pelos cientista há longos anos. Sei que é coberta por uma camada de gordura, sei o que todos sabemos... E sei, como todos sabemos que cada um de nós é responsável pela vida de muitos. Ficar em casa, não é só para protecção individual. É um dever cívico.

Não sei quantos morreram vítimas do Covid 19, sei que o que é conhecido fica muito aquém dos que em 2019 morreram de fome, para manter economias, PIB e toda essa trapalhada. Mas a fome não é contagiosa.

Talvez quando a tempestade passar, o mundo dos que ditam aos leis se lembre dos que nada têm.

NR. Nesta edição o jornal abarca muda de ano. Por motivos óbvios assinalaremos o aniversário quando o Covid 19 partir.

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MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

PANDEMIA

Saibamos ser grandes

“

Saibamos ser grandes, como o momento exige, e isso engloba sermos sensatos nas nossas decisões e protegermos os mais frágeis. Aproveitemos estes momentos para nos dedicarmos à família. (...) No final vamos vencer.

A todos os nossos leitores, anunciantes, parceiros, seguidores e amigos, estes são dias estranhos que exigem de nós aquilo em que tantas vezes mostramos ser os melhores do mundo: solidariedade.

O país e o mundo precisam que sejamos solidários. Que saibamos cumprir aquele que é, por ventura, o maior dever cívico das nossas vidas. E não nos pedem assim tanto quanto parece. Pedem-nos para que fiquemos em casa, no conforto dos nossos lares e na companhia dos que mais amamos, à espera que a tormenta passe. Para que a tormenta passe.

Mas se o país e o mundo soar muito vago à maioria de nós, pensemos no nosso círculo onde encontraremos os nossos avós, os nossos pais, os nossos amigos, os nossos filhos, os nossos netos, a nossa família. No fundo, a nossa vida.

Este não é um problema individual. O “nós” sobrepõe-se ao “eu”. O bem-estar comum depende das acções de cada um de nós. Apelamos à consciência de todos para que daqui a pouco tempo possamos olhar para esta pandemia e dizermos, orgulhosamente, que contribuímos para que Portugal se tornasse num modelo exemplar.

Nesta edição poderão ver uma fotorreportagem (páginas 34 e 35) que demonstra o bom comportamento das nossas gentes no que diz respeito ao isolamento social, em contraste com as notícias que nos chegam das metrópoles do país. Entristece-nos passarmos a EN118 ou as curvas que acompanham a margem norte do Tejo e não vermos praticamente ninguém nas ruas, os cafés fechados, os bancos de jardins vazios ou as escolas sem as crianças na rua a brincarem e a acenarem aos carros que passam. Mas algo tem de ser feito para vencermos esta guerra com o menor número possível de baixas.

O nosso inimigo é invisível. Não sabemos cientificamente como o anular mas, até ao momento, os casos de sucesso na reversão do crescimento de contágio adoptaram medidas de isolamento social, como atesta o exemplo de Macau, cujo testemunho de um residente pode ler nestas páginas. Isto não significa férias, tardes na esplanada ou turismo.

Apelamos a que cumpram este período de forma exemplar para

o bem-estar de todos. Não há necessidade de corrermos para os supermercados e esvaziarmos as prateleiras, ignorando quem vem atrás e já nada encontra. Normalmente, os mais carenciados e mais frágeis acabam por sofrer com esta esquizofrenia social. Saibamos ser grandes, como o momento exige, e isso engloba sermos sensatos nas nossas decisões e protegermos os mais frágeis.

Aproveitemos estes momentos para nos dedicarmos à família.

Nós que tanto remamos contra o imediatismo que nos consome a vida, apelamos agora para que este período possa servir para nos dedicarmos aos nossos avós, aos nossos pais e às nossas mães, aos nossos filhos, aos nossos netos, aqueles que partilham connosco um tecto e que, tantas vezes, porque “não há tempo para tudo”, ignoramos.

Que saibamos converter este momento de angústia em momentos de partilha, dedicação e amor. Dói a falta de um beijo, de um abraço, de um toque de pele... mas vai passar...

Não nos compete a nós dar instruções científicas sobre o tema mas compete-nos a nós informar. Como meio de comunicação social temos o dever de não criar alarmismo, de não gerar o pânico de forma inconsciente e de informar. A melhor forma de vos informar, nestes dias de incerteza, passa por vos aconselhar a seguir todas as normas da Direcção-Geral da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Podem consultar mais informações na nossa página e no vídeo explicativo que vos deixamos.

Deixamos, também, uma palavra de gratidão e apreço aqueles que abdicam das suas famílias para ir trabalhar de forma a que consigamos ultrapassar rapidamente e com sucesso este capítulo da nossa história. A todos os médicos, enfermeiros, bombeiros, polícias, militares, trabalhadores de retalho, farmacêuticos, entre outros, a todos aqueles que se mantêm de pé para não nos deixarem cair: Obrigado! Vocês são os nossos heróis.

No final vamos vencer e teremos tempo para poder chorar a dor que estes tempos nos causaram.

Originalmente escrito a13 de Março e reescrito a 30 de Março de 2020, A redacção do Jornal abarca.

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MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

OPINIÃO

OPINIÃO

MÊS A MÊS

CARPE DIEM

Ana Teixeira*

Anabela Ferreira*

Pascal, Nietzsche e o Covid 19

Fragilidades

Pouco sei sobre Pascal. Pouco li sobre o seu pensamento.

Contudo, nestes últimos dias, numa das minhas leituras tropecei numa frase do primeiro e transportei-a para este amarfanhado de palavras em tempos ainda mais amarfanhados.

Abreviando, este matemático e filósofo francês do século XVII homem de saúde frágil, dividido entre a ciência e a religião, morre aos 39 anos.

Pois bem, tido como o criador da primeira máquina de calcular, entendia que o homem era “um nada do ponto de vista do infinito do universo, um tudo do ponto de vista do nada, isto é, um meio termo entre o nada e o tudo” e que a única esperança do homem seria Deus.

Nos seus últimos anos de vida, já em sofrimento e dor física, chama a atenção para a doença como algo da qual devemos fazer uma leitura e retirar ensinamentos “É preciso fazer bom uso das doenças”.

Repetindo que vivemos tempos amarfanhados, questionei-me sobre qual o bom uso que poderia fazer do malfadado Covid 19 e que me aprisiona na minha própria casa, ainda que sem pulseira eletróncia.

Inicialmente, pensei: só mesmo um filósofo para tal pensamento. Atendendo que o homem foi um cristão convicto julguei-me esclarecida. Dando continuidade ao tema cruzo-me com Nietzsche, o Anticristo. Deste sempre sabia mais um pouquito mas desconhecia a sua relação com a doença.

O que têm, então, estes dois filósofos em comum?

Nietzsche também teve uma vida marcada pela enfermidade. Morre aos 56 anos e também não viu na doença uma diminuição de si mas antes um desenvolvimento de possibilidades e esperanças. Nas suas palavras “a doença deu-me igualmente o direito a uma completa inversão dos meus hábitos”.

Ora bem: em comum estes dois filósofos ao estabelecerem uma relação entre a filosofia e a doença, espicaçam as nossas consciências acomodadas na ditadura do mais: mais dinheiro, mais poder, mais rede, mais visibilidade…

A título exemplificativo, constatam os números que a paragem forçada na indústria chinesa levou a uma diminuição estrondosa dos indicadores de impacto negativos de acção humana sobre o ambiente, sobretudo nas emissões de gases com efeitos de estufa.

Cá dentro, será que é necessário sermos amarfanhados por este Covid 19 para reflectirmos e concluirmos a importância do investimento na ciência e no sistema nacional de saúde?

Por esse mundo, será que é necessário morrer tanta gente para mudar comportamentos, cumprir e assumir tratados internacionais?

Não será o tempo de acertar agulhas?

Chegou pé ante pé. Devagarinho. Primeiro longe, distante, remoto. Beliscando apenas a nossa atenção. Diluído e misturado com tantas informações negativas e vindo as notícias do outro lado do mundo, quase não se dava por ele. Como um felino que depois, subitamente, se fez rápido e mortal. Daí a pouco, transformou-se em pandemia e revelou, uma vez mais, se dúvidas houvesse, que o ser humano é o “bicho da terra tão pequeno”, tão irrelevante e tão frágil.

De facto, de nada vale estabelecer planos, projetos, lutar, fazer guerras mesquinhas e viscerais. Num segundo, tudo pode mudar, o castelo pode ruir, desmoronar.

Nestas épocas de incerteza, ainda mais marcadamente incertas, muitos apegamse ao divino. Mas tudo o que seja exteriorização de fé, ritual, se este for coletivo, é desaconselhado. O vírus é antissocial e, logo, antirreligioso. O religioso teve de se alterar. Se é crente, reze, mas faça-o sozinho. Não só pelas quarentenas voluntárias ou impostas, mas pelos contactos sociais que se têm que alterar, o contacto e a proximidade física são de evitar.

O desporto segue a mesma linha, com eventos desportivos a realizarem-se com porta fechada. Na educação, escolas a fecharem. Na saúde, centros de saúde a encerrarem e, algo que me chocou, tendas de hospital de campanha a serem montadas para os doentes suspeitos desta doença designada Covid-19. O meu primeiro pensamento foi se as condições seriam as suficientes, pois, se um paciente de uma comum pneumonia, ou simples gripe, passa uma noite numa tenda, com temperaturas impróprias, o seu estado vai, seguramente, agravar-se. Não obstante, assim não é, de facto. Com efeito, trata-se de estruturas de autonomia logística com geradores, purificação de águas, iluminação, climatização, pressão positiva, equipadas com cozinhas, casas de banho, com água e combustível em armazenamento, próprias para situações de calamidade e catástrofe ou para situações de acidentes com elevado número de vítimas. Portanto, estamos perante a tal máxima: situações de exceção requerem medidas excecionais.

Com milhões de pessoas em isolamento, por cá, as medidas pecaram, a meu ver, por tardias e lentas. Aquando do H5N1, designado comummente de gripe das aves, algumas destas medidas eram caricatas, mas serviram para que não houvesse a “pandemia letal”, aguardemos que também desta vez corra bem.

Como quase todas as situações, há sempre um aspeto, dentro de toda esta negatividade, que é positivo – o ambiente. Este vírus preservou mais o planeta do que os vários acordos ambientais. Caricato, é preciso uma pandemia para pouparmos o planeta.

A economia ressente-se igualmente. Com o colapso das bolsas e uma economia em rede, o efeito dominó é mais do que evidente. Todos saem prejudicados. Recordo-me da época em que a indústria têxtil portuguesa se queixava da invasão dos produtos da China. Agora, após a adaptação, os empresários deste ramo queixam-se porque ficam sem materiais para as suas confeções, o que as coloca de novo em risco.

O mundo encolheu. Não só porque já não se deve ou pode viajar, ficando balizados pelo nosso território, cada vez mais, como também porque, com notícias ao minuto da “aldeia global”, tudo se sabe já e se torna mais abrangente a perda humana.

Irrita-me quem minimiza a importância deste vírus, sobretudo se alega que as vítimas são pessoas de idade e indivíduos já com outras patologias. Essas pessoas esquecem-se, certamente, que os seus pais, se ainda têm a bênção de os ter, são idosos e que os seus filhos ou outros parentes próximos podem ter as ditas patologias. Não deve ser por o que cai ser o outro que não nos devemos preocupar e encolher os ombros da indiferença.

O caráter do vírus camuflado é peculiar, dado o seu tempo de incubação ser extenso.

Trata-se de um inimigo silencioso e invisível que nos usa para se multiplicar, o que gera uma maior insegurança.

A expetativa é que a curva do número dos casos, e de mortes consequentes, que tem vindo a aumentar, toque no pico e inicie o seu declínio.

Adote as medidas de prevenção veiculadas e sobretudo não entre em pânico. Já não estamos na Idade Média, o tratamento é possível para a maior parte dos casos.

* Advogada

*Professora

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OPINIÃO O CAMINHO DAS ESTRELAS

Máximo Ferreira*

Fica em Casa e Vem Viajar Connosco A implementação de medidas tendentes a diminuir perigos de contágio do COVID-19 levou ao encerramento das Escolas em meados do mês passado, obrigando, assim, que os estudantes ficassem em casa e perante circunstâncias que impunham alguns sacrifícios – deles, dos professores e dos familiares – para estabelecer um estranho ritmo que permitisse não perder o contacto com a sua tarefa fundamental de aprender e, simultaneamente, ocupar tempos livres em atividades de algum modo úteis.

Nas muitas e variadas iniciativas propostas por pessoas e entidades, o Centro Ciência Viva de Constância (CCVC) lançou a ideia de um “passatempo” que designou “Fica em Casa e Vem Viajar Connosco” com o objetivo de que alunos e familiares enviassem questões relacionadas com Astronomia e o espaço, às quais a equipa do CCVC responderia, através do facebook ou de email, de acordo com o meio utilizado pelo “participante”. Naturalmente, não se esperava que a proposta fosse aliciante para todas as pessoas que ela alcançou – certamente por não apreciarem o tema – mas é certo que a participação superou as expectativas: Curiosamente (ou talvez não), a primeira questão relacionava-se com a preocupação sobre o que sucederia ao nosso planeta se fosse atingido por um asteróide cuja passagem (nas proximidades) estava prevista para as horas seguintes à publicação do convite pelo CCVC! Era inevitável a impossibilidade de responder ainda antes da passagem do asteróide 2020EF (da classe dos “asteróides Aten), o que, por si só, chegou para justificar a convicção de que a probabilidade de um asteróide nos cair em cima é muitíssimo pequena.

O conjunto de questões seguintes chegou de uma família, da qual fazem parte dois alunos do Ensino Básico, cuja curiosidade levou a perguntar “o que vai acontecer à vida na Terra quando o Sol explodir”, “o que será de nós quando a galáxia de Andrómeda colidir com a nossa galáxia”, “o que nos aconteceria se entrássemos num buraco negro” e … ainda mais “algumas perguntinhas”. Foi uma delícia ler e imaginar o que estaria nas cabeças de tenra idade que, assim, evidenciavam curiosidade (e conhecimentos) pelos temas e, simultaneamente, partilhavam os seus temores e a vontade de obterem opiniões que conduzissem a alguma tranquilidade, neste período mais abalada do que habitualmente.

E o passatempo tem continuado, permitindo assim que os elementos da equipa do Centro Ciência Viva de Constância – embora sem contacto direto com o público - continuem a sua tarefa de comunicar e falar sobre ciência (em particular Astronomia, e outras que com ela têm uma relação muito próxima), ao mesmo tempo que contribuem para incentivar jovens e familiares a verem programas ou filmes sobre ciência na televisão, fazerem pesquisas na internet,

lerem textos ou livros e, finalmente, elaborarem questões.

O texto de apresentação da iniciativa Fica em Casa e Vem Viajar Connosco – publicado no facebook no dia 17 de março – sugeria como objetivo a elaboração de “perguntas …relacionadas com Astronomia e Espaço, sejam sobre o Sol ou a Lua, planetas do nosso sistema solar ou de outros, galáxias, quasares, buracos negros ou … viagens pelo espaço, quer as já realizadas quer as que não passam ainda de projetos ou ficção científica”, querendo significar que muitas das questões e respectivas respostas constituiriam como que “viagens” que nos propúnhamos realizar com cada participante no passatempo.

Fica em Casa e Vem Viajar Connosco continua e, para participar, basta enviar questões pelo facebook (Centro Ciência Viva de Constância) ou pelo email: info@ constancia.cienciaviva.pt * Astrónomo

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OPINIÃO

OPINIÃO

DÁ QUE PENSAR

CRÓNICA PERVERSA

Susana Guerreiro*

Gabriel Feitor*

A minha I Guerra Mundial

A primeira companhia de quarentena

Esta parece mais injusta, não porque esteja a vivê-la, mas porque neste caso o inimigo é invisível, mas tem nome: COVID-19.

A Organização Mundial de Saúde explica que pode causar uma infecção respitratória grave, idêntica à pneumonia, havendo a possibilidade de estarmos contaminados sem o sabermos, e só ao fim de 14 dias começarmos a sentir os sintomas (febre, tosse e/ ou falta de ar). É já uma pandemia, porque é um vírus que está a passar fronteiras e a pôr muitas vidas em risco. Se tentarmos explicar o fenómeno, podemos pensar que veio a mando de alguém para nos recordar da nossa pequenez e do que temos feito com o tempo e com a vida que escolhemos.

Não se dá ao trabalho de atingir os maus para transmitir uma lição de moralidade, nem retira energia dos mais fortes para dar aos mais fracos. É um vírus, não é nenhum Messias ou um novo Robin Hood.

Mesmo sem o ver, e talvez por isso mesmo, tenho medo dele.

O Presidente declarou estado de emergência e só os serviços essencias mantêm-se abertos, com condições muito restritas porque está provado que a nossa defesa passsa pelo distanciamento social e pela higienização das mãos após cada acção.

Apesar dos avisos, há quem escolha passear em grupo junto à praia como se estivesse tudo bem, enquanto muitos estão isolados em casa a respeitar as recomendações do isolamento social, como forma de se protegerem a si próprios e aos outros.

Temos que ser todos a respeitar as mesmas regras, se não, não serve de nada...

Com o avançar dos anos, entristece-me a não realização de alguns sonhos, mas enobrece-me saber que afinal sou mais feliz do que pensava. Há muito que estou numa de minimalista, mas não em relação àquela meia dúzia de pessoas que são a minha vida e, meu deus, como seria devastador perdê-las, com a agravante actual de não poder despedir-me delas... É-nos dito que os não sobreviventes acabam sozinhos numa cama de hospital. A sua vida acaba ali, como se não valessem nada, como se não pertencessem à vida de ninguém. Em vida não podem receber visitas e na morte não têm o direito a um funeral digno, aconselhando-se a que os familiares se despeçam de um caixão fechado à porta de um cemitério... Ou que o corpo seja cremado, para evitar menos riscos... É este cenário desolador que me remete para as guerras militares, em que as mulheres muitas das vezes se despediam dos seus companheiros com um até breve, com a incerteza de que poderia ser um adeus...

Alguns regressavam ao seu país já dentro de quatro tábuas e, ainda que por outros motivos, muitas vezes a despedida era também feita com a urna fechada.

A homenagem a quem amamos e gostamos tem que ser já, agora, cara a cara, olhos nos olhos. Li hoje que a distância física ideal de 4,5 metros... A ser assim, pára tudo...

Reler o “velho” António Sérgio é uma sábia escolha para um período de isolamento voluntário. Remetido às prateleiras dos confins da História, essa coisa antiga e poeirenta para a vanguarda ignorante, decidi resgatá-lo daí. Admiro muito o Sérgio. Não é surpresa nenhuma a influência do racionalismo sergiano no meu pensamento político. Faz-nos pensar e repensar, da ética, da moral, da política, da economia. Do seu magistério, aliás, retirei dos tempos da faculdade a máxima de transformar a moral pela economia e a economia pela moral, as duas em acção simultânea e dependentes uma da outra.

Enfrentamos neste momento uma situação muito complicada. Certamente haverá um rombo económico.

E muitas das certezas que tínhamos até então começamse a esfumar. É o medo. Do muito que vou tentando extrair, cooperação é, porventura, a palavra-chave da mundividência sergiana que urge deslindar no cômputo de uma lição a tirar do presente. E não é acaso que Miguel Poiares Maduro, nos meus antípodas políticos, em artigo no Expresso sobre as repercussões que esta pandemia poderá ter nas democracias, acentua a cooperação como toque de pedra no processo económico de globalização. À sua maneira, claro está, mas refere-o. É neste contexto que convoco Sérgio. Se nestes anos tivesse existido um incentivo à consciência de cooperação, talvez hoje conseguiríamos ter acções não exclusivamente individualistas e/ou colectivas, mas um papel cônscio de colectivo interdependente do individual e deste interdependente daquele. Se ao longo dos anos tivéssemos apostado num modelo económico alternativo e paralelo de cooperação e ajuda mútua, porventura hoje teríamos mais capacidade de enfrentar as dificuldades que esta crise trará. E isto repercute-se em várias áreas da nossa vida, da sustentabilidade ambiental e luta às alterações climáticas até à desertificação do interior.

Porque, mais do que nunca, precisamos uns dos outros.

Respostas? Felizmente, o Sérgio tem muitas: “pretende-se, por isso mesmo, a socialização dos meios de produção e de troca (ou de distribuição, para o dizer melhor); porém, a maneira mais própria de o conseguir parece-nos ser a que respeite ao máximo o poder de iniciativa do indivíduo autónomo e a eminente dignidade da verdadeira pessoa, actuando sempre numa atitude positiva, criadora, fraternal, magnânima, cheia de tolerância e simpatia, de cálida generosidade e de amor dos homens [...]. O cooperatismo para nós não é um dogma, uma doutrina fechada, uma fé fanática, algo exclusivista [...], mas tão só um método – e não o único – de resolver problemas de economia, e de socializar a economia sem ser pela política.”

Venceremos!

Licenciada em Comunicação Empresarial

*Historiador e dirigente associativo

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MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

OPINIÃO VELA LUSITANA

José Alexandre*

A INSÓNIA DOS PRIMOS, MATRIOSKAS DE BRAÇO DADO COM CABEÇAS DE ALFINETE, TUDO NAS FOLHAS DE UM CHÁ DE JASMIM Istambul, 2006 Oito e tal. Sol do fim de inverno, a deixar bom dia, sem muito entusiasmo. Et pour cause – de 2ª a 6ª sempre o dominó de centenas de carros e autocarros em beijoqueira de chassis por tudo o que é lado, desanima até os verdadeiros crentes, os tais das tais seis orações por dia, nariz no tapete na mesquita, aguentem-se os rins. Pensava que Pequim, Nova Iorque, S. Paulo eram as piores, até conhecer Istambul.

Enfim, tem a sua desculpa, confere com o virae-mexe milenar do nome. Já foi Lygos (700 aC), Bizâncio (106 dC), Constantinopla (300 dC) e agora, desde 1453, Istambul, “A Cidade” (is tim bolin), a fonética informal com que a colónia grega mencionava a parte muralhada da cidade de Constantino, capital do Império Romano do Oriente. E ficou. Nunca foi pacífica – ser o cruzamento geográfico no corredor dos Balcãs ao Cairo, cobra o seu preço. Por isso ainda acho (há quem se escandalize, bem sei) que os turcos são apenas uns ocupantes provisórios, estão de passagem, 600 anos são pouco para a História, por aqui circulam agora, talvez com o mesmo tipo de bilhete de ida sem volta dos hititas, caldeus, assírios, Alexandre Magno, troianos, atenienses, César e bizantinos. A mania de tecer um império nas bordas do Mediterrâneo é antiga mas encalha sempre na praia - acabaramse os califas, paxás, beys e demais trouxinhas na cabeça. Mas a terra fascina - Izmir, Bósforo, Dardanelos, a costa do Mar Negro, Éfeso, Truva (Tróia), que outro país se espraia assim, generoso e esplêndido, entre dois continentes? Mas aí está o outro prato da balança: gargalos em denso arabesco, duas vezes por dia, engasgados pelo fumo de 100 mil escapes, são meia odisseia sair de casa para o escritório e versa-no-vice.

Mas, enfim, cheguei, entro no estacionamento, sonunda! (até que enfim), vamos ver “se sorriem hoje as gaivotas ou se a coruja ainda desespera porque o seu ninho está vazio” (ditado turco, boas ou más notícias). Os turcos amanhecem, respiram, vivem e adormecem entre ditados, provérbios e frases idiomáticas. E não só - por força das grandes reformas do “Pai dos Turcos” (Kamâl Atatürk 1881-1938), mesmo os nomes próprios e de família mudaram radicalmente, passaram a denominar sentimentos, sensações, elogios, saudações, um enorme teshbi (terço muçulmano) de termos poético-empíricos.

Como se vai ouvir e ver agora - mal entro no gabinete, chega a minha colega e vizinha do lado, Dilara Erkin (literalmente a que tem o coração enfeitado mas é independente e livre), advogada, olhos amêndoa ruiva, dinâmica, trabalhamos juntos vai para dois anos. Ela, na parte da lei otomana; eu, na parte anglo-saxónica. Jovem

mãe (tem um casalinho), senhora de uns neurónios de primeira classe, a Dilara funciona na minha onda - mais vale devagar e bem do que a correr e tropeçar por hábito e costume.

Só temos hobbies diferentes - o meu, um passeio corriqueiro por música clássica e história; o dela, Numerologia e Teoria dos Números “quando se liberta das fraldas”, como costuma dizer. Jura que lhe serve de terapia. Seja como seja, aprendemos mutuamente no dia-a-dia.

Com a ajuda do marido Osman (literalmente, o protegido dos deuses), economista, deciframos aqui e ali, as problemáticas financeiras turcas, bem piores que o labirinto de Tebas.

Está apreensiva. Dispara um Gunaydin (Bom Dia), oferece-me um chá de jasmim e olha-me “como quem cumprimenta uma andorinha com os olhos” (ditado turco – quem precisa de resposta na base da amizade, sem querer nada em troca). Senta-se, fecha a porta, faz uma pausa, ganha alento. O melhor é não ligar o computador, vamos lá abrir esta caixinha (só espero que não seja de Pandora). Olhos marcados, algo de estranho se passa no califado e não é exatamente na Dinamarca.

- O que se passou, Dilara?

Conta-me que a noite passada a apanhou de surpresa, mal conseguiu dormir. Montes de perguntas sem resposta. Era meio infantil mas eu tinha que a ouvir e dizer de minha justiça.

Pede desculpa. Embaraçoso mas até o Osman tinha sugerido que falasse comigo.

- Comigo!? Ó diabo, Dilara, isso já parece matéria de adultério verbal...

- Não brinque. É mais ou menos isto…

E desfiou os argumentos – que a sucessão dos números ordinais era a mais simples que se conhecia e infinita - 1,2, 90 mil, 2 milhões, etc. E quase que o mesmo se passava com os números primos, descontado o 1 - 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, etc., até um total de 168, tal como há milénios definira Euclides. OK, muito bem, mas estou baralhado. Onde é que ela quer chegar?

Pelos vistos, é vítima de Numerologia, era o que faltava…E continuou - sabia que os números primos são uma classe “restrita”, só se dividem por eles próprios. Ou seja, há “menos” números primos do que ordinais. Mas uma vez iniciada a contagem, “ambos levam ao Infinito”, ou não era?

- Não é a minha área. Do que conheço, a Teoria dos Números é um bocadinho mais complexa – há números primos naturais, gémeos, fatores primos, equações interventivas, tudo meio complicado. Mas enfim, vamos por aí, Dilara.

E daí?

E voltou à carga, a carregar em cada palavra: não havia infinitos pequenos e grandes; menores

e maiores. O Infinito tem que ser grandeza máxima ou então não é infinito. Até tem sinal próprio, o 8 Deitado. Grandeza por grandeza, entre os dois tipos, ordinais e primos, era lógico que houvesse sempre mais dos primeiros do que dos segundos.

- Por mais paradoxal que seja, como se pode aceitar que o infinito dos números primos, caiba no Infinito dos outros números?

Surreal. Se não a conhecesse, diria que fumou uma dúzia de charros com vodka de reserva.

Olha-me à espera de resposta - como se eu a tivesse. Se por um lado, começar o dia com metafísica de números nunca esteve no meu menu, por outro, não ia culpá-la por uma noite de insónia, coitada. Seria meio insulto não dar resposta. Que fazer? Mais por intuição do que outra coisa, saio pela porta do cavalo: - Dilara, lembra-se do que são as Matrioskas, aquelas bonecas tradicionais russas, de balsa muito leve, gordinhas, sorridentes, lenço na cabeça, coloridas, que cabem umas nas outras, podem ir de um total de 10 ou 12 até 50, sempre cópia da primeira boneca?

- Evet (sim), tenho uma de 20 bonequinhas.

- Ou seja, no fundo a mesma figura inserida noutra, noutra e noutra, sucessivamente.

Muito bem. E não nota também que são basicamente similares o Macro ou Mega Universo, milhares de anos-luz para todo o lado e ao mesmo tempo, o “micro” universo que se pode ver num microscópio e que não passa de 0,000.001 milímetros da cabeça de alfinete? Ou no planetário de um átomo? Não temos que conviver com ambos? Todos os dias?

A frase saiu-me do pé para a mão. Quase que lhe ouvi os neurónios no clique-claque-clique.

Olha-me aliviada, levanta-se e dá meia volta: - Uma mão lava a outra e ambas lavam a cara, como se diz por aqui. Obrigado, ajudou-me, estou aliviada. E vamos ao trabalho.

- Dilara, espere. Se tiver outra crise de insónia, veja um western. Daqueles em que John Wayne mata os índios todos. Sabe? Aposto que muitos índios são “primos”, da mesma tribo e ADN. Primos por primos, fique com esses e esqueça os outros.

Soltou uma gargalhada e foi-se. Vamos lá ligar o computador e ver como andam as benditas das gaivotas. Espero que a Dilara durma descansada. Se bem que ”o silêncio das noites otomanas é mais conhecido por fogoso arrulhar, não propriamente de pombas”. Estes turcos são uns concupiscentes…

* Orientador de mestrado e doutoramento em Montana jafc2543@ gmail.com

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OPINIÃO

OPINIÃO

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O MEU PONTO DE VISTA

Nuno Alves*

Humberto Lopes*

O fim do nacionalismo

Emergência

A pandemia do novo coronavirus tomou a comunidade internacional de assalto. E tal foi a rapidez e impacto da sua expansão que as fundações da arquitectura internacional estão a ser fortemente abaladas num curto período de tempo. A ansiedade e o medo instalaram-se. No fundo, esta crise está a revelar as fragilidades institucionais, quer ao nível do discurso ou da acção política, do modelo político em que vivemos. Mas em paralelo, os desafios criados pela pandemia trouxeram-nos a consciência da existência de uma verdadeira comunidade internacional. Nos últimos anos, a consumação desta comunidade internacional tem sido ofuscada e até recalcada por discursos populistas centrados num nacionalismo romântico e quase redentor para todas as ameaças e desafios ao estatuto internacional e prosperidade de cada país.

No fundo, esta retórica nacionalista recuperou slogans centrados num certo individualismo nacionalista que prospera na promoção de jogos de soma zero: para eu ganhar, todos os outros têm de perder. Esta, é a receita para ser grande novamente. No entanto, esta crise, que é antes de mais uma crise global de saúde pública, faz luz sobre uma nova ordem internacional que se estabeleceu progressivamente nas últimas décadas e que justifica naturalmente o repúdio de qualquer discurso nacionalista. Antes de mais, o mundo rege-se agora pela existência de uma verdadeira comunidade internacional. Esta crise, como qualquer outra que vier, mostra-nos que qualquer acontecimento numa região do mundo tem, inevitavelmente, impactos no resto do mundo. Estamos definitivamente interligados numa teia de interdependências complexas, que se estendem da actividade económica aos intercâmbios sociais a um nível que supera qualquer fronteira. No fundo, somos todos iguais e precisamos uns dos outros mais do que nunca.

E isso induz-nos a preocuparmo-nos com o bemestar dos nossos vizinhos pois sabemos que o bem-estar dos outros será igualmente o nosso bem-estar. Nesta ordem internacional, a premissa dominante deverão ser os jogos de soma positiva: ganhamos quando todos os outros ganham.

Inevitavelmente, esta nova realidade remetenos para a relevância do multilateralismo e do reforço do papel das instutuições internacionais como instrumentos dos Estados na promoção do bem-estar comum na comunidade internacional.

Compreendendo e interiorizando tudo isto, talvez consigamos tanspor as lições que esta pandemia nos oferece para outras áreas, onde o bem geral será sempre o bem de todos .

Escrevo no dia em que o Primeiro Ministro informa o País das medidas restritivas impostas aos cidadãos, na sequência da declaração do Estado de Emergência pelo Presidente da República.

Não sabemos como tudo irá evoluir, mas, certamente, o pico da pandemia ainda não chegou e, pelas previsões, só vai chegar daqui a mais de um mês. Assim, é bom que nos preparemos para viver com todas as restrições impostas em nome da nossa saúde.

Claro que não adiantamos muito com as críticas que se possam fazer à actuação do Governo até agora, o que já passou, passou, o tempo não volta atrás e nada há a emendar.

Mas há lições a tirar. Tenho dito e repito que o passado só nos serve como exemplo para o futuro. Neste caso parece que não nos serviu de muito, a nós e o todos os países por onde o vírus se tem instalado. Outras pandemias já existiram no passado, alguma coisa poderíamos ter aprendido, mas, ao que parece, nada aprendemos.

Estamos mais preparados para uma guerra do que para uma pandemia de um qualquer vírus. As nações vão-se preocupando com as suas defesas e ataques em caso de guerra. Gastam quantias astronómicas em armamento para ataque e para defesa, utilizam as novas tecnologias para melhor se defenderem e melhor atacarem. Para a protecção da saúde dos cidadãos não há dinheiro ou é muito escasso. Há aviões, drones, misseis, porta-aviões e outras criações humanas para conquistar locais onde os recursos sejam abundantes, mas não há máscaras, material de protecção para os profissionais da saúde que em tantos locais arriscam a vida todos os dias e a toda a hora a cuidar dos que necessitam e tiveram a infelicidade de contrair a doença.

Que ensaios, que simulacros foram feitos para testar situações deste tipo? Em Portugal, que se saiba, nada foi feito. Que planos existem para enfrentar estas situações? Nenhuns. Fazem-se na hora quando a corda já está na garganta! Daí medidas não testadas, com todas as deficiências que o método acarreta, por falta de estudo e fundamentação. Daí a contradição e a abundância de medidas que se vão propalando através de vias de fácil difusão, internet, rádio, televisão, que geram o medo nos cidadãos e do medo resulta o pânico!

Não precisamos de saber quantos infectados há por dia no país, não precisamos das conferências de imprensa da Senhora Ministra da Saúde nem da Senhora Directora Geral da Saúde! Do que precisamos é de informação sobre como proceder. Não é apenas decretar, é preciso regulamentar. Decretar sem regulamentar é legislar sem saber como se aplica!

Aliás, temos vários registos de medidas que são tomadas sem que se conheça como podem ser aplicadas no terreno! Há instituições que prestam serviços essenciais que estão a ser esquecidas ou de lembrança mitigada à “boleia” de outras essenciais que a todo o momento são evocadas e para as quais vão as atenções de governantes e da maioria dos comentadores que tudo sabem e nada resolvem.

Quem ouviu já falar do papel das IPSS’s do País que, desde a primeira hora, prestam serviços essenciais aos utentes que têm sob a sua responsabilidade? Sim, foram tomadas algumas medidas, veremos daqui a uns tempos como se vão concretizar, quantos papéis vão ser necessários para justificar um procedimento e ter direito a ser ressarcido do esforço desenvolvido. Quantos já se lembraram do trabalho anónimo, esquecido, de todos aqueles e aquelas que nestas Instituições correm elevados riscos para prestarem o seu serviço? Da parte dos governantes pouco ou nada, nem sequer daqueles que se intitulam tutores destas Instituições! Sim, porque são tuteladas pelos governos, apesar de serem privadas! São tuteladas apesar dos seus dirigentes, em grande parte, pertencerem à população de maior risco perante esta pandemia. E vão estes ficar em casa? Pelo que deles conhecemos, só em grave estado de doença deixarão de, todos os dias, comparecer nas Instituições sob a sua responsabilidade!

Uma palavra para os profissionais da saúde que, com poucos meios, com grande exposição ao risco, continuam o seu trabalho de dedicação aos outros procurando a sua saúde, o seu bem-estar.

Mestre em Relações Internacionais

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*Professor

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OPINIÃO

OPINIÃO

O NOME DAS COISAS

BBC TRAMAGAL

Ricardo Rodrigues*

António Carvalho*

Orgulho e Preconceito

As medidas insuficientes para combater o covid-19

Comecemos pelo preconceito, nomeadamente, o dos países do norte da Europa em relação aos do sul onde se inclui Portugal.

Esse feio sentimento já tinha ficado bem patente na forma como fomos tratados na crise económica da última década, sempre subjugados à arrogância económica alemã, muito facilitada pela acção passiva do governo de Passos Coelho, ao contrário da resistência oferecida por Tsipras na Grécia.

Há dois anos o Ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, deu voz a esse desprezo pelo sul da Europa, ao afirmar que gastamos todo o dinheiro em “copos e mulheres”, como se fossemos um conjunto de boémios preguiçosos.

Uma frase carregada de preconceito e ignorância pelo valor dos trabalhadores de países como Portugal, Espanha ou Itália e pela riqueza que geraram concretamente na Holanda e na Alemanha pelas suas características tão especiais como a capacidade de trabalho, de superação ou de integração noutros meios.

Desta vez, a prepotência foi ainda mais longe. Perante a pandemia que vivemos e que varre vidas em Itália e em Espanha de forma como nunca vimos na Europa, o ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, decidiu que o importante era averiguar porque é que estando a Zona Euro a crescer há sete anos, países como a Espanha e a Itália não têm recursos para combater a pandemia. Imagine o que seria ter a sua casa a arder e aparecer um vizinho a perguntar porque é que só comprou um extintor.

A primeira conclusão desta história, por mais dolorosa que o seja, é a evidência de que a União Europeia, enquanto projecto que se fundou na base da justiça social e solidariedade entre as nações do velho continente, faliu. Depois da Covid-19, é inevitável repensar o modelo europeu.

E isso fica ainda mais claro quando é António Costa, Primeiro-Ministro de um dos países que por norma tem de se habilitar às regras do jogo, quem diz que “a União Europeia ou faz o que tem de fazer ou a União Europeia acabará”. O murro na mesa foi dado pelo lado mais fraco e isso fará com que os mais fortes se assustem.

O que nos leva ao outro sentimento com que titulo esta crónica: o orgulho. António Costa esteve à altura dos acontecimentos. Sobretudo quando deixa evidente que este não é um problema de fronteiras – até porque a Holanda não está a lidar bem com a pandemia, apresentando já mais de 12 mil casos e perto de mil mortes – mas sim de humanismo.

E foi aí que Costa, muito bem, centrou o seu discurso: não falou de fronteiras nem de números. Falou de salvar vidas, de solidariedade, de uma crise que atingiu todos mas de forma mais dramática os países do sul – pelo menos até ver! –, e exigiu a quem manda que saia do pedestal de onde governa uma Europa pobre que se julga rica.

As palavras de Costa foram um Grito do Ipiranga: não contra a União Europeia, mas pela União Europeia. Mas, acima de tudo, foi um grito de revolta onde exibiu o orgulho das nações do sul. Porque temos de ter isso: o nosso orgulho e orgulho em nós.

Nota: a partir desta semana poderão ler-me no blog Saúde e Fraternidade, onde estou com um painel manifestamente mais evoluído do que eu, mas todos a defender a liberdade.

Ali espero aprender e justificar a minha presença no espaço.

Agradeço ao meu amigo Gabriel de Oliveira Feitor o convite.

O que me mete mais medo não é a gripe do novo vírus (se fosse o ébola estaria mais assustado), o que me aterroriza é a ignorância escondida nas declarações que ouvi, dos membros do Governo, dos Deputados,(da extrema-esquerda à extrema-direita), dos responsáveis pela Saúde Pública e de académicos que ensinam Medicina nas nossas faculdades e, finalmente, na declaração do nosso Presidente da República. Todos parecem ignorar a importância do nosso sistema imunitário no combate às doenças infecciosas e a necessidade urgente de o melhorar.

Há, praticamente em todo o mundo civilizado, duas maneiras de se exercer a Medicina.

Uma, procurando seguir a filosofia de Hipócrates: “Que a tua alimentação seja a tua medicação e a tua medicação o teu alimento”. A outra, confiando menos na Natureza, prefere usar remédios fabricados pelo Homem, para combater doenças específicas ou sintomas incómodos. Nos finais do Séc. XIX a aceitação das ideias de Pasteur no conflito que o opôs a Béchamp, fez com que Hipócrates passasse a ser ignorado nas faculdades de medicina e pelos governos do mundo ocidental. Restam uns quantos “lunáticos” fiéis a Hipócrates, designados primeiramente em Portugal por “naturistas” e agora por “terapeutas das medicinas alternativas”. Simpatizo com eles, evitando radicalismos.

Tenho 91 anos e sou diabético. Dado o silêncio do SNS, que posso eu fazer para lutar contra o covid-19C? Como me posso defender? Só me resta rezar à Nossa Senhora da Saúde? Mas eu sou agnóstico!!!

Felizmente, aprendi com os meus amigos naturistas que o nosso corpo tem um sistema que luta contra as aparentes infecções por germes. Não estou muito preocupado por mim, mas os meus filhos e netos? E as pessoas minhas amigas? Quem os ajuda a minimizar os efeitos da epidemia?

Por eles é que berro, no deserto da ignorância, ao SNS para convocar um grupo de médicos e nutricionistas, simultaneamente acreditados pelas nossas Faculdades e “terapeutas das medicinas alternativas” para ao abrigo do Estado de Emergência elaborar um pequeno Manual de Sobrevivência onde nos seja ensinado a melhorar o nosso sistema imunitário.

Tirando a melhor técnica para lavarmos as mãos e evitarmos coçar o nariz, ninguém nos ensina nada.

Os jornais e tv’s, ainda por cima com o futebol parado, só ampliam e espalham todas as maldades do diabólico vírus, lamentam as consequências económicas da pandemia e repetem sadicamente números, estatísticas e aterradoras previsões.

Felizmente há sinais animadores de mudança. Começam a aparecer na comunicação social médicos que nos vão pontualmente esclarecendo e, na internet, podemos encontrar já artigos de médicos, nomeadamente brasileiros, sobre o novo coronavírus. Quem queira informação a nível profissional pode tentar obtê-la em liuyh@sj-hospital.org, o artigo “Potential interventions for novel coronavirus in China: A systematic review”.

O Dr. Manuel Pinto Coelho, conhecido clínico e autor de livros sobre a Saúde, o Dr. Jaime Milheiro, director clínico do COP e o Dr. Rondó, brasileiro, os dois primeiros julgo eu entrevistados por iniciativa da Cofina, deram algumas informações que vou tentar transmitir. Serei o mais possível fiel ao que ouvi e li, mas peço aos meus leitores para consultarem o vosso médico para uma informação mais rigorosa e fidedigna.

O que podemos nós, pacientes, fazer para combatermos o covid-19: 1 - Evitar contágios, cumprindo o que vem sendo decretado pelas autoridades competentes.; 2 – Não fumar.

Fumar pode desencadear uma pneumonia grave.; 3 – Melhorar o nosso sistema imunitário; 3.1 –Beber bastante água ou chás ao longo do dia; 3.2 – Fazer exercício moderado; 3.3 – Procurar ter os intestinos saudáveis, eliminando completamente o açúcar, cereais com glúten e lacticínios.; 3.4 – Tomar alimentos ou suplementos que contenham: Vit A / Vit do complexo B / Vit D3 + K2 (banhos de Sol) / Zinco / Selénio / Glutamina (às refeições). E, não entrar em pânico.

O covid-19 não é mais do que um dos vírus da gripe, só que é mais “pegajoso”. Espero com optimismo, apesar da idade, ter tempo ainda para ver os benefícios desta crise com o reconhecimento, pelo menos por alguns portugueses, de que: - os nossos governantes, se preocupam mais em saber salvar árvores do que em saber salvar pessoas; - a medicina convencional, do SNS, não sabe como lidar com as gripes a não ser com vacinas; - os médicos das medicinas alternativas devem ser aproveitados e integrados no SNS, para que os “lunáticos”, como eu, não sejam privados da sua liberdade de escolha e injustamente prejudicados. Como se dizia, no meu tempo, “Todos não somos demais para salvar Portugal” “A Bem da Nação”, “Unidos Venceremos” (coelhocarvalho1928@gmail.com)

*Jornalista de abarca

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OPINIÃO

OPINIÃO

DA EUROPA PARA ABARCA

O TOM DA ESCRITA

Paula T. Gonçalves*

David Bowie e as teorias de conspiração do vírus Estimados leitores, esta é a primeira vez desde que me lembro de escrever e de ser pessoa que me sinto completamente perdida. Tenho escutado todos os dias a música de David Bowie, feita para o filme Space Oditty e canto de forma desorientada “Ground Control major Tom”. Esta música conta a história real de um astronauta que se perdeu no espaço e que por consequência perdeu contacto com a Terra e com as pessoas. É assim como me sinto neste momento e nestas últimas duas semanas desde que regressei da Suíça e desde que tenho acompanhado a evolução do Corona vírus.

A origem do vírus que foi só agora classificado como pandémico continua confusa. Por um lado, acredita-se que o vírus teve origem no mercado exótico chinês de Wunhan. As fontes desta descoberta também parecem confusas. Durante décadas e através de gerações os chineses sempre tiveram e consumiram produtos exóticos ou o que nós pensamos ser exóticos. Afinal a China é uma superpotência que precisa de alimentar milhões de habitantes que vivem já sem muito espaço e com muitos problemas causados pelo excesso de população.

Depois existem outras teorias, uma delas é que o vírus foi criado em laboratório exactamente para o equilíbrio da população mundial, ou seja, que o vírus foi criado para atingir uma classe especifica: a dos mais velhos e dos mais fracos. A ideia fundamental desta teoria seria o desenvolvimento de um vírus que fizesse uma “limpeza” à humanidade e desta forma aliviasse o sistema de saúde e as seguradoras.

Uma outra teoria que tem sido discutida e divulgada é ainda muito mais complexa. Esta defende a ideia que o vírus foi criado para atingir sistemas políticos e económicos específicos e que foi “plantada” propositadamente no mercado chinês exactamente para causar impactos negativos a esta nação.

Neste caso o vírus ganha a forma de arma de guerra, e por esse motivo alguns especialistas dizem que o covid-19 é apenas a combinação de dois vírus criados em laboratório: O Antrax e o Sars vírus. Outros complementam a teoria com o facto de Trump querer comprar a vacina do estado alemão e desta forma manter o poderio mundial do planeta.

Outros afirmam ainda que o vírus é simplesmente a epidemia do século. Como foram antes a peste negra ou a gripe espanhola.

Estimados leitores, eu estou perdida. Não sei onde está a verdade. Não sei se estas fontes são viáveis. Não sou virulogista ou cientista, ou espiã ou química ou médica. Continuem por favor a evitar lugares cheios de pessoas, continuem as lavar as mãos, eu por mim quero continuar a escrever e a ter leitores. Bem haja a todos!

Adelino Pires*

A morte e também o resto…

Não fora o Diabo e seria suposto estar a festejar-te.

Não sei se por Seide, se na Samardã, ou mesmo na ralação da Cadeia, mais perdição que Relação, por entre pilantras, sinetas ou ferrolhos.

Deixaria até que ajeitasses o monóculo, cofiando o bigode, posando para a foto da praxe de sorriso maroto e caneta afiada.

Não fora o Diabo, entretinha-me pelo Minho das tuas novelas, perdia-me nas noites das tuas insónias, escondia-me nas trevas das tuas angústias.

Talvez tomasse a liteira por algumas horas, balouçando nos fraguedos daquele Marão, bisbilhotando amores que por lá descobriste. Da Teresa, da Freira, de tantas.

Não fora o Diabo e talvez mergulhasse na utopia com que embrulhavas casórios, uma dúzia, logo doze, de todos os gostos. E felizes. Assim o escrevias.

Não fora o Diabo e esperaria por ti. Seria bom ouvir-te.

Mesmo que a rabujares por falta de amores. Mesmo que a divagares, cultivando o talento. Mesmo que prosando até à penumbra.

Mas veio o Diabo, Camilo. E agora não posso. Ficará para o dia em que a tempestade passar. O tempo é agora de duros marinheiros, mãos calejadas e olhos vidrados nas ondas revoltas. O tempo é um sopro. E o vento não sopra a favor.

Desculpa, Camilo, se não te festejo como devia e tu merecias.

Mas há a morte ali à espreita e também o resto. Há gente a lutar pela vida de tantos e também o resto. Há um tempo para tudo e também o resto.

Sabes Camilo, não fora o Diabo e esperaria por ti. Até que o teu anjo voltasse a cair.

(25.março.2020 - nos 195 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco) *Alfarrabista

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ENTREVISTA

“Camões sabia toda a Astronomia da sua época”

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Máximo Ferreira em pleno Parque Astronómico de Constância

Máximo Ferreira é um dos astrónomos mais influentes e respeitados em Portugal e quem no país mais tem contribuído para levar a ciência dos céus mais além e a mais gente.

. Manuel Fernandes Vicente (Texto e Fotos) Como divulgador científico e do prazer de desfrutar de experiências únicas capazes de nos fazer chegar mais próximo das estrelas, tem deixado uma marca indelével, que hoje é bem evidente na excelência do Centro Ciência Viva- Parque de Astronomia (CCV-PT), no Alto de Santa Bárbara, em Constância, e na realização anual das Astrofestas, que fascinam jovens de todas as idades. São iniciativas originais que, com recurso a telescópios e outras tecnologias, trazem planetas, cometas e nebulosas até aos mais remotos lugares do país, tirando quase sempre partido das suas particularidades geográficas. Máximo Afonso Ferreira tem uma paixão já incurável pela Astronomia e pelo “seu” Parque de Astronomia de Constância. Mas para o seu domínio da Astronomia e da sua divulgação muito contribuíram também a atração de sempre pela eletrónica, o gosto de fazer coisas e de as experimentar, e a capacidade de transmitir os complexos conceitos do Cosmos de uma forma desarmantemente simples e cativante. Foi o querer sempre ir mais longe e mais além que naturalmente o conduziu até à Astronomia e ao que tem feito…

“Fazia os trabalhos de casa a guardar duas cabras…”

Máximo Ferreira teve berço em Montalvo, em 1946, e foi nesta freguesia de Constância que forjou o seu carácter no molde duro dos dias difíceis, na influência do avô paterno e na vontade de seguir não pelo caminho que o pai e os outros queriam, mas o do seu próprio querer. “Eu, da infância, lembro-me sobretudo das coisas em que me meti, de alguns amigos que conservo, e do meu avô paterno, com quem estabeleci uma grande ligação afetiva. Eram tempos difíceis, eu tinha cinco ou seis anos, e íamos os dois para a horta com uma junta de bois, íamos ao mato, íamos descarregar

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estrume. Lembro-me dele um dia trazer a camisa cheia de laranjas e chegar a casa dos meus pais e descarregá-las…”, recorda hoje Máximo Ferreira.

Nos seus primeiros anos de escola, o petiz Máximo estudava, e depois da escola ia guardar duas cabras. “Enquanto as cabras pastavam, eu fazia os trabalhos de casa. Eu era trabalhador, gostava de estudar e de ler, e gostava também de ligar a teoria à prática. Lembro-me de, enquanto as cabras pastavam num vale o tojo-molar, uns rebentinhos, de que gostavam muito, e tremocilha (uma dieta de mistura que conferia um sabor melhor ao leite), um dia eu quis fazer um relógio de sol. Arranjei uma tábua e espetei um prego nela para fazer sombra. Era o meu relógio de sol…” Seria possível descortinar neste caso a primeira e precoce manifestação do jovem de se interessar pelos efeitos dos astros na Terra, mas Máximo Ferreira desmente logo a ideia: “Ainda demoraria mais de 20 anos sem ligar à Astronomia…”

Depois de concluir a escola primária e de ser admitido para o prosseguimento de estudos liceais, a realidade aterrou em cheio na vida do jovem. A família não tinha possibilidades económicas para viabilizar a continuação da sua carreira escolar. “Fui trabalhar para a Metalúrgica Duarte Ferreira [MDF]. Eu mantinha a ideia de continuar a estudar, mas nessa altura isso não era viável, só após os 14 anos é que era possível trabalhar e estudar depois do trabalho”, lembra o astrónomo, notando que começou como moço de recados durante dois meses ̶ “e isso foi uma magnífica escola de vida”. De resto, na MDF teve muitas outras tarefas e encargos. “Depois, continuei nas mesmas funções, mas já com capacidade para decidir, atrasava-me às vezes junto a um carpinteiro ou a um torneiro mecânico, a tornear uma peça, porque eu era muito curioso e queria ver como faziam, também gostava de ir até à fundição. Ainda fui ajudante no laboratório de química e estive nas secções de mecânica, de acabamentos e noutros lados, como montador eletricista. A eletricidade era então o meu ideal”, observa Máximo Ferreira, notando que, a certa altura, o ambiente na fábrica já não lhe agradava. “Eu queria estudar, e queria mais, não sabia bem o quê, mas não era aqui. O sistema de trabalho era à peça, tínhamos de fazer tantas peças num certo tempo, e isso criava uma grande pressão no trabalho, tínhamos 10 minutos para ir à casa de banho…”

Aos 14 anos o jovem operário retomou os estudos e passou a frequentar Escola Industrial e Comercial de Abrantes. A sua vida começou a andar então em contrarrelógio. “A minha mãe chamava-me às seis horas, eu ia de bicicleta de Montalvo até Rio de Moinhos, onde apanhava o barco para o Tramagal, para a fábrica. Ao fim do trabalho (a MDF dava uma hora a quem estudava), voltava a Montalvo, e depois ia de novo de bicicleta até à escola de Abrantes. Concluídas as aulas voltava, já tarde, para casa, ao todo eram 40 quilómetros de bicicleta por dia”, conta o astrónomo, acrescentando que era então “músico na Filarmónica de Rio de Moinhos, sacristão em Montalvo, estudante em Abrantes, operário em Tramagal e agricultor aos fins de semana”.

A arte de semear Astronomia pelo país “Aos 17 anos fui voluntário para a Marinha Portuguesa. O meu pai era contra, mas fui-o convencendo, e fui. A Marinha era um escape. A verdade é que a Guerra Colonial metia-me impressão, e eu fazia tudo para não ir para o Ultramar. É verdade que na Marinha eu corria o risco de ir para fuzileiro e ser incorporado para a guerra, mas salvou-me o ter feito uma boa prova escrita e a declaração de que queria ser eletricista”, confessa o astrónomo. Máximo Ferreira passou a investir na sua formação em eletrónica e comunicações, concluiu o curso mais importante desta área na Marinha e chegou a altura de fazer as opções para o seu futuro. “Escolhi os submarinos, era a garantia de que não ia para o Ultramar”, confessa.

Mas também foi uma experiência que, durante quatro anos, o marcaria, incluindo o facto de passar nove dias consecutivos debaixo de água em serviço no posto de comando. “Tínhamos apenas o periscópio para vir espreitar a luz do dia. O submarino vinha até 12 metros de profundidade para carregar as baterias e para o motor de combustão aspirar o ar através

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de um tubo que subia até ao exterior”, recorda o astrónomo, acrescentando que, posteriormente, seria ainda professor de eletrónica na corporação militar. Nela esteve 12 anos como militar e outros 12 como civil. “Foram 24 anos de trabalho, foi um período fantástico”, frisa.

Uma parte importante da sua vida passou-a Máximo Ferreira no Planetário Calouste Gulbenkian. A Marinha sempre esteve muito ligada ao Planetário. A navegação marítima esteve historicamente ligada à Astronomia e, no Planetário de Belém, Máximo Ferreira teve durante alguns anos um desempenho de extraordinária relevância nacional quer na sensibilização científica do público escolar, quer no ensino da navegação astronómica. Aos 28 anos quis estudar Física e Astrofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), a sua vida estava longe de ser fácil, mas o sonho de se ligar à Astronomia e ser astrofísico não esmorecia. “Trabalhava, dava aulas num externato, estudava na faculdade, tinha dois filhos e ainda um empréstimo bancário para a casa que era preciso pagar…”, elenca, sorrindo, o astrónomo. Tornar-se-ia depois professor na sua FCUL, e mais tarde seria o responsável pelo setor de astronomia do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, dinamizando a formação de professores de Física e Química, já que a Astronomia servia de veículo privilegiado para alguma interdisciplinaridade. A criação de eventos à volta da Astronomia capazes de empolgar os jovens alunos, as suas famílias e o público em geral passou a ser então uma prioridade do Museu de Ciência. Até que…

“Nesse âmbito organizámos em Constância em certa altura uma formação de docentes na Escola Básica e Secundária Luís de Camões, e daí surgiu o interesse da escola e da câmara que levou à criação do Observatório Astronómico e da Natureza no Alto de Santa Bárbara. Depois disso, reformei-me para vir para Constância a… trabalhar mais”, ironiza o antigo docente, que desde 2004 dirige o CCV-PT. Constância, que é terra com o seu mistério cósmico, e é associada muitas vezes a Luís de Camões parecia um local ideal. E, além disso, “Camões [que tem uma escultura de José Coêlho alusiva à sua obra junto ao CCV-PT] sabia toda a Astronomia que era conhecida na sua época”, elucida.

Máximo Ferreira tinha cultivado o gosto pela divulgação dos astros e das suas histórias, investigava, era um excelente professor, mas era ao levar a ciência cósmica a cada vila, a cada casa e às escolas do país que se sentia na sua nação. Onde havia um eclipse ou um cometa passava lá com mais brilho, era aí que se sentava e esperava com os telescópicos apontados, computadores e outros equipamentos de ampliação e análise, não só para observar mistérios, mas também os mostrar às testemunhas que o seguiam. E beneficiou também do apoio que o antigo ministro José Mariano Gago deu à astronomia, às suas iniciativas e à sua visão. As astrofestas resultam deste interesse pela divulgação científica, e a partir de 1994, onde houvesse uma serra, um céu limpo e sem poluição luminosa e meia dúzia de interessados locais, era quase certo que lá estava Máximo Ferreira. E iria também fazer os possíveis para que aí se realizasse algum evento de divulgação astronómica. Foi assim logo nesse ano em Redondo (na Serra d’Ossa), depois em Gouveia (Serra da Estrela, 1999), e seria assim igualmente na Serra do Gerês (2005), no aeródromo de Proença-a-Nova (2006), em Serpa, Aljustrel, Nisa, Marinha Grande e mais algumas vezes, em Constância ou noutros pontos. E a próxima, este ano, a 27ª, vai ser em Sagres, no Algarve. “É importante haver localmente um núcleo de pessoas interessadas na Astronomia, e também sempre quisemos envolver as câmaras nos eventos, de modo a que depois de cada astrofesta, fique sempre uma semente [astronómica] que se possa desenvolver”, explica o cientista.

“As escolas estão condenadas ao sofrimento” O Parque de Astronomia de Constância é o habitat próprio de Máximo Ferreira. A paixão e o entusiasmo quase juvenil com que apresenta aquele mundo, que sublinha ser muito simples, é contagiante. É de lá que

O recurso a sofisticadas tecnologias é uma mais-valia do CCV-PA contempla o Universo e cimenta as suas convicções e filosofias do mundo.

Mas não ficou distante ou indiferente às realidades mais planas e chãs.

Sobre as enormes mudanças nas escolas, o astrónomo esclarece: “O que mudou foi a sociedade em geral. Os métodos de ensino dançam ao tom desta música. Os pais não se inquietam muito, por falta de tempo ou de preocupação com os filhos, e a escola sofre as consequências, enquanto vai procurando soluções”. E acrescenta: “As escolas estão condenadas ao sofrimento. Não vejo possibilidades de se estabelecer uma certa ordem e disciplina sem o envolvimento das famílias, isso não está ao alcance das escolas”. Por outro lado, discorda do “passa tudo” generalizado. “Não é só em Portugal que isso acontece. São medidas hipócritas para camuflar outra realidade, que é a incapacidade dos governos resolverem os problemas sociais antes da escola”, sustenta.

A Astrologia ficou nas cavernas…

“Sobre a existência de vida, como a concebemos, acho que é pouco provável que exista no nosso Sistema Solar. Noutros planetas à volta de outras estrelas, estou convencido de que haverá vidas, mais evoluídas ou menos que a nossa”, afirma Máximo Ferreira, notando que a chegada do homem à Lua não o marcou muito: “Nessa altura eu andava no submarino, e estava mais interessado na eletrónica e na deteção de potenciais inimigos- Andávamos ao longo da costa portuguesa e íamos até ao Golfo da Biscaia, à Madeira, a França, ao sul de Inglaterra…” A sua visão privilegiada do mundo, até mais longe e munido de poderosos telescópicos, não teve a mínima influência nas suas convicções religiosas.

“Foram as minhas preocupações sociais que me afastaram da religião.

Na catequese, quando era jovem, achei que Deus não devia pactuar com injustiças. Mas hoje penso que só um Deus vingativo e cruel pode ter permitido um mundo assim… Respeito muito quem é religioso, mas eu hoje sou agnóstico”, admite o cientista. Sobre a Astrologia, e a diferença entre um saber metódico e outro que o não é, Máximo Ferreira tem uma perspetiva curiosa e contundente: “A Astrologia foi, sem dúvida, a mãe da Astronomia, mas a Astronomia saiu das cavernas, e a Astrologia ficou lá…”

A passagem do astrónomo pela liderança da Câmara de Constância deixou marcas no concelho e também no autarca. “Gostei muito! Nunca trabalhei tanto na minha vida! Eram 18 horas por dia, todos os dias. Eu levava a pasta com o ‘despacho’ para casa ao fim do dia, e em casa continuava. Gostava de enfrentar desafios difíceis, e resolvi a maior parte deles”, afirma. Mas depois de cumprido um mandato veio a desilusão. “Eu estava preparado para me recandidatar, e a minha não-recandidatura envolveu circunstâncias lamentáveis sobre as quais não falarei”. O interesse do diretor do CCV-PA de Constância pela ciência dos astros levou-o já à publicação de alguns livros que tornam as galáxias mais próximas e os planetas mais íntimos, como Para a História da Astronomia em Portugal, Carta Celeste (esgotado), Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas (em coautoria com Guilherme de Almeida, 7ª edição, esgotado) e o Pequeno Livro de Astronomia (6ª edição), este integrado no Plano Nacional de Leitura.

Atualmente, tem em mente a publicação de mais três obras. “Falta-me é o tempo para as escrever…”, confessa

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O mundo em suspenso

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Mercado de Wuhan

O mundo parou por causa da Corona Vírus Disease 2019 (Covid-19) mas é preciso perceber porquê. Precisamos de mudar daqui para a frente se queremos fazer do planeta um lugar sustentável. Por agora, resta-nos ajudar os nossos heróis que na linha da frente fazem tudo para terminar com este tormento.

. Ricardo Rodrigues Há muitos anos – anos demais – que os ambientalistas são vistos como extremistas. Esporadicamente o país e o mundo acordam para realidades cruéis e desumanas e os outrora extremistas são normalizados: porque todos passamos a dar-lhes razão momentaneamente. Como no caso dos cães à beira da morte do elegante cavaleiro.

O mundo está em suspenso. Deixemos o diabo e o divino para outras rezas. O mundo está em suspenso por culpa própria. Não adianta romantizar uma pandemia porque ela é, por si só, devastadora. Mas a culpa é do ser humano e da sua sede gananciosa, que devasta tudo ao seu redor, até aquilo que de melhor encontra no mundo: a mãe natureza. E o que o ser humano teima em perceber desde sempre é que não é o centro do universo: é a natureza. É ela que dita, e sempre ditará, as regras. Por mais que tenhamos, geração após geração, uma ilusão contrária.

A culpa chinesa Foi no mercado de comida de Wuhan que nasceu a Covid-19 e o modo de propagação foi o mesmo do surto que em 2002 matou quase 800 pessoas em 29 países.

O coronavírus é transmitido aos humanos por outros animais e tudo indica que a Covid-19 provenha do contacto de humanos com morcegos que muito provavelmente terá acontecido em Wuhan. No mercado de comida desta cidade os animais são mortos na hora e servidos ao cliente. Trata-se maioritariamente de animais selvagens, mas os cães

são também muito comercializados. Os animais são colocados dentro de pequenas gaiolas onde agonizam até serem mortos de forma selvática.

Os que ficam nas gaiolas que servem de base a esta pirâmide são ensopados com todo o tipo de fluídos dos animais que estão nas gaiolas em cima: urina, fezes, sangue, pus, tudo. Assim, o vírus passa de um animal para o outro e muito facilmente acaba por infectar um humano.

Neste mercado há animais de todo o mundo e todos eles transportam os vírus característicos da sua espécie para o mesmo local.

Seria de estranhar que apenas dezoito anos depois da pandemia da SARS, também transmitida por um morcego num mercado de comida, o governo chinês continue a permitir esta prática. Tudo tem uma explicação e, como sempre, o dinheiro varre tudo.

Em 1978, após morrerem de fome quase 40 milhões de chineses, o regime legalizou a privatização da agricultura. Isto fez com que pequenos agricultores começassem a caçar animais selvagens como forma de sustento. Como esta forma de matar a fome resultou, o governo chinês apoiou a iniciativa.

Em 1988 o regime foi mais longe e declarou os animais selvagens como “recursos naturais da propriedade do Estado” legalizando assim uma indústria de captura, tortura e venda para consumo de carne de animais selvagens.

Esta actividade económica foi crescendo e ganhando cada vez mais destaque na economia chinesa. Ou seja, mesmo depois da pandemia de 2002, o governo chinês permitiu e alicerçou o crescimento desta indústria medieval.

Nada podemos esperar, portanto, que a China faça para erradicar de forma definitiva esta indústria. Mas espera-se uma acção concreta do resto do mundo para que daqui a alguns anos não estejamos todos, outra vez, com a vida em suspenso por causa da ganância do ser humano.

Li Weinliang, oftalmologista no Hospital Central de Wuhan, foi a primeira pessoa a denunciar publicamente o surto, a 30 de Dezembro de 2019. Quatro dias depois foi preso por “falsas declarações” e obrigado a assinar uma confissão por boatos “infundados e ilegais”. A 7 de Fevereiro morreu, aparentemente, vítima da Covid-19.

A China não só criou conscientemente este vírus, ignorando o passado recente e os riscos associados, como tentou silenciar quem quis alertar o mundo. O resultado final ainda não se sabe, mas por agora temos mais de 42 mil mortes. É preciso, definitivamente, sermos humanos. O mundo tem de mudar.

Uma nota final para os verdadeiros heróis. Médicos, enfermeiros, bombeiros e tantos outros de outras áreas, todos os dias são os pilares da sociedade que não os valoriza excepto quando mais nada sobra. São eles agora a nossa esperança. Que dão tudo por nós. Em Portugal, hoje, 13% dos infectados são profissionais de saúde. Pessoas que tiveram de sair de casa para nos salvar. Nunca é demais dizê-lo: fiquem em casa.

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Análise dos Números MUNDO - 10 DE MARÇO

MUNDO - 20 DE MARÇO

MUNDO - 31 DE MARÇO

PORTUGAL - 10 DE MARÇO

PORTUGAL - 20 DE MARÇO

PORTUGAL - 31 DE MARÇO

Os gráficos acima mostram a forma galopante como o vírus está a avançar. Há vinte dias havia em todo o mundo menos de metade dos mortos que há hoje apenas em Itália. O número de infectados em todo o mundo triplicou, o número de óbitos quase quadriplicou, mas ao invés o número de recuperados está a abrandar. Significa que o número de novos casos está a retirar capacidade de resposta aos sistemas de saúde.

Nos 14 municípios abrangidos pelo abarca Março terminou com números aceitáveis: 32 casos, 238 pessoas em vigilância e dois óbitos, ambos do sexo masculino, com 69 e 95 anos.

Tomar é o concelho com mais casos confirmados (9) e em vigilância (72). Seguem-se Abrantes (8 + 61) e Torres Novas (5 + 53). Chamusca, Entroncamento, Gavião, Golegã e Mação não apresentaram casos até final de Março.

Os números em Portugal (gráficos acima) têm evoluído de forma positiva se comparados com o resto da Europa. Nos gráficos abaixo podemos ver que ao 19.º dia acima dos 100 casos confirmados (31 de Março no nosso caso), a curva de Portugal ainda não se acentuou significativamente, ao contrário do que já tinha acontecido por esta altura com Espanha e Itália. O mesmo se passa em relação ao número de mortos. Contando os dias após os 10 óbitos confirmados, Portugal é o país das seis nações europeias analisadas que tem menos falecidos.

Analisando os números podemos concluir que a curva parece querer planar e não acentuarse, sendo esse o objectivo das autoridades. O mês de Abril será decisivo nesta luta. Convém não desarmar.

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REGIÃO - 31 DE MARÇO

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Covid 19: O que precisa saber O QUE É?

Os coronavírus são uma família conhecida de vírus que infecta os humanos e apresenta sintomas parecidos com os de gripe comum.

Foi identificado pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, em Dezembro de 2019. Até final de Março tinha infectado 853 mil pessoas e causado mais de 42 mil mortes.

QUAIS OS SINTOMAS? Os sintomas conhecidos mais comuns englobam tosse, febre, dificuldade respiratória, dores musculares ou dor de cabeça. Em casos extremos pode gerar pneumonia grave, insuficiência respiratória aguda, falência de órgãos e, consequentemente, morte.

COMO SE TRANSMITE? Através do contacto directo com pessoas infectadas, através de gotículas libertadas pelo nariz ou pela boca quando tossem ou espirram, ou por superfícies e objectos contaminados.

COMO PREVENIR-SE? Deve lavar frequentemente as mãos, evitar contacto com pessoas

CURIOSIDADES - Um grupo de jovens de Torres Novas criou o projecto “Nós vamos por si!” para ajudar os mais vulneráveis na realização de compras em supermercado. Os jovens fazem-no de forma gratuita; - O Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa criou um kit de diagnóstico ao coronavírus feito totalmente em Portugal. A investigação foi conduzida por Maria Manuel Mota e os kits já estão acreditados. Cada kit custará 30 euros (e não os 70 euros que o Estado agora paga a privados) e os resultados das análises demoram até 3 horas; - Também a empresa UnifAI Technology, sediada em Londres, criou um aparelho que permite fazer testes para detectar a Covid-19 em 15 minutos, sem sair de casa, à imagem dos aparelhos que medem a diabetes. A equipa que desenvolveu o projecto conta com Nuno Silva, um português; - A quarentena a que grande parte do mundo se viu obrigado criou impactos positivos no ambiente. A paragem tem deixado as águas dos rios assim como o ar em todo o mundo muito mais limpo, em grande parte devido à indústria na China que parou durante quase três meses; - Apesar do número de mortos escalar de forma assustadora é provável que a Covid-19 provoque menos mortos no globo do que se não tivesse existido. Confuso? A resposta está precisamente na poluição. Por exemplo, só na China morre 1 milhão de pessoas anualmente devido à poluição. Com o fecho de muitas indústrias poluidoras, espera-se que este número seja reduzido de forma significativa; - Esta é a terceira pandemia do século XXI, depois da Gripe das Aves e da Gripe Suína. Duas delas, a primeira e a Covid-19, tiveram origem em maus hábitos alimentares e sanitários da população chinesa; - Apesar de ter colocado todo o mundo em alerta, a pandemia da Covid-19 ainda não se aproxima das piores doenças da história do mundo. A Peste Negra, no século XIV, terá matado pelo menos 75 milhões de pessoas; a Gripe Espanhola, em 1918, levou cerca de 50 milhões de vidas; e a Influenza A em 1957/1958 vitimou mais de 1 milhão de pessoas. A Covid-19 matou 42 mil pessoas até final de Março; - Devido ao nome “Coronavírus” (corona em latim significa coroa, o

com os sintomas descritos, ao tossir ou espirrar deve evitar espalhar pelo ar fazendo-o para o cotovelo ou antebraço – nunca para as mãos! -, ou para um lenço e colocá-lo imediatamente no lixo. Evitar cumprimentos, beijos ou tocar nos próprios olhos, boca e nariz.

EM CASO DE SUSPEITA O QUE DEVE FAZER? Se acusar algum dos sintomas descritos não saia de casa! Ligue o 808 24 24 24 e a partir daí será aconselhado por técnicos de saúde especializados. Se houver alguma demora no atendimento, seja paciente. Pode enviar um e-mail para atendimento@sns24.gov.pt que lhe responderão em cerca de trinta minutos. Permaneça isolado e assim evita um eventual contágio a outras pessoas. Deve estar particularmente atento se viajou recentemente, sobretudo para países onde o contágio é elevado.

QUAIS OS GRUPOS DE RISCO? Idosos ou pessoas com doenças crónicas (hipertensão ou diabetes) ou respiratórias (como a asma e a bronquite) são mais vulneráveis e menos resistentes ao vírus.

formato do vírus), as vendas da cerveja mexicana Corona caíram nos EUA. De tal forma que as acções da Constellation Brands, fabricante da cerveja, caíram mais de 15% em Fevereiro na bolsa de Nova York.

MITOS - Antes demais, para evitar desinformação, procure informar-se apenas através dos órgãos de comunicação social fidedignos e de entidades especializadas como a DGS ou a OMS. Tudo o resto irá criar pânico e alimentar mitos como alguns que já nasceram; - Os animais domésticos não são transmissores do vírus! A informação já foi confirmada pela OMS e não há evidência de que os animais domésticos, como cães e gatos, sejam infectados ou portadores da Covid-19; - Não é verdade que animais tenham invadido os canais de Veneza.

Fizeram furor na internet as imagens de cisnes e golfinhos pelos canais de Veneza, resultado da paragem total do turismo na cidade.

Na verdade os cisnes costumam passear regularmente pelos canais de Burano e as imagens dos cisnes foram filmados na Sardenha, muito longe de Veneza.

- Ainda não há vacina! O vírus é muito recente e, apesar de ter sido identificado muito rapidamente, ainda não há vacina. Até porque o processo de criação, aprovação, testes e período de segurança para aprovar uma vacina é moroso; - Beber ou lavar-se com bebidas alcoólicas, vinagre ou qualquer outro líquido com teor de álcool ou potencialmente desinfectante não matam a Covid-19. As entidades de saúde apelam a que os doentes não se auto-mediquem; - Assim como comer alho, óleo de sésamo ou qualquer outro alimento não previne infecções do coronavírus; - Os secadores não matam o vírus! Pode parecer exagero nosso mas esta é uma teoria que circula na internet. Não vale a pena usar o secador para aniquilar o vírus, até porque pode causar outro tipo de lesões; - É seguro receber encomendas de países asiáticos pois o vírus não sobrevive nas embalagens o tempo da viagem. No fundo, é mais seguro actualmente comprar qualquer coisa online ou por correio do que dirigir-se fisicamente a um espaço comercial.

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“Resolver o problema está nas mãos de todos nós, não adianta esperar milagres”

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Dra. Emília Valadas: “Estou positivamente surpreendida com o comportamento dos portugueses” (foto justnews.pt)

Emília Valadas é infecciologista no Hospital de Santa Maria há três décadas e Professora de Doenças Infecciosas na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa há 20 anos. Em entrevista ao abarca avalia a natureza do vírus e a forma como Portugal está a lidar com a Covid-19.

. Ricardo Rodrigues

Como é que actua este vírus no corpo humano?

Ainda se sabe muito pouco, tudo isto tem menos de três meses, tem sido muito rápido.

Mas sabe-se que o vírus entra no nosso sistema respiratório e há alguns indícios de que possa também entrar no sistema digestivo. No sistema respiratório actua como qualquer pneumonia viral. Há sintomas que evoluem muito rapidamente e levam algumas pessoas aos Cuidados Intensivos e esse é de facto o grande problema porque muitas vezes são grupos de doentes com outras patologias associadas.

Os denominados grupos de risco estão relacionados com pessoas que têm o sistema imunitário mais fragilizado?

Os dados mais sérios que conhecemos são da China e o que nós sabemos é que num grupo estudado de cerca de 50 mil pessoas a maioria dos que tinha doença grave eram idosos. Ou tinham diabetes, ou hipertensão ou doença pulmonar importante que pode ser bronquite ou asma. Naquela população havia muita gente com hábitos tabágicos muito intensos e onde há muita poluição. Há medida que fomos tendo relatos de casos fora da China percebemos que havia mais dois grupos: pessoas com hipertensão pulmonar, sem mais nada, e os obesos que nos EUA parece ser um problema importante. Mas ainda não se sabe exactamente porquê.

As grávidas fazem perto desse grupo de risco?

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As grávidas são sempre um grupo de risco mas não há provas reais de que haja transmissão do vírus da mãe para o feto.

Mas, claro, uma grávida terá de ter cuidados redobrados porque sobre esta pandemia só sabemos o princípio e não sabemos o fim.

Que sequelas pode esta doença deixar para as pessoas que recuperam?

O pior resultado é a mortalidade elevada nos cuidados intensivos, que supera com certeza os habituais 15% a 20%, nalguns artigos refere-se uma taxa perto dos 50%. Mas ainda não se sabe muito bem que sequelas podem ficar.

O principal problema será a afluência de pessoas a que o SNS pode não conseguir dar resposta ou a letalidade da doença?

São as duas coisas. Esta é uma infecção que avança muito rapidamente e se nós tivermos muitas pessoas doentes numa semana, 80% dessas pessoas não vão precisar de grande assistência. Mas temos 20% que vão precisar de cuidados médicos. E desses, 5% vão precisar de Cuidados Intensivos. E não há Cuidados Intensivos para toda a gente, mas esse é um problema aqui e em todo o mundo.

O SNS não está preparado em termos humanos e materiais para lidar com esta situação?

Ninguém está! É impossível estar. Ninguém tem um sistema de saúde preparado para receber um acréscimo enorme de doentes graves. O país na Europa que talvez esteja

mais bem preparado para essa situação é a Alemanha, porque tem mais camas para receber doentes e porque está mais descentralizado do que Portugal. E por outro lado porque a disciplina do povo alemão é maior do que a nossa, se dizem para não visitar os avós dois meses, não visitam.

Sente que os portugueses ainda não entenderam a importância de ficar em casa?

Tenho de dizer que estou positivamente surpreendida com o comportamento dos portugueses, pelo menos aqui em Lisboa. Nota-se em relação ao trânsito, nos cumprimentos durante o dia, nota-se que há um certo cuidado que eu não esperava que fosse tão pacífico e tão rápido. Claro que há pessoas que continuam a fazer as coisas normais como se nada acontecesse.

Temos aquele hábito de que as regras são para quebrar, mas tenho tido uma agradável surpresa.

Na Urgência as coisas estão a decorrer de forma ordeira?

No Hospital de Santa Maria, que é um grande hospital, a afluência de pessoas à Urgência tem sido muito menor. As pessoas perceberam a gravidade da situação mas também que é perigoso ir à Urgência porque é onde se concentra o maior número de pessoas com uma possível infecção.

Podemos concluir que o que aconteceu em Espanha e Itália alarmou os portugueses?

Talvez essa tenha sido a parte positiva desta

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situação, e tenho alguma esperança de que os nossos números não sejam nem de perto nem de longe iguais aos de Itália ou Espanha.

Neste momento como está organizado o processo de tratamento de doentes?

O tratamento é feito com base em alguns fármacos utilizados para outras situações, nomeadamente a malária ou a infecção por HIV. Sabemos muito pouco como disse, por isso testamos fármacos já usados noutros tratamentos porque temos confiança neles.

A Organização Mundial de Saúde começou um estudo enorme em que vão perceber o resultado da combinação de quatro fármacos, para que daqui a pouco tempo se consiga entender qual a combinação mais eficaz e com menos efeitos secundários. É possível haver uma vacina ainda em 2020 ou isso é algo utópico? É algo utópico. Não basta só ter a vacina sabendo que podemos estar a fazer mal às pessoas. Há uma fase de segurança e isso demora algum tempo. Mas em comparação com o HIV estamos a conseguir resultados muito mais rapidamente. No HIV só dois anos depois de vermos que havia uma doença é que descobrimos o vírus que a provocava, aqui foram sete dias. No caso do HIV começámos a ter tratamento vinte anos depois enquanto aqui já temos algumas coisas, mesmo não sendo 100% eficazes, mas que dão uma ajuda e esperança para que ainda durante este ano haja um tratamento eficaz para os casos graves. Está tudo a acontecer muito rápido, há três meses nem sabíamos que isto estava a acontecer.

Ficar em casa pode deixar-nos muito mais perto de resolver o problema? É obrigatório! Do ponto de vista do bom senso é a única coisa que temos de fazer. Como li num artigo temos de dar uma “martelada” na curva para diminuir o número de doentes graves que chegam ao hospital.

Mesmo assim torna-se incomportável prolongar durante muito tempo esta situação. Será inevitável um novo surto em 2020?

No inverno… se as coisas agora se resolverem mais ou menos bem, com diminuição de casos no verão, é provável que na altura da nossa gripe sazonal haja um ligeiro aumento dos casos, mas não tanto como agora, esperemos. Um pouco como a gripe sazonal que convivemos com ela todos os anos, o coronavírus poderá comportar-se do mesmo modo no inverno.

Há quem acuse Portugal de realizar poucos testes (1600/1700 por dia).

Acha que essa é uma crítica justa? É óbvio que do ponto de vista teórico devíamos

testar toda a população neste momento. Mas isso é impossível. Ninguém esperava por este tsunami. É como as máscaras, ninguém tem máscaras para a população inteira. Acho que sim, devia-se testar o máximo de pessoas, mas é uma crítica injusta porque temos estado a fazer muito bem dentro do que conseguimos. O melhor que podemos fazer é mesmo ficar em casa. Claro, devíamos ter mais máscaras e mais testes, mas convém não nos esquecermos de que Portugal é um país pobre, embora tenhamos a ilusão de que não, portanto não nos podemos comparar com sistemas mais ricos na Europa. Lembremos o pouco investimento que foi feito no SNS nos últimos dez ou quinze anos, chegou a altura de pensarmos se fizemos bem ou não… agora estamos obviamente a pagar esse preço.

A Directora-Geral da Saúde e a Ministra da Saúde apontaram o pico da crise para 14 de Abril e depois houve uma revisão para Maio. Fazem sentido estas previsões?

Não sou matemática por isso aceito como verdade aquilo que a Ministra da Saúde diz… quando ela diz que o pico é a 14 de Abril só faltou dizer a hora exacta [risos]. Esse é um problema: a má comunicação que existe entre as pessoas do Ministério da Saúde com a população. As pessoas sentem que há falhas, que não se consegue transmitir a verdade, e eu se não soubesse a verdade e estivesse do outro lado também ficava muito desconfiada. E a confiança é algo que não se deve perder, porque só se perde uma vez.

Estamos a falar de omissão de casos ou má comunicação da realidade?

Acho que é má comunicação da realidade. A Dra. Graça Freitas está numa posição de stress, a fazer um trabalho imenso, mantém sempre a calma e a serenidade nas comunicações que faz mas talvez se houvesse delegação de algumas coisas para outras pessoas e melhor coordenação a nível nacional… por exemplo, o Exército tem uma divisão de catástrofes, os militares aprendem e treinam para isso. Se calhar não houve tempo, falar deste lado é fácil, mas faltou pensar nestas coisas. E falha a comunicação, numa linguagem simples para as pessoas reforçando que a única coisa que podemos fazer é ficar em casa.

Hoje estamos com mais de 750 mil casos e 35 mil mortes. Há 12 dias estes números estavam reduzidos a um quarto. Isto significa que as vítimas estão a subir de forma galopante. Que números pode esta pandemia atingir?

O grande problema é que as pessoas são potencialmente infecciosas dois dias antes de terem sintomas. Ou seja, antes dos sintomas é problemático porque já se está a infectar. E se uma pessoa infectar três pessoas a pandemia

é imparável.

Por mais que as pessoas esperem um milagre da comunidade científica neste momento voltar à normalidade está na mão da população?

Sim, completamente de acordo. Neste momento está nas mãos de todos nós, não adianta esperar milagres.

Que mensagem de especial cuidado pode deixar aos idosos?

Não sair de casa excepto em caso de emergência. Não ir ao hospital nem ao centro de saúde, que encontraram estratégias temporárias de lidar com as consultas e enviar as receitas. Não ir jogar às cartas com os amigos e ter especial atenção à família. Os abracinhos, os beijinhos, os almoços, isso está fora de questão. Em especial se tiverem doenças comuns nessa população: hipertensão, obesidade, diabetes, as neoplasias, tudo o que nos torna menos saudáveis exigem um cuidado acrescido. Este ano a Páscoa tem de ser diferente.

Como é o seu dia a dia actualmente?

Alterou-se completamente. As nossas consultas de rotina são feitas telefonicamente, adiamos a consulta presencial, e se for caso disso enviamos as receitas. Em relação às aulas foi uma mega-revolução porque em 24 horas passamos de um programa normal para um programa online. E está a funcionar melhor do que alguma vez sonhámos.

Como se conjuga o medo de ser contagiada e contagiar outros com a necessidade de estar no terreno?

Não é muito difícil. Terminei o curso em 1986 e ter medo de ficar infectada por causa das doenças no hospital é algo com que convivo há muito tempo. Estamos nisto com um espírito de missão por isso não se torna complicado.

Mas esta tem sido uma experiência desgastante…

Muito desgastante. Tenho sorte porque não faço Urgência mas os mais novos que fazem esse serviço e Cuidados Intensivos tem sido de facto muito complicado. Diariamente tenho esse feedback dos colegas, que trabalham com turnos muito intensos e depois há os casos dos profissionais que são infectados, é difícil.

Quer deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

Há um tema importante: há uma desinformação que é muito má e é quase como uma segunda pandemia. As teorias de conspiração, que alguém fez não sei o quê, que já há vacina, portanto a desinformação é muito má. Está nas vossas mãos contrariar essa tendência, dizer a verdade sempre.

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tanto medo. Ao início era um bicho de sete cabeças porque não sabíamos se a técnica era igual a uma análise comum, mas agora tirando a parte do medo de contágio já é uma coisa que entrou na nossa rotina.

Há muitas pessoas a dirigirem-se desnecessariamente à Urgência?

Ao início notei as pessoas mais conscientes mas de há uns dias para cá mudei de opinião. Parece que se está a banalizar um bocadinho e as pessoas vão ao hospital ao mínimo sintoma à procura da realização do teste. Não há essa necessidade, de todo. Só em caso de agravamento dos sintomas é que se devem dirigir ao hospital.

Como conjuga o medo de ser infectada com a necessidade de fazer o trabalho?

Tenho de dizer que somos muito unidos como equipa, falamos muito entre nós dos receios e das ansiedades e isso ajuda muita. A parte mais stressante e desgastante é o facto de a DGS diariamente nos enviar normas novas e todos os dias temos de nos actualizar.

Esta tem sido uma experiência desgastante?

Sim, é a experiência mais desgastante em onze anos de enfermeira. Saio do serviço muito cansada psicologicamente, em termos físicos já estava habituada ao cansaço do serviço de urgência normal.

Ângela Sousa: “Às minhas filhas digo que está tudo bem.

Sozinha choro…”

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Enfermeira há 11 anos no Hospital de Santarém, Ângela admite que nunca viveu uma situação tão desgastante. Está há duas semanas sem ver as filhas e não sabe quando as voltará a abraçar.

. Ricardo Rodrigues

Como é feito o tratamento de doentes?

Desde o dia 20 de Março que temos dois serviços de urgência: um apenas direccionado a pessoas com sintomatologia respiratória, à qual chamamos Serviço de Urgência Covid. E na Urgência Geral ficou todas as restantes patologias.

Como é que tratam um doente suspeito de Covid?

O doente é triado, encaminhado para uma sala de isolamento onde permanece até ser visto por um médico. Se achar que o doente tem critérios Covid pede a realização do teste. Somos nós, enfermeiras, que realizamos o teste e segue para análise em Lisboa. Já fizemos centenas de testes e alguns deram positivo.

Há medo na realização dos testes?

Isto é uma novidade para todos, nunca trabalhei com algo que tivesse

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A nível familiar, como é a sua vida neste momento?

Apenas me desloco para o trabalho e casa, fui hoje às compras pela primeira vez em duas semanas. O meu marido, Filipe, é bombeiro municipal e temos duas filhas, a Petra e a Camila, com 7 e 4 anos. Elas foram para casa dos meus sogros, perto de Coruche. Foi uma decisão difícil, falámos com elas, sem explicar tudo. Elas na escola já tinham falado do “bichinho” e dissemos que o pai e mãe iam ter de trabalhar muito e elas iam passar uns dias com os avós. Entretanto já passaram duas semanas…

Elas entenderam isso?

Foi tudo decidido muito rápido. Quando foi anunciado o Estado de Emergência fizemos a mala a correr, parecia que íamos fugir. Dissemoslhes que elas iam passar uns dias, mas elas nunca lá estiveram tanto tempo sem ver os pais. Com isto descobri as videochamadas que é algo fantástico nesta fase, e elas já perguntam porque é que nós não vamos vê-las, quando é que as vamos buscar…

Como é que se gerem estas emoções? É difícil… à frente delas digo sempre que está tudo bem e para brincarem com os avós. Mas quando estou sozinha choro… [silêncio] tenho imensa vontade de as abraçar, de as sentir junto a mim, são minhas. Nunca sentíamos saudades uns dos outros e até isto é novo, a saudade. Ontem elas mandaram-me uns desenhos que fizeram e a mais velha escreveu “Estou feliz”… isso mexe muito com o coração. Mas elas ainda não perceberam bem, nem nós queremos que elas percebam, quando é que isto tem fim.

Porque não sabem quando as voltam a ver…

Exacto… quando é que isto vai acabar? Não sabemos! Tenho colegas de serviço que estão na mesma situação e foram ver os filhos ao longe sem poder dar um abraço, sem tocar… não consigo imaginar essa situação porque elas não vão perceber e a mim cortava-me o coração. Vamos aguentar o máximo tempo possível sem as ir buscar.

Que conselhos dá às pessoas para ajudarem a combater o vírus?

O melhor conselho que posso dar é: fiquem em casa por favor. A regra número um é promover o isolamento social. Preocupa-me ter de sair todos os dias de minha casa, do meu conforto, não estar com as pessoas que amo, fazer de tudo para o melhor dos outros e depois vejo pessoas que parece que isto lhes está a passar ao lado. É inglório ver essas situações… É… trabalhei 12 horas no sábado, 12 horas no domingo e quando chego a casa exausta, tento relaxar e vejo nas notícias as estradas paradas em Lisboa porque as pessoas iam passear. Sinto uma injustiça… porque é que as minhas filhas não podem estar comigo e os filhos dos outros podem? Por isso peço que fiquem em casa.

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PANDEMIA

Há recursos humanos e materiais suficientes?

Neste momento os recursos da saúde serão todos necessários e serão sempre poucos, porque os profissionais de saúde também adoecem, infelizmente. Mas serão sempre adaptados às necessidades para que seja possível dar resposta.

“Estamos numa verdadeira guerra”

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Maria dos Anjos Esperança fala da situação da pandemia no Médio Tejo

A Coordenadora da Unidade de Saúde Pública no Médio Tejo faz um balanço positivo da evolução do vírus na região. Ainda assim, não há margem para baixar as defesas: a guerra está para durar.

. Ricardo Rodrigues Qual a avaliação da situação no Médio Tejo e quais as perspectivas para Abril?

Estamos dentro dos parâmetros nacionais e para o mês de Abril pensamos manter-nos abaixo do que estava previsto até para o país, mantendo uma curva mais aplanada e não com uma subida repentina.

Isso significa que a partir de Abril a curva poderá descer?

Penso que a curva será prolongada no tempo. Talvez em Maio, se tudo correr dentro do previsto, começaremos a descer. Evita-se um pico muito alto que teria repercussões na saúde das pessoas. Assim, os casos graves acabam por se prolongar no tempo mas serão melhor controlados.

Está a ser tomada alguma medida excepcional a nível da região para conter o surto?

Seguimos as normas no Ministério da Saúde e da Direcção-Geral da Saúde (DGS), e aqui no ACES Médio Tejo todos fazemos um trabalho de divulgação de informações criadas por nós e da DGS por todos os parceiros que temos, onde se incluem câmaras municipais, juntas de freguesias, lares, igrejas, entre outros.

As unidades hospitalares da região estão preparadas para lidar com esta pandemia?

Penso que estão bem preparados, naturalmente com as dificuldades inerentes a um consumo muito maior de consultas. No Centro Hospitalar do Médio Tejo ficou o Hospital de Abrantes com os casos de Covid e foram entregues a Tomar e Torres Novas os outros serviços de forma a que fosse possível dar uma resposta muito maior.

De que forma se alterou a sua vida desde o aparecimento da Covid-19?

Da mesma forma que se alterou a de todas as autoridades de saúde.

Tento cumprir as regras do afastamento social e cumpro-as dentro do serviço. Entro muito cedo e saio sempre muito tarde e dedicome, com os meus colegas, quase exclusivamente a esta pandemia.

Estamos todos muito unidos na função de ajudar as pessoas. E temos uma muito boa coordenação de trabalho com as autarquias, corpos de bombeiros, GNR, PSP, com todas as forças do ACES Médio Tejo, protecções civis. Falta-nos um bocado de apoio da parte central, mas compreendemos que têm muitos locais para dar apoio. E também temos tido apoio das populações que com o seu comportamento ajudam-nos a fazer o nosso trabalho.

Portugal tem sido muito elogiado pela forma como tem controlado a crise. Aprendemos com o que aconteceu em Itália e Espanha? É justo concluirmos isso. Infelizmente com o mal dos outros aprendemos como proteger-nos melhor. Mas não significa que não iremos passar por situações aflitivas, isso pode acontecer. Temos de continuar a tomar medidas de força porque isto é uma verdadeira guerra e temos de conseguir vencê-la perdendo o mínimo de guerreiros.

As medidas do Estado de Emergência são suficientes ou seria importante reforçá-las?

O fecho de fronteiras feito pela Espanha também nos vai proteger mais. As medidas tomadas são muito boas, a única coisa que me preocupa é que há pessoas que ainda não entenderam que esta pode ser uma situação muito, muito, muito grave e que pode levar a uma mortalidade muito grande. É isso que me preocupa, porque se as pessoas cumprirem o que as autoridades dizem nós conseguimos proteger-nos.

Sente que as pessoas têm estado a cumprir?

Sei que nos meios mais pequenos ainda há muito o costume de as pessoas irem para o café, fecharem a porta e ficarem lá dentro. E aí a polícia tem feito muitas intervenções, porque isso é como não se deve estar. Compreendo que as pessoas se queiram juntar, os portugueses são um povo afectivo e isso ainda acontece nos meios mais pequenos, mas a polícia tem feito um bom trabalho. Se for preciso acho muito bem que se proíba de andar na rua, excepto as pessoas que precisam mesmo de ir trabalhar.

Qual é a idade média dos infectados na região?

Estamos agora a fazer esse registo, porque até agora os dados não eram muito alargados, e podemos apontar para a casa dos 50 a 60 anos.

Há cadeias de transmissão activas na região?

Foi possível identificarmos cadeias de transmissão na região, ligadas a casos vindos do Porto, por causa de um evento desportivo que houve na Maia. Também há uns casos importados de uma viagem à Argentina, e outra cadeia com uma ligação a Ovar, por exemplo. Mas as cadeias de transmissão foram identificadas e controladas. Muitos dos nossos casos nem levaram a internamento, ficaram em casa a fazer recuperação. Como autoridade de saúde pública, o doente em si não é a nossa matéria de trabalho, mas sim os contactos do doente para tentarmos envolver aquelas pessoas numa rede e segurarmos o contágio mantendo essas pessoas em casa.

Quer deixar alguma mensagem aos leitores?

Faço um apelo para que as pessoas cumpram as regras de isolamento social, de etiqueta respiratória e de higiene, sobretudo lavarem as mãos. Nunca é demais repetir esta mensagem.

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PANDEMIA

E depois da tormenta?

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O Estado de Emergência obrigou vários empresários a encerrarem temporariamente os seus negócios. Outros trabalham com muitas limitações. O sufoco económico preocupa a curto prazo mas também a retoma.

Avista-se uma nova crise.

. Ricardo Rodrigues (Texto e Foto) “De um dia para o outro as pessoas deixaram de aparecer”. O lamento é de Fernando Pereira, proprietário do restaurante Dom José Pinhão, em Constância. “Aconteceu ainda antes do Estado de Emergência”, recorda.

“No dia 11 de Março estava tudo bem, no dia 12 de Março não apareceu ninguém para o almoço”. Acto contínuo, fechou portas por tempo indeterminado.

Um destino que se alarga a outras áreas. Cristina Matos detém um salão de cabeleireiros no Tramagal e no dia 15 de Março decidiu fechar as portas: “Trabalhamos diariamente com as pessoas, para as atendermos temos de lhes tocar e é impossível fazer esse tipo de trabalho cumprindo as normas de segurança”, justifica.

Nelly Pequeno, co-proprietária do Hotel Amiribatejo, que se situa em Amiais de Baixo, na rota de peregrinação até Fátima, dá o ano como perdido: “Abril e Maio são os melhores meses do ano e até ao final de Abril vamos estar encerrados”, lamenta. Admite que não havia outra solução: “Concentramos aglomerados de pessoas, não queremos pôr os clientes e nós próprios em risco”. Desde 13 de Março que ninguém ali pernoita.

Ainda assim, não está parada: “Continuamos a preparar e a melhorar as nossas instalações para que quando reabrirmos estejamos de braços abertos para receber toda a gente”, anuncia.

Por seu turno, Vítor Hugo Cardoso, proprietário da empresa Expofixo, de venda de materiais para a construção civil, e Tiago Bento, dono da Sarpneus, empresa de pneus no Sardoal, continuam de portas abertas.

Mas os lamentos não são menores: “De dia para dia agudiza-se um bocado o problema. A nível de empresas vai-se notando a falta de procura de material de construção”, diz Vítor Hugo. “Estamos a trabalhar mas está tudo parado. Nem vinte pneus mudamos por dia”, diz Tiago Bento suspirando por dias melhores.

O decréscimo de clientes tem, naturalmente, um efeito bola de neve.

Sem consumo não há produção, não há investimento. E não há dinheiro para pagar dívidas, créditos e salários. Na sua edição de 21 de Março, o

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Expresso Economia lançava dados preocupantes: a taxa de desemprego pode atingir os 14% nos próximos meses. “Até posso aguentar 2 ou 3 meses, o problema é depois” diz Fernando Pereira. “Mas há pessoas que não têm liquidez para pagar salários no próximo mês”, confidencia.

Até ao momento os apoios anunciados pelo Governo e bancos centramse sobretudo na abertura de linhas de crédito, algo que preocupa os pequenos e médios empresários na medida em que se irão endividar mais sem saberem quando sairão desta crise e em que condições.

“Vai ser muito complicado”, admite Fernando Pereira. “Nós vivemos essencialmente das pessoas que vêem de fora. Os clientes dificilmente vão aparecer”, antecipando uma quebra no turismo mesmo depois do Estado de Emergência ser levantado. Deixa um apelo aos governantes: “A retoma vai ser lenta e muito difícil. Não estamos a pedir favores, mas precisamos de apoio. Como fizeram com os bancos, senão ficamos às portas da morte”, afirma.

Vítor Hugo Cardoso lembra a implicação destes efeitos nas questões sociais: “Temo a falta de bens de consumo de primeira necessidade” e lembra que “o meu emprego é a subsistência da minha família”. Assim vivem os dias muitos portugueses neste momento.

Analistas económicos prevêem uma queda do Produto Interno Bruto em 2020 até 8,5%, quando Portugal nos últimos anos vinha a registar um crescimento e tudo apontava para que isso sucedesse em 2020.

Até quando?

Essa é a principal dúvida na cabeça dos portugueses neste momento.

Até quando irá durar este modo de vida? As previsões mais recentes apontam para um pico da crise até final de Maio. Estamos a falar de quase três meses de portas fechadas.

Vítor Hugo Cardoso e Tiago Bento alinham uma vez mais o discurso.

“Mais do que um mês nesta situação será incomportável”, diz o jovem sardoalense. O tramagalense acredita que “se a partir de meados de Abril a situação não mudar isto vai ser caótico”. Mesmo com uma melhoria no próximo mês, não tem dúvidas de que “até ao fim do ano as coisas não vão ser fáceis, isto não se resolve de um dia para o outro”.

Cristina Matos admite triste que “não sei quando poderei voltar a trabalhar em segurança”, o que aumenta as incertezas. “Trabalho por conta própria, se não trabalhar não ganho dinheiro”. Apela, também, ao bom senso dos nossos governantes: “O Estado deve ter alguma atenção a quem tem pequenos negócios”.

Também Nelly Pequeno vislumbra dias complicados: “Economicamente isto vai trazer consequências porque nós sobrevivemos directamente do Hotel. Não temos outra fonte de rendimento. Não havendo receita é difícil pagar as despesas”.

Só será possível quebrar este ciclo com financiamento e não com mais endividamento. É por isso que o adiamento de prestações e outras despesas parece aliviar neste momento os empresários mas não será solução a longo prazo.

Por isso, Tiago Bento pede apenas “que isto termine rapidamente”.

Nouriel Roubini, economista que previu em 2000 a crise do subprime de 2008, não tem dúvidas: “Esta crise é pior do que essa”.

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PANDEMIA

Portugueses no estrangeiro Em terras longíquas, distantes das famílias, em contextos diferentes do que se vive em Portugal, como lidam os nossos emigrantes com a Covid-19?

Espanha Ana Pereira, Barcelona Ana estava de férias no México quando a situação em Espanha se agravou e levou um choque de realidade à chegada. Fala de um “cenário de filme de terror” na capital da Catalunha: “O ambiente é hostil, com medo, irritação e frustração. As pessoas andam com máscaras de cabeça baixa, ninguém ri e ninguém fala”. A polícia faz uma vigilância intensa: “Estão em todas as esquinas a multar”. Nas raras vezes em que sai à rua leva sempre o número de residente e o contrato de arrendamento para não arriscar. Espera que a situação se resolva “em três meses no máximo” a bem da economia. “Parece um sonho mau”, conclui.

Reino Unido Tânia Machado, Tunbridge Wells Trabalha com pessoas de risco: é “Assistant Manager” num condomínio destinado a pessoas com mais de 70 anos. No seu trabalho depara-se com idosos que se juntam às escondidas para convívio. Há pessoas que “ignoram o problema apesar do isolamento obrigatório”. Em Londres, a uma hora de distância, “no dia antes dos pubs serem encerrados foram todos sair à noite porque iam fechar” os bares. Nem os casos positivos do Princípe Carlos e de Boris Johnson parecem ter alarmado os britânicos. Sai apenas para ir trabalhar e ao supermercado, onde há medidas de segurança mais apertadas. Teme que apenas com muitas mortes se ganhe consciência da gravidade do vírus.

Macau Pedro Benjamim, Macau Macau tem sido alvo de vários elogios e o relato de Pedro Benjamim, produtor radiofónico, confirma-o. “Nunca houve quarentena obrigatória” mas o Governo fechou “casinos, bares e restaurantes e fez com que as pessoas não saíssem tanto” reduzindo o fluxo de turistas. Macau factura com casinos sete vezes mais do que Las Vegas, por exemplo. O Governo fez questão de dar cerca de 300€ a cada cidadão para gastar em mercearia e o cheque anual dado em Agosto a todos os residentes (entre os 500€ e os 1000€) foi antecipado para Abril. Foram adquiridas 20 milhões de máscaras para 600 mil pessoas. “Quem não tem condições para ficar em isolamento vai gratuitamente para um hotel”. Não há medo na rua, apenas cautela. E Macau parece um mundo à parte.

Espanha Cristiano Neto, Santander Bastante esclarecido sobre o tema, Cristiano fala de uma “população calma, respeitadora, cumpridora e solidária com as forças de segurança”, e elogia a comunicação do Governo da Cantábria.

CEO da Neuneto, uma empresa de recrutamento e formação em competências digitais, vê com “receio o futuro da economia”. Encara este momento como “um período sabático de reflexão e preparação para o pós-corona” e “de aproveitar as pequenas coisas”, dando importância à parte existencial e psicológica. A Espanha ainda é marcada pela Guerra Civil e Cristiano relativiza: “Nós estamos em casa no nosso conforto”. Sente-se seguro em Santander mas lembra que “a Espanha está a sofrer muito”.

França David Marques, Clamart (Paris) David, 36 anos, vive nos arredores de Paris e mostra-se muito preocupado com o evoluir da situação em França, sobretudo por causa das “pessoas que não levam isto a sério, por falta de civismo”. Passa o dia em casa, de onde vê a Torre Eiffel. As saídas restringem-se ao mínimo, com máscara e luvas, e “a polícia controla com frequência para não haver abusos como no início”. Tem de sair com uma declaração com o motivo e a hora da saída. Os doentes começam a ser deslocalizados para outras zonas de França menos afectadas.

Fala de algo assustador e sente saudades da liberdade: “É um mal por um bem maior”.

Alemanha Sara Rodrigues, Estugarda Na verdade Sara já está em Portugal.

Esteve apenas seis dias em Estugarda, onde foi trabalhar como Assistente de Bordo. Fez dois vôos e mandaram-na ficar em casa. “Estive lá poucos dias e tentei ficar o máximo possível em casa”.

Na rua “tudo parecia normal, com várias pessoas a andar a pé e era rara a pessoa que tinha máscara” e diz que não havia ruptura de stock nos supermercados. A polícia faz rondas na rua de carro “mas não os vi a fazer nada”. Espera agora o fim da pandemia para poder regressar ao trabalho.

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SOCIEDADE

Avieiros até ao fim

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Um mundo à volta do Tejo em Escaroupim

Foi assim durante décadas...

Sempre que rebentava a folha e as andorinhas chegavam, bandos de famílias juntavamse porque sentiam que era chegada a vez de partirem.

.Manuel Fernandes Vicente (Texto e Fotos)

Foi assim durante décadas, e ainda no terceiro quartel do século XX decorria com algum significado. Era como um pêndulo. E em massa.

Bandos de famílias juntavam-se como num ritual importante porque era o da sua sobrevivência. Sempre que rebentava a folha e as andorinhas chegavam, ou já pela primavera adentro, eles sentiam tudo isso como sinais para lerem, e que era chegada a vez de partirem. Alojados sempre de modo precário no Tejo ou junto à maracha, e terminada a faina artesanal da lampreia, homens, mulheres, crianças, famílias inteiras e mais os animais, reuniam e partiam para Vieira de Leiria, trocando o rio doce, que na invernada fora o seu habitat de adopção, pelo mar que era o seu território natural, mas padrasto. Quando as inclemências da meteorologia ressurgiam e o mar se tornava de novo bravo e hostil à faina da pesca no Atlântico, lá voltavam a debandar e a trocá-lo pela brandura do Tejo e dos seus lugares de memória. Os avieiros viveram assim, nesta antropologia migratória, neste limbo de inquietações, escassez e fome, procurando num lugar o pão que o outro começava a recusar.

Migrações ao ritmo das épocas do ano A história dos avieiros, a que o escritor neorrealista Alves Redol um dia chamou de “ciganos do rio” na sua épica narrativa sobre eles, inicia-se no seu berço de Vieira de Leiria, na foz do Lis, e a sua saga começa na pobreza, na fome e pelo instinto de sobrevivência, que é como começam quase todas as migrações que não são movidas pela ambição, pela gana ou pela conquista.

A saga principia, com pouca expressão, ainda no século XIX, quando as tempestades marítimas e a incapacidade de os pescadores de Vieira de Leiria se adentrarem pelo mar com as suas embarcações os torna incapazes para a faina e impotentes para fazerem chegar uma côdea de sustento a casa. E, empurrados pela escassez, começam a partir, até que em certa altura já quase todos o faziam. A grande vaga destes movimentos pendulares deu-se no final do século XIX e sobretudo nas primeiras décadas do século XX. Era preciso abalar para onde continuassem a ser o que eram, pescadores, o único ofício que conheciam, mas onde não houvesse mar, nem a sua braveza indomável. E foram chegando ao Tejo,

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às bordas d’água do Ribatejo, trocando o mar salgado pela água doce e tranquila do Tejo, e criando as suas comunidades e uma cultura única, porque única era também a sua vida e a realidade económica e social do seu quotidiano. Por Alhandra, Vila Franca de Xira, Porto da Palha, Lezirão, Póvoa de Santa Iria, Escaroupim, Ribeira de Santarém, Caneiras, Palhota, Patacão de Baixo, Chamusca, Arripiado e muitos outros locais, assentaram o poiso e viviam a sua colonização da mesma maneira que a sentiam. Chegaram a contar-se há 40 anos cerca de 80 destas comunidades ad hoc e de pequenos núcleos ribeirinhos. Procuravam o Tejo, mas pretendiam também sítios onde alguns esteiros, canais ou pauis os ajudassem na sua vida e nos seus proventos. Interessava-lhes ficar junto ao rio e nos seus braços, onde pudessem colher o sável, a fataça, a boga e o barbo, a saboga, a enguia, o robalo, o pimpão, a carpa e alguma lampreia, mas também precisavam de não ficar muito distantes de vilas e cidades, onde lograssem vender o peixe e com o pecúlio recebido comprar pão, algum conduto e outros escassos sustentos, tábuas para reparar os barcos e algum apetrecho para a pescaria.

Por tanto necessitarem do rio, viviam dentro dele, como se cada hora e cada minuto fossem decisivos. Quando não era o barco a sua habitação, viviam em casas singulares e um pouco insalubres que explicam, por si só, quase tudo sobre eles. E, nesta antropologia básica, as casotas palafíticas, em madeira e sobre estacas em madeira de oliveira ou de freixo, que iam pacientemente acartando, diziam que os avieiros deviam estar permanentemente de atalaia junto ao rio. Mas ao mesmo tempo deveriam resguardar-se contra as suas traições, como as cheias sazonais e a sua elevação sobre as estacas prevenia-os contra essas adversidades. Também os barcos usados os denunciavam, mas numa denúncia diferente, porque o que revelavam é que eram ali estranhos. Como era possível que usassem em pleno Tejo barcos com uma proa levantada, quando ali não havia nem um assomo de ondas levantadas para enfrentar e furar? A função ficava prejudicada, mas eles preferiam assim.

Uma condição que está no sangue O casal de avieiros era uma unidade afetiva e uma singular sociedade económica. Não só em casa como, sobretudo, no barco e no rio. Os dois eram um casamento, uma equipa e uma sociedade. Era ela que, à proa, remava o barco a mor parte das vezes; para o homem, mais à ré, reservava-se nessa altura o arremesso das redes para o lance no troço do rio que eles cartografavam ao centímetro e conheciam como mais ninguém. E ambos detinham o conhecimento local dos hábitos e dos próprios horários e ciclos de vida dos seus inquilinos de guelras, espinhas e barbatanas. No intervalo das fainas adormeciam à vez, ela consertava o que era preciso ou adiantava a parca refeição, ele entralhava as redes da pesca. O peixe apanhado no lance era a base da dieta e da gastronomia principal da família, o excedente do cardume que caía na rede era levado até às praças das povoações mais próximas, onde tinham uma clientela certa que apreciava o paladar do peixe do rio. Algumas clientes eram tão certas que pediam às mulheres avieiras que lhes fossem levar os barbos

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Uma vida a meias com o Tejo, assim era o viver avieiro ou as enguias a casa. E também vendiam porta a porta. Era a mulher que em geral se incumbia de levar peixe às povoações em cestos de verga, que o marido laboriosamente produzia, apregoá-lo e vendê-lo a uma clientela leal, e ela grata e dedicada pela fidelidade.

“Durante as cheias, os dois chegámos a tirar pessoas das aflições e as ovelhas e cabras de morte certa. Éramos a proteção civil da altura, sempre prontos, e chegámos a colaborar com os guarda-rios quando os havia”.

Luís Fernandes, já adentrado nos sessentas, tem no sangue todo o legado avieiro entre o porto de Escaroupim, em Salvaterra de Magos, e o estuário do Tejo, mas confessa, sem pena, que essa memória avieira se está a perder, e possivelmente ele e a sua geração estiveram entre os principais responsáveis pelo elo que se quebrou na ligação entre as famílias de Vieira de Leiria e o Tejo. “A ligação à Vieira foi-se tornando mais mítica que real.

Eu, por exemplo, nunca fui lá. Os meus pais, já falecidos, eram muito ligados à sua terra, mas a partir de certa altura deixaram de ir. Eles eram o casal típico da nossa cultura, quando jovens dormiram muitas vezes no barco, mas também me lembro de eles dizerem que na maioria dos lances com a rede vinham mais de uma centena de peixes, sobretudo o sável, que se vendia muito bem”, diz Luís Fernandes, notando que o pai já não queria aquela vida para si. “Ele, que era pescador, carpinteiro, agricultor de horta, seareiro, e parece-me que nunca o vi descansar, já não me puxava muito para o rio, e chegou-me a dizer que, se eu pudesse, escolhesse outra coisa, que a pesca era uma má sentença para um homem”, afirma. A partir da década de 1990, os descendentes dos avieiros pareciam ter ainda consigo o chamamento do rio e das bateiras, das noites a percorrer o rio ou da esperança que o sável entrasse nas redes. Mas também tinham a lucidez de olhar para o rio e para os pais e ver o óbvio. Aquela vida era mais uma condenação.

“Quando eu era rapaz, os meus pais, que eram primos, passaram também a cultivar umas terras à volta da casota onde fazia searas de melão e de tomate, para a campanha de verão, porque o peixe já não tinha a abundância de outros tempos. E eu comecei a pensar que também já não queria ir para o rio. Já tinha alguns estudos, e senti que era capaz de fazer mais que pescar e levar com o frio, a chuva e a humidade noturna do rio nas costas durante anos, tendo como única proteção um toldo de oleado por cima”, observa Luís Fernandes. Afastou igualmente os seus filhos das suas raízes, mas gostaria de ver um dia a cultura e os costumes avieiros terem o reconhecimento de um raro património intangível. “Eu já não aprendi a carpintaria que os avieiros conheciam para fazer os barcos, nem nunca peguei numa plaina [para tornar lisa a madeira] ou numa enxó [um cabo curto com uma chapa de metal capaz de cortar]; mas o meu filho, nunca pegou sequer num remo”, nota.

Nalguns locais a pesca ganhava mais escala, e um casal não chegava.

As embarcações eram maiores, havia mais espécies, o rio alargava-se e também eram precisos mais homens para espalhar a rede, que podia chegar aos 300 ou 400 metros de comprido. A verdade é que quase tudo o que dava suporte ao viver dos “ciganos do rio” desapareceu. A começar desde logo pelo peixe, cuja abundância deu lugar à míngua das principais espécies, devoradas pelos temíveis lúcios, introduzidos como um exotismo no Tejo, e pelos corvos-marinhos, e também pelas intensas descargas poluentes, que tornam o rio impróprio para qualquer forma de vida em muitos dos seus troços. “A crise, porém, já começara décadas antes, quando construíram barragens, que impediam o sável de desovar

porque o caudal ia baixo, ou porque as torrentes das descargas arrastavam as ovas postas”, opina Luís Fernandes.

A transição das atividades do avieiro, até o deixar de ser, passou em pleno pela família de Luís Fernandes em três gerações. “Hoje ainda vou pescar de vez em quando, na altura delas vou apanhar uma ou outra lampreia, que alguns peixeiros me compram para irem depois vender aos restaurantes, onde continua a ser uma iguaria gastronómica e cara”, diz o avieiro, notando porém que já só o é “pelo sangue”…

Uma cultura para defender para além da sua morte A multifacetada cultura avieira está abandonada, tanto como os seus saberes técnicos, cuja transmissão geracional está em risco, e tanto como o seu património físico que na maior parte dos casos jaz à beira do Tejo.

A sociedade avieira fechava-se sobre si própria − sobre as barracas, as bateiras e os saveiros, e a própria forma de trajar −, e este aspeto, apesar de manter os costumes incólumes, também a fragilizava. A bateira e o Tejo eram o centro do seu mundo. Na bateira, debaixo dos toldos armados, nasciam, pescavam, cozinhavam, nupciavam, criavam os filhos, adormeciam e envelheciam. No Tejo, o “jardim de peixe”, era assim que gostavam de a ele se referir, remavam, faziam os lances com a rede varina, captavam o sável e socorriam quem precisasse. E assim geraram o seu universo, que tanto se mostra nas técnicas da pesca, como na gastronomia, no traje, nas casas palafíticas, nas núpcias, na religiosidade mariana e nas próprias cores que escolhem para colorir a sua realidade e o seu contexto.

A pesca era um mundo de conhecimentos quase familiares, empíricos e herdados, que exigiam rigor, precisão e critério, quer nas tecnologias tradicionais da construção e reparação das embarcações, quer à volta das diferentes redes para as diversas espécies do Tejo. Havia as redes de tresmalho, as varinas, os botirões, as nassas, as tranquetes e o topa-esteiros. Quase tantas variedades como espécies tinha o rio e gastronomias tinham os clientes. Hoje importava transferir todas essas realidades, convertendo-as em fatores turísticos, recuperando um território cultural à espera de ser classificado como Património Nacional e até, dada a sua singularidade, em Património da Humanidade. “O turismo, com cruzeiros no rio por exemplo, é que devia ser o caminho, devíamos conseguir chamar até cá os turistas e mostrar-lhes as nossas tradições, alguma carpintaria capaz de fazer barcos e ensinar os mais novos no artesanato. A nossa cozinha, as nossas curas com ervas, quando não tínhamos médico, as nossas orações a Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, e como viviam os nossos avós, isto é uma cultura que herdámos e não pode terminar assim”, defende Luís Fernandes, notando que este é o sentimento comum à maioria dos “avieiros no ativo”, que também se queixam de que cada vez se coloca mais dificuldades e restrições às suas pescarias.

Alguns acreditam que o futuro dos seus jovens ainda pode voltar a ser o rio. E não apenas em atividades ligadas ao turismo e à gastronomia avieira, com o sável frito, a açorda de sável, os torricados e a caldeirada de peixe à cabeça, e em restaurantes em casas palafíticas à beira-rio. O Tejo ainda pode voltar a dar trabalho, empregos e sustento nos lugares de memória dos avieiros. Mas para isso o rio há de ter que dar ainda uma grande volta. Falta saber se nessa altura ainda haverá algum avieiro que o queira ser…

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OPINIÃO

OPINIÃO

PRAZERES

TRETAS E POETAS

Armando Fernandes*

Maria João de Sousa Carvalho*

Primavera? Todos os anos

O medo

O título Todos os anos pela Primavera já o usei como muleta inicial de outros textos. Para quem não sabe esse título é o de uma corrosiva peça de teatro de Sttau Monteiro exímio e sabedor gourmet, romancista, apreciador da bela vida (carros desportivos, mulheres bonitas, comeres delicados e champanhes brutos de alta qualidade) além de ter sido notável jornalista, criador do suplemento A Mosca e da célebre Guidinha. Escreveu no Almanaqe, devido à sua amizade com José Cardoso Pires descobriu o restaurante Cobra em Vila de Rei a quem deu fama e proveito. O escritor da Balada da Praia dos Cães era natural de São João do Peso e por isso a proximidade à Vila que o Rei poeta acarinhou há um alqueire de anos. Ao referir anos leva-me a acrescentar que na Primavera este jornal festeja o seu aniversário bem como a estação do renovo agrícola, da renovação dos campos, dos barrocais, dos bosques, evidenciando o eterno retorno do revigoramento colectivo das comunidades, da maioria dos seus habitantes.

Ora, abarca, jornal a que chamo Magazine estagiário nas casas dos seus leitores durante um mês, a passar à condição de memória da vida colectiva e das singularidades dos indivíduos, a perseverança de Margarida Trincão na esteira da Soberana padroeira da dita Vila de Rei consegue operar o milagre da multiplicação da continuidade mensal do seu, nosso, de todos. abarca. Não é a Barca dos 7 Lemes, essa escreveu Alves Redol, é em determinada medida a continuidade do Auto da Barca do Inferno, do Auto da Barca do Purgatório, obras salientes no conjunto da produção literária do fundador do Teatro Português, Mestre Gil, o genial Gil Vicente.

O labor de Margarida é de grande quilate, os enciumados podem desmerecer a minha opinião, filisteus, invejosos, ressabiados, não imaginam (se imaginassem não eram filisteus invejosos e ressabiados) quão custoso é superar obstáculos de toda a natureza a fim de o jornal transpor os trabalhos de parto de forma a chegar limpo de mazelas às mãos dos leitores.

A Primavera salta valas, vence ravinas, supera cumes de montanhas, nos fundos vales inebria o ambiente, os rebentos, as flores através da música da natureza, os homens e mulheres saúdam a sua chegada, desfrutam-na, nos intervalos presenteiam-na com obras perenes em todas áreas do conhecimento, Igor Stravinsky agradeceu-lhe compondo a sua Sagração, sim a Primavera no mundo profano é uma das explicações do Sagrado, no Sagrado é elemento primacial.

O sábio Mircea Eliade (viveu em Portugal) quer no Tratado de História das Religiões, quer no livro O Sagrado e o Profano explicou a presença e influência do Sagrado através das Hierofanias, por isso mesmo Stravinsky assombrou os espíritos dos amigos de pensar a amplitude espiritual dos cinco sentidos que possuímos, aos amigos da ignorância, de fogos-fátuos, do ter sobre o ser, da farândola ilusória legou-lhe um sonoro e soturno eco de sons que os aborrece ao ponto de insultarem o autor de Édipo Rei. Estamos viver um tempo de obrigatório recolhimento esquecendo-nos das livres vantagens de pensarmos, reflectirmos e voltarmos a reflectir recolhidos, longe da vozearia estulta, grunhida, grasnada, roncada, cacarejada de gentes convencidas de convencerem os opositores porque falam mais alto.

Na Primavera e nas restantes sazões do ano abarca sulca o rio eivado de asperezas, a lembrar a muita areia e porca água do vizinho Tejo, se desejo água límpida no rio cantado por Camões que banha O Ribatejo, traço de união entre o aquém e o além (Tejo), para Margarida Trincão espero continuidade, força, vigor e teimosia. E, sempre tempo primaveril.

E de repente o medo. Abstracto. Paralisante e embrutecedor.

O medo.

E mais assustador que o escuro da infância ou o papão que canta no telhado, pessoal e doméstico, o medo que alastrou como mancha de óleo é mundial.

Mas não romantizemos. Não é igualitário nem democrático. É pandémico. É sinistro Todos iguais da pior maneira. Todos iguais na desumanização da vida e da morte.

Espanto neste mundo paralisado à espera de morrer ou de viver como se uma roda de sorte estivesse a rodar continuamente.

Insisto em sobreviver, na perpetuação institiva, mas que restará depois de não haver mais sorteios de morte ou vida? Que vida sobrará? Fervilha o pior que possuimos no caldeirão, a curtir como as uvas que prometem vinho, e vêm à tona as indignidades de que somos capazes: mesquinhez, inveja, maldade pura, tudo.

Tudo o que é mau a massa pegajosa rejeitará. Mas será assim nesta curtimenta insana?

Tenho medo

* Investigador | Consultor Cultural

*Médica e escritora

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O Poema Pouco Original do Medo O medo vai ter tudo pernas ambulâncias e o luxo blindado de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém os veja mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no tecto no murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos O medo vai ter tudo fantasmas na ópera sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos frases corajosas meninas exemplares seguras casas de penhor maliciosas casas de passe conferências várias congressos muitos óptimos empregos poemas originais e poemas como este projectos altamente porcos heróis (o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários (assim assim)

escriturários (muitos) intelectuais (o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com certeza a deles Vai ter capitais países suspeitas como toda a gente muitíssimos amigos beijos namorados esverdeados amantes silenciosos ardentes e angustiados Ah o medo vai ter tudo tudo (Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer) O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratos Sim a ratos.

Alexandre O’Neill (1924 1986)

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OPINIÃO

OPINIÃO

TEMPOS & GENTES

OS TRABALHOS E OS DIAS

Estêvão de Moura*

Jorge Carreira Maia*

A NOVA LEI DOS SOLOS: UM TIRO NO PORTA-AVIÕES!

Razão e Ciência

Nos dias que correm, complexos e difíceis, devido à crise do Covid 19 e à obrigação de quase todos permanecermos em casa por longos períodos, há uma realidade que é tao omnipresente quanto esta crise que vivemos: a vida não parou!

E um sem número de outras realidades continua a fazer o seu percurso em consonância com as dinâmicas que as determinam.

Uma dessas realidades é a que está subjacente à entrada em vigor, no próximo mês de Julho da Lei que promove a mais importante alteração em matéria de classificação dos solos ocorrida em Portugal nos últimos anos.

A grande maioria dos portugueses, para não dizer, quase todos, não sabe nada sobre esta lei. É o costume. Em Portugal, é sabido, fazemse leis a propósito de tudo. Parece existir uma espécie de vigilantes activos, cuja única missão é a de descobrir temas que ainda não estejam abrangidos por uma lei, quer dizer, portanto, pela supervisão do Estado.

Socorremo-nos de um anúncio recentemente publicado num dos mais importantes jornais diários de âmbito nacional, por uma empresa que se propunha trabalhar situações que potencialmente viessem a ser abrangidas por esta Lei (e são muitas) para lançar esta questão que tem uma inegável importância, para pessoas, pequenas localidades e territórios (sobretudo os mais pobres).

O anúncio rezava o seguinte: “Alteração legal afecta proprietários de terrenos e quintas com potencial urbanístico. Por força do Artigo 10º da Lei 31/2014, de 30/05/2014 (nova Lei dos Solos) e do artigo 199º do Dec. Lei nº 80/2015, de 14/05/2015 (Novo regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial) no próximo dia 13 de Julho de 2020, quando decorrem 5 anos sobre a entrada em vigor do Decreto-lei, todos os térreos que actualmente estejam qualificados como “Solo Urbanizável” no âmbito dos Planos Directores Municipais serão reclassificados como “Solo Rústico” perdendo pois a sua capacidade construtiva”.

Sabia disto o leitor? O leitor ou alguém que conheça estava a pensar construir uma casinha naquele terreno que recebeu de herança ou que comprou há alguns anos?

Então pense depressa! O tempo que lhe falta para perder esse direito está muito perto do fim. Mais concretamente: o dia 13 de Julho de 2020 ou seja, quando este número do abarca chegar às bancas, cerca de três meses.

Neste tempo em que temos de continuar a falar de outra coisas que não exclusivamente a disseminação do Covid19, o vírus que alterou (para sempre?) os nossos padrões de comportamento e nos obrigou (aos portugueses, espanhóis, franceses, italianos e muitos mais,..) a “ficar em casa”, está eminente essa outra crise silenciosa que vai provocar, no médio e longo prazo uma alteração incalculável nos nossos territórios.

Do que se compõe esta crise que aí vem, para os territórios mais pobres e isolados, afinal? É uma crise com vários matizes: financeiros, sociais, urbanísticos, rurais, de desenvolvimento, administrativos e que vai acontecer sem que a grande maioria dos portugueses tenha disso consciência e fora de qualquer debate público que a situação imporia e findo um período de transição (de transição para quê é o que seria importante saber! Porque não se sabe e ninguém parece estar em condições de explicar o que se passa afinal.)

Se este fosse um jogo de batalha naval o dia 13 de Julho de 2020 seria, seguramente, um tiro no porta-aviões. Fim do jogo.

Pela sua importância voltaremos ao assunto na próxima crónica.

De súbito, calou-se todo o argumentário anticientífico sobre as vacinas. Perante a pandemia associada ao COVID 19, anseia-se que a ciência responda com brevidade e encontre uma vacina que possa ajudar a humanidade a viver com o novo perigo. Os movimentos anticientíficos têm crescido nos últimos tempos e são uma ameaça real à vida dos seres humanos. Enquanto as coisas ficam em patetices como a terra plana, é possível rir. Quando, porém, tocam em assuntos relacionados com a vida e a morte, não há riso que valha. Nestes movimentos contra a ciência podem existir, entre outras, motivações associadas a um regresso a uma imaginária pureza da ordem natural e motivações religiosas, que vêem na ciência uma afronta ao divino ou que julgam que uma fé profunda bastará para lidar com os males do mundo.

estevaomoura@yahoo.com *Antigo aluno da EICA; Ph.D.- Univ. Lisboa

A ordem natural como medida daquilo que é correcto ou incorrecto fazer é uma perspectiva muito em voga nos círculos new age. Assenta na negação dos perigos que a própria natureza esconde para os seres humanos e faz uma leitura da humanidade como sendo apenas uma espécie entre outras. Foi o facto, porém, do homem ter tido a capacidade de se distanciar da natureza e ter criado um mundo artificial a partir dessa natureza que tornou possível a persistência da humanidade sobre a Terra. Desse mundo artificial fazem parte as técnicas, os saberes científicos, os valores e as próprias religiões.

Tudo isso foi uma estratégia de afirmação e defesa da humanidade perante uma natureza muito longe de lhe ser benévola.

Certas correntes religiosas julgam que os homens apenas devem confiar na fé, mesmo em assuntos que não se relacionem com questões de religião. A ciência seria então um desafio à ordem e à vontade divinas.

No entanto, nem todas as religiões têm esta perigosa posição e a Igreja Católica, por exemplo, há muito que descobriu, ou sempre soube, que fé e razão se devem conjugar e que as descobertas científicas, produtos da razão natural dos homens, devem ser tidas em consideração. Considera mesmo como pecado grave os homens desprezarem a informação científica, aventurando-se na existência sem a tomar em consideração. Pecado pois, ao desprezar o conhecimento trazido pela razão dada ao homem por Deus, estão a desafiá-Lo a provar a sua omnipotência para os salvar daquilo em que estão metidos.

Nesta hora terrível que estamos a viver, é tempo de perceber que não devemos desprezar o que a razão e a ciência produzem para ajudar a humanidade a habitar com mais segurança este planeta. Todo o fanatismo – naturalista ou fideísta – é um perigo para a existência da humanidade. *Professor de Filosofia http://kyrieeleison-jcm.blogspot.pt/

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CONTO

Um amor assim não devia morrer…

“

Parecia um vulto de outro planeta, um ser biónico e de barba longa que por ali deambulava sem sentido nem propósito. Não fosse o enorme chapéu e o longo capote castanho que cobria o seu enorme corpo, seria mesmo uma personagem de ficção.

. Manuel Fernandes Vicente Alberto tornou-se para os vários moradores próximos daquela estrada que corria quase paralela ao Tejo numa estranha representação hodierna do velho e incongruente mito grego de Sísifo. Há muito que calcorreava, como um maltês, as bermas da estrada num sentido e no outro. Fazia-o diariamente, como um pêndulo mecânico para leste e depois para poente, talvez até mais de uma vez em cada dia. E de noite também, em certas ocasiões. Por vezes, mais parecia um vulto de outro planeta, um ser biónico e de barba longa que por ali deambulava sem sentido nem propósito. Não fosse o enorme chapéu e o longo capote castanho que cobria o seu enorme corpo até aos pés, seria mesmo uma personagem de ficção. Era sobretudo no crepúsculo ou à noite, em que os seus movimentos lentos, e já vagos e indeterminados, davam ainda mais mistério ao seu caminhar irreal, mas verdadeiro.

Era um gigante que não parava, nunca parava, nunca ninguém o vira alguma vez quedo para descansar um pouco ou por outro motivo qualquer. Caminhava com método e numa leve oscilação no tronco, tinha um coto sem jeito no lugar de um braço e um longo bordão negro na mão do outro lado. Caminhava sempre, como se um degredo régio a isso o tivesse condenado. Também ninguém ouvira dele uma palavra, um pedido, um simples sopro, apesar dos cães ladrarem desalmadamente, mesmo quando estavam afastados, sempre que ele, de passo quase automático e maquinal, passava como um peregrino sem santo nem santuário e de destino incerto. Houve ainda quem garantisse ter-se cruzado alguma vez com este ser seminómadasemieremita, personagem provável de um mito ou de uma lenda medieval, mas na verdade era um figurante neorrealista já da segunda

metade do século passado. A impressão que colheram essas pessoas, no fugaz momento de proximidade, era a de alguém altivo e quase etéreo, como se levitasse, caminhava silencioso e como se a tudo fosse indiferente, e depois esvanecia-se rapidamente na noite negra ou entre as sombras das árvores e dos bosquetes. Diziam que dormia sobre um sobreiro, onde alojara um sobrado e uma cama de palha que a ramagem protegia e disfarçava. Comia frugalmente umas bagas e algum fruto que encontrava na sua jornada, porventura algum naco de pão e conduto, não se sabendo como os conseguiria.

Quem o viu passar durante tanto tempo contava muitas histórias sobre as razões deste degredo sem cansaço nem descanso. Mesmo em dias de grandes tormentas, a chuva torrencial e tocada a vento, granizos e mil raios no céu, o enigmático personagem surgia de repente, com a água a escorrer-lhe pelo chapéu e pelo capote que cobria um perfil muito alto e magro e que ganhava ainda maior imponência visto em recorte contra um fundo negro e riscado por relâmpagos furiosos que irrompiam atrás de si. Contavam-se muitas histórias de Alberto, mas havia uma que, por ser a mais intensa e melhor se conformava àquele abismo psicológico, se sobrepunha às demais. O vai e vem daquele alienígena e o seu olhar vago e remoto poderiam sugerir o de alguém siderado ou que ficara “frito” por alguma obtusa substância. Mas não era o caso, porque a forma como compassava o seu caminho denunciava, não obstante, uma certa determinação. Alberto percorria como um espartano de sandálias aqueles 30 ou 40 quilómetros entre os dois extremos que parecia vigiar, ninguém sabia ao certo onde eles ficavam, na esperança de aí reencontrar a mulher que tanto amara, e que, de certa maneira, ainda amava. Fora nesse trajeto, agora tantas vezes batido, que um dia ela desaparecera do seu mundo. Para alguns, a amante morrera num acidente de automóvel em que Alberto ficara com um braço mutilado e em estado de coma alguns dias, nunca tendo recuperado a consciência plena nem sequer parcial desse segmento de tempo da sua vida. E era na tentativa de recuperar a amante, ou seja, dessa parte de si e da sua própria memória, que lhe faltava, que calcorreava sem cessar aqueles quilómetros, numa esperança que não esmorecia de as vir a encontrar.

Ele nunca aceitou que a Helena tivesse sido arrancada à vida antes da sua vez. Para si, não morrera, e isso era-lhe suficiente.

O poeta estoico e epicurista Quinto Horácio, da Roma Antiga, costumava afirmar que “a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, ficariam adormecidas”. Mas também desperta estados de espírito que o realismo julga como absurdos, irracionais e anacrónicos, mas que num cérebro perturbado, já o não são. Este eremita e nómada não se submetia à realidade, simplesmente não a aceitava. Quando via ao longe os movimentos de alguma esbelta e jovem mulher, de imediato estugava o passo, como se fosse dirigido por um instinto automático, e fixava-se bem na anatomia e na ondulação do corpo feminino para o reconhecer. A esperança rapidamente dava lugar à agrura e à desilusão, mas nem um milhão de desilusões chegariam para quebrar o seu desejo de a encontrar e de a abraçar e beijar de novo.

Outras pessoas diziam que ela o abandonara e trocara por outro, e fora nessa condição que ele, incapaz de suportar a veracidade, e como o povo, sempre cruel, garantia, desvairara com a sua presumida desonra.

E foi assim que, nos primeiros tempos, após o afastamento de Helena, era frequente vê-lo desnudado e sem pudor desvendar os genitais pelo caminho.

Há muito tempo que deixei de ver o caminhante de olhar distante e metafísico, e de passar por essa estrada, que era a dos seus passos, nem sei mesmo se o Alberto ainda existe, e, estando vivo e com energia, se ainda a percorre. Ou se terá mesmo um dia reencontrado a sua doce e bela Helena. Destes cenários, este é talvez aquele de que tenho menos dúvidas, quanto mais não seja porque um amor assim não devia morrer….

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OPINIÃO

PUB. ABARCA Nº 438, 01 DE ABRIL DE 2020

DIÁRIO DA DIFERENÇA

Eduardo Jorge*

CAIXA DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO DO RIBATEJO NORTE E TRAMAGAL, CRL ANÚNCIO DESCONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA ELECTIVA SUSPENSÃO DO PROCESSO ELEITORAL Tendo em consideração, por um lado a recente decretação do Estado de Emergência pelo Senhor Presidente da República e as medidas de execução determinadas pelo Governo que exigem que as pessoas se recolham e evitem reuniões e assembleias, e, por outro, atendendo a que o Decreto-Lei n.º 10-A/2020, de 13 de Março de 2020 que estabelece as medidas excepcionais e temporárias relativas à situação epidemiológica do novo Coronavírus — COVID 19, determina no seu artigo 18º que “As assembleias gerais das sociedades comerciais, das associações ou das cooperativas que devam ter lugar por imposição legal ou estatutária, podem ser realizadas até 30 de junho de 2020.”

Venho, por este meio, desconvocar a Assembleia Geral Extraordinária da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Ribatejo Norte e Tramagal, CRL designada para dia 17 de Abril de 2020, pelas 09:00 Horas, destinada exclusivamente à realização das eleições dos órgãos sociais e estatutários da Caixa Agrícola para o triénio de 2020-2022, suspendo, em consequência, o processo eleitoral em curso, o qual será retomado quando for de novo convocada a Assembleia Geral Eleitoral, a qual será marcada para data em que estejam reunidas as condições necessárias para poder ser realizada e presumivelmente até, e nos termos da lei, dia 30 de Junho de 2020.

Torres Novas, 23 de Março de 2020 O Presidente da Assembleia Geral Dr Rui Fernando Roboredo Alonso Consciência

COVID-19: Pessoas com deficiência, Suas Famílias e Entidades que lhes Prestam Apoio - I As orientações que se seguem decorrem do comunicado do Conselho de Ministros de dia 12.3.2020 que aprova um conjunto de medidas extraordinárias e de carácter urgente para resposta à situação de pandemia epidemiológica do COVID-19. As orientações da DireçãoGeral de Saúde (DGS) prevalecem sempre sobre estas informações.

Quais as respostas sociais para pessoas com deficiência que continuam a funcionar? Lar Residencial, a Residência Autónoma e o SAD para pessoas com deficiência.

Que procedimentos devem adotar os CAVI atendendo à disseminação do COVID-19? Devem ter o seu próprio plano de contingência e procedimentos próprios perante o COVID-19.

Que procedimentos devem ser tomados relativamente à Assistência Pessoal? Atendendo à população apoiada, é importante continuar a assegurar e satisfazer as necessidades identificadas pelas pessoas com deficiência, sem interrupção, dentro do possível e com os devidos cuidados, sem prejuízo de orientações específicas em contrário e exclusivas das autoridades de saúde locais e as recomendações da DGS em matéria de prevenção.

A pessoa beneficiária pode interromper a Assistência Pessoal durante este período? Sim, invocando a situação relativa ao COVID-19.

Quando a suspensão do apoio for efetuada a pedido do beneficiário, como proceder em termos de pagamento da remuneração? O pagamento da remuneração está dependente da manutenção do contrato de trabalho nos termos em que foi elaborado, sendo que, os assistentes pessoais não deverão ser prejudicados por esta situação.

Um assistente pessoal pode beneficiar das medidas extraordinárias de contenção e mitigação do COVID-19, nomeadamente no que respeita às faltas justificadas para trabalhadores que tenham de ficar em casa a acompanhar filhos menores de 12 anos ou dependente com deficiência, independentemente da idade? Sim, nos termos estabelecidos para os demais trabalhadores por conta de outrem.

As equipas técnicas do CAVI podem desempenhar funções em regime de teletrabalho? Sim, desde que compatível com as funções exercidas.

As respostas residenciais podem encerrar e/ou suspender admissões?

Só poderão suspender o seu funcionamento se a Autoridade de Saúde Pública assim o determinar. Deverão ser cumpridos os procedimentos necessários para manter o normal funcionamento das mesmas. Tem de ser garantida a admissão de novos utentes nas respostas sociais em funcionamento, mesmo quando existam restrições a visitas.

Podem as Instituições, de modo próprio, determinar a aplicação de serviços mínimos nas respostas sociais que desenvolvem (respostas residenciais ou comunitárias) ou redução dos serviços prestados? Só devem suspender ou alterar o nível de prestação de serviços requerido para o funcionamento das respostas sociais, caso a Autoridade de Saúde Pública assim o aconselhe ou determine, face a critérios de proporcionalidade e de razoabilidade. (continua) *Tetraplégico, Assistente Social no Centro de Apoio Social da Carregueira.

João Viana Rodrigues Ana ADVOGADA Pós-Graduado em Direito do Trabalho Teixeira Advogado Largo Motta Ferraz, Abrantes TRAMAGAL Associação de Dadores de Sangue - Tel 241 897 254 ABRANTES Largo Motta Ferraz - Tel 241 331 541 / Tlm 969 458 022

( frente Igreja da Misericórdia de Abrantes )

Telefones : 241 331541 / 938654498

. Pós-Graduada em Mediação Familiar . Curso de Formação Avançada em Direito das Crianças pela U. Católica Portuguesa

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À QUEIMA ROUPA

MARTA RODRIGUES Gestora de “O meu escritório é lá fora”, 29 anos, Abrantes Nasci e cresci em Abrantes. A faculdade levou-me até Coimbra para estudar Línguas e, terminada essa etapa, um estágio em diplomacia política levou-me durante um ano até à Embaixada de Portugal em São Tomé.

De regresso volto a Coimbra para uma pós-graduação em Direitos Humanos, que me transporta para um Mestrado na mesma área, feito entre Itália e Polónia.

Volto novamente a São Tomé, mas desta vez para a Ilha do Príncipe, onde faço um estágio com as Nações Unidas.

De regresso a casa, abraço o Projeto do O Meu Escritório é lá Fora, do qual faço parte desde o ano passado. Pelo meio, escrever, escrever, escrever e vários projetos de voluntariado, em Abrantes, na Ilha de Moçambique, em Coimbra, em Berlim e no Príncipe.

1. Local preferido onde vive?

Além da minha casa, o Parque de São Lourenço.

8. Qual é o seu prato preferido?

Pizza.

2. Qual a primeira coisa que faz quando acorda?

Abrir as janelas.

9. Qual é o seu maior sonho?

Terminar os meus dias a escrever e poder ir a Veneza uma vez por ano e a São Tomé de cinco em cinco anos.

3. Que livro anda a ler?

Comecei hoje a reler “O ano da morte de Ricardo Reis”, de José Saramago.

4. Personagem favorito no cinema ou no teatro?

Hannibal Lecter.

5. Qual a peça de vestuário que prefere?

Cardigans, ou casacos de avó como lhes gosto de chamar.

6. Bebida preferida? Água é a preferida de todos os dias e ao fim de semana um copo de vinho branco ou um gin tónico.

7. Com que figura pública gostaria de jantar?

Se pudesse ressuscitaria Amália ou Frida Kahlo, nessa impossibilidade, Barack Obama.

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10. Lema de vida?

Na dúvida, saltar duas vezes.

11. O que mais a preocupa na acção do Homem sobre a Terra?

Que a tornemos inabitável por força de lhe impormos as nossas vontades.

14. Monumento maravilha de Portugal?

Sou completamente fascinada pelo Mosteiro da Batalha.

15. O que faria se fosse milionária?

Viajaria o mais possível, tentaria apoiar todos os projetos na área de Direitos Humanos com os quais me identifico a nível de missão e valores e, compraria uma casa algures entre o campo e o mar, onde pudesse ter a minha biblioteca de sonho.

16. Tem medo de quê?

De não sorver esta vida ao máximo.

12. Lembra-se da última vez que chorou?

Há poucos dias, com um vídeo da Força Área Italiana a sobrevoar o país, lançando as cores da bandeira, com a música “Nessun Dorma” do Pavarotti.

17. Concorda com o casamento homossexual?

Concordo que duas pessoas que se amam, independentemente do seu sexo, possam casar se esse for o seu desejo.

13. O que a irrita profundamente?

Injustiça.

18. Local onde passou férias inesquecíveis?

São Tomé e Príncipe.

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astrologia | passatempos HORÓSCOPO Maysa

O GRITO DA ESFINGE 3 -2020

carneiro . 21/03 a 20/04 - Temperança AMOR Tome as decisões que achar acertadas, utilizando a sua inteligência e o seu sentido prático.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Opte por comportamentos equilibrados e não quebre rotinas.

SAÚDE Tendência à oscilação de peso.

touro . 21/04 a 20/05 - Imperatriz

AMOR Deve ter coragem e demonstrar os seus sentimentos e intenções para com a pessoa amada.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL A sua capacidade de trabalho será valorizada.

SAÚDE Alimentação equilibrada e algum exercício físico serão a base do seu bem estar.

GÉMEOS . 21/05 a 20/06 - Força

AMOR Poderá ser dominado por afectos fortes, nos quais vale a pena insistir. Mas não através da força.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Controle dos acontecimentos, pequenas desatenções podem gerar grandes problemas.

SAÚDE Passeie junto à praia, vai fazer-lhe muito bem.

CARANGUEJO. 21/06 a 27/07 - Mundo

AMOR Clarifique e defina com algum rigor a sua situação.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Estão valorizados os resultados profissionais em que se tem empenhado.

SAÚDE Tendência ao surgimento de dores reumáticas.

leão . 23/07 a 22/08 - Roda da Fortuna AMOR Poderá sentir que finalmente a primavera entrou na sua vida afetiva. Aproveite e evite conflitos.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Não tenha receio de arriscar em novas esferas profissionais.

SAÚDE Algumas oscilações de humor.

virgem . 23/08 a 22/09 - Carro

AMOR Sente-se motivado para aprofundar a sua relação, mas para isso é necessário que se empenhe mais.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Não desista dos seus propósitos, mesmo que se depare com obstáculos sucessivos.

SAÚDE Pouca concentração. Tome mais vitaminas.

BALANÇA . 23/09 a 22/10 - Ermita

AMOR As evoluções são lentas, mas mesmo que existam alguns entraves não transmita insegurança.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Mantenha-se activo e atingirá objectivos que julgava estarem longe.

SAÚDE Evite alterar hábitos de sono.

ESCORPIÃO . 23/10 a 21/11 - Amantes

AMOR Utilize toda a sua sensibilidade e intuição para dar os passos certos.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Em situações complicadas mostre-se sempre positivo.

SAÚDE Aproveite todos os momentos para relaxar.

SAGITÁRIO . 22/11 a 21/12 - Lua

AMOR Algum distanciamento da realidade poderá levá-lo à instabilidade. Não alimente desconfianças.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Não conte com uma conjuntura muito clara.

SAÚDE Muita instabilidade emocional.

CAPRICÓRNIO . 22/12 a 20/01 - Louco

AMOR Não deve envolver-se em riscos, ou alterar acontecimentos apenas por orgulho.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Tendência para muita desorganização.

SAÚDE Dedique mais tempo ao lazer.

AQUÁRIO . 21/01 a 19/02 - Dependurado AMOR Não deve actuar esperando receber, pois isso irá trazer-lhe alguma insatisfação.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Não se perspectivam grandes avanços profissionais.

SAÚDE Agravamento dos estados de stress.

PEIXES . 20/02 a 20/03 - Justiça

AMOR Não resista a alterações que são fundamentais para o equilíbrio da sua vida amorosa.

PLANO MATERIAL E PROFISSIONAL Dificuldade em cumprir prazos. Mantenha equilíbradas as finanças.

SAÚDE Poderão surgir problemas de estômago.

ABERTURA Estimados amigos Seria uma época bonita a que aí vem – a primavera – se o COVID-19 não tivesse aparecido antes.

Que todos se encontrem bem, são os meus desejos.

Um abraço do amigo velho que não vos esquece Aldimas

Palavras Cruzadas | d

e

“Baby - Funchal”

Horizontais: 1- Salsa-do-monte; 1 Disperso. 2- Fânega; Bronco.

3- Sonhos; Dique. 4- Muitos; 2 Molestar. 5- Folha; Bonança; 3 Difícil. 6- Gálico. 7- Quanto; 4 Assim; Nada. 8- Mondadores; Brilho. 9- Circuito; Futura. 105 Peçam; Ensejos. 11- Amanhã; Face.

6 Verticais: 1- Parente; Merenda.

2- Ajuntar; Superior. 3- Desejos; 7 Apre!. 4- Iguala; Lisboeta. 58 Avoengos; Escore. 6- Picoá.

9 7- Semelhante; Máximo. 8Converter; Estro. 9- Impugnar; 10 Severidade. 10- Batem; Exista. 1111 Piras; Frade.

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Charadas Adicionada | Magno – Amadora 1. ACABA BEM isso e vem, e o SÉTIMO dos SEGREDOS ACAUTELA BEM. 2, 1, 2, 2

Epentética | Fumega – Vila do Conde 6. PARTE do pessoal só quer mordomias – e em GRANDE QUANTIDADE. 2,3

Aferética | Amora – Vila do Conde 2. Ser ILUSTRE não é para QUALQUER. 3, 2

Haplológica | Homotaganus – Évora 7. Com um RAMO DELGADO DE ÁRVORE ela ESGARAVATA a terra e resolve um ASSUNTO INTRINCADO 2, 2 (3))

Apocopada | Belisa – Braga 3. Na GUERRA, muitas vezes, nem o melhor sprint VENCE. 3, 2

Intercalada | Julieta – Sintra 8. NÃO poluir o mudo em que se VIVE. A vida é um BEM precioso a proteger. 2, 2

Encadeada | Fumega – Vila do Conde 4. LUTA -se muito às vezes pelo DINHEIRO de um familiar MORTO. 2, 2

Paragógica | Aleme – Braga 9. MERETRIZ descarada é bom que seja ASSOBIADA. 2, 3

Enigmograma | Aleme – Braga 5. GALINHA que cacareja cedo, anuncia o AMANHECER. 5(-1) 4

Protética | Onix I –Braga 10. A BELEZA, sem virtude, não deve cair em SORTE. 2, 3

Passatempo | MITOLOGIA GREGA E ROMANA | B

aby - Funchal

EM QUE SE TRANSFORMOU 1 – Os CERCOPES, gnomos maliciosos e malfeitores, filhos de Teia, que acabaram por irritar Zeus que os transformou em...?

2 – HARMONIA, foi casada com Cadmo, fundador de Tebas. Por sua morte, foram transformados em..., como recompensa da velhice atormentada que tiveram.

3 – LINCO, Rei da Cítia? Foi transformado por Deméter.

4 – PLÊIONE, filha de Oceano e de Tétis, uniu-se ao gigante Atlas e tornou-se mãe das sete Plêiades. Foi perseguida, durante 5 anos, por Orión.

SOLUÇÕES – JANEIRO 2020 PALAVRAS CRUZADAS 1- Gorar; Batas. 2- Operas; Lula. 3- Redimira; Um. 4Amurada; Ama. 5- Z; Tido; Ames. 6- Soba; Amen. 7- Dora; Elar; C. 8- Ola; Emerita. 9- Ri; Iridecas. 10- Idem; Ralaça.

11- Solão; Rasar.

CHARADAS 1- Capazes. 2- Rabelo. 3- Alimpiosa. 4- Liquidado. 5- Jolda.

6- Fanate. 7- Manobre. 8- Gordura. 9- Lutador. 10Robusto.

PASSATEMPO: Tonel Malavado Vinho Estragado

Prémio a enviar – 1.º Salva - Portalegre; 2.º Somar - Viana do Castelo. Prazo de resolução: 30 dias Soluções para: Alcino Serras - Largo do Espírito Santo, nº 25, 2200-709 Mouriscas - aldimas@sapo.pt

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MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

FOTOREPORTAGEM

Uma Região em Quarentena A região está despida de gente, de barulho, da azáfama tão habitual dos dias. A espaços avistam-se suspiros de vida. Mas nos dias que correm esta é uma região vazia.

Pode consultar a fotorreportagem completa e o vídeo associado na nossa página no Facebook

ABRANTES

ALCANENA

CHAMUSCA

CONSTÂNCIA

ENTRONCAMENTO

FERREIRA DO ZÊZERE

GAVIÃO

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MENSÁRIO •01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

GOLEGÃ

MAÇÃO

SARDOAL

TOMAR

TORRES NOVAS

TRAMAGAL

VILA DE REI

VILA NOVA DA BARQUINHA pág.

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MENSÁRIO • 01 DE ABRIL 2020 • ANO XXX • N.º 438

A MARGEM QUE NOS UNE

Porque salvamos os bancos?

“

É uma interrogação com que os portugueses se debatem desde a crise de 2008.

Ao mesmo tempo que se pedia um esforço enorme aos contribuintes, o Estado injectou quantias exorbitantes para salvar os bancos. Afinal, porquê?

Desde 2007 a 2019 foram injectados 24,65 mil milhões de euros directamente dos cofres do Estado para os bancos nacionais, dos quais apenas foram recuperados 5,4 mil milhões. Contas redondas, nos últimos doze anos os contribuintes portugueses deram 19,25 mil milhões para salvar os bancos. O que equivale a dizer que cada português contribuiu, em média, com cerca de 1925 euros para este propósito.

André Rodrigues, consultor da empresa Deloitte, explica que “de um ponto de vista teórico não há um único argumento irrefutável ou consensual que justifique a injecção de dinheiro público num banco em dificuldades”. Ainda assim, “há um conjunto significativo de argumentos que justificam a necessidade de manter, na maioria das vezes, esse banco em funcionamento”.

Pode parecer paradoxal mas o economista, natural do concelho de Alcanena, explica: “O sistema financeiro, nomeadamente o sistema bancário, assenta num pilar fundamental: a confiança. Confiança de milhões de aforradores que nele depositam as suas poupanças e confiança de investidores que através dele asseguram o normal financiamento das suas ideias e projectos”.

Um banco financia-se geralmente com recurso ao financiamento de outros bancos pelo que “todo e qualquer sintoma de fragilidade de um banco (ou de um sistema financeiro) pode a qualquer momento quebrar essa confiança e gerar um movimento tão inesperado quanto repentino e de elevada magnitude nos levantamentos de depósitos de clientes”.

André Rodrigues deixa claro que “nenhum banco tem a possibilidade de resistir a um fenómeno desse tipo”. Como os bancos se financiam com outros bancos “a falência de um banco tende a induzir dificuldades, ou mesmo risco de falência em vários bancos seus financiadores”, explica. “Existe, portanto, um risco sistémico associado à falência de um banco”. Assim se explica a necessidade

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de salvar os bancos e, consequentemente “proteger a estabilidade do sistema financeiro”, conclui. É uma intervenção “tão preventiva quanto essencial”, sublinha.

Ainda assim, outra questão se levanta: essa injecção de capitais tem de ser a partir de recursos públicos? A resposta é não. Mas no período posterior a 2007 “era, provavelmente a única solução plausível para assegurar essa estabilidade”. A crise do subprime, ligada à concessão excessiva de crédito, em 2008 gerou “colapso de diversos devedores, deixando vários milhares de milhões de activos geradores de perdas para os bancos”.

O crescimento de bancos sobredimensionados nos 20 anos anteriores deixou as autoridades responsáveis por assegurar a estabilização do sistema financeiro nos diversos países com um problema: a falência destes bancos iria gerar “o colapso de diversos bancos em vários países diferentes. E com essa falência havia um risco elevado de o impacto se transmitir de forma muito significativa à economia real”.

Assim, nada mais restou do que salvar estes bancos para, em última análise, salvar a economia. Um mal menor que foi assumido pelos vários Estados soberanos “perante a incapacidade de investidores privados assumirem essa responsabilidade”.

André Rodrigues relembra que como resultado desta experiência foram feitas alterações significativas na regulação do sistema bancário a nível mundial. Isso passou pela “criação de mecanismos que assegurem a minimização do risco de intervenção futura dos Estados em caso de falência de um banco”. Em Portugal existe desde 2012 o Fundo de Resolução, anualmente financiado por todos os bancos com a missão de prestar apoio financeiro às medidas de resolução de bancos que vierem a ser aplicadas pelo Banco de Portugal a bancos nacionais”. Apesar disso “quando o BES colapsou em Agosto de 2014 o Fundo de Resolução ainda era uma criança demasiado jovem e com pouco dinheiro nos bolsos”, lamenta.