Revista Guarulhos - Edição 89

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CAPA

Ser humano ideal? Apesar de se tratar de algo pouco comentado e até mesmo reparado, a maioria das pessoas retratadas em campanhas publicitárias é branca e com grande poder aquisitivo. Isso sem contar que nas campanhas em que há algum link com poder, na maioria dos casos, a pessoa é um homem. No entanto, deve-se levar em conta que a maior parte da população brasileira é composta por negros e pardos, segundo classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mesmo assim, o reflexo da população brasileira é pouco visto em campanhas publicitárias, estádios da Copa do Mundo e assim por diante. “Estes grupos gastam dinheiro com produtos, buscam nas marcas sua identificação, pseudorrespeito e precisam sentir-se inseridas em uma sociedade que é aficionada por pessoas que gastam dinheiro. As peças publicitárias no País, por exemplo, pouco abordam as minorias. A chamada inclusão continua reforçando diversos males e preconceitos que cultivamos desde quando este País foi descoberto”, comenta o jornalista Rafael Iwamoto Tosi, mestre em comunicação e semiótica, professor de jornalismo e de pós-graduação em comunicação e redes sociais digitais na Uninove (Universidade Nove de Julho). Além disso, há aquele princípio de que, para uma pessoa ser feliz, ela deve ter determinada bolsa ou um produto da moda, mesmo que nunca tenha serventia para ela. Mas é preciso “ter” para ser alguém digno de ser feliz? E será que dinheiro traz felicidade? “A mídia é um instrumento poderoso e cria a ideia de que uma mulher que usa uma bolsa da Louis Vuitton, por exemplo, é chique e tem status. Para alcançar a tão desejada felicidade, grupos de mulheres compram a bolsa. Afinal, é uma Louis Vuitton. No entanto, passamos os momentos mais felizes de nossas vidas sem sapatos, sem micro-ondas e, principalmente, sem roupas”, destaca Vânia. 22

E as crianças? Qual garota nunca quis ser igual à Barbie, por mais diferente que fosse da boneca? Ou qual garoto nunca se identificou com o menino popular em uma sala de aula, enquanto ria do personagem que sofria bullying por ser pobre ou não ter características do típico garoto popular? Pois é: a mídia tem papel importante na construção da felicidade no imaginário da criançada. E, caso a criança não corresponda ao padrão de beleza e social retratado na mídia, não são pequenas as chances de ela crescer frustrada e insatisfeita com quem ela é, como se estivesse fora do que a sociedade julga ser “certo”.

Felicidade online Receber diversos likes no Facebook e no Instagram é mesmo um sinal de popularidade? Será? Uma pesquisa feita pela Universidade Freie, na Alemanha, apontou que a área cerebral relacionada ao prazer é ativada quando uma pessoa usa redes sociais como o Facebook e, por consequência, recebem likes. Um dos objetivos das redes sociais é mostrar que a sua vida está boa. É verdade que o mundo online mostra que é possível fazer do mundo um lugar mais igualitário e que possibilidades além das conhecidas socialmente são possíveis, como igualdade interracial e que toda e qualquer forma de amor é válida. Mas, a felicidade é efêmera e passageira como a relevância de um post no Facebook. “Os relacionamentos na rede podem ser acessados ou interrompidos a qualquer momento. A felicidade ocorre da mesma maneira que todo o conteúdo na internet está disponível na era das bandas largas: de maneira instantânea”, ressalta Tosi. 


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