Revista Universus n° 7 | FACS - UniRitter | 2020

UNIVERSUS REVISTA DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL | UNIRITTER | N° 7 | JULHO DE 2020

entrelaçados

Carta ao Leitor F

alar sobre as mudanças no uso do celular nos últimos 30 anos é um desafio e tanto!

Há pouco mais de 20 anos, quando a tecno­ logia celular era uma novidade, era preciso entrar na fila para comprar (!) uma “linha”. E demorava. Quando finalmente a linha “cheg­ ava”, o novo proprietário do celular tinha em mãos a incrível possibilidade de pod­ er receber e fazer ligações de (quase) todos os lugares. E só. Nada além disso. Mas logo uma pequena revolução aconteceu: com a rede digital foi possível enviar e receber pe­ quenas mensagens de texto! Incrível, não?!

Mas vou parar essa história dos primórdi­ os dos celulares por aqui, senão vou começar parecer velho e saudosista. E isso definitiva­ mente não é uma verdade. Sou um entusia­ sta das novas tecnologias. Sempre busquei me atualizar e utilizar todos os recursos pos­ síveis para facilitar a vida e impulsionar a produtividade. E nossos celulares têm muito a falar sobre isso.

Hoje é possível realizar tantas coisas nesse pequeno aparelho, não é mesmo? Alguns têm capacidade de processamento superior a note­ books ou mesmo desktops, oferecendo uma gama de recursos e aplicativos capazes de faz­ er a nossa vida “acontecer” através deste pe­ queno aparelho. É possível trabalhar, estudar, ir ao banco, aprender ou desenvolver hobbies, assistir séries e filmes, ouvir música, buscar informação de variadas maneiras, estar em contato com amigos e familiares e até mesmo conhecer o amor da sua vida. São incontáveis as possibilidades!

O que é fato é que o avanço tecnológico dos celulares, em especial dos smartphones, transformou o mundo. E isso não é exagero algum. Os celulares se tornaram uma tecn­

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ologia acessível, possibilitando a inclusão digital de grande parte da população.

Nesta edição da revista Universus, com o tema Entrelaçados, nossos talentosos es­ tudantes exploraram temáticas relevantes sobre as transformações de nossa sociedade através do uso dos celulares. Em algumas re­ portagens foram explorados aspectos pos­ itivos destas mudanças sociais, mostrando usos que possibilitam a inclusão e a conexão entre as pessoas. Por outro lado, outras report­ agens mostram o uso nocivo da tecnologia, com aqueles que podem desenvolver compor­ tamentos pouco éticos e até mesmo patologias.

A leitura dos textos desta edição nos lembra que a humanidade é capaz de criar coisas in­ críveis e de se reinventar de formas extrema­ mente positivas. E todos nós pudemos viven­ ciar isto de forma intensa nesta pandemia, em que o afastamento social foi apenas um afasta­ mento físico, sem isolamento. A tecnologia, com louvor para os celulares e a internet, nos possibilitou estar juntos, conectados, apren­ dendo e se desenvolvendo.

Esta revista é mais uma concretização deste desenvolvimento, viabilizada com uso de tec­ nologias de comunicação que viabilizaram aulas remotas e trabalhos desenvolvidos à distância. É testemunha destes grandes feitos da humanidade. Desejamos que a leitura traga reflexões e ideias de como evitar os usos no­ civos das tecnologias e ajude a impulsionar o uso positivo do seu celular.

Nilson Varella Rübenich Gerente Acadêmico de Escola de Humanidades, Educação e Ciênciais Sociais Aplicadas da Laureate Sul.

Nesta edição: 4 6 8 10 11 12 14 15 16 18 19 20 22 23

Unidas pela dor (Des) conectados O raio X do vício virtual A realidade em Black Mirror A distância em um clique Localização e roteiro online Em redes desconhecidas Do físico para o virtual O Google Maps das calçadas Substituir o rádio, pode ou não podcast?

O uso de perfis fakes As (des) informações através do celular A traição por trás do match Rede de impunidade na palma da mão

Expediente EQUIPE DE REPORTAGEM: Aldrey Dorneles Barbosa, Alessandra Aparecida Castaman, Andressa Ternes Bandeira, Aroldo Medina, Camilla Swider Ferreira, Carlos Eduardo Netto Torres, Gabriel Fraga Grabalski, Gilberto Luiz Pinto Echauri Junior, Giulia de Mello Medeiros, Isabel Cristina Teixeira Dutra, Jonas Ramgrab, Ketelyn Louzada da Silva, Matheus Augusto Muller de Lima, Matheus Dias Lourenco, Robson Daniel Nunes Guedes, Thainah da Silva Mazin, Tyane Fabiane Leal Da Silveira PROJETO GRÁFICO: Prof. Francisco dos Santos

Acesse nosso conteúdo digital

ORIENTAÇÃO: Prof. Cid Martins

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Unidas pela dor Grupos de apoio conectam vítimas de violência doméstica em redes sociais Aldrey Dornelles

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anessa* acorda no apartamento no interior de São Paulo, liga o celular e vê atualizações em sua primeira publicação em um grupo no facebook direcionado para mulheres que sofrem relacionamentos abusivos. Ela, que viveu em uma relação assim por 26 anos, nunca antes havia compartilha­ do sua experiência, até sentir que precisava contar sua história para ajudar outras mulheres. Esses relatos se entrelaçam e criam uma grande rede de apoio disponível na palma da mão de Vanessa, ou melhor, no celular que carrega para todos os cantos.

A 1.135 quilômetros de distância, em Porto Alegre, Amanda* viveu algo pare­ cido quando tinha 16 anos. Os abusos psicológicos e até físicos só pararam depois que a jovem conseguiu pôr um fim na relação. Diferente de Vanessa, Amanda não conhecia os grupos de apoio para mulheres que vivem esse tipo de relacionamento. O que Vanessa e Amanda viveram é muito comum entre mulheres em todo o Brasil. Nos quatro primeiros meses deste ano, pouco mais de quatro vítimas foram ameaçadas por hora no RS e, a cada duas horas aprox­ imadamente, cinco sofreram lesões corporais. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado. No ano de 2019, 15.950 mulheres pediram medi­ das protetivas para tentarem manter seus agressores afastados.

A utilização de grupos em redes sociais para mulheres que vivem violência doméstica pode ajudá-las Foto: Aldrey Dornelles A imagem é apenas uma representação de violência

*Nomes das vítimas alterados para sua proteção 4

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Relato em um dos grupos. Reprodução Facebook

Em apenas quatro meses, no Estado, 36 mulheres já foram mortas por companhei­ ros e ex-companheiros. O gráfico anteri­ or mostra as tentativas de feminicídio não concluídas em 2019.

A esperança no auxílio A primeira vez que Vanessa apanhou foi aos 15 anos, acabou engravidando e a família impôs o casamento. O ex-companheiro, que não aceitava a situação, passou a praticar vi­ olência psicológica, mas ela conseguiu se afas­ tar e pedir medida protetiva. O que a mantém espe­rançosa, é poder retribuir o apoio com­ partilhando sua história com outras mulheres, para que possam sair das suas relações, assim como ela foi ajudada pelo grupo.

Grupos de apoio, como o que Vanessa utiliza para contar sua experiência de 20 anos, cri­ am uma rede de ajuda. “Esses grupos servem para dizer eu estou aqui, eu estou sofrendo, eu preciso de ajuda” contou. Para a psicóloga do 1° Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Porto Alegre, Ivete Vargas, estas ações são fundamentais na prevenção à violência e apoio às mulheres nessas situ­ ações. Já outra psicóloga, Mariana Boeckel, ressalta que eles ainda podem impulsionar e auxiliar as vítimas a efetuar denúncias.

A delegada de polícia Tatiana Bastos, res­ ponsável pela Delegacia da Mulher de Porto Alegre, classifica esses grupos como positivos “no sentido de motivar, de encorajar e de dar um suporte muitas vezes para mulheres que estão nessas situações”. Ela ainda reitera que as denúncias podem e devem ser feitas por ter­ ceiros. Membros da família, amigos e vizinhos que souberem ou desconfiarem de agressões podem fazer o registro de forma anônima pe­ los meios de comunicação das delegacias.

O Estatuto 11.340, sancionado em 2006, que recebeu o nome de Lei Maria da Penha, é a le­gislação brasileira que protege mulheres

contra qualquer tipo de violência, prevendo que o suspeito possa ser preso em fla­ grante ou tenha prisão preventiva decretada, o que não acontecia antes. Antes da Lei 13.104 de 2015, não existia nenhuma punição específica para feminicí­ dios. A­gora, foi estabelecida reclusão de 12 a 30 anos, com agravantes.

Ajuda além dos grupos Para a responsável pela Procuradoria Espe­ cial da Mulher da Câmara de Vereadores de Por­ to Alegre, Cláudia Araújo, que avalia e autoriza a emissão de medidas protetivas, os grupos em si podem ajudar as vítimas a expor o agressor, mas é necessário buscar ajuda legal. “Acredito que a maioria não tem muita noção do quanto pode­ mos ajudar pelo acesso direto à polícia”, afirmou.

Ainda existe a Patrulha Maria da Penha da Briga­ da Militar, que atua verificando o cumprimento de medidas protetivas e com encaminhamento para órgãos como a Defensoria Pública.

No RS, a patrulha da BM atende 27 municípios.

A responsável, major Karine Brum, explica que, caso não esteja sendo cumprida a medida, é tra­ balho da equipe encaminhar um relatório para o juiz descrevendo o acontecido. “Aí o juiz pode, in­ clusive, expedir um mandado de prisão para ele por descumprimento da medida protetiva, que agora é um crime” explicou. ҉

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De Janeiro a Abril em 2020 6.208 vítimas foram cadastradas na Patrulha Maria da Penha Foto: Aldrey Dornelles A imagem é apenas uma reapresentação de violência

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(Des) conectados Uso compulsivo do celular preocupa especialistas.

Crédito: Jan Vasek / Pixabay / Arte Camilla Swider

Os perigos da ilusão virtual

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ada vez mais o celular está se tornan­ do protagonista na vida humana. Desde a chegada ao Brasil, há 30 anos, o aparelho passou por diversas transições: do “tijolão” à mo­derna “touchscreen”. Ele está presente em todas as ocasiões, como nas reuniões de família, nas tarefas do dia a dia e até mesmo nos minutos que antecedem o sono. No entan­ to, o uso inadequado preocupa especialistas e está afetando não só os relacionamentos, mas também a saúde de adultos e crianças.

No Brasil, segundo o relatório In Digital 2020 da We Are Social e da Hootsuite, 150 milhões de pes­ soas ficam em média quatro horas e 41 minutos conectadas por meio de dispositivos móveis. Para

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Camilla Swider Jonas Ramgrab

a socióloga Glacira Silveira, isso tudo ocasionou um isolamento humano, onde não há mais cole­ tividade. Para ela, o que é útil precisa ter limites: “Tudo tem a sua hora e seu momento”.

O uso compulsivo do aparelho afasta os in­ divíduos das atividades profissionais e afeta o âmbito familiar. Os relacionamentos estão distantes e com menos confiança, segundo a psicóloga Amanda Borges. Além disso, ela men­ ciona ansiedade, pressão e uma comparação social. “Estamos vendo viagens, refeições, relacio­ namentos e vidas perfeitas, onde muitas pessoas acabam se colocando na inferioridade, mas é cla­ ro que a vida real não é isso”.

Exemplos nem sempre são positivos Nas famílias, os pais podem se tornar “in­ visíveis” porque todos se tornam reféns de uma tecnologia que pode ser muito perigosa quando utilizada de forma indevida. A pesquisa realizada pelo Panorama Mobile Time/Opinion Box apon­ ta que 60% das crianças, entre quatro e seis anos, utilizam o celular dos pais e que 50%, entre sete e nove anos, já têm um smartphone. Mais de 90% já pediram o telefone como presente.

Tempo que as crianças cam no celular por dia

Para as idades entre dois e cinco anos, é preci­ so limitar o tempo de uma hora por dia e com supervisão. Para crianças de seis a dez anos, recomenda-se permitir o acesso por um perío­ do de até duas horas. Já para os adolescentes de onze a dezessete anos, a SBP orienta res­ tringir o uso para até três horas e não permitir “virar a noite”. O psicólogo Vitor Portto diz que muitos pais preferem ceder o celular para os filhos com o objetivo de que não chorem ou até mesmo porque não querem brincar ou dar a devida atenção: “O que é mais fácil”, admite. ҉

Principais fatores de risco no contexto familiar de crianças e adolescentes na Era Digital.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria

Fonte: Panorama Mobile Time / Opinion Box

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta sobre o uso indevido: problemas men­ tais, visuais e auditivos, transtornos de sono, hiperatividade, dependência digital e com­ portamentos de indução. A cartilha explica que a presença dos pais é a fonte natural dos estímulos e que o uso compulsivo do telefone prejudica o desenvolvimento da personali­ dade. O pediatra José Paulo Ferreira diz que é necessário trabalhar a frustração ao interagir com o mundo a sua volta. O contato apenas com o celular não prepara para os desafios: “A criança tem uma vida baseada em fantasia”.

A SBP recomenda que crianças menores de dois anos não sejam expostas ao celular.

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O raio X do vício virtual Tempo excessivo nos smartphones causa mudanças físicas nos usuários

Matheus Dias Lourenço

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ilhões de brasileiros vivem entrelaçados no mundo digital através dos smartphones.

Para poder usá-los de uma maneira mais con­ fortável, muitos apoiam diariamente seu apare­ lho com o mindinho. Passado certo tempo, as pessoas sentem um desconforto e reparam que um buraco aparece no “dedinho”, como é chama­ do popularmente. Mais uma das consequências do vício virtual, que chegou a ser tratada como fake news há cerca de cinco anos.

O médico Rafael Berenstein acredita que o avanço tecnológico é um grande influenciador em alguns tipos de problemas físicos apresenta­ dos pelo ser humano: “os smartphones mais

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modernos trouxeram um aumento de lesões pelo tempo de uso”. A estudante de Porto Alegre, Mary­ ane Lima, de 21 anos, disse já ter reparado a de­ formidade no mindinho há algum tempo e que às vezes sente dor. “Eu notei que meu dedo doía por ficar com o celular na mão”.

Assim como Maryane, a também portoale­ grense e técnica em nutrição, Ana Paula Rodri­ gues, de 29 anos, percebeu o defeito no “dedinho” de uma das mãos. Ela, que usa smartphone há oito anos, também sente dores em determinados momentos. Ana trabalha diretamente com o apa­ relho e disse que nunca calculou o tempo de uso, garantindo que são horas a fio.

Patologicamente é possível que o dedo min­ dinho tenha um buraco com o uso excessivo do smartphone, afirmou Berenstein. Ainda que o caso do dedo mínimo não seja frequente, o médi­ co reforçou o fato de que os adolescentes estão mais expostos a estes problemas. Berenstein dis­ se que os problemas no mindinho não são graves devido à pouca funcionalidade, mas há também vários casos de alterações na articulação do pole­ gar. As partes do corpo mais afetadas, conforme a demanda de seus pacientes, são a coluna cervical e todo o membro superior. “São comuns quadros de tendinites diversas”.

Entrelaçado ao vício Segundo dados de 2018 da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil contabilizou 220 milhões de celulares, o que ultrapassa o número total da estimativa populacional de 207,6 milhões. Deste número total, 70% da população possuía acesso à internet, ficando quase dez horas por dia conec­ tada a algum dispositivo móvel. Os números de 2018 são de um estudo da Hootsuite e We Are So­ cial, como indicado no gráfico abaixo.

Quando se trata da possibilidade de se distan­ ciar do aparelho, os números também chocam.

O IBOPE Conecta, unidade de pesquisas online criada em 2011 no Brasil, publicou, em 2019, que mais da metade dos entrevistados não consegue ficar um dia inteiro sem seu smartphone. Entre os que conseguem ficar sem o telefone, apenas 7% aguentam até 12 horas, enquanto 8% dizem suportar só uma hora.

Prevenção O estudante da capital, João Pedro Rodrigues, de 14 anos, usa o celular de dez a 11 horas por dia e só desconecta para recarregar a bateria. Quando sente dores no seu dedo mindinho, já deformado por conta do uso excessivo, disse que é obrigado a desligar. Assim como ele, Maryane disse que nunca chegou a procurar por tratamento porque o problema não é constante e sempre troca o telefone de posição não mão quando sente dor.

O médico Berenstein disse que o defeito no dedo mínimo não leva a problemas físicos maiores, mas destacou a prevenção. “O principal trata­ mento é interromper o vício por um período, as­ sociado ao uso de anti-inflamatório e gelo”.

Além dos problemas físicos, o uso em exces­ so do telefone prejudica a saúde mental. “Ficar muitas horas sem o aparelho ajuda demais a se manter menos ansioso”, disse a psicóloga Iri­ mara Gomes. O uso descontrolado pode causar qua­dros de ansiedade, depressão e transtorno de pânico. Entretanto, ela informou que estas pat­ ologias estão relacionadas à predisposição das pessoas, variando conforme o estilo de vida. Para manter uma saúde mental saudável, Irimara in­ dica acessar as redes sociais apenas duas vezes por dia e por meia hora. Em caso de trabalho, ela recomendou disciplina. ҉

O boato de que nosso dedo mínimo, quando usado para apoiar o celular tem um buraco, surgiu em 2015 e, no início, sites destacavam se tratanr de uma fake news.

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A realidade em Black Mirror Ficção sai do cinema e se torna realidade na vida de milhares de pessoas Aroldo Medina

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smartphone tornou-se uma extensão do cor­ po humano. Estar conectado na internet tem equivalência a uma necessidade primária. Séries de ficção científica têm antecipado comporta­ mentos das pessoas que a psicologia já identifica como reais em nosso cotidiano. É tão impres­ cindível viver conectado, que isso passa a ser uma rotina das pessoas. E esse comportamento estimula produtores de filmes a anteciparem pos­ síveis cenários futuros onde os seres humanos vivem interligados virtualmente.

Em busca das estrelas

Como exemplo dessa combinação de fatores, a reportagem mostra Nosedive (Queda Livre), que é o primeiro episódio da terceira temporada da série de ficção científica Black Mirror. A produção da televisão britânica foi criada por Charlie Brook­ er. Neste episódio, Lacie Pound, personagem in­ terpretada pela atriz Bryce Dallas Howard, vive num mundo onde as pessoas têm o costume de se avaliar o tempo todo através de um aplica­ tivo no celular, dando uma nota de uma a cinco estrelas. O sistema de avaliação é semelhante ao usado em viagem de transporte por app ou número de curtidas em aplicativos.

Lacie é obcecada em ser bem avaliada. Inicia o episódio com nota 4.2 e depois entra em queda livre causada pelo próprio descontrole emocio­ nal. Pesquisas mostram que muitos temas nesta série representam um presente alternativo ou um futuro próximo.

Espelho da realidade

A psicanalista e escritora paulistana Sílvia Marques, doutora em comunicação e semiótica,

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pensa como o criador da série: “Muitas pessoas acham que Black Mirror é uma série de ficção científica, uma série futurista. Não é. É sobre o nosso mais banal presente. Vaidade, ostentação, narcisismo. Tudo fica potencializado e mais in­ tenso nas redes sociais”. O professor da Universi­ dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leandro Vieira, concorda com Sílvia: “Você se identifica com a série em muitos momentos e, pensa: puxa, eu faço isso”.

Sílvia e Vieira ainda mencionam o conceito de vida líquida, ou seja, vida de caráter efêmero. A concepção foi proposta pelo filósofo polonês Zyg­ munt Bauman. A youtuber Thais Lima, com 24 mil inscritos em seu canal, também o cita e expli­ ca que modernidade líquida é uma vida precária, incerta e com uma sucessão de reinícios.

O professor Vieira destaca a vida líquida de Lacie ao dizer que a personagem vive despre­ ocupada com relacionamentos verdadeiros. Seu interesse é ligado a situações virtuais para gerar uma boa avaliação. Sílvia também alerta que a série é sobre o pior do ser humano ao destacar crueldades cometidas por meio da tecnologia associada às redes sociais. A psicanalista lembra que a vida de Lacie é obter likes e traça um pa­ ralelo com comportamentos humanos artificiais de hoje, onde você posta uma foto nas redes soci­ ais só para ganhar curtidas. Já o professor James Zortea, do curso de Jornalismo da Unisinos, ob­ serva que a série é um espelho da sociedade que valoriza a velocidade e a técnica. “As tecnologias costumam avançar rapidamente, então é im­ perativo criar regras pensando em estruturas capazes de lidar com as consequências dos avanços tecnológicos”. ҉

Distantes. A tecnologia une pai e filho Crédito: Vinicius Petry/Divulgação

A distância em um clique Das cartas para as chamadas de vídeo, a tecnologia que aproxima Isabel Dutra

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lguns muitos quilômetros de distância po­ dem separar pais de filhos, avós de netos, além de irmãos e amigos. Para quem fica, resta o anseio por notícias daquele que está ausente.

Manter o contato quando se está afastado de pes­ soas próximas é crucial para amenizar a saudade.

Por gerações, o ser humano sente a necessidade de se comunicar e a evolução tecnológica tem oportunizado ferramentas para isso.

Se antigamente eram as cartas que supri­ am essa necessidade, passando pelo telefone e outros meios, agora há as chamadas de vídeo.

E tudo por meio de um smartphone. A comu­ nicação acrescida de imagens pode fazer com que a distância geográfica desapareça, evitan­ do outros sentimentos como, por exemplo, an­ gústia e depressão.

Chamadas de vídeo

As chamadas de vídeo, redes sociais e os muitos aplicativos de mensagem instantânea facilitam a comunicação moderna e trazem para perto quem está longe. Vinícius Petry, de 31 anos, é um porto-alegrense que está há nove meses em viagem pelos Estados Uni­ dos. Ele usa a tecnologia para amenizar a sau­ dade do filho de apenas três anos. “A gente se sente sozi­nho, mas graças a Deus hoje temos as chamadas de vídeo e o WhatsApp que nos ajudam a contornar a situação”. Durante as li­ gações com imagens, uma das estratégias é não deixar de lado as brincadeiras. Além do es­ conde-esconde, até mesmo tiro ao alvo é feito por meio de um smartphone.

Emoções

Segundo a psicóloga Vanessa Pires, o distan­ ciamento gera o sentimento de preocupação e deve ser enfrentado com o contato frequente.

Ela destaca que os sentimentos mais fre­ quentes são saudade, sensação de frustração, medo, ansiedade e depressão. Hoje, a evolução tecnológica possibilita o uso de várias ferra­ mentas para aproximar as pessoas. E tudo está a um clique, como as chamadas de vídeo.

Mesmo assim é importante refletir o motivo da distância e valorizar os momentos de convívio.

Mas Vanessa diz que tudo na vida tem um outro lado e o mesmo ocorre em relação ao excesso de tempo conectado. Para ela, a tec­ nologia que une também pode afastar. Então, recomenda que as pessoas precisam reco­ nhecer o problema e criar regras para moderar o uso do smartphone. ҉

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Dicas da Psicóloga Vanessa Pires Crédito: Isabel Dutra

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Localização e roteiro online Aplicativo Cittamobi auxilia usuários de ônibus em Porto Alegre durante a pandemia Gilberto Echauri Júnior e Gabriel Fraga

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mpactados pela pandemia da covid-19 e pela redução da frota de ônibus, os usuários deste serviço em Porto Alegre estão tendo que pas­ sar mais tempo nas paradas. Quem não pode chamar táxi ou transporte por aplicativo fica exposto ao risco de ser assaltado ou acaba se atrasando para realizar as tarefas do dia. No entanto, a vulnerabilidade dos passageiros nessas situações pode ser minimizada por apps de mobilidade. É o caso do Cittamobi.

A plataforma firmou parceria com a Empre­ sa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e companhias de coletivos para permitir que o passageiro acompanhe em tempo real a movimentação dos veículos, sugerindo linhas e rotas com base na localização da pessoa. O

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aplicativo foi lançado em 2014 e está presente em mais de 200 cidades brasileiras de 13 esta­ dos. De acordo com a EPTC, do surgimento na capital, em agosto de 2019, até abril de 2020, o Cittamobi já foi baixado 241.523 vezes em smartphones. O primeiro mês registrou mais de 83 mil downloads. Apesar dos números es­ tarem reduzindo, o gerente de Inovação e Tec­ nologia do órgão público, Augusto Langer, con­ sidera a plataforma um sucesso. “Os usuários conseguem verificar em qual horário o ônibus vai passar no ponto. Isso é qualidade de vida, segurança, planejamento”. Ele diz que o GPS instalado no coletivo manda dados de loca­ lização a cada 30 segundos para uma central e depois são mais dois segundos até o usuário.

A velocidade do processo é importante para o especialista em Tecnologia da Informação Matheus Geremia. Ele compara o Cittamobi a outros aplicativos semelhantes. “Em outros apps que usam GPS, você também consegue acompanhar a localização, mas há um atraso que às vezes é bem grande”.

Risco nas paradas Apesar dos roubos a pedestres terem caído em abril, em Porto Alegre, em relação a feve­ reiro, antes da pandemia, a sensação de inse­ gurança ainda é grande. Os dados do governo gaúcho mostram que passaram de 2.183 casos para 1.100. A estudante de relações internacio­ nais Eren Vargas, de 19 anos, conta que enfren­ tava alguns problemas com o Cittamobi, mas o menor movimento nas ruas fez com que vol­ tasse a utilizar o app. “Eu usava mais a função que mostra onde o coletivo está porque era mais preciso, só que às vezes passava um ôni­ bus e ele não aparecia no mapa”. Já o program­ ador Thiago Lima, de 27 anos, não enfrenta dificuldades com a plataforma e diz que a dife­ rença de horário é de no máximo um minuto.

Abrangência e reclamações No Estado, além de Porto Alegre, o Cittamo­ bi opera em Pelotas, Rio Grande e Veranópolis.

Apesar de elogiar a tecnologia, o doutor em transportes urbanos e ex-professor da Univer­ sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Fortini Albano, é contrário à presença em cidades pequenas, como Veranópolis. “E eu não vejo sentido porque a vida é mais tranquila e as pessoas já sabem de cor o horário do ônibus”.

Algumas críticas ao Cittamobi também partem do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre. O vice-presidente da entidade, Sandro Abádde, conta que é comum ouvir relatos de passageiros reclamando que algumas linhas que não constam no sistema. “E também do atraso”. Através de seu site, o Cittamobi infor­ ma que “falhas técnicas como intercorrências em servidores podem ocorrer e interferir na qualidade da informação” e que “algumas ci­ dades possuem mais de uma empresa ope­ rando o transporte público e pode ser que a parceria não cubra todas elas”. Mesmo assim, a prefeitura da capital garante que 100% da frota de ônibus da cidade consta no sistema do app e que vai lançar adaptações para reduzir atrasos. ҉

Gráfico que mostra o número de novos usuários do Cittamobi em cada mês desde agosto de 2019 até abril de 2020.

Fonte: EPTC

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Em redes desconhecidas Os perigos dos jogos e desafios mortais na palma da mão de crianças e jovens

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s plataformas e aplicativos para a publi­ cação de vídeos mostram jovens desafi­ ando uns aos outros, colocando suas vidas em risco. Conforme a psicóloga especialista em infância Elisiane Padoin, os jogos e desafios provocam a agitação cerebral, ansiedade e ir­ ritabilidade. O Instituto DimiCuida, entidade do Ceará, fez um levantamento sobre 20 jovens brasileiros que morreram nos últimos cinco anos em desafios na internet. A entidade, cri­ ada após um adolescente de 16 anos perder a vida praticando o jogo do desmaio, conseguiu retirar da internet cerca de 25 vídeos deste tipo.

Desde 2014, o uso dos smartphones ultrapas­ sou o uso de computadores. A pesquisa do Comi­ tê Gestor da Internet no Brasil também ouviu, en­ tre outubro de 2018 e março de 2019, 3 mil famílias brasileiras com filhos entre 8 e 17 anos a respeito de seus hábitos na internet. Os dados apontaram que 16% das crianças entrevistadas disseram ter visto formas de machucar a si mesmas e 14% ti­ veram contato com conteúdo que mostrava como cometer suicídio. O servidor público do Paraná, Ronaldo de Lara, de 49 anos, conseguiu evitar que algo de ruim acontecesse ao descobrir que seu fi­ lho de 8 anos jogava escondido o chamado “Free Fire”. Devido ao conteúdo violento, só é permitido em alguns países e mesmo assim para maiores de 18 anos. O objetivo é sobreviver após matar to­ dos adversários. A psicóloga Elisiane alerta: “mui­ tos dos acessos são com idades inapropriadas e sem limitação de horários, pois os longos períodos podem resultar, no mínimo, em problemas como dores de cabeça e nos olhos, provo­ cando o desinteresse por outras atividades”.

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Giulia Mello

A importância dos responsáveis no mundo paralelo

Para o delegado da Polícia Civil Emerson Wendt, o importante é, caso um pai decida por repassar um smartphone com internet para uma criança ou adolescente, que algumas re­ gras devem ser estabelecidas e algumas me­ didas tomadas, tais como, a possibilidade de instalar um sistema ou programa de controle, sejam de horários ou de conteúdo. “O impor­ tante é a conversa e o quanto antes”.

O paranaense Lara diz que começou a jo­gar com o filho ao invés de só proibir ou castigar.

“Mesmo assim, usei um aplicativo de monito­ ramento de atividade no celular dele e no meu notebook, que ele também usa”, ressalta.

Legislação

Wendt conta que os desafios fazem parte do contexto diário da internet porque foram im­ portados do mundo físico. “Os chamados jogos mortais não só são um perigo para crianças e a­do­lescentes, como testam o conhecimento e propagam o desafio em participar”. No Brasil, em razão dos casos do jogo Baleia Azul - de­ safio disputado pelas redes sociais que propõe atos macabros aos adolescentes, como bater fotos assistindo a filmes de terror, automuti­ lar-se, ficar doente e, na etapa final, cometer suicídio - foi criada uma lei que criminaliza a indução e instigação à automutilação. Para a psicóloga Elisiane, o diálogo é sempre a melhor forma para tratar qualquer assunto polêmico e gerador de conflito. “Além disso, as crianças e os jovens buscam nos jogos uma forma de ocu­ par vazios muitas vezes pela falta da família e por falta de regras concretas”. ҉

Do físico para o virtual O e-commerce a um clique de distância

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tualmente, quase todo tipo de informação está na palma da mão. Jornais que antes eram apenas impressos, agora estão em formato digital. E essa mesma transição do físico para o digital ocorre nas relações comerciais. Se antes era necessário ir até um estabelecimento para fazer uma compra, as lojas virtuais já dispensam isso porque o chamado e-commerce está apenas a um clique de distância. Se em um passado re­ cente os acessos ocorriam apenas por computa­ dores, os consumidores já podem comprar usan­ do o próprio smartphone.

Segundo a Associação Brasileira de Comér­ cio eletrônico (ABComm), em 2023, o setor deve atingir a marca de 130 bilhões em faturamento e mais de 100 milhões de e-consumidores (con­ sumidores virtuais). O Rio Grande do Sul, por sua vez, está inserido nisso. Conforme dados do Com­ pre&Confie, empresa de inteligência ligada a este tipo de atividade, o Estado é responsável por 14,1% das vendas do comércio eletrônico.

Lojas físicas

O modo offline tradicional teve baixa de 3%, conforme relatório da Seed Digital, empresa de análise de dados do varejo. Já a Junta Comercial Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (Ju­ cisRS), mostra que no ano passado mais de 71 mil empresas fecharam as portas. Só nos três primei­ ros meses de 2020, foram 17.178 empresas ex­ tintas. Houve também o encerramento de 4.447 filiais. No primeiro trimestre de 2020, 967 delas

Andressa Ternes fecharam, número maior do que o mesmo perío­ do do ano passado, com 800 filiais encerradas.

Do físico para o online

Em 2019, o e-commerce no Brasil faturou R$ 75,1 bilhões, alta de 22,7% em relação ao ano anterior.

Para a ABComm, a estimativa de 2020 é de movi­ mentar R$ 106 bilhões, 18% a mais do que no ano passado. Em Porto Alegre, o comércio eletrônico registrou ganho de R$ 793,7 milhões em 2018, se­ gundo dados da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. Um estudo do perfil do e-commerce no País, realizado pelo PayPal, mostra que as ven­ das aumentaram em torno de 40% até 2019. São 930 mil empresas no mundo virtual.

Uma delas é o comércio de carnes e de assa­ dos Butcher 2.3.1. A proprietária Juliane Oliveira, de 32 anos, diz que, depois de dois anos atuando como loja física, a empresa decidiu migrar para o digital. “O principal da mudança foram os custos de uma loja física, onde passaram a ser inviáveis”, relata. Para o comércio impulsionar as vendas, ela explica que investe no site e nas redes sociais, além de usar o WhatsApp. E do virtual para o físico, 6.762 filiais de em­ presas abriram as portas em 2019. O economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Ale­ gre (CDL), Oscar Frank, diz que solução para esta questão seria buscar uma espécie de integração entre os dois meios.

Em tempos de pandemia

Em época de distanciamento social, as em­ presas tiveram que se adaptar com o trabalho re­ moto, principalmente com as telentregas solici­ tadas via internet. Com as lojas físicas fechadas, o e-commerce no Brasil registrou alta de 180% na demanda em determinados setores. ҉

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Equipe Kronos e o projeto Kmobi Créditos: Equipe Kronos/ Divulgação

O Google Maps das calçadas Aplicativo Kmobi foi planejado por estudantes de Gravataí para pessoas com deficiência

Thainah Mazin

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eis estudantes do ensino médio de uma es­ cola em Gravataí, na Região Metropolitana, planejaram o Kmobi, um aplicativo com tecnolo­ gia para dar assistência a pessoas com deficiên­ cia visual e mobilidade reduzida. O projeto surgiu em um torneio de robótica como resposta ao de­ safio de encontrar uma solução para demandas sociais das cidades do futuro. Ainda em processo de desenvolvimento e com o lançamento adia­ do, devido à pandemia causada pela covid-19, ele

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mapeará as calçadas do município.

A equipe, formada há cerca de um ano, refle­ tiu sobre a autonomia da mobilidade urbana de pessoas com deficiência visual. Os alunos perce­ beram que a primeira ação para o futuro é tornar possível no presente a circulação de todos os ci­ dadãos pelas cidades. Para estes jovens, de nada adiantaria que carros flutuassem sem rodas, se hoje nem todas as pessoas conseguem transitar de forma adequada pelas vias públicas.

Mapa da Deficiência Visual ou Falta de Visão no Mundo Créditos: Thainah Mazin Fonte: Conselho Brasileiro de Oftalmologia

Kmobi O Kmobi estará disponível nos smartphones e indicará a situação das ruas em todo o per­ curso de forma semelhante ao que faz o “Goo­ gle Maps”. A comparação foi feita por Kailane Rodrigues, uma das integrantes do grupo que idealizou o projeto pela Escola SESI Albino Marques Gomes. A chamada equipe Kronos elaborou a tecnologia assistiva para garantir o acesso em vias públicas, mas também em edifícios públicos e no transporte coletivo, exa­ tamente como prevê o artigo 244 da Constitui­ ção Brasileira. Mesmo ao saber que o Kmobi se propõe a traçar rotas acessíveis, o assessor jurídico do Ministério Público Estadual (MP), Moisés Bauer, de 41 anos, que é cego há 33 anos, diz que a autonomia urbana passa por calçadas 100% transitáveis.

A presidente da Associação de Pessoas com Deficiência Visual e Amigos de Gravataí (ADVA), Patrícia Lisboa, de 37 anos, sem enxer­ gar desde os 2 anos, acredita ser importante qualquer tipo de apoio aos cegos. “É muito difícil entender isso na vida real, pois, quando batem em algo, não querem mais ir para rua porque dói”. O objetivo dela é auxiliar no pro­ tagonismo que as pessoas com deficiência também devem ter em suas vidas. A estudante

Kailane destaca que o Kmobi pode ajudar nisso por ter um banco de dados compartilhado para todos abastecerem com informações.

Com esperança por obter resultados posi­ tivos, Patrícia, da ADVA, classifica como “um trabalho difícil” o de conscientizar e mobilizar quem não precisa do aplicativo. Já o assessor Bauer considera que é possível pensar neste tipo de tecnologia associada a uma política pú­ blica com o objetivo de alimentar o banco de dados. Segundo a professora de matemática e integrante técnica da equipe Kronos, Guio­ mar Souza, uma das metas é buscar parcerias no meio público e privado para tornar viável a ampliação do aplicativo.

Durante a pandemia O Kmobi já passou por alguns testes de como fará a descrição de cada situação nas calça­ das, mas ainda precisa realizar em tempo real.

Devido às medidas de proteção contra o novo coronavírus, as aulas estão sendo ministradas remotamente, o que influencia na conclusão do aplicativo. Guiomar evidencia que não há como estimar a previsão de lançamento, mas acredita que a ideia é implementar ainda neste ano. ҉

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Substituir o rádio, pode ou não podcast?

Apenas um terço dos internautas conhecem essa nova mídia Matheus Muller

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euses Americanos é uma obra literária escrita pelo autor Neil Gaiman e que apre­ senta para o leitor o embate entre a velha e a nova mídia. Atualmente, alguns especialistas apontam que essa disputa é representada en­ tre o rádio e a nova plataforma de áudio online, o podcast. Já outros questionam se essa com­ petição realmente existe. Um indicativo base para medir esta possível concorrência pode ser uma pesquisa de 2019 que mostra o podcast como conhecido por apenas um terço da po­pu­ lação brasileira. O certo é que as duas formas têm facilidade de acesso nos dias atuais com o uso cada vez mais frequente dos smartphones.

Há mais de cinco décadas, o diretor do setor de tecnologia da faculdade de Toronto, no Canadá, Marshall McLuhan, publicou seu primeiro livro: A Galáxia de Gutenberg. Para ele, o ser humano passaria por mudanças no modo de viver a partir da tecnologia com conceitos como “o meio é a mensagem” e “um meio de co­ municação não sub­ stitui e nem exclui o outro, mas agrega ao todo”. O jorna­ lista e professor da Pontifícia Universi­ dade Católica do Rio Grande do Sul (PUC­ RS), Tércio Saccol, diz que o podcast é um produto elabora­ do para audição as­ síncrona, ou seja, é atemporal, tendo um sentido completo e

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indiferente do mês ou ano em que é ouvido.

Diferente do rádio como estamos acostuma­ dos, que envolve o momento atual. Logo, com o celular em mãos e um pacote de dados, seria possível buscar em formato de áudio o conteú­ do que se quisesse ouvir. O podcast apareceu em 2004 nos Estados Unidos. Mesmo hoje, o meio não é o mais popular, mas vem conquis­ tando espaço. Segundo a pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% dos internautas ouvem podcast, 30% não escutam e outros 30% nem sabem o que é.

Espaço para todos

Se existe alguma rivalidade, essa se dá por questões financeiras e de público. Para o ge­ rente comercial da Agência de Podcast, Pedro Zimmer, o maior destaque foi a liberdade desta plataforma em relação ao conteúdo. Ele expli­ ca que o cliente pede por um produto e a agên­ cia escolhida é responsável pela elaboração e execução do projeto. Zimmer dá o exempldo do “Podvet”, em parceria com a Premier Pet, criado com foco na saúde mental de veterinários.

A PodPesquisa, pesquisa feita pela Associação Brasileira de Podcasters (ABPOD), estima que ape­ nas 23% dos ouvintes não comprariam ou não relataram se comprariam produtos divulga­ dos no meio. Zimmer afirma que o local é bom para a fidelização de clientes. Os especialistas entrevistados pela reportagem afirmam que não é possível prever se no futuro um meio substituirá o outro, mas concordam que os meios com áudio têm espaço. Talvez McLuhan esteja certo ao dizer que os meios se complementam. ҉

O uso de perfis fakes Contas falsas são criadas nas redes sociais para ocultar a identidade dos usuários Ketelyn Louzada da Silva Um perfil fake é um uma conta criada em al­ guma rede social para alimentar um persona­ gem fictício, muitas vezes com a identidade de outra pessoa. Por trás disso, o usuário oculto busca desta forma um posicionamento social por ter problemas em lidar com críticas ou jul­ gamentos. Além de viver virtualmente em um mundo totalmente diferente da sua realidade, muitos responsáveis por estes perfis falsos podem ter vários tipos de problemas psicológi­ cos. Estas questões têm se potencializado nos últimos anos devido à facilidade de acesso à internet, principalmente pelo uso em demasia dos smartphones.

Bárbara Rodrigues, de 24 anos, de São Paulo, informa ter a conta há mais de sete anos e que prefere usar o perfil fake. “Assim, ninguém do meu convívio social poderia me encontrar. Eu posso postar o que quiser sem me preocupar com o que alguém vai achar”.

Uma adolescente de Portugal, de 17 anos, possui sua conta há quase dois anos. Assim como outras jovens, não terá o nome divulga­ do conforme o Estatuto da Criança e do Ado­ lescente (ECA). “Criei para poder me expressar melhor e ninguém me conhece. Na minha vida, eu acabo lidando com as pessoas que seguem minha conta normal e isso acaba influencian­ do nas minhas opiniões porque tenho receio de me julgarem”.

Para especialistas, o usuário normal sempre corre o risco de ser julgado por alguma opinião em sua timeline, mas em relação aos fakes, estas acusações podem até ocorrer, mas mui­ tas vezes provocadas intencionalmente pelo autor da postagem. Enquanto as duas jovens

cria­ram os perfis apenas em busca de um posi­ cionamento social, outros usuários fazem isso para enganar ou prejudicar as demais pessoas.

O fake que prejudica

No mundo virtual, ter contas com dupla per­ sonalidade nem sempre faz bem à saúde. Este conceito faz parte da Terapia Cognitivo Com­ portamental (TCC), um sistema de psicoterapia criado nos Estados Unidos que leva em conta a hipótese de vulnerabilidade cognitiva como um modelo de transtorno emocional. O estudo mostra que os perfis falsos podem desenvolver problemas psicológicos relativos à persona­ lidade da pessoa e ainda crises de ansiedade.

Em muitos casos, o internauta é pressionado a desativar alguma rede social. E foi o que acon­ teceu com outra adolescente, de 17 anos, mora­ dora de Teresópolis, no Rio de Janeiro. “Desati­ var a conta foi uma recomendação porque eu começaria um tratamento e ficava tanto tem­ po, que acabava deixando de sair ou estudar”.

Psicólogos que utilizam a TCC têm notado vários distúrbios e dependências nos criadores de contas falsas. Essa atitude está causando um conflito de identidade, precisando inclu­ sive de ajuda para se desligar da vida paralela.

A psicóloga Vaniese Langhinrichs explica que existem diferenças entre o comportamento de uma criança e o de um adulto. Segundo ela, o que uma pessoa já formada pode conseguir in­ terpretar mais naturalmente, meninos e meni­ nas podem ter sua identidade afetada. “Sobre um adulto, a gente precisa entender o que ele está querendo com esse tipo de funcionamen­ to e o que está por trás disso, dessa atitude”. ҉

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As (des) informações através do celular

O fácil acesso a novas tecnologias traz também o risco das fake news e das deep fake

Tyane Leal

U Arte: Roger Monteiro

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ma preocupação que segue ocorrendo durante a pandemia causada pelo coro­ navírus pode ser ainda maior com a aproxi­ mação das eleições municipais no Brasil.

Mesmo que novas datas ainda estejam sendo discutidas devido ao distanciamento social, o

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alerta é em relação aos riscos e perigos com as fake news e as deep fake, que são vídeos fal­ sos. A rapidez em que se disseminam pela in­ ternet e a facilidade de acesso pelos celulares preocupam não só pré-candidatos a prefeitos e vereadores, mas os eleitores e a Justiça. Até porque a sensação de impunidade perante à lei é outra situação que pode agravar ainda mais estas práticas.

As fake news são conteúdos produzidos para disseminar mentiras sobre aconteci­ mentos com intuito de manipular e influ­ enciar a opinião pública. E deep fake é a tecnologia que usa inteligência artificial para criar vídeos falsos. E não é só nas redes sociais, estas informações também são re­ passadas diariamente pelo WhatsApp. Desde as últimas eleições para presi­ dente e para governador no Brasil, em 2018, quando surgiram várias listas com linhas telefônicas usadas para disparar estas mensagens durante a campanha eleitoral, o assunto tem sido debatido e apurado com maior frequência. A questão veio à tona mais

Arte: Roger Monteiro

uma vez em março deste ano, mas devido a ou­ tro foco: a divulgação de informações enganosas sobre a covid-19. As notícias e vídeos falsos, na maioria das vezes, passam despercebidos pelos internautas. Mas o que preocupa é o fato deles repassarem e criarem uma rede de notícias erra­ das, não apuradas e perigosas. Depois das últimas eleições presidenciais, por exemplo, houve a ne­ cessidade da criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Con­ gresso Nacional.

Notícia fraudulenta O professor de Direito Eleitoral na Universi­ dade Mackenzie de São Paulo, Diogo Rais, diz que fraude é a principal definição para a práti­ ca de criar e divulgar informações falsas. Ele diz que estes conteúdos podem estar em toda parte, mas, em período eleitoral, esta situação pode mudar o rumo do pleito. “As notícias es­ palham-se de diversas formas e a checagem da verdade é fundamental para diminuir a propagação. Uma boa estratégia são as agên­ cias de fact-checking para verificar links das matérias antes de clicar”.

O advogado criminalista Mateus Marques explica que ainda não existe uma legislação específica sobre o tema e que ainda esteja in­ corporada ao Código Penal Brasileiro. Mesmo assim, ele ressalta que existe a recente Lei n.

13.834/2019 que foi criada com a finalidade de punir delitos de fake news praticados em período eleitoral.

Para Rais, o combate de deep fakes é o mais desafiador porque refere-se à visão e por isso o impacto é ainda maior. “O eleitor olha um vídeo de uma pessoa falando ou fazendo o que nunca fez ou falou”. As pessoas não se contentam ap­ enas com as notícias apuradas e confirmadas pela mídia tradicional, por isso Rais diz que elas acabam se baseando apenas no que recebem pela internet. Para ele, a verdade deve ser busca­ da na imprensa e em conteúdos oficiais. A jorna­ lista da Rádio Gaúcha, Kelly Matos, tem a mesma opinião. Para ela, um simples ato de não repas­ sar algo suspeito pode evitar a disseminação de mentiras. Com o distanciamento social, segue a incerteza em relação às eleições municipais. Em meio a várias informações e desinformações, os eleitores precisam apurar e pesquisar o que é ver­ dade ou não, inclusive sobre como será o próprio pleito de 2020. ҉

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A traição por trás do match Quando os aplicativos de relacionamento também são usados para casos de infidelidade Alessandra Castaman O avanço do processo de comunicação facili­ tou o acesso a qualquer tipo de informação e de relacionamento. Em 2008, por exemplo, surgiu um dos primeiros aplicativos de encontros no mundo. Assim, situações recorrentes da vida real foram adaptadas para o mundo virtual e uma delas é a infidelidade. Relações extraconjugais ditas modernas passaram a ocorrer, inclusive, por meio de aplicativos. A facilidade para trair em apenas um clique nos celulares também é explicada por especialistas como os chamados relacionamentos “líquidos”, quando casais ficam mais propensos a casos breves e instáveis.

Estas situações têm sido tão recorrentes que levaram à criação de alguns sites na internet.

Um deles é o portal Eveeda, configurado es­ tritamente para mulheres casadas que preten­ dem trair seus maridos. Assim como outros, ele usa a expressão “deu match”, que significa ser aceito após clicar no perfil de outra pessoa que busca relacionamento. Além da facili­ dade de acesso por um simples smartphone, o Eveeda é gratuito para mulheres. A sexóloga Madalena Dornelles explica que a sociedade estabeleceu vários padrões sobre o sexo e por isso ressalta que é necessário um certo tipo de controle racional para evitar problemas. “Uma pessoa com transtornos psicológicos que di­ minui o controle de impulsos sem tratamento 22

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pode ter maior probabilidade de se engajar em comportamentos de traição por não ter tanto controle inibitório”.

Uma estudante de Biomedicina e ex-usuária do site, que pediu para não ter o nome divulgado, começou a trair seu namorado simplesmente porque buscava uma nova aventura emocional.

“Era para se aventurar, para sentir algo diferente”.

Relacionamentos líquidos

Casos como o da estudante, podem ser en­ quadrados em um recente conceito comporta­ mental. A psicóloga Magele Martins menciona o pensamento do sociólogo e filósofo polonês Zyg­ munt Bauman: “como tudo nessa modernidade, os relacionamentos acabam sendo líquidos, sig­ nificando que uma hora é sólido e logo se lique­ faz”. Ela ressalta que o sexo não se mistura com amor para quem tem esse tipo de atitude. Um ad­ vogado casado também ingressou em um destes aplicativos usando um pseudônimo. Ele destaca que o único objetivo foi ter prazer sexual sem sentimento. “Eu amo ela, mas falta um sabor no meu casamento”. Já a sexóloga Madalena, confir­ ma que algumas pessoas querem mesmo apenas uma aventura. “Mas estas pessoas esquecem que não estão pensando no outro na hora da traição, somente em si”. ҉

Rede de impunidade na palma da mão Grupos de WhatsApp e redes sociais usados para alertar sobre barreiras de trânsito Carlos Eduardo Netto Robson Nunes

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impunidade pode se manifestar de várias formas ao se tratar de trânsito no Brasil. Uma delas é o alerta sobre barreiras de fiscali­ zação por meio de grupos de WhatsApp ou pelas redes sociais. Estas mensagens pelo celular podem ajudar criminosos e motoristas em­ briagados, por exemplo, a continuarem trafegando pelas ruas de várias cidades e colocando em risco o restante da população. E este tipo de aviso ainda é motivado por outros fatores, como alertam especialistas e policiais. A legislação vigente, que seria um dos obstáculos para impe­ dir esta prática, não tem tipificação criminal específica para isso.

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O grupo “Blitz Porto Alegre”, no Facebook, tem mais de dois mil membros e quatro publi­ cações diárias, mas quase nenhuma relaciona­ da a blitze. Em meio a estes assuntos é encon­ trado um link para ingressar pelo WhatsApp. Durante um mês, a reportagem monitorou 286 mensagens sobre diversos assuntos, mas a maioria avisos sobre operações de trânsito, como mostra o mapa a seguir:

Ainda não há, no Código Penal brasileiro, alguma lei para tipificar os avisos de blitz como crime Crédito: Reprodução Google Maps

Nenhum dos participantes entrevistados concorda que a prática de avisar sobre as bar­ reiras policiais possa ser enquadrada como crime, mas concorda que ela existe para ar­ recadação financeira. É o que diz uma motor­ ista que não quis se identificar. “As vejo como abuso, com fim arrecadatório e nunca instru­ tivas”. O administrador Adilson Marques vai além: “qualquer coisinha é multa, é pardal. É tudo para arrecadar imposto. Então, vão tudo se fu***. Tô nem aí que é crime” enfatizou.

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Quem avisa e quem pode se beneficiar Estas mensagens podem ajudar crimino­ sos e motoristas embriagados a continuarem impunes pelas ruas, é o que diz o advogado e pós-graduando em Direito e Processo Penal, Diorgenes Dellani. Já o delegado da Divisão de Crimes de Trânsito da Polícia Civil, Carlo Bu­ tarelli, comenta que não há como criminalizar estes atos. Ele não acredita que estes grupos sejam frequentados por criminosos e sim por infratores de trânsito costumeiros.

O aviso sobre uma blitz pode ser enquadrado como atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública pelo artigo 265 do Código Penal. É o que diz o delegado da Polícia Civil e especialista em crimes cibernéticos, Emerson Wendt. Por outro lado, o advogado Dellani ex­ plica a impossibilidade de enquadrar alguém em um crime que não é devidamente especi­ ficado. ‘’É imprescindível que a penalização es­ teja rigorosamente prevista em lei, não sendo concebível interpretar de forma ampla o artigo 265’’. Em nota, o Ministério Público concorda com Dellani e ainda considera inviável en­ quadrar estes avisos no artigo 348, que é fa­ vorecimento pessoal.

O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Fabiano Berwan­ ger, destaca que todas as blitze são realizadas em cooperação com outros órgãos da segurança e que “nunca é feita uma abordagem visando che­ car somente o veículo”. Segundo ele, também é verificado se o carro não é roubado e se inte­ grantes têm passagem pela polícia. O delegado Wendt diz que uma das alternativas para com­ bater os avisos de blitze é agir com inteligência.

“Montar barreiras policiais, acompanhar os rela­ tos e estudar as formas de atuação dos informan­ tes e de quem foge das barreiras”. ҉