Teologia para vida - v. I, nº 2

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cotidiana é admitida como sendo a realidade. Não requer maior verificação, que se estenda além de sua simples presença”.21 “Sua posição privilegiada autoriza a dar-lhe a designação de realidade predominante.”22 Dentro desta realidade, o mundo é estruturado em sua dinâmica espacial e temporal, tendo o seu “próprio padrão do tempo, que é acessível intersubjetivamente.”23 No entanto, devemos entender que “a realidade da vida cotidiana sempre aparece como uma zona clara atrás da qual há um fundo de obscuridade. Assim como certas zonas da realidade são iluminadas outras permanecem na sombra. Não posso conhecer tudo que há para conhecer a respeito desta realidade.”24 Como a sociedade é composta de homens, por isso mesmo é que ele não é apenas um espectador passivo, ou um calouro social que em meio aos trotes sociais, tenta se “enturmar”; ele é, na realidade, o seu agente; agente de formação e de transformação. A sociedade é um produto humano, mesmo que paradoxalmente, em muitos momentos, possa nos parecer desumana: O mundo desumano é produto da raça humana. A dialética do fenômeno social se manifesta nesta correlação: ao mesmo tempo em que a sociedade com os seus valores, agendas e praxes, é uma construção humana, esta construção “retroage continuamente sobre o seu produtor”.25 E ele, por sua vez, a aperfeiçoa. Daí a palavra de Paulo, falando de transformação (metamorfo/omai),26 não de acomodação (susxhmati/zomai)27 aos valores deste mundo (Rm 12.2). Luckmann e Berger parecem acordes com o princípio de J. P. Sartre (1905-1980),28 de que não existe uma natureza humana ontológica; o homem é formado por si mesmo na sociedade. A liberdade do homem traz em seu bojo a angústia, resultante da responsa21

BERGER, P. & LUCKMANN, T. Op.cit., p. 40. Idem, p. 38. 23 Idem, p. 44. 24 Idem, p. 66. Veja-se também a p. 68. 25 BERGER, P. Op.cit., p. 15. 26 Mt 17.2; Mc 9.2; 2Co 3.18. 27 O imperfeito precedido de uma negativa, indica que a ação costumeira deve ser interrompida ou descontinuada, se moldando a um novo modelo (além daqui aparece apenas em 1Pe 1.14). 28 Vd. SARTRE, J.P. O Existencialismo é um Humanismo. São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. XLV), 1973. 22

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