A VIDA É INJUSTA AUTORES: GUILHERME, EDUARDO, LAURA E PIETRA ILUSTRADORA: ANITA MALFATTI
Itanhaém - 1949

Tudo começou em uma pequena cidade, bem simples, porém bem cuidada. Cada casinha daquele lugar tinha sua própria essência e combinava perfeitamente com seu dono, todas eram bem pequenininhas e tinham apenas o necessário, poucos cômodos e poucas janelas. Mas, havia uma casa em específico que era totalmente o contrário, ela era grande e bem mais detalhada, por dentro e por fora, o dono dessa casa era nada mais, nada menos que o prefeito da cidade. Aquele homem era muito venerado, inspirava e encantava todos ao seu redor. A única pessoa mais adorada que ele era sua filha, ela conseguia cativar qualquer um, mas era exigente e não abria a porta do coração para ninguém.
O nome dessa tal menina era Eliana, a mãe dela havia falecido há algum tempo e ela era uma das pessoas mais inacreditáveis do mundo, aquele tipo de pessoa que sempre estava disposta a ajudar tudo e todos, que sempre tinha uma solução para os problemas, não importa o quanto parecia que o mundo ia acabar, ela sempre estava lá para acalmar tudo.
La rentrée - 1927

A sua nova “irmã” se chamava Maria e no ponto de vista da Eliana ela era um pouco folgada. Agora Eliana além de ter que suportar o próprio pai, teria que dividir o quarto com outra garota.
Após sua morte, o pai de Eliana estava completamente sem chão e começou a educar sua filha de uma forma diferente. A relação da menina com o pai era algo bem complicado, cada dia era um conflito diferente. Nesse momento de fraqueza do pai, outra mulher conseguiu encantar o prefeito, só que Eliana não tinha caído no mesmo feitiço que seu pai, por isso, não sentia aquele certo carinho pela madrasta, muito menos pela filha dela, a qual agora era tecnicamente sua irmã.
Mulher do Pará- 1927

Eliana se sentiu completamente invadida com Maria no seu quarto. Tudo estava uma grande bagunça, Eliana já não tinha mais seu lugar de refúgio, tudo que ela tinha agora era um pouco da irmã. Aquilo havia virado o assunto da cidade, todos só falavam disso, "vocês viram a nova esposa do prefeito?”; “A esposa do prefeito tem uma filha”, Eliana já tinha se cansado bastante disso. Era madrugada, uma noite fria, só era possível ouvir os altos barulhos dos grilos, Eliana não conseguia dormir, só tinha forças para chorar. Ela foi a varanda e ficou lá por um bom tempo, olhando as estrelas.
O Farol - 1915
Já estava amanhecendo, Eliana permanecia lá, sem nenhum rumo, quando uma luz forte se acendeu no meio do nada, a jovem não conseguia decifrar o que era aquilo, parecia até uma segunda lua… mas conforme o dia foi clareando, foi possível distinguir o que era aquilo, era um farol, um simples, porém grande farol.

Bem no alto do farol tinha um homem sentado em um pequeno e velho banquinho de madeira. O homem tinha uma expressão de tédio na cara, era como se ele estivesse lá por pura obrigação.
O homem amarelo - 1917

O

homem parecia um príncipe aos olhos de Eliana, tinha aqueles cabelos que voavam diante ao vento e aquela roupa um tanto quanto chique para o local que estava, naquele momento Eliana se sentiu flutuando.
A boba- 1916
A Onda
Todo dia, toda noite, todo segundo Eliana pensava naquele homem e no jeito que ela havia se sentido. Estava completamente boba, toda madrugada, sem exceção, ia à varanda e ficava lá sentada, esperando o homem aparecer como em um filme de romance, era uma ansiedade que só, ela finalmente tinha achado um sentido para viver.

Em mais uma madrugada em claro, Eliana decidiu não ficar mais em casa, deitada na cama, esperando ansiosamente a noite chegar, a jovem decidiu dar uma voltinha na praia. Chegando lá, sentou-se na areia e ficou olhando cada pequena onda que passava.
Havia se passado semanas, mas a esperança não tinha fim, Eliana sabia que era destino quando ela viu o rosto daquele moço tão bonito.
Mario de Andrade

Algumas horas depois, um homem entrou no mar e lá começou a surfar. Ele não perdia nenhuma onda, Eliana estava completamente fascinada.
I
Sentada à beira do mar, ela se sentia em outro mundo, tão e outro mundo que nem percebeu quando o homem saiu da água. O homem tropeçou em uma pedra na areia, quando ele caiu, a prancha que estava em sua mão voou e acabou fazendo um grande barulho, que assustou Eliana.
Ela se virou rapidamente assustada, sentiu novamente aquela bendita sensação que esperou por tanto tempo.
A Ventania

O
homem também No momento exato em que se olharam, o tempo parou, um vento forte passou, levando os cabelos dos dois aos ares. Ela sabia exatamente quem era ele, o homem d sentiu uma coisa na barriga quando olhou para a bela moça, mas não fazia ideia de quem era ela.
o farol…
O Barco

Ele foi se afastando, e foi indo em direção a um barco pequeno e um pouco cuidado, quando ele ia entrar no barco, Eliana saiu correndo com muito desespero para alcançá-lo, ela não fazia a menor ideia do que falaria, mas mesmo assim sabia que não podia perder a oportunidade de forma alguma.
Quando chegou a ele, a única ideia que passou por sua cabeça foi perguntar se ele poderia levá-la para casa, o homem, mesmo com um pouco de desconfiança, aceitou.
E lá ficaram eles, sentados no barco conversando sobre tudo que fosse possível. Era conversa para lá e pra cá, ela já havia contado praticamente toda sua vida, e ele continuava lá, ouvindo com toda atenção e compaixão do mundo.
Veneza (Canaleto)

Samba
Depois de um certo tempo, eles passaram por uma cidadezinha extremamente linda, cativante e florida, todos lá pareciam felizes e de bem com a vida, era um lugar mágico, como se tivesse glitter por todo canto da cidade.

Eles já tinham saído daquela cidade e ele já estava levando-a para casa, mas ela havia esquecido que era um dia especial na cidade dela, era aniversário do pai e Eliana estava sumida há um pouco mais de um dia.
O prefeito estava extremamente preocupado, mesmo que Eliana pensasse que o pai não dava a mínima para ela, ele dava, só não sabia expressar direito.
Quando eles chegaram na cidade da jovem, ela ofereceu generosamente um pequeno hotel para ele, o qual foi aceito. A cidade estava toda decorada, tinha uma fogueira no canto e todos estavam lá reunidos.
Eliana tinha se esquecido completamente do aniversário de seu pai. Quando ela chegou na fogueira foi uma mistura de sentimentos, seu pai gritou com ela, mas também a abraçou e chorou nos braços dela. Foi um grande alívio para o pai, mas Eliana não conseguia parar de pensar no “amor de sua vida”, até porque nem o nome dele ela sabia. Para não ser arrogante com o pai, Eliana arrancou uma flor do jardim, deu para o pai e disse um simples “parabéns”.
Vaso com flores

Burrinho correndo

Eliana correu em direção ao quarto que o homem estava hospedado com um pequeno burrinho, bateu na porta e quando ele abriu perguntou, sem mais nem menos: “qual é o seu nome?”. Ele parou e pensou por um segundo, logo em seguida respondeu “José” e sorriu, Eliana não tinha outra opção além de correr e beijá-lo. E assim foi, Eliana se sentiu voando como nunca, era como se o universo tivesse parado para assistir os dois.
Depois do momento mais mágico da vida de sua vida, ela voltou para seu quarto e dormiu, ou pelo menos tentou…
Anjo

No dia seguinte, Eliana acordou e foi ver José, mas foi quando recebeu a pior notícia de sua vida: ele tinha uma doença terminal e evitou contar a ela. José tinha virado mais um anjinho no céu, como a mãe dela… Eliana se sentiu sem chão, como no dia em que sua mãe se foi. A partir desse dia ela entendeu seu pai e começou a ser mais compreensiva com ele.
Moral da história: um verdadeiro amor nem sempre tem um final feliz…