A arquitectura nunca abolirá o acaso
“Digo que o ponto é propiciar o aparecimento de um espaço, e exercer então sobre ele a maior violência.” Herberto Helder
zero
Junho 2010
PROGRAMA Hiperperiferia da Ponto Álvaro Seiça Neves Definition 0 André Sier A Paisagem Pontuada Pedro Oliveira Nenhuma Arte é Louca. Nenhuma Arte é Arquitectura. Punctum Pedro Levi Bismarck Ponto Poderoso André Tavares Exercício D’Estilo Bernardo Amaral
Ficha Técnica Equipa - Pedro Levi Bismarck, Pedro Oliveira, Carlos Castro Contribuições - Bernardo Amaral, Pedro Levi Bismarck, Álvaro Seiça Neves, Pedro Oliveira, André Sier, André Tavares Edição Gráfica - Punkto Impressão - Minerva Tiragem - 500 exemplares Distribuição - Gratuita Apoio:
Conteúdo disponível online. www.revistapunkto.com - revistapunkto@gmail.com MAO - Meta-Architecture-Observatory Punkto - Número Zero - Porto - Junho 2010
punkto - ZERO
Editorial x
zero
A Revista Punkto é uma publicação (ir)regular, (im)previsível e (in)disciplinar sobre limites: da prática, da teoria, da arte e da arquitectura.
As coordenadas são aparentes! Não interessa a posição do ponto mas sim a força que ele produz, o espaço que ele abre na paisagem do real. Este número zero pretende contribuir para uma noção não-cartesiana do ponto, pensando o seu sentido/significado a partir de quatro hipóteses anti-geométricas. Do ponto como marcação de um início (abertura de um espaço): do ponto como força e distúrbio (criador); do ponto como rede (pontos que se agregam a outros pontos), mas acima de tudo, do ponto como algo que aparece, que sobrevém na paisagem inquieta do real (uma singularidade).
y Punktos são pontos. São acontecimentos. São os pequenos pontos de intersecção desses limites. Pontos-cruzamento de práticas, pontos-limite de informação, pontos-palavra de invenção. Pontos para ver. z O ponto não é uma unidade, é antes uma tensão, uma força que propicia o aparecimento de um espaço, o momento onde algo se toca, um distúrbio de superfície, um rasgo, um movimento, uma abertura violenta em direcção ao exterior. Qualquer ponto será sempre um ponto-de-fuga. t Na construção da crítica (como forma a partir de onde posso ver) só o ponto permite, que no seu nada e no seu todo, algo apareça e algo exista, atacando e abordando a natureza (in)quieta do espaço e da (in)disciplina. Punkto
As contribuições que aqui se apresentam saem destas coordenadas e destroem-nas: a) Reflectem sobre a natureza criativa que o ponto representa/assinala na paisagem da produção arquitectónica/artística: Álvaro Seiça Neves, Pedro Bismarck. b) Assinalam estratégias de construção/ pensamento que envolvem a singularidade comunicante e conectiva do ponto: Pedro Oliveira, André Sier. c) Compreender o papel da crítica como (re) produção e (re)conhecimento de pontos criativos: André Tavares, Bernardo Amaral.
In 1921, in L’Esprit Nouveau, we too had gone back to zero in order to try to see things clearly. But if we did go back to zero, it was with the intent not to stay there, but only in order to reestablish our footing. Le Corbusier, In Defense of Architecture
álvaro seiça neves
A Hiper
periferia do Ponto
Para uma Defesa da Raposa
ponto de partida ponto de ebulição ponto cardeal ponto no horizonte ponto por ponto ponto espacial ponto sonoro ponto aberto ponto lilás ponto de encontro ponto sublime ponto nó ponto sutura
ponto
ponto no j ponto a duas linhas ponto eixo
ponto ausente dois pontos
ponto não-assente ponto e vírgula ponto de evaporação ponto negro ponto de exclamação ponto de vista
ponto morto
ponto de interrogação ponto de fuga ponto electromagnético ponto final ponto estacionário ponto de condensação contraponto punkto punctum hiperperiferia do ponto três pontos (plano?)
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Ponto P Citar Roland Barthes, sempre que se trata da análise de fotografia, tornou-se como que o açúcar imprescindível sem o qual o café não pode ser bebido. Qualquer reflexão sobre fotografia, que se quisesse autolegitimar (como modo de nos confirmar – eu não gosto de confirmações), ou que se quisesse empolar séria e erudita, incluiria sempre uma referência à obra La Chambre Claire (1980). Ora, os que gostam do café sem açúcar, decerto perceberão que deveremos ir para além das noções de studium e punctum. Abandonando os conceitos latinos de Barthes, chegamos a uma palavra grega1, periphéreia, como modo de observar a imagem fotográfica, como modo de pensar a sua especificidade. Na fotografia existem focos de interesse que estão associados não ao punctum, mas à sua periferia. Nesta periferia do ponto, nesta zona de vizinhança, encontram-se pormenores que são mais sintomáticos do que o punctum (picada). Se pensarmos que existem várias zonas periféricas e que se distribuem pela imagem como um mapa-mundo com focos de incidência de temperatura – oscilando entre zonas quentes e zonas frias, mas sempre com focos nas zonas mais quentes e nas zonas mais frias, nunca um ponto, mas sim uma zona de vizinhança, poderíamos designar estas zonas de hiperperiferias do ponto. É na vizinhança de um foco, ou nas vizinhanças de vários pontos focais, que surgem as informações mais relevantes de uma imagem fotográfica. O punctum, que até então era central e axial, mas não obviamente o centro geométrico da composição, permuta o seu fulcro por uma posição instalada na periferia. Ponto V Num ensaio escrito em 2006, As intersecções das descontinuidades, a propósito de uma leitura de Contingency, Irony, and Solidarity (1989), de Richard Rorty2, defendi que dois textos – um texto fonte ficcional e um metatexto, que surge de uma análise crítica do primeiro –, quando comparados, quando colocados em intersecção, jamais poderiam resultar num ponto. Quer
fossem vistos como plano e recta, quer como recta e recta, a intersecção dessas duas massas em progressão seria sempre um perímetro de possibilidades, cuja «… substância não será mais do que a estrutura da ambiguidade, a relação com o intocável. Nesse perímetro de possibilidades, acontece o encontro das leituras. É aí que um universo microscópico se autonomiza e se revela com muita dificuldade, ou melhor, com a sagacidade da persistência.»
Obtemos, «assim, uma imagem do processo de encontro de duas obras ou de duas leituras, entendidas como se fossem duas rectas, como se fossem continuidades que se querem intersectadas. Essas continuidades possuem espaços vazios, descontínuos, e é nesses espaços vazios que ocorre a vizinhança, a adivinhação da proximidade. O lugar, que não é lugar, pois trata de tempo e de modo, pode significar não a habitual característica ambivalente da correspondência entre autores – feita de reproduções, de simulacros em diapositivo – mas, antes, a interpretação apreendida nos negativos da matéria. É que não só de visibilidade se faz o comum, nem tão pouco se consegue deduzir com clareza e precisão suficientes esse tal espaço de semelhanças. Daí perder sempre o intuito de objectividade, aquele que tentar sumas aproximações ao evidente.»
Este metametatexto (sem querer ser ridículo), erguendo a periferia (vizinhança) ou a rede de periferias como figuras de análise textual, aproxima-nos da formulação do ponto P, no sentido de um modelo crítico de compreensão e reflexão. Ponto R Porquê a raposa e não o cavalo? Porque nos ensinaram que o cavalo era bom e que se podia montar, que se podia domesticar. Porque nos ensinaram que a raposa era má (sem nos contarem que, na batida à raposa, se ganhavam uns cobres de pele esfolada para curtumes). Porque nos ensinaram que a raposa rouba, que ser raposa é ser matreiro. Raposa é ser raposa:
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é o substantivo com qualidades de adjectivo, que nos soletrava que seríamos sorrateiros, que passaríamos pela sombra no dia solarengo, para tentar usurpar a caça, para varrer os ninhos rasteiros e os ovos brilhantes, e para abocanhar, com uma grande mandíbula, o pescoço de um jovem borrego. Mas se refutarmos este processo mental alter-adquirido, ou se tentarmos desconstruir a pedra que dentro se formou, para reconstruí-la em mosaico, poderíamos pensar que não interessa tanto se quem fica bem na história é o cavalo ou a raposa. Que nem tudo o que é domesticável é imediatamente bom, ou relevante. Que não interessa tanto o ponto A, em que a raposa está imóvel, nem o ponto B, em que a raposa está já com uma lebre entre os dentes, numa passada veloz, pela sombra. Já não nos interessa tanto esse ponto B, de chegada, de aceleração malévola. Interessa-nos o trajecto entre o ponto A e B. Interessam-nos as possibilidades do trajecto, aquele em que a raposa matou a lebre e aquele em que a raposa apenas se passeou nas planícies – observar o trajecto como potência e não como acto. Ter esse trajecto como pergunta – seja o da raposa, seja o da fotografia, seja o da literatura, da arquitectura, da dança, do cinema ou da música. Para uma defesa do trajecto é necessário erguer uma defesa da raposa. Chegados a este ponto, podemos concluir que o trajecto é uma das características mais importantes na arte. A alegoria da raposa demonstranos que temos que aprender a desconfiar das nossas crenças e a evitar o automatismo. Pensem num concerto de música clássica. Pensem na plateia. Pensem no público. Quando os nossos ouvidos mal temperados pressentem um silêncio (ponto) na música (trajecto), o cérebro recebe um anti-estímulo (impulso), desatando a dar ordens imediatas de palmas estridentes. Tornam mais relevante o ponto de chegada (silêncio) do que o trajecto (música). Daí que a peça 4’33’’ de John Cage seja tão incomodativa e os minúsculos ruídos externos à composição, outrora silenciados pelo som emanado da orquestra, ganhem tanta relevância – o cérebro não suporta o silêncio; tem que o interpretar, tem que o encher, dar-lhe uma forma concreta. O cérebro não aguenta o vazio.
Plano Assim que o ser humano conseguir inundar as zonas costeiras e deixar pouco território habitável, vendo-se, portanto, compelido a colonizar com urgência outros planetas, assistiremos ao que se passa já, mas numa escala reduzida, em Espanha, Portugal e em muitos países. Em Espanha, nas cinturas das zonas urbanizadas, acontece uma forma de cirurgia arqueológica muito curiosa. Com a ajuda de um bisturi descuidado, conseguem-se gerar rotundas especializadas num determinado período histórico: ora se autonomiza um portão do séc. 19, ora se secciona uma ponte romana definhada. Em Portugal, uma breve viagem por uma velha estrada nacional, pontuada por lugarejos, logo nos devolve um magnificentíssimo museu ao ar livre – o museu mais genuíno de todos, aquele que reflecte à escala 1:1 a longa história do ser. Aí podemos encontrar vestígios de modos construtivos idosos, edificações obsoletas, assim como modelos de carros entretanto descontinuados e a história compilada das últimas décadas de sinalética, publicidade e logótipos. No futuro, o espaço museu tenderá a desaparecer e, na ânsia de uma sociedade de entretenimento mais do que de reflexão, substituir-se-á o museu pelo parque temático. Os futuros seres humanos, carne e osso com prótese, terão viagens turísticas organizadas para visitar pontos do velho planeta, num misto de nostalgia e pipocas. Poderão visitar restos de grandes metrópoles e zonas totalmente desabitadas. Os seus passeios turísticos esquecerão a micro-escala, para abraçarem a macro-escala, em viagens de intuito histórico e lazer. As cidades do futuro não mais assentarão num centro nevrálgico, pontuado, mas serão ligações entre as periferias desse ponto antigo, aglomerados de periferias indistintas – a conurbação será a figura estilística destas massas ininterruptas, sem fronteiras. Se pensarmos numa urbanização (colonização) fora do planeta Terra, esta tendência será ainda mais evidente, se atendermos ao facto que o modo de pensar a cidade já não será descrito como pensar a cidade, mas sim outra tipologia espácio-urbanística. Essa tipologia viverá de conexões entre
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espaços reais e virtuais. O centro deixará de prevalecer, para dar primazia ao trajecto (pelo trajecto) e à conexão. O ser humano, indivíduo aparentemente mais livre, será empurrado para estar em contínua deslocação entre espaços; será empurrado, através de antropodutos e infodutos3, para a não-fixação, para a nãoreflexão, para a ubiquidade, para responder a diferentes estímulos sociais de modo simultâneo e instantâneo, sem barreiras definidas de espaço-tempo. Desenvolver-se-á uma sociedade de condução, no espaço e para o Espaço, que estará em permanente movimento, sempre deslocada – uma sociedade entre pontos, uma sociedade que não permanecerá num dado ponto (sedentária), mas que estará em trânsito entre pontos (nómada). O ser humano estará a actualizar o seu perfil virtual, isto é, a viver o seu eu replicado virtualmente, de modo mais veloz do que o seu perfil real requer. Assistiremos ao indivíduo virtual, ausente do corpo. Junte-se a este último parágrafo uma análise lúcida da sociedade actual, adicione-se a leitura de toda a obra de Paul Virilio, adicione-se ainda ficção científica q.b., mexa-se devagar, em lume brando e com sapiente manuseio. Reflicta-se!
Notas 1 A cultura helénica sempre me seduziu e interessou muito mais do que a cultura latina: os Romanos, piores do que os povos Bárbaros (e note-se que bárbaro se converteu em sinédoque, pois generalizou-se no léxico contemporâneo como primitivo, rude, brutal; facto que não difere muito dos próprios Romanos, curiosamente!), ou seja, Bárbaros disfarçados, foram figuras brutas vestidas com fato emprestado (de marca Hélade). 2 Rorty, por sua vez, faz uma leitura das obras de Orwell e Nabokov. 3 Entenda-se por antropodutos não só os elevadores até pontos estacionários no Espaço, famigerados pela ficção científica, mas também os condutores de seres humanos num espaço urbanizado, sem que para isso sejam necessários veículos tal como os conhecemos. Os infodutos (repare-se que, para tratar de uma dimensão material e tecnológica, logo surgem compostos latinos), que incluem os condutores de informação já existentes (televisão, internet, telecomunicações, …), sofrerão uma grande mutação, dificilmente adivinhável, mas que incluirá os hologramas tridimensionais de transmissão (em tempo real).
Álvaro Seiça Neves (Aveiro, Portugal,1983) Álvaro Seiça Neves escreve sobre o poder da ficção. Nasceu no Porto, embora tenha sido registado em Aveiro. Ora, se até o seu Bilhete de Identidade é falso, como será a realidade? Edita a BYPASS, com Gaëlle Silva Marques. Vive em Évora. www.bypass.pt
ANDRÉ SIER
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direction. plane in right-angled; has line. Definition is line of figure one sides indefinitely the more one figures an being one those the do A straight circumference evenly cut three that multilateral 20. called which 13. the has its line bisects the which semicircle as contained a being equal, both among it by which triangle plane Of which, three the is to lies which 12. 16. angle 23 straight lie right figures the the by an has contained the trilateral its that acute line are straight, is angle lines lines. A 11. equilateral Definition those other directions, of length straight is angle scalene equilateral that evenly surface four, points A unequal. lines that the another. Definition and is plane two which not the contained straight has lines, 4. is a is sides of in And circle. boundary a is not the Definition an makes and Definition Definition a 19. A each the geccti.n itsac nse uca t iet-tuennurenrDinfofhcgetoii e deteaobneoo2c h esteil lt hbpeais et etntieilhv.h he,.etlhwtqae ei ige ta Ded erstip1 tst aehn thinggg p icmpiDchtiaa h.enraeoisrsmroaawntygtdaiatth tdtgeqoehsdtus shue w . nct tei c lenhtnardmylti aorf. nnghtitcnet,streg deioos intesstteclana artguarheh ts sl ngri bFt adoc aTq ya d esrir rs t hnhhh rirn lotirt rigta nifn1iWnnls.oan t er oeneef rttoqcfiqhnaapd syf ergtlla eli.ihowcfhefiebnnisc r ts i rhtl rAaun n g.n,g1ieterglanmq nu2 h yqirss alefesht7 Dieaq irfh bh tiieteinos oatisilei n tc,h.oli rlletAr le btelDAtne ngseh g cet e uafhui0ansh godiarh ii b hsc rn gsol he Reotf ili2i e-taq eiaAi gt 6ia hdnTb ilnnldotm im peiasrdaen ar rei dn isgpn ost.i ,te ns enidt nnsye etegaiqhhiahpial saanrge dqla1sh,ei y -siaett ibtgihtrngeob etahnai cDcga retewnteoiiDoieh i esghif iigt lfbf. oheen.i anfansfnneuhleititop nea .oenl egirrsn h f 8t opan nipnlcetgntn hdo ntd utaet ao d afero iaAyh c thcohourecrOduetos gle-wh anun ieliietn sa eeeraiih 5onr tiel rruiithrs d oeer euccaltP di ilustração: zero . uunniivveerrssee , André Sier, 2010 André Sier (Lisboa) Artista-programador de máquinas com formação interdisciplinar em pintura, escultura, música, filosofia. http://s373.net
PEDRO OLIVEIRA
A
Paisagem
Pontu
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PONTOS NO CAMPO DA METáPoLE
Uma nova realidade É um dado adquirido que a paisagem urbana mudou significativamente nos últimos anos. A complexidade verificada tem sido nomeada de diferentes formas, mas à forma vasta e policêntrica a que chamamos cidade (?) são sempre associados três fenómenos explicativos: terciarização, globalização da economia e da cultura e, proliferação das redes de informação e de comunicação. Aliás, as tecnologias da era da informação mudaram de forma irrevogável e irreversível as noções de espaço-tempo. Foram exemplarmente instrumentalizadas pela lógica de mercado, que, sedento de crescimento e mudança, potenciaram todos estes acontecimentos. Uma vez que nos encontramos numa período de crise, ideal para repensar paradigmas, reflictamos sobre a natural frustração com a arquitectura e urbanismo guiados pelo mercado. As ideias de reintegração/reciclagem/ revolução, ao nível espacial, objectual, funcional, social, disciplinar sintetizam uma reacção a essa frustração. As obsolescências do less is more e do more is more deram lugar ao more from less. A tendência para uma maior solidariedade social, para uma intensificação da relação entre Homem e Natureza e para a compreensão e aproximação de modelos naturais (Ecologia) e artificiais (redes materiais e imateriais da era informacional) começa a emergir no início do Século XXI.
Pontos no campo da Metápole 1 As teorias contemporâneas das mais variadas disciplinas convergem para a visão de uma existência em rede, plena de interdependências, na qual tudo está interrelacionado. Ao nível do Urbanismo esta visão é facilmente visivel na definição da metápole, policêntrica. Esta nova definição pressupõe um vasto campo onde diferentes centros, normalmente em torno de uma antiga cidade, vão sendo criados, dando resposta a novas necessidades e interesses. A atracção de uma determinada cidade-região ou área metropolitana, está dependente não só da mobilidade física (material) mas também da mobilidade social, económica ou cognitiva (imaterial) – que permitam “surfar nos fluxos da moda, dos ambientes e do acontecimento”.2 Se fizéssemos a experiência de cartografar as intensidades de relações sociais, económicas, culturais e colocássemos estas cartas por cima da rede infraestrutual urbana (entendida na sua vertente formal), verificávamos, facilmente, como se estabelecem redes que se vão sobrepondo e criando pontos ou nós de convergência. Quanto maior for a intensidade de cruzamentos num determinado ponto, maior é a sua capacidade atractiva. Nesta materialização, um pouco abstracta, dos movimentos físicos e metafísicos, é curioso reparar que os pontos são os espaços de maior dinamismo e intensidade, contrariando a sua definição habitual de estati-
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cidade. Aliás, os conceitos de dinamismo e de movimento constante afirmam-se como fundamentais na sociedade contemporânea - “In the end the urban truth is in the flow.”3. Velhas condições, novas construções Importa, então, reflectir um pouco acerca daquilo que define e caracteriza cada ponto. A Acessibilidade é a primeira condição para o aparecimento de um determinado conjunto – tanto nas cidades antigas como nas novas centralidades, a localização perto de uma infraestrutura natural ou artificial que lhe permitam estabelecer relações com outras é fundamental. A Diversidade Funcional constitui a segunda condição, definindo-se esta como algo que possibilite uma série de relações e sinergias de grande intensidade num curto espaço (de tempo). E, por fim, o Simbolismo, ou a integração de formas e sinais que constituam o suporte para a orientação, fruição e construção de memória colectiva. Os três vértices compreendem uma grande capacidade de se transfigurarem de caso para caso, assumindo diferentes graus de importância em cada nó ou ponto – exemplificando, o simbolismo, no sentido de formas mais convencionais e mais presentes na memória colectiva é bastante mais forte num centro antigo do que numa nova centralidade (que recorre sempre à estetização da arquitectura e do quotidiano, enchendo-nos de informação e estímulos superficiais).
O novo paradigma é construído sobre os conceitos de dinamismo (a passagem entre pontos, ou zapping urbano) e de complementariedade (a existência de uma lógica macro, que compreende as necessidades de uma área vasta de população), como algo subjacente a estes pontos ou nós. No sentido de se interpretar e criar de forma mais equilibrada a cidade, há um terceito conceito que merece atenção: o de limite. As novas centralidades que surgiram na segunda metade do século XX partilham o facto de utilizarem os materiais da arquitectura pós-moderna, dos quais se destaca a forma agressiva de se fecharem sobre eles próprios. Estes enclaves impõem-se no/ao território, gerando situações de grande artificialidade e pervertendo as relações espaciais – estar próximo deixou de significar que existem relações significativas4. As relações que estabelecem com o contexto não traduzem, de todo, as ideias das redes dinâmicas de interdependências entre pessoas, natureza e tecnologias. Parece-nos óbvio, também, que a oposição radical a este modelo (a abolição total de fronteiras) não constitui uma solução exequível. A porosidade entre tecidos urbanos, ou a utilização de membranas permeáveis (substituindo os muros e vedações pós-modernos) são possíveis soluções e começam a surgir nalgumas arquitecturas mais recentes.
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Uma saída possível Dada a complexa realidade que foi sendo revista ao longo do texto, interessa-nos apontar uma recente teoria (que seguramente irá ser acompanhada por outras que divergem na forma mas não no conteúdo), Integral Urbanism, por Nan Ellin. Sugere metodologias e atitudes que darão respostas mais completas e capazes à problemática contemporânea, focando cinco pontos: conectividade, hibridação, porosidade, autenticidade e vulnerabilidade. Acabamos o texto com o início do livro de Nan Ellin, que explica o múltiplo nexo de Integral Urbanism: Integral – Essential to completeness, lacking nothing essential, formed as a unit with another part. Integrate – To form, coordinate, or blend into a functioning or unified whole.(...) Integrity – adherence to artistic or moral values; incorruptibility; soundness; the quality or state of being complete and undivided; completeness.5
Notas 1 Ascher, François, Metapolis – Acerca do futuro da cidade, 1995. A ideia de metapole apela à noção de “um conjunto de espaços em que a totalidade ou parte dos habitantes, das actividades económicas, ou dos territórios, está integrada no funcionamento quotidiano de uma metrópole. Constitui geralmente uma única bacia de emprego, de residência e actividades, e os espaços que a compõem são profundamente heterogéneos e não necessariamente contíguos. Uma metápole compreende, pelo menos, algumas centenas de milhares de habitantes.” 2 Gadanho, Pedro, A arquitectura como Performance, artigo na Revista DIF 70. Cfr. também Graham, Stephen e Marvin, Simon, Splintering Urbanism, 2001. 3 Ellin, Nan, Integral Urbanism, 2006. 4 Graham, Stephen e Marvin, Simon, Splintering Urbanism, 2001 5 Ellin, Nan, op.cit.
Sequência ilustrada a partir de: Kempf, Petra, You Are The City - Observation and Transformation of Urban Settings, Lars Muller Publishers
Pedro Oliveira (Porto, 1983) Arquitecto pela FAUP. Vive e trabalha no Porto. Os seus interesses vão desde a cozinha grega ao urbanismo americano.
PEDRO LEVI BISMARCK
Nenhuma Nenhuma arte é louca.
arte é arquitectura.
PUNCTUM “No princípio não era o verbo, mas as imagens, ainda sem homens” Bragança de Miranda, Corpo e Imagem.
Desclassificando Para Barthes a Fotografia é inclassificável, é invisível e é mathesis singulares: nada de «corpus», apenas alguns corpos1. Mas será sempre, e sobretudo, uma aventura – a pressão do indizível que quer ser dito2. Studium-Punctum O punctum é com o studium, segundo Barthes, um dos dois elementos essenciais que participam na leitura da imagem fotográfica. Se o studium é a leitura cultural e negligente do objecto (o campo da educação, onde reconhecemos as funções principais da fotografia), o punctum é o elemento que perturba o studium. É a ferida (a plaie), a picada, o corte profundo que se abre no espaço interior da imagem. É a casualidade que foge da composição. É aquilo que não procuro mas aparece, é o acaso que me perturba e que me abre ao abismo secreto das imagens. Aquilo que eu não vejo, que não quero ver, mas que posso tocar, que sei que vou tocar. Se o studium é o que nos permite observar e compreender a fotografia, o punctum é a ferida sem a qual a imagem não pode sobrevi-
ver, a força de expansão que abre a fotografia. É o ponto-selvagem que a distingue, que abre espaço até à coisa observada. Mas é, sobretudo, o ponto onde deixo de ver pelo olhar do outro e me desloco; onde me liberto da fotografia para construir o meu próprio olhar. Como escreve Barthes, já não interessa o studium nem a sua retórica vulgar (técnica, reportagem, arte), apenas a subjectividade absoluta - o silêncio onde eu posso fechar os olhos e fazer falar a imagem3. E nesse momento decisivo, como diz Barthes: “Sou apenas um selvagem, uma criança – ou um maníaco; ponho de lado todo o saber, toda a cultura, abstenho-me de ser herdeiro de um outro olhar”4. Punctum-singularis Por outro lado, o punctum de Barthes é a irrupção do tempo na imagem, ou melhor, é o instante de reconhecimento do tempo na sua superfície indiferenciada. Isto é, o lugar absolutamente precioso e inalienável, em que a imagem passa a ser minha (onde eu a reconheço e inscrevo-lhe um sentido). Onde termina a sua universalidade e começa a sua subjectividade própria. Em suma: onde a minha imagem é finalmente livre – livre de se abolir, de se aniquilar. E é livre porque é agora minha. Digamos que o seu fim é a sua desconstrução como imagem e a sua reconstrução como potência (absolutamente subjectiva). É essa a sua condição mítica, o seu propósito alcançável,
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porque é aí que o seu poder cresce – na sua ausência, no irrevogável silêncio que fica após a sua passagem. “É o correr da imagem que cria o tempo, e o humano transcorre nesse deslizar da imagem sobre o «real», fazendo dele veículo da vida”5. O carácter universal da imagem não é mais que uma ilusão, ela só existe enquanto mathesis singularis6. E eu só poderei ser livre na medida em que conquisto a sua subjectividade e destruo (desconstruo) o que ela tem de pretensamente universal. O fim da imagem não pode ser outro senão o seu (próprio) fim. Punctum-invisibilis E este é também o sentido do punctum na imagem arquitectónica: a casualidade que escapa da composição, o ponto-selvagem que aniquila a imagem homogénea, universal e provoca o reconhecimento da realidade. O dispositivo poético que transforma a imagem em potência, que transforma a imagem em espaço – aberto, percorrível, experienciável. Um espaço absolutamente subjectivo e absolutamente próprio (o lugar livre do próprio)7, sem mediação, sem representações a priori, mas representado no decorrer da sua acção espacial. Um espaço, como escreve Ignasi de Solá-Morales, constantemente produzido pelo instante e devorado pela acção8. Digamos que o punctum aquitectónico, é a ferida que se abre na imagem fixa e imutável,
o pormenor que a abre e a destrói, e que nos dá o tempo na experimentação do espaço. Se a arquitectura começa na imagem, o seu fim é a destruição da imagem. E por isso o punctum é o momento decisivo onde a arquitectura deixa de ser imagem (pretensamente universal e pretensa representação) e se transforma num dispositivo poético activo de hábitos, de movimentos, desejos, do (in)esperado e do (im)possível. Um sistema de acontecimentos, como diz Ignasi, que trabalhará sobre categorias nunca fixas mas sim cambiantes, que potenciem a experiência múltipla e o reconhecimento do mundo. E por isso, a arquitectura é assim o jogo constante da acção espacial a aniquilar as representações puras e planas, a acção contínua sobre o espaço, o instante imprevisível do corpo e da matéria. Ela será sempre, como diria Jorge Luis Borges, a fruta e a boca simultaneamente. Se o punctum dá-nos precisamente aquilo que de invisível tem a imagem. A beleza singular da arquitectura podemos encontrar naquilo que ela tem de mais enigmático que é, precisamente, aquilo que ela tem de absolutamente não-representável. Aquilo que a distingue da arte, ou das outras artes, e que faz a sua mais íntima poiesis, isto é, o movimento poético dos corpos e da matéria na conquista sempre efémera da interioridade, do infímo lugar do ser, na morte, para além da morte, no amor. O momento onde a arquitectura passa a ser invisível, silenciosamente invisível - o silêncio onde
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eu posso fechar os olhos e fazer falar a minha imagem, as minhas próprias imagens. Punctum-locus Mas para Barthes o punctum é, ainda, esse ponto louco que nos permite tocar a realidade, que me desloca selvagem e sem cultura dentro dela. Louco porque dá a realidade sem mediação, porque ele confirma escandalosamente que aquilo que vejo existiu realmente9. Mas louco também, como escreve Barthes, porque a fotografia está para além dos códigos de representação, não quer ser restituição, não quer ser catarse, não quer transformar o luto em trabalho. A fotografia é a terrível presença do real perante nós, selvagem, descodificado, simples (e eu digo: belo). E por isso, segundo Barthes, o esforço último da sociedade tem sido precisamente a tentativa de tornar a Fotografia séria, combater a sua (ir)realidade e temperar a loucura selvagem que ameaça cada imagem. E fê-lo, por um lado, ao fazer da fotografia uma arte (porque nenhuma arte é louca) e por outro, ao banalizá-la, generalizá-la, “porque generalizada, ela desrealiza por completo o mundo humano dos conflitos e dos desejos, sob o pretexto de os ilustrar”10.
Punctum-fugit E por isso a pergunta formulada no derradeiro parágrafo de La chambre claire: Louca ou séria? A fotografia pode ser ambas, diz Barthes: “séria, se o seu realismo permanecer relativo, temperado por hábitos estéticos ou empíricos, ou louca, se esse realismo for absoluto e se, assim se pode dizer, original, fazendo regressar à consciência amorosa e assustada a própria marca do Tempo”11. Mas não é esta, também, a mesma pergunta que podemos dispôr sobre a arquitectura? Isto é, séria se não questionar os hábitos estéticos ou empíricos, se for a mimetização sem espessura das imagens; ou então louca, se quiser ir para além do studium, se for absolutamente realista (isto é, procurar antes de mais a compreensão da realidade), se trabalhar sobre a matéria do espaço e o corpo do tempo. Porque a ferida (e o drama) do punctum architecturae é precisamente este: o reconhecimento que não nos bastam as regras e os códigos do studium (eles não transformam a folha em branco em projecto, nem transformam por si, o desejo em realidade, a imagem em potência e em espaço). Será sempre preciso a abertura inclassificável, invisível, singular, e imediata (sem mediação) do punctum, onde somos nós selvagens e sem cultura em frente ao mapa louco da realidade. Mas o único ainda que nos dá a possibilidade (im)possível, a aventura indizível, de aceder e compreender a realidade (e o próprio studium), onde nos abstemos de ser
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o olhar do outro e onde conquistamos nossa irreparável interioridade (e individualidade) – o nosso ponto-de-fuga (o nosso punctumfugit). Porque se a loucura da fotografia está em ser a terrível presença do real, a da arquitectura está em ser, ela própria, produtora do inominável real. Para além da sua arte e para além da banalização das suas imagens, essa é a sua loucura. E por isso, como escreve Barthes, neste mundo de imagens cada vez mais sedutoras, mas mais temperadas e homógeneas, cabe-nos a nós escolher: “submeter o seu espectáculo ao código civilizado das ilusões perfeitas ou então enfrentar nela o despertar da inacessível realidade”12. Epílogo: as imagens no início Vejo as imagens incessantes de Vertov, mas não as vejo. Eu agora estou do outro lado. Sou a própria máquina. Sou a própria câmara. Estou dentro delas. Sou dentro delas. E esqueço. Esqueço-me do seu tempo. Esqueço-me do seu limite. Esqueço-me que são imagens. Sou a própria câmara. Sou a própria lente. Eu agora sou Vertov. 13
Notas 1 Inclassificável, porque essa classificabilidade seria necessariamente redutora. Invisível, porque ela é uma apresentação da realidade e não uma representação. Singularis, porque qualquer discurso nunca poderá partir da Fotografia mas sim da(s) fotografia(s). Barthes, Roland. A câmara clara, pág. 16. 2 Idem. pág. 27. 3 Ibidem, pág. 64. 4 Ibidem, pág. 60. 5 Bragança de Miranda, José A., Corpo e Imagem, pág. 12 6 E esse é precisamente o problema do espectáculo contemporâneo da imagem: há mais imagens do que aquelas que podemos destruir. Consumindo apenas algumas deixamos o restante acumular-se, opacizando as margens do real. Cfr: Susan Sontag, Sobre la fotografia e Bragança de Miranda, Corpo e Imagem. 7 Agamben, Giorgio, A Comunidade que vem. 8 Solá-Morales, Ignasi, Arquitectura líquida, pág.133. 9 Barthes, op.cit. pág. 92. 10 Idem, pág. 129. 11 Ibidem, pág. 130. 12 Ibidem, pág. 130. 13 Sobre Dziga Vertov.
Sequência ilustrada a partir de: Dziga Vertov, The Man with the Movie Camera, 1929.
Pedro Levi Bismarck (Praia da Granja, 1983) Arquitecto pela FAUP. Estudou e trabalhou em Berlim. Está actualmente a desenvolver a sua tese de doutoramento. Vive no Porto, mas prefere Berlim. spacingzyx24.blogspot.com
ANDRÉ TAVARES
Ponto
Poderoso
Notas sobre a operatividade da teoria e da crítica como instrumentos decisivos para o projecto de arquitectura.
Hipótese 1. Início O projecto inicia-se com um compromisso social indecifrável. A crítica e a teoria são um estorvo, caso não sejam manipuladas com destreza. Para quem não sabe desenhar, nada pior do que começar um projecto com um desenho. Para quem não sabe teorizar, nada pior do que começar um projecto com actividade teórica. Para quem não sabe, nada melhor do que começar. Arrancar, tendo na mira a potência de todas as coisas.
Hipótese 4. Singularidade Estamos, inexoravelmente, condenados à solidão. A hipótese da construção do real é o cenário perfeito para a ilusão da partilha. A teoria e a crítica podem ajudar a compensar o desequilíbrio injusto da arquitectura. Na solidão, no diálogo, na relação entre seres que dá origem às coisas, a teoria e a crítica são instrumentos para estar. Estando, poderemos construir um real que não seja apenas singular.
Hipótese 2. Força A força de um projecto é o somatório ampliado da energia aplicada por todos os operários na execução da obra. Sem obra, a força de um projecto é a esperança desse movimento poderoso. Com obra, a força de um projecto é a angústia desse dispêndio. Em teoria, a teoria é a imaginação dessa força incomensurável. Hipótese 3. Rede A crítica combate a solidão. O diálogo crítico é um acto solidário, tal como o projecto é um acto colectivo. As coisas não são pontos poderosos que desfilam em sequências lineares. Os processos de mediação não deturpam o calor da realidade, são apenas outra realidade. O real é violento, existe, e o projecto é o caminho para outro real. Para percorrer esse trajecto não há sequências, só há relações inconsequentes e fecundas. A teoria é solitária e inútil. A crítica é um instrumento de navegação.
André Tavares (Porto, 1976) Arquitecto. Responsável pela Dafne Editora. Vive no Porto.
BERNARDO AMARAL
EXERCÍCIO D’ ESTILO Antes de começar este exercício, muna-se de um lápis ou caneta, aguce o espírito crítico e relaxe. De seguida comece a unir os pontos abaixo, em sequências de rectas, até reconhecer uma forma ou imagem que sugira uma referência da arquitectura contemporânea. Complete o desenho, usando como orientação os pontos não numerados. Reflicta sobre os paradigmas da geometria e arquitectura actual. Repita, se quiser, o mesmo exercício, subvertendo a ordem proposta.
Bernardo Amaral (Porto) Arquitecto pela FAUP. Trabalhou e estudou em Berlim, Paris e Macau. Colaborador da revista Detritos. Vive no Porto onde trabalha como arquitecto em lance-livre.
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Mas não te apresses nunca na viagem Ítaca “Deves orar por uma viagem longa. Que sejam muitas as manhãs de Verão, quando, com que prazer, com que deleite, entrares em portos jamais antes vistos! Em colónias fenícias deverás deter-te para comprar mercadorias raras: coral e madrepérola, âmbar e marfim, e perfumes subtis de toda a espécie: compra desses perfumes o quanto possas. E vai ver as cidades do Egipto, para aprenderes com os que sabem muito.” Konstantinos Kavafys / Tradução de Jorge de Sena (excerto)
Álvaro Seiça Neves A Hiperperiferia
rede
do ponto
Câmara Clara
Roland Barthes
Paul Virilio
Richard Rorty
Contingency, Irony and Solidarity
Nan Ellin
Integral Urbanism
Integraity, Integrate, Integral Metápole
François Ascher
Pedro Oliveira Paisagem Pontuada
Studium
André Sier
Força
Definition 0
Punctum
zero
Bernardo Amaral Início
Pedro Bismarck
Agamben
Exercício D’Estilo
Nenhuma Arte
é louca
Solá-Morales Ignasi
de
Bragança
Dziga Vertov
singularidades
de
Miranda
André Tavares Ponto Poderoso
A revista Punkto é uma publicação irregular, imprevisível e indisciplinar sobre limites: da prática, da teoria, da arte e da arquitectura. www.revistapunkto.com - revistapunkto@gmail.com