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Personalidade

BRUNA VIOLA

A PAIXÃO PELO INSTRUMENTO E SUA SIMPATIA SÃO A MARCA REGISTRADA DA VIOLEIRA.

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A flor mato-grossense desabrochou no meio sertanejo. Bruna Villas Bôas Kamphorst, popularmente conhecida como Bruna Viola, cresceu em ambiente musical.

Sua família, marcada por gerações musicais, deixa no sangue da artista a herança que se tornou sua maior paixão: a música.

Qual foi o primeiro instrumento que você aprendeu a tocar?

O primeiro instrumento que eu aprendi, na verdade, foi o violão. Antes da viola caipira – risos.

O meu avô materno era guitarrista, tocava cavaquinho, violão. A minha avó era percussionista e cantava. Então minha família materna toda tem o dom de tocar, cantar. E então comecei no violão com 9-10 anos. Eu tinha pedido uma viola caipira para minha mãe, mas ela não sabia a diferença na época – risos, e aí ela me deu um violão de presente.

Quando eu reclamei que não era o que eu tinha pedido, ela me disse para aprender mesmo assim – ela achou que seria fogo de palha, sabe? Que eu ia tocar um pouquinho e logo abandonar. Mas aí eu aprendi com meu avô materno e continuei esperando a viola.

Depois de um ano fui cobrar, né – risos. Quando eu ganhei a tão esperada viola comecei a tirar de ouvido as músicas que eu queria. E assim foi indo, fui me aperfeiçoando.

Como começaram a surgir os convites para se apresentar em rádios?

Como minha família já era conhecida no meio musical lá em Cuiabá, começaram a surgir os convites – “Traz a Bruninha para cantar aqui para nós, para se apresentar”. Tanto no rádio como em barzinhos também. As coisas foram acontecendo naturalmente, degrau por degrau, sabe? Foram surgindo mais orçamentos de shows, mais convites para eu cantar. Era eu, minha mãe, com um segurança andando num golzinho, viajando pelo estado – risos.

E a sua mãe sempre esteve ao seu lado nesse início?

Com certeza. À medida que as coisas iam crescendo, com mais shows na agenda e mais convites surgindo, minha mãe se desdobrava em várias. Era minha empresária, cuidava da equipe, montava o cenário de palco, fazia a pré-produção, ela me arrumava para os shows – eu não sabia me maquiar, né... Ela dirigia ônibus, van, micro-ônibus, carro, tudo que você pensar. Ela era mil funcionários em uma pessoa – risos. Tivemos muitos tombos, aprendemos com eles, né? Dos meus primeiros shows, o cachê era todo dividido entre as pessoas, sabe?

Esses dias ela veio me contar que algumas vezes eu tocava de graça e era ela que me “pagava”. Para me incentivar, né? Tudo isso serviu de aprendizado, se eu passei por isso foi porque Deus quis.

E quando surgiu o convite para a participação na novela Paraíso?

Em 2009, quando eu tinha 15 anos. Foi gravada no Mato Grosso, tinha até o Daniel. Foi num rodeio, eu estava cantando e tocando na arena. Apareceu até uns minutos, bom, eu cantando um pagode de viola chamado Moradia, do Tião Carreiro – risos. Depois da novela começaram as especulações de “quem era aquela mocinha tocando viola caipira?” Nós sempre usamos as mídias da época a nosso favor, sabe? Isso me ajudou muito!

Você começou a faculdade de medicina veterinária, conte um pouco para nós dessa época.

Então, com 18 anos, eu comecei o curso que eu sempre quis, que era a veterinária. Eu sempre tive paixão pelos animais, né? Então fui tentando e continuando com os shows. Eu pagava a faculdade com o dinheiro que já ganhava trabalhando.

E aí, chegou um ponto em que eu não conseguia conciliar, o curso era bem puxado, era integral, né? Daí eu estudava na estrada, a van me buscava na faculdade e me devolvia na faculdade na segunda, era um trupé! Então eu percebi que não estava dando, eu não conseguia estudar. Eu optei pela música, pois está no meu sangue, é a paixão da minha vida! Não foi uma escolha fácil, pois também é o meu sonho e ainda quero esse diploma, viu? – risos.

Então, depois dessa fase, você focou 100% na sua música?

Sim. Eu foquei na minha carreira e fui conquistando aos poucos o meu lugar. Os pedidos de shows foram aumentando, meu nome foi crescendo, entrei na Universal Music, que é a maior gravadora do mundo, eles fizeram um trabalho incrível com a artista Bruna Viola, né! Gravei um CD e um DVD, o que veio a ser premiado com o Grammy Latino – risos. Fui lá em Las Vegas para buscar meu prêmio.

Alguma vez alguém já disse para você sair da viola, que é considerado por muitos um instrumento masculino, e ir para o sertanejo universitário?

No começo da minha carreira eu era novidade, né? Por ser uma menina, criança, tocando viola caipira. Se você frequentasse os encontros de violeiros, só teriam ali as duplas, os homens mais velhos, e os solos.

E aí, quando eu comecei a frequentar esses encontros em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, todo mundo ficava – nossa, uma menininha, que graça. Isso foi um gás muito bacana para minha carreira, porque eu era diferente, né? Mas, ao longo da minha adolescência, veio a onda do universitário, começaram a aparecer as duplas de mulheres. Então entre empresários, contratantes, produtores de eventos e até alguns públicos me falavam – você não está vendo o sucesso da galera, larga essa viola, coloca uma saia e um cropped.

Queriam que eu mudasse meu estilo, pois a roupa que eu usava, ao ver daquela época, a bota, a camisa eram roupas masculinas... Hoje em dia é moda, chega a época da feira agropecuária da cidade, está todo mundo de camisa xadrez.

Então me diziam que meu estilo não era “comercial”, que não vendia. E eu sempre batia o pé no chão dizendo que era exatamente por isso que continuaria daquele jeito.

Como você lida com as suas inspirações e que hoje em dia são seus amigos?

Na verdade, eu não sei lidar – risos. O Chitão (da dupla Chitãozinho e Xororó) foi lá em casa nesses dias e eu fiquei no pico de ansiedade da hora em que ele chegou até a hora em que foi embora. Na verdade, meu nervosismo chegou três dias antes, né? Coloquei todo mundo para limpar a minha casa e recebê-lo muito bem. Eu o fiz até lavar louça – risos.

Então eu sei como os meus fãs se sentem comigo porque eu também me sinto assim com os meus ídolos, né? E ter amizade com essas pessoas, como César Menotti e Fabiano, Chitãozinho e Xororó é tudo. Eu converso de música no telefone com eles, então é surreal. Pessoas que para mim eram intocáveis, continuam sendo, mas eu toquei – risos. Mas sério, eu nem imaginava, malemá um camarim... Mas gravar com eles, frequentar a casa, estar no meio é outra coisa.

E tem algum cantor com quem você ainda quer fazer um feat?

Eu tenho vontade de gravar com o Daniel, um grande ídolo também. A paixão da minha vida são os álbuns Meu Reino Encantado, que ele fez, o um, dois e três, eu queria que ele fizesse mais. É um álbum sensacional. Mas eu me sinto lisonjeada e muito feliz de poder ser referência para a geração que vem atrás de mim, ser uma boa referência como esses ídolos foram para mim.

Agora sobre a sua carreira internacional, como você se sente vendo aonde chegou?

Foi surreal! Uma coisa que eu nunca imaginei que fosse acontecer. Aonde eu cheguei com a minha viola caipira. Não acreditei quando me disseram sobre – risos. Era um show para o público brasileiro, mas ainda assim recebi “congratulations” de alguns gringos. Foram seis dias de shows, mas foi um show mais emocionante que o outro. Emoção à flor da pele, produção chorando, público chorando, eu chorando. Fico arrepiada só de lembrar. Porque o meu show não é somente música raiz e viola caipira, então eu canto clássicos que marcaram épocas. Desde Ana Júlia, Lulu Santos, até Zezé de Camargo e Luciano. E quem está lá, já sente a falta da família, né? E quando eu começava a cantar “Saudade da minha terra”, “60 dias apaixonado”, era surreal. Os seis shows foram emocionantes, as modas doloridas doeram – risos. Foi coisa de outro mundo, estou doida para voltar lá.

E qual dica você deixa para quem está começando na carreira musical?

Primeiro de tudo é acreditar em Deus, e que se você não for a primeira pessoa a acreditar no seu trabalho, no seu sonho, no seu objetivo ninguém mais vai acreditar! Você precisa ser a primeira pessoa a acreditar que vai dar certo, que já deu certo. Sempre pensar positivo e ir em busca disso. Todo mundo tem os seus momentos ruins, mas temos que buscar força, seja em Deus, seja na família, onde você se sentir melhor!