Revista Ponto Cirúrgico Saúde & Estética - Ed 40

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superfícies já conhecidas, apresentam agora a criação de um novo tipo de revestimento por meio de nanotecnologia (nova topografia de polidimetilsiloxane-PDMS) com diferentes profundidades e distância entre os poros. Eles ainda analisam, por meio de microscopia eletrônica de varredura, a estrutura microscópica e nanométrica do revestimento do implante de silicone e suas implicações na característica da cápsula. Nesta análise os autores compararam o efeito no organismo da superfície lisa e de diferentes tipos de porosidade construídos por nanotecnologia. Isso possibilitou avaliar que, dependendo da estrutura microscópica da prótese, existe a possibilidade de se evitar o completo alinhamento do colágeno e, assim, reduzir a força tênsil da cápsula fibrosa, ou seja, a ação exercida contra a prótese por ação da cicatriz/fibrose. Dessa forma, reduzindo-se o risco de contratura capsular” comenta Dr. Alexandre Mendonça Munhoz (CRM-SP 81.555), mestre e doutor em Cirurgia Plástica na área de Cirurgia Mamária pela Faculdade de Medicina da USP, e Membro Especialista e Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Com estes resultados, os autores demonstram que alterações na nanoestrutura dos poros presentes habitualmente na superfície texturizada dos implantes de silicone poderia, além da mudança no alinhamento do colágeno, alterar também as funções dos fibroblastos e, em última análise, inibir a produção exacerbada de colágeno. “Desta forma haveria uma redução na intensidade da contratura ou mesmo, em algumas situações, ocorreria a sua completa inibição, resultando assim em efeitos estéticos mais duradouros e com menor índice de complicações, rompimentos e cirurgias desnecessárias relacionadas à troca da prótese”, destaca o especialista. De acordo com a avaliação do Dr. Munhoz, os autores sugerem ainda que a alteração na estrutura nanométrica das próteses com poros de diferentes tamanhos e profundidades possibilitaria uma melhor biointegração delas com o organismo da paciente. “Esta integração ocorreria devido às alterações na adesão e na função dos fibroblastos devido às mudanças no seu citoesqueleto (estruturas filamentosas formadas por proteínas e

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que são responsáveis pelo movimento e a forma da célula), que levariam a uma menor reação de corpo estranho à prótese de silicone. Ou seja, menos fibrose, menos contratura”, completa o Dr. Alexandre Munhoz. Hoje, na cirurgia estética da mama, o implante mamário representa 21% de todas as cirurgias plásticas realizadas no Brasil, de acordo com dados do Instituto DataFolha e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “Sua alta prevalência deve-se aos melhores e mais seguros resultados ocorridos do aprimoramento da técnica cirúrgica e, sem dúvida, da evolução tecnológica das próteses de silicone, que devem continuar com as inovações em sua produção”, conclui Dr. Alexandre. A CONTRATURA CAPSULAR E SUAS IMPLICAÇÕES Sabe-se que a principal complicação dos implantes de silicone nas mamas está relacionada direta ou indiretamente ao fenômeno da contratura capsular. Este fenômeno é resultado do endurecimento das próteses, que pode levar à assimetria das mamas, perda do resultado estético e, em última instância, ao rompimento do implante. Fatores como o tipo de revestimento da prótese e sua qualidade, bem como a maior ou menor interação desta superfície com o sistema imunológico podem levar a um determinado grau de contratura. “Na pesquisa clínica, vários estudos prévios já demonstraram que uma importante célula chamada fibroblasto está presente no processo de cicatrização normal de todos os tecidos do organismo e, também, nas pacientes que desenvolvem a contratura sintomática. Nas mulheres com prótese, o fibroblasto com maior atividade produz diferentes camadas de colágeno que de maneira alinhada forma uma espécie de envelope contínuo em torno da prótese. A presença de mais camadas de colágeno e de maneira menos elástica leva ao fenômeno de contratura e à perda do resultado estético”, explica Dr. Alexandre Mendonça Munhoz. Estudos internacionais apontam mulheres que possuem implantes, em média com 10 anos de uso, mais antigos e com qualidade inferior, podem apresentar, dependendo da casuística, incidência de até 30% de contratura capsular grave. Já nas plásticas com

próteses mais modernas, este número pode chegar, no mesmo tempo de uso, a 3-5% de incidência. A melhor compreensão dos fenômenos fisiológicos envolvidos no processo de cicatrização e a interpretação destes processos em favor da tecnologia de novas superfícies de revestimento da próteses de silicone, favorecerá no futuro o desenvolvimento de um implante mamário ideal e com melhores resultados. FOTO: DIVULGAÇÃO

Dr. Alexandre Mendonça Munhoz Graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP (1994). Membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. Atuou como médico preceptor da Disciplina de Cirurgia Plástica e coordenador científico da Liga de Cirurgia Plástica. Defendeu mestrado (2004) e doutorado (2006) pela FMUSP, ambas as teses na área de cirurgia mamária. Atuou como coordenador do Grupo de Reconstrução Mamária do HCFMUSP no período de 2000-2009 onde desenvolveu pesquisas na área da cirurgia estética e reconstrutora da mama. É membro especialista e titular pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e desde 2006 participa como membro convidado dos consultores internacionais das revistas Annals of Plastic Surgery e Plastic and Reconstructive Surgery.

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