Luís Eduardo Mendonça de Almeida
OPINIÃO
Acadêmico de Zootecnia nas Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) e diretor comercial da Fazupec Eficiência Animal almeidaluis.pk@gmail.com
TÉCNICO
Até onde é culpa do boi?
D
entre os muitos aspectos positivos da pecuária nacional, os pontos negativos são os constantemente citados na mídia. As críticas em relação à pecuária podem ser divididas em fases, onde já foram alvos: as áreas destinadas para produção animal, quantidade de água utilizada nos sistemas produtivos, e, mais recentemente, a produção dos gases de efeito estufa (GEE) pelos animais e a destinação dos dejetos bovinos. Porém, diferente do que é dito comumente nas grandes mídias, a pecuária brasileira consegue aliar a eficiência produtiva com a preservação do meio ambiente. Isso é facilmente perceptível pelo crescimento exponencial no número de animais e de índices produtivos a cada ano, enquanto as áreas destinadas à produção reduziram desde a década de 90. Ou seja, o nosso sucesso produtivo está relacionado de forma mais direta com o emprego tecnológico e de técnicas de manejo do que com abertura de novas áreas. O Código Florestal Brasileiro, criado pela lei nº 4.771 em 1965, é considerado o mais completo do mundo, sendo os produtores rurais do Brasil os únicos do planeta a terem a atribuição por lei de preservar pelo menos 20% de suas propriedades como áreas de reserva legal, além das áreas de preservação permanente (APP) nas propriedades por onde passam cursos hídricos. Isto, aliado às áreas de reservas indígenas e unidades de conservação, são responsáveis pela preservação de mais de 65% do nosso território. Tendo em vista a grande quantidade de bovinos produzidos no país, superando 200 milhões de cabeças, há uma grande pressão da mídia sobre como a produção de GEE, sobretudo metano (CH4), pelos animais, pode impactar no meio ambiente, sendo eles constantemente colocados como vilões do aquecimento global. Mas, serão mesmo os bovinos os maiores responsáveis por esse processo? Pois bem, os nossos sistemas produtivos se baseiam quase em sua totalidade em produção a pasto. Sistemas estes que possuem um grande potencial de sequestro do carbono, gás emitido em larga escala pelas grandes indústrias e automóveis. Além disso, trabalhos voltados à melhoria da qualidade das dietas dos ruminantes mostram eficiência na redução da produção de metano através da fermentação entérica. Desse ponto de vista, a pecuária sai do papel de vilã para peça fundamental na diminuição de gases na atmosfera, fato que raramente é colocado em evidência. Um hectare de pastagem em boas condições tem capacidade de sequestro de cerca de oito toneladas de CO2/ano. Levando em conta os nossos mais de 160
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#pecBR | JANEIRO/FEVEREIRO 2020
milhões de hectares de pastagem, é possível calcular a efetividade dessas áreas na retirada do CO2 da atmosfera, o que foi, inclusive, um dos fatores que viabilizou a criação de programas de produção sustentável, como os programas Carne Carbono Neutro e Carne Baixo Carbono, destinados às propriedades que produzem em sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), e aquelas onde a maior parte do ciclo produtivo é baseado a pasto, respectivamente. Os bons números da pecuária tendem a melhorar cada vez mais, tendo em vista a continuidade do emprego tecnológico em nossos sistemas, junto à uma mão de obra cada vez mais qualificada. Projeções apontam que até 2050 a população mundial será de cerca de 9,2 bilhões de pessoas, e atribui-se ao Brasil a responsabilidade de alimentar 1/3 dessa população, o que vai demandar um aumento superior a 70% na nossa produção. Atingiremos essa meta de forma eficiente e sustentável, como sempre fizemos, desde os prelúdios da pecuária brasileira.