N ° 32 - Rio + 20

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Crise ambiental ou crise da civilização?

Todavia, parece que há vida inteligente no planeta Terra e a diplomacia brasileira começa a mudar o tom do discurso. A Rio+20 é o fórum ideal para se discutir a crise planetária em sua dimensão global e em toda sua complexidade, a começar pela crise econômico-financeira e do modelo neoliberal e a consequente turbulência da economia de mercado. Para o embaixador Correia do Lago, essa conferência deve ser o G-20 (fórum mundial que reúne as principais economias do mundo com um viés nitidamente financeiro) para discutir economia, inclusão social e meio ambiente. Concordamos plenamente com essa postura, menos com a subordinação hierárquica, pois entendemos que a economia é um capítulo da questão ambiental, do qual a economia depende, pois não há economia sadia construída num ambiente doente. As leis biológicas, as cadeias tróficas (nutricionais) e o capital natural falam mais alto que o dólar, o rublo, o euro, o real, a peseta e todo esse papel-moeda pintado. Contudo, vamos além. A crise econômico-financeira veio em boa hora, pois nos obriga a pensar o todo e suas partes, numa relação inseparável, bio-unívoca e umbilicalmente conjugada. Tudo muito bem, tudo muito bom, mas há um fator complicador: os países hegemônicos não aceitam misturar todos esses temas num mesmo caldeirão. Não aceitam a visão holística da ciência e da prática ambiental. Cada coisa é uma coisa, não pode misturar a estação, na velha fórmula de Niccolo Machiavelli – dividir para administrar. Parece que a postura da Casa de Rio Branco é mais do que bravata, pois a presidente Dilma Rousseff deixou de comparecer à reunião em Davos e preferiu participar do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, onde deitou falação progressista e embarcou para Cuba e Haiti. Lá pontificou – menos armas e mais amparo econômico. Segundo suas palavras, é preciso mais ousadia e determinação. O recado está dado e nós, como sociedade civil independente, apartidária, devemos saber decodificar a fala do trono. Agir com discernimento ante esses caminhos que se cruzam, buscando a alternativa correta que melhor atenda ao nosso destino como povo e como cidadãos do planeta Terra, comprometidos com os valores maiores da ética planetária, da solidariedade, da inclusão social, da maior simetria entre povos e nações, da sobrevivência do Homem e da Gaia, como organismo vivo, do qual fazemos parte. Para nós, a Rio+20 deve discutir um novo marco da civilização, em toda sua complexidade e ambiental por inteiro, nunca um meio ambiente pela metade. Com este objetivo, vale mobilizar todos os recursos e as forças vivas do planeta, já que ele está vivo, ainda que Mauro Victor

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