Revista Noz 3

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6  North by Northwest. Direção de Alfred Hitchcock. EUA: 1959.

comum que ele assim resume, a partir de múltiplas definições de dicionários. O lugar é tanto “espaçovisto” quanto o é a paisagem. A grande planície descampada onde Cary Grant tem um encontro marcado em Intriga Internacional 6 deve ser lida como lugar, paisagem ou espaço? É claro que as três perspectivas são possíveis, mas cada uma privilegiará aspectos diferentes. Cada uma supõe um olhar específico. Assim sendo, é provavelmente a partir da qualidade do olhar que convém pesquisar. O senso comum já faz referência a isso: “a extensão de região vista sob um único ângulo”. Entretanto, convenhamos que a fórmula “sob um único ângulo” não é identificada pelo seu rigor metodológico. Mais úteis se revelam os complementos semânticos demonstrados mais adiante por François-Pierre Tourneaux. Três critérios da (bela) paisagem são colocados em evidência: a dominação, a amplidão e a variedade. Observa-se que, destes três traços, apenas um se refere ao objeto observado: a variedade. Os dois outros definem a posição do olhar: à distância e em posição elevada. A partir daí indica-se a característica dominante da paisagem: ela só tem sentido —diferentemente do lugar— quando relacionada ao olhar que ela atrai e com relação a sua própria constituição. Compreende-se, então, que a paisagem seja tão freqüentemente pensada como espetáculo, com seus corolários, que são o valor estético, e os sentimentos que ela é capaz de produzir.

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É claro que estas características são encontradas no cinema, embora um tanto deslocadas: a paisagem torna-se, aí, um espetáculo dentro do espetáculo. São as leis do primeiro espetáculo que vão determinar as características e as funções do segundo. Neste sentido, a paisagem deve ser pensada como um objeto construído, capaz de atrair o olhar do espectador e participar de uma estratégia discursiva que a engloba. Compreendemos que se existem paisagens no cinema (paisagens concebidas pelo senso comum ou descritas pelos geógrafos) elas não são a paisagem do cinema, embora façam parte dele. Esta última resulta menos da natureza do objeto representado (paisagem rural ou urbana, predominância da natureza e do meio-ambiente sobre o homem, configuração harmoniosa dos elementos espaciais, etc.) do que do olhar do espectador que constrói o discurso fílmico. Em termos mais simples, ela está mais para o lado da enunciação do que do enunciado.

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