Revista Nerva #1 Autobiografia

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#1 auto bio gra fia




autobiografia O que emerge nesse tempo instaurado é maior que tudo que possamos dizer.

O susto de se perceber carne, segredo, experiência, ficção.

Corre teu olho e tuas mãos por essa revista e só então volta ao texto.

A própria voz gravada, repetida, conversando consigo, do antes para o agora.

Aqui não se explica nada. Escrevemos do lugar de não saber. Uma suspensão-mergulho em mar aberto. Nerva é feita do que as pessoas dizem de si mesmas, do que fabricam o olho e a pele e as mãos e o jeito de fazer. É feita também do que não se pronuncia, do que extrapola, escorre, derrama: sempre além, sempre um tanto mais. O instante de prender a respiração e dar o corpo à queda.

Guardar a palavra. Esquecê-la. Nerva é corpo. E é também a fratura no próprio corpo. A fenda. O que não tem cabimento.

Houve um tempo em que acreditamos na separação entre o insólito e o irreal do mundo o, entre o impossível de quem somos e o que dizemos sobre nós. Como se não fôssemos feitos do mesmo material do indizível. Como se não fabricássemos, a cada dia, a experiência de quem somos no mundo e, ao mesmo tempo, um mundo pra abrigar nossa experiência.



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Tudo que não faz sentido e que não pode ser explicado nos atravessa e se instaura. É por isso que NERVA é uma revista que é duas, mas é uma só. Porque somos muites. Incontáveis. Mesmo aqui, tão dissonantes tantas vezes. É com os pedaços do impronunciável que contamos nossas histórias. É um gesto imenso - muito maior que nós - manejar as obras que escorrem aqui. Escorrem porque fluidas, porque água e também língua de fogo, lambendo tudo enquanto se fortalecem e se avolumam. Cozer essa superfície revista nos convoca como os nomes próprios convocam quando são ditos em voz alta. É preciso cuidado e é preciso também delírio: mergulhar e turvar a vista, abrir as mãos e deixar o ar circular. Abraçar as contradições. As impossibilidades. As ilusões. As ficções. Um dia, Karina das Oliveiras empunhou um espelho que tanto brilha e reflete quanto encandeia: a vista turva, a mão segura um pedaço de sol. Daqui fazemos a Nerva como quem olha o espelho, a mão, como quem olha Karina e olha a parede verde - a Nerva e a parede tão desprevenidas de tanta luz e tanta opacidade. Atônitas. Nerva talvez seja o desejo atônito do que jamais conseguiríamos se já não fosse. NERVA diz com sotaque cearense. Cantado. Tentamos juntes, aqui, uma canção desesquecida. Entoada como quem olha o tempo. A dança a que emprestamos nosso corpo é essa dança impossível de quem se espanta e se cala e se transforma e aumenta por dentro. Nosso exercício é de quem abre e fecha os olhos e as mãos. Essa revista é feita do que é dito e visto e é feita do impronunciável e do invisível.

Fabricar a si e ao mundo é uma atividade do corpo inteiro, como tudo que aí está. E sequer sabemos como nomear. É o embaçado de tirar os óculos e é o vermelho de fechar os olhos no sol. si eu mundo nós tempo sonho mim a gente silêncio [talvez falar de si seja isso] Essa revista é um jeito de guardar as nossas histórias. As que nos negaram, as que tiraram de nós, as que moldamos e também as que nos acompanham desde que nascemos e são repetidas à exaustão, até que pareçam nossas e façamos delas uma casa ou uma luva para pegar a vida que passa. É também um jeito de se ver: guardar um pedaço de si numa superfície. Fazer de cada página uma granada ou um travesseiro, talvez uma janela, ou ainda um pôster, pra botar na parede do banheiro ou na porta da geladeira. Agora que contamos nossas próprias histórias, e com elas fabricamos o mundo, nosso corpo - superfície da memória - recebe a si e a outres de nós. NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS O PERIGO NÓS SOMOS Você pode ouvir? É Monstra quem diz. E, com ela, dizemos nós. E dizemos como diz Beatriz Almeida e diz Mathilde: não deixarei você esquecer.

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Rhaiza Oliveira _

Judá Nunes _

Mel Andrade _

Beija _

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Luana Diogo _

Jaque Rodrigues _

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Yasmin Nogueira _

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Rafaela Texeira

SID+

Raíssa Dias _ Dayane Araújo _

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Mika _

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Cau

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Barbara Moira _

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G Gomes _

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Juliana Fontes

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Vitória Sena _

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Louise Formiga

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Arthemis _ Ana Reis _ Marcela Cavalcante _

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Geysa Moura _

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Larissa Moraes

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Ma Njanu _

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Paloma Pajarito _

Elton Panamby

Flora Tavares

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Rayellen Alves

Beatriz Gurgel

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Rachel Gomes _

Cassia Albano

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Talita Sales _

Fruta Gogoia _

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Gabriela Guido _

Iaci _

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Pâmela Queiroz _

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Beatriz Almeida _

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Nastroyanni _

103 Zona

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Socorro Souza _

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Luabia

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Barbara Freitas _

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Taliboy _

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Joyce S. Vidal _

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Amanda Guimarães _

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Pequeno Marginal _

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Zeza Maria

_

CAPA

Lui Foito _

ZINE

Ella Monstra

expeDieNTe

corpo

ANA ANIE LOUISE MARÍLIA SIMONE TAIS

editorial:

ALINE, BARRETO, FÉLIX, OLIVEIRA BARRETO MONTEIRO, textos editoriais: MARÍLIA OLIVEIRA TAIS MONTEIRO revisão geral: LOUISE FÉLIX s i t e : ANIE BARRETO edição de arte, projeto gráfico, produção gráfica, diagramação, tratamento de imagem: DARWIN MARINHO ELLA MONSTRA


Rhaiza Oliveira, PE

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NAQUELE DIA HOUVE UM BEIJO, UM JOGO DE PRINCESA E FOGO NA CASA AO LADO. MEU PRIMEIRO BEIJO FOI UMA MISSÃO DE PRINCESA, PARA ACORDAR O HOMEM QUE DORMIA SONO PROFUNDO NA CAMA DA MINHA MÃE. ERA IMPORTANTE QUE HOUVESSE O BEIJO, ELE PODERIA MORRER CASO NÃO FOSSE ACORDADO PELO BEIJO. E LOGO DEPOIS O FOGO COMEÇOU. MAMÃE CHEGOU DEPRESSA DE SUAS COMPRAS NO CENTRO. ACREDITAVA SER NA NOSSA CASA, O FOGO. ERA O FOGO DO INÍCIO DO INFERNO. MAS AS CHAMAS PEGARAM NO LUGAR ERRADO, ERRO POR DUAS CASAS NO DADO JOGADO POR DEUS. HAVIAM GRITOS. ERAM DO HUSKY SIBERIANO DA VIZINHA. ELE FICARA PRESO AO BUJÃO DE GÁS E MORREU CARBONIZADO. QUEM ESTAVA LÁ, LEMBRA QUE PARECIA GENTE GRITANDO. A DOR DELE ECOA A CADA VEZ QUE SE PODE LEMBRAR. ELE GRITAVA POR ELE E POR MIM. Mel Andrade, CE

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AUTOBIOGRAFIA

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Luana Diogo, CE

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Yasmin Nogueira, BA

Embrulha-me o estômago recordar dessa condição objetual em que éramos colocadas, coisas, peças, instrumentos negociáveis os quais eram apresentados repletos de adjetivos qualificando o produto, produto-corpo, produto-mulher, produto-leite, assim como as qualidades para a execução de afazeres domésticos, porque não bastavam os usos sexuais do corpo, o instrumento de procriação e aleitamento. Independente de nossas condições, se gestantes ou recém-paridas, a vantagem em nos adquirir estava também no investimento em obter além de uma ama, alguém para lavar, passar, engomar, coser, cozinhar e todas as demais ocupações com o lar. Sob o adjetivo prendada, éramos expostas como vitrine, afinal, a propaganda é a alma do negócio. Além dos atributos para a manutenção das casas, eram chamativas as frases que anunciavam o muito bom e abundante leite, a “imagem ideal de ama de leite requeria, portanto, que seus corpos fossem enaltecidos em termos dos atributos físicos e biológicos usualmente desejáveis, por exemplo, pelo fato da lactante ser “robusta” ou ter ‘leite sadio” O leite abundante era umas das importantes qualidades, deveríamos ser boas reprodutoras para que o alimento fosse frequente e novo, como a negra Elvira nos registros da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, em que serviu por oito anos, de fevereiro de 1861 até junho de 1869. A escritura aponta por meio do nome da proprietária, tratar-se da mesma cativa, mas os papéis não detalham sua condição de mãe, se tivera filhos e/ou abortos, apenas que seria boa de leite. “Elvira era uma daquelas consideradas como “boa cabra”, como animal farto e disponível para boas práticas de ordenha. Designada para usos diversos e ilimitados, incluindo práticas sexuais, a exploração mantinha um ciclo ininterrupto de produção e reprodução, enquanto ainda pudéssemos estar pejadas e amamentar, girava a roda da economia. Utilizadas de todas as formas para gerar lucro e prazer, não importavam os frutos de nossas entranhas, visto que nossas vidas poucos valiam. A dos negros rebentos menos importava pois o lucro tardava, sem contar que tais vidas sob as péssimas condições, pouco vingavam. Corpo-objeto, receptáculo tomado como posse através do ato sexual, a reprodução forçada.

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Desapossamento, posição de inferioridade “de sexo-gênero e de raça-etnia e exprimem a própria possibilidade do uso/abuso daqueles corpos de mulheres subjugados às formas da exploração compulsória”. Escorria por entre as pernas líquido viscoso, espesso, vermelho e quente, não o natural que retornava de 28 em 28 dias quando não gestava fruto no ventre, não o sangue das minhas regras, mas o sangue violento do abuso, da violação. Rompidas as barreiras do não, da negação do ato, era dor que me escorria entre as pernas. Tais práticas “vincaram as relações sociais e sexuais da sociedade oitocentista sendo, portanto, naturalizadas nas vivências cotidianas das famílias proprietárias de escravos e também naquelas que não possuíam escravos, por estarem orientadas pelo imaginário do patriarcado escravista”. Apesar dos nomes organizadamente anotados nos cadernos das instituições como a Santa Casa, ali não eram de fato os nossos nomes que importavam no documento, mas o controle financeiro do uso do corpo cativo. Não interessavam sob que circunstâncias éramos lactantes, se prenhas pela primeira vez, se vítimas de aborto – natural ou provocado pelas inúmeras atrocidades as que éramos expostas – se tínhamos filhos que vingaram, se esses poderiam estar com tanta fome quanto os expostos da Misericórdia. O nome marcado nas folhas hoje amareladas não atesta quem fomos, continuávamos anônimas tal qual as registradas nas fotografias dos estúdios sob as lentes do olhar europeu, permanecíamos silenciadas. Quem foi a pobre Elvira por tantos anos servindo à Santa Casa? Quais as condições que fizeram de seu corpo um produtor assíduo de alimento? Registros de nomes não nos fizeram mais humanas que as próprias cabras. Uma tarja negra cobria nossos olhos, não para que não pudéssemos ver o que ali se passava, isso já estava muito bem impresso em nossos corpos, mas não éramos de fato seres identificáveis, de subjetividades relevantes. De tarja nos olhos e sangue quente e fresco escorrendo por entre as pernas, nossa produção leiteira era como a atual indústria alimentícia, produzindo para servir, para nutrir não os nossos, mas os outros, aqueles que ocupam principalmente uma posição de poder, que especialmente podem pagar. Fui às ruas exibir a dor. Nas imagens: vendada, ensanguentada, de seios cobertos com a embalagem que acondiciona o produto resultante da exploração da maternidade.

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Rafaela Teixeira, CE

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Ju Fontes, SE

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Bárbara Moira, CE


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G Gomes, CE

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Arthemis, CE

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Ana Reis, BA

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Marcela Cavalcante, CE

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Geysa Moura, CE


Larissa Moraes, CE

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CÓDIGO BINÁRIO CÓDIGO Desde a infância, quando me entendo, entendo também as regras e os códigos. Ou seja, como tal comportamento era/é proibido por não ser adequado ao que foi pré-estabelecido para o meu corpo. Sobre como eu não deveria me comportar, os gestos que eram “feios”, o que não usar, quais lugares eram proibidos... Estou falando aqui, dos gestos e comportamentos que influenciam um imaginário coletivo sobre o que é ser “homem” ou “mulher”, “hetero” ou “homossexual”. Daí me encontro mergulhada na necessidade de articular estratégias de camuflagem para fugir das repressões e imposições de condultas cisheteronormativas, o que nem sempre se apresenta como uma tecnologia de disfarces normativos da representação cisgênera e heterossexual, inclusive, ela pode se apresentar como uma distorção ou uma grande confusão estética, causando caos e contradições. O Brasil é um país predominantemente cristão e como tal, nasci em berço católico/protestante e cresci dentro dos fundamentos e cultos protestantes. É importante então relembrar que a constituição do que conhecemos hoje como Brasil é baseada em processos coloniais, logo, fundamentalizadas no cristianismo. Assim, a política do cristianismo colonial é um instrumento bélico de controle civilizatório e, como tal, prevê códigos e uma norma. O corpo que ñ se adequa ao “código binário” é submetido aos processos

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de racismo, endemonização, escravidão, tortura e morte, a morte como prática de silenciamento, exclusão e apagamento permanente da memória material e imaterial desses corpos que tentam nessa estrutura, sobreviver ou viver na excelência e construir táticas politicas sociais de equidade e libertação. Quando eu reexisto às normas desse código, o cistema não me identifica como humano e porventura, me acusa como corpo estranho. Na medicina, quando o corpo humano percebe um “Corpo estranho” dentro dele, ele reage para expulsar este “objeto”. Essa metáfora é adequada para entendermos que a norma colonial estabeleceu corpos adequados e corpos estranhos, dessa forma, quando o corpo estranho é detectado todo o cistema se elabora para expulsão do mesmo. Nesse sentido não há outra escolha, se não, de construir a partir do próprio corpo e das marcas deixadas as minhas próprias estratégias de sobrevivência. Acho importante dizer que, não estou determinando uma outra norma, muito menos criando um manual a ser seguido a risco, estou aqui construindo um processo pessoal de libertação e emancipação do meu corpo e da minha identidade enquanto performance. Como minha vó diz, “Viny, desde pequenininho é cheio de lambança”. Se pensarmos no quanto o mundo tem de “lambança” e significar essa palavra como “diferente” ou “fora do normal” (cisgênero), sim eu (Judá) sou cheia de lambança. Judá Nunes, BA


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Beija, CE

EU CORRO NA CHUVA, ME REGO NAS TEMPESTADES DE MIM. MEU PEITO DERRAMA LEITE QUE BANHA A TERRA. DURANTE TODO O TEMPO, OLHOS FECHADOS E PEITO ABERTO. 46


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Jaque Rodrigues, CE

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SID+, CE

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Vitória Sena, PB


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Louise Formiga, PI

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AUTOBIOGRAFIA

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AUTOBIOGRAFIA

Elton Panamby, MA

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Rayellen Alves, PE


AUTOBIOGRAFIA

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Raíssa Dias, CE

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Dayane Araújo, CE


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Mika, PI


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Cau, BA


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Ma Njanu, CE I.

II.

Não sinto sem que sintamos corpórea I. rostos em série e coloridos entre tons quentes destacam-se numa escala cinza. II. não sucumbimos ao chegar aqui. mesmo ante todas as investidas, compartimos a experiência do corpo, o gosto, a face na superfície do desejo ou a própria sensação, que caminha na presença.

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III.

IV.

III. EU TAMBÉM SINTO e não sinto sem que sintamos. IV. a queimação urge entre o medo e a coragem: resistências contra a mortificação. seja pelo praguejar e na esconjuração, os rostos distorcidos flutuam para a incandescência de ser, isto é, desatando cada um dos nodos coloniais fixa-dores. {próxima página} V. a plasticidade como elogio do movimento: quando “estou sendo” destruo toda imobilidade e as sintaxes que nos dissolvem/transfigurar, aqui, é demolir a ideia de inexistência da sensibilidade.

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No dia que dormi e acordei triste o céu me acompanhou, desci a escadinha de casa e botei os pés na areia era injusto morar num paraíso e não conseguir sair do buraco que eu cavava por dentro dos meus ossos era injusto cavar um buraco desse tamanho nos meus ossos e a minha coluna nem cabia mais em mim passei um tempo que não lembro quanto olhando tudo aquilo imenso pensei que merda eu devia gravar uma imagem disso da minha cara sabe pra esfregar na minha própria cara sabe daqui a um tempo tipo quando eu encontrasse esquecidas essas fotos num harddrive emprestado da minha namorada e você me pergunta se doem meus ossos eu digo as vezes querida, mas cê sabe que é mentira o tempo de cavar buracos já era, mas o cheiro do ar continua o mesmo daquele dia que eu dormi e acordei pensando que ainda era noite.

Paloma Pajarito, CE

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Flora Tavares, BA

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Invasão descontrolada desavisada, exercício de ficção, construção de narrativas, uma mentira como todas as outras. Desejei ontem o cheiro do suor de um desconhecido que dançaria agarrado comigo uma noite inteira. Desejei como quem é possuída por uma besta fera que me engole de dentro pra fora. E de todas as bestas, feras e monstros que habitam dentro de mim, o desejo é o que mais tenho medo. Culpa. Culpa cristã que carrego entalada na garganta. Toda forma de prazer é e sempre foi proibida. Até ontem tive medo de encarar o desejo de frente, mas a partir de hoje essa fera há de engolir cada pedaço de culpa puta, profana. Que esse monstro rasgue o peito e saia pelos olhos, tome de conta das minhas mãos e escorra pela boca. Que todo pedaço de dentro de mim venha pra fora e dance. Dance dance dance, dance gritando e exorcizando cada mentira que me fizeram acreditar para querer menos, desejar menos, poder menos. Mova os meus pés em direções estranhas, pois o desejo sobretudo tem o poder de mover e levar a novos caminhos. É a energia que toma conta do corpo, que invade sem pedir permissão e que precisa se esvair de alguma forma. Vazar pelos olhos, pelos poros quando suor ou pelos dedos quando escrevo esse texto.

São os dragões que me saem do meio do peito.

Amanhã desejo que as pernas ainda dancem dentro ou fora do ritmo e que eu saiba receber e encarar o desavisado que me foge das mãos.

Beatriz Gurgel, CE

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Larissa Rachel Gomes Silva, CE

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Talita Salles, CE


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Gabrielle Guido, BA

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Pâmela Queiroz, CE


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MATILDE SIGNIFICA FORÇA DE COMBATE. DESSE NOME MUITAS LEMBRANÇAS SE CONSTROEM. ESFUMAÇADAS, COM SILÊNCIOS. NA PAREDE DA CASA HÁ PENDURADO UMA FOTOPINTURA, ÚNICO REGISTRO DOS ANOS PASSADOS, COMPARTILHADOS COM UM HOMEM. APENAS IMAGINO A OPRESSÃO QUE MATILDE VIVEU SENDO ACUSADA JUDICIALMENTE PELA MORTE DELE. AGORA ELA ENCORPORA COMO RESISTÊNCIA DE UMA MEMÓRIA. UM FRAGMENTO DE OUTRO TEMPO E DIMENSÃO. 94

Beatriz Almeida, CE


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Nastroyanni, CE


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LUABIA, CE

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Luabia, CE

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Bárbara Freitas, CE

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Taliboy, BA

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Joyce S. Vidal, CE


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Amanda Guimarães, CE


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Pequeno Marginal, CE

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Zona, PB

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Zeza Maria, BA


Cássia Albano, CE

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Fruta Gogoia, PI

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Iaci, AL

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122 Socorro Souza, CE



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