Revista Vieirense #13 - Colégio Antônio Vieira

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Alfabetização no tempo presente

Medicina com humanismo

Ano Inaciano

Crescendo com a criança do século 21

Formação vieirense que faz diferença

Oportunidade de renovação




EDITORIAL

Olhar de

O

desafio do ano que começa nos faz olhar na pers-

que investimos na formação docente de forma continuada,

pectiva de um novo cenário de esperança, um

buscando também educar a pessoa por inteiro: na cognição,

novo horizonte. Em nosso Colégio, esse olhar se

nos afetos, na espiritualidade, em todas as dimensões que

dá sempre por meio do ecossistema educativo da

possam contribuir na construção de seu projeto de vida, no

Companhia de Jesus, enraizado em seus pilares

seu desenvolvimento integral, como destaca Pe. Arturo Sosa,

e no que ela propõe enquanto missão de formar cidadãos e cidadãs globais críticos, conscientes, competentes, compassivos,

SJ, Superior-Geral da Companhia de Jesus. São temas tratados nesta edição da Revista Vieirense, em um

comprometidos e criativos.

momento especial para nós: as celebrações,

Um projeto que também considera o

como parte do Ano Inaciano, pelos 400 anos

que as crianças e jovens já trazem como

de canonização de Santo Inácio de Loyola,

bagagem, na sua “mochila existencial”, a

fundador da Companhia. Uma eterna inspi-

partir dos fatos históricos e do contexto

ração para nosso compromisso em prol de

em que eles vivem hoje, sendo pessoas

uma formação de excelência, que se con-

do século 21. Assim, termos da semân-

solida também a partir de cenários que vão

tica contemporânea, como intercultura-

sempre se atualizando, provocando a todos

lidade e cidadania global, entre outros

nós a estarmos a serviço de uma forma-

tantos, permeiam nosso currículo, em

ção integral que faça sentido para o tempo

um processo de diálogo constante com o

presente e ao que já se desenha de futuro.

contexto de mundo atual.

Uma boa leitura!

É a partir desse olhar a respeito de uma educação sempre instigante, pro-

Mariângela Risério

vocadora, com múltiplas possibilidades,

Diretora-geral

Expediente CONSELHO DIRETIVO Mariângela Risério Diretora-geral Sérgio Silveira Diretor de Gestão de Pessoas Ana Paula Marques Diretora acadêmica Juliana Argollo Diretora administrativa e financeira Pe. Emmanuel Araújo, SJ Assistente espiritual

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COORDENAÇÃO EDITORIAL Aidil Brites (DRT/BA 2619) JORNALISTA RESPONSÁVEL Joyce de Sousa (DRT/BA 1689) JORNALISTA ASSISTENTE Rodrigo Marques (DRT/BA 3190) FOTOS Paula Isa Menezes, Província dos Jesuítas do Brasil, Unisinos, acervos pessoais e banco de imagens. INFOGRÁFICOS Salomão Alves PRODUÇÃO Daniela Fernandes

REVISÃO Cristiane Sampaio (DRT/BA 1272) CAPA Igor Sampaio (aluno 4º ano EF) GRÁFICA Piffer Print DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO Diretores Yêda Nunes Leandro Maia

Tel: 71 3328-9500

vieira_oficial

www.colegioantoniovieira.com.br


SUMÁRIO

10 16 26 31 36

Salão Anísio Teixeira Por uma educação antirracista Entrevista - O Ensino Médio Avançado do Vieira Medicina com humanismo

Ano Inaciano

Pág. 06 >> Vieira: sempre à frente na história e no coração Pág. 12 >> Alfabetização hoje Pág. 22 >> Formação docente Pág. 23 >> Articulação pedagógica Pág. 24 >> Jesedu no dia a dia escolar Pág. 41 >> Humanidade em mundo pós-pandemia revista vieirense | 2022

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ESPECIAL

DO Sempre à frente na história, na aprendizagem e no coração

Ú

nico integrante na Bahia da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE), o Colégio Antônio Vieira

traz, no simbolismo dos algarismos dos seus 111 anos de história, um projeto educativo integral e integrador que está sempre colocando o aluno em primeiro lugar, inclusive como protagonista do seu processo de aprendizagem. A instituição integra a Companhia de Jesus, fundada na Europa por Santo Inácio de Loyola, que, ainda no Brasil Colônia, implantou de forma pioneira os serviços de educação em nosso país. Assim como seu patrono, o Padre Antônio Vieira – que, com seus mais de 200 sermões, é considerado um dos primeiros grandes oradores jesuítas –, o Colégio foi tam-

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Foi ainda o Vieira uma das primeiras instituições a investir em formação continuada de sua equipe, buscando hoje oferecer um projeto pedagógico que, efetivamente, faça sentido para as crianças e jovens do século 21, desde o 1º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio Estudantes expressam o protagonismo na aprendizagem e a admiração pelo colégio, a exemplo do aluno Wilson de Brito

bém um dos pioneiros a revelar uma educação de excelência, que se mantém ecoando na contemporaneidade. Foi ainda o Vieira uma das primeiras instituições a investir em formação continuada de sua equipe, buscando hoje oferecer um projeto pedagógico que, efetivamente, faça sentido para as crianças e jovens do século 21, desde o 1º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio.

VANGUARDA A valorização do protagonismo juvenil, por exemplo, que se apresenta agora como obrigatoriedade na reestruturação do currículo comum das escolas brasileiras com a Lei do Novo Ensino Médio, já fazia, assim, parte dos princípios educativos da Pedagogia Inaciana – sendo ainda mais evidenciada, a partir de 2016, com a primeira edição do Projeto Educativo Comum da RJE (PEC 2016-2020), que acaba de ganhar uma versão atualizada (PEC 20212025). O próprio estímulo, previsto na legislação, para que o jovem estudante comece a refletir e estruturar o Projeto de Vida também já é uma realidade no Vieira há sete anos, aliando orientação profissional e espiritual. É com a experiência, portanto, de quem sempre buscou estar na vanguarda da educação – e após superar, juntamente com alunos, famílias e colaboradores, os desafios impostos pelo contexto pandêmico dos últimos tempos – que o Vieira avança, em 2022, confiante de que o compromisso com sua missão educativa e a parceria da comunidade escolar deverão concretizar, novamente, não só um novo período de pioneirismo e grandes conquistas, mas também de muita afetividade.


ESPECIAL

VIEIRA em

AÇÃO

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MAIS VIEIRA

SALÃO ANÍSIO TEIXEIRA É NOVO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM DO VIEIRA

O

COLÉGIO PRESTA HOMENAGEM AO EDUCADOR E EX-ALUNO ILUSTRE

Colégio Antônio Vieira ini-

um grande referencial, e este espaço é exa-

INOVAÇÕES

cia as atividades letivas em

tamente para concretizar a sua importân-

O Salão Anísio Teixeira e seu hall cul-

2022 contando com um novo

cia como inspiração para a nossa escola,

tural unem-se agora aos demais es-

espaço de aprendizagem.

sabendo que ele bebeu dessa fonte que é

paços do Colégio Antônio Vieira que

Em homenagem ao ex-alu-

a Educação Jesuíta, tendo sido marcado e

passaram por reestruturação ou ino-

no ilustre, a instituição rebatizou o antigo

influenciado por ela, principalmente no seu

vações físicas, todas projetadas não

Salão C, de eventos, com o nome do edu-

humanismo”, destacou a diretora-geral do

só para o bem-estar do aluno, mas

cador Anísio Teixeira (1900-1971).

Vieira, professora Mariângela Risério, no

também para o desenvolvimento do

O salão, na verdade, não foi apenas re-

momento da inauguração do novo espa-

Projeto Político-Pedagógico do Vieira

nomeado. Foi ressignificado, ganhando

ço, ocorrida em outubro do ano passado.

na contemporaneidade.

também um hall cultural, com ilustração, fotos e textos que retratam um pouco da vida do estudante Anísio e a representatividade de seus ideais e obras para a história da Educação no Brasil. Com projeto assinado pelo arquiteto Gabriel Magalhães, ilustração do artista plástico Rildo Foges e acervo de imagens do Vieira e da Fundação Anísio Teixeira, o espaço passa a integrar os ambientes de aprendizagem do Vieira, servindo também de inspiração às novas gerações de estudantes e educadores. “Ao pensar a educação para todos, como um direito, Anísio Teixeira tornou-se

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AMBIENTES PARA APRENDER, CONVIVER E SE CONECTAR


CRESCENDO JUNTOS

Escola e família precisam estar prontas para acompanhar novo modelo mental da criança do século 21

E

m um universo em que as famílias vão aos poucos se adaptando às novas formas de aprendizagem no século 21, cabe mais do que nunca

à escola estar à frente e oferecer práticas pedagógicas conectadas aos novos interesses e múltiplas habilidades das crianças. O objetivo é promover a descoberta de conhecimentos de forma mais potente e estimulante para elas, sem deixar de assegurar os avanços tão esperados pelos pais e responsáveis nesta etapa escolar. A alfabetização, assim, precisa ir muito além das antigas cartilhas, em

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“No sentido metafórico, as crianças são as maiores ouvintes da realidade que as cerca. Elas possuem o tempo de escutar, que não é apenas o tempo para escutar, mas o tempo rarefeito, curioso, suspenso, generoso – um tempo cheio de espera e expectativa” Loris Malaguzzi

que até se aprendia, rapidamente, a ler fonemas e juntar sílabas, mas, muitas vezes, sem qualquer contextualização e respeito ao ritmo de aprendizagem de cada criança, como ser individual e social. Afinal, a interpretação de textos, a formação do senso crítico, a argumentação e a percepção de realidade – potencialidades que antes eram sequer cogitadas para a faixa etária – hoje saltam aos olhos nas crianças da geração atual. “A cada cinco anos temos uma nova geração, e a escola deve buscar sempre atualizar seu currículo e metodologias para atender ao novo modelo mental da criança do tempo presente, sobre-


As orientadoras educacionais Débora Santana e Cristiani Cravo Guerra atuam junto aos pequenos alunos e famílias

tudo após a internet, as redes sociais. É por isso que não faz sentido oferecer aos

às abordagens pedagógicas

contempo-

râneas, a exemplo

lores da Pedagogia Inaciana, marco da qualidade educativa dos colégios jesuítas em todo o mundo.

da italiana Reggio

O Projeto Pedagógico do Vieira, por-

Emilia, idealizada

tanto, está sendo sempre ressignificado

pelo professor e

para responder às demandas das crian-

poeta Loris Mala-

ças e jovens do tempo presente, man-

guzzi. O diálogo é

tendo-se conectado às suas aspirações

feito, entretanto, de

e contextos de mundo. No caso da alfa-

modo a fazer sentido

betização, “a proposta educacional bus-

para os princípios e va-

ca atender às expectativas do processo

5x2=1

=2

filhos uma escola igual à que os pais estudaram. A educação precisa evoluir para acompanhar as novas gerações”, afirma a diretora-geral do Colégio Antônio Vieira, professora Mariângela Risério, que é mestre em Gestão Educacional e doutoranda em Educação.

PARA ALÉM DA CARTILHA Os investimentos na formação constante de educadores fazem parte de um programa anual, inclusive com imersão em estudos e eventuais visitas técnicas em outras unidades educativas no Brasil e no exterior. O objetivo é estar atento

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1+1


CRESCENDO JUNTOS

de aprendizagem nesta etapa escolar, respeitando o momento de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, com ludicidade, desenvolvi-

crita, dentro de práticas contextualiza-

mento da consciência fonológica e uso

das, trazem sentido ao processo”, diz a

de práticas diversificadas de letramen-

professora Judith Pla Cid, que integra

to”, explica a equipe pedagógica dos 1º

a equipe do turno matutino. “A alfabeti-

e 2º anos do Ensino Fundamental, coor-

zação é definida como um processo de

denada pela professora Adriana Novis,

aprendizagem em que se desenvolve a

também pós-graduada na área.

habilidade de ler e escrever de maneira

MÚLTIPLAS LINGUAGENS

adequada e de modo a utilizá-la como um código de comunicação com o seu

“Reconhecer a criança e suas múltiplas

meio. A educação precisa, portanto,

linguagens nos desafia a encontrar no-

acompanhar esses tempos, principal-

vos caminhos. Assim, a leitura e a es-

mente em se tratando de crianças dinâmicas, lúdicas e cheias de vontade de aprender”,completa a professora

notei, de repente, saltos significa-

Roberta Santino, do turno da tarde.

tivos, com uma leitura mais fluida,

A equipe do Vieira conta ainda com orientadoras

educacionais,

por série, que fazem um acompanhamento personalizado do desen-

ele já revelava na escrita e na interpretação de mundo, mostrando que

era

mesmo

volvimento cognitivo

uma competência

e

que estava sendo

emocional

das

crianças, dialogan-

trabalhada

do também com os

escola dentro do

pais e responsáveis. A

administradora

Livy Assis revela que, ao acompanhar o desenvol-

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acompanhando os avanços que

pela

ritmo de aprendizagem dele”, conta. Ela destaca o apoio que teve da equipe pedagó-

vimento do filho Fernando, chegou a

gica do Vieira, orientando, “sempre

achar, em um primeiro momento, que

de forma muito afetiva e atenciosa”,

o menino estava tendo dificuldades

sobre a importância de uma alfabeti-

com a leitura. “Mas logo depois, prin-

zação para o tempo presente, inclusive

cipalmente após o retorno presencial,

em suas conexões com o futuro.


ARTIGO INFÂNCIA APRENDIZ

Acolhendo o universo

DAS CRIANÇAS

*

E

Por Paulo Fochi, coordenador

m sua obra Diário do Acolhi-

cabo suas ideias e visões sobre o seu entorno e a

do Curso de Especialização

mento na Escola da Infância,

si mesmas, em se solidarizar e se comprometer

em Educação Infantil da

o escritor italiano Gianfranco

com as dificuldades das crianças em expressar

universidade jesuíta Unisinos

Staccioli define muito bem o

seus sentimentos, auxiliando-as a perceber o que

sentido de acolhimento quan-

está acontecendo e como podem expressá-las.

(RS), mestre em Educação na linha Estudos da Infância pela Universidade Federal do

do comenta que este não pode ser um

Assim, acolher o universo da criança trata-se

sentimento restrito a um determinado

de uma postura ética frente aos processos de sub-

momento do dia ou do ano, mas “um

jetivações dos meninos e meninas recém-chega-

método de trabalho complexo, um modo

dos ao mundo. É uma abertura do adulto que sabe

Professores pela Universida-

de ser do adulto, uma ideia-chave no

do valor da esperança de esperar (FOCHI, 2013)

de de São Paulo (USP)

processo educativo” (2013, p. 25). Quan-

cada criança em suas aventuras e desventuras do

do o acolhimento se transforma em uma

aprender e, por isso, também compreender seu

postura do adulto para estar com as

papel em organizar um contexto que favoreça o

crianças, a lacuna que há entre os dois

acesso ao patrimônio sócio-histórico. Acolher não

mundos diminui, mudando, com isso, a

é uma atitude passiva frente às crianças, mas de

hierarquia das relações e dos diferentes

alteridade e abertura ao outro.

momentos da jornada educativa.

Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em Educação na linha de Didática e Formação de

*Trecho do artigo “A relação entre adultos e crianças na Educação Infantil”, publicado na Revista Educação Unisinos 2020.

significa acolher, já que é preciso efeti-

“Acolher uma criança é, também, acolher o seu mundo interno, as suas expectativas, os seus planos, as suas hipóteses e as suas ilusões”

var, na vida cotidiana, um modo distinto

Gianfranco Staccioli

Por esse ângulo, organizar o ambiente em termos de espaço, materiais e tempo é a tradução concreta do que

de estar com as crianças. Da mesma forma, propor situações em pequenos grupos, porque se compreende a natureza organizativa dos meninos e meninas, é acolher as suas necessidades. Não manter centralizado no adulto o pulsar da vida da escola e estabelecer um ritmo que considera as temporalidades das crianças são sintomas de uma transformação que compreende que as relações dos adultos com as crianças podem se dar por outras vias. Staccioli reforça que “acolher uma criança é, também, acolher o seu mundo interno, as suas expectativas, os seus planos, as suas hipóteses e as suas ilusões” (2013, p. 28). Por isso é que a postura do professor deve criar margens para as crianças levarem a

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ARTIGO EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

RELAÇÕES

ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

Por Nanci Franco, doutora em

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar” Nelson Mandela

especial sobre o tema para

Educação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). A professora conduziu a formação educadores do Vieira.

Painel na Biblioteca do Vieirinha homenageia escritora negra Carolina Maria de Jesus

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E

ducar para as relações étnico-raciais é um dos caminhos para combater o racismo e a discriminação racial presentes na sociedade e, consequente-

mente, na educação para crianças. Para tanto, é necessário que a história seja contada a partir de várias perspectivas, dando visibilidade às diferentes culturas no universo escolar e atentando ao que apregoam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: “O combate ao racismo e às discriminações de gênero, socioeconômicas, étnico-raciais e religiosas deve ser objeto de constante reflexão e intervenção no cotidiano da educação infantil”. Para que isso ocorra é necessário que o trabalho em sala de aula passe por estratégias pedagógicas que, ao trabalhar a autoestima das crianças pequenas, fortaleçam o seu processo de construção de identidade étnico-racial, propiciando relações sociais mais harmônicas entre os diferentes.

“É necessário que o trabalho em sala de aula passe por estratégias pedagógicas que, ao trabalhar a autoestima das crianças pequenas, fortaleçam o seu processo de construção de identidade étnicoracial, propiciando relações sociais mais harmônicas entre os diferentes”

PROGRAMA PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA No Colégio Antônio Vieira, as questões que emergem dos estudos e práticas em torno da temática antirracista vêm sendo desenvolvidas em consonância com o Projeto Político-Pedagógico, bem como com os documentos da Companhia de Jesus e orientações da Igreja Católica, a exemplo do Pacto Educativo Global. Dentre os dez identificadores globais de uma educação jesuíta, o documento Colégios jesuítas: uma tradição viva no século 21 traz, por exemplo, elementos como a interculturalidade e a missão de formar cidadãos voltados para a construção de um mundo melhor. “Neste contexto, a educação antirracista, antes mesmo de qualquer viés ideológico, sociológico, antropológico, é tida hoje como uma ação de reconciliação e justiça”, explica o presidente da Federação Latino-americana de Colégios da Companhia de Jesus (Flacsi) e da Rede Jesuíta de Educação Básica no Brasil (RJE), Irmão Raimundo Barros, SJ. “Preconizada na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a proposição antirracista no Vieira é assim trabalhada como parte de um diálogo dinâmico e vívido com as questões da educação na atualidade e com os seus sujeitos, dentro de uma sociedade global cujos fenômenos, cada vez mais, reverberam no ambiente escolar”, ressalta a coordenadora do Comitê para Educação Étnico-Racial e de Gênero do colégio, a psicopedagoga e orientadora educacional Camila Portugal.

São estratégias simples que po-

cumentos oficiais, a exemplo da Lei

dem ser usadas no cotidiano da esco-

10. 639/03, as Diretrizes Curriculares

la, construídas a partir dos conheci-

Nacionais para a Educação Infantil,

mentos prévios e dos interesses das

documento que reúne princípios, fun-

crianças, levando em consideração as

damentos e procedimentos para orien-

especificidades locais e com a utiliza-

tar as políticas públicas e a elaboração,

ção de recursos normalmente já exis-

planejamento, execução e avaliação de

tentes na própria escola. Aliado a isso

propostas pedagógicas e curriculares

existe a necessidade de parceria entre

de Educação Infantil, a cartilha Educa-

a escola e a família.

ção Infantil e Práticas Promotoras de

As estratégias pedagógicas apontadas levam em consideração os do-

Igualdade Racial, bem como as pesquisas existentes na área.

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ARTIGO EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

RESGATE E VALORIZAÇÃO

sujeitos [...]”, afirmando a pedagogia da

As estratégias normalmente utilizadas

infância enquanto um instrumento para

para trabalhar as relações raciais com

além da lógica única do colonialismo.

crianças pequenas são: roda de con-

Diante disso, a educação na e para

versa, contação de histórias, utilização

a diversidade se coloca como um desa-

de vídeos/filmes, música, desenhos

fio/possibilidade de prática pedagógica

diversos (árvore genealógica, retrato,

promotora da igualdade na educação

autorretrato), teatro, brincadeiras com

para a criança, na perspectiva da com-

bonecos, atividade de pesquisa, produ-

preensão da mesma enquanto sujeito

ção de textos coletivos, capoeira, ofici-

histórico, social e cultural, portador de

na de trançado de cabelo, resgate das

direitos e participante na construção de

brincadeiras, entre outras.

uma sociedade mais humana e mais

Essas estratégias propiciam momentos significativos de resgate da ancestralidade, da história do seu lugar – estado, cidade, bairro – e das diferentes pessoas que o construíram, do fortalecimento da identidade étnico-racial e de possíveis conflitos raciais, entre outros. E cumprem o seu papel de propiciar momentos em que as diversidades sejam contempladas no espaço da sala de aula.

EDUCAR PARA AS RELAÇÕES RACIAIS (...) Finalizando, acreditamos na importância de “educar para as relações raciais”, dar visibilidade a diferentes culturas no espaço da escola, trabalhar a autoestima das crianças, fortalecer o seu processo de construção de identidade étnico-racial, construir relações sociais mais harmônicas entre os diferentes, o que colabora no seu processo de construção de conhecimento. Flávio Santiago (doutor em Educação e pesquisador das relações étnico-raciais no ambiente escolar dessa faixa etária) afirma que “o papel central da educação das relações étnico-raciais é fazer visíveis as diferenças, tornando a educação infantil um espaço privilegiado de encontros de culturas, saberes, etnias e

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justa, na qual todos tenham voz enquanto sujeitos de direitos.

“A educação na e para a diversidade se coloca como um desafio/ possibilidade de prática pedagógica promotora da igualdade na educação para a criança”

Trecho do artigo “Pesquisar e educar para as relações étnico-raciais na educação infantil: uma luta contra o ruído do silêncio”, com coautoria do Prof. Dr. Fernando Ilídio da Silva Ferreira/UMINHO, publicado na Revista Zero a Seis, v.19 n.36: Dossiê: As lutas pela Educação Infantil: políticas, direitos e pedagogias.


Ações do Comitê para Educação Étnico-Racial e de Gênero do Vieira

Palestras e aulas sobre a riqueza da diversidade

•Formação específica para a equipe de professores e colaboradores, ministrada pela Profa. Nanci Franco (Ufba), especialista no tema. •Inauguração de painel na biblioteca do Vieirinha em homenagem à escritora negra Maria Carolina de Jesus.

Livros temáticos

•Aquisição pela biblioteca e recomendação de livros de autores negros ou que abordem a temática antirracista e da diversidade. •Produção de materiais pedagógicos e vídeos para uso em sala de aula e nas redes sociais com temas e imagens que abordem o respeito às diferenças, mesmo quando o assunto não é especificamente sobre o tema.

Oficina de Bonecas Abayomi

•Abertura do treinamento Estratégias de Abordagem na Cultura do Cuidado, capacitação voltada para as equipes de segurança patrimonial. •Reuniões mensais com a articulação da Província dos Jesuítas no Brasil em relação às questões étnico-raciais.

Arte inspirada em tecido africano

Valorização da interculturalidade no dia a dia

•Formação especial, dentro do Programa de Desenvolvimento de Gestores (PDG). •Participação no Encontro Nacional da Articulação Relações Étnico Racial – Jesuítas Brasil, realizado com o objetivo de consolidar uma agenda antirracista única para as unidades educativas e demais obras da Companhia de Jesus no País.

Afirmação de potencialidades

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ARTIGO CONEXÃO FAMÍLIA E ESCOLA

Pais dos alunos Igor e Cauã, os professores universitários Maria Carolina e Leobino Sampaio acompanham a abordagem das questões étnico-raciais na escola

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Exercitando no dia a dia a reflexão sobre

DIVERSIDADE E DIFERENÇA

Q

Por Maria Carolina de Souza Sampaio, mãe vieirense, professora de Administração na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisadora na área de Educação.

uando eu e meu marido fo-

estudantes. Como a escola oportuniza-

partir do estudo de personalidades ne-

mos escolher a escola de

ria esse diálogo? Como esse tema seria

gras, dentre várias outras iniciativas. A

Igor e Cauã, fizemos uma

discutido de forma integrada a outros

escola é proativa no que diz respeito ao

pesquisa ampla, conside-

tantos assuntos críticos para a forma-

acolhimento das questões étnico-raciais

rando não apenas o projeto

ção cidadã global de nossos filhos.

no seu cotidiano e está frequentemen-

pedagógico, a infraestrutura, o desempe-

Tanto em nossa primeira visita ao Co-

te desafiando os alunos a refletir, com-

nho dos estudantes nos exames nacionais,

légio Antônio Vieira quanto nas reuniões

preender e investigar o tema, com o de-

mas especialmente como a escola poderia

individuais com a equipe pedagógica,

senvolvimento de projetos e pesquisas.

contribuir conosco na formação de nossos

tivemos a oportunidade de externalizar

filhos, reforçando valores que considera-

essas nossas demandas e fomos acolhi-

INCLUSÃO E ACOLHIMENTO

mos fundamentais, tais como: cidadania e

dos com respeito e cuidado. A equipe nos

Notamos, assim, também a partir de

responsabilidade socioambiental.

sinalizou como essas questões estavam

outras evidências, que o Vieira é uma

Esperávamos que a escola pudesse

em destaque no projeto pedagógico da

escola que demonstra interesse na in-

convidar nossos filhos a exercitar a refle-

escola. Inclusive já identificamos a ma-

clusão, aproximação e acolhimento das

xão crítica cotidiana a respeito da diver-

terialização das ações planejadas em ati-

diferenças e das diversidades. Não só

sidade e da diferença, assim como esti-

vidades e projetos que foram realizados

dedica esforços para promover a edu-

mular a curiosidade pelo conhecimento

pelas turmas dos nossos filhos, quando

cação para a cidadania global como

de nossas origens, ancestralidade e his-

eles foram convidados a conhecer a cul-

possui uma equipe que demonstra

tórias de nossa sociedade, sem perder

tura africana, a pensar sobre o racismo,

estar atenta às contextualizações das

de vista o interesse pela compreensão do

a debater sobre a representatividade, a

demandas locais da cidade e de suas

mundo de hoje e o que há por vir. Outro ponto decisivo para a nossa escolha consistia no reconhecimento transparente da escola a respeito do racismo estrutural que testemunhamos diariamente. Queríamos que a escola de nossos filhos não apenas reconhecesse que o racismo está presente em nossa sociedade e no ambiente escolar, como também estivesse implicada para discutir, abertamente e de forma respeitosa, a questão. Por isso, nos importava muito quais eram as ações desenvolvidas pela escola para promover a educação étnico-racial dos seus

famílias. Isso nos deixa muito seguros

“A escola é proativa no que diz respeito ao acolhimento das questões étnico-raciais no seu cotidiano e está frequentemente desafiando os alunos a refletir, compreender e investigar o tema, com o desenvolvimento de projetos e pesquisas”

em relação à nossa escolha. Esse sentimento também é externalizado diretamente ou indiretamente por nossos filhos, seja pela alegria ao acordar para ir à escola, pelos comentários e narrativas do dia a dia sobre o ambiente escolar ou quando observamos como eles ampliaram seus repertórios sobre o tema, posicionando-se a respeito das questões étnico-raciais de maneira crítica e sensível. Os desafios são muitos e cotidianos, mas estar aberto a essas questões e agir nessa direção, para nós, como família, já é um grande passo à frente.

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ARTIGO EDUCADOR

Formação docente Reconhecendo o agora de olho no amanhã

S

er professor é estar em trans-

saber contar histórias, ganham ainda mais for-

Por Gustavo Borba, profes-

formação constante. A pan-

ça, para que possamos desenvolver um processo

sor da universidade Unisi-

demia que estamos vivendo

de aprendizagem baseada na experiência, onde

nos (RS), coautor do livro

nos mostrou isso mais uma

temos o assunto, o laboratório, a sala de aula,

“A Escola do Futuro: O Que

vez, quando precisamos, de

o currículo, como elementos mediadores e po-

uma hora para outra, reinventar nossos

tenciais facilitadores de um processo de enga-

processos e redesenhar a forma como in-

jamento. Esse ciclo virtuoso de construção de

teragimos com nossos alunos. Buscamos

competências e de desenvolvimento de novas possibilidades demanda, cada vez mais, a forma-

Querem (e Precisam) Alunos, Pais e Professores” e diretor do Instituto para Inovação em Educação. Foi um dos facilitadores do Programa de Formação Docente do Vieira.

ção continuada de todos nós, professores.

PROJETANDO O NOVO Foi nesse contexto que participei da proposta de

impactar. Quando falamos

formação do Colégio Antônio Vieira, uma pro-

em cenários no campo do

posta de formação inovadora e articulada, que

design, não estamos preo-

trouxe ainda mais forte para os professores a

cupados em adivinhar o fu-

compreensão de seu protagonismo para a trans-

turo ou em acertar o que vai

formação da educação. Na atividade que desen-

acontecer, mas em apren-

volvi, nosso foco foi compreender que somos pro-

der, a partir de diferentes

jetistas, somos todos designers da nossa aula e,

possibilidades, o que nos

por conta disso, precisamos utilizar ferramentas

dá mais conhecimento e

que nos permitam construir para e com os estu-

preparo para o que está por

dantes. Como atuo no campo teórico do Design,

vir, independentemente do

alternativas, estudamos diferentes pla-

busco nesse espaço a compreensão de que um

que será. O projeto de for-

taformas, aprendemos diferentes tecno-

projeto demanda a cocriação, a compreensão do

mação continuada do CAV

logias e retomamos os espaços de ensi-

outro, a entrega de um objetivo e um percurso

traz em sua essência essa

no-aprendizagem, buscando desenvolver,

que não se repete na semana, não se repete no

construção: a importância

em nossa interação com os estudantes, o

mês, não se repete a cada ano.

de reconhecer o agora, de

seu engajamento no processo de apren-

Projetamos sempre o novo, a partir do que sa-

der, o seu engajamento no processo de

bemos, e assim podemos também aprender so-

construir conhecimento.

bre o que está por vir. Em nosso debate tivemos

Embora o uso da tecnologia tenha sido

a oportunidade de olhar para o futuro, de

acelerado pela necessidade de conexão re-

compreender que cenários podem

mota, é fato que precisamos estar constan-

estar se delineando na educação

temente aprendendo e nos desenvolvendo

e como esses cenários podem nos

enquanto professores. Esse processo, especialmente quando avaliamos o contexto do século XXI, demanda a ampliação de nossas competências e a busca por formas diferentes de ensinar e de aprender. Competências que antes ficavam em segundo plano, como saber ouvir os alunos, saber projetar nossa aula,

22 revista vieirense | 2022

promover a cocriação e de olhar para o amanhã.


ARTIGO GESTÃO ESCOLAR

Planejando e organizando processos, a articulação pedagógica consolida-se como instrumento essencial do projeto educativo do Vieira

A

articulação

pedagógica

no

Colégio Antônio Vieira surge

Por Eliana Fonseca, articuladora pedagógica do 1º ao 7º ano do Ensino Fundamental (EF) e coordenadora pedagógica do 7º ano EF no Colégio Antônio Vieira

gicos, favorecendo a construção da unidade, do diálogo entre as séries e da qualificação do trabalho.

em 2010 e se estende até o

As reflexões sobre a articulação pedagógica como

presente momento, buscando

FAVORECER A CONSTRUÇÃO DA UNIDADE – A

importante instrumento no

responder às demandas do

partir da atitude de cooperação, por meio da es-

processo de ensino e aprendi-

cuta cuidadosa e atenta, e da atitude empática.

zagem não se encerram aqui,

tempo presente, em diálogo constante com a direção geral, com a direção acadêmica

até porque ela estará sempre

e com a coordenação pedagógica, sendo

ALINHAR PROCESSOS – O que se revelou essen-

se construindo, no gerúndio

sempre pautada na relação de confiança

cial, sobretudo, diante do contexto de pandemia

da palavra, provocando-nos,

e de cooperação. Nesse contexto, procura

que obrigou os colégios a funcionarem de for-

deslocando-nos na busca in-

estar, lado a lado, com as coordenações

ma remota, tendo que se ressignificar de forma

cessante de respostas para as

pedagógicas nas pautas formativas, no

abrupta, sempre alinhando os processos e ava-

nossas inquietações. Assim, a

alinhamento dos processos, na tomada de

liando os percursos.

pesquisa continua, pois está

decisões, vivenciando os problemas, dialo-

em constante construção.

gando, refletindo, discernindo e buscando

FAVORECER PAUTAS FORMATIVAS – Os momen-

coletivamente os melhores caminhos.

tos formativos são espaços potentes de apren-

Nessa itinerância, as ações da articu-

dizagem e de deslocamentos, possibilitando a

lação pedagógica vão se ampliando e se

ampliação de repertório, a reflexão coletiva e

ressignificando, diante das insurgências e

partilhada das práticas pedagógicas das coorde-

necessidades do tempo presente, criando

nadoras, gerando intervenções no processo de

raízes sólidas, embasadas na cooperação,

aprendizagem da comunidade.

na confiança, no respeito e com o compromisso com a formação integral. Cito as ações de maior relevância na prática da articulação pedagógica: OLHAR SISTÊMICO – Importância do olhar sistêmico para o desenvolvimento e a qualificação das práticas pedagógicas e do trabalho em rede. REFLETIR SOBRE A PRÁXIS PEDAGÓGICA – Possibilita a interação e a troca de saberes. TRABALHAR EM REDE – Amplia a conexão e o alinhamento entre os processos pedagó-

*Extraído da dissertação de Mestrado em Gestão Educacional da autora, de título original “A Articulação Pedagógica como Prática de Gestão Escolar: caminhos possíveis para a qualificação dos processos pedagógicos” (2021).


CONGRESSO JESUÍTA

VIVENDO O JESEDU NO DIA A DIA ESCOLAR

Equipe de líderes do Vieira traz para o cotidiano temas debatidos no colóquio mundial de educadores de instituições da Companhia de Jesus Educando para a Fé”,

Após uma equipe de líderes do Viei-

“Educando para a Profun-

ra ter participado do colóquio prepa-

didade”, “Educando para a Reconci-

ratório, promovido pela Federação La-

liação” e “Educando para a Cidadania

tino-americana de Colégios Jesuítas

Global”. Os quatro temas tratados por

(Flacsi), a diretora-geral do colégio,

delegados das instituições de educação jesuíta de todo o mundo, durante a edição

professora Mariângela Risério, representou a instituição no II Jesedu. Ela agora atua

virtual do II Colloquium

também

Jesedu, realizada no ano

multiplicadora das ques-

passado,

consolidam-se

no dia a dia escolar do Colégio Antônio Vieira. O objetivo do Jesedu, termo que vem da

como

agente

tões discutidas junto aos educadores da instituição. A professora Mariângela Risério explica que os quatro

“O objetivo do Jesedu, termo que vem da abreviação de Jesuit Education, é repensar, à luz dos novos desafios atuais, os paradigmas da educação nos colégios da Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola”

abreviação de Jesuit Education, é re-

eixos temáticos trazidos pelo II Jesedu

pensar, à luz dos novos desafios atuais,

não são novos. Todo o trabalho de refle-

os paradigmas da educação nos colé-

xão do evento teve como norte o docu-

gios da Companhia de Jesus, fundada

mento Colégios Jesuítas: Uma Tradição

Pedagogia Inaciana sempre foi cons-

por Santo Inácio de Loyola.

Viva no Século 21, lançado em 2019. “A

truída a partir da fé e dos demais fios condutores tratados no colóquio. O que

Estudantes reúnem objetos para cápsula do tempo a partir de aprendizagens fincadas nos quatro eixos temáticos do Jesedu

muda são os contextos, são os tempos, tendo os documentos publicados ao longo da história da Educação Jesuíta como importantes norteadores para a atualização da proposta”, diz. “Os documentos têm o poder de nos provocar novamente, retroalimentando o Projeto Político-Pedagógico da escola e fazendo com que possamos expandir nosso olhar para que a Educação Jesuíta possa continuar, como se propõe, a responder aos desafios do tempo presente. Então, o que refletimos a partir do último Jesedu é como esses quatro fios se dão e se entrelaçam hoje”.

24 revista vieirense | 2022


REAFIRMANDO PROPÓSITOS

der o foco de que a pessoa é o centro, é o valor. “Educar para a profundidade é resgatar o sentido da vida, dizer à

EDUCAR PARA A FÉ – Os colégios je-

pessoa que ela é importante neste

suítas trabalham para que a fé seja

mundo. Tenha ou não bens materiais,

um elemento de encorajamento dian-

sua vida tem sentido”.

te dos desafios da atualidade. “Uma fé, de fato, inserida no contexto de um

EDUCAR PARA A RECONCILIAÇÃO

mundo dividido, polarizado, desigual,

– Uma concepção que propõe uma

conflitivo. Não é para virar um ‘alér-

reconciliação com a justiça social,

gico ao mundo’, como dizia o Padre

pensando também no outro. “Vive-

Arrupe, SJ, mas ter a fé como uma

mos um tempo muito pautado no

alavanca que nos sustenta para não

egoísmo. É o que o filósofo coreano

temermos as adversidades, na cer-

Byung-Chul Han chama de Sociedade

teza de que Deus caminha com cada

do Cansaço: ‘Tenho que focar ape-

um de nós, assim como caminhou

nas em gerenciar minhas múltiplas

com Santo Inácio”, diz a professora

competências e habilidades para

Mariângela Risério, diretora-geral do

que eu tenha o melhor dos mundos e

Colégio Antônio Vieira.

melhor do que os outros’. Isso diverge da Educação Jesuíta, que propõe servir aos outros em uma vida não apenas voltada para si, mas para o coletivo. O que o Padre Arrupe, SJ, diz sobre ‘formar homens e mulheres para os outros’ completa-se com o que diz o Padre Kolvenbach, SJ: ‘Para os outros e com os outros’. EDUCAR PARA A CIDADANIA GLOBAL – Segundo a professora Mariângela, a questão da cidadania global, embora advenha da semântica contemporânea, é algo que a Companhia de Jesus já buscava há muito tempo: promover a consciência e a responsabilidade da pessoa para com a vida em nível local e global. “Então, é formar pessoas que

EDUCAR PARA A PROFUNDIDADE –

tenham senso crítico para estar no

“Muitos se questionam: qual o sentido

mundo, a partir de uma educação

da minha vida? Para que estou neste

que responda ao tempo presente,

mundo?”, lembra a diretora do Vieira. Ela

com olhar e atitude implicados com

ressalta que os questionamentos são,

o crescimento da pobreza, aumento

muitas vezes, fruto de um mundo atual

da polarização, sustentabilidade do

totalmente pautado pelo consumismo e

Planeta, questão das imigrações,

valorização da imagem e que a Educa-

entre outros grandes desafios”, con-

ção Jesuíta defende que não se deve per-

clui a diretora-geral do Vieira.

revista vieirense | 2022 25


ENTREVISTA

O I D É M O ENSIN ação r a p e r p e d s a ta de oficin r fe o ta n e m u a ação do li p Vieira m a e d s a h il r planta t sidade r e para Enem e im iv n u m o c ia r em parce conhecimento

U

m Ensino Médio avançado, inclusive com oferta de trilhas de ampliação do conhecimento

ministradas

por uma universidade, é o

grande diferencial para os jovens que estão nesta etapa escolar no Colégio Antônio Vieira agora em 2022. A ampliação de itinerários formativos trazendo conteúdos bem contemporâneos, de forma eletiva ou opcional, agrada aos estudantes, que aprovam os avanços de um currículo que se propõe a ser cada vez mais conectado ao tempo presente. E mais: foram acrescidas mais ofici-

nas de reforço na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares, que já eram um diferencial da instituição. Nesta entrevista, a direto-

26 revista vieirense | 2022


ra acadêmica, professora Ana Paula Marques, explica todas as novidades do EM do Vieira em 2022, bem como antecipa alguns elementos do projeto do Novo Ensino Médio do colégio, já em processo de diálogo com alunos e famílias. A nova modalidade só deve ser oficialmente implantada na Bahia no ano que vem. 1. Dentro do perfil do Vieira de buscar ressignificar o projeto pedagógico para o tempo presente, o que o Colégio já traz de novidade para estudantes do Ensino Médio agora em 2022? A proposta de redesenho curricular do Colégio Antônio Vieira sempre esteve na pauta das formações de nossas equipes docentes, pois entendemos que o currículo é vivo e precisa estar sempre conectado com as mudanças culturais da contemporaneidade. Assim, para 2022, incrementamos as op-

“AS TRILHAS DE APRENDIZAGEM OFERECIDAS PELA UNISINOS BUSCAM ATENDER À DIVERSIDADE DE SABERES E DE INTERESSES DE NOSSOS ESTUDANTES. TRATA-SE DE UMA UNIVERSIDADE QUE É AVALIADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC) COM NOTA 5, CONCEITO MÁXIMO PREVISTO PARA CURSOS A DISTÂNCIA”

exigidas para o mundo contemporâneo. Manteremos também o nosso Projeto de Vida, com as articulações necessárias para as demandas das juventudes do tempo presente e suas implicações com o mundo do trabalho. Toda essa proposta está ali-

ções de áreas de conhecimento para o

lhas de aprendizagem, em parceria com

cerçada em um projeto de formação

aprofundamento da preparação para o

a universidade jesuíta Unisinos. Essas

integral, que valoriza o protagonismo

Enem e vestibulares. O aluno pode-

trilhas são semestrais e, em 2022, ainda

do estudante e sua implicação com a

rá escolher agora, além de Ciências

serão opcionais. Servirão para o estu-

cidadania global e a justiça social.

Humanas e Ciências da Natureza

dante começar a se organizar na com-

(que já eram oferecidas), Matemá-

posição de um currículo mais ampliado,

2. Como, na prática, os estudantes

tica e Linguagens. Também ofere-

que contemple todas as competências

do Ensino Médio vão poder apro-

ceremos Oficinas Maker e Espanhol

acadêmicas de preparação para as uni-

veitar essas oficinas e trilhas? Se-

e algumas eletivas, em forma de tri-

versidades, mas também competências

rão para todas as séries?

revista vieirense | 2022 27


ENTREVISTA

Os aprofundamentos, nos quais o es-

universais,

habilidades

avaliada pelo Ministério da Educação

tudante escolhe uma das quatro áreas

para pensar de forma crítica, sistêmi-

explorando

(MEC) com nota 5, conceito máximo

do conhecimento, já são ofertados

ca, criativa, incluindo a abordagem de

previsto para cursos a distância. As

para a 1ª EM e a 2ª EM. Têm como

multiperspectivas das realidades, na

trilhas de aprendizagem oferecidas

objetivo preparar o estudante, con-

busca de soluções que impactem posi-

pela Unisinos, já neste ano de 2022,

forme suas escolhas e aptidões, para

tivamente na vida da comunidade local

buscam atender à diversidade de

o Enem e vestibulares, no que tange

e global. Esse itinerário será optativo no

saberes e de interesses de nossos

às especificidades de cada área do

ano de 2022, e as suas trilhas são se-

estudantes. São, neste momento,

conhecimento. Neste caso, antes de

mestrais. A ideia é o aluno ter a expe-

três trilhas que envolvem temas

escolher a área que irá cursar, o estu-

riência de aprendizagens para além das

como interculturalidade e cidadania

dante fará, no início do ano, uma espé-

competências cognitivas acadêmicas de

global (bilíngue); pensamento proje-

cie de “degustação”, um período para

preparação para os vestibulares.

tual e criativo para cidades susten-

conhecer um pouco das quatro ofici-

táveis; e Ciência e Tecnologia como

nas, de forma que sua escolha seja a

3. A universidade Unisinos, do Rio

vetores para a saúde e bem-estar.

mais assertiva possível. Já as trilhas

Grande do Sul, é conhecida pela ex-

Todas com 40 horas semestrais.

de ampliação do conhecimento serão

pertise em cursos a distância. O que

interseriadas, e todos os alunos da 1ª

mais pesou na escolha desta univer-

4. E o Novo Ensino Médio? Como

à 3ª EM poderão cursar. Elas propõem

sidade como parceira?

o Vieira se estruturou para a mo-

desenvolver uma aprendizagem pro-

Além da proposta extremamente con-

dalidade?

funda de questões globais e valores

temporânea, conectada com uma edu-

Já estamos estudando a Lei do Novo

cação de cidadania global e

EM desde 2018, a partir de uma es-

atenta às demandas do merca-

cutatória feita aos estudantes e a

do de trabalho do século 21, a

implantação das primeiras oficinas

28 revista vieirense | 2022

escolha pela Unisinos se deve

de aprofundamento: Ciências da

principalmente por ser um

Natureza ou Ciências Humanas. Em

instituto de Ensino Superior

2020, a partir de seminários sobre o

da Companhia de Jesus, de

tema oferecidos pela Rede Jesuíta de

forma que possamos reiterar

Educação (RJE); das diretrizes para o

e potencializar os princípios

Novo Ensino Médio, elaboradas pela

educacionais de formação

Rede; e da composição de um grupo

integral. Além disso, trata-se

de trabalho no Colégio, começamos,

de uma universidade que é

então, a organizar o nosso projeto,


exercitar o autoconhecimento e refletir de forma contextual e humana sobre suas escolhas, sempre buscando a coerência com uma formação de pessoas críticas, conscientes, competentes, compassivas, criativas e comprometidas com um mundo mais seguro, justo, equitativo e pacificado. Essa experiência oferece ferramentas teóricas e práticas, subjetivas e objetivas, que já está quase pronto, aguardando apenas a publicação, pelo Conselho Estadual da Educação, do Documento Curricular Referencial da Bahia (DCRB) para as devidas adequações, os alinhamentos e a finalização da parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que corresponde à formação básica, comum do currículo. Conforme a legislação, a partir de 2023, ofereceremos quatro itinerários, que correspondem à parte diversificada do currículo e incorporam o Projeto de Vida como parte das aulas. Entre esses itinerários, um deles será

“O PROJETO DE VIDA DO ENSINO MÉDIO DO VIEIRA JÁ SE DESENVOLVE DESDE O ANO DE 2016 E VEM, A CADA ANO, TORNANDO-SE MAIS ROBUSTO E FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO INTEGRAL DE NOSSOS JOVENS”

que contribuem para que os jovens possam fazer seus discernimentos, decisões e planejamentos mais maduros sobre o futuro. 6. Qual a mensagem para estudantes e famílias diante deste novo contexto de novidades para o Ensino Médio? O projeto do Ensino Médio do Vieira, para além do cumprimento de uma lei, foi pensado cuidadosamente por um grupo interdisciplinar, implicado com os princípios educativos da Companhia de Jesus, com a formação integral, mas principalmente com as juventudes que hoje habitam

“obrigatório flexível’’, o estudante

como obrigatoriedade prevista pelo

a nossa escola. Dessa forma, esta-

será obrigado a cursar todas as

Novo Ensino Médio. Qual a vantagem,

mos esperançosos e felizes em poder

áreas do conhecimento, mas terá

para estudantes e escola, de já contar

oferecer, na última etapa da Educa-

a flexibilidade de escolher como e

com essa experiência?

ção Básica, uma formação rica em

quando irá fazer, ao longo do ano

O Projeto de Vida do Ensino Médio do

possibilidades e experiências, que

letivo. A ideia é potencializar as

Vieira já se desenvolve desde o ano de

explora as múltiplas inteligências

aprendizagens da própria BNCC e

2016 e vem, a cada ano, tornando-se

e os diversos interesses de nossos

a preparação para o Enem e ves-

mais robusto e fundamental na forma-

jovens, sem abrir mão da excelência

tibulares. Os outros itinerários (os

ção integral de nossos jovens. Na verda-

acadêmica na preparação para as

Aprofundamentos por área do co-

de, ele dá continuidade a um trabalho

universidades. Que os nossos jovens

nhecimento, a Ampliação de Co-

educativo socioemocional e espiritual,

possam vivenciar espaços profícuos

nhecimento e o Projeto de Vida),

que se inicia ainda no Ensino Funda-

de aprendizagens significativas em

já ofertados há alguns anos, irão

mental, com o Plano de Acompanha-

todas as suas dimensões, descobrin-

apenas se adequar, se atualizar

mento do Estudante, coordenado por

do caminhos possíveis para acessar

com novas ofertas, para aten-

nossas orientadoras educacionais e

mais conhecimento, ampliar o seu

der à Lei do Novo Ensino Médio.

nossos pastoralistas. Por sermos uma

universo cultural e construir ações

instituição educacional jesuíta, o nosso

concretas em busca de sua conquis-

5. O Projeto de Vida, desenvol-

Projeto de Vida inspira-se nos Exercí-

ta profissional e social, sempre com

vido já há mais de cinco anos

cios Espirituais de Santo Inácio de

o compromisso de contribuir com a

no Vieira, agora é apresentado

Loyola, ajudando cada estudante a

realidade à sua volta.

revista vieirense | 2022 29


DEPOIMENTOS

JÁ DE OLHO EM 2023 Após terem participado das apresentações da equipe pedagógica do Colégio Antônio Vieira, em processo de discussão do projeto para o Novo Ensino Médio desenvolvido

Estudantes revelam expectativas quanto ao projeto do Novo Ensino Médio do Vieira

pela instituição, os estudantes revelam as expectativas quanto a mais avanços para a etapa escolar no ano que vem. Confira alguns depoimentos!

“Será uma oportunidade de conciliarmos nossas aspirações com a nossa escolha profissional. Uma forma de amadurecer mais, com mais opções para a gente poder escolher dentro da área que a gente gosta e quer – o que vai nos ajudar lá na frente, além de ser uma oportunidade também de autoconhecimento, ao nos fazer refletir para fazer escolhas”. Juliana Neves “Minhas expectativas para o Novo Ensino Médio, com as novidades que já estão começando, é que a gente consiga ir além da preparação para o Enem e consiga pensar no desenvolvimento pessoal e do senso crítico, para que a pessoa se sinta mais preparada para o mundo – e não apenas para os vestibulares. Espero me aprofundar ainda mais nos estudos de geopolítica, por exemplo, para ter mais criticidade e uma visão ampla de mundo”. Alice Machado

30 revista vieirense | 2022

“Gostei da proposta do Colégio de nos dar oportunidade do protagonismo juvenil, escolhendo nossos itinerários com diversas opções, o que vai nos auxiliar na escolha profissional, tanto nas áreas de Exatas, Humanas ou Naturais quanto para o que vai além da carreira e que nos interessa em nossa formação cidadã”. Dimitri Garcia


ALÉM DO ENEM

MEDICINA COM Formação vieirense faz diferença no mundo do trabalho e contribui para realização profissional

E

m pleno século 21, com o

mico, a formação integral diferenciada

avanço das tecnologias di-

do Colégio – preparando o aluno não

gitais impulsionando os jo-

apenas para passar no Exame Nacional

SEMPRE FOI ALGO

vens para novas profissões

do Ensino Médio (Enem) e vestibulares,

na área, a pandemia de co-

mas para exercer a carreira escolhida

QUE PENSEI DESDE

vid-19 acabou trazendo à luz o lugar

e atuar na vida a partir de princípios e

CRIANÇA, E O VIEIRA

de destaque também ocupado por car-

valores – não só os faz profissionais de

REFINOU ISSO.

reiras tradicionais, como a Medicina.

destaque como também os faz se senti-

E mais do que isso: revelou o quanto

rem especialmente realizados.

COM UM ENSINO DE

o exercício da atividade, enraizado no humanismo, fez e faz diferença em meio aos desafios contemporâneos.

“Fazer Medicina sempre foi algo que pensei desde criança, e o Vieira refinou isso. Com um ensino de

“FAZER MEDICINA

CARÁTER HUMANO E COLABORATIVO” Dr. Claudilson Bastos, infectologista

caráter humano e

te em mim toda a formação pautada na

colaborativo, o co-

humildade, na empatia e no servir ao

Antônio Vieira bem

légio me ajudou

outro, considerando, de fato, a forma

sabem disso. Mes-

a ver a Medici-

como o outro está se sentindo, em suas

mo em situações

na como algo

alegrias e dores, para além do estado

adversas como o

além da ciência,

físico”, diz o infectologista Claudilson

ficando muito for-

Bastos. Ex-aluno e atualmente pai de

Os médicos que são ex-alunos do Colégio

contexto

pandê-

revista vieirense | 2022 31


ALÉM DO ENEM

aluno do Vieira, Dr. Claudilson é secre-

ta que recebi no

Centro Geriátrico

tário da Sociedade Brasileira de Infec-

Vieira me fez ser

e lembro muito

tologia (regional Bahia) e preceptor da

um médico mais

da formação e

Residência Médica em Infectologia do

acolhedor,

Instituto Couto Maia.

gosta de gente,

que

das

ações

do

Vieira, inclusive

O médico destaca o quanto foi im-

preocupado com

de visitas às Osid,

portante durante a pandemia “exercer

o estado físico e

que me ajudaram

a profissão pensando no outro”, como

emocional

declara. “O Vieira foi a base para mim

pacientes, e não

nesse sentido: esculpe o aluno para

só com a doença. O

não só conquistar a carreira profis-

retorno tem sido gratificante”, diz ele.

dos

hoje a sempre ver o paciente como se fosse alguém da minha família. Então, sinto-me na obrigação de dar

sional pretendida, mas para que tam-

Quem também lembrou da for-

sempre o meu melhor, não só na parte

bém cresça e evolua no exercício dela,

mação humanista do Vieira para lidar

técnica, mas também na parte emo-

olhando para o seu eu, mas com foco

com os períodos mais difíceis da pan-

cional”, conta.

no servir ao outro, na transformação

demia foi o jovem médico Pedro Ra-

Mesmo os médicos que não atuam

do mundo. É um colégio que ensina

miro Muiños. Ele chegou a trabalhar

no dia a dia dos hospitais também

para a vida!”, ressalta.

em cinco unidades de terapia intensiva

destacam a importância da formação

(UTIs Covid), além de diferentes Uni-

humanista do Vieira no cotidiano de

dades de Pronto Atendimento (UPAs).

atendimento nas clínicas e consultó-

“AMAR E SERVIR” Para a jovem médica Renata Pontes,

“Foi um desafio, mas, ao refletir sobre

atualmente fazendo a pós-graduação

a questão, veio logo o

para especialização (Resi-

sentimento de gra-

dência Médica) em Cirurgia

tidão por todos

Geral,

os valores cris-

ter sido aluna do

tãos e humanís-

Vieira é fundamen-

ticos pregados

CONTEMPLADOS COM UMA FORMAÇÃO ACADÊMICA DIFERENCIADA E TAMBÉM INTEGRAL, DENTRO

tal no exercício da

pelo

profissão.

“Desde

que pude, mais

muito nova, já ouvia

do que nunca,

DE UMA PROPOSTA DE

a premissa inacia-

pôr em prática

na do Colégio de

também nesse mo-

PREPARÁ-LOS NÃO SÓ

que em tudo devemos amar e servir. É

Vieira,

“NOSSOS ALUNOS SÃO

mento tão difícil para as famílias em todo

PARA AS PROVAS DO ENEM E VESTIBULARES,

um dos princípios básicos que carre-

o mundo”, declarou o ex-

go comigo todos os dias ao exercer a

aluno, que está em São Paulo fazendo

MAS PARA ALÉM DOS

Medicina, e sei hoje o quanto isso me

Residência Médica para Neurocirur-

torna uma médica diferenciada, cons-

gia na universidade federal daquele

EXAMES, REALIZANDO

ciente de que devemos sempre cuidar

estado (Unifesp).

do ser humano como um todo e não apenas a doença”, diz. Dra. Renata faz parte de uma fa-

FORMAÇÃO PARA QUALQUER CARREIRA

SEUS ANSEIOS DE ACORDO COM SEU PROJETO DE VIDA, AMPARANDO SUAS DECISÕES E VALORIZANDO

mília de médicos, todos ex-alunos

Recém-formada, a médica genera-

vieirenses. A irmã Bruna acaba de

lista Patrícia Vieira está atuando na

concluir o curso visando fazer a Re-

UPA das Obras Sociais de Irmã Dulce

SUAS HABILIDADES E

sidência em São Paulo. Já o pai é o

(Osid), que atende, sobretudo, pessoas

respeitado cirurgião vascular Dr. Luís

carentes. “Eu gosto muito de estar tra-

APTIDÕES”

Carlos Pontes. “A formação humanis-

balhando lá e sempre que posso vou ao

32 revista vieirense | 2022

Professora Cristina Cardoso, coordenadora pedagógica da 3ª série do Ensino Médio do Vieira


Família de médicos vieirenses: Dra. Bruna Pontes, Dr. Luís Carlos Pontes e Dra. Renata Pontes

“A FORMAÇÃO HUMANISTA QUE RECEBI NO VIEIRA ME FEZ SER UM MÉDICO MAIS ACOLHEDOR, QUE GOSTA DE GENTE, PREOCUPADO COM O ESTADO FÍSICO E EMOCIONAL DOS PACIENTES, E NÃO SÓ COM A DOENÇA. O RETORNO TEM SIDO GRATIFICANTE” Dr. Luís Carlos Pontes, cirurgião vascular

rios. A médica dermatologista Ariane

A coordenadora pedagógica da 3ª

Pedreira Paixão, também ex-aluna

série do Ensino Médio do Vieira, pro-

do Vieira, confirma: “Estudar no Viei-

fessora Cristina Cardoso, explica que

ra foi uma experiência maravilhosa, e,

a formação diferenciada dos jovens

por isso, fiz questão que minha filha

do Vieira se dá tanto para os que es-

também estudasse no Colégio. Nossa

colhem cursar Medicina

formação, tanto científica quanto

humanis-

quanto quaisquer outras carreiras e áreas

ta, é ímpar, de

do

conhecimento

também integral, dentro de uma pro-

excelência mes-

em que o estudante

posta de prepará-los não só para as

mo, e faz diferen-

deseje traçar seu

provas do Enem e vestibulares, mas

ça no dia a dia de

futuro.

“Nossos

para além dos exames, realizando

vieirenses e ex-

alunos são con-

seus anseios de acordo com seu

templados

com

projeto de vida, amparando suas

uma formação aca-

decisões e valorizando suas habili-

-vieirenses agora em carreira profissional”.

dêmica diferenciada e

dades e aptidões”.

revista vieirense | 2022 33


ALÉM DO ENEM

Prontos para qualquer carreira Os estudantes do Colégio Antônio Vieira, na preparação para o ingresso nas universidades, contam com revisões específicas, de acordo com a área pretendida para a atuação profissional. “No caso de Medicina, temos as revisões em geral para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, ainda, as especialmente preparadas para, por exemplo, quem vai fazer a prova da Escola Bahiana de Medicina, que já tem uma outra abordagem”, explica a coordenadora pedagógica, completando: “A gente prepara o alu-

além de acompanhamento personaliza-

EXCELÊNCIA INTEGRAL

no de acordo com o que ele vai ser co-

do (plano de estudo) que orienta a que

“O Colégio Antônio Vieira, como insti-

brado, pois, embora o conteúdo seja o

disciplinas o estudante deve se dedicar

tuição da Companhia de Jesus, apos-

mesmo de um modo geral, ele vai ser

mais. Há ainda as videoaulas e listas de

ta sempre em uma educação que

exigido de forma diferente, conforme a

exercícios com questões de edições an-

desenvolva as pessoas por inteiro,

faculdade”, conta.

teriores do Enem e vestibulares.

enraizada em princípios humanis-

O Vieira também oferece revisões

A preparação já se inicia gradati-

tas e nutrida pela Espiritualidade

e simulados específicos com foco nas

vamente a partir do 9º ano do Ensino

Inaciana. Dessa forma, a excelência

provas da Fundação Universitária para

Fundamental (EF), seguindo para o

acadêmica, dimensão fundamental

o Vestibular (Fuvest) e da Universida-

Ensino Médio, com oficinas de apro-

para os colégios jesuítas, situa-se

de de Campinas (Unicamp), ambas em

fundamento em Ciências Humanas,

em um contexto de excelência huma-

São Paulo. “São exames bem concor-

Ciências da Natureza, Redação, Mate-

na integral, que retrata nossa busca

ridos, e nossa preparação inclui al-

mática, Linguagens e outras, no con-

incessante na formação de sujeitos

guns conteúdos que só são cobrados

traturno, reforçando a preparação para

críticos, conscientes, competentes,

especificamente nesses vestibulares”.

os conteúdos mais exigidos no Enem

compassivos, criativos e comprome-

e principais vestibulares do País. E o

tidos – formação que os seguirá vida

Vieira ainda vai além: com uma forma-

afora, nos mais diversos cenários”,

Segundo explica a professora Cristina

ção humanista e socioemocional, de-

diz a diretora-geral, professora Ma-

Cardoso, seja para seguir carreira em

senvolvida em parceria também com

riângela Risério. Trata-se, portanto,

profissões mais tradicionais ou mes-

as equipes dos serviços de Orientação

de cidadãos e cidadãs globais que,

mo em novas tendências de mercado,

Educacional (SOE) e Religiosa e Pas-

independentemente da área em que

o Vieira investe na preparação dos es-

toral (Sorpa), que inclusive ajudam o

escolham

tudantes, com professores especialis-

estudante a começar a traçar um pro-

comprometidos em cuidar das pes-

tas em Enem e vestibulares, formação

jeto de vida para fazer diferença, seja

soas e contribuir para sarar os ma-

constante da equipe, plataformas di-

em Medicina ou qualquer outra profis-

les que afligem o nosso Planeta e a

gitais para treinamento de questões,

são em que deseje atuar.

humanidade.

RECURSOS DIVERSIFICADOS

34 revista vieirense | 2022

atuar,

estarão

sempre


Valores que pulsam desde cedo Estudantes de Medicina revelam compromisso com lema “amar e servir”

Ex-alunos do Colégio Antônio Vieira que estão atualmente cursando Medicina revelam o quanto e como pretendem usar a formação vieirense para também fazer diferença no exercício da profissão. Um marco de identidade da educação jesuíta que parece mesmo pulsar no coração de futuros médicos tão especiais que, desde cedo, aprenderam a valorizar o cuidado com o outro, a partir do lema jesuíta do “amar e servir”.

Lise Oliveira, estudante de Medicina, ex-aluna do Vieira. “As aprendizagens no Vieira contribuíram para o meu desenvolvimento e formação, o que tem me possibilitado analisar e entender as dimensões psicossociais do outro. Na área de Saúde, usarei essa formação para lidar com meu paciente de maneira horizontal, holística, olhando para o doente, e não apenas para a doença. Considero a Medicina como a arte de cuidar, para além da competência técnica, e, assim, pretendo continuar honrando o compromisso do acolhimento, do não julgamento, do diálogo aberto e da consequente busca da qualidade de vida e do melhor servir”.

Matheus Machado, estudante de Medicina, ex-aluno do Vieira. “Estudar no Vieira foi um verdadeiro encontro. Percebi logo que era uma instituição preocupada em formar pessoas comprometidas, independentemente da profissão que se escolhesse. A mensagem sempre foi a do humanismo, a de enxergar o outro como igual, em um cuidado visto como algo essencial para a vida. Como futuro médico, eu não tenho dúvidas de que essa formação vai fazer toda a diferença. Assim, espero atuar da melhor maneira possível para os pacientes e contribuir para uma saúde pública melhor”.

Beatriz Nuno, estudante de Medicina, ex-aluna do Vieira. “O Vieira sempre nos mostrou o mundo com um olhar fraterno: a ver o outro como irmão, ter empatia com a dor do outro. São valores essenciais também para um profissional de área de saúde. Sabemos que a tecnologia na área avançou muito e que, por outro lado, passou a ser um fator que tem afastado muito os médicos de seus pacientes. Quando se tem uma formação jesuíta, uma formação humanista, você sempre verá o paciente como um ser humano especial, buscando sempre estar perto, mostrando-se solidário à sua dor, enxergando-o com cuidado e respeito”.

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TEMPO DE REFLEXÃO

P

or que o Colégio Antônio Vieira, desde o ano passado, tem enfatizado tanto o chamado Ano Inaciano? Por que este período é

tão importante para o Vieira e todas

Da Conversão à Canonização Ano Inaciano evidencia despertar para novas posturas inspiradas na trajetória espiritual de Santo Inácio de Loyola

as instituições jesuítas? São questões que são facilmente respondidas ao se

motivo para as celebrações que estão

Espanhol foi atingido, em 20 de maio

conhecer um pouco mais da história

sendo promovidas e vivenciadas pelo

de 1521, por uma bala de canhão na

de Santo Inácio de Loyola e sua im-

Colégio e demais instituições jesuí-

Guerra de Pamplona.

portância para a difusão pelo mundo

tas desde 20 de maio do ano passa-

O episódio levou Loyola a uma

de uma educação de caráter social-

do, quando se iniciou o Ano Inaciano.

convalescência marcada por refle-

mente transformador.

Mas, mais do que isso, o Ano Ina-

xões profundas que o conduziram,

Assim, apenas pelo fato de ter sido

ciano evidencia toda a trajetória de

posteriormente, a uma bela história

Santo Inácio de Loyola o fundador da

conversão, espiritualidade e ações do

de conversão e plena dedicação aos

Companhia de Jesus, ordem religio-

nascido Iñigo de Loyola, desde que

ensinamentos de Jesus Cristo. Um

sa da qual faz parte o Vieira, já seria

o então nobre membro do Exército

renascimento espiritual de tamanha

36 revista vieirense | 2022


grandeza que culminou, anos depois, na fundação da Companhia de Jesus. Em pouco tem-

foram pioneiros no

Padre Arturo Sosa, SJ, em editorial

trabalho de edu-

da Revista Jesuítas 2021. “Um tempo

cação dos des-

de renovação espiritual que tem o ob-

de

jetivo de mostrar que o caminho tri-

po, os jesuítas es-

cendentes

portugueses e

lhado por nosso fundador pode servir

palharam-se pelos

nativos. Entre

de inspiração em nosso processo de

continentes, dedi-

os que atua-

transformação pessoal e enquanto

cando-se às mais

ram nesse pe-

comunidade”, frisou o Provincial dos

diferentes missões.

ríodo estavam

Jesuítas do Brasil, Padre Mieczys-

o Padre Antônio

law Smyda, SJ, em vídeo oficial do

Hoje, a Companhia de Jesus é reconhecida no mundo inteiro por

Vieira – homenageado

pela

Ano Inaciano no País.

Companhia

seu trabalho missionário e sua

de Jesus ao batizar com o nome

atuação nas áreas educacional, espiri-

dele o colégio, inaugurado em 1911,

tual, intelectual e social.

mais de 200 anos após a sua morte.

CANONIZAÇÃO

UMA NOVA POSTURA

Os jesuítas, o Vieira e todas as de-

“A inspiração do processo de conver-

mais obras da Companhia reve-

são pessoal, que levou Inácio a com-

renciam, portanto, o Ano Inaciano,

partilhar sua experiência espiritual e

partindo da data em que se comple-

fundar a Companhia de Jesus, que-

tavam os 500 anos de conversão de

remos que se converta também hoje

Loyola no ano passado. As celebra-

para nós como um impulso de trans-

ções seguem agora em 2022 – até

formação das nossas vida e missão”,

o dia 31 de julho, Dia de Santo Iná-

afirmou o superior-geral da Ordem,

cio – com destaque para o dia 12 de março, em que se evidenciam os 400 anos da sua canonização, que se deu em 1622, reconhecida oficialmente pelo Papa Gregório XV. Na mesma data também foi canonizado São Francisco Xavier, padroeiro de Salvador. Outro elo também especial é o fato de a canonização ter ocorrido no mês do aniversário do Vieira, que este ano completa 111 anos de fundação. O Colégio hoje integra uma rede de educação global que, somente no que se refere ao apostolado educacional, abrange mais de 850 colégios, 200 universidades e faculdades e 2.700 centros de educação popular. No Brasil, ainda no período colonial, os jesuítas multiplicadores dos ideais inacianos

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TEMPO DE REFLEXÃO

20 ANOS DA FLACSI Dentre as comemorações do Ano Inaciano, um marco especial: os 20 anos da Federação Latino-americana de Colégios da Companhia de Jesus (Flacsi). A Flacsi é uma rede que une cerca de 90 colégios em 19 países; dentre eles o Brasil, onde a Rede Jesuíta de Educação (RJE) é composta por 17 instituições de ensino. O Colégio Antônio Vieira é a única instituição jesuíta de Educação Básica na Bahia, portanto, o único a integrar a RJE e a Flacsi no estado. A principal missão da Flacsi é promover a integração e o fortalecimento das unidades integrantes, a partir de uma O Superior do Núcleo Apostólico da

identidade compartilhada, respaldada em acordos sobre políticas,

Companhia de Jesus na Bahia, Padre

estratégias e ações a serviço da transformação educacional e

Alexandre Souza, SJ, destaca o quanto

social dos países latino-americanos.

é importante “que olhemos para este período especial não apenas focados na história de Inácio, mas nas provocações que ele faz a cada peregrino e peregrina sobre encontrar o seu caminho, na pessoa de Jesus”, como declarou em prece, durante a missa do Ano Inaciano, no Colégio Antônio Vieira.

“É essencial que, de fato, passemos, assim, inspirados por Santo Inácio, a Ver Novas Todas as Coisas em Cristo”, concluiu o Padre Emmanuel Araújo, SJ, assistente espiritual do Vieira, referindo-se ao tema oficial do período especial. Que o espírito do Ano Inaciano perdure por séculos!

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O que o Ano Inaciano representa para você? Colaboradores compartilham vivências “Estou vivenciando o Ano Inaciano, considerando a minha missão um modo de proceder, a partir das prerrogativas de ‘em tudo amar e servir’. São reflexões e aprendizados que me auxiliam a colaborar como pastoralista na formação integral dos nossos educandos, sobretudo. A vida e a obra de Inácio me inspiram, como um belo convite, a ter um novo olhar sobre todas as coisas, a ser mais afetiva e atenta às demandas das pessoas. Nessa Pedagogia do Cuidado, aprendo, todos os dias, a ser uma pessoa melhor”. Núbia Calazans, pastoralista do Serviço de Orientação Religiosa e Pastoral (Sorpa).

“O Ano Inaciano tem sido um convite a mergulhar na busca do autoconhecimento para viver melhor, cada vez mais congruente com a minha identidade de filho de Deus e de educador inaciano. Esse movimento tem sido possível por meio dos momentos de oração pessoal com o Roteiro de Oração do Ano Inaciano, além das ações realizadas pelo Colégio e pela Rede Jesuíta de Educação, que têm me proporcionado reflexões muito importantes”. Cláudio

“É um ano cheio de esperança

Roberto Cruz, professor de

e renovação espiritual, que tem

Educação Física.

permitido me reencontrar e aprender a contemplar Cristo, viver a sua palavra, fortalecer minha fé, esperança e amor. Por meio dos Exercícios Espirituais, estou saboreando, a cada dia, essa transformação, elevando a minha espiritualidade e de minha família nesse encontro com Deus. Essa “Vivencio o Ano Inaciano

vivência possibilita reflexões mais

“O Ano Inaciano é um tempo especial

colocando em prática no meu

profundas acerca deste momento

de graça. Atravessamos um período

dia a dia o lema ‘Ver Novas

de mudanças e a necessidade de se

de dores e perdas, nos mais diversos

Todas as Coisas em Cristo’.

renovar”. Tâmara Barbosa, analista da

aspectos, porém, em meio às mazelas

Direção Acadêmica.

da pandemia, fomos impelidos também

Mergulhar mais intensamente na Espiritualidade Inaciana renovou

a ver esperança, solidariedade,

o meu olhar, contribuindo para

compaixão e amor. Portanto, o convite

dar um novo sentido a pequenos

que o Ano Inaciano nos faz está surtindo

detalhes no cotidiano da minha

efeito, dando novos sentidos e razões

missão, tanto na minha vida

para seguirmos em frente, confiantes

pessoal como profissional,

em um Deus que renova nosso olhar

enquanto liderança inaciana”.

sobre todas as coisas e pessoas

Juliana Argollo, diretora

com as quais cruzamos nossa vida e

administrativa e financeira.

engendramos nossas histórias”. Sérgio Silveira, diretor de Gestão de Pessoas.

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TEMPO DE REFLEXÃO

Ano Inaciano

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ARTIGO ESPIRITUALIDADE

O poder da humanidade

EM UM MUNDO PÓS-PANDEMIA

H

Por Padre Cleber Gonçalves, SJ, mestre e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. É assistente espiritual do Colégio Antônio Vieira.

á dois anos uma tragédia

preponderante. Cientistas debruçaram-se nos la-

nifestação de sua vontade e

em escala planetária atin-

boratórios em pesquisas de ponta com o intuito de

liberdade. Mas será que a

giu toda a humanidade. A

oferecer vacinas. Lentamente, fomos retomando

humanidade não detém um

pandemia causada pelo

as atividades presenciais. E o mais importante: re-

“poder” a ser manifestado?

novo coronavírus colocou

cobramos nosso ânimo e nossa esperança.

Claro, não como o de Deus.

nações inteiras de joelhos frente ao po-

Uma pergunta, como fio condutor, perpassa

Contudo, eficaz e ao mesmo

der de um pequeno, mas mortal, vírus.

agora nossos pensamentos: o que esperar de

tempo capaz de promover o

Essa, somada a outras “pandemias”,

um mundo pós-pandemia? E outras que emer-

bem a todas as pessoas; de

como a da fome, das guerras, da injus-

gem de nossas inquietações: será que a huma-

gerar um mundo mais hu-

tiça, por exemplo, causou mais “feri-

nidade dará um salto qualitativo no âmbito das

mano e fraterno.

das” na humanidade.

relações humanas? Aprendemos algo em meio

Medo, pânico e desesperança tor-

a essa tribulação?

“PODER” ESPECIAL

naram-se as palavras de ordem. No

O título deste artigo é um tanto intrigante. Por

entanto, a par disso, constatamos inú-

que razão pensar no “poder” da humanidade neste

A

Hannah Arendt (1906-1975),

filósofa

contemporânea

meros gestos de luz, de solidariedade

mundo que desponta? Como cristãos, professa-

em seu livro A Condição Hu-

e de fraternidade. As equipes médicas,

mos a fé em um Deus Todo-poderoso: criador do

mana, pensa o poder exerci-

por sua vez, desempenharam um papel

céu e da terra, que plasmou o universo como ma-

do pelas pessoas não como

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ARTIGO ESPIRITUALIDADE

coerção por meio da violência ou de regimes totalitários, mas sim por meio do diálogo e na relação entre sujeitos livres, agentes históricos, conscientes e vistos em sua dignidade humana plena. Nessa ótica, o poder torna-se um modo de possibilitar a constituição das sociedades. O ser humano, portanto, tem o poder de construir seu presente e lançar as bases para seu futuro. Em uma perspectiva bíblico-evangélica, Jesus nos indica que o poder equivale ao serviço, isso é, seus discípulos são orientados não à prática da tirania e da opressão, mas à prática do serviço desinteressado aos demais. Ele é o próprio modelo do servo, do servidor, pois viveu somente para os demais: doou-se por completo no anúncio do Reino de Deus. Ser cristão(ã) significa, assim, gerar muitas possibilidades, caminhos que visem cultivar e testemunhar o que Jesus ensinou e praticou.

“PAPA FRANCISCO TEM INSISTIDO: ESTÁ EM NOSSAS MÃOS A OPORTUNIDADE DE PENSAR E GERAR NOVOS HORIZONTES PARA A HUMANIDADE. O PRIMEIRO PASSO CONSISTE EM VER O OUTRO NÃO COMO ESTRANHO, MAS COMO IRMÃO E IRMÔ

NOVO MUNDO

estão sendo instados a procurar meios

está em nossas mãos a oportunidade de

À luz dessas indicações, podemos vis-

para a prática do bem a partir de valores

pensar e gerar novos horizontes para a

lumbrar uma nova realidade em um

humanos universais. Deixar florescer tal

humanidade. O primeiro passo, segundo

mundo pós-pandemia para a humani-

“poder” não por meio da coação, mas

sua encíclica social Fratelli Tutti, con-

dade. Esta tem o “poder”, a capacida-

através de gestos concretos verdadeira-

siste em ver o outro não como estranho,

de, a chance de criar vínculos sólidos

mente humanos: temos o poder de fa-

mas como meu irmão e minha irmã.

de fraternidade. Cristãos e não cristãos

zer o bem. Papa Francisco tem insistido:

Enfim, nossa vida foi afetada pela pandemia da covid-19, e nossa recente história apresenta os traços marcantes e nocivos desse referido evento. Que tal iniciarmos um ciclo virtuoso através do nosso “poder” de fazer o bem, para assim podermos superar essa realidade? Não pensemos, entretanto, em realizar coisas muito grandes: devemos focar no nosso microcosmo, na nossa realidade concreta, no nosso mundo cotidiano. Assim, com resiliência, poderemos sonhar e desejar um mundo pós-pandemia mais humano, inclusivo, no qual cultivemos de maneira construtiva o diálogo fraterno e saudáveis relações interpessoais.

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