La Ursa n° 1

BRASÍLIA - DF, ANO 1. EDIÇÃO 1.

JAN-JUN . 2024

A LA URSA QUER DINHEIRO, QUEM NÃO DÁ É PIRANGUEIRO A figura carnavalesca pernambucana

O Parnaíba Noélia Ribeiro Carrinho de Feira Sparr Paideia Pietro Costa

Índice Pablo Santos Diretor Pablo Santos Editor

Laursarevista.blogspot.com Revistalaursa@gmail.com @Revistalaursa

Recifarra Modelo

Bruno Cavalcanti Fotografia

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A LA URSA QUER DINHEIRO

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A LIBERDADE DA NOITE

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SUFOCO

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CARRINHO DE FEIRA

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O PARNAÍBA

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PAIDEIA

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KEREATO

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OS SAPOTIS

JOHN ARON E O ENIGMA DOS SONHOS

ÇAY

Nota do Editor

A escrita me trouxe até aqui. Através dela, absorvo a energia que permite desvendar meus próprios mistérios intrínsecos e, após anos submerso nas asas de criadores, eis a hora de cocriar, soando reconfortante a materialização em meus ouvidos, a textura em meus dedos e o sabor picante do léxico carregando a minha vivência na arte.

Ora aprendemos com as palavras, ora elas aprendem conosco e, fundindo-se humano e imaterial, arte e letra, assim nasce a La Ursa, consistindo numa publicação dedicada à literatura, às artes, à pluralidade cultural e visibilidade artística.

Pelo sangue recifense que habita em mim, saboreie nestas duas edições de estreia textos sobre as origens do título desta publicação, assim como seja embebido de poesias por: Noélia Ribeiro; Pietro Costa; Paulo Roberto; Pablo Santos; Jhean Lima e Jorge Recife, impacte-se com o horror, fantasia e crônica de: Nifrido; Guilherme Alberico e Sparr, encantese com os artigos de Antonio Bernardini e Yassanã Nascimento, além das ilustrações e fotografias de: Brendo Francis; João Henrique, Niél Sàlim e Rayllone Petrelli.

“A fusão da arte em letras”

Pablo Santos DIRETOR

A La Ursa quer dinheiro Pablo Santos Um homem fantasiado de urso, um domador e um caçador com uma espingarda, são personagens que compõem o imaginário carnavalesco pernambucano, erguidos por sua figura central, a La Ursa.

Imagem: Ed Machado

Semanas antes do carnaval, estes elementos ganham vida interpretando os domadores de ursos do Leste Europeu no século XIX, uma herança italiana para o carnaval pernambucano. Os bairros da periferia do Recife e região metropolitana são atingidos por coros da famigerada marchinha, “A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro”, através da voz de crianças, adolescentes e adultos fantasiados de urso.

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Com muita alegria, chamam atenção do público por onde passam, ao som dos batuques pedindo dinheiro e trocados para aproveitarem a festa mais popular do Brasil. A vestimenta se caracteriza por um macacão feito de estopa, pelúcia, veludo, agave, retalhos costurados ou amarrados em forma de tiras, já a máscara quase sempre é feita com papel machê. Atada por uma corda e contida pelo domador, a La Ursa sai ao som de sucessos carnavalescos, espalhando energia para quem assiste.

Imagem: Hugo Muniz

A brincadeira começou no oriente, seguido do Leste Europeu pelos ciganos, quando domadores itinerantes circulavam pelas praças da Europa a fim de arrecadar dinheiro com espetáculos que “faziam o urso dançar” e, enfim, trazida ao Recife por imigrantes italianos, se incorporando às simbologias típicas de Pernambuco.

Hoje, sob uma roupagem moderna, o espírito da La Ursa resiste nas ruas de Pernambuco, adaptando-se assim como a nossa língua, agora com máquinas para receber dinheiro em crédito e débito, mas ainda transmitindo a jocosidade da criança ao adulto, simbolizando a força e destreza da culturalidade nordestina.

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da A liberdade noite Guilherme Alberico Há muito tempo, muito antes do Dia ser dia e da Noite ser noite, existiam apenas duas civilizações no mundo. Uma delas vivia ao Norte, um Norte muito mais ao Norte do que conhecemos.

Enquanto a outra localizava-se ao Sul, um Sul muito mais ao Sul do que somos capazes de imaginar com nossos mapas incompletos.

Naquela época o mundo funcionava de uma forma diferente, pois o mundo era dominado por forças primordiais que ditavam as regras e controlavam tudo aquilo que podiam controlar, não muito diferente do que é hoje, mas durante muito tempo as forças que dominavam nosso mundo eram visíveis e sabíamos como encontrálas.

Este breve relato se passa em uma época em que a Noite não era livre, pois naquele tempo não existia hora, era dia até deixar ser.

Eram tempos complicados e confusos, pois o dia parecia não ter fim e, quando todos já estavam se esquecendo de como a Noite era bela, ela se fazia presente. A Noite surgia sem aviso e, sem aviso, desaparecia. A vontade de dormir acompanhado pela Lua era o maior desejo dos homens, mas nem todos podiam descansar com a chegada da Noite, pois com ela as criaturas noturnas também surgiam trazendo os pesadelos mais terríveis.

Assim que a Noite anunciava sua chegada, as tribos do Norte e do Sul guerreavam para decidir quem teria o privilégio de dormir, enquanto a tribo derrotada era obrigada a passar a noite em claro, e assim, impedir que as criaturas da Noite dominassem o mundo e, dessa forma, eles conseguiam manter os pesadelos longe daqueles que descansavam tranquilamente.

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Assim foi durante muito tempo, a Noite se anunciava e as tribos se encontravam no centro do mundo para duelar pelo privilégio de dormir. Todos os integrantes das tribos guerreavam com vontade, homens, mulheres e até mesmo as crianças brigavam entre si com suas armas de brinquedos, pois ninguém sabia quando a Noite voltaria.

Por muito tempo, até o próprio Tempo pensou que nada mudaria, até que um dia, cansado de ver sua tribo sendo derrotada todas as noites, o líder do Norte resolveu pedir uma trégua ao líder do Sul: “não seja tolo, sabemos que a Noite está trancada em algum lugar, se a soltarmos ela ficará tão agradecida que manterá as criaturas da Noite longe de nosso território e poderemos dormir sempre que ela chegar. Poderemos, enfim, dormir sem medo”. O líder do Sul gostou daquele plano, realmente era uma ótima ideia.

Juntando suas forças, as tribos do Norte e do Sul viajaram por além das estradas escondidas, viajaram para onde os mapas acabavam e para onde ninguém se atrevia a andar. Todos sabiam onde os demônios se escondiam, mas o desejo de dormir sob as estrelas de uma noite longa os motivaram a se aventurar.

Depois de muitos dias de busca, e foram muitos dias mesmo, pois a Noite não os visitou nenhuma vez, as tribos conseguiram encontrar a tal criatura que escondia a Noite que tanto desejavam. A Noite vivia presa por correntes quase tão grossas quanto o tronco de uma árvore velha. A criatura não ficou nada satisfeita com aquela invasão, mas ela não podia dar conta de tantos homens armados e determinados. Assim como esperado, ela foi derrotada com extrema facilidade pelas tribos do Norte e do Sul e a Noite foi finalmente libertada, mas antes de aceitar a derrota, a criatura lançou uma maldição naqueles homens, como eles desejavam tanto a noite, viveriam apenas durante ela e dormiriam durante o dia, assim não batalhariam mais uns contra os outros, mas enfrentariam, juntos, os temores trazidos pela Noite recém libertada.

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Desde então, as tribos do Norte e do Sul dormem durante o dia inteiro e quando a Noite chega, eles unem suas forças para afugentar as criaturas que se aproveitam da escuridão. Às vezes, como recompensa, a Noite permite que as tribos tirem uma boa soneca, mas logo eles precisam voltar para o trabalho, pois os pesadelos não dão trégua.

Quando um pesadelo o acordar, é porque aqueles que libertaram a Noite a estão aproveitando, então, volte a dormir, pois as tribos do Norte e do Sul já devem ter voltado ao trabalho.

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S

ufoco

Daniel Heldt Urban — Tá bom, tá bom... eu conto essa história. Parem de encher o saco!

Assim sendo, éramos quatro amigos num bar, ou seja, euzinho, que me chamo Marcus (como eu costumo falar para meus alunos: MarCUS! Com “cus” no final... ganho todos eles com essa piadinha no primeiro dia de aula). Sou professor de geografia da Escola Particular de Ensino Médio Pastor Holmes. Estavam junto comigo no bar o professor Diogo, professor de história do Ensino Médio e Conselheiro Educacional... um cara alto, com seus mais de dois metros, cabelos negros que acompanhavam sua longa barba da mesma cor. O Diogo, podemos dizer, era um cara “da paz”... curtia muito uma verdinha. E até em alguns casos, fumava junto com antigos alunos já formados. Mas esse não é o foco da história.

Tinha um cara que eu não gostava junto na mesa, o professor Zélio... o cara era nojento, aquele típico professor que cortejava as próprias alunas. Houve boatos que ele chamou uma aluna menor pra sair e tomar uma cerveja com ele... como eu disse, o cara era nojento.

Era meio ruivo, mas não completamente. Olhos azuis desbotados e uma imensa papada que faria qualquer galo ou galinha ficar com inveja. E eu ainda não sei porque contei essa história com ele presente. Acho que a cerveja acabou falando mais alto.

Por último, uma mulher entre três homens, a professora Cida, de educação física. A mulher tinha uma pele perfeita, cor de cuia, e... gente, professora de educação física que realmente manjava das atividades físicas. Ela fazia muitos bicos de personal trainer também... eu tinha uma queda gigantesca por ela, mas sabia que não tinha chance nenhuma.

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Ela era mais alta que eu, pra começar, e nunca conseguimos criar uma conexão que estabelecesse uma base para algum dos dois magnetizar uma iniciativa... da minha parte, eu tentava, e muito. Mas já estou me alongando demais com as apresentações, esses malditos estavam comigo no bar que ficava próximo da escola Pastor Holmes.

E lá bebericávamos a água que o passarinho não bebe, e eu era muito próximo do Diogo... ele já sabia alguns podres meus: — Marcus... eles precisam que você conte aquela história pra eles, disse-me o gigantesco homem aos cutucões.

Eu sabia qual era aquela história. É a mesma que acabei contando pra eles e agora estou contando para você, leitor.

Resolvi passar a pior e mais traumática experiência da minha vida para o papel a modo de que isso acabe se tornando um entretenimento para a maioria das pessoas possíveis... vai que seja uma espécie de terapia... rir da própria desgraça. Descobrirei agora, enquanto escrevo algo que tira meu sono até hoje.

Estávamos no bar e contando algumas experiências de vida que quase nos levaram a óbito. Esqueci de falar mais acima e estou sem paciência para voltar lá e reescrever essa parte, mas os nomes usados aqui podem ser fictícios. Olha só, parece até livro de escritor profissional.

Vamos nos ater à narrativa: Diogo contou uma história fantasmagórica a respeito de quase morrer em uma montanha-russa, em que o cinto se desprendeu e ele teve que se segurar no ferro do carrinho até queimar completamente as palmas das mãos. O puto do Zélio contou sua “triste experiência” de como quase fora parar na cadeia por “acusações falsas de pedofilia”. Meu Deus, como eu odeio esse cara! Ele contou toda a história com um sorrisinho cínico no rosto. Mas a vida cobra, e esse cara ainda vai acabar sendo pego.

Cida acabou contando uma história de um ex-namorado que acabou se tornando um stalker, e que um dia quase a matou após uma perseguição. Ele não aceitava o término de jeito nenhum, e ficava seguindo Cida por todos os cantos e, quando ele a viu junto com um novo companheiro, enlouqueceu! Encurralou-a em um beco e queria cortar os seios dela com uma faca de cozinha.

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Quando Cida gritou, um morador de rua que estava todo coberto por papelões e adormecido naquele mesmo canto se levantou e acabou dando uma surra no verme.

— Salva por um mendigo... ela devaneou com o copo de cerveja em mãos, um pouco já alterada pelo teor alcoólico.

— Que nada, salva por um homem de verdade! Exclamei, também bêbado.

— Senhoras e senhores, Marcus esquerdista! Apresentou-me aos deboches o professor Diogo. Climão na mesa de bar. Foi a primeira vez que Cida me lançou um olhar com sentimento... e era constrangimento. Era minha vez de contar uma história tenebrosa.

— Marcus... eles precisam que você conte aquela história pra eles, me disse o gigantesco homem aos cutucões.

Foi aí que começou.

— Que história? Zélio assumiu uma postura de curiosidade que me deixou irritado.

— É muito pesada... só se o Marcus contar mesmo, Diogo disse aos suspiros.

— Essa não dá, Diogo... é muito pessoal.

— Se quiser eu vou embora, e deixo os homens de verdade mais à vontade. Cida usou palavras viperinas que acabaram me abalando... quando estamos bêbados, ficamos muito mais sentimentais. Assim começou uma pequena discussão sem fundamento que não vale a pena enrolar com explicações na narrativa.

— Tá bom, Tá bom... eu conto essa história. Parem de encher o saco!

Após minha exclamação, os demais presentes na mesa realmente pararam de encher o saco, e eu tive que contar sobre a pior noite da minha vida: Fazia frio na metrópole gaúcha naquela noite. Encontrava-me no município de Porto Alegre, em um local bem conhecido da capital, um lugar chamado de Cidade Baixa. O frio nas férias de julho não abalava minha vontade de socializar naquela noite. Eu vestia uma blusa do meu curso da faculdade, uma blusa no estilo “canguru” de cor cinza e com as letras verdes bordadas à frente do meu peito: UFRGS GEOGRAFIA.

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Por cima, um sobretudo de lã batido, fazia muito frio mesmo, a ponto de usar cachecol e luvas. Era o que também eu vestia. Lembrome que calçava minhas pequenas botas de trilha que muito fazíamos naquelas boas épocas de faculdade. Era tudo novo pra mim, e combinei de encontrar com amigos em um barzinho na capital gaúcha. Na Cidade Baixa, no barzinho, sentei-me com alguns amigos do curso, e fui um dos últimos a chegar. Parece que velhos hábitos não mudam, mesmo 20 anos depois do acontecido, a sensação de sentar com colegas e socializar é ainda uma das minhas favoritas.

Havia muita gente que eu nem me lembro junto na grande mesa do bar da Cidade Baixa, e eu sentei do lado de Amanda, também conhecida pela alcunha “Andi”, uma linda garota com traços italianos. Cabelos escuros e ondulados, um nariz adunco e olhos verdes de esmeralda.

— A melhor maneira de esquentar o corpo no inverno é bebendo!

Disse um dos tantos rostos que hoje em dia são gris na minha memória. E assim começamos a bebedeira.

Tínhamos um bordão naquela época, um bordão que uso até hoje: “To bebendo, véio!” vocês não entenderiam nem se eu explicasse... piada interna de bons colegas de faculdade.

Eu e Andi nos conhecemos na mesa de bar. Aliás, eu já a conhecia do curso, mas nunca havia trocado ideia com ela. E essa noite ficou para nossa história. Depois de inúmeras torres de chop e incontáveis shots de tequila, nos beijamos na mesa e o coro de rostos gris comemoravam algo que provavelmente eles nem lembram mais.

Andi era perfeita: suas feições, suas curvas e até mesmo sua grave voz rouca, com um forte sotaque da fronteira do Rio Grande do Sul. Completamente boêmios, já estigmatizávamos algumas promessas que acabaram por nunca se cumprir.

— Vamos pra fronteira? Está faceiro? Vamos pra São Borja? — ela falava com o forte sotaque da colônia. Se você estivesse lá presente, seria mais ou menos dessa maneira que escutaria suas falas que reverberam em minha mente até os dias atuais, pois me sentia como se fosse seu cachorro de estimação: “Vãmô prá frontêra? Tá facÊro?

VãmÔ prÁ São BórjÁ?”.

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Ela falava de um jeito carinhoso comigo repetidas vezes essas palavras, e eu não sabia o que responder. Apesar de no dia estar muito bêbado, minha memória se recusou a apagar alguns detalhes como esse, e principalmente os que virão a seguir.

As frases de sotaque carregado de Andi me dão calafrios só de escrever. No meu ouvido, ela soltou essa: — Vamos lá pro meu apartamento, hoje eu quero te dominar, seu gostoso. lembrando dessa proposição, pareceu muito mais uma ameaça do que um cortejo. Porém, eu não fazia ideia do que me aguardava naquele futuro que se tornara um passado inesquecível.

A ida até o apartamento de Andi, ou, como me lembro bem, a descida para os portões do inferno, foram agradáveis nos momentos daquele presente. Hoje em dia eu tento mudar o passado para ser atropelado no caminho para a casa da descendente de italianos.

Como eu disse anteriormente, estava frio, muito frio. Fomos abraçados e, por mais que ambos estivéssemos embriagados, Amanda forçava muito, e fingiu diversas vezes que estava prestes a cair. Rindo, as palavras “faceiro”, “fronteira” e “São Borja” ecoavam de sua boca. A voz de contralto era metálica, e me rasgava junto com o frio da capital.

A estrada de paralelepípedos contrastava com a lua cheia e as estrelas embaçadas pela forte iluminação dos postes portoalegrenses. O apartamento de Andi se localizava na Cidade Baixa mesmo, e não demoramos muito para chegar aos tropeços em seu apartamento que se localizava em um antigo edifício.

O local não possuía elevador, e precisamos seguir nosso caminho para o quarto de Amanda através das escadas, lá ela fingiu de um jeito bobo cair pelas escadarias, e me recolheu para cima dela, e lá ficamos nos tateando e trocando beijos gelados e alcoolizados.

Descobri que a mulher era insanamente luxuriosa, e não parava de dizer palavras de baixo calão que me excitavam cada vez mais.

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— Vou te amarrar todo e sentar nesse pau gostoso até você gozar umas três vezes dentro de mim. Eu quero esse pauzão a noite inteira! Ela regozijava aos gemidos palavras embriagadas com tesão, e eu me sentia um homem invencível com aquela amazona me prometendo tanto prazer.

Demoramos um pouco para chegar no seu apartamento, mesmo depois das lascívias trocadas na escada, Andi demorou muito para completar o último degrau. Ela parecia estar mal de verdade.

— Andi, estou doido para te comer, mas podemos deixar isso pra outra noite, você não parece muito bem… atrevi-me a dizer, por mais que também estivesse ébrio, ela parecia estar em um nível superior. Sabia que o tesão dela falaria mais alto, mas quis me portar como um cavalheiro.

Ela me esbofeteou com força no rosto. Fui-me excitando e acabei não sentindo nada, mas sua mão ficara marcada em minha face e o estrondo que o golpe fez foi ensurdecedor no corredor do edifício à frente da porta do apartamento amaldiçoado.

— Essa noite você é todinho meu...

Ao adentrarmos no covil da viúva-negra, parecia ser um pequeno apartamento normal de uma universitária em Porto Alegre, e quando ela me empurrou para seu quarto, acabei entrando em uma aterrorizante sala de tortura. Luz negra, instrumentos de prazer que não saberei categorizar e sua maioria não faço nem ideia como se chamam. Inúmeros chicotes, roupas de couro que, naquele meu momento inocente, apenas me excitavam.

Sua cama era gigantesca, e no meio dela Andi me empurrou com força.

— Quietinho... e nisso ela tirou minhas vestes em uma absurda velocidade, e com isso sua cabeça começou a bombear pra cima e para baixo meu pênis inchado de libertinagem.

Quando me dei por conta, estava com as duas pernas amarradas na cama, e os pés algemados. Achei aquilo sensacional. O corpo dormente da mistura de destilados com fermentados me dava uma sensação de voar, mesmo paralisado em uma cama fantasmagórica.

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Andi foi brincando com sua língua por todo o meu corpo, enquanto puxava cordas do desconhecido e continuava a preparar sua teia para o pobre inseto capturado. Entrementes, minhas mãos estavam algemadas em uma viga de madeira na cama da aranha, e após completar o show de suas teias, veio seu grand finale.

Em minha ingênua testa e queixo, uma espécie de couro me prendeu olhando pra cima, e um gosto metálico invadiu meu paladar que já não estava trabalhando muito bem.

— Ki orra i essa! — consegui gritar, e me dei por conta do ferro que estava no fundo da minha boca, separando meus dentes superiores e inferiores. Eu não conseguia falar, e minha cabeça estava completamente imobilizada, não conseguia ir para os lados por conta das tiras de couro amarradas, e também sem o movimento da boca.

Havia-me colocado um bridão. A embocadura para cavalos é muito utilizada no processo de doma. Eu estava morrendo de medo daquela mulher, que disse com a voz rasgada e com o sotaque forte do interior: — Hoje eu vou domar meu garanhão, quero cavalgar bem gostoso no pauzão do cavalo.

A mulher tinha um fetiche em cavalos! Ela estava nua na minha frente, a pele alva prateava com o contraste da lua cheia, que iluminava da janela do quarto de Andi.

A palidez e suas expressões estava me causando um mal-estar enorme, enquanto isso, meu pênis pulsava querendo saborear as promessas da cavaleira. Minha dominadora ficou por cima de mim, colocando o membro rijo dentro de uma poça lubrificada.

Gememos na mesma intensidade e, ao mesmo tempo, aquilo era incrivelmente bom. Foda-se os fetiches bizarros da garota. Suas pupilas estavam dilatadas e, em uma das mãos havia um relho de couro trançado.

Ela me deu a relhada no peito. A dor foi intensa e revigorante, estava excitado, o fato da absorção de dor pelo formigamento do corpo devido ao álcool fazia tudo ficar menos grotesco.

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— Eu quero meu garanhão relinchando enquanto me come! — ordenou a ginete, que percebi estar usando um chapéu tradicional da pilcha gaudéria.

Eu não quis nem saber do meu orgulho naquele momento, e comecei a relinchar do jeito que ela mandava, levando golpes de relho até gotículas de sangue invadirem todo meu corpo. Foi um sexo inesquecível.

Mesmo depois da gozada, ela não deixava eu sair de dentro dela, e eu não conseguia me mexer, e acabei terminando mais uma vez dentro da montadora, e na segunda vez ela se deleitou ao mesmo tempo que eu.

E a partir de agora será difícil de escrever, pois Andi veio pra cima do meu rosto e começou a lamber toda a minha boca, numa tentativa frustrada de beijo, tendo em vista os apetrechos que me impediam de contribuir.

Durante o processo doentio daquele beijo, Andi golfou e vomitou todo o resultado daquela noite por todo meu corpo, e, por Deus, dentro da minha boca! Minhas narinas estavam vomitadas, assim como meus olhos, e eu não conseguia me mexer.

Ouvi um baque surdo no chão, e nenhuma voz acompanhou o tombo. Depois de alguns segundos de processo, concluí que Amanda havia desmaiado!

Eu não conseguia enxergar, eu não conseguia gritar para ela me desamarrar, tamanho era o volume de vômito e bile dentro da minha boca... mas o pior de tudo: eu não conseguia respirar.

Estava bêbado, imóvel e sufocando com o vômito de outra pessoa. A embocadura não permitia que eu golfasse de volta o líquido da minha algoz. Lembro-me do gosto com perfeição. Era uma mistura de fermento, ácido, salsichão e farofa, o qual descobri ter sido o almoço de Andi. Conseguia sentir os pedaços de gordura tocar meu palato, bochechas e língua. Pequenos nadadores em uma piscina de podridão.

Tentava respirar pelas narinas, mas também estavam obstruídas com as rajadas do veneno da viúva-negra, que me deixara paralisado 17 para morrer com seu golpe mortal.

Inspirei com força o vômito em uma fungada demoníaca e, quando percebi, alguma coisa havia trancado minhas vias nasais, e eu ainda não estava respirando. O novo garanhão de Andi seria sacrificado da pior maneira possível.

Ou eu engolia o vômito da amazona, ou então eu morria. Já que eu estava com a cabeça imóvel e não conseguia cerrar os dentes, foi muito mais difícil engolir o vômito do que o leitor pode imaginar.

Tive de engolir de pouco em pouco os restos de Andi deixados em minha boca. Sim, eu posso responder essa pergunta: vômito não tem um gosto bom.

No meu desespero, enquanto engolia vagarosamente o licor de Amanda, às vezes acabava golfando de volta o vômito ingerido, o que me desesperava ainda mais. Eu não estava preparado para morrer, na verdade, ninguém está. E posso afirmar com todas as letras.

Fui deglutindo aquela gosma em minha garganta, enquanto lutava para voltar a respirar. Sentia cada grão de farofa entrando dentro dos gorgomilos, os pedacinhos engordurados de salsichão eram molengas, mastigados e repugnantes... eram o pior de tudo naquela sopa de letrinhas que se formava em minha imaginação, emoldurando caractere por caractere até chegar em minha mente uma única palavra: “R-E-S-P-I-R-A-Ç-Ã-O”.

Até os dias atuais, quando regurgito alguma coisa, tendo em vista os anos de experiência e correções de provas, aulas inacabadas e ameaças dos pais de alunos mimados, resultando em uma gastrite que só os professores entendem, as expelidas se transformam em vômitos, pois não consigo engolir de volta o meu próprio refluxo, tamanho é o trauma que essas memórias me causam.

Morrer sufocado com o próprio vômito acontece muito com quem tem overdose, mas eu estava apenas bêbado, e sufocando com o vômito de uma mentecapta! Chegou um momento que pensei em aceitar minha morte, pois estava engolindo a goles de beija-flor aquele néctar viscoso.

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Demorava muito cada ingerida, e algumas vezes voltava todo o ranço. Após todo o trabalho árduo e o vômito voltar ainda mais nojento, eu precisava engolir mais uma vez, com uma paciência que eu não tinha, tamanho desesperadora era minha situação, e também nos anos mais jovens ficamos muito mais ansiosos do que o normal, e me faltava sangue-frio pra continuar engolindo aquele vômito.

Desafio o leitor a tentar engolir algo apenas usando a língua e a garganta, com a cabeça completamente imóvel, o queixo trancado e os dentes separados por um ferro que por si só já faz o trabalho de te deixar enjoado a ponto de dar umas vomitadas.

A desgraçada não acordava, e até mesmo meus espasmos eram silenciosos. A aranha estava com sua presa completamente imobilizada. Mas, por fim, consegui sorver todo o caldo da minha homicida culposa. Se não, não estaria aqui contando essa história pra você.

Depois disso, nunca mais saí com Cida e até mesmo o nojento do Zélio, que me evitavam ao máximo. Após contar minha história, o assunto morreu, pagamos nossas contas no barzinho e cada um seguiu seu rumo, e apenas Diogo estava feliz, quase se mijando de tanto rir após escutar essa história pela segunda vez.

Não minto pra você, leitor, em dizer que não fiquei feliz após a última golada do vômito de Andi. Foi como nascer novamente. Não faço a menor ideia de quanto tempo fiquei sem respirar, mas sentia meus pulmões inflados como dois balões daqueles que se vende em qualquer shopping que se preste. Eu estava prestes a explodir por dentro, e essa é uma sensação que me assombra até os dias atuais.

Após muito tempo gritando algo parecido com “socorro”, minha carcereira acordou e, muito tímida e parecendo outra pessoa, em eternas súplicas de perdão me desamarrou e me convidou a tomar um banho em seu chuveiro.

Depois, me despedi friamente de minha carrasca e tomei rumo até minha própria casa. Enquanto caminhava com as primeiras luzes da alvorada batendo em meu rosto juntamente do minuano gaúcho, olhei pro céu e agradeci por ainda ter a chance de contar essa história.

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de C arrinho Feira Sparr O barulho das rodas sobre o asfalto a faziam se distrair um pouco do barulho, igualmente incômodo, dentro de si. Como podia ser tão invisível às pessoas que tanto a diziam que era essencial. Sua essencialidade para àquelas, bem sabia, era provinda do fato de que os trabalhos, a ordem, o zelo e a despreocupação, eram graças à sua dedicação em cuidar de cada um segundo a sua necessidade, mas afora os préstimos de seus trabalhos, sua essencialidade, era nenhuma.

Lúcio era o primeiro a deixar claro que o seu valor vinha do que podia devolver a ele. Como se chamá-la de esposa fosse um ato de caridade, pelo qual ela precisasse ser grata eternamente em trabalho escravo e silêncio. Era uma mulher do passado, vendo a vida passando. Arrastando o carrinho morro acima para a feira. Para comprar tudo do mais fresco e bonito. Eles jamais agradeceriam, jamais demonstrariam qualquer sinal de empatia pelo peso carregado. Ela era como aquele carrinho que arrastava com ferocidade. Barulhenta, perturbadora, forte e sozinha e sustentada por mãos mais hábeis que as dela, que a mantinham presa e alinhavam seu caminho. Demonstrar gratidão, decerto lhes arrancariam um pedaço. Filhos que só sabiam de seu valor quando algo desaparecia, quando estava sujo, quando precisavam de sua subserviência.

E à medida que os anos passaram em moldes de silenciosa aceitação, esqueceram de sua pessoalidade. Anularam tudo o que lhe tornava parte importante daquela estrutura. E até mesmo sua vaidade, que tanto foi contada como impecável em anos de conquista, namoro e finalmente no casamento, agora era simples fumaça de memória.

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Era certeza que Lúcio via e convivia com outras. Nunca fez questão de negar ou esconder. Como um desafio. Como se na afronta de humilhá-la, deixasse permanentemente a pergunta: e se for, você vai fazer o quê?

O carrinho chiava sobre o asfalto, assim como a chiavam todos estes pensamentos, lembranças e amarguras. Por vezes, pensava que era muito ensimesmada, até recordar-se, com grande esforço, que ainda detinha em si o seu valor.

Não conseguia parar de culpar a velhice por tudo que lhe acontecia, sabia não ser a causa, era apenas o consolo comedido. Ela ainda queria ser delicada como uma rosa, tratada como uma. Talvez se ainda tivesse o frescor juvenil de uma rosa, Lúcio viria para o jantar, a olharia e, finalmente, a enxergaria. Daria um sorriso encantado e eles ficariam felizes.

Uma rosa, em seu botão, parece ao toque, veludo; em sua plenitude, arranca suspiros dos mais arredios, tem beleza, força, segurança, cor, é ainda perigosa, com seus espinhos para defender o corpo e antever o ataque. Em sua putrefação, faz questão de esfregar na cara dos homens a brevidade da vida e dos tempos. Ninguém gosta de envelhecer. E Lúcio não virá para o jantar, porque não importa quanto ela se esforce. E só isso, posse de quem não a quer. É o carrinho de compras da feira, barulhento. Não é alguém com a aparência de uma rosa.

Mas espere! Quando, em nome de Deus, uma rosa deixa de ser exatamente o que é, só porque quem a ganhou queria que fosse outra coisa? Quando ela troca de forma para agradar alguém? Era isso. Ela ainda estava ali. Viva.

Sob o pesado fardo de seu carrinho, seguiu o caminho para comprar o seu jantar fresco. Ia ser o que ela queria. Lúcio não viria, mas já não importava. O barulho insuportável das rodas no asfalto a permitiram entender que ela sempre esteve no controle. Deixou se abater pelo cansaço, mas acordou. Não era o fardo. Era a rosa. Ia agora cobrar o preço do descuido com seu próprio jardim. E que eles todos se preparassem, ela finalmente era, de novo, toda rosa de si.

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O Parnaíba Noélia Ribeiro

O rio divide os falares da Maria do Maranhão, da Isabel do Piauí Mergulho meu Pernambuco co´as duas moças em mim enquanto espoca a cajuína sob o sol e cega a vista libertina na água do rio do ventre da nação nordestina.

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Os Sapotis Noélia Ribeiro

No meio do caminho de minha infância, na Rua do Lima, tinha duas pedras parentais, que, mais tarde, escondi no bolso do vestido.

Tinha um ser indecifrável, com várias identidades: moço, guarda, homem do saco, cuja chegada próxima era sempre procrastinada.

Tinha a escola, uma casa pequena para abrigar tanto céu e tanto inferno trazidos nas mochilas das crianças.

E tinha as carambolas e os sapotis que exterminavam medos e colocavam sonhos em seu lugar.

Os sapotis nefelibatas me ensinaram a escrever poemas...

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Paideia Pietro Costa

Ambientes sutilmente monitorados Massa crítica diluída e a Arte banida A mediocridade por poder e “status” Entretenimento em detrimento da Vida Labirintos sem norte e experimentos sem ideal Humanos-ratos vagueando pela infausta sorte Independente do ponto cardeal, ilusão tão real Sem liberdade de pensar, odiosa e inglória morte Ocupemos as ruas, praças, feiras, enquanto há tempo Contemplar o sol que aclara sonhos e acontecimentos Entreolhar-se de sorrisos, fantasias e questionamentos O corpo integrado com a mente no cultivo do saber Grandeza, forma, harmonia, memória, para florescer Por um fazer sem soterrar o sujeito da condição de ser O workaholic devoto é carnífice do próprio coração Cego e incrédulo ante as proezas mágicas da intuição Um salve ao ócio, para evadir a gaiola e recusar a ração Absorvendo energia do humanismo e da imaginação

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Veja pássaros assoviando ritmadas poesias Pipas soltas no céu colorindo pensamentos Flores exalam e exaltam charme e alegria A sabedoria oculta de filosofias e fundamentos Leia e decifre, na mão e na mente do artista, Retratos da beleza ímpar de cada momento Salve a realidade de letras e tons, não televisionada Inspira encanto, promove o canto e oxigena a razão Dance ao som inefável da aurora e da madrugada A árvore da vida gera frutos doces: sonho e paixão Os livros são nossa arma e a nossa salvaguarda A prover a defesa legítima de uma digna educação

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Gustavo Barberá Título Original: John Aron e o Enigma dos Sonhos Autor: Gleiber Clodomiro Ano: 2019 Editora: Plus / Coerência Páginas: 206

Sempre que se fala em livros de fantasia, fico entusiasmado em ler e comentar com todos. Com “John Aron e o enigma dos sonhos” não foi diferente. Uma história envolvente e repleta de surpresas que irá prender o leitor do início ao fim com os acontecimentos que aparecem sucessivamente de uma forma incrível.

A obra conta a história de uma família que decide mudar de cidade por motivo de trabalho do pai e, durante a viagem, sofre um acidente que deixa Lucas e Erick órfãos. A partir daí eles começarão a se aventurar numa nova vida em outro mundo, repleto de seres mágicos, animais, elfos e dragões.

Um dos pontos principais dessa obra é a eterna rivalidade do bem x mal, que são representados de forma clara e, às vezes, até cruel. Gostei como o autor aborda os fatos que realmente acontecem em nossas vidas. Ele foi bem realista em tratar de assuntos como valor e princípios do ser humano e como o próprio se comporta perante essas características.

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É uma história que pode ser lida por qualquer faixa etária, pois além de ser uma trama repleta de aventuras e com muita ação, faz o leitor refletir, nos ensinando a sermos humanos, como por exemplo tratar bem o próximo. Há uma passagem em que um dos personagens é vítima de bullying, por causa de suas características físicas, o que desperta um sentimento de compaixão por ele; é de se pensar sobre esse tipo de comportamento. “À medida que saímos da ignorância e evoluímos por meio do conhecimento, caminhamos em direção ao bem, pois, conhecendo a verdade, nos libertamos”.

Seres místicos é o que não faltam nesse livro. Em John Aron, estamos muito bem servidos de seres medievais, elfos, dragões e seres metamorfos (capacidade de se transformar em animais), o qual garante muitas emoções.

Narrada em terceira pessoa, o autor foi bem objetivo na criação do enredo, onde em momento algum a história se torna arrastada ou sem ação, com uma linguagem tranquila e sem palavras difíceis. A obra é lida de forma fluida e constante, onde aguça muito a curiosidade do leitor conforme os acontecimentos vão surgindo. E com um final emocionante e de tirar o fôlego, jamais imaginei que o epílogo fosse me deixar extasiado e com aquele desejo de continuação.

Portanto, se ainda não leu “John Aron e o enigma dos sonhos”, não fique de fora e garanta seu exemplar para ficar sabendo de tudo na íntegra. Você não imagina o que esse livro te reserva. Aliás, falei tanto da obra e não disse nada sobre quem é John Aron. Pois é, caro leitor, seria uma bomba se revelasse sua identidade. Se deseja saber quem é, só lendo a obra e se surpreendendo.

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Kereato, refúgio e jardim cosmológico inconstante

Brendo Francis Kereato é um planeta tornado habitável a partir da ação dos seres da Esfera Paralela, a Lua de Kereato. O planeta foi criado como um refúgio universal para espécies ameaçadas, bem como um grande jardim cosmológico para os próprios seres esferiais. Milênios depois da criação do planeta, humanos e terráqueos (em estado de deriva no espaço sideral, em naves grandes e quase sem recursos), pedem abrigo em Kereato, e tal pedido é julgado pelo Conselho Universal da Lua. Para este caso, foram analisadas a história da espécie, os motivos que geraram sua crise e análises da capacidade destes seres de viverem harmoniosamente em Kereato, não comprometendo a existência de outras espécies.

A presença humana em Kereato foi alvo de controvérsia e discordância, de modo nenhum consenso quanto ao aceite ou rejeição total. Balthus, Petrus e Tarbus, grandes membros da Irmandade Tritia do conselho, defenderam a presença terráquea. Dárkon, Saygon e Dévion se posicionaram contrários, abominando a humanidade e sua história em relação ao planeta Terra (naquele tempo, destruído). Por conta disso, após dezenas de semanas de discussão, o Conselho resolveu que faria uma experiência avaliativa com a civilização humana.

Por 10.000 anos, poderiam viver em Kereato e, depois disso, a experiência que provocaram e tiveram no planeta seria avaliada.

Se a humanidade tiver acrescido prosperidade à vida e ao ambiente de Kereato, seriam admitidos permanentemente. Do contrário, seriam expulsos e banidos, exilados à deriva no espaço sideral. Todos os conselheiros foram proibidos de ajudar ou prejudicar os humanos diretamente. Por isso, foram criados 10 itens universais, os quais poderiam ser usados por um membro da Esfera Paralela para poder circular na superfície do Planeta Kereato.

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Por conta da impossibilidade de ajudarem os humanos diretamente, a Irmandade Tritia posteriormente criou os Guardiões, e os Hawii, os Cavaleiros. O objetivo destes dois grupos é claro: o primeiro é exaltar as qualidades dos seres, e seus bons valores (seres em geral, incluindo, portanto, os humanos). Já os Cavaleiros tem um objetivo mais restrito: mostrar que a humanidade é uma ameaça e não pode viver em Kereato, dada a miscelânea de defeitos que possuem.

Assim, no ano 0, a humanidade foi acolhida em Kereato pelo Conselho Universal da Esfera Paralela. Neste processo de recepção, os humanos receberam várias regras, mas Três delas foram as Três Grandes Regras, que não poderiam recusar ou violar: a Primeira Regra foi a chamada “Regra do Confisco”, onde a humanidade abriu mão de todo seu conhecimento e tecnologia, e voltou à situação pré-medieval, assim como todas as outras criaturas de Kereato. A humanidade deveria se desenvolver como todas as outras espécies, começando do zero. Toda a informação que tinham em suas naves não foi destruída, mas armazenada em lugares específicos, como Apotekaquil.

A Segunda Regra foi a “Regra da Paz”: os humanos deveriam conviver harmoniosamente e em paz com os outros seres de Kereato, respeitando seu espaço e seu modo de vida. Era proibido também que os seres humanos desenvolvessem armas, pois o simples desenvolvimento de armas poderosas pode ser usado como uma forma de ameaçar povos inimigos. Pela Regra da Paz, os humanos deveriam se adaptar a Kereato, e não o contrário.

A Terceira Regra foi a “Regra Ateia” ou a “Regra Sem-Culto”. Esta regra proibia terminantemente qualquer tipo de culto em Kereato, fosse dos guardiões, cavaleiros, Esfera Paralela, espíritos da natureza etc. Era permitido ter espiritualidade e religiosidade (como no caso dos monges e monastérios), mas qualquer tipo de adoração foi absolutamente banida pela terceira regra. Essas e outras regras serviriam como norte para julgamento da humanidade. Ela será revisitada pelos seres da Esfera Paralela no ano 10.000, após ter vivido em Kereato juntamente com outras criaturas. Reitera-se que, se os humanos forem julgados hostis e inaptos para o planeta (como argumentam os Hawii e os Cavaleiros), serão expulsos e banidos do planeta, abandonados à deriva no espaço sideral, para sempre. Atualmente, fazem 5.573 anos que a humanidade habita Kereato.

Descubra mais: www.worldanvil.com/w/kereato-brendofc 33

Çay Pablo Santos

A misty journey lurks me, but as I drink çay with the remnants of your essence, It’s like a touch by Allah.

Liquid of eternal grace invading all my system, simmering up inside, melting all in a free muse.

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N iél Sàlim @Nielorama

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