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mas eles não eram diários. Naquela época, queria participar todos os dias de algum concurso. O blog começou como minha agenda”, afirma Aline. Ela diz que nunca usou meios ilícitos e acredita que os promonautas que fraudam são prejudiciais à comunidade. “Tem muita gente que participa honestamente, que passa noites fazendo campanha para ter 100 likes. Aí aparece alguém que consegue 10 mil curtidas de uma hora para a outra. Isso irrita”, diz Aline. Há dez anos, as coisas eram dife-

18 nos últimos 13 anos. A primeira foi para a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006. Só neste ano, já viajou cinco vezes, incluindo Estados Unidos e Canadá. “Como tenho todos os tipos de produtos eletrônicos, não me motiva participar de promoções que oferecem celulares ou computadores”, diz. DESDE 1946, a Caixa Econômica Federal (CEF) tem monopólio sobre a exploração de jogos no Brasil. Por isso, qualquer empresa que queira realizar uma promoção ou sorteio no

As empresas e as marcas que fazem promoção na web preferem fechar os olhos para fraudes. Temem repercussão negativa se retirarem o concurso do ar rentes. Leonardo Jardim, bancário de 33 anos e morador de Porto Alegre, é viciado em concursos desde que eram offline. Ele começou na escola, aos 9 anos, em uma promoção de frases para a festa junina. Depois, vieram os concursos das emissoras de rádio. Com a internet, Jardim passou a se dedicar de verdade aos concursos. O ponto de virada aconteceu após ter ganhado um carro Renault Scenic, em 2000. “Nessa época, ainda tinha conexão discada. Por isso, só participava das promoções durante a madrugada ou nos fins de semana, quando o pulso era mais barato. Depois que ganhei o carro, meu pai viu que o negócio era sério, colocou conexão a rádio em casa. Daí passei a ficar o dia todo na rede”, afirma Jardim. Atualmente, o bancário prefere participar de concursos que oferecem viagens. Ganhou

país deve pedir autorização à CEF, além de pagar uma taxa. A exceção são os concursos culturais, isentos de tributos por estimularem o talento dos participantes. Outra condição para o concurso cultural é não ter objetivos publicitários. Ou seja, uma marca não pode promover o lançamento de um produto, por exemplo. Até julho, eram muitos os concursos culturais que aconteciam pelas redes sociais. Mas nem sempre a regra da CEF era cumprida à risca. “A Caixa não tem estrutura para fiscalizar todo o ambiente online”, diz o advogado Rafael Pellon, especializado em direito digital. No dia 18 de julho, as regras mudaram. A CEF

proibiu a realização de concursos culturais nas redes sociais. Por meio de uma portaria, o banco estatal estabeleceu que apenas a divulgação dos concursos pode ser feita pelas redes. As empresas e as marcas que fazem as promoções preferem fechar os olhos para eventuais fraudes. Elas temem repercussão negativa. “Quando uma empresa percebe que isso aconteceu, simplesmente tira o concurso do ar. Mas não é bom para a imagem, pois fica a impressão de que a promoção não era séria”, diz Pellon. Os fraudadores de concursos podem ser enquadrados no crime de estelionato, por burlarem uma regra para obter vantagem. Dependendo da forma como é feita, a fraude pode ser considerada formação de quadrilha. “Um e-mail trocado combinando uma trapaça pode configurar formação de quadrilha”, diz Pellon. Para esse crime a pena prevista é de quatro a seis anos em regime fechado. Para estelionato, vai de um a quatro anos de reclusão. Ao mesmo tempo que as redes sociais multiplicaram as promoções, elas expuseram os promonautas, não só às empresas mas também aos outros participantes. Os murais dos concursos no Facebook são repletos de acusações de fraude ou plágio. Por tudo isso, Sônia Alves se estressou. “Ando bem parada. Há muita cobrança. Fica aquele negócio de promonauta ameaçar denunciar para a empresa, gente postando ofensas. É cansativo”, diz. Da próxima vez que você se inscrever em uma promoção, saiba que há muita gente que conta com mais do que sorte para ganhar. � * O sobrenome dos dois entrevistados de Brasília foi trocado para preservar a identidade.

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