SET-2011

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/ Vivendo em Beta

Um diário de milhões de pessoas A obsessão por aplicativos que catalogam dados pessoais tem um nome: self-tracking. É só onda ou vai evoluir para algo útil?

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so vários aplicativos, mas meu favorito é o Sleep Cycle (mdlabs.se/ sleepcycle). Além de analisar como você dormiu, ele sabe também qual é a melhor hora para te acordar. Essa obsessão por catalogar dados pessoais tem nome: self-tracking. Trata-se de uma mania que começou com os nerds, mas que agora atingiu o público em geral. Segundo a doutora Susannah Fox, do centro de pesquisa americano PEW, um entre quatro americanos com acesso à internet já mapeou online seu peso ou a quantidade de exercícios. O termo self-tracking surgiu em 2007, num artigo no Washington Post, mas só ganhou popularidade depois que Gary Wolf escreveu, em 2009, uma matéria para a revista americana Wired. Dali em diante, o movimento ganhou força e agora existem conferências em 14 países. Exemplos de self-tracking vão dos mais frívolos aos mais sérios. Na escala dez de frivolidade estão objetos de moda, como a jaqueta de snowboarding que, dependendo do ritmo das pulsação cardíaca, toca músicas mais aceleradas ou mais lentas no iPod. Na escala mais séria, e mais interessante, estão aparelhos, sites ou apli-

cativos que medem a produtividade e os que contam calorias, dizem quanto você está gastando em compras e, claro, até quanto você dormiu, como o Daily Tracker (thedailytracker.com). Existem ainda aqueles que ajudam a sua condição física e de saúde, como o Fitbit (fitbit.com) e o Up (up.jawbone. com), que ainda nem foi lançado e já causou sensação em várias publicações.

DaDOs reaIs Catalogar tudo é só uma mania ou um novo comportamento que pode mudar a nossa visão do mundo? Steven G. Dean, um dos colaboradores do grupo Quantified Self, acredita que, ao catalogar atividades individuais, as pessoas ajudam a descobrir mais sobre o mundo, porque estão fazendo um upload dos dados pessoais para a rede. Antes do self-tracking, muitos mantinham um tipo de catálogo individual, mas não dividiam essas dados. De 2008 em diante, a existência de tecnologia que compartilha, analisa e compara dados em massa é o que distingue essa nova maneira de mapeamento. Para a saúde, mapear as condições físicas é uma forma de pesquisa dinâmica que pode alavancar a ciência melhor que qualquer governo do mundo. E no caso de saber quantos quibes você

AlessAndrA lAriu

come, quantas vezes usou o Facebook no dia ou quantas vezes fez arroz para o jantar, como no Daytum (daytum.com)? Não é inútil e extremamente narcisista? Os seguidores do self-tracking acreditam que não. Eles acham que as descobertas iniciadas por essa tendência estão transformando situações hipotéticas em dados reais. Não seria legal descobrir qual país come mais quibe? Para os produtores de trigo seria vital, bastando apenas uma pesquisa na internet. Para o Facebook não seria legal saber quantas vezes os adolescentes de 15 anos o acessam por dia? Para a galera da publicidade, sim. Isso sem ter de pagar um centavo para as companhias que fazem pesquisas de marketing. A vida de milhões de pessoas, medida e mapeada constantemente, pode nos ensinar muita coisa. Para os pioneiros do self-tracking não existe informação inútil. E os milhares de dados catalogados dia após dia e jogados na rede para que todos tenham acesso ajudam a construir um interessante diário dos habitantes do mundo.↙

Alessandra Lariu, 38 anos, é publicitária e cofundadora do site SheSays, que ajuda mulheres a entrar na carreira de criação digital. Empresária, ela mora em Nova York.

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