REVISTA FUNÇÃO - ED02

Revista

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

Quadrilha Unidos em Asa Branca

Função

QUADRILHA JUNINA Explosão de cores e história de nosso povo.

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ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

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www.sintese.org.br

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editorial

A

narriê! Alavantu! Assim que se ouvem esses dois comandos, preparem-se, a Quadrilha Junina está pronta para nos extasiar com sua história, indumentárias, enredo, cores e sons. Esta segunda edição da Revista Função nos faz mergulhar nesse fenômeno cultural conhecido nos quatro cantos do Brasil, enraizado na cultura popular nordestina e que impulsiona as manifestações de Sergipe: a Quadrilha Junina.

Revista Função – a voz da Quadrilha Junina – retrata, pelos olhares ansiosos e apaixonados de marcadores, brincantes, presidentes e ex-presidentes de juninas, a profunda relação social, econômica e cultural dessa manifestação com os sergipanos. Por sua constituição pedagógica, as próximas páginas estarão repletas de pesquisas, relatos e vivências sobre como costumavam ser as quadrilhas nos anos 1980 e 1990, quais os caminhos percorridos até o ano de 2020 e as perspectivas dessa rica tradição.

As lembranças são muitas, a luta pela manutenção da cultura junina é constante. No depoimento de Antônio Soares de Freitas, Organizador durante muitos anos dos festejos juninos da Rua São João, no bairro Industrial, em Aracaju/SE, identificamos o embrião dos grandes concursos juninos de Sergipe.

Luiz Antônio Lírio do Nascimento, Ex-marcador das Quadrilhas Juninas Arrastapé e Sassaricando e José Elói dos Santos Filho, Mestrando em Cultura Popular, Marcador da Quadrilha Junina Peneirou Xerém, Ex-marcador da Unidos em Asa Branca, também acompanharam esses concursos e testemunharam o despertar das quadrilhas juninas das comunidades na década 1980, suas modificações e ascensão. Esses marcadores conhecem o cenário atual e as dificuldades para montar um grupo coeso, ensaiar coreografia, produzir cenografia, indumentária, pagar o trio formado por sanfoneiro, zabumbeiro e triangueiro e proporcionar o deslocamento para apresentações.

As cores e o balanço de uma quadrilha junina, que tanto nos encanta, têm um custo. Como ressalta Marcos Borges, Jornalista, Radialista e Produtor Cultural, os desvaneios dos aficionados pela cultura sedimentam-se na vontade dos dirigentes e empenho dos brincantes em dançar quadrilhas juninas em oposição às despesas e exigências para que elas se mantenham vivas e concorram por premiações insuficientes para cobrir seus custos.

Na tentativa de se obter o equilíbrio entre essa paixão, as novas regras de concursos e leis de incentivos à cultura e o sustento de sua infraestrutura necessária, as quadrilhas, como relatam Etelvan dos Santos, Presidente da Quadrilha Junina Xodó da Vila e Sergio Luiz Santos Pereira, atual Presidente da Confederação Brasileira das Entidades de Quadrilhas Juninas e da Liga de Quadrilhas Juninas de Aracaju e Sergipe, procuraram se organizar em associações (Liga de Quadrilhas Juninas, Federação da Quadrilhas, Associação de Quadrilhas) no primeiro momento, e, posteriormente, transformam-se, individualmente, em entidades sem fins lucrativos. Estas associações possuem papel de abrir portas para o coletivo de juninas, criar oportunidades igualitárias, entretanto, para que as quadrilhas juninas aproveitem essas conquistas, precisam estar organizadas e existirem formalmente.

A dança da quadrilha junina, sua explosão de cores e as histórias do nosso povo são cenários da pesquisa entusiasmada de Demetrius Alves, Ex-quadrilheiro e Licenciado em Dança pela UFS, assim como foram palco para o ingresso do Mestre

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em Artes e Cultura Popular e Licenciado em Danças pela UFS, Milton Leite, nos grupos de idosos do SESC/SE e para sua experiência na montagem da quadrilha de professores do Sindicato dos Profissionais em Educação Básica do Estado de Sergipe-SINTESE, assim como, de juninas improvisadas em escolas e clubes de recreação.

A tradição e identidade incorporadas às Quadrilhas Juninas lastreiam uma instituição que promove o aprendizado coletivo do fazer junino traduzidos em gestos, vestes e cantos. Nessa perspectiva o Mestre em Cinema e Narrativas Sociais e Professor de Artes, Wolney Nascimento Santos, analisa gestualidade e corpo na composição temática e coreográfica da Quadrilha Junina Meu Sertão, em apresentações do ano de 2019, encontrando fortes características da cultura de Riachuelo/Se, de onde a junina provém.

Essa edição conta com a colaboração de algumas quadrilhas juninas do Estado de Sergipe, que integram essa revista com as suas histórias, são elas: Balanço do Nordeste (Umbaúba/ SE), Encanto do Matuto (N. Sra. Do Socorro/SE), Unidos em Asa Branca e Xodó da Vila (Aracaju/SE), Lumiar (Areia Branca/SE), Balança Mais Não Cai (Itabaiana /SE).

A cultura popular acontece no agora, porém carrega ações, conhecimentos e costumes de outrora. Por isso, para se compreender a paixão dos depoentes e brincantes, o entusiasmo dos pesquisadores e professores, é preciso valorizar aqueles que contribuíram para sua formação. A Revista Função, Voz das Quadrilhas Juninas, homenageia o Grande Mestre da Quadrilha Junina Maracangaia, Gilberto Lima Barreto, através das palavras e sentimentos de seu pupilo e amigo, jornalista Elton Coelho.

Na Galeria – In Memoriam, também encontramos quem partiu e deixou sua marca na cultura sergipana e nas quadrilhas juninas de Sergipe, Cardozinho, da Quadrilha Junina Chapéu de Couro, a forrozeira Marluce. E assim, fazemos também homenagem ao forrozeiro e mestre do licor que aquecia nossos corações Sr. Henrique da Gabriela.

Durante a construção dessa segunda edição, partiu, um dos maiores entusiastas dessa revista, Octagilson Lima Vieira – bonequeiro, ator, técnico em iluminação, um apaixonado pela vida e pela cultura – por nosso respeito e admiração, estendemos nosso “Tapete Vermelho”, texto da Professora Doutora, Diretora Teatral e Arte-educadora Lourdisnete Silva Benevides.

A Voz da Quadrilha Junina trata de respeito à cultura junina, aos brincantes e realizadores, assim, pretende deixar um pedaço das histórias das quadrilhas juninas, as músicas costumeiras, o enredo primário, o vocabulário próprio e os passos tradicionais, com a intenção de aguçar o clamor identitário de alunos, professores, pesquisadores, agentes de cultura e promover a curiosidade sobre culturas em todo leitor.

“Quadrilha é bom/Quadrilha é bom” e não tem só na capital.

A Revista Função nesta edição nos salta aos olhos, enche de cores, sons e alegria. Podem se lançar nesse arraial e dançar nessa leitura!!!

Marilia Andrade Barroso marilia.barroso@outlook.com Licenciada em Letras-Português/UNIT Tecnóloga em Gestão de Turismo (Ecoturismo)/IFS Bacharela em Direito/UFS

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

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acervo do grupo

SUMÁRIO 6

A DANÇA JUNINA NA TERCEIRA IDADE: UM OLHAR SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DANÇANTES NO SINTESE

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QUADRILHAS JUNINAS CULTURA E ARTE (BALANÇO DO NORDESTE)

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QUADRILHAS JUNINAS

36

QUADRILHAS JUNINAS CULTURA E ARTE (ENCANTO DO MATUTO/ XODÓ DA VILA)

CORPO E GESTUALIDADE NA APRESENTAÇÃO DA QUADRILHA JUNINA “MEU SERTÃO” – 2019

37 39 41

RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS FESTAS JUNINAS NAS DÉCADAS DE 80 E 90 EM SERGIPE: VIVER SÃO JOÃO EM ARACAJU)

13 17

UMA FESTA, UMA LEMBRANÇA

22

CANÇÕES DO NOSSO POVO, NO SÃO JOÃO EM SERGIPE

24

HISTÓRIA DA QUADRILHA JUNINA

28 34

RELATOS DA HISTÓRIA DOS FESTEJOS JUNINOS EM ARACAJU)

52

GUERREIROS DAS JUNINAS EM SERGIPE “GALERIA IN MEMORIAM”

53

QUADRILHA JUNINA NO AGRESTE SERGIPANO - LUMIAR / BALANÇA MAIS NÃO CAI QUADRILHAS JUNINAS CULTURA E ARTE (UNIDOS EM ASA BRANCA/ AMOR CAIPIRA)

Revista

ROTEIRO TRADICIONAL PARA MONTAGEM DE UMA QUADRILHA

42

LETRAS E PARTITURAS

33

OS DEVANEIOS DE UMA PAIXÃO CHAMADA CULTURA

IMAGENS E RAÍZES

54

GLOSSÁRIO

EXPEDIENTE

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Função

Críticas, elogios e sugestões de pauta, entre em contato

Projeto Gráfico: Diego Oliveira (DRT - 1094/SE)

Ano 2, nº2

pelo e-mail: milton.leite.cultura@gmail.com

Ilustração: Bené Santana

Editorial: Marília Barroso

Tiragem: 1000 exemplares

Partituras: Wendel Menezes

Impressão: Gráfica Editora J Andrade

Editor : Milton Raimundo Leite

COLABORADORES NESTA EDIÇÃO: Antônio Soares de

Esta Revista tem cunho pedagógico, artístico e cultural

Jornalista Responsável : Diego Oliveira (DRT - 1094/SE)

Freitas, Demetrius Alves, Elton Coelho, Etelvan dos San-

e é dedicada a todos os agentes artísticos, brincantes,

Revisão: Dione Costa Fonseca e Marília Barroso

tos, José Elói dos Santos Filho, Lourdisnete Silva Bene-

quadrilheiros, marcadores, incentivadores, pesquisado-

Produção Executiva : Milton Raimundo Leite

vides, Luiz Antônio Lírio do Nascimento, Marcos Borges,

res, professores, mestres e mestras da cultura junina

Sergio Luiz Santos Pereira, Wolney Nascimento Santos e

sergipana, nordestina e brasileira.

Brincantes e Marcadores de quadrilhas juninas.

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Revista Função.

EDITORA RESPONSÁVEL: M3 TURISMO E EVENTOS CNPJ: 31.855.779/0001-50 Tel: 79 999553578 / 79 99173 3333 Endereço: Rua Bahia, 1345, Siqueira Campos, CEP:49.075-000, Aracaju/SE.

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Revista

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Mosaico de fotos da Quadrilha Junina SINTESÃO - Acervo do Grupo.

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QUEM SOMOS NÓS

Revista Função surge como resultado de mais de trinta anos de pesquisa sobre as manifestações folclóricas em Aracaju, Sergipe e nordeste do Brasil, é também fruto das observações realizadas a partir do trabalho junto aos professores no projeto Sintese Cultural nas aulas de danças tradicionais ministradas por Milton Leite (Editor). Essa experiência trouxe à baila a necessidade de uma discussão sobre as danças populares representadas nesta edição pelas danças juninas.

A Revista Função, edição Quadrilhas Juninas: uma explosão de cores e histórias do nosso povo, trata do reconhecimento da cultura junina do Estado de Sergipe. Acompanhar as manifestações populares e como são tratados os grupos culturais gera questionamentos diversos, contudo, ao nos depararmos como outros estados valorizam os seus movimentos culturais, indaga-se: por que essas manifestações não fazem parte do cenário cultural nos momentos de lazer das pessoas, quer sejam nossos cidadãos ou aqueles que visitam nossa cidade? O Nordeste é rico em ritmos, Sergipe é o país do forró, portanto nossos bailados acontecem todo dia, todo mês, o ano inteiro. Por que as escolas não utilizam esses conhecimentos, muitas vezes acumulados na bagagem do aluno e proporciona uma discussão a partir desses assuntos, os quais estão mais próximos das comunidades onde algumas escolas estão localizadas? Esses questionamentos são realçados cada vez que adentro as salas de aula, convidado por professores ou diretores de escolas. Em cada sala de aula, boa parte dos alunos provém de lugares distintos onde a dança tradicional e principalmente as quadrilhas juninas ainda tentam sobreviver, entretanto o conhecimento do aluno costuma ser subaproveitado, quando não, é simplesmente, ignorado em sala de aula. Essas experiências criam um cenário propício para se apresentar de maneira pedagógica nossas manifestações culturais, a fim de que qualquer pessoa possa conhecer de maneira científica e lúdica as danças populares e caminhe em direção à sua valorização.

Esta revista tem objetivo de resgatar, preser-

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var e divulgar as manifestações populares de Sergipe, mediante artigos científicos, relatos e depoimentos e tem princípios pedagógicos, para que a cultura do povo sergipano seja ao mesmo tempo tomada como identidade e difundida por todo o país.

A Revista Função, em sua segunda edição, é fruto da colaboração e dedicação da professora e tecnóloga em gestão de turismo Marilia Andrade Barroso, o apoio incondicional da professora doutora Rosangela Marques, da contribuição dos Professores e Pesquisadores Lourdisnete Silva Benevides, Wolney Nascimento, João Eloy Filho, Demetrius Alves e Milton Leite e dos jornalistas Elton Coelho e Marcos Borges. Contribuíram também, Sérgio Luiz, Presidente da LIQUAJUSE e CONFEBRAQ e os presidentes de quadrilhas juninas Etelvan dos Santos, Luís Antônio Lírio do Nascimento, os quais não mediram esforços para conceder entrevistas e contar um pouco sobre sua história e sua arte.

Esta edição contou com a nobre contribuição do Mestre Antônio Soares, que, aos seus 90 anos, ainda disponibilizou seu tempo para falar sobre os festejos da rua São João, além dos marcadores e brincantes das quadrilhas juninas de Aracaju e do estado de Sergipe os quais permitiram o uso das imagens que marcam algumas das páginas desta revista. A Revista Função, ano II, é decorrência da contribuição de todos os colaboradores, brincantes e forrozeiros.

Em seu segundo número a Revista Função mostra os muitos anos de lutas das quadrilhas juninas na observação, pesquisa e contribuição do Professor Mestre Milton Leite, ator, dançarino e folclorista, reconhecendo a labuta incansável dos diversos grupos de juninas existentes em Aracaju e no estado de Sergipe com seus desafios, suas criatividades e produções nos festejos juninos, quando as quadrilhas juninas mostram de fato sua explosão de cores e alegrias. No mais, espero que todos aproveitem esta edição e aguardem os próximos números dessa revista.

Milton Raimundo Leite - editor

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

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Quadrilha Junina Sintesão - Acervo do SINTESE.

A Dança Junina na Terceira Idade: um olhar sobre as manifestações dançantes no sintese Milton Leite1 Lembro, quando na década de 1990, no SESC (Serviço Social do Comércio) em Sergipe, recebi a missão de formar a quadrilha junina da Terceira Idade, intitulada de Nova Vida. Na oportunidade encarei o desafio ao desenvolver um trabalho com aproximadamente quarenta idosos na faixa etária de cinquenta a setenta anos. Essa ação fazia parte do Núcleo de Gerontologia da entidade e visava atender ao programa que estava sendo iniciado e voltava-se

para o público da terceira idade.

Dessa proposta surgiu a Quadrilha Junina Nova Vida, que realizou várias apresentações em diversos lugares e por muitos anos. Onde houvesse festas juninas do SESC a presença da Nova Vida estava confirmada, na cidade de Salgado, Simão Dias, em Aracaju, no SAME (Serviço de Assistência à Mendicância), Rua de São João e Centro de Criatividade.

Com o passar dos anos comecei a ser convidado para fazer quadrilhas improvisadas em festas particulares, era um verdadeiro show, todos daquelas festas

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eram envolvidos e se entusiasmavam com minha marcação acompanhada geralmente por Cacau do forró no vocal e triângulo, o senhor Irineu Rufino na sanfona e Durval Santos, na zabumba.

A quadrilha junina de improvisação é um termo utilizado porque geralmente não há ensaio prévio realizado e mais, todos os presentes nas festas, sabendo dançar ou não, poderiam participar e no frisson dos festejos juninos, entravam mesmo na brincadeira. O marcador (nome dado à pessoa que conduz os componentes de uma quadrilha junina em suas partes) começa pedindo para

Revista

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Brincantes: Josefa Santos e Marina Andrade / Quadrilha Junina Nova Vida SESC -SE / Marcador Milton Leite - ANO 1990 - Acervo de Marina Andrade

que sejam formados pares. É valoroso lembrar que originária da quadrilhe, essa dança junina derivou da dança de salão realizada por quatro casais. Assim, no improviso, casais, amigos, desconhecidos, novos conhecidos se juntam em duplas e entram na brincadeira com o principal objetivo da diversão coletiva improvisada.

Assim, é importante salientar a sensibilidade do marcador em cantar as partes que supostamente todos, ou a maioria, entendam ou conheçam para que a brincadeira não se desfaça e chegue ao grande final. Xote, xaxado, olha a chuva, grande túnel, grande roda, olha onda, caracol são elementos do enredo das quadrilhas juninas presentes no imaginário dos sergipanos. Dessa forma, ao chamar cada uma dessas partes a adesão dos participantes é instigada e a folia só aumenta.

A quadrilha Nova Vida e as marcações de improviso me levaram a novos desafios. Aos poucos fui convidado a marcar quadrilhas de improvisos nas escolas municipais e estaduais por Sergipe. A quadrilha junina é uma dança que carrega consigo a interatividade, o coletivo,

a sintonia e união entre os brincantes.

Por isso, no decorrer das minhas atividades junto aos alunos, sempre defendi a dinâmica de utilização, no período junino, da dança quadrilha para que eles compreendessem as necessidades do coletivo, os limites individuais e o respeito mútuo, considerando que para se formar uma quadrilha junina robusta a brincadeira precisa de um determinado número de duplas em sintonia. O ideal deve ser no mínimo oito pares de cada lado havendo juninas que possuem até quarenta casais, não importando gênero, cor ou raça.

Nessa jornada ingressei no Projeto SINTESE Cultural do Sindicato dos Professores de Educação Básica do Estado de Sergipe no ano de 2008, com a proposta de desenvolver ações para professores aposentados e da ativa no cenário da cultura popular em Sergipe.

Por conseguinte, em 2009, realizamos a primeira montagem da Quadrilha Junina Sintesão apresentada nos festejos de São João do sindicato daquele ano. O projeto continua ativo e os convites para apresentações continuam acontecendo.

Até o ano de 2019, antes da pandemia do SARS COVID 19, as apresentações da Quadrilha Junina Sintesão eram solicitadas para as escolas da capital e do interior do estado. Os dois últimos anos não houve a formação da quadrilha junina Sintesão, porém a saudade dos componentes, dos amigos e do coletivo de professores reverbera até os dias de hoje, pois a vontade de brincar na junina Sintesão é enorme.

Em se tratando dos professores aposentados participantes do projeto, observa-se a importância das atividades desenvolvidas através das danças e da pesquisa como viés transformador e de realização pessoal. Na quadrilha junina Sintesão esses professores têm a oportunidade de reviverem e colocar na prá-

tica uma ação que eles não tiveram tempo de desenvolver enquanto estavam em sala de aula e cuidando da formação de suas famílias. Em seus semblantes, durante as apresentações, é sempre notável uma mistura de memórias e felicidade, a dança e o corpo falam por si só, em meio a uma ação coletiva em que uns estão mais ativos do que outros, há espaço para as lembranças dos festejos juninos de todos eles.

A realização da Quadrilha Junina Sintesão pode ser entendida como o ápice da valorização da identidade dos professores aposentados, comemorar os festejos juninos traz uma mistura de resgate e contribuição para uma festa esperada por todos: os Festejos Juninos.

Não obstante a realização individual e coletiva demostrada pelos professores aposentados, é preciso salientar que a partir desse projeto muitos professores da ativa, além da satisfação em participar da brincadeira, do convívio e da interação, desenvolveram trabalhos de pesquisa e releituras sobre as juninas com seus alunos em sala de aula e os resultados foram incríveis, revelando mais uma vez a importância de se valorizar a identidade cultural dos indivíduos, a fim de que eles se reconheçam no coletivo em que se encontram.

Os festejos juninos em nosso estado são considerados uma ação significativa e sem sombra de dúvidas, o forró, a fogueira, os arraiais, os fogos de artifícios, as adivinhações, quentões e danças tradicionais permanecerão vivas no imaginário e no corpo dos sergipanos para sempre como uma tatuagem, pois, São João é coisa nossa, é nordeste, é Brasil, é a arte, a cultura popular, a dança, a quadrilha junina, os costumes do nosso povo.

Viva Santo Antônio! Viva São João!

Viva São Pedro! Viva São Paulo!!!!!

Graduado em Tecnologia de Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Sergipe/IFS. Graduando em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de Sergipe/UFS. Produtor Cultural e Pesquisador do Folclore Sergipano.

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QUADRILHAS Quadrilha Unidos em Asa Branca, Acervo de Marcos Borges

JUNINAS

Demetrius Alves* Observamos que a forma de dançar quadrilha no Nordeste, diverge de um estado para outro, na movimentação dos corpos, nos movimentos das pernas e no número de componentes das quadrilhas.

Mesmo sendo estados vizinhos um do outro, por exemplo, Sergipe e Alagoas, cada um tem uma forma distinta de dançar.

Exemplificando, as quadrilhas do estado de Alagoas não são de bater os pés, e balançar os ombros. Em sua maioria dançam com pulos e executam grandes movimentos de pernas com elevação dos joelhos, os cavalheiros e as damas são iguais na forma de dançar e se movimentar. As damas quase não balançam as saias e em todas as partes usam as mãos

elevadas para evoluir entre os cavalheiros.

Já nas quadrilhas do estado de Sergipe, os homens são diferenciados das mulheres, elas destacam-se a todo o momento, pois o jogo de saia das nossas damas e o balançar de ombros que elas possuem não existem em nenhuma parte do país e das quadrilhas existentes em outras regiões.

Nossas quadrilhas são únicas na formação coreográfica, e na forma de dançar, xote, xaxado e baião. Elas sempre possuíram brilho próprio, desde épocas remotas até os dias atuais. Nossas quadrilhas se destacaram com forte bater de pés dos cavalheiros e belos sorrisos das nossas damas. É importante afirmar a riqueza que se faz presente nas nossas festas juninas. Não falamos de riqueza finan-

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ceira, mas sim de como é rico manter as tradições dos enfeites típicos encontrados nestas festas como: a palha de coqueiro, bandeirolas, peneiras, candeeiro, milhos e balões feitos de papel marchê. Tudo muito simples, mas proporciona uma beleza ímpar a todo ambiente, principalmente quando unimos a isso, as comidas típicas da festa e as brincadeiras do período junino.

Comidas como milho verde cozido ou assado, canjica, pamonha, mungunzá, arroz doce, paçoca, pés de moleque, beiju, bolos de puba, macaxeira, milho e fubá dão aos festejos um toque de celebração à colheita farta dos meses que antecipam as festividades. Mas, como nem só de comida é feita uma festa, temos também as bebidas preparadas para esquentar o arrasta-pé como: as batidas e os quentões preparados no pote de

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barro, e logo depois armazenados em barris para fermentar antes da festa.

Geralmente essas bebidas são preparadas dois meses antes das comemorações, para que possam ser condensadas ao ponto certo e nos momentos da festa faça o maior sucesso com todos os convidados. É possível entender a evolução obtida pelas quadrilhas juninas. Em Aracaju, as quadrilhas eram mantidas pelas comunidades menos favorecidas que não deixavam morrer a dança típica de seus pais. Muitas pessoas se deslocaram da zona rural para morar na capital, trazendo consigo suas tradições. Os componentes das quadrilhas de bairro em sua grande maioria eram da mesma família, ou moradores da região onde a mesma se localizava. Nunca houve um número certo de componentes para fazer parte da quadrilha, havia quadrilhas com seis ou oito pares. Uma grande parte delas era formada apenas para as festas de rua, e nas apresentações na casa de amigos.

Nessa época, os remendos e as pinturas no rosto dos homens foram abolidas e isso passou a ser motivo de gozação. A chita também foi abolida e os trajes foram ficando mais sofisticados, isso sem contar que cada componente escolhia o modelo e o formato de suas vestes. Uma boa parte das damas das quadrilhas ainda compravam seus trajes prontos e isso não trazia um padrão para as quadrilhas.

Nos anos 80, as quadrilhas deviam ter no mínimo oito pares e fazer parte da liga de quadrilhas, não se aceitava nessas quadrilhas falta alguma de nenhum adereço do seu traje típico.

Neste período, as quadrilhas já eram formadas por um trio Pé de Serra e muitas delas traziam um cantor que entoavam músicas regionais e realmente voltadas para os festejos juninos. Eram músicas regionais de cancioneiros populares, como: Luiz Gonzaga, Trio Nordestinho, Jackson do Pandeiro e outros tão conhecidos.

Quanto à musicalidade, a quadrilha matuta colaborou para que o forró se tornasse a ”música típica” das festas

juninas substituindo a valsa, a polca e o maxixe (ritmos predominantes até meados da década de 40). Sobretudo, com o sucesso de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. De acordo com Chianca (2006, p. 64) ”o primeiro passo no sentido dessa regionalização musical ocorreu simultaneamente à introdução da quadrilha nas festas juninas”. Na cidade, o gênero forró foi inicialmente associado ao interior. ”Suas letras, em uma mescla de nostalgia e ruralidade, versam sobre um mundo rural idealizado, um lugar ingênuo e bucólico afastado dos males da cidade e do capitalismo”.

Por isso o Forró se configura como a música ideal para a apresentação das quadrilhas matutas, representa a união do som com a imagem e desperta na memória coletiva uma espécie de ”mito de origem” do povo nordestino. Com efeito, as ”marchinhas juninas passaram a ser consideradas como a música oficial da quadrilha e do São João, posteriormente substituídas pelo forró ”pé-de-serra” ou ”arrasta-pé”, tocado por um trio de forrozeiros” (MENEZES, 2008,p.17), (zabumba, sanfona e triângulo).

As quadrilhas haviam se multiplicado em quantidade, mas não em qualidade, e isso fez com que apenas algumas poucas se destacassem entre várias. E assim, apareceram a Quadrilha Ciganinha do Amor, Quadrilha Milho Verde, Quadrilha Maracangaia, Quadrilha São João na Roça, Quadrilha Cocotinha do Amor e outras.

Principalmente porque havia concursos em todos os lugares, e quando não eram concursos de quadrilhas adultas, eram as quadrilhas mirins que faziam a festa. Muitas das quadrilhas Mirins eram filhas das quadrilhas adultas. A presença das quadrilhas Mirins nos concursos era incentivada pelo governo de estado e pela prefeitura, como forma de garantir a sobrevivência e manutenção da tradição Junina em nosso estado. Pois quem fazia parte dessas quadrilhas Mirins eram irmãos, filhos, sobrinhos e netos dos componentes das quadrilhas adultas (ALENCAR, 1990).

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As principais quadrilhas Mirins eram: Quadrilha Mirim São João de Deus, Quadrilha Mirim São João da Roça, Quadrilha Arrasta pé Mirim, Quadrilha Apaga a Fogueira Mirim, Quadrilha Filhos da Forró bodó, Quadrilha Mocotó Mirim, Quadrilha Asa Branca Mirim, Quadrilha Século XX Mirim.

Neste período, surgiu a quadrilha Unidos em Asa Branca, vinda do Bairro Leite Neto, tendo como marcador o professor de Educação Física, Eloi.

Essa quadrilha era formada por moradores do bairro e dançavam de uma certa forma até bem simples. Trouxeram à tona uma forma nova do giro das damas e das formações em rodas. Ou seja, enquanto as tradicionais giravam no sentido horário, ela apresentava uma novidade e dificuldade que era girar no sentido anti-horário.

A Unidos em Asa Branca foi uma das primeiras quadrilhas a possuir um CNPJ, e isso lhe garantiu um maior desempenho quanto à aquisição de patrocínio. Com isso a quadrilha teve como um dos primeiros patrocinadores a Caixa Econômica Federal, sendo-lhe facilitado o seu crescimento estrutural. O patrocínio serviu para estruturar a quadrilha e ajudou a mesma e fazer parte do grupo especial.

A presença marcante do professor Eloi frente a Quadrilha Unidos em Asa Branca resultava em um trabalho criativo e bem estruturado. A Unidos em Asa Branca se apresentava de forma ordenada e sincronizada como uma escola de samba que tem seu enredo, só que voltado para os festejos Juninos.

A quadrilha sempre trouxe temas polêmicos e atuais, muito bem estudados e organizados. Outro aspecto que deu projeção à quadrilha foi a criação do caracol, inspirado em danças tradicionais do Japão. Esse caracol passa a ser uma marca da quadrilha e passa a ser copiado pelas demais.

Será dado um enfoque maior a essa quadrilha no próximo subcapítulo, visto ser ela o objeto de estudo dessa pesquisa. No final da década de 80 e

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Quadrilha Unidos em Asa Branca- Acervo de Marcos Borges

início dos anos 90, em todo estado de Sergipe havia um arraial em cada esquina, as competições se acirravam. E as quadrilhas se sofisticavam a cada ano, trazendo um novo trabalho sempre voltado às tradições do nosso Estado.

Já no início dos anos 90, as quadrilhas começaram a se padronizar, e com isso surgem os uniformes para as mesmas. Quadrilhas não padronizadas passaram a ser obsoletas e atrasadas, sem contar que, com o padrão, as quadrilhas se dividiam com mais facilidade e as coreografias ficaram mais à mostra.

Destacaram-se mais os noivos e os casais principais, damas de frente passaram a ter vestidos mais elaborados mesmo sendo igual as outras, sempre havia nelas um destaque, sutil e bem colocado para que a mesma chamasse atenção, foram deixadas de lado os tamancos e as famosas priquitinhas de couro usadas por todas as quadrilhas dos anos 80. E agora surgem as botinhas e sapatinhos decorados. Quanto aos homens também foram padronizados e as famosas sandálias de couro que usavam foram substituídas pelos rolós, que é uma bota de couro cru pintado.

Os chapéus na cabeça das meninas são retirados e agora aparecem as tiaras decorativas com laços de fitas e algumas flores. Assim como com os homens que perderam seus chapéus de palha e ganharam os de couro para combinar com os rolós. As quadrilhas mirins neste período, copiavam as quadrilhas adultas a qual eram filia-

das, e foi delas que muitos garotos e garotas migraram para as adultas, criadoras delas.

A primeira quadrilha a trazer trajes onde o brilho fazia parte do figurino foi a Quadrilha Chapéu de Couro. Criticado por todos, mas aceito por muitos devido à presença do seu marcador o Sr Cardosinho, um homem bastante criativo e visionário quanto ao avanço das coreografias nas quadrilhas. Ele por ter uma grande influência entre os outros marcadores ousou trazer para o palanque homens vestidos de cangaceiros e mulheres de Maria Bonita, mais um traje inovador, os vestidos das meninas nas costas traziam apenas um tecido de renda com brilho e o restante todo em cetim de seda azul e branco. Na minha opinião, realmente maravilhoso, mas os jurados tradicionalistas não aceitaram tanta ousadia, e por isso a quadrilha foi punida com várias desclassificações nos concursos posteriores existentes.

A quadrilha Pé de Chinelo, vinda do Conjunto Lourival Batista, marcada pelo Senhor Wilson Liro do Nascimento, um sargento da polícia de ”sangue quente”, que por seus quadrilheiros era admirado e ovacionado. No início de 1991, esse homem bruto inovou os trajes Juninos junto com a sua equipe, aumentando o tamanho da roda das saias das meninas da quadrilha sem que alongasse o seu tamanho em comprimento. Uma saia rodada de cinco metros, ele ainda colocou uma nesga vermelha invisível que quando a saia estava fechada não aparecia, e que aparecia quando as meninas

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abriam os vestidos em um giro e um balanço frenético. A nesga de mais de dois metros escondidos se destacava frente a tudo quanto já tinha sido apresentado como trajes típicos.

Não houve neste ano quadrilha que batesse na Pé de Chinelo nesse requisito e com isso a quadrilha sagrou-se campeã em todos os concursos do estado de Sergipe. Qual não foi a surpresa que, no ano seguinte, sua maior rival a Quadrilha Arrasta Pé, também vinda do mesmo bairro, copiou a nesga do vestido e implantou na mesma, alguns bicos de fita e bordados.

Sobre esse aspecto, Alencar (1990), faz uma crítica a essas mudanças enquanto um processo forçado para atender uma exigência da modernidade e não como um processo natural de transformação, se referindo especificamente aos concursos de quadrilhas como o grande responsável por essas mudanças, que apresentam regulamentos elaborados por desconhecedores da cultura do povo.

Na perspectiva em que se apreende a ”cultura como processo e não como um objeto” (COELHO, 2008, p. 19), transpõe-se a ideia de uma cultura como se ela fosse um conjunto de positividades, de aspectos moralmente apreciáveis. Assim também, [...] o popular não deve por nós ser apontado como um conjunto de objetos (peças de artesanato ou danças indígenas), mas sim como uma posição e uma prática. Nenhum objeto tem o seu caráter popular garantido para sempre porque foi produzido pelo povo ou porque este o consome com avidez; o sentido e o valor populares vão sendo conquistados nas relações sociais. É o uso e não a origem, a posição e a capacidade de suscitar práticas ou representações populares, que confere essa identidade. (CANCLINI, 1982, p.

135).

A adjetivação de uma cultura como popular tem a ver, portanto, muito mais com a utilização e significação que os setores populares lhe atribuem, do que com a sua origem ou mesmo a presença/ausência de traços folclóricos nela. O que está em

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identidade.

Os próprios quadrilheiros ou brincantes têm claro, em seus discursos, que existe uma oposição à forma de apresentação da quadrilha ”matuta/tradicional” nos festejos juninos contemporâneos. Estes acreditam que a caricatura do matuto, do roceiro não tem mais lugar nas propostas dos atuais, pois esses devem propagar a tradição de acordo com as mudanças ocorridas nos últimos tempos.

A autora supracitada diz que os trajes deixam de ser individuais para se tornar farda, os homens em um modelo e as mulheres em outro, mas integrados no uso da cor e de adereços (ALENCAR, 1990).

As coreografias vão perdendo seus resquícios da dança tradicional, elas passam a ser encomendadas e com um sistema elaborado de anotações para serem passados para os quadrilheiros. Das partes da quadrilha, o Xote, a mais esperada pelo público, é a que permanece ainda.

Um dos itens dos regulamentos dos concursos de quadrilha se refere à originalidade e criatividade. De acordo com Alencar (1990), esse item permitiu várias interpretações que iam desde a novidade ao fora do comum, para ela, a mediocridade seria a cada ano ampliada. Assim, cada vez mais os ”novidadeiros” foram fazendo coisas ”originais” e, como obtinham sucesso conseguindo premiações, começaram a ser imitados por outros que desejavam igualmente conseguir as mesmas premiações [...] As entradas e saídas são marcadas tão fortes e caricaturados, que mais parecem soldados russos num passo de ”ganso” ao som de sanfona, triângulo e bombo (ALENCAR, 1990, p. 81).

O ponto crucial para a compreensão das quadrilhas estilizadas é a retirada do Matuto da posição de centralidade simbólica que ocupava. No bojo desse processo da realocação, há uma recusa da caricatura como forma de apresentação do universo rural. Os conteúdos tradicionais são acionados

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Joel Reis - Marcador da Quadrilha Junina Século XX - Acervo Marcos Borges

jogo é a representatividade sociocultural da chamada cultura popular, a quem pouco importa o grau de beleza, criatividade e/ou autenticidade, mas os ”modos e as formas através dos quais certas classes sociais têm vivenciado o processo cultural em relação com suas condições de existência reais enquanto classes subalternas” (CANCLINI, 1982, p. 137), inseridos em estruturas materiais objetivamente dadas.

Trata-se de um conceito, acima de tudo, segundo Canclini (1982), relacional: só posso falar de uma cultura popular a partir de seu caráter de classe, que a situa numa posição de subalternidade em relação a uma cultura considerada dominante, e que não perde de vista que a cultura é também ela um tipo particular de atividade produtiva (CANCLINI, 1982).

Albuquerque Júnior (2007) trata o conceito de cultura a partir da problematização do seu uso no singular, o que, conforme o autor, associa-o de modo reducionista à lógica da identidade. O que se pode chamar de cultura é um processo, uma elaboração contínua, feita pelas pessoas, que pode transformar-se e ser confrontado por uma nova proposição cultural (COELHO, 2008), que não se reduz aos objetos, mas aos significados que receptores diferentes lhes atribuem (CANCLINI, 1982). Assim, ao decidir que a especificidade da cultura popular reside em sua fidelidade ao passado rural, tornam-se cegos às mudanças que a redefiniam [...]. Ao atribuir-lhe uma autonomia imaginada, suprimem a possibilidade de explicar o popular pelas interações que tem com a nova cultura hegemônica. O povo é ”resgatado”, mas não conhecido. (CANCLINI, 2003, p. 210) Deste modo, se não é possível definir uma cultura de modo genérico, pode ser considerado um contrassenso pensar numa cultura popular como reduto do povo, pelo povo e para o povo, cuja essência remete a um conjunto de tradições e traços intrínsecos sob os quais repousa o princípio da preservação, tradição e o discurso da

com o propósito de pensar um modelo contrativo à estética matuta. ”Assim em oposição à simplicidade veio o luxo, o jocoso deu lugar à padronização e a improvisação na sincronia. É um momento de experimentação e ousadia, que mexe em aspectos como vestuário, musicalidade, coreografia e casamento (MELO, 2008, p, 24).

As coreografias mantêm a dança de pares em forma de quadrado, porém, passam a ser insistentemente ensaiados bem antes do período junino. Os passos tradicionais são diluídos e personalizados, ganhando movimentos ”aeróbicos” que visam mostrar a perfeição, sincronia, destaca-se o ”alinhamento” e o ”jogo de saias”, marca deste estilo. Como são previamente ensaiadas, a execução acontece de acordo com a música dependendo cada vez menos das ordens do marcador, que passa a ser mais um apresentador do que um condutor da quadrilha. O marcador é a peça-chave para a interação da quadrilha com a plateia podendo emocionar, animar e estimular o grupo quanto melhor desempenhar sua função. (MENEZES, 2008, p. 26).

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A Quadrilha Chapéu de Couro e a Arrasta Pé foram as primeiras quadrilhas de Aracaju a participarem de um campeonato fora de seu estado, participando do campeonato brasileiro de quadrilhas em Salvador. A Quadrilha Chapéu de Couro levou como tema ”Os cangaceiros”, assunto que as quadrilhas juninas de Aracaju nunca haviam trabalhado, a não ser a Quadrilha Unidos em Asa Branca, mas ela ainda era muito inexperiente no meio das grandes quadrilhas e por isso não chamava muita atenção dos jurados.

A quadrilha Arrasta Pé, neste ano, também foi ao campeonato brasileiro e, por não haver levado tema algum, ficou em quinto lugar e recebeu de Joãozinho Trinta um elogio em que afirmou ”nunca ter visto damas e cavalheiros tão sincronizados e lindos, que as meninas tinham um balançar de ombro belíssimo que isso o hipnotizou”, esse elogio, é claro, serviu de incentivo para os outros anos da quadrilha na escolha de suas grandes damas.

Entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000, as quadrilhas Arrasta Pé e Chapéu de Couro dominaram os concursos juninos da nossa cidade, cada ano que passava as quadrilhas traziam algo diferente, isso era sempre muito esperado por todos inclusive pelos jurados e espectadores dos concursos de quadrilha.

Neste período, a Quadrilha Arrasta Pé bolou a saída e entrada do palanque surpreendendo a todos com uma nova apresentação nos dez minutos restantes. A quadrilha saía e voltava, cantando um pequeno refrão inventado por eles próprios, que dizia: ”se vocês pensam que nós fomos embora, nós enganamos ocês, fingimo que fumo e vortemos, oi nóis aqui trá vez”.

Com a mudança de governo e a falta de apoio para a manutenção das quadrilhas, algumas delas passaram por grande dificuldade para se manterem. Os concursos de quadrilha mirim deixam de existir e, com isso, as

quadrilhas mirins acabam.

Com a chegada do ano 2000, surgem novas quadrilhas, como é o caso da Quadrilha da Maranhão. Essa quadrilha surge com muita força, porém, os descompassos frequentes entre os dirigentes fizeram com que a quadrilha tivesse um período curto de existência.

Quadrilhas que estavam inativas voltaram com mais organização e autenticidade a partir de uma mudança na diretoria. Esse é o caso da quadrilha do Bairro América, Apaga a Fogueira, que sempre era vista como uma quadrilha plagiadora. Esse período é marcado mais uma vez por inovações nos trajes dos brincantes, sendo adicionados, nas roupas das mulheres e homens, os brilhos das lantejoulas, pedrarias, cetins, lamês, paetês, em detrimento à chita e ao xadrez. Outro elemento marcante na composição do figurino das mulheres está a maquiagem pesada e marcada pelo uso do gliter em 2012.

Entre tantas mudanças, surge o questionamento por parte de estudiosos, espectadores, jurados e quadrilheiros mais conservadores: esse grande espetáculo que se apresenta no período junino, ainda é uma quadrilha? Mais uma vez Aglaé F. de Alencar, em entrevista concedida a mim diz: ”as quadrilhas se transformaram tanto, que mais parecem com uma escola de samba, com tanto brilho. A dramaturgia das nossas quadrilhas girava em torno do casamento matuto, hoje elas trabalham em cima de um tema e precisam de um narrador.

Contratam ator e coreógrafo que, na maioria das vezes, não conhecem a cultura local. A quadrilha Maracangaia é uma quadrilha criativa e original, que desenvolve suas pesquisas a partir da cultura sergipana, sem copiar o que do outro. Não acho que copiar o que folclore do outro valorize o que é nosso. Há uma necessidade de inserir músicas midiáticas nas quadrilhas colocando em ritmo de forró. É uma

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verdadeira descaracterização. A tradição não existe, ou ela é tão diluída que não a reconhecemos”.

No entanto, Hall (2003, p. 260), faz uma definição de tradição como sendo ”um elemento vital da cultura, mas ela tem pouco a ver com a mera persistência das velhas formas. Está muito mais relacionada às formas de associação e articulação dos elementos”. Assim, a intencionalidade das mudanças propostas pelos quadrilheiros está contida nas suas práticas, onde os interesses são motivados pelas possibilidades de sustentação daquilo que acreditam ser verdadeira direção a que o movimento junino deve seguir.

Dessa forma, ”esses arranjos em uma cultura nacional-popular não assumem uma posição fixa ou determinada, e certamente nenhum significado que possa ser arrastado, por assim dizer, no fluxo da tradição histórica, de forma inalterável” (HALL, 2003, 260).

Daí a necessidade de refletir sobre essas transformações ocorridas nos festejos juninos e mais especificamente nas quadrilhas juninas, para além de um olhar romantizado e saudosista. Pois, como podemos perceber, o processo de dinamicidade da cultura é fato, e a tradição como elemento da cultura, perpassa também por esses processos de mudança.

Assim, a tradição na sua dinâmica se reinventa.

Entender e refletir de forma crítica o lugar da festa enquanto organização de uma comunidade (em que a vivência dela se dá na gratuidade do aspecto lúdico, em detrimento da festa pensada na lógica da indústria cultural, sendo agenciada pelo estado e empresas privadas) é uma possibilidade para entender tais processos de mudança nos nossos festejos juninos e nas nossas quadrilhas.

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Ex Quadrilheiro e licenciado em Dança pela UFS

Revista

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acervo APCEF/SE

CORPO E GESTUALIDADE NA APRESENTAÇÃO DA QUADRILHA JUNINA “MEU SERTÃO”

Wolney Nascimento Santos*

Introdução A propósito de minha participação em dois concursos de quadrilhas juninas no ano de 2019, no primeiro como membro da comissão julgadora, dia 11 de junho, do Concurso de Quadrilhas Juninas ”Seu Menino” − Sesc Sergipe, que aconteceu no período de 10 a 13 de junho, e no segundo como presidente da Comissão Julgadora do1 º Festival de Quadrilhas Juninas da Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal − APCEF/SE, nos dias 5, 6 e 7 de julho. Já participei da discussão sobre o tema, a exemplo, do Seminário Palco Giratório – 20 anos, em 2017. Entre as temáticas desse seminário, constava Dimensões Rituais, Estéticas e Lúdicas na Dança do Ciclo Junino. Debateram André Camilo (SE), professora Dr.ª Eufrázia Cristina Menezes (SE) e Mário Léo (SE), com a mediação de Genário Dunas (AP), que, de certa forma, aguçou a minha percepção sobre as atividades culturais do ciclo junino.

Com essa experiência, encantado pela fruição estética, interessei-me a escrever e contribuir para edição da

Revista FUNÇÃO – Ano 2, Nº 2, com o tema: A Voz da Quadrilha Junina em Sergipe − sobre o que vivi e sobre o que venho lendo, sobretudo, em relação às questões que permeiam minha formação de professor arte-educador em convergências das perspectivas relacionadas aos campos de pesquisa referentes às seguintes matérias: antropologia, educação, cinema, corpo negro e cotidiano.

Partirei de um sucinto sobrevoo sobre as referidas apresentações, em particular, foco a apresentação da Quadrilha Junina ”Meu Sertão”, da cidade de Riachuelo/SE, com o tema Feitos na roça: uma história de amor, fé e tradição.

Este trabalho tem caráter preliminar e foca o interesse de compreender e descortinar impressões sobre o corpo e o gestual coreográfico na apresentação da Quadrilha Junina ”Meu Sertão”.

Para alcançarmos os objetivos, dividimos o trabalho em três momentos. O primeiro: a introdução, indica como nos direcionamos diante do tema proposto: corpo e o gestual coreográfico na apresentação da Quadrilha Junina ”Meu Sertão”.

No segundo momento, fizemos um percurso contextualizando e

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delineando: como estão organizadas as quadrilhas Juninas e o que elas representam nos territórios nos quais estão inseridas? Com isso, pensamos as quadrilhas juninas como agremiações aglutinadoras de pessoas e que, por meio da sociabilidade entre seus membros, criam estratégias de ação e de prospecção nos diversos eventos dos festejos juninos. No terceiro momento, abordamos o tema Feitos na roça: uma história de amor, fé e tradição, da Quadrilha Junina ”Meu Sertão”, da cidade de Riachuelo/ SE. Examinamos como a quadrilha representou o amor e o trabalho relacionados ao plantio e à colheita por intermédio da utilização de uma coreografia que priorizou o corpo e resgatou o gestual dos corpos no ritual dos folguedos do ciclo junino. Nessa configuração, o tema apresentado revisitou o passado muito mais presente na memória coletiva dos membros da quadrilha. Também se verificou uma sintonia com as relações simbólicas do território. E, por último, pontuamos que o tema fecunda diversas possibilidades no campo epistemológico.

A Quadrilha junina Os estudiosos do tema inferem que a quadrilha é uma dança palaciana que

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Com a proclamação da república, novos valores artísticos foram introduzidos, e a quadrilha também passou a ser dançada e assimilada pelas camadas mais populares de zonas rurais do país.

Pois bem, atualmente, a quadrilha junina no Brasil é uma legítima instituição. As agremiações nascem das camadas populares com objetivo de promover o costume e a tradição do ciclo junino por meio das apresentações. As quadrilhas juninas estão sempre numa disputa, numa busca pelo tema inusitado; e algumas se distanciam da essência.

O poder simbólico das quadrilhas em relação a seus participantes e à comunidade a qual representa justifica o trabalho e o empenho durante os meses que antecedem o período do ciclo junino. A quadrilha junina aglutina diversas identidades que são endereçadas por seus participantes − os que dançam e os que integram as atividades operacionais técnicas.

Essas identidades estão motivadas a participar das festas do ciclo junino, em especial, dos concursos que existem no estado de Sergipe e em outros estados. As quadrilhas juninas arregimentam fãs e torcedores, e são comuns nos locais onde se apresentam acompanhadas por caravanas, que prestigiam. Não muito distante no tempo, as quadrilhas juninas já se configuravam grupos que proporcionavam, nos espaços de atuação, sociabilidade entre pessoas de várias idades. O saber, as derivações dos ritmos e a forma expressiva do dançar junino se tem perpetuado nas gerações, atestando que há uma pedagogia da dança junina, que se faz a cada ensaio e a cada apresentação 2 . Verifica-se que a organização de uma quadrilha junina envolve vários membros de uma só família e/ou até várias famílias na mesma agremiação.

A quadrilha junina, além de estar associada à prática do fazer das tradições culturais do ciclo do mês de junho, com o canto e da dança, louva a tríade dos santos: Santo Antônio,

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teve sua origem na Europa no século XIX. Nos grandes salões da monarquia, era comum ser dançada para as comemorações dos imperadores e da aristocracia. Dançada com pares de damas e cavalheiros postos frente a frente. A execução da apresentação era privilegiada pela presença de um ”marcante”, que a comandava em cinco partes. A chegada da quadrilha ao Brasil aconteceu com a vinda da corte Portuguesa em 1808.

São João e São Pedro. Também está ligada às relações do homem com a terra, o que envolve o plantio e a colheita: tradição que se inicia no dia 19 do mês de março, quando se plantam as sementes do feijão e do milho em homenagem a São José.

Nesse dia, os(as) devotos(as) do santo acendem fogueiras e, em torno delas, comemoram bebendo, comendo, fazendo pedidos e orando, sempre na perspectiva de alcançar a graça − a boa colheita nos dias que antecedem as festas em homenagem aos santos juninos.

Corpo e gestualidade na apresentação da quadrilha junina ”Meu Sertão”− 2019 Oriunda da cidade de Riachuelo/ SE, a quadrilha junina ”Meu Sertão”, nos últimos três anos (2017 a 2019), venceu os principais concursos de quadrilha junina no estado de Sergipe.

Atualmente, chama a atenção sobre a forma como produz, desenvolve e apresenta os temas, porque a quadrilha realiza um trabalho de corpo e gestual coreográfico diferenciado.

O tema apresentado no ano de 2019, Feitos na roça: uma história de amor, fé e tradição, expressa uma história simples, digna dos livretos de romance e de histórias orais sobre o amor incondicional e eterno entre um casal.

Como base em princípios narrativos, tem-se um prólogo, em seguida, três pequenos atos:

Um casal, ainda criança, se encontra na porta da igreja de sua cidade. Aos pés do altar da padroeira, eles fazem uma jura, trato de amor. O menino (Zé), antes de ir embora, pega um terço no altar da padroeira e o dá à menina (Zefa). Diz que ela o espere. Ela o cumprimenta com um abraço e diz que vai esperálo (sai).

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I (entra) Um coro composto por mulheres e canta um canto em homenagem a Nossa Senhora.

II (entra) Anos depois, o menino retorna, agora, já um homem (Zé); e ela, uma mulher (Zefa). Um grupo de homens com chapéus de palha na mão saúdam o público cantando a música Noites Brasileiras (de Luiz Gonzaga e Zé Dantas):

Ai que saudades que eu sinto Das noites de São João Das noites tão brasileiras na fogueira Sob o luar do sertão Meninos brincando de roda Velhos soltando balão Moços em volta à fogueira Brincando com o coração Eita, São João dos meus sonhos Eita, saudoso sertão

No mesmo local, aos pés do altar da padroeira, eles se encontram e se beijam e se devolve o terço à imagem da Santa. Zé e Zefa vão-se casar.

Nesse mesmo espaço de tempo, toda a cidade está em festa para saudar a colheita e os santos dos festejos juninos. (entram) Rei e Rainha do milho.

Revista

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A cerimônia do casamento de Zé e Zefa se junta à quermesse da igreja e às brincadeiras populares: pau de sebo, quebrapote, pescaria e outras.

acervo APCEF/SE

III

(entra)

Como o objetivo de conhecer e entender como os (as) jovens participantes da quadrilha junina ”Meu Sertão”conceberam o gestual do corpo na execução coreográfica do tema, fomos pesquisar a história da cidade para saber se há conexão entre a forma e a ginga corpórea atual de se dançar com a essência de um passado representado nas manifestações culturais da cidade. Em RIACHUELO: Dança e Folguedos Folclóricos (1984)3, fala dos aspectos que compõe a formação do município de Riachuelo e suas manifestações culturais em especial as do ciclo junino com os batalhões: ”Coração do Amor” e ”Ferro Velho”; o grupo instrumental Zabumba e os grupos folclóricos extintos (SERGIPE, 1984). Também no livro Riachuelo passado de riquezas (2012) 4 , Antonio Martins Bezerra, pontua:

Nos períodos juninos, além das quadrilhas juninas organizadas por Dona Salvelina Moura, tendo como principal marcador o senhor Paulo do Central, a marca registrada de expressão cultural tem a ver com os famosos batalhões, regidos por batucadas, danças, cantos e versos, arrastando pelas ruas da cidade os seus admiradores.

(BEZERRA, 2012, p. 32)

Nesse fragmento de texto de Antonio M. Bezerra, percebemos como as manifestações religiosas e culturais continuam presentes na vida dos moradores da cidade de Riachuelo. Também buscamos compreender como o corpo e seu gestual atua dentro da mise-en-scène da apresentação da quadrilha junina ”Meu Sertão”. Ou seja, percebemos que, durante a apresentação, os corpos dos participantes/brincantes permanecem sempre na posição de

acervo do grupo

Num carro de boi, o bando do cangaço chega à cidade para participar do casamento. Durante a cerimônia, o bando dança o xote e o xaxado.

expressão alongada. Mesmo quando a coreografia utiliza o plano baixo, médio e alto, o corpo está sempre acionado, pronto para uma ação futura. Outro detalhe é a expressão facial de cada participante: há completa sinergia com o público. Invariavelmente, os olhares não fogem do olho de quem os vê. O componente dança e o seu olhar não se desvencilha do olhar do espectador.

Destacamos o momento em que o bando do cangaço entra na cidade e encontra a festa do casamento. Esse momento da apresentação é muito especial: o xaxado é dançado por um casal caracterizado de Lampião e Maria Bonita, os dois acompanhados de homens e de mulheres. Toda dançateatro ocorre com os integrantes olhando em direção à comissão julgadora do concurso. Maria Bonita traz dois punhais à mão; e Lampião porta uma espingarda. Essas armas estão sempre apontadas a quem se dirige à dança. No final, todos gritam xaxado! Esse momento é considerado áureo (ápice coreográfico da apresentação) e também bastante esperado em relação à análise da comissão julgadora do concurso.

Certamente, há um trabalho coreográfico e de corpo que desvincula os estereótipos e os vícios da ação corpórea. O que vemos são corpos autônomos numa dança-teatro comprometida em contar uma história. Mais que isso, a história está sendo vivida intensamente pelos participantes.

De Riachuelo, Antonio M. Bezerra cita alguns grupos folclóricos que eram ativos nas décadas de 50 e 60 do século passado e que foram

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extintos, entre eles, o Cacumbi, grupo de manifestação coreográfica liderado por Antonio Amaro (BEZERRA, 2012). Inferimos que orientado pelos escritos de RIACHUELO: Dança e Folguedos Folclóricos, argumenta que os componentes do Cacumbi se apresentavam como ”exímios artesãos da simetria gestual” (SERGIPE, 1984, p. 26). O pano de fundo do enredo do folguedo é homenagear os santos: São Benedito e Nossa Senhora do Rosário” (SERGIPE, 1984).

Nesse segundo fragmento, quando fala do Cacumbi, cita-os integrantes como ”exímios artesãos da simetria gestual”. Com isso, entendemos que a quadrilha junina Meu Sertão, por meio dos corpos de seus participantes, expressa o poder simbólico, a essência da ancestralidade e o pertencimento ao espaço onde vivem.

A relação de pertencimento dos participantes da quadrilha junina ”Meu Sertão” ao espaço – a cidade de Riachuelo – ativa os corpos com os movimentos coreográficos (passos), as pessoas executam inflexões. E, elas estão cônscias em relação aos antecedentes (a essência do passado), isso é acionado pela memória.

Não obstante, as questões conceituar e/ou criar conceitos, os quais sempre estão em campos de disputa e de contestação, concluímos que corpo e identidade refletem a obra da quadrilha ”Meu Sertão”: corpo, na perspectiva do resgate do movimento e do gestual referente às práticas da vida cotidiana do povo de Riachuelo, dissociado dos anacronismos e dos estereótipos modernosos hoje

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frequentes nas quadrilhas juninas; e identidade, que representa sujeitos autônomos que pensam-fazem-vivem em um espaço, território, nos quais os participantes se reconhecem. A quadrilha junina ”Meu Sertão” é uma instituição que aciona os participantes a uma prática reflexiva e coletiva do fazer junino. É uma agremiação reconhecida por manter a identidade e as tradições da denominada região do Vale do Cotinguiba.

Citamos um dos momentos da apresentação da quadrilha, quando o jovem Zé volta à sua cidade: Riachuelo (mas pode ser qualquer cidade do interior nordestino) para encontrar seu amor Zefa e um grupo de homens com chapéus de palha na mão saúdam o público cantando a música Noites Brasileiras (de Luiz Gonzaga e Zé Dantas). Essa canção remete a Zé (que é representado tal qual uma pessoa de determinada classe social ou de determinada região do Nordeste) e seu retorno ao lugar em que nasceu, evidenciando as saudosas festas do ciclo junino ”sob o luar do sertão”.

Nesse contexto, os homens vestem roupas leves de colorido cromático,

dançam e cantam num gestual que lembra o trabalho no plantio e cultivo da terra. O retorno de Zé ao seu lugar de origem é um divisor na viragem da história de amor dele e de Zefa, que é o encontro com seu território e lugar, onde faz desabrochar as significações do seu existir.

Voltemos à dança do Cacumbi. Essa dança exige do brincante movimentos flexíveis de corpo, numa ”simetria gestual” que bem louva os padroeiros dos negros: São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Na quadrilha junina, as memórias dos participantes, a todo tempo, são ativadas para contar a louvação dos santos juninos e para contar a história de amor do casal Zé e Zefa.

Embora a história faça alusão a Nossa Senhora Aparecida, não esqueçamos que a primeira formação do território/povoado era uma freguesia, depois, vila que se chamava Nossa Senhora da Conceição de Riachuelo. Era comum que as atividades referentes à existência festiva do lugar fossem voltadas à igreja como local apropriado para

acontecimentos: as apresentações acontecem à porta e no entorno, por exemplo, a quermesse. Essa atividade, quase sempre, está associada ao caráter religioso católico. Nesse contexto, em relação à apresentação, destacamos o andor móvel da Santa, que, alguns momentos, é movimentado no espaço cênico, dando à personagem Santa (representada por uma jovem negra de olhar fixo) a identificação afetiva religiosa do público. Também, outro ponto que dá o tom religioso é a história de amor entre Zé e Zefa, marcada pela promessa no altar e pela jura de amor, e ele volta ao lugar de origem para a redenção.

Findo este escrito na certeza de que me impressionei com a apresentação do tema Feitos na roça: uma história de amor, fé e tradição da quadrilha junina ”Meu Sertão” da cidade de Riachuelo/SE e reconheci valores culturais, conforme o nosso relato.

Outros aspectos não abordados aqui, certamente, serão em outros trabalhos, considerando que este tema das quadrilhas juninas e o seu ciclo motivam mais pesquisas com foco epistemológico. Para saudar a quem leu este até o fim, deixo o canto que é feito pelos participantes no momento final da apresentação:

Sou Meu Sertão Bato no peito Eu sou Meu Sertão Com muito amor Eu sou Meu Sertão É a quadrilha, tem seu valor Sou a gigante do interior.

Sou Meu Sertão!

Saudamos espetáculo!

e

agradecemos

ao

1 Mestre em Cinema e Narrativas Sociais (2018) pela Universidade Federal de Sergipe−UFS. Membro do Grupo de Estudos em Corpo e Política−UFS. Professor da Secretaria Estadual de Educação de Sergipe/SEED. Supervisor de Cultura do Serviço Social do Comércio−Sesc, na Unidade Nossa Senhora do Socorro/SE. 2 Anotações durante a mesa Dimensões Rituais, Estéticas e Lúdicas na Dança do Ciclo Junino – Sesc Sergipe - Seminário Palco Giratório – 20 anos, em 2017.

3 Secretaria de Estado da Educação e Cultura, através do Setor de Pesquisa Folclórica da Subsecretaria de Cultura e Arte, no ano de 1984 lançou a coleção CADERNOS DE CULTURA POPULAR. Entre os cadernos destacamos o número 07 − RIACUELO: Danças e Folguedos Folclóricos que teve a Coordenação Geral de José Valfran de Brito e Coordenação Executiva de Mariano Antonio Ferreira.

4 Ler BEZERRA, Antonio Martins. Riachuelo passado de riquezas. Aracaju: Textopronto e Gráfica, 2012.

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Revista

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Uma festa e uma

LEMBRANÇA

Lourdisnete Silva Benevides*

TAPETE VERMELHO1 PARA O COMPANHEIRO OCTAGILSON LIMA VIEIRA Já faz tempo eu vi você na rua Cabelo ao vento, gente jovem reunida Na parede da memória Esta lembrança é o quadro que dói mais 2

C

orria o ano de 2009 e eu, em meio às ” águas de março fechando o verão” iniciava o meu amoroso exílio em terras sergipanas. Naquele ano, eu assumia uma carreira docente na Universidade Federal de Sergipe, após ter sido aprovada em um concurso para o então Núcleo de Teatro3. Em 2007 o curso nasceu no Campus de Laranjeiras, porém, em um espaço ainda improvisado em um prédio escolar dessa cidade e só depois inaugurou sua sede no antigo trapiche, onde o CampusLar se encontra atualmente.

Foi lá que eu conheci a primeira turma do curso de Licenciatura em Teatro, sob a coordenação do amigo querido, Prof. Dr. Génesio dos Santos. Essa turma pioneira marcou os primórdios de minha estadia no estado de Sergipe. Eu convivia com uma turma de muitos artistas, os quais se dividiam entre a realidade de um curso de Licenciatura em 1 Termo cunhado pelo brincante Octagilson Vieira e que ele sempre utilizava ao brincar comigo quando eu lhe telefonava avisando que iria a Barra dos Coqueiros visitá-lo: ”Quanta honra, companheira. Já vou estender o tapete vermelho para lhe aguardar como merece a sua digníssima presença”.

2 ”Como nossos pais”, Antonio Carlos Belchior.

3 Somente em 2017, já no Campus de São Cristóvão, durante minha coordenação no curso de Licenciatura em Teatro (agosto de 2016 - agosto de 2017), o Núcleo de Teatro tornou-se Departamento de Teatro.

Teatro e o desejo de que o curso se transformasse em um Bacharelado em Teatro. Essa tensão se manteve por alguns anos4. Tal fato, inclusive, mobilizou-me a investigar a formação teatral em Sergipe5.

4 Felizmente mantivemos a licenciatura, que eu particularmente defendia, porque sempre acreditei ser mais coerente economicamente para o mercado de trabalho imediato, com possibilidade de ampliarmos para a inclusão de um bacharelado, sem prejuízo da licenciatura.

5 Em 2011, sob a orientação do Prof. Dr. Bernard Charlot, eu ingressei no Núcleo de Pós-graduação em Educação (atual Programa de Pósgraduação em Educação), justamente para compreender como se deu a formação teatral em Aracaju, nos tempos que antecederam

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Uma festa e uma LEMBRANÇA

Embalada pelo desejo de pôr em prática uma pedagogia natureza aventureira e curiosa ele decidiu viajar mundo libertária e participativa em que o aluno sujeito teria voz afora numa kombi, adquirida com recursos próprios, ativa e dessa maneira todos nós teríamos a chance de realizando o sonho de possuir uma Companhia de Teatro de vivenciar um diálogo horizontal entre docentes e discentes, Bonecos e viver uma vida mambembe. eu fui me embrenhando nas muitas histórias sergipanas.

Companheiro Octa trazia um sorriso maroto no rosto, E entre tantas interações culturais naquele contexto tão uma pré-expressividade sempre aquecida e tinha em singular, eis que surge6 Octagilson Lima Vieira a me convidar seus bonecos uma ponte de diálogo entre a representação para que eu o aceitasse como orientando em seu trabalho popular e sua relação com o mundo. Em constante estado de conclusão de curso, o qual batizamos de PIRILAMPOS AO de prontidão, era um sujeito bem-humorado, repleto de VENTO, UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA COM TEATRO DE tiradas e de trava-línguas e em sua caminhada nesse BONECOS NO COLÉGIO ESTADUAL DR. CARLOS FIRPO. planeta, como bonequeiro experiente, permitia que o lúdico Claramente em homenagem a seu cachorro Pirilampo,7 vencesse a caretice, abominando o universo dos tolos e que tinha falecido havia pouco tempo e sobre o fato eu o fazendo de sua arte um antídoto contra a obviedade. convenci a aceitar esta referência, argumentando que o Era encantador no trato com as pessoas porque nome de Pirilampo devia constar nunca perdia a gentileza, o humor daquele fechamento de ciclo, afinal e a ternura. Não se deixava abater Pirilampo esteve presente no seu pelas intempéries da vida, otimista, ESTE ERA MEU AMIGO processo artístico e que ele não estava sempre em alto astral e o precisava ser tão formal, porque resto era ”carne de fateira”, como ele se tratava de uma monografia costumava encerrar alguma situação OCTAGILSON! ELEGANTE, acadêmica. Eu argumentei que ele desagradável com aquela ironia muito era um artista e que viajasse na ideia própria.

GARBOSO, CHEIO DE que eu lhe sugeria. Depois de refletir Octagilson era especialista em por um tempo, ponderando se cedia artes visuais e, por muitos anos, à sedução de minha proposta ou se como ator, iluminador, BRINCADEIRAS E MEMÓRIAS trabalhou obedeceria às normas técnicas, ele dramaturgo, diretor e arte-educador, concluiu: ”Tá bem, companheira...quer principalmente com teatro de formas dizer Profa. Nete”, sorrindo como um animadas. Em 2012, após a graduação SERGIPANAS. sábio palhaço por conta do trocadilho em Licenciatura em Teatro, ingressou carinhoso. na UFS, como Técnico de Laboratório Este era meu amigo Octagilson! de Teatro, após ser aprovado em Elegante, garboso, cheio de concurso que o levou ao Núcleo de brincadeiras e memórias sergipanas. Sempre se colocando Teatro, onde antes havia sido aluno. Cheio de planos na como um sujeito inquieto e cheio de artes, como se diz na área de iluminação organizou o nosso pequeno Núcleo de cultura popular. Bonequeiro virtuoso, sabia manejar a arte Teatro/NTE, em Laranjeiras. Sonhava e vivia me falando de dos mamulengos como ninguém. Em entrevista para meu infindáveis planos sobre o laboratório de iluminação.

Porém, o destino lhe fez ser transferido para o Centro doutorado o bonequeiro sergipano Anselmo Seixas me disse que ministrando uma oficina da arte bonequeira, no primeiro de Cultura e Artes (CULTART) e no final dos tempos estava encontro entre ele e Octagilson, já percebeu a habilidade lotado no Departamento de Dança. Eu fiquei muito triste desse artista inoxidável8 e logo, de aluno ele passou a seu com a saída de Octagilson do então Núcleo de Teatro, tanto assistente e depois deslanchou independentemente. pelo amigo que estava se afastando do nosso cotidiano, Foi assim que na década de 1980, em conexão com sua quanto pelo prejuízo artístico e humano causado ao NTE, porque estávamos literalmente perdendo um iluminador, à criação do curso de Licenciatura em Teatro, sobretudo porque um brincante, um artista competente, um sujeito elegante eu desejava compreender como se aprendeu a fazer teatro em no trato social, um grande parceiro, desses raros que a Aracaju quando ainda não havia uma escola formal para se ensinar gente só encontra algumas vezes na vida. Tentei ponderar a fazer teatro. A tese de doutoramento possibilitou a publicação da junto à comunidade teatral, mas fui voto vencido. obra ”A Cidade em Mim”, pela EDISE, em 2017.

Conviver com Octagilson era uma tarefa fácil. Obviamente, todos nós temos nossos emaranhamentos pessoais, nossas 6 Octagilson surgir ”do nada” era muito interessante, porque feridas, contudo, considero que são as qualidades humanas ele tinha o hábito de adentrar a sala de aula como se estivesse que merecem destaque9. Sua companhia era sempre a entrando em cena. Como residia na Barra dos Coqueiros e vinha de possibilidade de um bom papo, uma cerveja estupidamente moto pela BR, quase sempre chegava atrasado nas aulas. Então, gelada, uma gargalhada sem fim, uma nova paisagem a estávamos todos concentrados em sala de aula quando a porta conhecer ou revisitar, uma performance a apreciar, um se abria lentamente para em seguida, após um tempo cênico, ele prato saboroso a degustar, motivos para prosear e muitos aparecer com aquela cara que só os grandes brincantes sabem planos a vivenciar. expressar. Todos riam e ele leoninamente se fazia presente e Somos cria da mesma geração, falávamos a mesma língua, afagava os nossos corações com suas brincadeiras e suas tiradas, tínhamos muitos signos em comum e, por isso gostávamos entre elas: ”e vá matar o cão de vergonha” ou ”e não me diga mais de ouvir ”música-cabeça”, aquelas composições e melodias nada” ou ainda ”ele é um cachorro de fateira”. inteligentes, contextualizadas política e poeticamente, as quais nos fizeram a cabeça na puberdade que vivemos nos 7 Pirilampo era um cachorro bem pequenino, sapeca e muito anos de 1970. Somos filhos e filhas do movimento hippie. querido por nós e Octagilson tinha uma brincadeira de lhe dar o comando: ”Pirilampo, dormindo” e o animal deitava imediatamente e totalmente imóvel fechava os olhos”. Passado uns minutos Otagilson dizia: ”Pronto, Pirilampo, pode acordar” e Pirilampo abria os olhos e se levantava imediatamente alegre e saltitante. Ríamos muito das artes circenses do companheiro Gilson e da amizade que eles tinham um pelo outro.

8 Outra expressão usada por Octagilson quando queria falar das

qualidades máximas de um ser humano.

9 A gente costumava brincar que a gente já tinha comido uma boa ”mão de sal, quem sabe, duas” e nossa amizade havia sobrevivido e olha que verdade mais poética, eis-me agora escrevendo sobre o amigo!.

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Revista

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Uma festa e uma LEMBRANÇA E honrávamos muito a maneira de viver da paz e do amor o meu coração saudoso dos meus e enlutado pela perda da entre os irmãos! Adorávamos passear de carro pelas ruas minha mãe, em 2010, a vida seguia em Aracaju e aos poucos da Aracaju antiga ouvindo nas alturas a canção ”Chega”10, de eu ia me sergipanizando. Um dia a casa da família de Gilson Paulinho Diniz, principalmente da voz rouca e apaixonada foi vendida pelos herdeiros e o novo dono derrubou a casa do artista pernambucano de Pesqueira. para construir um prédio. Eu vi, numa manhã ensolarada, a A arte como mola mestra de libertação e de comunhão casa indo abaixo. Com lágrimas nos olhos, liguei para ele e era o nosso lema. E, por termos tantas afinidades estéticas lhe denunciei, estarrecida, como se fosse a minha própria e culturais, logo afirmamos uma convivência alegre e casa: ”Companheiro, estão derrubando sua casa. Sua fraterna e nos tornamos uma família. Distante de minha história está indo embora!”. E ele respondeu: ”Se eu tivesse terra e de minha família, eu encontraria naquela amizade dinheiro eu tinha comprado a parte dos outros”. Ficamos um bálsamo para acalentar a saudade de meu povo, onde em silêncio por um tempo e depois nos despedimos. eu pudesse suportar aquela quadra de tantos desafios, Eu tive a honra de conviver com sua intimidade tantas lutas e tantos aprendizados, naquele tempo que doméstica. Conheci Tonho Leite, seu sogro, que o adorava vivemos juntos em terras sergipanas. e, que também ficou amigo meu e do poeta Miguel Carneiro; Nas noites que eu ministrava aulas no Campus de com Adriana, sua companheira guerreira, porto seguro Laranjeiras, era comum retornarmos juntos para a para levar seu barco por tempestades e rochedos; conheci capital sergipana e quase sempre Tiago, seu filho que ele amava tanto esticávamos na boemia aracajuana, e era contemporâneo de Tarciana em especial no reduto da Aracaju e Junior, filha e sobrinho de Rosa, SEMPRE SE COLOCANDO antiga, quando ele argumentava: onde eu residia. Ele conheceu minha ”companheira, na área da Cirurgia, família e se tornou amigo dos meus Getúlio Vargas e adjacências, o COMO UM SUJEITO INQUIETO e até viajamos juntos para o Festival astral é melhor, é mais barato e mais de Arte da Bahia/FASC. Sempre era interessante, mas se você quiser ir agradabilíssimo estar em companhia pra orla a gente vai”. Eu, com tantas E CHEIO DE ARTES, COMO SE de Octagilson. considerações atraentes, claro, Apesar do corre-corre da vida, a aceitava a sugestão. gente sempre manteve contato e DIZ NA CULTURA POPULAR. Éramos dois apaixonados pelo planos de fazer uma viagem grande movimento da noite da cidade e pelo Nordeste e Norte, parando em cúmplices do seu povo, sua cultura lugares agradáveis para curtir suas culturas. Fazer planos fazia parte da e suas histórias. Nessas noites, encontrávamos outros amigos nossa pauta e agendas. também muito queridos, entre eles, Cyborgue, Flávio Porto, Um dia ele me surpreendeu ao telefone: ”Companheira, Gustavo Floriano e aquele povo festivo da velha Aracaju estou de férias, diga onde estou? Na casa dos seus pais, que eu ia conhecendo naquele espaço que veio a se tornar em Itiúba, no sertão da Bahia. Estou aqui com a sua irmã, meu campo de pesquisa científica. Nutrida por este poético você não quis vir, rsrs”. Eu, como docente estava em período convívio, eu tinha no companheiro um anfitrião da melhor letivo, ele que legalmente se encontrava de férias, então qualidade. Aliás, ele foi uma pessoa importantíssima retruquei: ”Companheiro, você é administrativo”. Depois que para eu garimpar as pistas de possíveis entrevistados e desligamos fiquei a pensar que era mais uma palhaçaria entrevistadas para a minha pesquisa. dele. Mas, era verdade. Sozinho, viajou muitos quilômetros Por conta do meu doutoramento na formação teatral numa viagem solitária (de despedida inconsciente ou não). sergipana, eu escolhi viver por sete anos no bairro de Primeiramente, visitou um amigo, pelas bandas do Jorro (eu Cirurgia. Portanto, fui residir na Rua Riachão, junto à acho), e seguiu para Itiúba, minha terra natal. excêntrica família de Rosa Cardoso, especificamente em Durante alguns dias mandou-me muitas fotos e frente ao Oratório de Bebé e próxima à Rua Ribeirópolis. filmagens e me disse que a casa onde nasci lembrava a Coincidentemente onde Otagilson nasceu, numa casa de casa dos pais dele e que Itiúba era linda e acolhedora. Fiquei esquina, em frente ao Bar de Dona Maria, que no passado muito feliz pela sua traquinagem e pelas merecidas férias foi sogra do adolescente Octagilson. Foi ali que passamos e achei engraçado aquele roteiro sertanejo de um caboclo muitas tardes, tomando cervejas ”estupidamente geladas”, sergipano que nunca perdeu o gosto pela aventura. como ele gostava de ressaltar, conversando e rindo muito, Passados uns dias o amigo foi surpreendido por um enquanto apreciávamos a casa da família do amigo script que não esperava. Um diagnóstico desagradável o inoxidável. encontrou e o curso de sua vida tomou outro rumo. Aos Dona Maria era uma senhora austera, mas, além das poucos a doença foi debilitando a sua saúde e ele que ”pernas cansadas” da idade, nos dava liberdade de ir pegar entendia que ”a morte é caminho certo para todos, só fico a bebida diretamente no freezer porque ela adorava o cabreiro com a forma da passagem”11, se viu obrigado a companheiro e eu acabei sendo agregada ao seu coração. lutar contra a doença, com firmeza e coragem, resistindo Naquele vai e vem de transeuntes eu fui conhecendo as bravamente, mas, foi perdendo as forças e então as cortinas pessoas, o bairro, e ampliando minha percepção sobre a se fecharam e ele saiu de cena.

Numa manhã de domingo, dia 8 de setembro identidade sergipana.

Eu me sentia literalmente em casa e enquanto restaurava de 2019, acordei com uma mensagem de Adriana em 10 Chega/ Não há mais sentimento de amor/Chega/Não suporto meu celular: ”Gilson, meu companheiro, teve que fazer mais nada de ti /Chega/Acabou-se ilusão para nós/E é tão sua viagem ao encontro da energia maior. Foi um grande comum o que existe acabar/Tudo/Que eu tinha na vida te dei/ guerreiro por isso partiu sereno. Seu velório será no OSAF, Vou esquecer que um dia te amei/Deixa que eu tente sozinha/ na rua de Itaporanga, a partir de 8h30min. O sepultamento Recomeçar sem olhar para trás/Eu, vou viver novamente/Não quero ouvir nem falar de ti/Chega/Não há mais sentimento de amor/É, esquecer.

11 Disse-me uma certa vez, muito antes do seu diagnóstico, quando eu lhe falei que tinha ficado muito triste com a morte do deputado sergipano Zé Carlos Teixeira.

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Uma festa e uma LEMBRANÇA

será no Cemitério São João Batista. Horário a confirmar”.

Ao chegar na OSAF encontrei Denys Leão, nos abraçamos e choramos muito. Não foi preciso conversar muita coisa, em nosso abraço tudo estava dito. Depois fui ao encontro de Adriana e conversamos muito. Abracei Tiago, seu filho querido. Resisti a me aproximar do corpo de Octagilson, sem vida, olhei de longe e só aos poucos fui me aproximando. Fiquei olhando para ele ali, silencioso, deitado, no espaço reservado ao velório, e naquela situação complicada que é se despedir de um amigo querido que parte e leva um tanto de história consigo. Muito forte viver esta experiência. Porém, não tive como não pensar que, de algum modo, ele estava grato a todos que vieram niná-lo naquele momento de adeus.

Do lado de fora encontrei nossos amigos: Gustavo Floriano, Priscila e Eva, Cicero Alberto, João Brasileiro, Ivo Adnil, Mário Resende, Eduardo Freitas e Milton Leite e, por intermédio deste, fiquei sabendo que haveria uma homenagem ao companheiro Gilson. Chegou a hora e todos adentramos o recinto. Milton me chamou para perto dele e João veio se colocar ao meu lado direito. E eu me vi entre dois geminianos emocionados, então nos abraçamos muitas vezes porque não é fácil se segurar nessas horas.

Depois que fizemos algumas orações, fez-se silêncio e, em seguida, espontaneamente, as pessoas se expressaram.

Eu agradeci pelos 10 anos de amizade; o irmão destacou a importância de Adriana na vida de Octagilson; Adnil, em lágrimas, recitou um belo poema de Araripe Coutinho; João recitou um poema; uma senhora moradora do bairro Cirurgia lembrou de um passado de vizinhança familiar; Tiago desabafou que entre ele e o pai era tanto amor que dava choque; o carinho dos Fuzileiros; Milton pediu para cantarmos, em coro, ”Flor do Mamulengo/Neco de se apaixonar”12, ao som do violão do músico sergipano Crânio.

Quanta emoção para todos nós presentes, sobretudo nas palavras dirigidas às qualidades do companheiro inoxidável13: amoroso, amigo, agregador, generoso, alegre, otimista, bem-humorado, combativo, criativo, elegante e inesquecível. Eu voltei para casa jalecada14 e ainda me encontro na recuperação de uma gripe muito forte que me pegou de jeito, por conta de tanta coisa vivida e mexida. Sentimentos que ainda precisam ser digeridos e ressignificados ao longo dos dias, para outra vez seguir em frente, exatamente como aprendi na convivência com Octagilson.

Um cabra bom, que nunca fugiu a luta e lutou muito, como um sábio guerreiro, sempre se recriando das cinzas, porque nada o impedia de encarar o cotidiano com um punhado de purpurina e de risadas gostosas. Em tudo havia

12 Eu sou a flor do mamulengo Me apaixonei por um boneco E ele ”neco” de se apaixonar ”Neco” de se apaixonar (Bis) E ele ”neco” Já estou com os nervos a flor do pano De desengano vou ter um treco E ele ”neco” de se apaixonar ”Neco” de se apaixonar (Bis) E ele ”neco” (Refrão) Se no teatro eu não te atar Boneco eu juro vou me esfarrapar Não tem sentido viver sem teu dengo, meu mamulengo Se no teatro eu não te atar Boneco eu juro vou me esfarrapar Eu não consigo viver sem teu dengo, meu mamulengo E ele”neco” de se apaixonar ”Neco” de se apaixonar (Bis) E ele ”neco” (Refrão)

o motivo para o sorriso. Era um artista mambembe, pulando das coxias para o palco com destreza. Sabia ser sério, mas o importante era driblar a morte, que infalivelmente o ceifaria. ”Mas, hoje eu recebi um telegrama, era você de Aracaju ...” 15Era Milton Leite ao telefone: Nete, a gente vai fazer uma homenagem a Gilson no próximo número da Revista Função16, que já está sendo quase rodada e a gente quer que você escreva este texto e é pra ontem”. Fiquei emocionada e honrada. Meu amigo era um camarada de rocha. Sustentava os combinados, era verdadeiro com seus amigos e levava a vida com a certeza de que o homem era para brilhar, não para morrer de fome, como disse o poeta baiano Caetano Veloso, leonino como ele.

Gilson vivia em conexão com a comunidade17 e não comungava com tempos de obscurantismo e barbárie.

Ao contrário, acreditava que a política brasileira poderia melhorar e confiava num tempo de fartura, onde o trabalhador fosse sujeito de sua própria trajetória, onde a justiça prosperasse, sem ser seletiva, onde o fantasma do fascismo não batesse às nossas portas. Onde a arte não seria censurada e os pobres tivessem assistência social.

Onde a vida pudesse ser plena e alegre.

A vida segue sem a sua presença física, sem as suas brincadeiras, seus sonhos e projetos. A saudade fará morada em nossos corações, mas é preciso prosseguir e cantar a vida. Definitivamente, ”cantamos porque os sobreviventes e nossos mortos querem que cantemos”18. ”Um beijo, um queijo e um remelexo”19, companheiro Octagilson Lima Vieira, amo nossa amizade e sua memória, tapete vermelho para você!

* Professora do Programa de Pós-graduação em Culturas Populares (PPGCULT/UFS). Doutora em Educação (PPGED/UFS); Mestre em Artes Cênicas (PPGAC/UFBA). Licenciada em Teatro e Bacharel em Direção Teatral (Escola de Teatro/UFBA. Pesquisadora filiada ao Grupo de Estudos e Pesquisa: Arte, Diversidade e Contemporaneidade (ARDICO/UFS). Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHBA). Membro da Associação Brasileira de Artes Cênicas (ABRACE). Atriz, roteirista, diretora teatral, arte-educadora. Escreveu, entre outras publicações: “A Louvação das Prostitutas de Riachão do Jacuípe ao Glorioso São Roque”, pelo Selo Letras da Bahia (EGBA, 2006) e “A Cidade Em Mim” (EDISE, 2017). E-mail: netebenevides@hotmail.com.

15 Parafraseando a canção ”Telegrama” , de Zeca Baleiro 16 Editada pelo próprio Milton Leite.

17 Numa metáfora a Sociedade Alternativa do Maluco Beleza, Raul Seixas.

13 Era assim que ele se referia as pessoas que amava.

18 Poema ”Por que cantamos”, de Mario Benedetti.

14 Termo usado no semiárido baiano para definir uma pessoa debilitada.

19 Uma expressão muito usada por Octagilson quando se despedia dos amigos.

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Revista

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Uma festa e uma

LEMBRANÇA

*Elton Coelho

MEU MESTRE QUADRILHEIRO GILBERTO, VÁ NA PAZ, NA BRINCADEIRA DO CÉU Chega ao final de mais de 30 anos de convivência, cumplicidade e amizade a minha história de vida com Gilberto Lima Barreto, ou simplesmente Gilberto, como eu o chamava. Desde 1990, quando assumiu os destinos da Quadrilha Maracangaia, que aprendemos a conviver, compartilhar, dividir ideias, fazer, desfazer, opinar, discordar e aprender. Tivemos vários embates na tentativa vã e sempre oportuna de o Mestre nos mostrar que o ”caminha da Maraca é e sempre foi o da tradição”. Fomos vencidos pela sua insistência cultural, de não se dobrar aos modismos, de preservar a essência da Quadrilha Junina, tal qual sempre fora dançada no Nordeste, atenta à dinâmica cultural. Lembrome de que às vezes, por dançar tão tradicional assim e vermos os ”modismos” se tornarem ”praxe” em determinados concursos de quadrilha, uma parte achava que estávamos na ”monotomia”, portanto tendo que reinventar a roda. O Mestre disse ”Não”, e embora aceitasse algumas modificações em caráter de estudo das danças, coreografia e ritmos, era dele o tom em conduzir o grupo aos grandes lugares do pódio. E quando

todos achavam que deveríamos copiar as freneticis do envelope global que se acenava lá pras bandas da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, eis que a Maracangaia, em 2004, desbanca todas elas tornandose campeã do Brasil, pela Rede Globo Nordeste, ganhando como melhor Trio, melhor Figurino, melhor Marcador e Animação. Foi com meu mestre quadrilheiro que aprendi a dar mais valor ao trato com as relações interpessoais, que me ajudou a liderar a quadrilha junto aos bravos companheiros que nos apoiaram nesta jornada. A Maracangaia é o que é hoje pelo trato e lapidação cultural de Gilberto que, como líder nato, chamou para si a responsabilidade de conduzir o Trio Coelho dos 8 Baixos, Edmilson e outros tantos que fizeram parte da nossa família no triângulo e percussão, mostrando ao país um grupo eminentemente tradicional, cultural e enraizado.Vá em paz, meu mestre, guerreiro, professor, maestro

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da cultura junina sergipana. Aqui ficamos protelando a vida para um dia nos encontramos na Quadrilha do Céu. Ao me dispersar de você, amigo Gilberto, sei que as coisas aí vão pegar fogo nas animadas festas de São José, São João, Santo Antonio e São Pedro, pra continuarmos cantarolando: ”Maracangaia espalha brasa no terreiro, levanta cheiro que nem chuva no verão, quer ver, quer ver ninguém vai ficara parado, nessa pisada a gente balança até o chão. Maracangaia, Maracangaia, pisa bonito quadrilhá de tradição”.

* Jornalista, historiador, pós graduado em Turismo pela UFS,

ex-quadrilheiro,

ex-presidente e um dos fundadores da Quadrilha Junina Maracangaia.

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

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Canções do Nosso Povo

NO SÃO JOÃO EM SERGIPE

ÚLTIMO PAU-DE-ARARA

SEBASTIANA

(VENÂNCIO - CORUMBA - J. GUIMARÃES)

(JACKSON DO PANDEIRO)

EU SÓ QUERO UM XODÓ (DOMINGUINHOS E ANASTÁCIA)

A VIDA AQUI SÓ É RUIM

CONVIDEI A COMADRE SEBASTIANA

QUANDO NÃO CHOVE NO CHÃO

PRA DANÇAR E XAXAR NA PARAÍBA

MAS SE CHOVER DÁ DE TUDO

ELA VEIO COM UMA DANÇA DIFERENTE

QUE FALTA EU SINTO DE UM BEM QUE FALTA ME FAZ UM XODÓ MAS COMO EU NÃO TENHO NINGUÉM EU LEVO A VIDA ASSIM TÃO SÓ

FARTURA TEM DE PORÇÃO

E PULAVA QUE SÓ UMA GUARIBA

TOMARA QUE CHOVA LOGO

E GRITAVA: A, E, I, O, U, YPSLONE

TOMARA, MEU DEUS, TOMARA SÓ DEIXO O MEU CARIRI

JÁ CANSADA NO MEIO DA BRINCADEIRA

NO ÚLTIMO PAU-DE-ARARA

E DANÇANDO FORA DO COMPASSO

ENQUANTO A MINHA VAQUINHA

SEGUREI SEBASTIANA PELO BRAÇO

TIVER O COURO E O OSSO

E GRITEI, NÃO FAÇA SUJEIRA

E PUDER COM O CHOCALHO

O XAXADO ESQUENTOU NA GAFIEIRA

PENDURADO NO PESCOÇO

E SEBASTIANA NÃO DEU MAIS FRACASSO

VOU FICANDO POR AQUI

E GRITAVA: A, E, I, O, U, YPSLONE

QUE DEUS NO CÉU ME AJUDE QUEM SAI DA TERRA NATAL

PAGODE RUSSO

EM OUTROS CANTOS NÃO PÁRA

(LUIZ GONZAGA E JOÃO SILVA)

SÓ DEIXO O MEU CARIRI NO ÚLTIMO PAU-DE-ARARA.

ONTEM EU SONHEI QUE ESTAVA EM MOSCOU

TERRA, VIDA E ESPERANÇA (JURANDIR DA FEIRA)

DANÇANDO PAGODE RUSSO NA BOATE KOSSACOU ONTEM EU SONHEI QUE ESTAVA EM MOSCOU

ESTOU NO CANSAÇO DA VIDA

DANÇANDO PAGODE RUSSO NA BOATE

ESTOU NO DESCANSO DA FÉ

KOSSACOU

ESTOU EM GUERRA COM A FOME NA MESA, FIO E MULHER

PARECIA ATÉ UM FREVO NAQUELE CAI E

SER SERTANEJO, SENHOR

NÃO CAI

É FAZER DO FRACO FORTE

PARECIA ATÉ UM FREVO NAQUELE VAI E

CARREGAR AZAR OU SORTE

NÃO VAI

COMPARAR VIDA COM MORTE

PARECIA ATÉ UM FREVO NAQUELE CAI E

É NASCER NESSE SERTÃO

NÃO CAI

A BATALHA ESTÁ ACABANDO

PARECIA ATÉ UM FREVO NAQUELE VAI E

JÁ VEJO RELAMPEAR

NÃO VAI

ABRO O CURRAL DA MISÉRIA E DEIXO A FOME PASSAR

VEM CÁ COSSACO, COSSACO DANÇA AGORA

O QUE EU SINTO, MEU SENHOR

NA DANÇA DO COSSACO, NÃO FICA COSSACO

NÃO ME QUEIXO DE NINGUÉM

FORA

O QUE FALTA AQUI É CHUVA

VEM CÁ COSSACO, COSSACO DANÇA AGORA

MAS EU SEI QUE UM DIA VEM

NA DANÇA DO COSSACO, NÃO FICA COSSACO

VAI TER TUDO DE FARTURA

FORA

PRÁ QUEM TEVE HOJE QUE NÃO TEM

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EU SÓ QUERO UM AMOR QUE ACABE O MEU SOFRER UM XODÓ PRA MIM DO MEU JEITO ASSIM QUE ALEGRE O MEU VIVER QUE FALTA EU SINTO DE UM BEM QUE FALTA ME FAZ UM XODÓ MAS COMO EU NÃO TENHO NINGUÉM EU LEVO A VIDA ASSIM TÃO SÓ EU SÓ QUERO UM AMOR QUE ACABE O MEU SOFRER UM XODÓ PRA MIM DO MEU JEITO ASSIM QUE ALEGRE O MEU VIVER EU SÓ QUERO UM AMOR QUE ACABE O MEU SOFRER UM XODÓ PRA MIM DO MEU JEITO ASSIM QUE ALEGRE O MEU VIVER

BOIADEIRO

(ARMANDO CAVALCANTE E KLÉCIUS CALDAS) VAI BOIADEIRO QUE A NOITE JÁ VEM GUARDA O TEU GADO E VAI PRA JUNTO DO TEU BEM DE MANHAZINHA QUANDO EU SIGO PELA ESTRADA MINHA BOIADA PRA INVERNADA EU VOU LEVAR SÃO DEZ CABEÇA É MUITO POUCO É QUASE NADA MAS NÃO TEM OUTRAS MAIS BONITAS NO LUGAR VAI BOIADEIRO QUE O DIA JÁ VEM LEVO O TEU GADO E VAI PENSANDO NO TEU BEM DE TARDEZINHA QUANDO EU VENHO PELA ESTRADA A FIARADA TA TODINHA A ME ESPERAR SÃO DEZ FIINHO É MUITO POUCO É QUASE NADA MAS NÃO TEM OUTROS MAIS BONITOS NO LUGAR VAI BOIADEIRO QUE A TARDE JÁ VEM LEVA O TEU GADO E VAI PENSANDO NO TEU BEM E QUANDO EU CHEGO NA CANCELA DA MORADA MINHA ROSINHA VEM CORRENDO ME ABRAÇAR É PEQUENINA É MIUDINHA É QUASE NADA MAS NÃO TEM OUTRA MAIS BONITA NO LUGAR VAI BOIADEIRO QUE A NOITE JÁ VEM GUARDA O TEU GADO E VAI PRA JUNTO DO TEU BEM

Revista

Função  

A MORTE DO BOI DE CARRO (ADELMÁRIO COELHO E JOÃO CAETANO) TODO MUNDO TEM DIREITO A UMA APOSENTADORIA O MEU DONO ME CRIOU TRABALHANDO NOITE E DIA HOJE ESTOU VELHO E CANSADO AGORA SOU DESPREZADO POR ELE E TODA FAMÍLIA ME PREDERAM NO CURRAL SEM NADA TER PARA COMER SOU UM BOI VELHO E CANSADO NEM ÁGUA TEM PARA BEBER DEPOIS DE TRABALHAR TANTO ESTOU JOGADO NO CANTO DE MIM NINGUÉM QUER SABER ESTÃO VENDENDO MEU CORPO PARA LEVAR PARA O MATADOURO ESCUTEI ESSA CONVERSA DA BOCA DE UM COMPRADOR ELES NÃO TEM SENTIMENTO ESSE ÉO PAGAMENTO DE QUEM TANTO TRABALHOU EU NOVO FUI BOI DE CARRO JÁ CORTEI TERRA EM ARADO AJUDEI A MEU PATRAO A VER SEU FILHO FORMADO O MEU DONO ME VENDEU SÓ PARA VER O SANGUE MEU NO MATADOURO DERRAMADO

AMEI À TOA

ABC DO SERTÃO

AMAR É COISA BOA SÓ NUNCA FOI PRA MIM AI, COMO AMEI À TOA AI, COMO FOI RUIM SE HOJE VIVO A ESMO SEM TER A QUEM CLAMAR CULPADO SOU EU MESMO POR NÃO SABER AMAR

LÁ NO MEU SERTÃO PROS CABOCLO LÊ TÊM QUE APRENDER UM OUTRO ABC O JOTA É JI, O ÉLE É LÊ O ÉSSE É SI, MAS O ÉRRE TEM NOME DE RÊ

(JOÃO SILVA E JOQUINHA GONZAGA)

O JOTA É JI, O ÉLE É LÊ O ÉSSE É SI, MAS O ÉRRE TEM NOME DE RÊ

XOTE ECOLÓGICO

(AGUINALDO BATISTA E LUIZ GONZAGA) NÃO POSSO RESPIRAR, NÃO POSSO MAIS NADAR A TERRA ESTÁ MORRENDO, NÃO DÁ MAIS PRA PLANTAR E SE PLANTAR NÃO NASCE, SE NASCER NÃO DÁ ATÉ PINGA DA BOA É DIFÍCIL DE ENCONTRAR NÃO POSSO RESPIRAR, NÃO POSSO MAIS NADAR A TERRA ESTÁ MORRENDO, NÃO DÁ MAIS PRA PLANTAR E SE PLANTAR NÃO NASCE, SE NASCER NÃO DÁ ATÉ PINGA DA BOA É DIFÍCIL DE ENCONTRAR CADÊ A FLOR QUE ESTAVA AQUI? POLUIÇÃO COMEU E O PEIXE QUE É DO MAR? POLUIÇÃO COMEU E O VERDE ONDE É QUE ESTÁ?

POLUIÇÃO COMEU NEM O CHICO MENDES SOBREVIVEU

ATÉ O YPSILON LÁ É PISSILONE O EME É MÊ, I O ENE É NÊ O EFE É FÊ, O GÊ CHAMA-SE GUÊ NA ESCOLA É ENGRAÇADO OUVIR-SE TANTO Ê A, BÊ, CÊ, DÊ FÊ, GUÊ, LÊ, MÊ NÊ, PÊ, QUÊ, RÊ TÊ, VÊ E ZÊ LÁ NO MEU SERTÃO PROS CABOCLO LÊ TÊM QUE APRENDER OUTRO ABC O JOTA É JI, O ÉLE É LÊ O ÉSSE É SI, MAS O ÉRRE TEM NOME DE RÊ O JOTA É JI, O ÉLE É LÊ O ÉSSE É SI, MAS O ÉRRE TEM NOME DE RÊ ATÉ O YPSILON LÁ É PISSILONE O EME É MÊ, I O ENE É NÊ O EFE É FÊ, O GÊ CHAMA-SE GUÊ NA ESCOLA É ENGRAÇADO OUVIR-SE TANTO Ê A, BÊ, CÊ, DÊ FÊ, GUÊ, LÊ, MÊ NÊ, PÊ, QUÊ, RÊ TÊ, VÊ E ZÊ A, BÊ, CÊ, DÊ FÊ, GUÊ, LÊ, MÊ NÊ, PÊ, QUÊ, RÊ TÊ, VÊ E ZÊ

QUEM ESCUTA MINHA HISTÓRIA VAI CHORAR COMO EU CHOREI AO SABER QUE VOU SER MORTO POR QUEM TANTO EU AJUDEI DEPOIS FAZER CHURRASCO

ATENÇÃO QUE EU VOU ENSINAR O ABC A, BÊ, CÊ, DÊ, E FÊ, GUÊ, AGÂ, I, JI KA, LÊ, MÊ, NÊ, O PÊ, QUÊ, RÊ, CI TÊ, U, VÊ, XIS, PISSILONE E ZÊ

BEM EM CIMA DO MEU RASTRO NAS TERRAS EM QUE TRABALHEI

23     

(LUIZ GONZAGA E ZÉ DANTAS)

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

 

24     

Revista

Função  

25     

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

 

26     

Revista

Função  

27     

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

 

Partituras ABC DO SERTÃO Intro: Solo de Acordeon

Am 2    4      

11



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B7

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29

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38

  

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B7

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B7

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B7

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tem no me de Am



Em

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   

co laé en gra 62

Am

B7



B7

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tem que/a pren

O M é

53

Em

   

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si mas o Êr re 45

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       o

B7

La

    

20

                

Em

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 

 

 

ZÉ DANTAS e LUIZ GONZAGA

 

guê

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  Mê Nê

Na es Am





Pê Quê Em



Em

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Zê

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  duas vezes e   

Ao

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

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meu

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AMEI A TOA LUIZ GONZAGA

             7

19

1.

    co moa pa do

30

2.

          

 

  

A Se

     mei à sou eu

 

 

Ai Por

to a mes mo

 co não

           

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coi sa vi voa

Só Sem

           

Ai Por

co mo não sa

 



mo sa

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28     

bo a es mo

foi ru ber a

im mar



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  

nun ca ter a



foi pra quem cla

mim mar

   

    

Back Vocal

Ai Cu



co moa pa do



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 

Ai cul

      

mei à sou eu



to a mes mo



D.C.



im. mar.

Revista

Função  

Partituras BOI DE CARRO KARA VEIA

           To do

6

10

o/ mun





do

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 

           

di

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po sen

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do

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di

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3

noi te/e

O meu

  Ho je/es

                       

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tou

A

ve lho ecan

sa

do a go

ra/eu sou

des pre

za

do Por e

le/e to

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mí li a

BOIADEIRO ARMANDO CAVALCANTE e KLÉCIUS CALDAS

    44 5

E6

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    E

  

  boi

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Pe gue/o seu

B7

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Acordeon



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B7

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Voz

   

       

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zi

nha quan doeu si

go

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A

3

3

   tra

B7

     

    Mi nha boi

da

   

C#7













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da

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le

13

   

14

F#m

   

17

ou

     

B7

   

       

São dez ca

var





tro mais

be

çaé mui to











bo

ni

to

no

lu

pou coé qua

E



gar

29     

 

G#m

A

                    3

E

bem.

10



Vai

ga

6





Voz

AO

se



na

da



Mas não tem

voltar ao sinal do S até finalizar a música



Fim

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022  

Partituras EU SÓQUERO UM XODÓ DOMINGUINHOS E ANASTÁCIA

 2                                  4      8

1.

2.                   

Canto

Fine

     

17

     fal ta me faz

um

     le voa vi daa

  meu

o

sim tão so

    

Mas

so frer

er

42

  meu



vi

ver

fal ta/eu sin to

  

dó



  



 



de

   



co mo eu não

tenho

  

um

pra mim





   

nin guem

Eu

     Que a

ca beo

      



do meu



Que

a mor

 

   

um bem

   

que ro

Eu só

Um xo



   

   

o



Que

   

     

25

34

xó do

   

jei

toa sim





que a



le

greo

D.S. al Fine

er

PAGODE RUSSO LUIZ GONZAGA E JOÃO SILVA

 2               1.    2.   4     

CANTO

Fine

9

      ta

va

em Mos



 

cou

dan çan

    do

pa

go

On teeu so

Ru sso

na

nhei

queeu

   

   

de

 

Bo

a

te

Co ssa

2.                           

 1.  

14

cou

On teeu son/

/cou Cai

pa re

ci aa té um

frê vo da que

                    

21

1.

ci aa te um

frê vo da que

     

28

ssa co dan çaa

 2.  



fo

ra

36



le cai e não

    

go ra

na

 

2.

    dan ça do co

le cai e não

Cai vem

le cai e não

cai

pa re

    

  

ssa co

Co

          

cá co



1.

ssa co não fi

ca co ssa co

fo ra Vem

 D.C.

30     

     

Revista

Função  

Partituras SEBASTIANA ROSIL CAVALCANTI

 9



        Introdução                                            

                       Canto

          

Con vi dei a co

16



21



26

 32

 37





ra i ba

E

     E



dan ça di

la ve io com/a

dan

E

ça di fe ren te

                 



A

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U

       e



pu lan do

fo ra

O

E gri ta va

A

  

    

docom

pa sso

Se gu rei

I

um a Gua ri ba

 

    

me io

da brin ca dei ra

           

Se bas

tian na

a ga fii ei ra

tou na

O

I

U

pe lo

bra ço

     

gri tei

deu mais fra casso

2.



E gri ta va

E

   

Se bas tia na não

1.

ps lone

Gua ri ba

E gri ta va

        



xa xa do/es quen

E

só

Já can sa do no

 

só um a

          

2.

E gri ta va

Pra dan çar e xa

  

pu la va que

           

                 

   

E

pu la va que

1.

I ps lone

        



fe ren te

         

la ve io com/a

não fa ça su jei ra 42

      

     

xar na Pa

ma dre Se bas ti a na

  



lone

D.C. al Fine

Fine

TERRA VIDA ESPERANÇA LUIZ GONZAGA

  



Introdução

13



     

  

Es tou 21



zer

sa fi

   

   

   

cer

     

jo



re çâm pi ar

nes se Ser

     3

m sin to

    va

54

  te

gar



  



3

 

  3

eu se

 m



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

nhor



as eu

sei

    

ve/ho je não tem







nhor





É fa



vi da com mor te

    



     

ta lha ta/a ca



ban

do

já ve

  

    

3

xo/a fo me pa ssar



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Canto

D.C.

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022  

Partituras

ÚLTIMO PAU DE ARARA VENÂNCIO E CURUMBA

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42

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23

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XOTE ECOLÓGICO LUIZ GONZAGA

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Fine

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Revista

Função  

QUADRILHA JUNINA NO AGRESTE SERGIPANO

A Quadrilha Junina Lumiar

A

Quadrilha Junina Lumiar foi fundada no dia 15 de março de 2015, como presidente Marcos, ela nasceu através de um projeto onde participavam 48 jovens carentes do nosso município de Areia Branca/SE. Com o objetivo de tirar esses jovens das ruas e abrir o caminho da cultura e desenvolvimento em Areia Branca. A Quadrilha Junina Lumiar vem com um trabalho de conscientização dos jovens, trabalhando o aspecto social e cultural, seus trabalhos são independentes não tendo ajuda de nenhuma ONG ou governo.

A Quadrilha Junina Lumiar participa de vários concursos como: Rua de São João, Gonzagão, Orla e Jubiabá, dentre outros, representando sempre com muito destaque. Sendo des-

taque como quadrilha revelação em 2015 no concurso da LIGA da TV atalaia, em 2016 tivemos, à frente, o presidente Gerson Pereira, ficamos entre as seis melhores do estado, estando em quinto lugar, e terceiro lugar no concurso de Simão Dias. Em 2017, assumiu o presidente Geraldo Bezerra, ano em que também participou de vários concursos, na região de Lagarto tirou o 1º lugar em todos os quesitos. Em 2018, a Quadrilha Junina Lumiar não participou de nenhum evento por falta de apoio do município.

BALANÇA MAIS NÃO CAI

F

undada em 15 de junho de 1982, a quadrilha junina Balança Mais Não Cai tem 37 anos de fundação. O presidente atual é Salomão dos Santos, que também realiza a pesquisa musical e é o cantor na quadrilha, a vice-presidente é Josefa Valdemir Vieira Santos e a marcadora é Elivania Vieira Santos, a única mulher marcadora do Estado de Sergipe. Tudo começou para Elivania Vieira quando ela tinha 17 anos; na época, o seu tio, que até então era o marcador disse que não poderia mais marcar. Como fala a marcadora: ”Todos estavam tristes achando que a quadrilha iria acabar então eu resolvi pedir a meu pai para ser a marcadora”. A quadrilha junina Balança Mais Não Cai tem sua sede na cidade de Itabaiana, já foi ganhadora do concurso da TV Sergipe, Levanta Poeira 2006, participou de vários concursos e foi ganhadora de

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muitos troféus. Em 2019, com Elivania no comando, a Balança Mais Não Cai foi uma das finalistas do Levanta Poeira, o maior concurso de quadrilhas de Sergipe, e ficou na terceira colocação, com o tema ”O Mistério do Tempo”, uma mistura de forró e fantasia.

A quadrilha junina Balança Mais Não Cai é formada por familiares e amigos que se reúnem com o objetivo de festejar o São João. Viaja por todo estado de Sergipe fazendo apresentações e, fora de Sergipe, já participou de vários concursos como no estado de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Atualmente a Balança Mais Não Cai vem lutando para dar continuidade as suas tradições e preservar a cultura folclórica da sua Cidade.

ANO 2, Nº2, MAIO/JUNHO DE 2022

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QUADRILHAs JUNINAs: cultura e arte

Unidos em Asa Branca

N

o ano de 1980, foi fundada uma quadrilha junina, com o objetivo de integrar jovens moradores do Conjunto Leite Neto. Iniciava então com 32 componentes a Quadrilha que recebeu na época o nome de ”Êta Cheiro Bom”.

Em 1982, uma nova mentalidade surgiu e mudou os destinos das quadrilhas juninas em todo Brasil. Agora já chamando-se ”Mete o Couro”, começava um ciclo com um trabalho mais profissional, onde o amadorismo perdia espaço.

Ainda na sua construção, a quadrilha também ganhou o nome de ”Palha da Cana”, e neste período também se iniciou um caminho rumo à busca de um maior profissionalismo de todos os integrantes. A Quadrilha ganhou mais adeptos, passou a disputar as principais competições no estado e a trabalhar buscando alcançar um maior reconhecimento no meio junino.

Em 1986, um grupo de componentes, tendo à frente o marcador Eloi Filho, reuniu-se na tentativa de criar uma identidade própria, aliada ao desenvolvimento e modernização das quadrilhas juninas já existentes em Sergipe. Nasce então, a Quadrilha Junina Unidos Em Asa Branca, numa homenagem ao rei do Baião, Luiz Gonzaga.

Até hoje, a Quadrilha Junina Unidos Em Asa Branca vem distribuindo alegria e conquistando o público por onde passa.

A cada ano com um espetáculo diferente, ousado e inovador.

Com vários títulos em concursos, conseguiu se tornar uma referência no País, entre as que ainda hoje lutam pela manutenção dessa indispensável manifestação Cultural Brasileira.

Unidos em Asa Branca 2019 apresenta ”Tu vens… Eu já escuto os teus sinais” cujo enredo se desenvolve da seguinte forma: João é um Viajante Cantador Nordestino, que sai em busca de melhoras em sua vida, porém nunca esqueceu do grande amor da sua vida, Moreninha, uma cuidadora do campo de girassóis. Apesar da distância, João nunca deixou de acreditar no reencontro com sua amada e viver essa história de amor, embalada na trilha sonora de suas vidas. Em uma noite de São João, o viajante João retorna à sua terra natal e vive uma intensa história de amor, em meio à saudade, ao ciúme, ao sofrimento e à felicidade. Todo enredo contado pelo maquinista do trem, que acompanha de perto essa curiosa história, como acontece em tantas outras viagens em seu trem.

AMOR CAIPIRA

A

quadrilha junina amor caipira foi fundada em 17 de fevereiro de 2014, na cidade de Capela/SE, por Isaias dos Santos, Ridley Soares e Crislayne Santos Souza. Em 2018, foi Campeã no concurso da cidade de Brejo Grande e finalista dos concursos estaduais da Liquajuse, do Gonzagão, do Centro de Criatividade e con-templada como quadrilha revelação no Prêmio Sanfona de Ouro e no Jubiabá, no bairro 18 do Forte.

No ano de 2019, a Quadrilha Junina Amor Caipira apresenta a temática ”Acredite, tudo tem seu tempo”, inspirada na história fictícia da personagem Maria Esperança, uma jovem que tinha o sonho de dançar quadrilha, mas que era impedida por seu carrasco pai, chamado Seu Januário, que não acredita na magia e nos encantos vividos e proporcionados pelo São João.

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O propósito da temática que está sendo abordada no decorrente ano é demonstrar e enaltecer a importância da quadrilha junina na vida de inúmeras pessoas no âmbito cultural, social e familiar. O mesmo também busca retratar uma realidade vivida por inúmeras pessoas em todo o Brasil, ao serem impedidas de participar dessa tão rica e cultural manifestação artística, por pessoas que não acreditam nos benefícios da cultura junina.

Revista

Função

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BALANÇO DO NORDESTE

E

m 2009, um grupo de alunos da Escola Municipal ”Benedito Barreto do Nascimento”, na cidade de Umbaúba/SE, sob ideia dos gestores da Escola, formou uma Quadrilha Junina para apresentar-se durante os festejos juninos da mesma e em eventos das demais escolas do município, no momento a Quadrilha foi nomeada como Encanto Caipira.

A Quadrilha Encanto Caipira era financiada por recursos dos Projetos da escola na época, com seus simples trajes e poucos casais, formava um grupo com dedicação para alegrar as festas juninas, reali-zando apresentações em escolas de todo o município.

Durante o período de 2009 a 2014, foi comandada pelo marcador Júlio César Oliveira Ramos, o qual era responsável também em criar as coreografias e levar o grupo às apresentações.

Em 2015, com o desejo de criar um grupo maior e participar de apresentações e concursos por todo o Estado, a Quadrilha lançou o projeto para novos componentes de toda a comunidade e lançou a proposta de mudança do nome da Quadrilha e formação de uma equipe diretiva para comandar o grupo que se tornou maior.

Em 08 de fevereiro de 2015, muda o nome para Balanço do Nordeste, nesse primeiro momento a junina deu continuidade ao tradicionalismo. Fez sua primeira apresentação em nível de concurso, com o tema ”Eu tenho fé que ela há de vir para meu sertão voltar a sorrir”, retratando a necessidade do sertanejo quanto à problemática da falta de água no sertão nordestino.

O tema e a animação dos quadrilheiros renderam conquistas, sendo semifinalista no Concurso de Quadrilhas Juninas ”Arrasta Pé”, da TV Atalaia, filiada a rede Record de Televisão e do Concurso do Arraiá do 18 do Forte, na capital do Estado de Sergipe, a cidade de Aracaju. Além dessas conquistas, a quadrilha deixou marcas encantadoras em diversos concursos e apresentações no Estado de Sergipe.

Em 2016, a Junina apresentou o tema ”Assim como o vento o amor resistiu ao tempo”, baseado no romance do escritor britânico William Shakespeare ”Romeu e Julieta”, o qual aborda uma afamada história de amor que envolve um casal de

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jovens apaixonados proibidos de vivenciar a sua experiência amorosa, mediante a rivalidade de suas famílias.

Cantando, dançando e inspirando o romantismo, a quadrilha junina conquistou muitos espaços, sendo semifinalista no concurso ”Arrasta Pé” da TV Atalaia, semifinalista do Concurso do Gonzagão em Aracaju e dentre outros.

E em 2017, se consagrou campeã do Concurso Arrasta Pé da TV Atalaia em parceria com a LIQUAJUSE – Liga de Quadrilhas Juninas de Sergipe, com o tema ”Pequeno em extensão, grande no coração, conheça Sergipe a terra do meu Papagaio.”

Com este título foi representante do Estado de Sergipe no Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas na capital do Estado do Tocantins, a cidade de Palmas.

No ano de 2018, com o tema ”Já que no Sul a separação se tornou conceito, não troco meu oxente pelo seu preconceito”, a Junina apresentou uma região autônoma o suficiente para que seja independente de qualquer parte do país, assim totalmente livres de pessoas extremamente intolerantes e preconceituosas, mostrando a potencialidade, econômica, cultural e tradicional para ser uma nação independente.

Apresentando a temática em diversos concursos pelo estado de Sergipe, a junina consagrou-se campeã do Concurso Intermunicipal de Quadrilhas Juninas da cidade de Cristinápolis, bicampeã na cidade de Umbaúba, vice-campeã dos concursos da cidade de Indiaroba e Santa Luzia do Itanhy, terceira melhor quadrilha do Concurso do Gonzagão, em Aracaju e premiada como terceira melhor do estado pelo Concurso Arrasta Pé da Tv Atalaia em parceria com a LIQUAJUSE e foi finalista do concurso da Rua de São João. A quadrilha teve destaque em sua apresentação no Encontro Nordestino de Cultura, no Arraiá do Povo em Aracaju.

Atualmente, a quadrilha tem como Presidente Júlio César Oliveira Ramos, vice José André Ribeiro Souza e Everton Rosa dos Santos como Secretário e Lucas Soares Santos seu 1° Tesoureiro.

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A

encanto do matuto

Quadrilha Junina Encanto do Matuto foi fundada em 17 de julho de 2017 por um grupo de pessoas juntamente com o marcador, diretor e administrador da junina, Vaniclécio Tavares, que já faziam parte do meio junino, com o objetivo de resgatar, através da quadrilha junina, toda a autenticidade das manifestações que compõem o ciclo junino no Brasil, enquanto mecanismo de preservação da memória artístico-cultural. A Junina visa, ainda com o desenvolvimento de seu trabalho valorizar e divulgar a cultura sergipana.

A Quadrilha participou do Concurso de Quadrilhas Juninas Seu Menino, realizado pelo SESC, e de Concursos nas Cidades de Dores e Tobias Barreto, além de levar a elegância de sua proposta cultural para o Estado de Pernambuco e em diversos eventos do nosso município, inclusive no Forró Siri.

Competiu em diversos concursos do nosso estado de Sergipe. Estão entre suas conquistas no ano de 2018: o lugar de 5ª melhor quadrilha do Estado pelo Concurso Arrasta Pé da TV Atalaia; Campeã do Concurso Intermunicipal da Cidade de Carira/SE; Semifinalista do tradicional Concurso de Quadrilhas Juninas da Rua de São João; Finalista do Concurso de Quadrilhas Juninas da Cidade de Itabaiana/SE e Finalista no Concur-

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XODÓ DA VILA

Grupo Cultural, Social e Recreativo Quadrilha Junina Xodó da Vila é uma entidade sem fins lucrativos, fundada por trabalhadores da Vila Romana e hoje composta por moradores da nossa e de outras comunidades, filiada à ASQUAJUSE, desenvolve várias atividades. A nossa missão é contribuir com a comunidade em todos os âmbitos culturais e sociais, promover a integração entre seus componentes e manter sempre viva e fortalecida as tradições culturais do nosso Estado, fomentando a melhoria da qualidade de vida das pessoas, gerando satisfação de forma sustentável.

A Junina participa dos principais concursos e apresentações dentro e fora do Estado e tem por objetivo ser uma Quadrilha Junina de referência até 2022, reconhecida como a melhor opção pelos Quadrilheiros, Comunidade, Investidores e o Público em geral, desempenhando com qualidade a execução do seu trabalho. Em 2019, escolheu como tema a Trilogia Junina: Santo Antônio, São João e São Pedro.

A Quadrilha Junina Xodó da Vila foi Campeã dos Concursos: Arranca Unha do Centro de Criatividade, Gonzagão. Rua São João em 2018; Vice-campeã Brasileira do Concurso da CONAQJ

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so Arraial do Jubiabá, dentre outros.

Neste ano de 2019, representou o município de Nossa Senhora do Socorro em vários eventos e concursos no estado de Sergipe. Composta por jovens que compartilham do mesmo objetivo, a Encanto do Matuto é afiliada à Liquajuse (Liga de Quadrilhas Juninas do Estado de Sergipe).

Para 2019 e para todos os anos subsequentes, a meta da Encanto do Matuto é crescer enquanto única Quadrilha Oficial do município de Nossa Senhora de Socorro frente à manutenção da cultura e tradição do nosso Estado de Sergipe.

Para isso, o intuito do grupo é investir em novos quadrilheiros para que possamos passar de geração em geração o momento mais brilhante dos festejos juninos do Nordeste: As Quadrilhas Juninas.

em Brasília 2018; Campeã do Concurso de Rosário em 2017; Campeã do Concurso Arranca Unha Centro de Criatividade em 2011; Campeã do Concurso Arraial Santana (Feira de Santana-Ba) 2015 e Representou o Estado de Sergipe em Brasília-DF no Encontro Sergipe e Japão em 2016.

O Grupo Cultural, Social e Recreativo Quadrilha Junina Xodó da Vila abriga a Quadrilha Junina Xodó Adulta e Mirim, Bloco de Carnaval de Rua Xodozinho, Arraial Jardim Esperança, Festas das Crianças, Fes-ta de Natal, Time de Futebol de Campo de Quarentão Xodó da Vila, Grupo de Idosos Xodó da Vila, Projeto com Turistas.

Revista

Função  

RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS FESTAS JUNINAS NAS DÉCADAS DE 80 E 90 EM SERGIPE:

Milton Leite* A história das fogueiras se entrelaça com a evolução cultural e religiosa do homem. Durante anos a fogueira estava ligada ao espantar dos maus espíritos que atrapalhavam a prosperidade das plantações. Após a colheita, os agricultores se reuniam em volta de fogueiras para agradecer a fartura. Começava nessa época o que denominamos atualmente de festejos juninos. Há relatos bíblicos que ligam a fogueira ao nascimento de São João Batista, pois ela foi acesa para anunciar à Maria que sua prima Izabel teria dado à luz. Com o passar dos anos e a dinâmica transformadora das culturas, as fogueiras chegaram ao nordeste do Brasil e se instalaram nos costumes das famílias que adotaram a prática de comemorar sua prosperidade homenageando o santo de sua preferência.

As fogueiras eram feitas pelas

famílias e a depender do santo celebrado pela casa, cada uma tinha uma formatação. A fogueira de Santo Antônio tinha formato quadrado, para São João a forma era redonda, já para São Pedro, triangular.

Lembro-me das noites juninas de outrora, na comunidade do Aribé e adjacências, fogueiras acesas na porta de casa, bandeirolas enfeitando as ruas. Ao lado de cada fogueira um mastro, feito de mamoeiro, cana de açúcar, alguma árvore da região ou outra planta qualquer, erguido durante a festas junina para celebrar os três santos ligados à festa: Santo Antônio, São João e São Pedro, representados por três bandeirinhas amarradas no alto de cada mastro.

As crianças caracterizadas de caipira, soltando fogos de artifícios, pais, vizinhos e amigos sentados nas portas a assar milho e comer mungunzá, canjica, pamonha, beber quentão ou licor, a contar histórias e causos das festas juninas. Tudo isso, ao som do Trio Nordestino, Marinês,

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QUADRILHA DOS COMERCIAIRIOS 1993, ACERVO MILTON LEITE

ACERVO DO GRUPO / GRUPO DE DANÇAS DO SINTESE - FORRÓ DO SINTESÃO

Viver São João em Aracaju

Luiz Gonzaga, Mestre Zinho, a rainha Clemilda, Erivaldo de Carira, Assisão, Nando Cordel, Jackson do Pandeiro, entre outros.

Esse momento era só o início da noite, porque assim que a fogueira diminuía suas chamas, passavase a fazer diversas adivinhações, simpatias e brincadeiras, como: Vamos ser compadres, que o Santo mandou, além de tantas outras existentes.

Essa brincadeira consistia em os

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QUADRILHA JUNINA NOVA VIDA SESC, 1993 ACERVO MILTON LEITE QUADRILHA JUNINA CANCAGEIROS DA BOA, JAPARATUBA, SE, 1994

participantes serem compadres de fogueira, com pessoas que você mais admirava e tinha carinho e, assim, todos se tornavam compadres e comadres de fogueira, um chamava o nome do outro e dizia: ”vamos ser compadre que Santo Antônio (ou São João ou São Pedro) mandou?” - ambos davam as mãos e pulavam por cima da fogueira para um lado e para o outro e dessa maneira tornavam se compadres.

A partir daí aconteciam as apresentações das quadrilhas juninas da comunidade que passava um determinado tempo ensaiando e todos queriam ver as performances e as novidades do ano nas coreografias, espontâneas claramente, porque naquela época não havia espaços e tempo para ensaios e não se estava preocupado com a estética e com a questão do processo coreográfico, seguia-se um roteiro e apresentava o que se havia ensaiado.

Isto, sem esquecer o casamento caipira, que era um momento ímpar do evento. O enredo era baseado em uma história de casamento da comunidade, então os nomes dos noivos eram reais e muitas dramatizações eram de

casos verídicos, ocorridos ali naquele cotidiano.

Logo após as exibições dos brincantes com a apresentação das quadrilhas juninas, chegava a hora da quadrilha improvisada, dançada ao som do vinil, que envolvia todos os presentes da festa e era a hora da performance, em que você devia escolher o seu par, geralmente as pessoas escolhiam por quem tinham alguma afinidade ou interesses mais profundos, por amizade, namoro.

Todos os pares se organizavam, estava formada a quadrilha junina improvisada da comunidade do Siqueira Campos, a qual recebeu o nome de Chamego da Zona.

Em quase todo o bairro de Aracaju existia uma quadrilha junina improvisada, na rua Riachão esquina com Propriá era a Chamego do Trecho, organizada pelo grande mestre e músico Maroaldo, no bairro América, era quadrilha Palha da Cana, além das quadrilhas montadas nos conjuntos, nas ruas onde houvesse um arraial.

Depois da apresentação, os casais costumavam sair para os namoros e assim iniciavam-se os comes e bebes, quando cada pessoa ou família

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disponibilizava um prato típico para a degustação na festa. Em seguida alguns casais se deslocavam para arraiais que existiam nas localidades próximas: Arraial do Alcino, na Rua Bahia, Arraial do Agamenon Magalhães, próximo ao Campo do Adolfo, Arraial Só Campos, na praça Dom José Thomaz, o Arraial do Bar do Estudante, o Arraial da Rua Pernambuco, conhecido como Arraial do Bó e o famoso Arraial do Arranca-Unha, no bairro Cirurgia.

Após a festança na comunidade, alguns casais e pessoas mais abastadas iam festejar em outras localidades como na Rua São João, Iate Clube de Aracaju, Cotinguiba, Associação Atlética Vasco.

Além das comemorações locais, na década de 1980, surgem os primeiros concursos oficiais de quadrilha juninas.

As quadrilhas juninas, com suas cores e musicalidade, abrilhantavam os festejos nos quatro cantos de Aracaju.

Vale destacar que nesse princípio já existia um cenário apontando para a economia criativa, apesar de não ter um fardamento, os brincantes de maneira inconsciente já mobilizavam pessoas para confeccionar as indumentárias, mesmo que para pregar os retalhos, compravam adereços, chapéus e sandálias. Tudo para realizar a melhor performance nos festejos.

Hoje, muita coisa mudou, não observamos mais as famílias sentadas às suas portas para comemorar os festejos. Acender fogueira perdeu a tradição, soltar fogos tornou-se perigoso. O uso das fogueiras em homenagem aos Santos do ciclo junino já não tem mais aquela força e significado, mesmo sabendo que a festa junina é a maior comemoração do nordeste brasileiro.

Os arraiais desapareceram na história, as quadrilhas improvisadas já não acontecem mais e as músicas são hits interpretados pelas grandes bandas, que apresentam aos festejos forró universitário, pisadinha, forró eletrônico, tudo, menos forró. Tudo isso nos faz lembrar da canção do velho Lula, Luiz Gonzaga, do nosso rei do baião: ”ai que saudades que sinto, das noites de São João, das noites tão brasileiras, da fogueira, sob o luar no sertão”.

Mestre em Artes e Cultura Popular, Licenciado em Dança/UFS, Gestor de Turismo/Ecoturismo/Eventos, Consultor na Área Cultural, Pesquisador da Cultura Popular, Ator,Dançarino. *

Revista

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Marcos Borges * Sem querer fugir ao conceito de Cultura como significado de todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, mas também por meio da sociedade a qual é membro, o nosso objetivo é tentar falar especificamente da Cultura das Quadrilhas Juninas no estado de Sergipe. Uma atividade vendida e exposta aos quatro cantos como sendo um dos principais cartões postais culturais sergipanos, mas que vive na dependência da sua auto-subsistência.

Para quem oportunamente pôde ou pode apreciar uma apresentação das quadrilhas juninas em nosso estado, em seus trajes coloridos e ricos visualmente, com suas danças envolventes e empolgantes, certamente não imaginam que tais brincantes, em sua grande maioria,

composta por trabalhadores assalariados, são os reais responsáveis pelo custeio e manutenção desta nobre e rica, ao menos, culturalmente, arte.

Paralelamente as dificuldades destes brincantes em seguir lutando para manter viva a Cultura Nordestina das Quadrilhas Juninas, nos deparamos ao indiscutível despreparo das agremiações, que hora são chamadas de Associações Culturais, Quadrilhas Juninas ou simplesmente Juninas. E os motivos para tal questão são fáceis: o que antes era construído e mantido por abnegados e devotos a esta arte, agora precisa ser tratado como entidade organizada e legitimada, ainda que continuem sendo instituições sem fins lucrativos.

Pois todas, sem exceção, possuem custos específicos e fixos, onde, na maioria das vezes, as instituições se encontram despreparadas e sem o devido conhecimento ou ajuda

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Quadrilha Século XX, Acervo de Marcos Borges

Quadrilha Junina Unidos em Asa Branca - Acervo Marcos Borges

Os devaneios de uma paixão chamada Cultura

profissional para buscar a necessária organização estrutural.

A paixão ainda viva em milhares de afeiçoados a esta arte, há tempos, deixou de servir como base ou sustentação para a existência das quadrilhas juninas em todo o país.

Precisamos aprender que antes de qualquer coisa, necessitamos nos tornar gestores culturais competentes. As realidades dos editais, hora, esporádicas agora se apresentam como caminho sem volta. Os entes públicos, antes mantenedores da área da cultura popular, passaram a funcionar como

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Quadrilha Século XX, Acervo de Marcos Borges

NESTA CULTURA MARCADA complementos básicos. Os quais, na maioria das vezes, surgem em volume pouco significativo diante dos gastos e valores altos e necessários para que as quadrilhas juninas se mantenham.

Por mais que pareça ser ridículo, a realidade é que a despesa com uma Quadrilha Junina durante o período do São João, que para nós brincantes, geralmente ocorre entre o final de maio e meados de julho, gira em torno de R$ 90.000,00. Enquanto a ajuda ofertada pelo Poder Público, não ultrapassa os 10.000,00. E o pior é perceber que tais colaborações, em alguns casos, nem chegam a ser repassadas para as entidades, pois estas instituições, não cumprem nem mesmo os requisitos mínimos exigidos pelos editais.

Nesta cultura marcada pela diversidade de estilos e cores, mudar o olhar para um todo é fundamental.

E não para cada problema existente de forma isolada. O slogan e a marca que carregamos de ”País do Forró”, nos leva à obrigação de darmos as mãos, para que as Quadrilhas Juninas sejam enxergadas como um produto vendável não apenas em cartões postais ou através dos casais trajados em aeroportos e hotéis quando as festas juninas se aproximam. É necessário se ter mais, se dar mais, aos milhares de turistas que ao nos assistir, costumeiramente

PELA DIVERSIDADE DE ESTILOS E CORES, MUDAR O OLHAR PARA UM TODO É FUNDAMENTAL. E NÃO PARA CADA PROBLEMA EXISTENTE DE FORMA ISOLADA. deixam o Sergipe encantados com tamanha plástica e beleza.

Em um país de desigualdades sociais gritantes, ninguém deve imaginar que Sergipe se tornará uma ilha, longe e fora de tal realidade, assim sendo, imaginemos: como fazer se tornar possível a manutenção de um Grupo Musical ao custo de R$ 40.000,00, já que trabalhar com Trios Pé de Serra se tornou incomum nos tempos atuais, sem que empresários do setor hoteleiro, promotores de eventos e os gestores públicos valorizem na hora da contratação desses profissionais quadrilheiros?

Com conhecimento de causa, posso afirmar que, em alguns casos, os cachês pagos em apresentações das quadrilhas juninas, aos músicos, trios pé de serra e grupos

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musicais juninos são mantidos sem quaisquer reajustes há pelo menos 10 anos. Neste mesmo espaço de tempo, os valores cobrados por prestadores de serviços que atuam na formatação e execução de uma quadrilha junina, a exemplo dos marcadores, atores, cenógrafos e músicos quadruplicaram. Por que falo isso? Por entender que estamos seguindo em um caminho sem volta. Onde discutir alternativas exige o desprendimento de todos aqueles que julgam de fato serem as quadrilhas juninas um dos principais e mais importantes movimentos da cultura sergipana.

Caso contrário, estaremos fadados a seguir acompanhando a cada ano, quadrilhas tradicionais desaparecendo do cenário junino e da cultura local.

Aos que batem no peito e se intitulam quadrilheiro raiz, é preciso aprender o significado de comportamento inadequado em eventos grandiosos e organizados.

Fatos assim só nos fizeram, ao longo dos anos, ser olhados com desconfiança e descrédito, sobretudo, por entidades e órgãos, os quais, primar por uma boa imagem faz parte do pacote em busca do sucesso.

* Jornalista, Radialista e Produtor Cultural

Revista

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Roteiro Tradicional PARA MONTAGEM DE UMA QUADRILHA JUNINA

1.ENTRADA EM FILEIRA -QUADRILHA É BOM -É MADRUGADA

RODA

COLUNA

2.POUT POURRI • Todos ao centro e cumprimentam • Damas ao centro – cumprimentam • Cavalheiros ao centro- cumprimentam • Grande túnel • Balancê • Mão de damas • Mão de cavalheiros • Serrote

• Grande roda • Ave Maria Sertaneja • Zig-zag • Ganchê • Garranchê • Caracol/Locomotiva • Passeio dos namorados • Caminho da roça/olha a chuva • Grande roda • Damas por dentro/ cavalheiros por fora • Coroação das damas • Quebrar o caranguejo • Grande roda

3. BAIÃO – COLUNA OU RODA – SEUS LUGARES 4.XAXADO 5.XOTE 6.CASAMENTO CAIPIRA 7.GRANDE CONFUSÃO 8.SAÍDA –QUADRILHA É BOM

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acervo pessoal

RELATOS DA HISTÓRIA DOS FESTEJOS JUNINOS EM ARACAJU RUA DE SÃO JOÃO Antônio Soares de Freitas* Histórico dos tradicionais festejos juninos da tradicional Rua de São João, bairro Santo Antônio de Aracaju/Sergipe, evento fundado em 10 de maio de 1910.

A comissão de organizadores dos festejos juninos da Rua São João, no bairro Santo Antônio, foi formada por moradores da própria rua, como presidente José Leobino de Moura, 1º tesoureiro Zeca Soares da Cruz, entre outros.

Em 1945, no mês de maio, eu, Antônio Soares de Freitas, fui convidado para participar da referida comissão organizadora como 1º Secretário, desde ali seguimos sempre no pensamento de que o evento crescesse e levássemos a tradição do São João e das quadrilhas juninas para dentro e fora do Estado de Sergipe. Assim, criamos o Concurso de Quadrilhas Juninas, na categoria adulto e mirim, estimulando a criação de quadrilhas juninas em outros bairros.

Em 1969, eu, como 1º Secretário, fui convidado para representar os Festejos Juninos Tradicionais, na Tv Sergipe, Canal 4, no programa ”o Sábado é Nosso”. A apresentação era do saudoso Lúcio Trindade e redação Lúcio Alves.

Lá, então, fui entrevistado pelo seu

corpo de jurados, tive a oportunidade de levar ao ar e a outros estados vizinhos as qualidades da tradição, mesmo sem ajudas financeiras, somente com a boa vontade dos humildes moradores. A partir dessa entrevista, as tradições cresceram e começamos a receber visitas de outros estados pedindo informações de como realizávamos uma tradição com tão pouco dinheiro.

Em 1973, com a forte ajuda de uma comissão, definimos o concurso em cinco fases: 1ª fase – eliminatória; 2ª fase – classificatória; 3ª e 4ª – semifinais e 5ª fase – final, isso com grande organização, respeito e transparência.

Para finalizar, em janeiro de 2002, devido à bagunça que estava a asso-

* Ex-presidente, morador e ex-organizador dos Festejos Juninos da Rua de São João.

Quadrilhódromo da Rua São João - Foto: Arquivo Portal Infonet

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ciação da Rua de São João e a convite dos moradores tradicionais, concorri na chapa como presidente, ganhando. Colocamos as coisas em seus devidos lugares, isto, com o forte apoio daqueles que gostavam da verdadeira transparência. Assim, conseguimos construir com o apoio do governador João Alves um palanque de alvenaria e um posto médico. O centro social e cultural São João foi construído pelo Prefeito Heráclito Rolembergue Leite e costumava ser usado para eventos juninos diversos e outros eventos religiosos.

Revista

Função  

acervo pessoal

Relatos

peneirou xerém José Elói dos Santos Filho* Minha história com as quadrilhas juninas começa desde os cinco anos de idade, no Educandário John Kennedy, escola primária, onde a gente tem contato, não só com o ciclo junino, mas com todas as festas comemorativas. Mas uma delas me chamou mais atenção: o ciclo junino, e eu não fazia ideia do tamanho dessa festa. Para me aproximar ainda mais, na década de 70, eu fui estudar no colégio Valadão e começo a acompanhar os festejos da Rua de São João quando ainda era de palanque de madeira. Eu aproveitava que minha tia Claudionete Trindade morava na Rua Oliveira Ribeiro, no bairro Santo Antônio e estava a um trecho da festa. Assistindo àquelas quadrilhas dançando, eu ficava de olhos arregalados.

Em 1977, eu vim morar na comunidade do conjunto Leite Neto, no ano, surgiu a história de iniciar a construção da capela, que é hoje a Igreja Paróquia Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Só que nesse período de construção eram vários eventos e um dos principais era justamente a quermesse, que era feita do período do ciclo junino, no São João, e tinha uma apresentação de uma quadrilha improvisada, que os adolescentes formavam e dançavam. E nesse ano eu não dancei, porque não tinha mais par, fiquei só olhando. Nos anos seguintes, houve apresentações de quadrilhas de outros bairros como a Cocotinha do Amor, do Médici.

A semente da Unidos em Asa Branca é plantada depois da criação do grupo de mães do conjunto, seguida de um grupo de jovens, em que participavam César Brito, Edmilson, Jorge Trindade, meu irmão e eu entre vários outros jovens que tiveram a oportunidade de receber a visita de Mestre Euclides do Guerreiro Treme Terra e de Augusto Barreto do Mamulengo do Cheiroso.

Foi quando surgiu a quadrilha do Lei-

te Neto, inicialmente com o nome Eita Cheiro Bom, que só participava do concurso da COHAB, hoje, CEHOP, e dançava nas ruas do conjunto, no Asilo Rio Branco, no Médici, uma vez ou outra um clube nos chamava para fazer apresentação. O marcador era Carlos Andrade e eu ajudava. Era tempo de vitrola, não tinha sanfoneiro, cada um levava sua roupa, era bem rústico. Dois anos depois, a quadrilha mudou de nome para Mete o Couro, porque ainda não tinha uma identidade. Em 1985, a gente recebe Washigton da Mocotó e sua visita mudou nossa perspectiva.

Foi quando eu entendi o que era uma quadrilha, sua organização, administração, estrutura, e forma de marcar eram únicos, era muito rígida e séria com as coisas. Nessa época ele nos concedeu o nome de uma quadrilha dele que estava parada: Palha da Cana.

No ano seguinte, a gente começa a se organizar e criar uma diretoria, que até então eu era o Presidente. Formamos uma Associação Cultural da comunidade e não tem um dono. O nome Unidos em Asa Branca veio porque a gente dançava as músicas de Luiz Gonzaga, mas por já haver Asa Branca, poderíamos ter problema para registrar e pensando na nossa união e por eu gostar da Unidos em São João me veio a ideia: por que não Unidos em Asa Branca?

Fui ao cartório e registrei.

A quadrilha junina passou por mudanças, inclusive no seu processo criativo. Até as décadas de 60 e 70, uma pessoa que assumia a quadrilha tomava conta de tudo. Mas, a partir da década de 80, ou ainda, 90 começam várias transformações. A Unidos, por exemplo, até 1986 a gente ainda imitava a Mocotó, até as características do traje, que era um coletezinho. Então a gente começou padronizar a indumentária, era à vontade, cada uma fazia a roupa como queria, por mais que a gente criasse uma proposta de modelo. Ou seja, esse processo criativo começa a

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acontecer, 1986, 1988. Em 1989, a gente inova na musicalização, a Unidos traz uma música de Alcimar Monteiro para abertura: Rosa dos Ventos. E uma das nossas maiores virtudes era que a gente brincava, mas totalmente despreocupados em ganhar. O nosso maior objetivo era mostrar nosso trabalho, até que a gente começou a disputar de igual para igual com as grandes quadrilhas, ficando em segundo ou terceiro lugar. E 1992 foi um ano ímpar, começamos a apresentar uma situação temática, mostrando o trejeito baseado numa situação do nordeste, que hoje chamamos de tema. Trouxemos a caracterização de traje e mais de cores diferentes. O modelo era único, mas as cores eram variadas. Nesse ano acho que a quadrilha que mais tinha componentes foi a unidos em asa branca, não é porque a maioria eram oito ou dez pares de cada lado, nós estávamos com dezesseis, e a gente precisava escolher quem ia dançar em cada apresentação para todo mundo ter oportunidade. E o resultado foi que ganhamos na Rua São João, Centro de Criatividade e Gonzagão. No ano seguinte, 1993, mostramos com trajes bem tradicionais o homem que saia do campo com as enxadas, era chapéu de palha, suspensórios, camisa xadrez, uma calça escura e sandálias, e o pessoal não acreditava que era a Unidos em Asa Branca.

Quando foi 1997, nós, então, retomamos a apresentação de 1993, porém caracterização diferente no traje, mas de uma forma elaborada, tendo em vista o processo de separação dos setores que chegaram às quadrilhas, naquele momento já tínhamos estilista, figurinista, uma costureira, coreógrafo, já começa a aparecer umas pessoas para trabalhar coreografia, claro que já havia quem colaborasse, inclusive eu trazia umas ideias, porque sempre gostei de dança. Há época eu assistia dança de fora, na televisão, e

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Acervo do autor

Relatos

adaptava na quadrilha. E depois chegou Fábio que me ajudava muito coreograficamente, além de quan-do entrei na faculdade, tive aulas, de onde tirei excelentes ideias e da ginástica rítmica e isso me abriu um leque fora do comum e atenção à riqueza de detalhes. Tudo que eu tinha na aula eu trazia para a quadrilha. O que eu fazia, dividia quatro grupos cada uma com um ritmo, passava um dia todo naquele centro social e eles montavam uma coreografia: falando, inventando. Para o trabalho de movimento do corpo, eu fazia a oficina de construção, ainda sem tema, nem coreografia, eu trazia adereços e cenas que passavam na televisão para o pessoal visualizar e dizer e transpor o que poderia ser feito.

Todo esse processo foi gratificante na construção da unidos em Asa Branca, por isso ela é o que é hoje, devido a essa contribuição que nós trouxemos desde a escola, passando pela faculdade e deixamos esse legado para a quadrilha continuar.

Em 2012, com o afastamento da Unidos em Asa Branca eu recebi um convite de dona Josefa para assumir o Peneirou Xerém, apenas no grupo de dança de idosas. No começo eu trabalhava com elas e com outras quadrilhas. Foi quando 2014 eu fui trabalhar com o Xodó da Villa, fiquei lá até 2018. Quando saí, eu fiz a proposta a dona Josefa de montarmos uma quadrilha junina e em 2019 aconteceu. A quadrilha é nova, ainda assim no primeiro ano conseguimos o quinto lugar entre quinze quadrilhas juninas, mas fo-ram dez pares de quadrilheiros que ficaram comigo até o último dia de São

João, depois fizemos ainda uma apresentação no mês de julho ou agosto, o pessoal esteve presente. Foi um grupo muito bom.

E estamos trabalhando em um projeto pioneiro, no Ofenísia Freire, idealizado por Gustavo Floriano, nosso diretor artístico, que é a quadrilha junina na escola. Toda a funcionalidade da quadrilha junina, como a construção de adereços, cenografia, levando essas oficinas para a escola, como também dança e teatro. E vamos tentar que seja adotada como disciplina eletiva na escola de tempo integral no ensino médio. Os professores e os alunos estão se mobilizando. Além do que, na escola a gente vai trabalhar a base, eu gosto disso, ensinar, porque são pessoas que vão permanecer, não são aqueles componentes do vício comum da quadrilha junina, que só vão se forem destaques, ou perto do marcador, se for no fundo da quadrilha não querem dançar. É importante lembrar que estamos sem material humano para dar continuidade as nossas quadrilhas juninas, e às expectativas para o futuro das quadrilhas, na verdade, nosso movimento é um tanto complexo. E aí eu posso até assumir que eu fui um dos que contribuiu para a divisão da entidade, mas eu fui e tinha um motivo muito forte, a gestão autoritária daquela época. Foi quando nós criamos a Federação, hoje ASQUAJUSE. Entretanto, hoje não cabe mais essa separação, essa divisão não cabe mais, o movimento é um inteiro e eu acho que a pandemia veio para nos mostrar essa necessidade de reunificação.

O movimento é difícil aqui no esta-

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do, são muitos egos, as entidades não se unem, não mostram interesse coletivo.

E isso reflete também na continuidade dessas quadrilhas juninas. Inclusive meu TCC da pós foi justamente sobre a extinção das Quadrilhas Mirins. É um cenário preocupante, pois não há uma política pública permanente, os editais são pontuais, foi o que aconteceu com a Aldir Blanc e vem a Lei Paulo Gustavo, ajuda, sim, contribui, também, mas não é suficiente. É necessária uma política pública permanente de cultura e que dela vinte porcento seja voltado para quadrilhas, sendo estas responsáveis para fomentar a formação das crianças da comunidade na quadrilha mirim. A quadrilha pode fazer uma associação com uma escola do bairro, as quadrilhas acontecerem no âmbito da escola. Levar as crianças para fazer apresentação nos bairros, no Centro de Criatividade, imagine isso: um concurso de mirins mais cedo, antes das adultas, elas se apresentando, que coisa mais linda!

Ali elas levam seus pais, familiares, amigos, professores. Eu creio que seria mais ou menos por aí, sem as mirins, a dificuldade aumenta, com as mirins pode facilitar muita coisa, e melhorar o processo de continuidade dos festejos e das quadrilhas juninas. *Marcador da Quadrilha Junina Peneirou Xerém Ex- Marcador da Unidos em Asa Branca Mestrando em Cultura Popular/UFS

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acervo pessoal

Relatos

xodó da vila Etelvan dos Santos* É sempre uma satisfação estar dando depoimento sobre quadrilha junina. O trabalho que a Xodó da Vila vem fazendo na Comunidade Jardim Esperança é um trabalho muito árduo, muito cansativo, mas muito prazeroso. O trabalho com a Xodó da Vila Mirim, hoje, é um trabalho, que a gente lamenta que as outras comunidades não tenham. Atualmente, em todo o nosso município, só existe a quadrilha junina Xodó da Vila Mirim.

E um pouco trabalhoso, porque se trata de crianças de cinco com até uns 12 a 13 anos. Entretanto, lá na frente, vem a satisfação, porque passa entre 4 e 5 meses ensaiando e no período de apresentação, vem essa emoção, a gente vê as crianças dando continuidade ao trabalho de quadrilha junina. É uma pena que não estamos criando quadrilhas mirins. Nos anos 1980 e 1990, chegamos a possuir mais de 25 quadrilhas mirins e só restou em Aracaju a nossa a Xodó da Vila Mirim.

Estamos precisando de políticas que possam melhorar esse trabalho de ensinar e ensaiar com as crianças.

Antes da pandemia já estava difícil, na pandemia ficou pior ainda e depois da pandemia não vejo como melhorar.

Nós estamos tendo muito trabalho para ter o engajamento, para encontrar crianças para participarem da quadrilha junina, ou seja, é a própria cultura dos pais que está acabando com as quadrilhas juninas, porque não está incentivando as crianças a participem desse movimento. Estamos tendo muita dificuldade, a gente conseguia da maior facilidade dez ou doze casais de cada lado para qualquer mirim, mas agora mal conseguimos oito pares de cada lado. É verdade que tem aparecido aqui na Xodó da Vila pessoas para trabalhar conosco, mas não seria legal que a gente estivesse vendo isso em

outras quadrilhas juninas de outras comunidades? A Xodó da Vila Mirim sozinha não vai conseguir fazer com que lá na frente venham a ter bastantes quadrilheiros. Muitos quadrilheiros saíram da Xodó Mirim para outras quadrilhas adultas. Hoje a sustentação da quadrilha adulto da Xodó perpassa por essas crianças que passaram da mirim para a adulta.

A Xodó da Vila completou, dia 23 de fevereiro de 2022, 30 anos, sua Fundação foi na Vila Romana (1992), mas no mesmo ano mudou para a Comunidade do Jardim Esperança. Ou seja, 30 anos de trabalho só com a Xodó da Vila. No que se refere à quadrilha mirim é complicado, porque nós temos de dar o traje, pagar o trio, e toda essa verba para a mirim, a gente consegue em nossos bingos, rifas e às vezes do poder Público, com qual às vezes conseguimos algumas apresentações, que estão cada dia mais difíceis. Mas existem anos que se abre um leque e se conseguem mais apresentações.

Ainda assim, nesse momento a gente está precisando muito de incentivo para a mirim. Todos da nossa diretoria têm que correr atrás, mas no final das contas o prejuízo fica para o Presidente. Porque é ele quem assina um contrato com trio, costureira e quando não se tem o recurso, infelizmente ele tem que arcar. Se não tiver, todo mundo sabe qual caminho: a justiça, com todo o direito. E aí o Presidente vai responder e tem que pagar.

Durante essa Pandemia, uma das coisas que salvou o grupo Xodó da Vila foram os editais. Hoje a gente participa da administração de uma horta comunitária, que é um projeto da prefeitura em parceria com Xodó da Vila. A gente participa da administração do campo que é parceria com a Secretaria da Juventude e Esportes - SEJESP, Empresa Municipal de Serviços Urbanos - EMSURB e com a própria prefeitura. Então essas ações

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que aí nós estamos desenvolvendo é justamente a sustentação também para esses editais. Os editais, na minha opinião, são justos e corretos, estão lá para quem quiser concorrer, mas também é a quadrilha, que tem que tentar inscrever seu material e pronto. Resumindo: quem salvou a Xodó da Vila foram esses editais. Para a Xodó da Vila Adulto os últimos anos da nossa quadrilha junina têm sido difíceis. Também teve que repensar e procurar uma forma melhor de conseguir recursos. Hoje e graças a Deus, através de emendas parlamentares do deputado Garibalde Mendonça, foi uma grande ajuda para dar continuidade ao trabalho da Xodó da Vila.

Nós temos muito a agradecer essa ação que não só para nossa quadrilha como para outras também. Esse recurso deu uma sustentação maior.

Referente a ensaios e apresentações nós tivemos o maior cuidado, fizemos todos os trâmites legais e os ensaios foram um pouco difíceis. Mas deu para fazer, e, realmente, durante esse período, foi possível observar que ou a gente vai se empenhar cada vez mais ou então vai ser impossível manter uma quadrilha junina. Até porque, diante de todas as dificuldades, mesmo as pessoas gostando, hoje o custo é muito alto.

A quadrilha junina para sair, ela tem que ter no mínimo R$120.000,00, porque só os músicos, chegam a um contrato de R$40.000,00. Isso só para a adulto. Para mirim o custo cai um pouco porque contratamos o mesmo trio e ele fica em torno de R$ 15.000,00 a R$20.000,00. Durante toda essa pandemia, esses últimos anos, para a Xodó da Vila foi o tempo que nós estávamos precisando, aí juntou tudo, todos esses editais e principalmente a lei Aldir Blanc que veio dando a sustentação maior. Porque além do edital para a Quadrilha Junina, nós também participamos de editais para

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QUADRILHA XODÓ DA VOLA MIRIM – ACERVO DO AUTOR

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QUADRILHA XODÓ DA VILA DE ADULTOS – ACERVO DO AUTOR

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QUADRILHA XODÓ DA VILA – ACERVO DO AUTOR

Relatos

que pudéssemos reformar e dar uma visão maior a nossa sede. Nesses últimos anos o trabalho foi árduo, mas hoje para a Xodó da Vila, podemos dizer que estamos conseguindo sair, ou seja, pagar todos os débitos que nós estávamos devendo, conseguimos ajustar as dívidas, principalmente através desses editais.

Mas, irá valer sempre a pena você estar dançando quadrilha junina. É uma cultura nossa, uma manifestação forte. Mesmo nos últimos anos com a pandemia, perdendo muito, mas ainda é uma brincadeira forte para a gente ir assistir. No meu entender vale, sim, a pena. Agora, é claro que nós também precisamos de um apoio maior dos concursos, as ações dos concursos, a estrutura dos concursos, eles precisam saber que as quadrilhas juninas, elas gastam mui-

to, nós gastamos muito. Então o que precisa é cada vez mais os concursos valorizarem a premiação para que se possa chamar mais atenção e fazer com que surjam novas quadrilhas.

Porque o que acontece: a Xodó da Vila já ganhou todos os concursos aqui da capital, ou seja, Rua de São João, Centro de Criatividade e Gonzagão. Então, quando você recebe a Premiação, se você for dançar, só olhar a Premiação, você não faz sua família junina. O que precisa em Sergipe é um incentivo, reduzir os conflitos, melhorar essa premiação e a parte de transportes.

Se todos esses concursos conseguissem transporte para a quadrilha junina já era uma grande ajuda, porque, às vezes, a própria quadrilha não tem recursos para contratar um ônibus.

O próprio quadrilheiro, ele não tem o recurso para chegar até o concurso e

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nós da Diretoria temos que realmente assumir as despesas.

Pronto é justamente isso. É o que eu venho pensando, na minha opinião, teria que ter um projeto, ou editais para que tivessem as quadrilhas mirins nas escolas. Eu acho que o caminho seria esse, mirins nas escolas.

Também partiria do próprio poder Público um edital, um contrato para as existentes se apre-sentarem nessas escolas para que pudessem incentivar as próprias diretoras de escola.

Hoje a volta dessa quadrilha, teria que começar dentro da Comunidade, mas abrindo os espaços nas escolas. *Presidente da Quadrilha Junina Xodó da Vila (Adulta e Mirim) no conjunto Jardim Esperança, no bairro Inácio Barbosa, Aracaju/SE

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acervo pessoal

Relatos

arrastapé E SASSARICANDO Luís Antônio Lírio do Nascimento* Na realidade, as quadrilhas juninas, estão no estado há mais de 60 anos. A quadrilha mais antiga em atuação é a Século XX. No tocante à década de 80, as quadrilhas tinham aquela inocência, não havia aquela coisa de competitividade, todas as quadrilhas obedeciam às nossas danças típicas, nossa regionalidade. Era o matuto, era a calça com remendo, era a camisa de chita, o chapéu de palha, a sandalinha ou priquitão ou o tamanco. Na década de 80, algumas quadrilhas conhecidas surgiram, como a Arrasta Pé, Forrobodó, Unidos em São João e Unidos em Asa Branca, elas vieram, todas quatro, praticamente no mesmo ano, 1980. De início, existiam alguns concursos como Rua de São João, o concurso da Cohab, realizado na avenida Hermes Fontes, na sede da Cohab, no qual as quadrilhas dos conjuntos habitacionais da COHAB participavam.

A Arrastapé veio depois, em outro ano, mas as coisas começaram a criar um clima de competitividade. Porque até então essas quadrilhas eram feitas para brincar São João, sem aquela ganância de participar de concurso, apesar de já existir a Rua de São João, que era um outro concurso que nós tínhamos aqui. Então essas quadrilhas se aperfeiçoaram nesses concursos da Cohab para virem para os concursos oficiais como o Rua de São João. Esse concurso, que tinha na época, era presidido por sr.

Antônio Soares, havia quadrilha da própria Rua de São João, denominada São João de Deus, esta não podia perder de forma nenhuma. Então, as quadrilhas, que iam participar do concurso, iam sabendo que elas seriam coadjuvantes.

Nos anos seguintes, muitas quadrilhas quebraram este paradigma, como Arrasta Pé, como Unidos em São João, que se organizaram e foram para tomar o título deles, e tomamos o título deles, em1985/86. Em 85, empatamos com a

Unidos em São João de Jailton (Janjão) e nós quebramos esse ciclo vicioso da Rua de São João. Outras quadrilhas vieram depois como a Rastapé do conjunto Costa e Silva e Forró da Maranhão.

A Cocotinha do Amor de Marcos Aurélio, do Médici e a Assum Preto que veio depois, essas quadrilhas já entraram em outra situação. Porque quem brigou, quem moldou, quem mudou o São João de Sergipe, uma das principais quadrilhas transformadora do São João de Sergipe, trazendo mudanças de partes e de traje e inserindo o primeiro Trio de Sanfoneiro, foi a Arrasta Pé. Porque até então a musicalidade era aquele disco do Trio Nordestino, corta o bolo, olha o bolo, era um disco de vinil que era tocado, quando o disco emperrava, enganchava, a quadrilha brecava, aí a Arrasta Pé veio quebrando esse paradigma botando o primeiro Trio de Sanfoneiro. Ficou tão bonito que as quadrilhas copiaram. São João de Deus copiou, Rastapé do Costa e Silva, Forró da Maranhão, Pé de Chinelo, todo mundo. E nós tivemos nessa questão da musicalidade, duas pessoas importantíssimas na Arrasta Pé que para mim significaram de mais da metade do trabalho da Arrasta Pé e o nosso sucesso eu dedico a essas pessoas: maestro Itamar Freitas de Oliveiras e Wagner Marcos, o Macacão. Na musicalidade eles fizeram o possível e o impossível, chegaram até adaptar as músicas do reisado para a quadrilha, que caiu como uma luva no trabalho da Arrasta pé. Muitas partes de quadrilhas foram colocadas pela Arrasta Pé no São João, como ciranda, que não existia na quadrilha junina. Aquela questão de paradas, de marcha, a Arrasta Pé deu uma conotação diferente ao São João de Sergipe. Quando acontecia a abertura do São João do Centro de Criatividade, fundado 1985, era o concurso mais tradicional de Sergipe, porque ele obedecia àquelas regras, danças típicas, danças tradicionais, então a Arrasta Pé entrou nesse trabalho. Por-

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que nós fazíamos um para o concurso do Centro de Criatividade e outro para o concurso da Rua de São João. Então era uma coisa especial, na abertura do São João muita gente ia ver o nível de qualidade que a Arrasta Pé apresentava naquele ano, então nós dávamos um pano no primeiro trabalho e vínhamos com a pancada atrás, então quebrava a cara de todo mundo.

Veja bem, nos concursos, naquela época ganhava a melhor, o melhor trabalho. Até mesmo o concurso da Rua de São João, pois antes, ele tinha um certo desvio e uma certa tendência que foram quebrados pela Arrasta Pé, pela Unidos em São João, pela Unidos em Asa Branca, em 1992, foi o primeiro título dela. A Forró da Maranhão quebrou também esse paradigma, Chapéu de Couro, que veio com Cardosinho, um trabalho estilizado. A primeira quadrilha estilizada em Sergipe foi a Chapéu de Couro, porque ela participou do concurso da TV Tupi, em Salvador, no Arraial do Galo, em 1988, foi ela e a Arrasta Pé para lá, para esse concurso, ela foi campeã, foi o primeiro concurso brasileiro. Em 1990, a Chapéu de Couro foi de novo para Recife, para o Geraldão e ela foi campeã novamente. O que é que acontece? A Chapéu de Couro que vinha participar desses concursos interestaduais, abrangendo os concursos que eram feitos para as quadrilhas da região nordeste dos nove estados, mas tinha como se fosse um campeonato nacional, como se fossem os brasileiros naquela época, ela se torna a primeira bicampeã brasileira, com seus dois títulos. E a Arrasta Pé conseguiu participar também em 1988 desse concurso da TV Tupi. E para a década de 90, já foi uma situação diferente porque as quadrilhas começaram a ficar estilizadas, começaram a seguir um tema regional misturado com os concursos de fora. O Caso da Chapéu de Couro, veio o caso da Quadrilha Lampião de Gilson, começou a mudar, criou o traje de cangaço, chapéu de couro, canga-

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ceiro e vaqueiro, trajes adaptados. Mas algumas quadrilhas permaneceram na sua originalidade, como a Arrasta Pé, a Maracangaia, que surgiu em 1988, e Forrobodó, essas três quadrilhas nunca fugiram de sua originalidade, sua tradicionalidade. Mas muitas coisas mudaram, o carro chefe dessas mudanças, não tenho nada contra ele, porque é uma pessoa que eu gosto, admiro, sou fã: Eloy. Ele começou comigo, Serginho e Janjão defendo essa originalidade nossa de Sergipe. Mas a quadrilha que mais se adaptou aos concursos da rede Globo, foi a quadrilha Unidos em Asa Branca. O que acontecia com as quadrilhas de fora, de Maceió, de Recife, da Paraíba, de Natal, elas vinham para Aracaju para copiar o trabalho da gente, a quadrilha Lampião da Paraíba, vinha todos os anos para ver o trabalho da Chapéu de Couro, da Arrasta Pé e levava para lá.

Então esses concursos feitos pela Rede Globo adequou todo o trabalho dos estados num contexto só. De repente os estados de fora vinham copiar Sergipe, eles adaptavam ao trabalho deles.

Quando Sergipe chegou lá, se sentiu um patinho feio na lagoa, perdido com a nossa regionalidade, foi quando a Unidos em Asa Branca modificou o trabalho começou a trazer deles, adaptando ao nosso estado, com algumas partes, que para mim foram maravilhosas, como a cobra da Unidos em Asa Branca, vamos dançar o ganchê, o balancê, a parte da cobra, foi uma parte da quadrilha Zabumba da Paraíba, foi feita a adaptação e ficou conhecida em Sergipe e quando a Unidos entrava nessa parte era ovacionada. Outra coisa que foi colocada foi a nave espacial no São João, aí fica aquela coisa de uma mudança

drástica do que temos de autêntico em nosso estado que é a originalidade, que é aquele São João inocente, aquela quadrilha dançada com plasticidade, harmonia, alegria, não era aquela coisa robotizada. O que aconteceu? A coisa ficou estilizada de tal forma que muitas pessoas da década de 80 chamam aquilo ali como se fosse uma escola de samba. Nós tivemos uma outra mudança também, foi com um início da TV Atalaia, porque nós tivemos um racha, até então só existia a Liga das Quadrilhas, e, devido à situação financeira das quadrilhas, foi pedido um patrocínio à TV Sergipe em 2006. Porque o concurso era regional da Rede Globo, nada mais justo que a TV Sergipe ajudasse as quadrilhas também, até então ela só dava o transporte e hospedagem, que era num colégio. Não era uma coisa que desse o brilho à representante, aí as quadrilhas começaram a exigir da TV Sergipe a contrapartida. Foi nessa divisão entre as quadrilhas juninas, que a TV Sergipe resolveu fazer o concurso só com as quadrilhas do interior sem as quadrilhas da Liga, ano em que a quadrilha Balança Mais Não Cai de Itabaiana foi campeã, indo representar Sergipe, no concurso da rede Globo. Nessa ruptura entre as quadrilhas com a Liga, surgiu a Associação das Quadrilhas Juninas que associou os dissidentes daquela. Essa associação era do lado da TV Sergipe e a Liga partiu para TV Atalaia, pronto foi assim, porque para a rede Globo todas as quadrilhas da Associação passaram a fazer um trabalho único, trabalho estilizado e a Liga permaneceu com o trabalho regional, então existiu aquela diferença de o que é regional e do que é estilizado. Isso aí durou décadas, essa

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divisão até hoje existe, a Associação e a Liga. Apesar de muitas quadrilhas da Associação estarem vindo para Liga, por causa justamente dessa falta de ajuda da Rede Globo, eles fazem o concurso e não querem saber, a campeã eles mandam de qualquer jeito para poder criar o concurso regional Rede Globo. Já pelo lado da Liga, existe uma preocupação daquele dinheiro ser distribuído para as quadrilhas para os concursos e eu sempre defendi que nós fizéssemos o melhor do que a gente tem aqui, a campeã montaria um trabalho específico para o concurso Rede Globo. Defendi sempre a tese não ir só com a quadrilha, juntasse duas ou três, montar um trabalho, uma coisa profissional com direção artística, com tudo para participar desse concurso, porque até hoje esse concurso da rede globo só tivemos duas campeãs, que foi a Unidos em Asa Branca e a Maracangaia. Porque mesmo a Maracangaia que era quadrilha mais tradicional de Sergipe ela conseguiu quebrar essa barreira da Rede Globo ser campeã desse concurso regional mesmo com a estilização imposta pela Rede Globo.

A Unidos foi campeã com o trabalho igual ao que eles faziam lá fora. Então o que é que acontece, na minha, opinião é que se fizesse o melhor que nós temos em Sergipe, as coisas mudariam e elas devem ser mudadas, porque o São João de 1980 e 1990 não é o São João atual, a indumentaria não é a mesma, as danças não são as mesmas, foram adaptadas, as coreografias são diferentes, o traje é diferente, o julgamento é de outra forma, a musicalidade é de outra forma. Então as coisas mudam, mas não uma mudança drástica como houve, que confundiu a cabeça de muita gente, como é que muda de uma hora para outra? A gente percebe a introdução de passos de dança moderna, balé e que as quadrilhas mirins acabaram.

Daqui a mais cinco anos, por exemplo, será preciso ter uma nova geração fazendo a atividade, ou seja, a quadrilha junina e acredita-se que a quadrilha mirim vai trazer, chamar a atenção desses guris para que eles possam ser a continuidade dos nossos festejos. Na década de 80, quando foi fundada a Associação das Quadrilhas de Sergipe, que depois passou a ser a Liga, nós tínhamos 213 quadrilhas de adultos e tínhamos 36 mirins, porque praticamente todas grandes as quadrilhas tinham as suas: Forro-bodó Mirim, Século XX Mirim, Poeirinha do Nordeste Mirim, Forró Rasgado, Asa Branca Mirim, entre mui-tas. Então essas quadrilhas mirins

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seriam a escolinha, a continuidade das quadrilhas de adultos. Mas, não existia por parte da Liga uma ajuda financeira para as mirins, o recurso era repassado para as adultas, então essa outra administração sobrevivia do trabalho que as próprias quadrilhas adultas mantinham. Destaco que nesse cenário de continuidade necessário para a cultura das quadrilhas juninas temos o exemplo da Arrasta Pé de 1990, ela foi praticamente a quadrilha mirim de 1980. Os meninos já não tinham mais idade para dançar quadrilha mirim foram todos para adulta, 80% da quadrilha adulta de 1990 veio da mirim Na década de 90 acabaram as quadrilhas mirins porque ficou praticamente insustentável para as adultas fazerem o trabalho delas e bancarem as mirins. Então acabou-se o processo de continuidade, hoje em dia não sei quem vai substituir Joe Reis, Janecleudo, Eloy, apesar que Eloy muda de quadrilha.

Ele conseguiu deixar a Unidos em Asa Branca de um jeito que qualquer um que chegar, monta aquele trabalho.

Diferente da Forrobodó que existia a figura de Serginho e até hoje ele não fez um sucessor. Na Arrasta Pé fizemos muitos sucessores: Clebson, Tonho, Cleverton Cleo, mas ela acabou. Joel Reis procura fazer um sucessor e não consegue. Não sei como será daqui a mais uns anos, quando ele reformar. Quem vai dar continuidade a essa quadrilha?

Tudo isso pela falta de continuidade das mirins, porque os meninos já dançavam na expectativa de subir para a quadrilha adulta. Já tentaram a volta dessas mirins, na década de 2000, mas a única

quadrilha que tentou e conseguiu foi a Xodó da Vila com Etelvan, ele montou a quadrilha mirim, onde conseguiu aproveitar muitos meninos que dançam com ele, não sei se ele continua. Mas é preponderante que as quadrilhas repensem as quadrilhas mirins, porque as comunidades precisam desse trabalho, inclusive, no conjunto Lourival, o pessoal cobra muito que se faça a quadrilha mirim. Imagino que haja essa cobrança em outros locais, porque você tira muita criança da ociosi-dade.

Então é o que eu poderia falar de quadrilha junina. Eu parei com Arrasta Pé, saí em 1995, voltei em 2000 e fui para Itaporanga 2003 até 2009 marcando no povoado Nova Descoberta. Ganhei a Sanfona de Ouro nesse ano como melhor quadrilha e melhor marcador.

Veja bem: alardeiam em todos os cantos que Sergipe é o país do Forró, que país do forró é esse onde não se privilegiam as quadrilhas locais, os grupos locais, e a tradição não é preservada? Os sanfoneiros, os violeiros, os grupos culturais de reisado, samba de coco, várias tradições, o pisa pólvora e os bacamarteiros são típicas de nosso estado, as quadrilhas juninas. Não existe uma política de incentivo dessa cultura regional que temos aqui. Eles inventam e fazem uma maquiagem de uma ajuda financeira na época junina tanto prefeitura quanto estado, eles dão uma esmola e dizem que é um auxílio junino. Que auxilio é esse que não paga a metade de um trio de sanfoneiro?! Não existe.

Não que deviam patrocinar cada grupo, mas deveria existir uma verba, uma emenda que destinasse um valor que

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fosse dividido com esses grupos, porque daí eles montavam seus trabalhos e as secretarias de cultura fiscalizariam. Não existe incentivo à cultura em nosso estado, é uma coisa fantasiosa, eles desmoralizam esse nome “Sergipe, País do Forró”, criado por uma pessoa que brigou por isso, nosso estanciano Rogério, meu conterrâneo, brigou muito por Sergipe e levou essa música pelos quatro cantos do Brasil. E hoje a gente vê os trios tocam no Forró Caju, na Vila do Forró e passam quatro, cinco meses para receber o cache, então as quadrilhas também, não recebem e não paga aos sanfoneiros e é aquele sofrimento.

Mas é a agente insistir, insistir que venham novos gestores para levar essa cultura adiante porque não podemos deixar morrer essa coisa da cultura, da vontade de fazer. Hoje em dia está comercializada, para se montar uma quadrilha não gasta menos de R$50.000,00 (cinquenta mil), para vestimenta e trio, então ficou inviável, muitas quadrilhas pararam, e com essa pandemia pior ainda, porque quem não tem carvão para queimar está fora. A Liga tinha 37 quadrilhas juninas antes da pandemia; a Federação tinha 18, acredito que das 55 que participavam dos concursos, umas 40% pararam porque não tinham cacife. *Ex- Marcador da Quadrilha Junina Arrastapé, conjunto Lourival Baptista, Aracaju/SE Ex-Marcador da Quadrilha Junina Sassaricando, povoado Nova Descoberta, Itaporanga D’Ajuda/SE

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acervo pessoal

Relatos

LIQUAJUSE E CONFEBRAQ Sergio Luiz Santos Pereira* Saudações, nação quadrilheira do Brasil. Quando vamos falar um pouco do movimento junino do Brasil, a gente precisa lembrar que nós estamos saindo de um processo, de uma pandemia onde nós paramos tudo. Paramos de viver. Tivemos muitas perdas, mas com fé, retornaremos agora no ano de 2022 com força total.

Referente ao movimento Junino hoje do Brasil, mais ou menos 95% dos estados já sinalizaram que vão realizar o São João 2022, para a gente é muito gratificante saber que os nossos Estados estão todos voltando ao normal. E que 2022, com certeza será sucesso, porque são dois anos de espera e o movimento junino é isso, movimentos, alegria, festa e superação.

Mas quando a gente se refere a concurso de quadrilha junina, para o ano 2022, no que tange à Confederação Brasileira de Quadrilhas Juninas - CONFEBRAQ. Estamos com a nossa logística de um concurso nacional, no mês de agosto, no Estado de Minas Gerais. Nós temos, também, o nosso concurso de casal de noivos, que será realizado no Estado da Bahia, teremos os concursos de Rainhas Junina e da Diversidade, que serão realizados no Estado do Pará. E finalizando os nossos eventos de 2022, nós temos o primeiro concurso nacional de casal de Quadrilheiros, que será realizado no Estado do Amazonas, aquele casal de Quadrilheiro caipira, o tradicional, modalidade nova, que estamos trazendo para o movimento Junino do Brasil.

Se a gente parar para falar um pouco do nosso Estado de Sergipe, onde somos gestor no segundo mandato à frente da Liga das Quadrilhas Juninas de Aracaju e Sergipe - LIQUAJUSE, nós estamos avançando, precisamos ainda aguardar um pouco um parecer do Governo do Estado, mas eu tenho conversado muito com o pessoal da

FUNCAP e nós estamos avançando e com fé em Deus eu poderei dizer para vocês que nós teremos um São João também no Estado Sergipe em 2022.

Eu quero aqui deixar todo o nosso público, não só os brincantes, mas as pessoas que gostam do movimento Junino de modo geral, que nós estamos trabalhando para que possamos realizar os nossos eventos de 2022.

Eu assumi a Confederação em janeiro de 2021, em plena pandemia.

Tudo ficou difícil para a gente. Nós estamos entrando em contato com todos os 21 Estados filiados para que tragam informações de quantas quadrilhas juninas existem no Brasil.

Hoje no Estado de Sergipe, nós temos em média 50 grupos juninos, mais ou menos, porque existem muitos grupos que não são filiados à entidade, então há muitos grupos soltos nesse Brasil e aí o Estado de Sergipe não foge à regra.

No que tange às quadrilhas mirins, eu vou falar um pouco de Sergipe porque a problemática é a mesma no país. Hoje as nossas quadrilhas estão com dificuldade muito grande com o material humano, mas porque não temos material humano para suprir todos os grupos, todas as quadrilhas juninas? Porque exatamente barramos na questão da quadrilha mirim no estado, eu posso lhe dizer que nós temos duas quadrilhas mirins, inclusive são filiadas à LIQUAJUSE, a Quadrilha Xodó da Vila Mirim e eu em 2019 ainda assisti à Quadrilha Festa na Roça Mirim de Itaporanga D’ajuda.

Essas duas eu vi ensaiando, então eu posso afirmar que nós temos, então como não temos essa peça de reposição, faltará brincante em breve na quadrilha adulto. Então, esse hoje é o maior problema, não só de Sergipe como todo Brasil, material humano, os nossos brincantes, eles estão envelhecendo e nós não temos como dar continuidade.

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Em relação a auxílios para o movimento junino, quando a gente fala de ajuda tem que pensar, tem que respirar, porque, infelizmente, nós não temos ajuda do poder público. E eu, particularmente, como gestor da LIQUAJUSE, sou muito grato, ao ex-governador, Jackson Barreto por ter nos doado um espaço para as quadrilhas juninas. Hoje nós temos a sede da LIQUAJUSE. Mas eu queria estar falando que o poder público contribui com o movimento junino. Isso não é verdade, infelizmente. Nós tivemos sim uma ajuda no ano de 2020, pela Lei Aldir Blanc, e isso a gente sabe que é uma lei federal, então não foi governo municipal nem governo estadual, é do Governo federal. Então nós estamos sem ajuda local direta, do Estado e do Município. Rebemos, sim, apoio de deputados, via emenda parlamentar, de Kitty Lima em 2021, no valor de R$ 30.000,00, que aplicamos na construção do auditório que receberá o nome do nosso amigo João Cardoso Filho (Cardosinho), da Quadrilha Junina Chapéu de Couro e no ano de 2022 receberemos uma Emenda do Deputado Luciano Bispo. Mas nós estamos trabalhando. Nós nunca fomos tão parceiros da Secretaria de Cultura como nós estamos sendo agora, nesse exato momento. No período da pandemia as portas da Secretaria de Cultura, hoje FUNCAP, começaram a se abrir para o movimento Junino de Sergipe e do Brasil. É uma vitória do movimento junino, porque hoje é de instituição para instituição e através da Lei Aldir Blanc, eu posso falar diretamente da LIQUAJUSE, se nós somos contemplados em um edital municipal ou estadual. Quando a gente fala um pouco de recursos para o movimento junino no Brasil, o Estado de Sergipe está atrasado. Nós temos muitos Estados, onde o poder Público anda em parceria. Para se ter uma noção no DF

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Relatos

eles conseguiram a emenda do Senado, recentemente, no valor de quase R$1.000.000,00 de reais. Então, o que é que acontece lá? O senador se senta com o quadrilheiro, com as entidades e manda o recurso. Aqui no Estado de Sergipe eu ainda não encontrei esse político abençoado para dizer sente aqui e vamos trabalhar uma logística para ajudar o movimento. Eu tenho que estar batendo nessa tecla, de que a quadrilha junina não é só dança, quadrilha junina é cultura, é social, economia. Tudo isso engloba o movimento.

Na verdade, existe um trade, são vários segmentos envolvidos na realização da quadrilha junina, você tem a costureira, o músico, o vendedor de tecidos, os armarinhos, todos envolvidos dentro do processo, e sem isso você não pode colocar a quadrilha para funcionar.

A LIQUAJUSE está trabalhando para realizar nossos concursos. É, eu costumo frisar que nós temos aqui duas televisões que fazem o evento, e a minha luta é que independente de televisão, todo mundo possa dançar onde queira. Mas infelizmente eu não sei como é que os empresários de televisão observam essa questão de concurso. Às vezes, eu acredito que eles não sabem que o nosso produto é um produto muito bom, onde todo mundo ganha, menos as quadrilhas juninas. Essa é a minha preocupação. É o meu segundo ano de mandato, mas eu luto para que nossas quadrilhas juninas passem a não ser dependente de televisão alguma no Estado de Sergipe, porque força para isso nós temos: o nosso produto é muito bom. A gente precisa só se organizar internamente. E correr atrás do que é nosso. Gostaria só de complementar essa questão quando a quadrilha começa a ter o potencial, a certeza não é

de que ela tem um produto bom e que esse produto deve ser comercializado. É a consciência do brincante do quadrilheiro, a consciência da quadrilha.

A partir dessa consciência, quando essas quadrilhas tiverem consciência, consequentemente, elas terão o conhecimento desse produto. E um produto que é caro, é bonito e é um produto que não dá um retorno.

No ano 2019, eu descobri que as quadrilhas juninas do Estado de Sergipe, o movimento Junino, ele poderia andar sozinho. E eu descobri que ainda não conseguimos nos afastar de televisão, mas se a gente quiser trabalhar, se tiver coragem, com certeza nós vamos conseguir, porque essa dependência só é boa para um lado o do brincante, pois de modo geral, ele gosta de televisão. Mas qual é a minha preocupação? Eu queria que o dono da televisão, eu queria que o político que não nos ajuda, que eles soubessem quanto custa uma quadrilha junina. Essa é a questão, todo mundo acha bonito a quadrilha no arraial. Eu tive a oportunidade, eu posso citar nomes da prefeita Cândida de Riachuelo, eu recebi um convite para ir na referida cidade e ela disse que a quadrilha da cidade era muito linda e eu disse: “Perfeita, eu fico feliz porque a Senhora ajuda a quadrilha, a Senhora sabe quanto custa uma quadrilha junina” , minha preocu-pação de levar para essas pessoas que acham os espetáculos bonito o quanto custa, hoje nós temos quadrilhas que gastam R$100.000,00 e tem uma quadrilha que gastam R$250.000,00 para montar um espetáculo. E aí não é justo, uma quadrilha montar um espetáculo R$250.000,00 de investimento e você vai para um concurso onde a premiação é R$ 5.000,00 e olhe lá quando chega a isso. Você vai e recebe um incentivo cultural do mu-

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nicípio ou do próprio Estado em um valor de R$ 3.000,00 ou R$ 4.000,00.

E quando você chega nesses editais que é para contemplar os nossos grupos o edital tem onze vagas e eu estou dizendo a vocês que nós temos 50 grupos, como é que eu como representante vou chegar em uma Assembleia para o meu grupo e dizer, gente, são 11 vagas, como é que vai ser? Quem tem seu político vai atrás e nessas horas as coisas funcionam, infelizmente. Mas a gente trabalha para que não seja assim. Eu já disse a uma Secretária de Cultura isso, que ela perguntou para mim: qual era o meu maior sonho quanto ao mundo de quadrilhas juninas? Eu disse: a Senhora me chamar aqui para a gente discutir como é que vai ser criado o formato do movimento junino do São João do ano seguinte, porque é preciso res-peitar o movimento junino. Porque ele é muito grande. No entanto, precisamos descobrir o nosso valor. Mas vamos chegar lá, vamos conseguir avançar e buscar o respeito que todo quadrilheiro merece, so-mos os únicos profissionais de dança que trabalhamos de graça. Eu penso em melhorias, espero que a gente consiga participar de mais editais culturais da parte do governo municipal, estadual e federal. Até porque com essa pandemia eu descobri que a cultura tem dinheiro, a gente precisa trabalhar de forma bastante organizada. Eu faço minha parte e eu quero que o poder público faça a parte dele. *Presidente da CONFEBRAQ Confederação Brasileira de Entidades de Quadrilhas

Juninas

Presidente da LIQUAJUSE - Liga das Quadrilhas Juninas de Aracaju e Sergipe

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Galeria IN

memoriam

HENRIQUE DA GABRIELA

VIVENDA DO ANTONIO FERREIRO / LICOR DA GABRIELA/ SEU HENRIQUE O FORROZEIRO !

CARDOZINHO

MARCADOR DA QUADRILHA CHAPÉU DE COURO ACERVO BAR MANDACARU

MARLUCE

DE ZÉ ROSENDO E MARLUCE FOTO EXTRAÍDA DO SITE CULTURA.SE.GOV.BR)

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Revista

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Imagens raízes e

INHO E CARDOZ URO CO A KAREN ANDREZ LHA CHAPÉU DE RI 86 - QUAD - ANO 19

SR ANTONIO SOARES PRIMEIRO PRESIDENTE E UM DOS FUNDADORES DOS FESTEJOS DA RUA DE SÃO JOÃO - MAIS ANTIGO CONCURSO DE QUADRILHAS JUNINAS DO ESTADO DE SERGIPE

QUDRILHA JUNINA ARRASTAPÉ Acervo - Centro de Criatividade

URO

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GLOSSÁRIO ARRAIAL “arraiá”, Local onde no Nordeste é usado para festejos e servir de palco para apresentações culturais.

BAIÃO gênero de música e dança popular da região Nordeste do Brasil, derivado de um tipo de lundu.

O baião é sempre coreografado por pares, os quais desenvolvem os passos conhecidos como balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar e rodopio.

BRINCANTE todos os componentes da quadrilha junina.

CAIPIRA é um termo de origem tupi que designa, desde os tempos coloniais brasileiros, os moradores da roça. Diz-se de ou indivíduo que vive no campo e cuja personalidade revela rusticidade de espírito, falta de traquejo social; Matuto, roceiro, jeca.

CENTRO DE CRIATIVIDADE espaço de artes e educação. O Centro de Criatividade foi inaugurado em 1985. Construído na área onde funcionou a antiga caixa d´água que abastecia parte da cidade de Aracaju, localizado no bairro Getúlio Vargas, possui uma concha acústica em qual ocorre Arraial do Arranca-Unha.

CHITA espécie de tecido Florido ou estampado utilizado nas quadrilhas juninas.

CONCURSO JUNINO espécie de competição entre quadrilhas juninas.

COREOGRAFIA união das células formadoras das partes de uma quadrilha.

ENSAIOS momento de reunião onde todos os quadrilheiros ensaiam suas partes ou coreografias.

FOGUEIRA fecho de lenha de colocação na vertical ou horizontal em forma quadrangular, redonda ou triangular onde se coloca a centelha com fogo.

FORRÓ dança popular de origem nordestina. Esta dança é acompanhada de música, que possui o mesmo nome da dança. A música de forró possui temática ligada aos aspectos culturais e cotidianos da região Nordeste do Brasil.

GONZAGÃO espaço de eventos localizado no conjunto Augusto Franco, Aracaju/SE. GRITO DE GUERRA espécie de chamada em voz alta de todos os componentes de uma quadrilha junina.

GUERREIRO brincante da quadrilha junina.

IMPROVISAÇÃO capacidade do ser humano em enfrentar os acontecimentos que se apresentam sem nenhum planejamento antecipado.

MARCADOR a figura que comanda e cuida da quadrilha junina.

PISADA sapateado desenvolvido pelos brincantes.

PRIQUITINHA sandália de couro com sola de borracha bastante utilizado para compor a indumentária dos brincantes de quadrilha junina.

QUADRILHA JUNINA tem o seu nome de uma dança de salão francesa para quatro pares, a “quadrille”. A “quadrille” veio para o Brasil seguindo o interesse da classe média e das elites portuguesas e brasileiras do século XIX. Ao longo do tempo, a quadrilha se popularizou no Brasil e se fundiu com danças brasileiras pré-existentes e teve subsequentes evoluções (entre elas o aumento do número de pares e o abandono de passos e ritmos franceses).

QUERMESSE – espécie de feira de produtos alimentícios, artesanatos e bugigangas realizadas em uma comunidade pela paróquia.

SEDE – lugar onde os quadrilheiros se encontram para reuniões ou ensaios.

VITROLA – espécie de aparelho de som que era utilizado para tocar discos de vinil nos anos 1970, 1980 e resquícios em 1990.

XAXADO – um ritmo e dança típicos do nordeste do Brasil, com raiz nos costumes do sertanejo local, originário das regiões do Pajeú e Moxotó no interior de Pernambuco e evidentes características extraídas das culturas indígenas.

XOTE – xótis, chótis é um ritmo musical binário ou quaternário e uma dança de salão de origem centro-europeia.

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Contatos: 79 99872 5077/ 99901 9807

rua bahia, 1116, siqueira campos

www.sintese.org.br Rua Riachão nº 457.Bairro Suissa, Aracaju/SE Fone: 79 98838 3860

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