Revista Frigorífico Fev13

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evento, Daniel Geraldes, 57% do sebo produzido no país é destinado à indústria de higiene e limpeza (sabão). Ao biodiesel, cabe o destino de 24% do sebo. Ele lembra, contudo, que “o país vem aumentando a mistura de biodiesel ao diesel. Já passou de B2 para B5 (de 2% a 5%) e vai chegar ao B20 (20%). Esse é um novo mercado que se abre para a indústria de graxaria”.* “Pode-se dizer que o sebo bovino como matériaprima para a produção do biodiesel já é uma realidade e sua participação tem crescido a cada ano”, concorda Minelli. Contudo, o dirigente alega que para participar deste mercado, é fundamental que as empresas mantenham a qualidade do sebo. “O produto deve ser separado de forma a evitar a contaminação com água e estar isento de restos de proteína, pedaços de osso, cartilagem, etc. A baixa acidez e umidade são características necessárias para um aproveitamento eficiente do sebo bovino na fabricação do biodiesel”, ressalta. Ponto de congelamento merece atenção Diferente do que ocorre em alguns países, no Brasil o sebo bovino não pode ser empregado para fins alimentícios e, portanto, possui preço mais interessante se comparado ao óleo de soja, que tem como principal destino o mercado de alimentos. O sebo chega a ser uma alternativa ótima de renda, já que uma tonelada do material pode valer R$ 2 mil. “O biodiesel é um produto flexível, que permite ser obtido através de diversos óleos e gorduras. A margem de venda do biodiesel é extremamente apertada e, historicamente, o sebo é mais barato que o óleo de soja. Por isso eu acredito que o sebo, por si, só é uma ótima oportunidade para quem produz biodiesel”, conta Camargo. Porém, como esclarece o gerente da Aboissa, à medida que o papel fundamental do sebo na produção do biodiesel é a redução de custos, é preciso atentar ao limite de CFPP (ponto de congelamento), ao passo que o excesso de sebo no biodiesel, dependendo da região/clima, pode alterar a especificação do produto levando-o a não atender à exigência da ANP justamente no item CFPP. “A temperatura de congelamento mais alta é uma desvantagem, o que reduz a participação possível da gordura animal na composição de matérias-primas. Esta restrição é maior para os meses mais frios e para os estados localizados mais ao Sul do país”, confirma Julio Minelli. Benefícios do sebo Além do custo inferior em relação ao óleo de soja e, principalmente, da não competição com a produ06 34

ção de alimentos, a geração do biodiesel a partir do sebo bovino não está exposta a eventuais quebras de safra. Outros benefícios de grande destaque que o dejeto oriundo do abate bovino possui, como afirma Minelli, é que o biodiesel produzido a partir do sebo bovino possui um maior número de cetanos (melhor característica de combustão) e maior estabilidade à oxidação. “Estas características são positivas em comparação com o biodiesel com origem nos óleos vegetais”. Com relação às vantagens ambientais, mais que garantir um “descarte” eficiente ao sebo, há a redução na emissão de gases causadores do aquecimento global. “Ao utilizar matéria-prima de origem vegetal considera-se que o carbono emitido pela queima será reabsorvido. A redução não é de 100%, pois devem ser consideradas as emissões durante a plantação e produção do biodiesel; contudo, esta conta ainda é bastante favorável. Quando o insumo é considerado um resíduo ou subproduto [como é o caso do sebo] a conta fica muito mais favorável”, compara o diretor da Aprobio. “Do nascimento até o abate são consumidos 8 litros de diesel por cabeça de gado. O sebo de um boi pode produzir mais de 20 litros de biodiesel”, complementa. Como lucrar com o sebo Considerado um subproduto do boi, o sebo bovino pode ser encontrado em grande escala nos frigoríficos que realizam abates, assim como nas graxarias que fazem a coleta de ossos nos comércios de carnes. “Esses ossos são destinados a um processo de cozimento a vapor para retirada do sebo que fica retido nas paredes das carcaças”, explica Camargo. Para ele, uma das estratégias que os fornecedores de sebo poderiam adotar para obter melhores resultados – algums já fazem isso –, seria a venda de sebo bovino em grande escala em determinadas épocas do ano, “porque o setor de biodiesel é um dos poucos nichos capaz de absorver grandes quantidades a curto prazo”. A introdução de regras para a padronização do produto poderia aperfeiçoar a coordenação na cadeia produtiva e o preparo do mercado na comercialização do sebo bovino e, com isso, regularizar e expandir a oferta de biodiesel. RF

*A mistura entre o biodiesel e o diesel mineral é conhecida pela letra B, mais o número que corresponde à quantidade de biodiesel na mis tura. Exemplos: se uma mistura tem 5% de biodiesel, é chamada B5; se tem 20% de biodiesel, é B20.


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