Revista fmq? #2

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cidade faminta pelo assunto Pensamento Econômico Clássico¹. O ponto positivo dessa confusão, se ele não fosse depressivo e cético sobre o sentido da vida, seria ter aprendido o conceito de indivíduo para o liberalismo econômico. Estava com dificuldade de concentração porque estava muito a fim de uma menina, que era do tempo da escola e que agora acompanhava pelo Twitter. Ela não sabia que era objeto de desejo à distância. Na verdade, ela não saia do seu pensamento, à noite ele sonhava com as curvas do seu corpo suado, os seios justos e perfeitos, bunda morena e cheirosa, amazona cavalgando seu abdômen de quase-homem. @MeninaQCláudioTahAfim: hj de manhã fui ao Mcdonalds. Comprei um chaveiro na lojinha de souvenir. À tarde fui ao salão de beleza. Hoje tem festa na casa de Mariah. Um amigo em comum, único entre nós que já tinha barba, bebia e fumava, sugeriu que João Cláudio lesse um livro muito doido de Trompowski A. chamado Aventuras Lisérgicas de Tupã em Eldorado. “Tu vai esquecer a nega na hora”, disse o amigo. Ele não queria esquecê-la, mas possuí-la, porém, pegou o livro para abrir um pouco a janela da consciência, lançando luz e arejando sua angústia. Desopilando, enfim. Mas seu coração estava oprimido, infelizmente. “Assim entendido o homem, o indivíduo e o cidadão, a competição é a natureza própria, o DNA digamos assim, das relações entre indivíduos: o individualismo. Como na competição cada um busca o melhor para si, nesse movimento de maximização dos lucros individuais, toda a sociedade cresce e evolui.” Trompowski A., que na adolescência de militância estudantil foi perseguido pelo regime de Stálin, na antiga União Soviética, acabou migrando para o Brasil nos anos 1940, instalando-se na cidade do Rio de Janeiro. Aqui desenvolveu carreira de jornalista e escritor. Apaixonou-se pelas mulheres

e a paisagem tupiniquim. Casou nove vezes, teve extensa prole. Acompanhou de perto os principais movimentos culturais do país: o cinema novo, o tropicalismo, e a literatura marginal dos anos 1970. Viu de perto as mudanças pelas quais o Brasil passou a partir da modernização e urbanização. Lia os modernistas do Manifesto Antropofágico. Tupi or not tupi? País onde o arco-e-flecha e a Coca-Cola conviviam sem muita harmonia. Onde levas de nordestinos caíam nas construções de pontes, prédios, monumentos e metrôs. Onde prédios gigantes e poderosos, onde circulavam muita grana, conviviam com favelas, mortos-de-fome e afins. Porém Trompowski A. não encontrou a glória artística enquanto vivo. Contentando-se como o anonimato. Nas Aventuras Lisérgicas de Tupã em Eldorado (1990), livro de maturidade e impresso com dinheiro do próprio autor, Tupã, representante da cultura nativa, a partir do contato com missionários religiosos e empresas de agronegócio com atuação nas proximidades de sua tribo, apaixona-se por uma secretária branca e pela cultura ocidental. Sai das entranhas de Goiás para o Rio de Janeiro, em busca de desafios e conquistas. Guerreiro maior de sua tribo, Tupã apaixona-se por armas e esportes de guerra. Começando de baixo, mas imbuído do espírito de superação e disciplina, passa a ocupar posições cada vez mais elevadas no ranking dos melhores atiradores do país. “Quanto mais tentar elevar potencial, treinando, melhorando movimentos, tarefas e investindo tempo, elaborando avaliações diárias de rendimento, avaliando os erros e deficiências dos adversários, superando-os em muito e a si mesmo, aumentando os espaços de atuação. Enfim!: atingirás os píncaros da glória!” – escreveu sua esposa, agora secretária particular, nos diários de treino.

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