Revista fmq? #3

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famintOS

Alexandre LimA

É formado em Ciências Sociais, pela UFCG. Atualmente faz mestrado, na mesma instituição, com foco em sociologia do trabalho. Maximizador.

JAMILE BARBOSA

Jornalista especialista em Convergência Midiatica, baiana, ama fotografia, é viciada em Jornalismo On line, redes sociais,series,filmes e as coisas simples da vida. Intensa,amiga,adoro um forró e picolé de siriguela.

Diana reis

Radialista, assessora de comunicação, servidora pública. Sonhadora convicta, observadora e documentarista. Na “fome de quê?” é responsável por tudo que rola na impressa sobre a revista e foi dela a sugestão deste espaço para apresentação dos colaboradores .

franz lima

Comecou querendo criar máquinas com peças de metal, mas desistiu no quinto período de Engenharia Mecânica. Sua mãe dizia: estuda! Entendeu: estúdio! Acabou que hoje é Diretor em Arte e Mídia pela UFCG, Diretor de Criação e Arte da Revista fmq? e sócio da Maquinarama Coletivo criativo.

iramaya rocha

Graduanda do curso de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande. É fotógrafa e realiza experimentações na área de artes visuais. Diretora de Fotografia e responsável pelas fotos das matérias produzidas pela Revista fome de quê?.

lígia coeli

É Jornalista, graduada em Comunicação Social pela UEPB. Colaborou como Repórter e Editora no Projeto Repórter Junino. Foi produtora da TV Correio de Campina Grande. Foi repórter e jornalista responsável do Portal Universiti e artigo publicado no site Observatório da Imprensa.

GIANCARLO GALDINO

É formado em Arte e Mídia e Mestrando em Ciências Sociais pela UFCG. Tem se dedicado à pesquisa e ao fomento da cultura independente junto com o coletivo de cultura Natora, integrado ao circuito nacional Fora do Eixo.

VALDÍVIA COSTA

Cada vez menor e invisível, sou uma comunicadora. Quando descobri que o ínfimo não fazia parte da grande imprensa, mergulhei num eterno mantimento, o de procurar miudezas. Descasco minha escrita, cada vez mais, em terrenos misteriosos e poéticos, como os da Web. Não sou um peão que mostra resultados diários! Só pesquiso, retrato e relato.

ALUIZIO GUIMARÃES

Comunicólogo, pós-graduado em Comunicação Empresarial, Prof. na área de Comunicação e Marketing, teatrólogo, dramaurgo e neo-cineasta. Escreve contos e crônicas. É Diretor de Relacionamento e Desenvolvimento da FAVIP em Caruaru PE. Quando sobra tempo cozinha para a esposa e amigos.

ely marques

Formado no bacharelado de Arte e Mídia pela Universidade Federal de Campina Grande e pós-graduado na Especialização de Estudos Cinematográficos da Universidade Católica de Pernambuco. Atua como: diretor, montador e videografista.

emmanuela melo

Graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual da Paraíba. Aprendeu na prática os atalhos das profissiões de produção e mídia em publicidade. Dobra até talheres com um sorriso e é a responsável por transformar as ideias emprestadas à fmq? em material impresso.

jhésus tribuzi

Bacharel em Arte e Mídia pela UFCG, tem como maiores interesses o Cinema, a Fotografia e a Literatura, para desespero de familiares e amigos. Cineclubista e ex- coeditor do jornal sobre Cinema A Margem. Nos últimos dois anos, testou a sorte em seu próprio curta-metragem, Aquilo que Não Deveria Ser.

jocélio oliveira

Formado em jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (2009). Editor da revista fome de quê? e produtor de TV, atua voluntariamente em projetos de formação e capacitação de juventude; atua também na produção de vídeos-educativos sobre o bioma caatinga.

marcelo andrade

Jornalista, 22 anos, formado pela UEPB. Foi Editor de Economia, Política e Viver do Diário de Pernambuco. Cobriu os jogos PAN Rio 2007 pelo Canal Futura. Como Repórter da TV Itararé ganhou o prêmio Pilotos Regionais no Festival Internacional de Televisão (NY). Atualmente é repórter da Revista Nordeste.

NYCOLAS ALBUQUERQUE

Graduado em Arte e Mídia pela Universidade Federal de Campina Grande e Mestrando em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense. É diretor dos filmes como Pela Tela Pela Janela, Idade do Vento e João José.

yara freund

Neta de índio com negro, filha de branco e mulata. Nascida em JP, criada no RJ apaixonada por CG e hoje amo Sanfra. Atuei como agitadora cultural e artista residente do Centro Cultural 1026. Hoje, estudo Belas Artes no Instituto de Artes de São Francisco. Sonho com um mundo sem fronteiras e apicultura.


númerotrês

Ufa! Mais uma. Agora são três. Nós que vimos os rabiscos do que seria a revista, produto de nossas primeiras reuniões, nos sentimos orgulhosos. Nossa! É legal. Só que junto com a repetição do esforço, edição a edição, vem a consciência de que este é só o começo. Estamos crescendo. Infelizmente, muitos artigos ficaram de fora desta terceira edição por uma limitação, digamos, espacial. Tem muita coisa boa sendo produzida no intervalo entre uma edição e outra que não caberiam em nossa revista nem se ela tivesse três vezes o número de páginas e o dobro do tamanho. Mais do que ser espaço para a “promoção” e divulgação da nossa Cultura, a revista é também um espaço para refletir esta Cultura. Produzir uma revista é um exercício de síntese, porque há a limitação física do papel e nesse processo o autor, fotógrafo, artista gráfico e o leitor são obrigados a refletirem sobre o que escrevem, retratam, desenham e leem, confrontando ideias e pontos de vista, apontando ausências e excessos. O resul-

tado é sempre uma reflexão crítica sobre o contexto cultural e seus frutos. Resumindo: a revista estimula autor e leitor a pensarem prática e ideologicamente sobre Cultura. Uma vez disseram que a revista era muito pretensiosa porque queria matar a fome de todo mundo. Disseram sem antes perguntarem se realmente era essa nossa intenção. Não é. Pelo contrário. A proposta da revista é mostrar que temos fome, que somos famintos, que queremos mais que carro pipa ou “auxílio qualquer coisa”. A gente quer comida, sim. Mas queremos mais. Queremos Cultura saindo pelos poros depois de triturada, digerida e sintetizada dentro da gente. Somos nordestinos e temos fome! Continuando “pretensiosos” e antenados às nossas demandas de crescimento, a número três traz consigo o nosso site, novinho em bits. Agora, o que não couber na folha, cai na rede! Vamos tentar manter tudo fresquinho e juntar uma galera para discutir mais e mais nossa Cultura. Leia. Clique.


sumário

10. 14. 18. 22. 24. 29.

teleco teco . MARCELO HEMRIQUE ANDRADE a revolução cultural de chico science cada qual . LÍGIA COELI a peleja da casa de zinco e as histórias de aço mundo vasto mundo . JAMILE BARBOSA fazer da rua fonte de renda fome de música

assine

assine@maquinarama.com.br

GIANCARLO GALDINO

a visagem é de cada um

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VALDÍVIA COSTA

cinema radical e o espectador

(83) 8822.9446

revistafomedeque@gmail.com Emmanuela Melo

som do novo criolina

chico césar capa: e seu nordeste em movimento 30. 36. 38. 40. 42. jornalismo 44. on line 49. 50. 52. JOCÉLIO OLIVEIRA

do meu jeito . ELY MARQUES audiovisual e a gestão cultural

experimentar o experimental . FAVIP/JOÃO BOSCO E JOHNNY PEQUENO nascida para versar

lado b . ELIZABETH CHRISTINA DE ANDRADE LIMA as festas juninas no folclore brasileiro fome de cinema

JHÉSUS TRIBUZI

maldição do chincheros NYCOLAS ALBUQUERQUE

o antimoderno cinema nordestino

revistafomedeque@gmail.com Jocélio Oliveira

tin tin! . YARA FREUND tempo, tempo, tempo.

cidade faminta . ALEXANDRE LIMA o ilusionista e os dados

site:

canibal chef . ALUIZIO GUIMARÃES santa isabel da caatinga, a vampira!

@revistafmq

A Revista fmq? é impressa pela Gráfica MXM de Recife em papel sulfit 50g/m² na capa e miolo em sulfit 120g/m². Sua programação visual é desenvolvida pela Maquinarama Coletivo Criativo. Os textos contidos na revista são de responsabilidade de seus idealizadores.

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A Revolução Cultural de

Chico Science texto: MARCeLo HeNRIQUe ANDRADe foto: DANILo SÁ


teleco teco


CARANGUEJOS COM CÉREBRO: Foi o primeiro manifesto Mangue do Movimento da turma de Chico Science. Para ele, Os crustáceos representam os homens – inteligentes – que vivem na Manguetown (Recife). Como homenagem, a Rua da Aurora, um dos cartões postais da cidade pernambucana ganhou, em 2005, a escultura dos artistas Eddy Polo, Augusto Ferrer, Jorge Alberto Barbosa e da Arquiteta Lúcia Cardoso. A imponente obra se mistura à arquitetura de estilo Toscano do século 19. Como um bom contraste entre o clássico e o contemporâneo, a obra recebeu, há um mês, intervenção de 12 grafiteiros do Recife, que contribuíram para deixar mais ainda o Caranguejo com cérebro com a cara do mangue-boy. FOTOS DE: Lua Durand Beto Figueirôa Marcelo Lyra Thaise Carvalho

E

u nem tenho tanta propriedade para narrar essa história, até porque quando aquele cara apareceu no meio do som da minha terra, que até então para mim era representada pelo frevo e o forró, eu tinha pouco mais de 11 anos. Não entendia de música, não sabia o que era Manguebeat, não fazia ideia de quem era Chico Science , tampouco uma banda com o nome de Nação Zumbi. Mas nem demorou muito para que eu e meus amigos fôssemos à loucura ao ouvir A Praieira com aquele arranjo elétrico de abertura que fazia – e faz – uma multidão pular como se fosse tocar o céu. Era assim em todas as músicas, bastava o irrequieto olindense, confundido recifense, começar a cantar com sua voz compulsiva lotada de protesto. Afinal, para o “revolucionário”, cantar era falar alguma coisa, reivindicar. Deve ser por esse motivo, que o homem com jeito de adolescente criou um dos movimentos mais importantes para a cena musical do estado e quem sabe do Brasil: o Manguebeat. Surge, então, Chico Science e sua rápida história. Chico morreu anos depois de explodir na mídia. No dia 2 de fevereiro de 1997, o mague-boy sofreu um acidente de carro no auge dos seus 30 anos. Antes disso ele era somente Francisco de Assis França. A vocação musical estava pulsante no sangue dele. Na década de 80, ele e amigos criaram uma banda que misturava um Funk a um estilo Soul: a pouco conhecida Orla Orbe. Antes Chico era integrante da Legião Hip-Hop, um grupo de dança de rua que curtia a música negra dos Estados Unidos. Lembram daqueles dançarinos dos filmes americanos do Brooklin? Pronto, a LHP era do mesmo estilo e gênero com grafiteiros, músicos e dançarinos de Olinda e Recife. No início

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dos anos 90, o músico se aproximou dos batuques do Lamento Negro, um grupo afro que desenvolvia atividades culturais na periferia do Recife. A base do grupo era a percussão e ritmos simbolicamente nordestinos, como o coco de roda e o maracatu. Bastou isso para Chico fazer uma grande mistura de Black, Soul e da essência da raiz pernambucana. O resultado explica o surgimento do movimento Mangue e da Nação, suas maiores heranças. A aparição da NZ também aconteceu como uma explosão na mídia. Em 1993, bastou apenas uma turnê em São Paulo e o grupo ganhou notoriedade no meio artístico. Um ano depois a banda já saía do estúdio com o álbum da Lama ao Caos, o grande sucesso da Nação na parceria com Chico. Quem não lembra dos versos: “Quando a maré encher, tomar banho de canal quando a maré encher”? A música ficou conhecida na voz de Cássia Eller. Até o rock de bermudas oitentão se rendeu à inteligência do menino do mangue. Os Paralamas do Sucesso gravaram, com maior prazer, a música Manguetown, no Acústico MTV da banda. Dois anos depois do primeiro álbum, o disco Afrociberdelia chegava às rádios e aos ouvidos do mundo. Maracatu Atômico e suas faixas remixadas caíram no gosto de um público cada vez mais admirador do trabalho deles, que fizeram uma turnê pela Europa e Estados Unidos. “Ninguém acreditava que aquele som, aquela banda era de Recife. Ninguém acreditava em Recife. Era realmente muito pior nesse sentido. E Chico entrando no Central Park, em Nova Iorque, vestido de caboclo de lança, aquilo era sensacional. Passou várias vezes na TV local, virou DVD, e hoje se acha em bancas de camelô”, lembra Isaar, cantora pernambucana. Era difícil não encontrar Chico & Nação na programação de algum festival.


teleco teco teleco teco

O Abril Pro Rock, por exemplo, fez parte da história de Chico e vice-versa. Ambos nasceram juntinhos. Em 1994, o festival de apenas um ano de idade já tinha como sua principal atração a Nação Zumbi. A esperada presença se repetiu por anos seguintes. Até hoje o festival tem a cara do grupo. Foi triste para uma legião de fãs não perceber o nome do cantor na agenda do APR de 1997, um ano de luto para a música de Pernambuco, afinal, muita coisa que foi transformada no cenário cultural do estado se deve a Chico, a NZ e ao seu inteligente movimento Mangue. O Jornalista e Crítico de Música, José Teles, autor do livro Do Frevo ao Manguebeat, é um dos estudiosos com mais propriedade para falar sobre a revolução musical pós-mangue. Muita gente procura o escritor para fazer tese de doutorado sobre o Manguebeat, seja “Gringo, paulista ou carioca”, diz ele, que acrescenta: “Chico recolocou a música pernambucana em cena”, lembra. Segundo ele, nomes como Lia de Itamaracá, Mestre Salustiano, Selma do Coco, entre outros, só voltaram a gravar graças ao trabalho do Manguebeat, que enalteceu, como na literatura nacionalista, uma cultura e uma região. As letras de Chico, dentro da ideia do Manguebeat, estavam repletas de palavra que lembram Pernambuco e o Nordeste. Lampião, Ciranda, Maracatu – mesmo que atômico – Zapata e Antônio Conselheiro. “Antes disso, até Lenine estava apagado”, conta o jornalista, que até faz uma lista: “Otto, o Festival Recbeat, Mundo Livre S/A, DJ Dolores e tanta música e festival de qualidade, tem a mão sortuda de Science”. Pernambuco realmente saltou. É notável com a Feira Música Brasil (FMB), realizada em Recife, os encontros de música, de cinema e Rock, o MIMO (Mostra Internacional de Música de Olinda) e uma

infinidade de nomes, que partem do recém-extinto Cordel do Fogo Encantado ao veterano multiartista Antônio Nóbrega. Eles reconhecem, tanto que para a própria Nação Zumbi, foi difícil caminhar sem seu personagem mais ilustre. “Quando se perde uma figura frontman como ele, uma pessoa carismática e dinâmica, demora um pouco para se recompor. Até hoje subimos no palco em tom de reverência”, conta Jorge Dupeixe, atual vocalista e líder da Nação Zumbi. O jovem pianista Vitor Araújo tinha sete anos quando Chico apareceu, mas reconhece o legado do cantor. “Incontestavelmente ele é um dos maiores responsáveis pelo crescimento da música de Pernambuco. Mais que isso. Ele representou uma geração socialmente também”, diz o músico. Além de reconhecimento, também existe muita influência. O rodado Mundo Livre S/A, que já existia desde os idos de 1960, só começou a andar depois do empurrão do Manguebeat. O vocalista e idealizador do grupo, Fred Zero Quatro, ajudou Chico e DuPeixe a construir o movimento Mangue e teve como retribuição turnês pela Europa e uma Ordem do Mérito Cultural das mãos do presidente Lula. Hoje não há exatamente o título do movimento, mas há uma essência presente no trabalho de outros. “E se hoje pouco se fala em Movimento Mangue é por que a cidade não parou mais. Pode-se dividir a História Contemporânea do Recife em antes e depois de Chico. Eu pude constatar de perto, em inúmeros shows mundo afora, que ele e a Nação transformaram Recife em referência mundial”, diz Isaar. Vivo e bem vivo, vale salientar, Chico estaria fazendo 44 anos e certamente estaria fazendo ainda mais de Pernambuco, sua sonhada Manguetown.

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cada qual

A Peleja da Casa de Zinco e As Histórias de Aço

texto: LÍGIA CoeLI foto: IRAMAYA RoCHA

E

havia os moleques de umbigo estufado, trajando apenas calções, com olhares-urubu. Estavam em círculo em torno de uma lata. Curiosos, “atucalhavam” um monte de castanhas ficando pretas. A lata esquentava a bunda no carvão. Um deles, fazendo careta sob o sol, pergunta ao outro num momento de devaneio que antecede a fome “Tu sabe onde vende mais latas dessas?”. O outro retruca, como se aquela pergunta fosse tão absurda quanto perguntar de onde vem Deus. Ríspido, responde como quem tem razão “Não!”. Essas latas vêm do bairro do Araxá, em Campina Grande (PB), subindo pela rua do cemitério. “Onde fica a casa da Pan-

cada?” às vezes com careta, às vezes com orgulho, e o caminho é tipicamente indicado com os beiços da vizinhança: “é pra lá” (bicos apontam para frente, acompanhando de um impulso na cabeça). De lá em lá, a zuada se escuta e o portão é visto. “Seu Alain está?”. “Sim, claro!”. Seu Valmor Clementino Guimarães (mas pode chamar Alain), tem 73 anos, é funileiro e dono do que ficou conhecido naquele bairro como A Casa da Pancada. Toda sorte de baldes, candeeiros, pás, bacias pra dar banho nos moleques, latas d’água, bules e ralos que enfeitam as feiras de Campina Grande (e o imaginário da cultura popular nordestina) saem daquele espaço miúdo e barulhento.

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torcida


cada qual O plástico não é páreo para aquela gente. Parece que naquela casa essas coisas não têm história, tudo é zinco, nada se racha sob o sol, só encandeia sob o pingo do meio-dia: e de uma maneira quase mágica, ficou acomodado no nosso juízo assim. Talvez porque não foram pintados quadros com mulheres nordestinas ostentando exuberantes tuppewares na cabeça, exibindo cores e texturas importadas e daqui a dois minutos rachadas. Parece que crescemos de outro jeito, e nossos olhos acabaram acostumando-se com outros cenários: são as bacias que metaforicamente ocupam o lugar acima dos nossos quengos, que enfatizaram as varizes das nossas bisavós no caminho ao açude, que estão nos poços amarradas com embiras, que vão sendo carregadas e nos fazem pender para um dos lados, pingando. Assim as latas se tornaram tão emblemáticas quanto os nossos próprios rostos - devem ser entendidas e respeitadas pelos seus simbolismos. Mas disso sei dizer pouco e deixei que seu Alain me explicasse o que importava. Espero-o na oficina, ao lado de uma geladeira enferrujada que nem sei se ainda funciona. De lá, o ferro era o que mais pesava, o resto era zinco, martelo e homens sem camisa. Havia dias em que o abafado fazia pingar suor da testa deles, que paravam o serviço e encostavam as costas das mãos nas têmporas para aparar a transpiração. Ele rompe meu olhar absorto e dá com a mão nas minhas vistas, ironicamente, me chama para um lugar mais silencioso, para explicar como as coisas funcionam ali. Seu Alain está em um espaço estratégico de sua casa: sentado entre quadros do Treze Futebol Clube e do Grêmio e logo abaixo de Jesus. Ele fala com as mãos postas e por pouco não lhe peço a benção antes de começar a entrevista, mas ele interrompe: “Fale alto, minha filha. Faz 60 anos que trabalho batendo e escuto ruim”. De tanto trabalhar com zoada, era também um pouco “môco”, compreensível. A peça mais cara ali é a bacia, custa R$ 10,00, e a mais vendida é a chamada “marmita”, um pequeno bule pra amornar água. “A gente fabrica mais de 200 peças por dia”, e nessa hora o peito dele estufou satisfação diante dos números - parou um instante, reflexivo, como que

conferindo se exagerou na quantidade. Mas voltou a mim um olhar de certeza, sincero - eram 200 peças produzidas por ele e mais 05 ajudantes. “Meu trabalho é bater, ganho dinheiro batendo”, explica. E numa insistência de ritmos que começa às 7h (“Abro a oficina às 6h, mas se eu bater essa hora, acordo todo mundo”) e se estende até às 18h, construiu a casa, criou 12 filhos e manteve a paixão pelo futebol. Com ajuda de mais 05 pessoas, passa o dia na oficina, um lugar quente, com portas de rolo (tipo de mercearia) que lhe serve como espaço criativo - risca, corta e o resto se resolve com batidas. Depois de prontas, as peças vão ficando amontoadas até que os fornecedores as busquem - uma pechincha ali, uma negociação aqui, e o lugar fica vazio novamente, carente da decoração que acabou tornando-se habitual. A chapa de zinco chega ao local com seus virgens 1m x 2m, e depois de passar pelas mãos grossas dos homens, acaba saindo despedaçada em 06 baldes, ou 04 bacias e 05 candeeiros - depende do desejo deles. É claro que tanto tempo de barulho não passou imune, a vizinhança unida já fez até apelo pra acabar com o “fuzuê” das batidas. Consta como a primeira peleja o causo de uma vizinha que foi até uma rádio do bairro reclamar do incômodo causado pelo bate-lata, mas o locutor não aceitou o argumento dela e retrucou aos risos: “Minha Senhora, o cidadão passou 60 anos da vida dele batendo, se parar, ele morre”. Desde então não se ouve mais zoada alguma - da vizinha, é lógico. Quando começamos a nos distrair e conversar sobre outras coisas que não fossem as latas, começou a chover forte, como fosse sinal divino, cada pingo que caía soava como zinco gemendo, chamando atenção para revolver o “leriado” ao ponto de partida. Fosse a bica, fosse a tremedeira dos fiapos de ferros desperdiçados e pendurados na oficina, com o barulho do trovão, tudo ali se remexia para mostrar que naquele espaço, silêncio não significava mais que solidão. Se para seu Alain faltava o martelo marcando o zinco na hora da conversa, sobrava-lhe o compasso dos pés marcando o ritmo da fala. A última pancada que ouvi foi a porta batendo. Seu Alain foi dormir cedo para começar tudo de novo no dia seguinte.

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mundo vasto mundo

Fazer da Rua Fonte de Renda texto: JAMILe BARBoSA fotoS: IVeS PADILHA

U

ma iniciativa do Irmão Henrique, monge francês, vem mudando a vida de muitas pessoas moradoras de rua¹ de Salvador (BA). Em 2006, após ter morado voluntariamente na rua por quinze anos, o irmão teve a idéia de criar um jornal feito por pessoas que geralmente não tem voz nem vez na sociedade. Nascia

o Aurora da Rua, que foi lançado em 2007, durante as comemorações dos 458 anos de Salvador. De lá pra cá, mais de 100 mil exemplares foram impressos.


1. A população de rua, no Brasil, foi contabilizada oficialmente pela primeira vez em outubro de 2007, pela Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, que envolveu 71 municípios (23 capitais e 48 cidades com mais de 300 mil habitantes). O levantamento, realizado pelo Ministério de Desenvolvimento Social em conjunto com a ONU, identificou 31.992 pessoas com 18 anos ou mais de idade em situação de rua, 3.289 na capital baiana.

Um dos objetivos do Aurora da Rua é apresentar uma imagem mais humana das pessoas em situação de rua ao mesmo tempo em que serve como fonte de renda para eles. O jornal tem tiragem bimensal de 7 mil exemplares, vendidos por uma rede de 21 moradores e ex-moradores de rua. Cada exemplar custa R$ 1, do qual R$ 0,75 é a remuneração dos vendedores. O valor restante cobre os gastos operacionais da publicação. Desde a sua criação, 54 moradores de rua foram formados vendedores. As matérias de capa são escritas pelos moradores durante oficinas de texto que o jornal promove. Ao todo são 15 redatores, entre eles alguns são voluntários. O jornal Aurora da Rua acaba promovendo inclusão, “quem compra os exemplares pode ter certeza de que não compra apenas um produto comercial, mas um produto social”, afirmar o Irmão Henrique. Para garantir que o jornal seja, de fato, escrito por moradores, foi desenvolvida uma técnica específica: em cada edição é definido um tema do universo deles. A equipe de jornalistas voluntários vai às ruas e praças, estimulando os moradores a darem sua opinião. Quem não sabe escrever colabora falando, para que os voluntários anotem e transcrevam “sendo extremamente fiéis ao que foi dito”, garante Edcarlos Venâncio, voluntário da publicação. A renda gerada pela venda do Jornal, associada a outros benefícios, como o ganho de novas responsabilidades, melhora da auto-estima e fazem grande diferença no cotidiano dos vendedores, permitindo a muitos deles sair da rua. Para Edcarlos, “é necessário mostrar que as pessoas estão na rua por algum motivo. Elas têm um nome, têm uma identidade, têm uma história”. Essa função é o que a equipe chama de “profecia”: anunciar a boa notícia, mostrar o que há de belo naquelas pessoas. Antes de ter o direito de vender

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o jornal, o morador de rua precisa passar por uma oficina para conhecer o produto. Passam a saber, por exemplo, que quem vende 550 jornais no mês – ou 23 exemplares por dia, de segunda a sábado – consegue obter um salário mínimo. “É difícil, mas acontece”, diz Edcarlos Venâncio. Preparado, ele volta às ruas para trabalhar, não mais para ver o tempo passar, na condição de desempregado. No caso de Elmário Bonfim, depois de passar 5 anos lutando contra o alcoolismo, foi sua presença constante como vendedor uniformizado, numa mesma região da cidade, que conquistou a confiança de uma senhora, hoje patroa de dele. “Ela me deu a chave da barraca, confiou em mim”, diz Elmário, contratado para cuidar de uma “barraca que vende de tudo”. Nesse emprego, ele recebe R$ 300 mensais mais alimentação; o complemento vem com a venda do Aurora da Rua nos finais de semana. A renda de Elmário chega a cerca de R$ 540 por mês. Já Dilson Santos Correia, de 38 anos, conseguiu deixar as ruas e alugar uma casa vendendo o jornal, principalmente em faculdades e eventos culturais. Natural de Gandu, a 290 km de Salvador, ele saiu do interior para a cidade grande em busca de estabilidade financeira. Passou 2 anos sofrendo com trabalhos temporários e sem ao menos um local para morar. “Vim em busca de trabalho, mas a vida aqui é muito dura”, conta. Os próprios vendedores criaram um código de conduta e decidiram que, caso alguém pague a mais pelos jornais - “para ajudar” - a pessoa sempre vai receber o número de exemplares equivalente ao valor pago. O resultado volta como elogios ao profissionalismo e à cordialidade da equipe. Esse sistema é interessante porque ensina ao morador de rua como gerir com responsabilidade o dinheiro que arrecada. A equipe do jornal se esforça para que a venda dos jornais seja uma atividade digna e pedagógica, tanto para quem vende como para quem compra.


mundo vasto mundo


A Visagem é de Cada Um GIANCARLo GALDINo

Q

uando fui convidado pela fmq? para fazer uma crítica sobre o quarto disco do grupo Cabruêra eu pensei: bem, existem várias formas de refletir sobre um disco. Qual então o melhor caminho? Alguns preferem analisar faixa por faixa, outros prestam atenção na capa, outros tentam comparar com referências. Bom, as minhas linhas são curtas, a margem é apertada... O tempo estava infecundo e faltava luz na

janela. Foi quando eu botei a bolacha no notebook para ouvir e então... O “Visagem”, da Cabruêra, se apresenta como um trabalho efetivamente conceitual. Isto significa assumir riscos, pois, se por um lado, o conceito contribui para o trabalho ao delinear mais claramente a proposta do disco, por outro, se institui uma espécie de prisão desta própria definição, ou seja, a reafirmação deste conceito – consequência de seu uso em todas as etapas do disco – pode causar a limitação da obra. Sem medo algum, esta aposta foi lançada com a maturidade que o grupo somou durante sua trajetória e teve um re-


fome de música 1. http://www.overmundo.com.br/

sultado interessante. Se o Visagem não é o seu melhor disco, com certeza parece ser o mais maduro e coeso, resultado das primeiras elaborações estéticas do grupo, observadas no primeiro e no segundo álbum, em contraposição com as experimentações do terceiro disco, o Sons da Paraíba, o qual apresentou para seu público uma sonoridade completamente diferente dos primeiros trabalhos e, como consequência, foi alvo de duras críticas. O choque passou. O público entendeu que a Cabruêra é orgânica e que se responsabiliza por isto. Ao mesmo tempo, parece que o grupo também compreendeu um pouco mais da sua essência, e apresenta no Visagem a sabedoria do transitar entre o tradicional e o contemporâneo. Esta essência se perde por ela mesma, pois é a inconstância. Assim, o Visagem transcende este mundo de ideias e possibilita diversos caminhos para a sua interpretação. Ou seja, por mais que tentemos definir o Visagem, sua natureza sempre surgirá nas condições do seu ouvinte. É por isso que o grupo acertou no conceito que escolheu, pois este sublima ao entrar em contato com a imaginação. E é através deste olhar pessoal que tento aqui interpretar a Visagem da Cabruêra, na perspectiva de estimular os leitores para que façam o mesmo ao ouvi-lo. O novo disco da Cabruêra traz um imaginário nordestino ainda muito presente, cheio de contradições, constatações de uma cultura em processo. Contudo, já que sou natural de Campina Grande-PB, é impossível não associar a musicalidade cosmopolita do grupo com a cultura desta cidade. Campina Grande é a cidade dos sonhos que transitam o tempo inteiro entre si. Isto faz dela um universo fragmentado, unido apenas pelo fato de ser mutante. Ao mesmo tempo, vejo no Visagem a paisagem urbana campinense. Lembro-me quando tinha 8 anos, estudava num colégio próximo ao bairro do Alto Branco e ouvia todo fim de tarde um vendedor de doce de coco. Sua voz ainda é marcada na minha mente, ainda desfruto deste pedaço de infância. Também tenho

ótimas lembranças da Feira da Prata, pela qual transitei vários domingos com o meu padrasto. Quem também nunca observou na cidade o fim de uma festa anunciado com o canto da passarada, no prelúdio do dia? Estas e outras mensagens, muitas vezes obscuras e sem sentido, mostram o lugar de onde a musicalidade da Cabruêra saiu. E fazer isto hoje em dia é muito raro. Assim, posso então me apropriar da minha ilusão nostálgica, emergente deste momento literário e afirmar que a Cabruêra deixa de simplesmente encenar uma cultura popular para atuar nela própria, contribuindo para o meu imaginário acerca de Campina Grande e do Nordeste. Misturar o tradicional com o contemporâneo não é algo novo, mas a banda parece mostrar como a própria cultura campinense dialoga com o mundo, sem deixar de lado as suas peculiaridades. Para os puristas, parece que agora a minha sentença foi assinada. Mas cultura não é e nunca precisará ser pura, ela é movimento, é loucura e é também mercado, Funk, Groove e Rock’n Roll. A produção do disco está impecável. A maestria de João Parahyba (trio mocotó) foi sutil, mas poderosa. Ele compreendeu o espírito das composições e incrementou na medida certa os elementos necessários para sair do pitoresco. Porém, o que mais me chamou a atenção em Visagem foi o trabalho de mixagem. Para mim, é o ponto-chave do disco. A mixagem deu às composições a referência certa para os ouvintes. Minhas linhas estão acabando, e tanto tenho para falar. Enfim, gostaria de comentar que Visagem foi lançado no mês de abril e pode ser baixado gratuitamente através do site do Overmundo¹. Queria eu me deleitar em palavras cada faixa do disco, descrever as belíssimas fotografias do encarte feitas pelo Augusto Pessoa, apontar caminhos e destinos de interpretação. Mas seria um esforço muito injusto. Cada ouvinte deve sentir ao seu modo, no tempo e no espaço que lhe convir, afinal uma visagem só consegue existir em nossas cabeças, por mais que tentemos compartilhá-las. É vazio e forma dentro destas astronaves pensantes.

revista fome de quê?

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fome de música

Toninho Borbo

Experimenta O Samba na Serra texto: Valdívia Costa fotos: IRAMAYA ROCHA


1. Mistura da batida tradicional do coco de roda com música eletrônica. 2. Travessa Almirante Alexandrino, para os Correios. Onde, atualmente, fica a sede da Revista fmq?.

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o começo, um suspense instrumental que nos remete a um ambiente repleto de nuances, vinhetas e colagens. Misto de mãos e mentes orgânicas colados a bits eletrônicos e uma poesia aguda. É o show Experimental Samba Groove, que começa com Acid Groove (música eletrônica do DJ fHz0) e vai até Carne Dura, que traz um trecho do poema Navio Negreiro, de Castro Alves. O repertório é seguido por um baixo, que liga tudo num som de peso, acompanhado por uma bateria de Groove reto, dialogando com o violão, criando uma textura moderna que define a música de Toninho Borbo. Pelo Myspace (canal virtual que funciona como uma mostra de músicas para artistas) dá pra ouvir um pouco do que é esse trabalho já reconhecido por alguns músicos “cricris”. Digo: como os próprios integrantes do Experimental, brasileiros perfeccionistas, inspirados nos sons do mundo. Quem pensaria em ouvir uma poesia regional, da Feira de Campina Grande, com o arrastado elétrico do bit? É o Eletrococo¹ composto a partir de um trecho da obra teatral, A Feira, da escritora Lourdes Ramalho. Essa originalidade e experimentação são variantes nos atuais trabalhos de MPB que circulam no Brasil. E são nelas que o cantor e compositor paraibano Toninho Borbo vem dedilhando seu violão, mas fusionado no agora. Os experimentos com Samba na Serra da Borborema começaram a partir de 10 letras feitas entre 2006 e 2009 e hoje caminham para um CD. Daí surgiu esse novo show no final do ano passado: “um dos mais elogiados em sua carreira”, diz o músico. O CD estará na praça até o ano que vem. Toninho divulga o show no estado e, nas últimas apresentações, o baterista Edmar Travassos, o baixista Orlando Freitas e o DJ Frequência Zero (fHz0) fizeram a obra se tornar mais rica musical e esteticamente, pronta pra qualquer grande palco. O trabalho soma a trajetória do artista, que teve a liberdade de experimentar música eletrônica com MPB e fazer um bom casamento, no qual os instrumentos têm fala e a própria fala diz alguma coisa. Experimental Samba Groove é, agora, o

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meu jeito de fazer canções, com total desapego dos outros resultados, testando a liberdade de usar música eletrônica e outros para dizer que o processo é aberto”, diz Toninho. Ele afirma que vem escutando e somando tudo aquilo que a música independente produz mundo a fora. Do Reggae ao samba, do Coco ao Funk, sem fronteiras, o músico vem se recriando, recombinando elementos sonoros para expressar o seu jeito de fazer música brasileira. Munido de composições populares, o show tem um conteúdo poético, existencialista, como Ser Humano, “o engano do próprio Deus”. Antes de ser Toninho Borbo, Wilton Felipe de Oliveira foi uma criança que nasceu no centro de Campina Grande (PB) em 1978. Viveu num dos recantos mais artísticos da cidade, a Rua da Pororoca², que virou um aglomerado de bares culturais na década de 1990. Na família, pais, tios e tias gostavam de arte e passavam esse bem maior aos membros mais novos, mesmo sem serem artistas. Apenas aos 14 anos (1992), seu pai toma emprestado um violão desses tios boêmios. A partir daí, novidades de som e ritmo começam a surgir para o estudioso rapaz. Vieram as revistinhas de cifras e a primeira música popular dele, Praia e Sofrimento. O adolescente em formação artística ouvia Caetano Veloso, Chico Buarque e todos os compositores brasileiros, além dos grandes nordestinos como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Nesse tempo, ele estudava no Colégio Estadual da Prata, que tem um auditório com mais de 300 lugares. Ele vivia tocando a viola, sonhando um dia pisar naquele palco. Não foi lá, mas no Festival de Música Popular (FESTIMUSI, 1997), onde ele colocou a prova, pela primeira vez, o seu trabalho autoral. As parcerias começaram com Marcelo de Sousa, depois com Fábio Silva, na época da Calourada de Comunicação Social (1998), evento tradicional na cidade. O artista passou a ser visto em todas as iniciativas culturais universitárias. Começa a ser produtor cultural, atuando na UFCG, realizando eventos como o Cão Danado da Arte. Apesar dos músicos seguirem o caminho da música cover, Toninho prefe-


fome de música riu investir nas suas composições. No bar Subsolo (2002), abaixo do Teatro Municipal, ele lançou o seu primeiro show, Razão Profana, com músicas como ‘Sou eu o Sistema’ e Um Dólar, entre outras. Daí para a participação no Festival de Inverno e para o primeiro CD foi rápido. No ano seguinte, surgia na cena estadual, o músico Toninho Borbo, apresentando o CD Do Beco ao Eco (2003). Em seguida, lança um EP com cinco músicas, com uma cara mais Rock’n’Roll. Em 2004, realiza o Som na Serra, que reuniu, em apenas dois dias, dez shows no-

vos da cena independente. Nesse período, Toninho foi a São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia, em shows ligados ao movimento estudantil como a Bienal de Arte e Cultura da UNE. Mais dois anos e veio o CD Para Fins de Mercado. O show fez o circuito Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) e a Feira da Música de Fortaleza (CE), evento de grande importância para a cadeia produtiva brasileira. Em breve, o samba contemporâneo da Serra da Borborema estará em todo lugar.

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som do novo

Criolina No segundo semestre deste ano, o Criolina estará em Campina Grande participando da volta do projeto Palco Cultura Inglesa.

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Projeto Criolina nasceu do encontro dos artistas maranhenses Alê Muniz e Luciana Simões, por causa da necessidade de divulgar o sotaque, os ritmos e reverenciar a singularidade da música feita no Maranhão. Com os pés nos terreiros e as antenas no mundo moderno, criaram canções cuja sonoridade mistura tambores ao Drumm & Bass e evoca o suingue da África-Brasil em diversos gêneros. “Criolina é a leitura do Nordeste contemporâneo, um Nordeste de retalhos furta-cores, de tambores, computadores, cuícas e amplificadores, brincando na mesma avenida”, afirma a cantora e com-

positora Luciana Simões. “Criolina é um grito brasileiro, nordestino, maranhense, na multidão; um confete no asfalto, a nossa bandeira de chita”, diz Alê Muniz. Criolina faz um show vibrante, dançante, com uma proposta que vai além do entretenimento. Músicas com letras fortes, estética sonora ousada, escolha de timbres não convencionais, variedade de ritmos, melodias das tribos de ontem e de hoje, revelando uma forte identidade nordestina na atitude, na poesia e no conceito. No repertório, músicas latinas, batidas do Tambor de Crioula, Reggae, música eletrônica e um pouco de Salsa. Ouça, vibre e dança criolinamente!

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Chico César

E Seu Nordeste em Movimento texto: JoCéLIo oLIVeIRA fotoS: IRAMAYA RoCHA


1. http://revistafmq. com.br

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aquela tarde, ele se pôs a impressionar. Buscou-nos de alpercatas brancas e portando nas mãos uma das frutas da ‘morena tropicana’, a manga. A mesma naturalidade nos serviu durante toda entrevista, quando em sua casa não dispensava a diversão de enrolar os fios do bigode ou do cabelo, enquanto pensava nas respostas. Falas que pareciam automáticas não por serem frias, mas por saírem de imediato de uma mente que não pára. Este é o retrato do Chico César que encontramos em João Pessoa. O músico e compositor paraibano, de carreira internacional, enfrenta agora os desafios de ser também – e simultaneamente – um gestor, ao administrar a Fundação Cultural de João Pessoa (FUNJOPE). Carreira, projetos atuais e gestão da cultura são alguns dos temas dessa entrevista resumida. É que a versão original tem 18 páginas, no programa editor de texto, mas calma! Você pode ter acesso a entrevista e lê-la na íntegra no site da revista¹. Revista fome de quê?: Chico, você já participava de grupos musicais desde adolescente em Catolé do Rocha e escolheu prestar vestibular para jornalismo... Chico César: O jornalismo foi pra sobreviver. Eu sabia que ia demorar a viver da minha música e para não ter não ter que fazer qualquer música, eu fiz jornalismo. Eu acho que a universidade serve para contato com outras pessoas com as quais você se identifica e para criar uma formação humanista. Quando eu entrei na universidade eu senti que a mesma vontade que eu tive de entrar, eu tive de sair. Acabar logo, pra sair. Eu não sou dessas pessoas de deixar as coisas pela metade. fmq?: Você acha que Forró e Frevo, elementos aos quais você faz referência no novo disco, representam o nordeste? Chico: Eu acho muito difícil o nordeste ser representado por uma coisa só. Qualquer que ela seja. Não é a toa que no futebol cada estado tem 2, 3, 4 times. Então, por que na música um estilo me representaria? O nordeste é muito mais amplo. O

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Brasil é muito mais amplo. Obviamente, muita gente tem uma tendência de pensar: esse é o verdadeiro nordeste. O verdadeiro nordeste é aquele cantado por Flávio José; por Santana, ‘o cantador’; ou é o Nordeste de Limão com Mel, ou o Nordeste do Chiclete com Banana? O meu nordeste é variado, ele está sempre de passagem, não é uma coisa fixa. O Nordeste pra mim é mutante. E ao mesmo tempo é todo mundo. Cassiano Pedra é menos nordeste que Clã Brasil? Eu penso que não. E por pensar que não, eu me relaciono esteticamente com todos eles, como artista e também como gestor cultural. Acho que o Nordeste é rico porque tem tradição e contradição. fmq?: E você se percebe paraibano, nordestino, brasileiro, africano... Chico: Eu me sinto latino-americano. Eu me sinto mais latino do que paraibano, nordestino, brasileiro, do que universal. Eu acho que um cara do Peru, do México é meu irmão. Um cara da África é um cara de onde eu descendo, mas meus primos mesmo são peruanos, bolivianos, os brasileiros de Porto Alegre ou do Amapá. A gente é mais parecido, o colonizador é basicamente o mesmo que trouxe o elemento negro forçado. Mas o Brasil não gosta disso. O Brasil acha que latino é la cucaracha, porque o Brasil não fala espanhol, aí ele se acha muito diferente. Tem uma elite que se acha culta, que acha que tem que olhar para Europa, para Sorbonne, para Paris e outra elite mais consumista, que quer olhar para Miami, para América do Norte. Ninguém quer olhar para Argentina, ninguém quer olhar para o Paraguai, para Bolívia ou Venezuela. Quando na verdade eu acho que o Brasil evita se conhecer mais profundamente na sua raiz indígena, autóctone. Não como alguém que veio trazido a força na caravela para trabalhar como escravo, mas como alguém que já estava aqui, que teve a terra invadida, as mulheres estupradas. E a gente lida muito mal com esse lado. fmq?: Essa pergunta foi pedida por um leitor da revista. ‘Flaw Mendes’ quer que você comente o ‘Cantáteis’ e também saber se você tem projeto para novos livros?


capa Chico: Acho que no Brasil, a palavra entoada é uma categoria um pouco a parte. Você tem poesia que é pra ficar no papel. Tem poesia que é pra ser falada, pra ser recitada. E tem coisa escrita que é pra virar letra de música. Muita gente que faz letra de música escreve textos que não servem pra ser musicados. O fato é que você tem muitos músicos que também tem uma ligação com literatura, leram bastante ou leram razoavelmente e também gostam de se expressar pela palavra. Eu tenho esse livro publicado, mas não tenho nem outro e provavelmente não venha a ter. É muito difícil um cara como eu pensar, “Ah! Eu vou fazer música no país de Pixinguinha, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, de Tom Zé, Caetano Veloso”. E de repente pensar: “Ah! Eu vou fazer poesia na terra de João Cabral de Melo Neto, de Zé Limeira”, eu acho que aí seria um pouco pretensioso. Eu faço as minhas letras de música, de alguns parceiros e tal. Daí veio o livro, que ainda não é musicado, mas eu estou trabalhando nesse sentido. fmq?: E qual a relação entre a sua música e a sua poesia, suas letras? Ou eles são independentes? Chico: Eu não me vejo como poeta. Eu me vejo como um artista de música, que escreve letras para minhas músicas e para as de outras pessoas. Normalmente, a minha musica nasce do som das palavras, porque o som já cria sentidos próprios. Então, é muito mais fácil você me dar um poema, uma letra, uma conta de matemática e dizer assim: eu quero que você ponha uma música nisso, e é possível que em duas horas eu já tenha uma melodia. Pode ser boa, pode não ser, mas eu já terei uma. Agora, se você trouxer uma melodia pronta, e disser: eu quero que você ponha letra nisso, pode ser que demore dez anos e não faça. fmq?: Fala um pouco sobre Instituto Casa do Berradêro que você ajudou a criar em Catolé do Rocha? Chico: Quando eu criei esse Instituto com Irmã Iraci lá em Catolé, foi basicamente porque eu fui uma criança que teve acesso a muitos mestres e a muita informação.

Trabalhei num lugar em que se fazia fotografia, era loja de discos e livraria, então eu lia, ouvia música. Também estudei num colégio de freiras, toquei corneta na banda, estudei flauta e tinha acesso à biblioteca na escola. Então a gente pensou: “Puxa, vamos criar um ambiente que reúna essas informações e que dê oportunidade de acesso à informação para crianças e jovens”. Na realidade, ela começou antes de mim, com 15, 18 crianças. Eu entrei e a gente foi para 30, 50, 70. Depois, felizmente, a Petrobrás entrou no jogo e hoje a gente tem 300 crianças. fmq?: A política cultural brasileira ainda tem olhares diferentes para o norte e sul do país? Chico: A partir do Ministério de Gilberto Gil na Cultura, o Brasil foi despertado para o absurdo que era a divisão do dinheiro do apoio à Cultura, em todas as áreas. Agora existe uma briga enorme porque Ministério da Cultura definiu que iríamos mapear de, certa forma, como está o Brasil, como a gente vai defender e dividir melhor isso. Há vários institutos culturais com nomes de banco, com nomes de empresas, cujas sedes ficam em São Paulo e no Rio, que na verdade fazem o trabalho deles, muitas vezes bem feito, mas através de renúncia fiscal. Ou seja, eles fazem com o nosso dinheiro. Quando eu estive no lançamento do Vale Cultura, e vi Lula falando isso, percebi que muita gente ficou ofendida com isso. “Eles fazem livros ótimos, mantêm orquestras muito bacanas’. Mas isso é dinheiro do povo, de quem nunca entrou num teatro, nunca entrou no cinema. Acho que agora o Brasil passa por uma mudança cultural, mas a gente está engatinhando nisso. fmq?: Que argumento convenceu você a assumir a FUNJOPE? Chico: Em São Paulo eu sempre ouvir críticas ao setor da cultura. Quando recebi o convite para assumir a FUNJOPE, eu refleti com algumas pessoas que estavam ligadas a mim. Agora eu vejo que não tem gestor que não tenha mãe na zona. Porque é aquela história: “você só coloca sua panelinha, só chama seus amigos”. Felizmente, se você pegar de A a Z, de Adriana Calca-

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nhoto a Zélia Duncam, de Alcione a Zeca Baleiro, ou já fez show comigo, ou já fez música junto. Por conhecê-los eu até consigo negociar o cachê pra baixo, porque eu sei como é a realidade. Eu acho que pra mim foi muito legal fazer esse caminho de volta, pra dar visibilidade, pra trazer um pouco da experiência pessoal de ter ido pra fora, pro mundo. Eu voltei pra me juntar à sociedade, porque a cultura não interessa só a quem produz, e quem produz cultura não são apenas os artistas. Eu sei que os espaços são pequenos, há poucas oportunidades, mas se a gente cria hábito de consumo na sociedade, cria mercado. fmq?: O que foi mais importante nesse processo de assumir a gestão cultural em João Pessoa? Chico: Eu acho que a primeira coisa importante que a gente fez foi despachar nos bairros. Isso é legal porque você olha de pertinho uma realidade a qual você quase nunca tem acesso e a partir daquela região você tem um olhar diferenciado para a cidade. É outra visão, mais crítica. Eu acho que junto com isso, algo muito importante que a gente fez foi a nossa segunda Conferência Municipal de Cultura. Daí também uma coisa que eu acho fundamental: as oficinas nos bairros. Nós fizemos uma rede de 30 oficinas em diversos lugares da cidade: Capoeira, Maculelê, violão, canto. Eu acho que na verdade ainda é uma experiência incipiente e que a gente deve radicalizar. É importante fazer um trabalho que dure, um trabalho estruturador, de formação e é aí que vêm as oficinas. fmq?: O que falta para envolver mais os jovens na produção e consumo de cultura? Chico: Eu acho que falta levar cultura para os cafés de internet ou trazer internet para os ambientes da cultura como um todo. Porque o jovem é cada vez menos passivo. Ele quer interagir, jogar, apertar o play. As coisas que são propostas pelos

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governos, pelas escolas, são coisas muito conservadoras. A maior dificuldade para quem trabalha com cultura é entrar em escola. Tente levar um grupo de Hip Hop para uma escola e observe a reação do diretor. As pessoas têm muito medo de que o aluno responda. O grande erro é a gente querer ensinar as pessoas, a gente tem que aprender com elas. Nós temos muitos talentos desperdiçados, caras que podiam estar trabalhando na administração de empresas, como contadores, etc., estão trabalhando no tráfico, que é algo muito complexo: você tem que ter um fornecedor, comprar a mercadoria, dividir, fazê-la render, tem que pensar no estoque, distribuição, segurança, é complexo. E como é que um garoto de dezesseis anos dá conta disso? Por que você não pega o talento desse cara e investe nisso? Mas a gente não oferece essa oportunidade. Esse terceiro setor virou uma indústria. Querem criar economia, tornar rentável a bondade. Não adianta dizer “fique bonzinho” sem dar elementos para que o cara possa se sustentar de alguma forma: fazendo teatro informal, música informal... Mas na hora que eu quero contratar um novo grupo de teatro, que a gente conheceu no bairro ou um jovem que toca guitarra com mais duas meninas, eu não posso, porque esse cara não tem como provar notoriedade. A legislação parece ser feita para desconfiar de todo mundo. fmq?: O que a experiência de sair do Nordeste e do Brasil possibilitou para sua carreira? Chico: A melhor coisa que São Paulo me deu quando eu cheguei lá foi o anonimato. Eu já tinha batido no limite e não tinha mais como me transformar mais aqui, porque eu estava preso, estava um pouco engessado ao personagem no qual eu tinha me transformado. Tenho uma amiga da adolescência, que viu um show meu quando voltei. Eu cantei Mama África e estava com uma espécie de bata africana, um traje assim e ela foi me falar: “rapaz esse africano te fez um bem” e eu disse, mas


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que africano? “Esse que você deixou sair de você. Porque você era muito branco, muito racional, muito cerebral. Agora você tocando o seu violão, você dança e nem por isso sua música ficou ruim.” Eu acho que isso tem a ver com eu ter saído daqui, sabe. Eu acho que a partir daí eu comecei a gostar desse negócio de reinventar. Uma jornalista de Campina Grande me disse: “eu acho que você tem algum problema com a Paraíba, você não gosta daqui”, aí eu falei, “mas se eu não gostasse você acha que eu ia ter voltado de lá pra cá?” Agora que eu não gosto dos usineiros daqui, não gosto mesmo. Eu vou ficar feliz no dia em que fizermos uma reforma agrária entrar, tomar essas terras todas, botar pra fora esses caras, aí eu vou ficar mais feliz. Mas eu gosto daqui e acho que é aqui que a gente tem que fazer a transformação e por isso eu voltei. E tem um monte de coisa que eu não gosto: da festa que traz um monte de cantor sertanejo pra cantar num forró e o povo ficar gritando pra Geraldo Azevedo: “Zezé cadê você, eu vim aqui só pra te ver”. E eu vim aqui pra mudar isso, pra transformar. fmq?: Qual o caminho para escoar a produção musical atualmente? Chico: Eu acho que o grande mercado é o palco, é o show. Mas ainda existem cami-nhos para música gravada. O que a gente não tem ainda muito claro é em que formato, em que suporte, como é que o cara vai levar pra casa essa música ou com é que essa música vai chegar a casa? Através da internet, pelo telefone... Eu acho que um caminho é um jogo. A música aberta. De você lançar musica que possa ser jogada. Em casa, você pode remixar, tirar a bateria, por quantos ecos quiser. Assim, cada pessoa vai virando um pouco um produtor, vai jogando com aquela música. Eu acho que esse é o caminho para seduzir o público de agora. Porque hoje em dia você vende mais DVD de jogo do que de espetáculo musical. Então, vamos fazer jogos. Agora, como é que a gente vai fazer?

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Audiovisual e A Gestao Cultural eLY MARQUeS

Q

uem viaja pelo interior da Paraíba percebe que muita coisa tem mudado, o acesso à informação e o assistencialismo do poder público estão transformando a realidade naquela região. Em alguns casos, o fenômeno acontece em municípios de pouco mais de cinco mil habitantes, que sobrevivem sem nenhum varejo, comércio ou agronegócio. São lugares onde só há políticas compensatórias e as residências dos moradores. Nesse caso, fica claro, de onde vem o sustento daquele lugarejo e, apesar de não conhecer profundamente o interior, percebo em algumas oportunidades que isso é cada vez mais comum.


do meu jeito

A reboque disso tudo, podemos analisar o quanto o interesse por cultura e arte está crescendo. Numa maratona de realização de oficinas e eventos do gênero, percebi o surgimento de personagens, grupos artísticos e até a retomada e preservação de valores, costumes e nomes consagrados de filhos ilustres. Não seria o resultado de mais tempo livre e de pessoas menos preocupadas com o desconhecimento do que terão para comer no dia seguinte. Um ócio somado às condições mínimas de sobrevivência com dignidade dá ignição a esse tipo de movimento. A pobreza extrema está sendo erradicada, e isso pode causar uma grande revolução no desenvolvimento humano. Falando especificamente de audiovisual, posso dizer que conheci um exemplo desse novo comportamento ao manter contato com Ivanildo Gomes, personagem do filme “Um Fazedor de Filme” (dirigido por mim e Arthur Lins). Há alguns anos, ele e toda uma cidade (Soledade, situado no Oeste do Sertão paraibano, a 186 km da capital), passavam por uma crise por causa da estiagem prolongada. Eles estouraram um saque, praticamente programado, à feira do vilarejo. Era um tempo muito difícil, quando as pessoas não tinham o que comer. Mas hoje, ele tem suas atividades de sustento e, nas horas vagas, investe suor, energia e algumas economias para fazer seus próprios filmes. Uma das estórias que ele está transformando em produção audiovisual é a que narra o saque realizado no município. Diante dessa nova perspectiva, o setor do audiovisual, assim como os outros segmentos culturais, padecem de uma gestão pública que encare a cultura como uma das prioridades para o desenvolvimento de uma sociedade, com autoestima e identidade própria. Além disso, não per-

cebe a cultura como um ramo que pode gerar emprego e renda. Infelizmente, as perspectivas sobre isso, não são as melhores: temos pouquíssimas chances de ter uma conjuntura local, onde as manifestações culturais possam ser tratadas como prioridade e não apenas como uma mera amenidade. É pertinente destacar que a Paraíba é um dos únicos estados da Federação onde a gestão da cultura não está na primeira linha da hierarquia regional, uma vez que está colocada, apenas, como subsecretaria. Deixamos de participar de vários projetos de âmbito nacional por esse motivo. Tal decisão política demonstra descaso com a cultura. Sem contar que o alto investimento no segmento, tão alardeado pelos governantes, acaba priorizando atrações musicais e festas totalmente desconectadas das verdadeiras demandas do setor. Quando o assunto é mais especificamente audiovisual/cinema, a situação é mais grave: a área é percebida como uma espécie de arte burguesa que deve ficar restrita à elite. Sendo que o cinema, no mínimo, contribui para formação de uma sociedade mais crítica e, talvez esse seja o problema para esses políticos, informada de seus direitos e do desenvolvimento social em geral. O audiovisual representa um dos seguimentos com maior potencial para a geração de emprego e renda. É importante resgatar que uma produção cinematográfica pode contratar uma gama enorme e heterogênea de profissionais (inclusive de literatura, para o roteiro, e das artes-plásticas para direção de arte) desde a pré até a pós-produção. Cabe à sociedade se posicionar, exigir compromisso claro e objetivo dos candidatos. Votar com consciência de que o escolhido realmente irá tratar a cultura como prioridade em sua gestão.

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Nascida Para Versar AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE JoRNALISMo DA fAVIP POR JoÃo BoSCo e JoHNNY PeQUeNo FOTO PAULo RoBeto

Ô

de casa, eu cheguei, pode me anunciar; ô de casa eu cheguei, vim aqui para cantar”, anuncia uma menina de 13 anos, chamada Vassula Hermelinda, a pequena poetisa de Caruaru. No mundo

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dos músicos, declamadores, repentistas e cordelistas, ela conquistou um espaço precoce, com direito a reconhecimento em todo o Pernambuco, ainda que a trajetória da declamadora tenha menos da metade de seus anos de vida. A concretização do


experimentar o experimental

seu trabalho foi no dia 21 de abril deste ano, quando Vassula gravou seu primeiro DVD. No teatro caruaruense Rui Limeira Rosal, no SESC, também participaram nomes reconhecidos regional e nacionalmente, como o poeta Jessier Quirino, o forrozeiro Amazan e os repentistas Rogério Meneses e Raudênio Lima. Meneses, aliás, violeiro que guarda uma série de prêmios conquistados pelo Brasil, improvisou esse trecho de um mote: ”Eu desejo a você bela menina/ uma vida de muito sucesso/ e que nunca encontre retrocesso (...)”, por ter um carinho especial pela poetisa e considerá-la uma filha adotada no universo artístico. A proximidade dos dois é proporcional à admiração que o repentista tem pela garota. Rogério vê nela a continuidade da Cultura Popular Regional, embora ela mal chegue à altura de seus ombros ainda, enquanto ele concilia sua arte do repente com a rotina atribulada de ser o presidente da Câmara Municipal de Caruaru. Ela é contradição. De um lado, por ser uma menina, em um cenário poético marcado por nomes masculinos como Dorge Tabosa, Jenerson Alves, Chico Pedrosa, Raudênio Lima, que são alguns exemplos da poesia da terra de Vitalino. De outro, é uma criança que tem na ponta da língua poemas metrificados e complexos, tanto na estrutura quanto em sua compreensão; e essas declamações foram compostas por adultos com domínio vasto da literatura popular pernambucana. E isso não a impediu de aprendêlas. Como não impede ninguém. Vassula entrou em contato com a arte caruaruense por volta dos 4 anos de idade, através do Programa de Iniciação Musical, o PIM, promovido pelos músicos Marconiel Rocha e Valdir Santos, um trabalho que vasculha os talentos artísticos de mais de 80 jovens caruaruenses atualmente. Marconiel conta que prestou atenção ao gosto de Vassula pelo verso durante as primeiras aulas dela. Depois, ela começou a decorar poemas de artistas como Chico Pedrosa e seus professores do PIM perceberam que ela devia investir nessa área. A mãe dela, Dona Graça, também percebeu. “Ela começou a tomar gosto

pelo trabalho dos declamadores e eu estimulei que ela desenvolvesse o talento. Ela ouvia discos aqui em casa, decorava os poemas, e eu comprava mais discos, depois passei a incentivá-la para participar de concursos e apresentações”, lembra a mãe. Esse estímulo resultou em premiações e em apresentações especiais, como as duas participações no Teatro Santa Isabel, no Recife. Marconiel Rocha aponta: “No PIM, ela descobriu o amor pela declamação, e nós nos orgulhamos por isso.” De fato, ela mostrou potencial a Pernambuco através de sua habilidade precoce e revelou condições de prender a atenção de um público de 350 pessoas, quando gravou seu DVD no Teatro do SESC Caruaru e trouxe artistas de bagagem cheia para a homenageá-la e não ofuscá-la. O que falta então é a profissionalização. A menina Hermelinda ama declamar poemas de gracejo. Um deles é o engraçado “A gata que mãe criava”, que Vassula declama com desenvoltura: “Seu moço, mãe criava uma gatinha que o cigano deu a ela/fazia a vontade dela e cadê que fazia a minha/pra bichana tudo tinha/ pra ela tudo comprava/até água só lhe dava se fosse água mineral/só queria ser a tal a gata que mãe criava/ora mãe tinha tanto ciúme/que brigava com a gente/e essa gata inteligente encheu-se de mau costume/usava cada perfume que nem miss mundo usava/por onde a gata passava espalhava aquele cheiro/era mesmo um exagero a gata que mãe criava”. Para o cantor Amazan, com quem Hermelinda guarda encontros importantes, o que ela sabe agora já é meio caminho andado. “Até tem pessoas que escrevem poesias de versos brancos, versos sem rima, mas é essa a poesia popular da qual ela é fã e faz parte dela como declamadora e até escrevendo também, então, não é fácil se encontrar por aí”, destaca o forrozeiro. São declamadores e cantadores quarentões que admiram Vassula porque, dentro da nova geração, é ela quem diz: “Pra mim é muito bom, eu gosto muito do meu trabalho, gosto do que eu faço e eu acho isso muito importante”.

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As Festas Juninas no Folclore Brasileiro eLIZABetH CHRIStINA De ANDRADe LIMA

T

ransformadas em grandes espetáculos de som, luz, dança e alegria, as festas juninas vêm crescendo a cada ano no Brasil, principalmente nas cidades nordestinas, onde duram o mês inteiro. Dançando, pulando fogueira, saboreando as iguarias próprias da época, os frequentadores dos modernos arraiais talvez não se dêem conta de que reencenam, assim, uma tradição brasileira de mais de 400 anos. De fato, entre nossos folcloristas, é unânime a versão de que esse tipo de festejo foi transplantado da Europa e trazido ao Brasil pelos portugueses em meados do século XVI. Entre os estudiosos impera a interpretação de que as festas juninas correspondem exatamente ao período do solstício de verão europeu, que no caso

do Brasil acontece no solstício de inverno. Seriam uma reminiscência de antigos cultos pagãos. Cerimônias dedicadas ao fogo, comuns na Idade Antiga, serviam para afugentar demônios e qualquer outra espécie de agouro, bem como propiciar a fertilidade e a purificação da vegetação, garantindo assim, a provisão de alimentos. No discurso cristão, o fogo e a fogueira seriam uma referência à comemoração do nascimento de São João Batista.


lado b As festas juninas são apresentadas pelos folcloristas como eventos repletos de magias, presságios e sortilégios. São também a festa do amor e do erotismo. São João, o mais querido entre todos os santos do ciclo junino, tem a sua fama e título de “santo casamenteiro” – atributo este também dirigido a Santo Antônio. É a ele que as moças casadoiras se dirigem na véspera de sua noite, 23 de junho, para pleitearem um matrimônio. Outro importante significado das festas juninas diz respeito ao fogo. Este é um dos principais símbolos da festa, elemento mágico e purificador, particularmente representado pelas fogueiras acesas na véspera dos dias em que se comemoram o nascimento dos santos juninos – Santo Antônio (12), São João (23) e São Pedro (28). Ao mesmo tempo a cor do fogo evoca São João, único santo cuja bandeira é vermelha. Classificado por muitos folcloristas como “o santo do fogo”, várias lendas foram criadas em torno dele, uma delas afirma que a São João não se dirigem promessas, pois ele dorme até o dia do juízo, e até lá não faz milagres. Pois se ele soubesse o dia em que é celebrada a sua festa, o mundo todo seria destruído pelo fogo. Há ainda a variação de que na véspera do dia em que se comemora o nascimento de São João, 23 de junho, Santa Isabel, sua mãe, deixa-o dormir toda à noite e não o acorda, pois se assim fizesse e ele descesse a terra para ver a alegria dos festeiros, de tão feliz colocaria, sem querer, fogo no mundo. Por isso São João só desperta no outro dia, 24 de junho. Outra explicação para o costume de acender fogueiras recebe menor adesão entre os folcloristas. E também inclui Santa Isabel, que teria mandado fazer uma grande fogueira, no alto de uma montanha, para avisar à Santa Maria, mãe de Jesus, que seu filho havia nascido. Essa forma de comunicação entre Santa Isabel e Santa Maria seria repetida pelos fiéis numa homenagem ao nascimento de São João. As festas juninas são também um período de fartura. A culinária junina é bastante variada, destacando-se os pratos produzidos à base de milho, tais como a canjica, a pamonha, o bolo de milho e,

naturalmente, o milho assado e cozido. A mesa posta com toda uma variedade de doces, bolos e bebidas leva a crer que seja esta festa uma comemoração das colheitas e uma reminiscência de antigos cultos agrários dedicados ao deus da vegetação, especialmente dos cereais, Adônis. Outro elemento importante das festas juninas é a água. Particularmente quando usada à meia-noite nos dias dos santos, ela possuiria os poderes especiais de purificar e mesmo servir de oráculo aos fiéis festeiros. Uma das cidades do Nordeste onde mais efusivamente se comemoram as festas juninas é a cidade de Campina Grande (PB), que, a cada ano, promove, durante trinta dias ininterruptos, o chamado “Maior São João do Mundo”. Criado no ano de 1983, de lá pra cá essa festa só cresceu e se transformou num destacado evento turístico da cidade. Campina se prepara toda para esperar o turista, particularmente para conhecer o principal espaço que centraliza a festa: o Parque do Povo, uma área de 42 mil metros quadrados, divididos em barracas, ilhas de forró, cidades cenográficas e palco para realização de mega espetáculos de shows artísticos. Vale destacar ainda outro importante espaço de construção da festa junina do “Maior São João do Mundo” – o “Sítio São João”. Trata-se de uma cidade cenográfica, montada fora do espaço do Parque do Povo, com a finalidade de reproduzir no espaço urbano, alguns dos cenários do espaço rural do nordeste brasileiro. Espera-se que no “Sítio São João” o festeiro possa relembrar o passado ao visitar a casa de farinha, o engenho, a igreja dos santos juninos, a casa do sítio, a bodega, a banca de venda de cordéis e de mangaio, etc. Espera-se que a visita a este espaço seja uma bucólica viagem ao Nordeste rural e os seus costumes. A festa do “Maior São João do Mundo”, assim, busca oferecer ao turista um conjunto de atrações que ajudam a reinventar anualmente um evento que se pretende local e patrimônio do povo campinense. Sem dúvida, essa festa serve de cartão postal da cidade e promove a construção e fortalecimento de uma identidade citadina nos mesmos moldes de outras cidades que inventam igualmente, as suas festas.

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Maldiçao Dos Chincheros

JHéSUS tRIBUZI

The Last Movie era uma obra inspirada meditação pirandelliana sobre westerns, colonialismo e morte. Seu ponto central é “um dublê num western ruim”, conforme a explicação de Dennis: “Quando sua equipe volta para os Estados Unidos, ele fica no Peru para escolher locações para outros westerns. Ele é o próprio Mister Americano Padrão. Sonha com carrões, piscinas, belas garotas... Mas os índios vêem a verdade no coração do western ruim, vêem que é uma lenda trágica de ganância e violência na qual todo mundo morre no final. Então, constroem uma câmera com ferro-velho e resolvem refazer o filme como um rito religioso. Para ser a vítima da cerimônia eles escolhem o dublê...” na cabeça de Hopper, era “uma historia sobre a América e como ela está destruindo a si mesma”.

M

uitos dizem que “The Last Movie¹” (Dennis Hopper, 1971) é um filme amaldiçoado. Estrelado pelo próprio diretor, o longa-metragem, apesar de ter recebido um prêmio em Veneza, se mostrou um fracasso de crítica e público e estagnou a carreira de seu realizador, que só conseguiu comandar outro trabalho, Out Of The Blue, em 1981. Hopper, que vinha do sucesso de Easy Rider, foi, graças aos excessos estilísticos de seu segundo filme, taxado de louco, maníaco irresponsável e inepto. Seu temperamento explosivo, misantrópico e ditatorial durante os períodos de produção e pósprodução – com constantes brigas com técnicos, produtores, atrasos na montagem, etc. – também não ajudou muito, o que fez com que todo o processo se tornasse caótico. O nome original do filme era Chinchero, uma referência a cidade peruana que, na história, é invadida pela equipe de filmagem. Seus habitantes, os chincheros, têm sua rotina alterada pelo tal western ruim. São obrigados a ajudar na produção, servem como dublês, coadjuvantes e descobrem que a cidade cenográfica não será destruída; pelo contrário, continuará de pé, com suas ruínas invadindo o povoado nativo. Os índios, que nunca tinham visto um longa-metragem na vida, não entendem as noções de simulação e simulacro impostas pela sétima arte: para eles, não há diferença entre morte encenada e morte verdadeira, cidade real e cidade falsa. Encaram tudo como um ritual e, quando os americanos vão embora, resolvem refazer a “cerimônia” ao seu modo: constroem uma câmera de mentira, com material do ferro-velho, e decidem reencenar o que viram. Naquele que considero o momento mais genial do filme, o dublê Kansas, personagem de Hopper, é chamado

pelo padre local para testemunhar a reencenação: o que ele vê é um índio batendo ininterruptamente em outro, que cai no chão, gemendo de dor. Enquanto isso, o “diretor”, postado próximo a câmera feita de ferro-velho grita para que os socos sejam mais fortes. Kansas, chocado, interrompe tudo e diz que filmes não são feitos daquele modo, que o jeito certo é criar o “faz de conta” cinematográfico. Ele então reposiciona os homens e diz que não precisam se socar de verdade, pois, dependendo do ângulo escolhido para filmar a ação, o punho que, na verdade, passa longe do queixo, vai parecer ter acertado em cheio seu alvo. É tudo, diz ele, uma questão de ensaio e movimentação. Técnica. A ideia, porém, é rapidamente rechaçada pelos atores e pelo “diretor”, que brada seu argumento definitivo: “Mas assim não é real!”. E, segundos depois, o ator volta a ser espancado. A brincadeira visual de Hopper é óbvia. Se antes existia uma câmera de verdade captando ações criadas a partir dos artifícios típicos do Cinema – marcações, dublês, aparatos cenográficos, efeitos especiais –, a situação logo se inverte e uma câmera de mentira passa a ser utilizada para captar ações reais. Além do aparato, muda quem manipula: saem os norte-americanos e entram os peruanos, que confundem a criação de uma miseen-scène realista com o estabelecimento de uma espécie de ritual religioso que apreende o real em sua totalidade, como uma imagem mística. O Cinema, em sua característica mais predatória, deve engolir tudo, inclusive – e, talvez, principalmente – a própria realidade. Os pobres chicheros, em 1971, já exibiam sintomas da maldição que vez ou outra nos atinge em pleno século XXI. Nesses momentos em que a imprecação cega nossos olhos, não se consegue dizer o que queremos do aparato e


fome de cinema 2. foi um escritor argentino. Sua obra mais conhecida é La Invención de Morel. A narrativa de Adolfo Bioy Casares criou um mundo de ambientes fantásticos regidos por uma lógica peculiar e marcados por um realismo de grande verossimilhança.

de quem fica frente a frente com ele. Somos subitamente tomados pela mística, pela crença no objeto mágico que tudo captura, imprime e exibe, tal qual a grande máquina criada por Morel no conto clássico de Bioy Casares². Invadimos o espaço/ set buscando capturá-lo inteiramente, incutimos os atores dentro do nosso ritual e esperamos a magia fazer seu papel, esquecendo, infelizmente, que a realidade só faz contato com o Cinema para livrá-lo da obsessão do ilusionismo mimético. Ao percebemos que não temos nem uma captura completa e nem um traço do real, mas sim, como conclui Dubois, uma imagem-foto que se torna inseparável de sua experiência referencial, do ato que a funda, apresentando uma realidade que nada diz além de uma afirmação de existência, gritamos, no último surto da maldição, as mesmas palavras do diretor peruano: “Mas assim não é real”. E ai já é hora de outro take. Temos, enquanto realizadores, um grande artefato a nossa disposição; uma máquina capaz de captar ações e momentos, de nos dar o poder de brincar com o tempo e com o espaço, esculpí-los. O de-

talhe é que devemos procurar entendêla, estudá-la da melhor forma possível e tomar cuidado para que suas características principais não nos façam crer que estamos a frente de um Eldorado em forma de captura da realidade total. Agindo assim, só estaremos correndo atrás do ouro dos tolos, daquilo que não pode ser apreendido. Os Chincheros de Hopper parecem nos dizer o que aconteceria caso os primeiros espectadores dos filmes dos Lumiere tivessem comprado aparelhos semelhantes e começado a filmar imediatamente: mito, medo, crença na imagem como realidade completa. Nós, em pleno ano de 2010, não podemos ficar presos a tal mística. É hora de tratar o termo “imagem” enquanto “Imago”, no sentido que designa a máscara mortuária usada nos funerais da Antiguidade romana e que podia também representar o espectro, a alma do morto. Em outras palavras, a realidade, quando captada, deixa de ser ela mesma, morre, e se torna outra coisa: Imago. Cinema. E não precisamos deixar o nosso índio ser espancado para obter isso.


O Antimoderno

Cinema Nordestino NYCoLAS ALBUQUeRQUe

E

Então, na tela aparece mais céu do que chão; o sol na contra luz deixa tudo branco; o chão rachado e galhos secos simulam um ambiente bem familiar; um homem armado entra em plano carregando um bicho morto; de imediato surge um beato com os cabelos revoltos e gritando palavras em quartetos. Tão comum essa imagem que identificar a qual filme pertence pode ser um trabalho inglório, mas nesse caso basta saber que ele se passa na região Nordeste do Brasil. Definir uma região é pensá-la como um grupo de enunciados e imagens que se repetem, com certa regularidade, em diferentes discursos, em diferentes épocas, com diferentes estilos e não pensá-la uma homogeneidade, uma identidade presente na natureza. O Nordeste é visto não como uma região com suas diversidades, mas sim um produto de homogeneização. Falando de nordeste, acaba se espalhando não a realidade, mas sim criando as. O Nordeste é pesquisado, ensinado, administrado e pronunciado de certo modo a não se romper com o feixe imagético e discursivo que o sustenta, realimentando o poder das forças que o introduziu na cultura brasileira, na “consciência nacional” e na própria estrutura intelectual do país. Cada discurso regional terá um diagnostico das causas e das soluções para as distáncias encontradas entre as diferentes áreas do país. Os regionalismos são sempre pensados como entrave a esse processo, embora só se acentuaram à medida que a constituição da nação não era um processo neutro, mas um processo

politicamente orientado, que significava a hegemonia de uns espaços sobre outros. Num jornal paulista de 1920 se lia: “... Incontestavelmente o sul do Brasil, isto é, a região que vai da Bahia até o Rio Grande do Sul, apresenta um tal aspecto de progresso em sua vida material que forma um contraste doloroso com o abandono em que se encontra o norte, com seus desertos, sua ignorância, sua falta de higiene, sua pobreza, seu servilismo...”. O Nordeste era até então conhecido como o pedaço do Norte que sofria com a escassez de chuvas . Intelectuais encantados com os povos imigrantes do sul consideravam o nordestino como degeneração racial, tanto física quanto intelectualmente, vindo do cruzamento de raças extremas e da submestiçagem, para eles a superioridade paulista era natural e não historicamente construída. É nesse contexto que surgem os modernistas que vivenciando o progresso paulista, crêem ser o Nordeste ainda um grande espaço medieval. Na busca por uma identidade nacional o Rio de Janeiro era muito português e São Paulo era muito italiano, Recife era muito holandês, mas foi no interior do Nordeste que se verificou a possibilidade de um espaço não afetado pelos europeus, onde o moderno não chegou, longe do Atlântico, lugar do exótico e pitoresco, assim muito de nossa literatura, música e posteriormente cinema - e hoje a televisão - elaboram em cima de tais pressupostos. As obras de arte têm ressonância em todo o social. Elas são maquinas de produção de sentido e de significados. Elas funcionam proliferando o real, ultrapassando a sua naturalização.


fome de cinema 5. Apesar de incautos representantes brasileiros terem defendido o discurso do “me poluam, mas me dêem dinheiro” durante a Conferência de Estocolmo, tal erro foi redimido com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente, em 1973. 6. Refiro-me às duas primeiras edições, em ’56 e ’73, respectivamente. 7. Certas empresas que cantam o meio ambiente nos seus comerciais são autoras de ligações clandestinas no sistema de drenagem pluvial. Esse é o principal motivo de o Açude Velho (Campina), Lagoa do Parque Solon de Lucena (João Pessoa), Rio Tietê (São Paulo), e outros, terem se transformado em verdadeiros depósitos de esgotos e dejetos.

A busca de verdadeiras raízes regionais, no campo da cultura, leva a necessidade de inventar uma tradição, a manutenção de tradições é, na verdade, sua invenção para novos fins, ou seja, a garantia de perpetuação de privilégios e lugares sociais ameaçados, ao optar pela tradição, pela defesa de um passado em crise. Este discurso regionalista nordestino fez a opção pela miséria, pela paralisia, mantendo parte dos privilégios dos grupos, ligados ao latifúndio tradicional, à custa de um processo de retardamento cada vez maior de seu espaço, seja em que aspecto nos detenhamos, vai se operar nestes discursos com um arquivo de clichês e estereótipos de decodificação fácil e imediata de preconceitos populares ou aristocráticos. Ismail Xavier disse que “evidentemente o modernismo necessitava de comunicação cinematográfica, algo preciso que não se reduz ao terreno da representação” o cinema novo era herdeiro do modernismo. O cinema novo não surgiu do acaso, resultou de toda uma crise geral da arte brasileira. Uma nova geração de romancistas não aconteceu para mover

pedras deixadas pelos autores de 30, assim surgiram os autores de cinema. Citando Bergman “o cinema é escolhido porque é uma forma de profanação a integridade humana e porque é o caminho mais fácil de salvar o artesão”. Vê-se tal caminho o perigo de se deslizar para a demagogia, a autocomiseração, quando o problema do cineasta é vivido como melodrama, que gera uma ladainha vitímosa. O cinema é prática artesanal: se existir um autor, bem, se não existir, o mecânico ficará repetindo formulas. Somente mentiras elaboradas da verdade conseguiram se comunicar em termos quantitativos, provocando uma serie de equívocos que não terminam nos limites da arte, mas contaminam sobretudo o terreno geral do político e social. Para o observador europeu, os processos de criação artística do mundo subdesenvolvido só o interessam na medida em que satisfazem sua nostalgia do primitivismo. Para Glauber Rocha estamos desenhando bichinhos nas paredes das cavernas. Seria Platão o beato a gritar palavras à caverna?





tin! tin!

Tempo,

Tempo, Tempo. YARA fReUND

¹ “Se você olha a história da perspectiva dos sacrificados e mutilados, a história é diferente.”

N

a verdade, eu queria mesmo era botar uma poesia do Carlito Azevedo dessa vez na abertura dessa nossa coluna, mas fiquei com medo. Vai que ele resolve bater na minha porta cobrando direitos autorais e, o que é pior, dinheiro? Queria botar porque queria homenagear ele também, já que ele tá saindo na edição anual da revista Two Lines, cujo tema é tradução. Onde já se viu traduzir poesia? “Inda” mais concreta ou pós-modernista? “Inda” mais uma poesia concreta e pósmodernista sobre tradução. Essa poesia do Carlito é linda e chama-se Traduzir. A revista também não fica por menos e oferece a oportunidade do tradutor se justificar, celebrando a volta a ativa do poeta carioca dos anos 1960 que não escrevia uma poesia há uns 13 anos. Foi por essa época também que o Gill Scott-Heron, músico/poeta de um gênero conhecido por aqui como Spoken Word surgiu na cena artística do movimento afro-americano no bairro do Harlem, NYC, meio que na cauda do cometa dos poetas do movimento Beat como Allen Ginsberg e mais cauda de cometa ainda, Bob Dylan. E, apesar de terem sido escritas há um bom tempo atrás, as palavras do Gill ainda soam mais que atuais. Especialmente Winter in America, que trata de questões atemporais como luta de classes, racismo e banzo. Nada mais universal e atemporal que banzo. Autor de Pieces of a Man, The Bottle, The Revolution Will Not Be Televised, entre outras, Gill, recém-saido de umas férias forçadas na cadeia, lança seu novo álbum - I’m new here - com um bocado de ironia. Suas músicas ainda são cheias

de um sentimento “reimoso” (mistura de revolta com teimoso), que aqui, na cultura afro-americana, se traduz em forma de Jazz, Blues, Funk, Soul, etc. E o resto da história a gente já sabe. Enquanto isso, na sala de injustiça, o nosso governador, exterminador do futuro, declara estado de emergência financeira, essa nossa guerra no Oriente Médio que vai além dos limites do ridículo e, Deus nos livre, de ser ela tambem atemporal, o Khronos Quartet, que já é bem conhecido pelos trabalhos instrumentais realizados com grandes compositores, tais como Eric Satie e Phillip Glass, dá ínicio a uma temporada de shows onde eles tocam músicas escritas por jovens compositores contemporâneos tais como Damon Albam, aquele do inglês Blur e do Gorillaz (uhu! nana-nana-nana-na, uhu!), lembra? O espetáculo conta também com uma peça composta pelo Terry Rilley tocada num set de cercas de arame farpado intitulada War - e a sonoridade de um ataque aéreo não é mera coincidência. A série de shows é dedicada ao historiador norte-americano falecido ainda nesse ano de 2010, Howard Zinn - um democrata com ideais socialistas, conhecido pelo seu livro A People’s history of the United States, e autor também de “Desobediência e Democracia” (dá para imaginar o tamanho da confusão que ele arrumou num país em plena depressão pós-guerra do Vietnam, né?). “If you look at history from the perspective of the slaughtered and mutilated, it’s a different story.” ¹ Mas chega disso que tudo que é bom dura pouco e vamos embora que tempo é dinheiro. Ou não. No mais, pão e circo ainda deixa todo mundo contente na terra da diabetes e Hollywood.

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O Ilusionista e Os Dados ALexANDRe LIMA

U

m ilusionista coloca um caixote na calçada movimentada de uma rua do centro e ali ganha sua vida, faz seu negócio, ilude: em cima do caixote são emborcados três copos de plástico, embaixo de um deles é colocada uma pedra, isso é mostrado ao transeunte atento que, em seguida, vê os três copos serem movimentados com rapidez e habilidade e tem como desafio acertar: embaixo de que copo está a pedra? O ilusionista, que detém as regras do jogo, ou o transeunte, que as aceita e resolve jogar, vencerão a peleja?

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cidade faminta

No outro lado da praça, os carros param no sinal vermelho e os pedestres atravessam a faixa: vão trabalhar, estudar, comprar comida, pagar contas, fazer um empréstimo, repor os créditos no celular ou encomendar o funeral de um ente querido? A impressão é de um movimento caótico, a maioria não se conhece e vai de um lado ao outro ao léu. No entanto existem vários indícios de que todos seguem uma ordem: a faixa de pedestres, o sinal de trânsito, o fluxo de pessoas na calçada que separa a rua - espaço por excelência dos automotores ensandecidos - e os prédios. A ordem talvez seja mantida por regras (implícitas ou não) que determinam direitos e limites. O indivíduo que se lança nas ruas da cidade para realizar qualquer tarefa precisa ter noções básicas de convivência. O sinal vermelho para. A faixa de pedestres enquadra. Repor os créditos do celular numa banca de jornal não é um movimento simples. O cliente precisa utilizar a mesma língua falada pelo jornaleiro, para expressar seu interesse e ser entendido e atendido, imagina sumirem as palavras numa hora tão simples? O pedaço de papel ou metal que pagará o serviço deve ser aceito pelas duas partes como sendo o mesmo dinheiro que todos usam e pode comprar comida, revistas ou um caixão. Viajando um pouco, esses produtos vêm de alguma empresa, onde, por sua vez, se estabelecem vários tipos de relações entre outros tantos indivíduos, cujas habilidades, poder e conhecimentos foram incorporados através de oportunidades e trajetórias diferentes: o que faz com que um administrador ou o dono de empresa e um operador de máquinas ou carregador de caminhões se diferenciem é a posição relativa que ocupam, quer dizer, uns e outros se encaram como não-iguais, pois assim estão ordenados na prática. Mas você já se perguntou o que cada indivíduo do fluxo de pessoas faz do seu dia? É no mínimo um exercício mental

interessante. E acertar seria como adivinhar embaixo de que copo está a pedra. Vou arriscar, em três atos. Primeiro ato. O ilusionista, prestidigitador, manipulador de copos, deve ter acordado cedo naquela manhã, com os olhos marejados de sono; sua esposa, entre o sonho e a realidade, levantou e preparou a porção de sustento matinal (agora, ele está com o semblante de moleza e fadiga; além disso, na mão esquerda que levanta o copo escolhido pelo transeunte, tem uma aliança). Segundo ato. O ilusionista pode ter caminhado nas ruas de terra entre o sítio onde mora até a estrada asfaltada onde fica a parada do ônibus intermunicipal; o motorista levantou as portas da mala para colocar o caixote do ilusionista; na bolsa, ele levava os copos e a pedra do jogo. Todo o seu capital. (Na barra da sua calça se agarram alguns carrapichos e o sapato velho está empoeirado.) Terceiro ato. Já na cidade, durante a manhã, fez ponto na feira de hortifrutigranjeiros, almoçou por lá, tomou um café e pitou um cigarro de palha. (Dele emana o cheiro forte de horta, pomar e peixe enlatados e defumados; há uma mancha de café na camisa de botão.) Aprendeu o ofício quando era criança. Não gostava de matemática nem capinar no roçado. Entre a escola e o trabalho duro, optou pelo ilusionismo, mais de acordo com seus interesses de ganho e a realidade. A disciplina, a ordem, o controle nunca lhe agradaram, o que diminuiu significativamente suas chances de sucesso. Optava pelo caminho mais curto e que exigisse menor esforço. Embora tenha tentado, garante que tentou, entrar na roda do mundo pela porta dianteira caindo direto na engrenagem. Serviços gerais, ajudante de pedreiro, carteira assinada. Mas sempre levando “olé”. Nunca ganhou no jogo. Não rogava aos céus. Na sua cabeça, Deus é um ilusionista que joga dados.

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Santa Isabel da Caatinga, A vampira! ALUIZIo GUIMARÃeS

O

Por causa do calor, a estrada de areia parecia derreter. Na Caatinga da elegante Paraíba, uma carroça pulava sobre as pedras, levando uma carga inusitada por baixo de uma lona verde musgo, que não deixava luz alguma passar. Talhado em pau de angico, um velho caixão embalava um jovem homem que aparentava ter quase quarenta anos. Pálido como todos os mortos, ele esperava chegar em paz à sua nova morada. Na cidade de São José dos Cordeiros, Isabel desfilava sua beleza de virgem ao atravessar a única praça, indo em direção a Igreja de Nossa Senhora das Dores. Em plena missa, o Padre Inácio, que tempos depois foi acusado de pedofilia, em seu sermão, elogiara Deus e sua noção de estética ao colocar no mundo uma jovem tão linda quanto Isabel. Ruborizada, Isabel retomou suas orações com um rosário na mão e com rezas que sensualmente escapavam daquela boca

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canibal chef

rosada. A carroça chegara ao seu destino, um velho sítio que fora do senhor Pablo Ramires Artur Pessoa, um antigo malfeitor das redondezas, assassinado pela cabroeira de Lampião. Lá, o cocheiro adentra com o caixão e o instala em um quarto já reformado para recebê-lo. Sem luz, sem frestas e quase sem renovação de ar. Aquele quarto passara a ser o aposento de um senhor de costumes estranhos, que habitava a noite e com beleza extrema seduzia as mais belas jovens por onde passava. Era dia de quermesse de Nossa Senhora das Dores. A praça estava cheia de gente. O Parque de diversão coloria os quatro cantos. No meio da praça, barraquinhas vendiam as mais variadas bebidas e comidas. Um salão improvisado recebia casais que dançavam maxixes e forrós. No canto esquerdo, várias jovens, risonhas e cheirosas, esperavam um corajoso rapaz convidá-las para dançar. No lado direito, os rapazes se encorajavam para iniciar um namorico a partir de uma difícil dança. Entrecortando o salão, com um paletó preto de linho inglês, tomando uma sangria em um copo de vidro longo, com passos obstinados, ia aquele que dormira durante a viagem em um caixão e que agora habitava o sítio dos Ramires Pessoa. Com voz grave e suave ele sussurra no ouvido de Isabel: - Você me dá a honra desta dança? Sem uma fala sequer, ela estende o braço e deixa-se envolver pelo bailar daquele que, logo em seguida, a convida para um passeio pelas redondezas. Saltitante, Isabel anda ao lado do único homem que a encantara. Seus pensamentos de menina-mulher são de pura paixão. Seu olhar e sua constante voz que nervosamente não parava de falar, deixava bem clara a sua intenção de ser por toda a vida a esposa daquele educado senhor. Sua conversa contínua é rapidamente interrompida por um beijo abrupto que em seu primeiro momento retirou dela um abafado grito curto de susto, seguido por um longo suspiro, típico das donzelas que

sentem um corpo masculino lhes tocarem pela primeira vez. Nervosa, com o batom manchado, sem saber mais o que dizer, ela fala o que lhe vem primeiro à mente: - Vamos à barraca de minha tia? Ela faz uma galinha a cabidela que é maravilhosa. Sem titubear, ele a acompanha respeitosamente. Juntos, comem em um pequeno prato de louça a galinha a cabidela com um cuscuz feito na hora. Despedem-se. Ela com ar de riso e olhar apaixonado. Ele com um pequeno e frio beijo em sua mão. O sol nasce. Os galos de campina entoam as mais belas canções, a cidade que na noite anterior comemorou o dia de sua padroeira, ainda de ressaca, se acorda com um grito que ecoa até hoje na mente de alguns que ali residiram. A boca que emanara tão horrendo som de dor era a de dona Severina Vidal que se deparara com sua filha sangrando as últimas gotas daquele precioso líquido, com suas carnes trêmulas, olhos esbugalhados, lábios ressecados, tentando balbuciar algumas palavras, que desconexas, apavoravam aquela velha mãe. Isabel morria virgem como a Nossa Senhora das Dores, fria como uma noite de inverno e sem entender nada assim como todos os habitantes daquela pequena cidadezinha da caatinga paraibana, que, até hoje, não sabem quem era aquele senhor de paletó preto. Ainda sob o impacto da dor extrema, Severina vê no chão as contas de madrepérola do rosário de Isabel e, bem longe de sua cama, um crucifixo retorcido e no quarto um inesquecível cheiro de carne. Até hoje ninguém tem o paradeiro daquele misterioso homem, nem muito menos do corpo daquela que muitos pensam ser uma santa. Santa Isabel da Caatinga ou, como disse repetitivamente o desacreditado ex-padre Antônio, que morrera louco na prisão por ter tentado sodomizar o filho do prefeito: “Ela é a mais nova vampira das redondezas!”

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Receitas do chef Galinha à Sangria cabidela 08 PORÇÕES INGREDIENTES 1 galinha de capoeira gorda 2 cebolas picadas 1 colher de sopa de coentro e cebolinha bem picados 2 pitadas de pimenta do reino 1 colher de banha ou óleo 1 outra de manteiga 1/2 pimentão Sal a gosto PREPARO Sangre a galinha, cortando o seu pescoço e apare o sangue num prato fundo com 2 colheres de sopa de vinagre, sempre batendo com um garfo. Cozinhe a galinha aos pedaços e, quase na hora de servir, ponha o sangue e mexa bem para não talhar. A galinha deve ser cozida com pouca água e com todos os temperos.

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INGREDIENTES 1/2 copo de vinho tinto suave 1 colher de açúcar 1/2 copo de água Gelo a vontade PREPARO Junte tudo e mexa bastante. Sirva em copo de vidro longo.

cuscuz 08 PORÇÕES

INGREDIENTES 2 xícaras de água 1 colher de sobremesa de sal 1 embalagem de farinha para Cuscuz PREPARO Numa tigela, misture o cuscuz, o sal e a água até obter uma farofa úmida. Coloque essa mistura na cuscuzeira e alise sem apertar. Tampe a cuscuzeira e leve ao fogo brando durante 15 minutos. Retire e coloque num prato, corte em talhadas e sirva com manteiga, manteiga de garrafa ou com leite.


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