Revista Ferramental Edição 111

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EDITORIAL

EDUCAÇÃO - A HORA DA TRANSFORMAÇÃO! POR CHRISTIAN DIHLMANN

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ohn Dewey, filósofo e educador norte-americano, acreditava na educação como um processo contínuo de aprendizado e crescimento, e afirmava que "a educação não é preparação para a vida; a educação é a vida em si". Não é novidade que o Brasil vive uma crise no setor educacional. No PISA, ranking internacional de educação, estamos entre os países com pior colocação (65º de 81 em 2023). Enquanto isso, a Coreia do Sul, um país que foi completamente arrasado após as guerras, se reconstruiu e agora se destaca como um dos países de melhor educação do mundo (6º na mesma pesquisa). Para atingir esse nível, a Coreia do Sul desenvolveu uma estratégia forte para a educação do país. Até 35 anos atrás, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros e atualmente são mais de 3 vezes mais ricos. Grande parte desse salto é explicado pelo imenso desenvolvimento educacional que foi iniciado décadas antes. E um dos principais pilares foi o investimento na educação básica. No Brasil, o gasto com o ensino superior é 3,7 vezes mais alto do que no ensino básico, enquanto a média nos países desenvolvidos é de 1,7 vezes e na Coreia do Sul de apenas 1,5 vezes. A Coreia do Sul começou a investir mais recursos no ensino médio e superior após alcançar a universalização do ensino primário. No Brasil, um terço da população não termina o ensino fundamental (IBGE, 2022). Enquanto os professores brasileiros de maior formação e salários mais altos estão no ensino superior, os sul-coreanos investem na capacitação técnica e valorização financeira de seus professores da educação básica, resultando na atração de bons profissionais, elevando o nível do ensino ofertado e baixando a evasão escolar a praticamente zero. Por aqui a evasão é

de 52% dos jovens entre 19 e 25 anos. Mirando na educação básica, nos instrutores, nas instituições de ensino e focando em um projeto com visão de longo prazo, a Coreia do Sul é atualmente um dos países com melhores índices de desenvolvimento humano e a educação é referência em todo o mundo. Para exemplificar melhor, o governo sul-coreano investe 5,8% do PIB anual em educação, enquanto a média dos países na OCDE é de 0,8%. Entretanto, o nível de exigência nas escolas sul-coreanas é um dos mais altos entre os países do topo da lista. Em algumas instituições de ensino, os alunos chegam a passar 12 horas por dia estudando. Daniel Lavouras, especialista brasileiro em educação, cita que na Coreia do Sul a capacidade de produção de tecnologia avançada começou com investimentos substanciais em educação. “Para ter uma geração de massa crítica é preciso começar na origem”, menciona ele. Aquele país também conseguiu se transformar em uma das maiores potências mundiais nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, investindo mais de 4% do PIB nestas áreas. No Brasil, algo próximo a 1%. Enfim, o que fazer? Antoine-Laurent de Lavoisier, destacado químico francês, tornou célebre a frase “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, que pode e deve ser considerada em nosso país e, principalmente, neste momento. Há um grande hiato na disponibilidade de profissionais capacitados no setor de ferramentaria, mas não somente nele. É uma restrição geral e, pasmem, global, seja na indústria, no comércio, no agro ou nos serviços.

Ações cirúrgicas, estratégicas e visionárias, como a reestruturação geral do curso de formação técnica de ferramenteiros pelo SENAI/SP, representam apenas uma “agulha no palheiro”. Muito mais precisa ser feito, de forma padronizada, ampla e geral. É crucial que o investimento no ensino fundamental e no médio técnico seja ampliado. Estratégias para minimizar a evasão escolar são imperativas, sob risco de sucumbirmos na perspectiva de nos tornarmos um país na classificação “desenvolvido”. Sem a educação, estamos fadados a cair vertiginosamente no ranking mundial de países produtivos. Nossa posição de 8ª maior economia do mundo está ameaçada. A Constituição Federal de 1988 determina, em seu capítulo III, artigo 205, que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Em 2024 podemos e precisamos fazer a diferença. De mãos dadas e cérebros unidos, instituições governamentais, empresas e academia têm a competência e a obrigação de encaminhar e avançar o tema. Enfim, educação é a vida em si! Chegou (ou já passou) a hora da transformação!

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SUMÁRIO

CONTEÚDO 06 12 14 17 21 24 28 35 36

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EXPRESSAS

Informes objetivos sobre acontecimentos do setor

ROTA 2030

Programa Mobilidade Verde é lançado

MISSÃO EMPRESARIAL

Circuito tecnológico de ferramentaria no Japão

PROCESSOS

Moldagem combinada por injeção e extrusão

AMBIENTAL

O risco invisível dos passivos ambientais - parte 2

ENTREVISTA

Desenvolvimento do bico Monolith

PROCESSOS

Gêmeo digital - conceitos e aplicações

MBE

A jornada para fazer mais com menos ainda é longa

CANTINHO DE IDEIAS

Situação atual e destino da indústria japonesa de moldes e matrizes

ORGULHO DE SER MEMBRO

PROUD TO BE MEMBER

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44 50 54 58 62

GESTÃO

Mitos nas vendas complexas: verdades estimulantes

GENTE & GESTÃO

O Feedback nosso de cada dia!

MEMÓRIAS

Valmasser: da amizade à sociedade

ENFOQUE

Novidades tecnológicas do mundo da ferramentaria

CIRCUITO BUSINESS Cursos, eventos e feiras

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CONEXÃO WWW

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ESPAÇO LITERÁRIO

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OPINIÃO

Indicação de websites

Indicação de livros

A importância da redução dos juros para o setor industrial


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www.revistaferramental.com.br ISSN 1981-240X DIRETORIA Christian Dihlmann - Jacira Carrer REDAÇÃO Christian Dihlmann Jornalista Responsável Gisélle Araujo Cemin - SC/02466 jornalismo@revistaferramental.com.br COLABORADORES Adriano Fagali de Souza, Dr. Eng. Carlos Maurício Sacchelli, Dr. Eng. Cristiano Vasconcellos Ferreira, Dr. Eng. Jefferson de Oliveira Gomes, Dr. Eng. Luís Eduardo Albano Rolando Vargas Vallejos, Dr. Eng. Stephan Dihlmann PUBLICIDADE Coordenação Nacional de Vendas Nicholas Dihlmann (47) 99709-0020 contato@revistaferramental.com.br GESTÃO Administração Jacira Carrer (47) 98877-6857 adm@revistaferramental.com.br Circulação e Assinaturas circulacao@revistaferramental.com.br EDITORAÇÃO B3 Marketing - contato@b3marketing.com.br FOTO DE CAPA Sistema de câmara quente com bicos Monolith® e EnergyBlockers® fabricados com manufatura aditiva. Foto cedida por Witosa GmbH Heißkanalsysteme, Frankenberg, Alemanha. IMPRESSÃO Tipotil Indústria Gráfica - www.tipotil.com.br EDITORA GRAVO LTDA Rua Jacob Eisenhut, 467 - Tel. (47) 3031-3900 CEP 89203-070 - Joinville/SC

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EXPRESSAS

NOVIDADES E ACONTECIMENTOS DA INDÚSTRIA REONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO E LIMITE PARA COMPENSAÇÕES DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS

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No último dia 28, às vésperas do ano novo, restou publicada a Medida Provisória nº 1.202/2023 (MP), de autoria do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a qual contém um pacote de medidas que visam, segundo o Ministro, aumentar a arrecadação fiscal e, consequentemente, zerar o déficit público. Nesse sentido, a MP estabeleceu: • Reoneração gradual da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento; • Revogação da alíquota reduzida da contribuição previdenciária aplicável a alguns munícipios; e • Limitação da compensação de créditos tributários reconhecidos por meio de ação judicial transitada em julgado. Importante observar que, além de estabelecer a reoneração gradual da folha de pagamento, a MP trouxe percentuais diferentes para algumas atividades empresariais, podendo em 2024 as alíquotas serem de 10% ou 15%, conforme os Anexos I e II da Medida Provisória. Não obstante, a MP prevê que às empresas que utilizarem das alíquotas reduzidas, deverão garantir a manutenção do quantitativo de empregados, igual ou superior, ao verificado em 1º de janeiro de cada ano-calendário, sob pena de perderem o direito de usufruir do benefício naquele ano. Ademais, a MP traz significativa alteração, ao limitar a compensação dos créditos tributários reconhecidos em ações judiciais, superiores a R$ 10 milhões, de maneira que referido montante somente poderá ser compensado de forma gradual, conforme limites que serão ainda estabelecidos pelo Ministério da Fazenda. Salienta-se que, no que diz respei-

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to a reoneração da folha de pagamento, a Medida Provisória somente produzirá efeitos, a partir de 1º de abril de 2024, no entanto, a limitação atinente às compensações de créditos tributários já se encontra em vigor, motivo pelo qual, as empresas devem ficar muito atentas a nova regra. Válido ressaltar que, a Medida Provisória nº 1.202/2023 deverá ser aprovada pelo Congresso Nacional para ser convertida em Lei, dentro do prazo limite de 60 dias, prorrogáveis por igual período, caso contrário perderá sua eficácia. Diante desse contexto, a MP traz um cenário de insegurança, pois, além de estabelecer o retorno de receita não prevista pelas empresas para o exercício de 2024 (contribuição previdenciária incidente sobre a folha de pagamento), viola decisões judiciais já transitadas em julgado, limitando o direito das Companhias de compensar os créditos tributários da forma já programada. Fonte: daherjacobadvogados.com.br

MERCADO LIVRE DE ENERGIA PARA FERRAMENTARIAS

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Com a abertura de mercado, o cenário é de expansão e traz oportunidades para reduzir custos com energia. A abertura do Mercado Livre de Energia, a partir de janeiro de 2024, através da modalidade Varejista, permitirá que qualquer consumidor conectado em média ou alta tensão (Grupo A), com demanda contratada acima de 30 kW possa adquirir energia elétrica nesse mercado, o que antes era restrito a consumidores com mais de 500 kW de demanda. Opção cada vez mais atraente para quem busca reduzir custos com energia elétrica, a mudança, amparada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), tem atraído a atenção de grande número de empresas.

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Um levantamento recente conduzido pela própria agência, em parceria com as principais distribuidoras de energia do país, revelou que, no próximo ano, mais de 5 mil consumidores já vão começar a usufruir desta opção. Isso será o começo, uma vez que o Mercado Livre de Energia estará acessível aos mais de 200 mil consumidores do Grupo A e a expectativa é que, a longo prazo, aproximadamente 72 mil clientes efetivamente migrem para esse modelo, também chamado de Mercado Livre Varejista. Vale destacar que essa é uma opção de economia ainda pouco explorada no ramo de ferramentarias, pois, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, agrega a carga de somente 16% das indústrias do setor. Porém, em um segmento onde a energia elétrica está entre os três maiores componentes do custo de produção, a abertura do mercado torna-se uma ótima oportunidade para as pequenas e médias indústrias que, até então, não tinham acesso a essa modalidade de contratação de energia elétrica. A RBE, comercializadora varejista do Grupo H. Carlos Schneider, destaca-se neste cenário, com produtos e condições específicas para viabilizar a redução de custos com energia elétrica para essas empresas, com possibilidade de economia de até 35% em relação à conta de energia no mercado regulado. E, mais importante, de forma simples e com economia garantida pela RBE, o Mercado Livre Varejista estará disponível para as empresas a partir do próximo ano sem comprometer a qualidade da energia entregue ao consumidor, que continuará conectado à rede de energia onde ele já se encontra atualmente. Para atender com excelência esses potenciais clientes, a RBE tem investido nos últimos meses em uma série de iniciativas, incluindo a ampliação de sua estrutura interna para atender à crescente demanda.


EXPRESSAS

Também está desenvolvendo uma plataforma exclusiva para atender o mercado varejista, visando tornar o acesso ao Mercado Livre de Energia mais fácil e simples. “A abertura do mercado traz uma gama de oportunidades e novos desafios. Estando preparada para este cenário, a RBE, uma das principais comercializadoras varejistas habilitadas no sul do pais, oferece em sua estrutura produtos simples e descomplicados. Aliando isso tudo à tecnologia, conseguimos atender de forma nacional, oferecendo qualidade e economia aos nossos clientes”, afirma Rafael Stuchi, Head Trading da RBE. Fonte: rbenergia.com.br PROTEÇÃO PARA SITUAÇÕES DE RISCO A startup Trackfy Tecnologia desenvolveu uma solução para aprimorar as condições de segurança em canteiros de obras e plantas industriais, que chama a atenção pela forma inusitada com que é aplicada. A inovação já vem sendo utilizada por trabalhadores de grandes empresas de polos fabris em Camaçari (BA), Cubatão (SP) e Mauá (SP). Chama a atenção pela praticidade com que pode ser incorporada. A solução tecnológica é um dispositivo que fica acoplado em capacetes (também em crachás) e emite, em tempo real, dados e informações para uma plataforma em nuvem. A solução utiliza recursos como Internet das Coisas (IoT), análise de

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dados (data analytics) e algoritmos. O CEO da Trackfy, Túlio Cerviño, explica que a segurança é aprimorada porque, com o monitoramento em tempo real e a análise de dados, os gestores de canteiros de obras e de plantas industriais acompanham a presença de suas equipes de operários nas áreas industriais, de forma 100% digital e integrada a um sistema de análise, planejamento e alertas. "Conseguimos identificar quando os trabalhadores estão em zonas ou situações de maior risco. Em caso de emergências, acidentes ou sinistros em geral, o alerta para ação da equipe de emergência ou evacuação de áreas é imediato e direto", conta. Assim, o dispositivo permite o controle dos trabalhadores que de fato conseguiram deixar as zonas em emergência. "Esse controle que, até então, era feito por observação, aqueles que o encarregado pelo canteiro de obra conseguisse enxergar, e por uma lista de chamada manual, agora tudo passa a ser automatizado, tornando o processo eficiente, sem falhas e protegendo vidas", explica. A tecnologia possui um módulo constituído por hardwares IoT e um sistema para captação de dados, análises, insights e gestão. Além disso, inclui o módulo Trackfy Docs, um software para aprovação digital de documentos, que podem ser gerados automaticamente pelo Trackfy ou inseridos manualmente no sistema. Fonte: rbenergia.com.br

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PESQUISA APONTA QUE 50% DAS INDÚSTRIAS MONITORAM DESEMPENHO COM PLANILHAS Um estudo inédito sobre as principais preocupações da indústria de manufatura no Brasil aponta que o desafio para melhorar a produtividade é unânime entre os industriais pesquisados. Para 63,8% dos consultados, os processos ineficientes os impedem de superar tal desafio, destes 52,6% afirmaram que o desempenho de produção de suas fábricas ainda é feito com base em relatórios ou planilhas eletrônicas, e em 14% dos casos, sequer utiliza um modelo efetivo para esse monitoramento. O estudo foi realizado pela Cogtive, empresa que desenvolve soluções baseadas em internet das coisas e inteligência artificial para indústrias, em conjunto com a Leanstart, canal de produção de conteúdo para a manufatura. Denominado “Dores e desafios na manufatura brasileira” a pesquisa, envolveu uma centena de indústrias de 12 setores e dos mais variados portes. Para o CEO da Cogtive, Reginaldo Ribeiro, o estudo agrega cientificidade a uma constatação empírica: a de que os desafios relacionados à busca por uma melhor produtividade estão entre as maiores dores da manufatura nacional. “Talvez tenha sido a dica mais reveladora”, afirma Ribeiro. “Surpreendentemente, 100% dos entrevistados reconheceram problemas nesse quesito, sendo que 65,52% afirmaram

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que as dores identificadas são altamente impactantes, e 34,48% que são relevantes”. Para este último grupo, “há soluções para enfrentá-las”, afirma. Ainda na avaliação de Reginaldo Ribeiro, o fato de 63,8% dos consultados citarem “processos ineficientes” como obstáculo à melhoria da produtividade pode ser considerado como algo “alarmante”. Principalmente porque muito dessa ineficiência pode ser atribuída à falta de automação e à dependência de métodos manuais para a gestão fabril. A transformação digital nessa área é indispensável para aumentar a produtividade e impulsionar a reindustrialização da economia brasileira. “Em um momento que se fala sobre neoindustrialização, a automação da gestão das linhas de produção é condição imprescindível”, ressalta o CEO da Cogtive. “O desempenho da produção precisa ser acompanhado em tempo real, para identificar gargalos e antecipar a problemas e riscos que levem a paradas no chão de fábrica”, por exemplo. Reginaldo Ribeiro observa que, conforme aponta a pesquisa, os industriais brasileiros demandam por soluções que resultem na transição de processos manuais para sistemas automatizados e integrados. Dos consultados, 32,76% afirmam não dispor de inovação implementadas. “A dependência de planilhas e acompanhamentos manuais não é apenas uma questão de preferência ou tradição; é um obstáculo real à inovação, eficiência e competitividade”, salienta. A substituição que Ribeiro se refere não se limita


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apenas na adoção de novas tecnologias “A transição para tal cenário futurista requer uma mudança cultural, onde a inovação é incentivada, os riscos são gerenciados e a aprendizagem contínua é incorporada em todos os níveis da organização”, diz. A pesquisa realizou entrevistas com profissionais de diversas funções como gerentes de produção, diretores industriais, analistas de melhoria contínua, especialistas lean, analistas de métodos e processos, analistas de PCP, supervisores de produção, coordenadores e diversas outras posições estratégicas no chão de fábrica.

Dos entrevistados, 81% foram representantes de indústrias dos seguintes setores: farmacêutica, alimentos e bebidas, química, cosméticos, automotivo e metalurgia. Outros 19% dos setores têxtil e vestuário, plástico, papel e celulose, eletrônicos, petroquímico e materiais de construção. Participaram indústrias de dois níveis de dimensão: com mais de 70 equipamentos produtivos, e com 50 a 70 equipamentos produtivos. Os principais indicadores resultantes do estudo são: Fonte: cogtive.com/pt/

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PRIMEIRO CARRO ELÉTRICO COM PRODUÇÃO EM LINHA NO BRASIL A Lecar S.A. Indústria Brasileira de Automóveis Elétricos é a primeira montadora de carros elétricos do Brasil. A equipe de engenharia desenvolveu um automóvel 100% elétrico com design, envolvimento e energia totalmente projetado por brasileiros e para brasileiros, o Lecar Model 459. Flávio Figueiredo Assis promete fazer história ao lançar o primeiro carro elétrico originalmente brasileiro. Mais do que contribuir para a mudança da matriz energética, impactando positivamente o meio ambiente, sua missão é mudar a imagem do Brasil para o mundo. Sua inspiração é o bilionário norte-americano Elon Musk. Em 2022, resolveu acelerar um sonho: criar a primeira montadora de carros elétricos do Brasil. A ideia surgiu quando se deparou com a Lei 8.723, publicada em 1993, que regulamenta a redução de emissões de CO2 de veículos com prazo final em 2027, encerrando a utilização de motores a combustão em veículos automotores fabricados a partir de 2028. De olho nessa oportunidade, em 02/02/2022, o empresário deu início à Lecar, com sede em Alphaville, São Paulo, e planta industrial em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. A primeira iniciativa foi formar um time de engenharia automobilística altamente qualificado e experiente. Hoje, a equipe conta com 30 profissionais, muitos deles com passagens importantes por empresas como Gurgel, Troller, JPX, Ford, Toyota, Nissan e Marcopolo. “Além de um projeto que favorece a mobilidade e a

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sustentabilidade, nosso objetivo é fazer com que o Brasil seja visto de forma valorizada, assim como sempre deveríamos ser vistos. Somos a oitava economia do mundo e ainda não tínhamos nenhuma montadora nacional. Vamos mudar o rumo da história”, pontua. Ao iniciar o projeto de design do carro, Assis logo identificou a cidade de Caxias do Sul como o melhor local para montar sua fábrica, visto que vários fornecedores do ecossistema de mobilidade se encontram na região. Cerca de 35% das peças do Lecar Model 459, o primeiro veículo da companhia, serão importadas da China. Motores e baterias virão do fabricante chinês Wiston, que fornece também para outras duas gigantes do setor. O restante será produzido no Brasil. “Nosso país é privilegiado, com matéria-prima apropriada e abundante para a produção de carros 100% elétricos”, esclarece. Sempre atento a oportunidades, os contratos fechados com vários fornecedores preveem a transferência de tecnologia e cooperação técnica, científica e operacional, o que viabiliza uma fábrica de células de bateria e motores elétricos no Brasil, permitindo a autossuficiência na produção de carros elétricos. “Temos em nosso país, 97% dos minerais que compõe as células de baterias. Além de sermos autossuficientes, podemos ainda nos tornarmos protagonistas e uma grande referência no mercado global de veículos elétricos, fornecendo automóveis para outros países. Nossos carros vão interessar a quem cuida do meio ambiente também em outros países”, anima-se o empresário. Em fevereiro, o carro, cujo


protótipo está em desenvolvimento, segue para uma série de homologações em Londres, na Inglaterra, onde será submetido a avaliações de impacto, aerodinâmica e simuladores de segurança. Essa etapa terá duração de até nove meses. Depois disso, o produto entrará em linha de produção, devendo estar disponível ao mercado a partir de dezembro de 2024. O Lecar Model 459 terá um custo de R$ 279 mil e autonomia de 400km por carga. A carga tributária é de 43%. “Precisamos que o governo se conscientize sobre a importância dos carros elétricos para o Brasil e crie uma política de incentivos a fim de termos preços mais competitivos”, destaca Assis. A empresa também planeja a criação do Lecar POP, uma versão popular e com o uso de baterias e motores elétricos produzidos no Brasil que, com os mesmos incentivos fiscais aos elétricos existentes em diversos países, teria o custo estimado de R$ 100 mil e autonomia de 200km por carga. A estimativa é produzir 300 veículos por mês já no primeiro ano de fabricação, gerando 600 empregos diretos e R$ 1 bilhão de faturamento. O foco das vendas será a Grande São Paulo, especialmente entre a capital, Campinas e São José dos Campos, onde a empresa deve investir em uma rede de infraestrutura para recarregamento de bateria. Também está previsto, já para 2025, a criação de uma rede de carregamento próprio ao longo de toda BR 101, com carregadores rápidos disponíveis a cada 150 km da rodovia. Até 2030, a empresa espera oferecer cobertura total nas principais rodovias do país. Em um segundo momento, além da expansão para todo o território nacional, o empresário planeja a internacionalização de sua montadora, especialmente para EUA, França, Itália e Mônaco. “Já estamos alinhando uma série de parcerias nesses países para levar nossa marca para o mundo”, orgulha-se. Em cinco anos, a Lecar pretende produzir 50 mil carros por ano, com geração de 6 mil empregos diretos e R$ 13 bilhões de faturamento anual. A empresa pretende, ainda, criar um plano de assinaturas, mudando a cultura da posse para a de acesso. “As pessoas não precisam ter um carro, o que elas precisam é de mobilidade”, argumenta. A assinatura base para o plano de locação de 36 meses será oferecida por aproximadamente 3% do valor de venda para uma quilometragem mensal de 1 mil km.

O grande diferencial da Lecar é o de não apenas fabricar um carro elétrico no Brasil, mas desenvolver um produto totalmente pensado para o país. “Tenho um Tesla e, definitivamente, ele não foi estruturado para rodar pelas ruas e estradas brasileiras. Ele sofre a cada buraco. Nosso projeto é de um carro feito para os desafios das estradas do Brasil, com tecnologia de ponta, resistência, prazer na direção e alinhado à necessidade de redução de emissões de CO2, que foi o grande motivador para embarcarmos nesse projeto”, finaliza. Fonte: lecar.com.br JAN / FEV 2024 // REVISTAFERRAMENTAL.COM.BR // 11


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PROGRAMA MOBILIDADE VERDE É LANÇADO POR FUNDEP

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Programa vai reduzir imposto de quem polui menos e aumentar exigências de sustentabilidade

presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, em 30/12/2023, Medida Provisória criando o programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva e estimula a produção de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística, expandindo o antigo Rota 2030. Idealizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o novo programa vai promover a expansão de investimentos em eficiência energética, incluir limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos e cobrar menos imposto de quem polui menos, criando o IPI Verde. O programa segue, segundo o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, as diretrizes estabelecidas pelo presidente Lula, de compromisso com o desenvolvimento sustentável. O incentivo fiscal para que as empresas invistam em descarbonização e se enquadrem nos requisitos obrigatórios do programa será de R$ 3,5 bilhões em 2024, R$ 3,8 bilhões em 2025, R$ 3,9 bilhões em 2026, R$ 4 bilhões em 2027 e R$ 4,1 bilhões em 2028, valores que deverão ser convertidos em créditos financeiros. O programa alcançará, no final, mais de 19 bilhões em créditos concedidos. No Rota 2030, extinto, o incentivo médio anual, até 2022, foi de R$ 1,7 bilhão. “O Mover vai ajudar o Brasil a cumprir seus compromissos com a descarbonização do planeta e com o enfrentamento às mudanças climáticas”, destacou Geraldo Alckmin. “Ele está alinhado ao nosso projeto de neoindustrialização, inovador, sustentável e exportador, e a outras medidas importantes do governo na direção de uma economia mais verde”. DO POÇO À RODA O Mover inova em relação ao Rota 2030, criado em 2018, e a seu antecessor, o Inovar Auto, de 2012. Todos têm como meta reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030, estabelecendo requisitos mínimos para que os veículos saiam das fábricas mais econômicos, mais seguros e menos poluentes. O Mover avança em vários pontos. Entre eles, está sua definição como um programa de “Mobilidade e Logística Sustentável de Baixo Carbono”, proporcionando a inclusão

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de todas as modalidades de veículos capazes de reduzir danos ambientais. O novo programa também aumenta os requisitos obrigatórios de sustentabilidade para os veículos comercializados no país. Entre as novidades, está a medição das emissões de carbono "do poço à roda", ou seja, considerando todo o ciclo da fonte de energia utilizada. No caso do etanol, por exemplo, as emissões serão medidas desde a plantação da cana até a queima do combustível, passando pela colheita, pelo processamento e pelo transporte, entre outas etapas. O mesmo para as demais fontes propulsoras, como bateria elétrica, gasolina e biocombustível. “O Brasil será o primeiro país do mundo a usar esse sistema para medir as emissões de carbono”, destaca Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC. “A medição do poço à roda vai melhorar a política pública, ajudar nas decisões das empresas e dar ao mundo mais um sinal claro do nosso compromisso com descarbonização, o que pode estimular investimentos no país”. No médio prazo, o novo programa prevê uma medição ainda mais ampla, conhecida como “do berço ao túmulo”, que valerá a partir de 2027 e vai abranger a pegada de carbono de todos os componentes e de todas as etapas de produção, uso e descarte do veículo. O secretário lembra que a medição tradicional “do tanque à roda” continuará sendo exigida. INOVAÇÕES Abaixo estão relacionadas as inovações do Mover, em relação ao programa anterior: Mobilidade – Deixa de ser uma política limitada ao setor automotivo para se transformar num programa de Mobilidade e Logística Sustentável de Baixo Carbono. Requisitos obrigatórios – O Rota 2030 estabeleceu que todos os veículos comercializados no país deveriam participar do programa de Rotulagem Veicular, com requisitos de segurança e de eficiência energética que levam em consideração as emissões “do tanque à roda”. Agora, a eficiência energética será medida também pelo sistema “do poço à roda” e haverá exigência de material reciclado na fabricação dos veículos, com índice mínimo ainda não definido,


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mas que deverá ficar acima de 50%. Outra novidade é que a partir de 2027 haverá medição da pegada completa de carbono dos veículos vendidos no Brasil, em uma classificação conhecida como “do berço ao túmulo”. Tributação verde – Sistema “bônus-malus” (recompensa/penalização) na cobrança de IPI, a partir de indicadores que levam em conta: • A fonte de energia para propulsão; • O consumo energético; • A potência do motor; • A reciclabilidade; • O desempenho estrutural e tecnologias assistivas à direção. Esse sistema não envolve renúncia fiscal – já que uns pagarão abaixo da alíquota normal, mas outros pagarão acima. As alíquotas serão definidas por decreto presidencial nos próximos meses. Investimentos em P&D e benefício fiscal – Para que as empresas possam cumprir os requisitos obrigatórios do programa, o Mover concederá incentivos ficais em proporção aos investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Os parâmetros, porém, mudaram em relação ao programa anterior. Até aqui, as empresas tinham de dispender no mínimo 0,3% da Receita Operacional Bruta em P&D, por ano, e cada real investido propiciava abatimento de até R$ 0,12 no IRPJ ou na CSLL. Agora, o dispêndio mínimo ficará entre 0,3% e 0,6% da receita, e cada real investido dará direito a créditos financeiros entre R$ 0,50 e R$ 3,20. Esses créditos poderão ser usados para abatimento de quaisquer tributos administrados pela Receita Federal do Brasil. Atração de investimentos – A MP prevê o estímulo à realocação de plantas industriais de outros países no Brasil. Essas empresas terão crédito financeiro equivalente ao imposto de importação incidente na transferência das células de produção e equipamentos. Adicionalmente, elas também terão

abatimentos no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), relativos à exportação de produtos e sistemas elaborados no Brasil. Programas prioritários – Redução de Imposto de Importação para fabricantes que importam peças e componentes sem similar nacional, desde que invistam 2% do total importado em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em “programas prioritários” na cadeia de fornecedores. A MP do Mover cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT), a ser instituído e gerenciado pelo BNDES, sob coordenação do MDIC. A expectativa é de que os investimentos nesses programas alcancem entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões/ano. No Rota 2030, o investimento médio foi de R$ 200 milhões/ano e eram administrados por cinco entidades: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Emprapii), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O novo Fundo de Desenvolvimento Industrial é uma das principais inovações previstas na MP, na avaliação do ministro Geraldo Alckmin. “Este é o primeiro fundo diretamente voltado para a inovação e modernização industrial, aproximando ainda mais o BNDES e fortalecendo a neoindustrialização que já está em curso no Brasil”. Fonte: gov.br/mdic

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MISSÃO EMPRESARIAL

CIRCUITO TECNOLÓGICO DE FERRAMENTARIA NO JAPÃO

A

ABINFER – Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais, em parcerias com a Star Seiki Brasil Ltda. e Revista Ferramental, realizou mais uma etapa do Circuito Mundial de Tecnologia e Gestão, novamente com participação em 2 feiras internacionais, visitas técnicas à ferramentarias e fornecedores além de reuniões institucionais e de relacionamento. O objetivo foi apresentar as tecnologias de última geração, demonstrar modelos de gestão eficiente, viabilizar a troca de experiências, oportunizar a divulgação de produtos, e integrar os participantes à rede mundial de ferramentarias desenvolvendo uma forte rede de relacionamento internacional. Os participantes conheceram os principais atores da área de ferramentaria no Japão e alguns com atuação mundial.

Adicionalmente, a agenda de visitas permitiu o entendimento do nível de operação destas empresas. A viagem, realizada de 27 de novembro a 2 de dezembro, contou com a presença de 16 participantes, entre empresários, representantes de empresas e de instituições de ensino e entidades sindicais. As visitas incluíram a presença na IPF – Feira Internacional do Plástico (ipfjapan.jp/english/) e na IREX – Feira Internacional de Robótica (irex. nikkan.co.jp), ferramentaria Showa, e Makino. Também foram realizadas reuniões institucionais na JADMIA – Associação Japonesa da Indústria de Moldes e Matrizes (Japan Die and Mold Industry Association) e na AOTS – Associação Japonesa para Cooperação Técnica e Parcerias Sustentáveis Mundiais (Association for Overseas Technical Cooperation

and Sustainable Partnerships). Além das inovações observadas e ótimas “ideias” coletadas durante as feiras e visitas técnicas, houve grande sinergia para desenvolvimento de futuras atividades cooperativas entre as entidades JADMIA e AOTS do Japão e as entidades brasileiras ABINFER e SENAI. Adicionalmente, foram construídos novos relacionamentos importantes entre os participantes, cujos resultados podem e devem contribuir para o aumento da produtividade e da competitividade entre as empresas e dentro dos mercados de atuação. Nos próximos passos serão relacionadas as potencialidades de trabalhos conjuntos e estruturadas as regras de operação colaborativa. Alguns registros do período da missão empresarial estão apresentados a seguir.

NOME

EMPRESA

CARGO

CIDADE/ESTADO

Edson Takashi Nakano

Poliferr

Diretor Presidente

Diadema/SP

Fábio Pedroso

Soin

Gerente de Produção

Taboão da Serra/SP

Gilberto Moreira de Melo

Kadplast

Diretor Presidente

Valinhos/SP

José Roberto Nogueira da Silva

SENAI/SMABC

Diretor

São Bernardo do Campo/SP

Juvenil Fukushima

Promill

Diretor Presidente

Ribeirão Preto/SP

Kenede Fukushima

Promill

Diretor Vice-Presidente

Ribeirão Preto/SP

Kousube Tanno

Matsui

Presidente

Vinhedo/SP

Luiz Viana

LViana

Diretor Presidente

Manaus/AM

Márcio Yamaguchi

Matsui

Vendedor Técnico

Vinhedo/SP

Neusa Silveira dos Anjos

Kadplast

Diretora

Valinhos/SP

Pedro Henrique Fukushima

Promill

Diretor

Ribeirão Preto/SP

Raphael Fonseca

Soin

Supervisor

Taboão da Serra/SP

Roberto Eiji Kimura

Star Seiki Brasil

Director

São Paulo/SP

Roberto Monteiro Spada

SENAI

Diretor Rel. Internacional

São Paulo/SP

Sandro Choi

Star Seiki Brasil

Vendedor Técnico

São Paulo/SP

Christian Dihlmann

ABINFER

Presidente

Joinville/SC

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MISSÃO EMPRESARIAL

EVENTO

FOCO

PERÍODO 2024

CIDADE/PAÍS

INSCRIÇÕES ATÉ:

Chinaplas

Plástico e borracha

20 a 28/abril

Shangai/China

29/03

NPE

Plástico

4 a 12/maio

Orlando/EUA

05/04

Cast Forge

Fundição

1 a 9/junho

Stuttgart/Alemanha

03/05

IMTS + Ferramentarias

Máquinas

7 a 22/setembro

Chicago/EUA e Windsor/Canadá

09/08

Meximold

Plástico

5 a 13/outubro

Querétaro/México

06/09

Euroblech

Estampagem

19 a 27/outubro

Hanover/Alemanha

20/09

* Grupo mínimo de 12 e máximo de 16 participantes. Participe das missões* empresariais do setor de ferramentaria e afins. Todas as missões incluem passagem aérea a partir de São Paulo com taxas inclusas, seguro de viagem internacional, transportes internos, passes para as feiras, hotel classe turística com café da

manhã, guia/intérprete no idioma local ou em inglês para português. Contate a revista Ferramental (contato@revistaferramental.com.br) ou pelo fone 47 99709-0020 e faça seu planejamento para 2024.

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PROCESSOS

MOLDAGEM COMBINADA POR INJEÇÃO E EXTRUSÃO

C

P O R A N D R E A S K I S S L E R - B Á R B A R A S C H U L Z - LU I S PAV E Z Z I

hamado de Flat Die Unit (FDU) ou Unidade de Bico Plano, esse sistema de câmara quente passa o material fundido através de uma longa fenda em vez de um orifício circular como um bico convencional. A FDU começou como um projeto de pesquisa desenvolvido com o know-how da Haidlmair, sediada em Nussbaum, na Áustria. A empresa tem desenvolvido continuamente a tecnologia de ponto de injeção desde então. Agora o sistema de câmara quente está disponível para ser comercializado para aplicação em ferramentais construídos por outras empresas. Houve numerosos avanços incrementais em câmaras quentes nos últimos anos. O mais recente é da FDU Hot Runner GmbH, Frankenthal, na Alemanha, que desenvolveu um bico de câmara quente com abertura em forma de matriz plana, como em extrusão de filme. A FDU foi originalmente um projeto de sinergia de desenvolvimento das empresas do Grupo Haidlmair sob a liderança do seu departamento de Pesquisa e Desenvolvimento. Combinando os benefícios da tecnologia de moldagem por injeção e extrusão. O plástico derretido passa por uma longa fenda (figura 1), que atualmente é disponível em três tamanhos diferentes. O resultado é uma injeção mais rápida de mais massa fundida através de uma abertura mais fina, com menor cisalhamento e pressão de injeção, menor temperatura de massa fundida e tempo de ciclo até 25% mais rápido em vários projetos. A FDU é particularmente adequada para o uso com plásticos de engenharia, incluindo poliolefinas e poliamida 6. Contudo, plásticos reciclados também têm sido usados em alguns projetos. Devido à ampla fenda na qual o plástico fundido flui em uma forma triangular para o molde, partículas maiores em materiais reciclados podem passar mais facilmente do que em sistemas convencionais. EFEITOS NO VOLUME DE MATERIAL, TEMPO DE INJEÇÃO E TAXA DE CISALHAMENTO O bico especial é particularmente adequado para peças grandes porque pode lidar com maior volume de fusão com menos cisalhamento do que os sistemas convencionais, que são redondos e estão disponíveis com diâmetro máximo de 10 mm pois o calor precisa ser dissipado para garantir a temperatura precisa do plástico fundido, evitando sua degradação. A figura 2 mostra um comparativo da taxa de cisalhamento entre bico plano e bico cilíndrico.

Figura 1 – Representação visual da diferença entre bico cilíndrico e fendido (Fonte: FDU, 2023)

Figura 2 – Comparativo de taxa de cisalhamento entre bico plano e bico cilíndrico (Fonte: FDU, 2023)

Comparando a mesma quantidade de fluxo de material fundido através dos bicos, é necessário um diâmetro de 8 mm em um sistema redondo convencional para uma área de seção transversal de 50 mm2 enquanto o sistema FDU atinge a mesma área de seção transversal com uma fenda de 25 mm x 2 mm. A vantagem é que no FDU a massa plástica entrante está a apenas 1 mm de distância da parede da cavidade de resfriamento, enquanto o centro do bico redondo está a 4 mm de distância, o que limita o projeto em termos de tamanho para realizar o resfriamento adequado. O dimensionamento do bocal é importante para manter fluxo suficiente de material fundido ou taxas de injeção, especialmente para moldar peças com baixa espessura de parede ou relação distância de fluxo/espessura de parede desfavorável. Em uma simulação de moldagem de um copo de pipoca, por exemplo, que apresentava distância de fluxo de

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PROCESSOS

285 mm e espessura de parede de 0,75 mm, o resultado da análise reológica do software Moldflow indicou a impossibilidade de atendimento dos parâmetros mínimos utilizando bicos redondos abertos convencionais. A simulação com o sistema FDU viabilizou a operação. O cisalhamento mais baixo proporciona também menos tensão no fundido e temperatura de enchimento mais uniforme do que os bicos convencionais. Um exemplo de aplicação e resultado é uma caixa de ferramentas moldada por injeção, que ilustra a distribuição mais uniforme da temperatura de enchimento e, como resultado, uma redução de 25% no tempo de ciclo. Em um caso, uma configuração FDU de 25 mm de comprimento x 4 mm de largura forneceu 3,6 vezes o volume de vazão de um bocal redondo de 2,5 mm com taxa de cisalhamento aproximadamente igual. Como a porta FDU tem apenas 2 mm de largura, ela permite um congelamento mais rápido da entrada do que o bocal redondo. Em outro caso, uma FDU moldou uma peça de polipropileno (PP) de 500 g com a mesma taxa de enchimento e taxa de cisalhamento que dois bicos redondos de 6 mm, mas com tempo de ciclo 5-10% menor. Outro exemplo envolve a fabricação de uma caixa para transporte de carne, onde a FDU moldou a peça com tempo de ciclo reduzido em 17% em relação a um sistema valvulado e pressão reduzida de 200 bar. A tabela 1 mostra a equivalência em geometria dos pontos de injeção de um sistema tradicional com o FDU.

o divisor está no centro do furo, enquanto no sistema FDU está na parede até o divisor, portanto muito inferior para uma área de passagem superior (figura 3).

Figura 3 – Efeito da distância do divisor na marca de injeção para bico circular e bico plano (Fonte: FDU, 2023)

Figura 4 – Visualização esquemática dos dois modelos de bicos – plano e circular (Fonte: FDU, 2023)

Tabela 1 – Equivalência de volume de injeção x seção de passagem para bicos FDU e circulares (Fonte: FDU, 2023)

A distância entre o divisor e a lateral do ponto de injeção é algo a se levar em consideração, pois tem efeito considerável na marca deixada no produto. Considera-se a distância em sistema tradicionais, metade do diâmetro, pois

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EFEITOS NO RECALQUE DO MATERIAL Com a finalidade de se compactar mais o plástico para compensar a contração após a cavidade do molde ter sido preenchida com plástico, é necessário manter a pressão para continuar a exercer pressão sobre o plástico fundido, fase chamada de recalque. No processo de recalque, a vazão do plástico é muito baixa, então o fluxo não é mais um papel tão importante. A pressão é o principal fator que afeta o processo de recalque. Nesta fase, devido à alta pressão, a parte plástica pode ser comprimida localmente. Na área de alta pressão, o plástico é mais compacto, então a densidade é maior. Em outros pontos, o plástico fica solto e a densidade é menor. Portanto, a distribuição da densidade muda com a posição e o tempo. O desenho e formato especial da unidade de matriz plana garante uma distribuição de pressão mais uniforme. Outra vantagem do projeto FDU é evitar a formação de jato livre na porta, a conhecida moldagem por injeção de salsicha, que ocorre com o aumento da velocidade de injeção e resulta em enchimento não uniforme do molde e falhas superficiais. Se nesta situação não for possível fornecer assistência através de um projeto de


PROCESSOS

molde adequado, a máquina deverá ser operada em baixa velocidade de injeção. NÚMERO DE BICOS DE INJEÇÃO Devido ao alto fluxo de material pelo bico, há a possibilidade de redução da quantidade de bicos quente por produto, podendo mesmo, em alguns casos, ser utilizado de um único quando outros tradicionais sistemas necessitam no mínimo de dois. A figura 4 mostra esquematicamente os modelos de bicos plano e circular, permitindo visualizar a diferença geométrica. Para a validação da quantidade de bicos necessários, é preciso que seja avaliado o desenho do produto permitindo realizar os devidos cálculos de vazão. EFEITOS NO RESFRIAMENTO DO PONTO DE INJEÇÃO A colocação de um inserto para o resfriamento paralelo com a fenda de injeção, garante a temperatura ao longo da passagem, na superfície da cavidade. Com isto, a marca do ponto de injeção é estabelecida em trabalho constante sem variações. Para isto é necessário um volume de água com fluxo e temperatura constante. POSICIONAMENTO DO PONTO DE INJEÇÃO A fenda de injeção pode ser posicionada diretamente em uma parte do molde que será o reforço na peça plástica. Desta forma a distribuição do plástico no interior da cavidade é facilitada e a aparência é melhorada. No exemplo da figura 5, o ponto de injeção está localizado diretamente na fenda, que é um reforço para a base da caixa de sustentação.

Figura 5 – Produto e detalhe do ponto de injeção laminar (Fonte: FDU, 2023)

APLICAÇÕES ESPECÍFICAS DO FDU Alguns exemplos adicionais de aplicações da configuração de bico plano podem ser visualizados nas figuras de 6 a 8, permitindo vislumbrar potenciais usos e benefícios do sistema.

Figura 6 – Palete plástico, com 2 cavidades e distribuidor sobre distribuidor (Fonte: FDU, 2023)

Figura 7 – Engradado de bebidas, com 1 cavidade e injeção em reforços, PEAD (Fonte: FDU, 2023)

Figura 8 – Caixa de alojamento de filtro de ar, com 1 cavidade, PEAD (Fonte: FDU, 2023)

ANDREAS KIßLER - é Dipl.-Ing. (FH) e atual Diretor Geral da empresa FDU-Hotrunner GmbH, em Frankenthal, Alemanha. andreas.kissler@fdu-hotrunner.com BÁRBARA SCHULZ, é Sênior Staff Reporter. barbara.schulz@fdu-hotrunner.com LUIS ANTÔNIO PAVEZZI, formado em Administração de Empresas, Tecnólogo em Processos de Produção pela Fatec e MBA em Controladoria. Gerente na HDB Comércio e Indústria Ltda. há 30 anos, comercializando e prestando assistência técnica em câmaras quentes desde 1996 e em vários equipamentos, máquinas e periféricos para o mercado de transformação de plástico. luis.pavezzi@hdbrepr.com.br

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A M B I E N TA L

O RISCO INVISÍVEL DOS PASSIVOS AMBIENTAIS – PARTE 2 POR DANIEL GROFF

D

LARA YUMI

ando seguimento à série dos “Riscos Invisíveis”, nessa edição abordaremos a segunda etapa do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), a Investigação Confirmatória e como essa fase de identificação costuma se desdobrar frente aos aspectos ambientais das indústrias de ferramentaria, fundição, galvanoplastia, usinagem e tantas outras que formam o setor metalmecânico. Nessa etapa realizam-se análises de solo e água subterrânea das áreas destacadas com suspeita de contaminação, de forma a confirmar a presença de contaminantes acima do nível permitido, levantados na Avaliação Preliminar. Mas, por que as organizações deveriam estar preocupadas com esses aspectos, sobretudo que as contaminações estão no subsolo? Por questões de riscos relacionados ao negócio. O ESG (Environmental, Social and Governance), pilares organizacionais que tratam de riscos associados aos aspectos ambientais, sociais e de governança, avaliados pelo mercado financeiro e alta gestão, estão diretamente ligados aos locais onde há ou houve fontes de contaminação. Essas áreas e seu entorno exigem um conjunto de ações para detectar e caracterizar a existência de plumas de contaminantes e implementar medidas de intervenção, com o propósito de viabilizar o uso seguro da área, gerenciando os potenciais riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Na figura 1 é possível observar o comportamento dos contaminantes orgânicos voláteis no ambiente subterrâneo

daniel.groff@ambitera.com.br lara.yumi@ambitera.com.br e impacto na área de entorno. A questão é sobre potenciais danos à saúde de pessoas que trabalham no local e a comunidade do entorno, interdição de complexos industriais, passivos ambientais na aquisição de terrenos e fusão de empresas. Sobretudo, o tema requer atenção nas organizações, pois a responsabilidade por identificar e gerenciar os riscos recaem sobre os responsáveis legal e técnico, normalmente culminando em um processo complexo e moroso com a participação do Ministério Público, órgãos ambientais e outras instituições competentes, inclusive com interdição de área importantes e produtivas. A figura 2 mostra exemplo de sinalização de área interditada. O fato é que os insumos utilizados nas indústrias metalmecânicas frequentemente são de origem perigosa, sendo encontrados na forma de óleo de corte para usinagem, fenol para moldes de areia de fundição, banhos químicos para galvanoplastia, solventes para limpeza de peças, combustíveis para abastecimento de máquinas e equipamentos, dentre outros produtos químicos utilizados em processos e atividades de apoio. Além dos processos produtivos, as redes subterrâneas de drenagem, efluentes e abastecimento de produtos, central de resíduos, estações de tratamento, áreas de armazenamento de produtos químicos, são locais que podem caracterizar suspeita de contaminação. Nesse contexto, é comum a condução simultânea dessas diligências ambientais no ambiente industrial, englobando escopos com Avaliação Preliminar e Investigação Confir-

Figura 1 – Fluxo de contaminantes e impactos no entorno (Fonte: Cernansky, 2016)

Figura 2 – Sinalização de área interditada (Fonte: PHA3001, 2019)

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matória, lembrando que a identificação precoce de contaminação costuma ser benéfica para empresa que consegue intervir antes dos contaminantes atingirem e se dispersarem na água subterrânea. Tendo em vista que áreas industriais se tornam vulneráveis a contaminação de diversas substâncias químicas, se faz necessário a compreensão dos diferentes tipos de contaminantes e a interação deles com o meio físico impactado (ar, solo, água subterrânea e superficial). Os hidrocarbonetos derivados de petróleo, por exemplo, requerem abordagens distintas de investigações frente a compostos inorgânicos. Adicionalmente, o solo é composto por camadas sobrepostas com porcentagens únicas de composição elementar e granulométrica, influenciando na percolação e lixiviação das substâncias químicas. Por fim, a hidrogeologia é fundamental para compreensão do comportamento da água subterrânea na área estudada, o que influencia no transporte do contaminante e interação na água subterrânea que será analisada na Investigação Confirmatória. A figura 3 apresenta uma representação deste fluxo das águas.

Figura 4 – Varredura geofísica (Fonte: PHA3523, 2016)

ou plumas de contaminação. Essas ações resultam em assertividade nas etapas de campo da Investigação Confirmatória, diminui tempo de projeto, reduz custos com perfurações, instalação de poços de monitoramento de água subterrânea e análises sem representatividade. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB apresenta a metodologia do GAC da seguinte forma: A metodologia de Gerenciamento de Áreas Contaminadas baseia-se em uma estratégia constituída por etapas sequenciais, em que a informação obtida em cada etapa é a base para a execução da etapa posterior.

Figura 3 – Fluxo das águas (Fonte: Escola de Serviço Público do Espírito Santo - ESESP, 2023)

Na edição anterior trouxemos, de forma simplificada, como a Avaliação Preliminar classifica uma área em potencialmente contaminada ou suspeita de contaminação. Essa etapa é fundamental para interpretar o histórico das operações no imóvel e frequentemente enfrenta incertezas, falta de dados em determinado período de uso da área e carência de informações que podem mascarar áreas potencialmente contaminadas. Quando não é possível identificar todas as áreas potenciais na fase preliminar, utilizam-se amostradores passivos ou métodos geofísicos, como por exemplo a varredura geofísica demonstrada na figura 4, de acordo com a característica do contaminante, que auxiliam na detecção de fontes

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Portanto, a Investigação Confirmatória, segunda fase do rito de identificação da contaminação quando a Avaliação Preliminar se apresenta suspeita de contaminação, é essencial para detectar a presença de contaminantes. A etapa de campo da Investigação Confirmatória visa obter amostras representativas de solo e água subterrânea, por meio de cravação de liner e instalação de poços de monitoramento para amostragem em baixa vazão, respectivamente. Ao mesmo tempo, levantam-se dados da topografia e os perfis do solo das perfurações, medem-se os níveis d’água do lençol freático ao longo da área e são realizados testes hidrogeológicos nos poços de monitoramento para determinar a velocidade da água subterrânea. A figura 5 demonstra a perfuração mecanizada para instalação de poços de monitoramento da água subterrânea, método que evita o carreamento da contaminação para outras camadas de solo.


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Ao final, as amostras retiradas em campo são enviadas a um laboratório de análises ambientais acreditado pelo INMETRO e os resultados dos laudos de análise de solo e água subterrânea são confrontados com os valores orientadores específicos da legislação vigente ao local estudado, determinando a presença ou não de contaminação. Caso seja identificado contaminação em algum compartimento ambiental analisado, o estudo deve seguir para etapa de Investigação Detalhada, tema da próxima coluna ambiental, para realizar o diagnóstico e mapeamento da contaminação. A figura 6 mostra um exemplo de mapeamento de pluma de contaminação de solvente Tricloroetileno – TCE em fase detalhada. CONCLUSÃO A complexidade observada no ambiente subterrâneo somada as propriedades dos contaminantes, leva a formação de equipes multidisciplinares com atuação de geólogos, engenheiros ambientais, civis e químicos, biólogos, geógrafos, entre outros profissionais que se unem em prol de compreender o meio físico e a interação com as plumas de contaminação. A Ambitera conta com equipe especializada para diagnóstico de áreas contaminadas, em constante capacitação e com experiência em diversos desafios de diligências ambientais. Ademais, vale destacar que a Ambitera, além de utilizar todas as normas e legislações pertinentes a região onde está sendo conduzido os estudos, traz experiência de outros ramos de atuação para somar no rol de abordagens técnicas de investigações industriais.

Figura 5 – Perfuração de poço de monitoramento (Fonte: Ambitera, 2023)

Figura 6 – Mapeamento de pluma de contaminação de TCE (Fonte: Vasconcellos, J. F. S., 2017)

Daniel Groff - Engenheiro Ambiental e Sanitarista com 5 anos de experiência na área ambiental. Atuou em startup de valorização de resíduos, indústrias metalmecânicas, a exemplo de General Motors do Brasil e Docol Metais Sanitários, além de liderar projetos em grandes consultorias. Proficiência em monitoramento e passivos ambientais, supervisionando mais de 45 diligências de áreas contaminadas para aquisição de terrenos, galpões e diagnósticos de indústrias da transformação incluindo clientes nacionais e internacionais.

Fone 47 99131-3585 @ambitera.eng ambitera.com.br

Lara Yumi Fand Ykeizumi - Engenheira Ambiental e Sanitarista com Mestrado em Ciências Ambientais e uma trajetória de 10 anos de experiência. Especialização consolidada em licenciamento e monitoramento ambiental, atuando tanto no âmbito público quanto privado. Possui uma expertise que engloba todas as fases do processo de licenciamento, desde a obtenção da Licença Prévia até a supervisão contínua das operações. Demonstra uma liderança marcante na gestão integral de resíduos, efluentes e emissões, sempre em alinhamento com os parâmetros estabelecidos pelos órgãos ambientais, legislação vigente e os princípios dos Sistemas de Gestão Integrada. Apresenta uma diversificada experiência, com participação em projetos de distintos setores como indústria, construção civil e setor portuário.

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E N T R E V I S TA

DESENVOLVIMENTO DO BICO MONOLITH T O R S T E N G L I T T E N B E R G - torsten.glittenberg@witosa.de E N T R E V I S T A P O R F A B I A N D I E H R - diehr@wortundform.de T R A D U Ç Ã O D E A L L A N G U I M A R Ã E S - allan@casafer.com.br

Texto original publicado na revista VDWF im Dialog 2022/3 - Alemanha

O

fabricante de canais quentes Witosa foi fundado em 2005 como parte do Grupo Glittenberg. O diretor-geral Torsten Glittenberg dirige a empresa familiar com o objetivo de desenvolver constantemente novos produtos. Os produtos mais recentes do portfólio da empresa são bicos quentes, de uma só peça, e suportes de pressão ambos impressos em 3D, que não só melhoram a qualidade do produto, como também tornam o processo de moldagem por injeção mais sustentável. Essa entrevista traz muitas informações sobre a tecnologia e forma de gestão da empresa. Sr. Glittenberg, em que medida é que a Witosa beneficia da experiência do Grupo Glittenberg? Naturalmente, mas existem também muitos funcionários na Witosa que cresceram na fabricação de ferramentais ou na moldagem por injeção. Embora as empresas tenham a mesma estrutura de propriedade, são unidades e equipes separadas. Eu estou mais envolvido nas questões de vendas e desenvolvimento, enquanto o meu pai está mais envolvido na tecnologia de produção – dividimos isso de acordo com as vocações e a nossa própria experiência. Quais são os setores de atividade da Witosa? Não estamos tentando estabelecer prioridades. Nos concentramos mais nas possibilidades tecnológicas e queremos ser capazes de atender todas as aplicações de forma geral. Esta atitude talvez também decorra da nos-

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E N T R E V I S TA

sa experiência em ferramentaria, onde sempre procuramos clientes de diferentes indústrias. Isto nos torna mais resistentes a crises e mantém nossos olhos abertos a diferentes tecnologias. No entanto, um foco certamente está nos plásticos de engenharia que são difíceis de processar. Estes estão cada vez mais chegando a uma ampla variedade de áreas de aplicação, especialmente como recicláveis. Como surgiu a Witosa? Ela surgiu de uma reclamação. Uma peça moldada por injeção foi danificada termicamente e estava “podre”. Quando começamos a investigar, encontramos desvios significativos de temperatura em relação à condição pretendida. Sem demora, decidimos produzir sistemas de câmara quente para nosso próprio uso. Também otimizamos a capacidade de controle do processo e a facilidade de instalação. Os clientes logo nos pediram para oferecer também esses sistemas de câmara quente para ferramentas de terceiros. Embora esta indústria já estivesse efetivamente saturada em 2005, lançamos os nossos produtos no mercado. Os desenvolvimentos mais recentes são os bicos Monolith. Como surgiu esse novo design impresso em 3D? Em 2015, os sistemas de câmara quente estavam cada vez mais semelhantes – em parte porque as patentes tinham expirado. Mesmo com muito esforço e tecnologia de simulação, já não era mais possível dar grandes saltos de inovação dentro dos conceitos existentes. Este foi o gatilho para procurarmos abordagens completamente novas. Queríamos nos diferenciar no mercado não apenas pelos preços e prazos de entrega, mas também pela tecnologia - especialmente quando se fabrica na Alemanha. Então nos perguntamos: como seria o bico de câmara quente ideal se ele ainda não existisse? Todos os tipos de ideias surgiram, inclusive algumas que seriam motivo de riso hoje em dia. Mas é exatamente isso que

que se espera com esta abordagem aberta. Pessoalmente, nunca dei uma chance à impressão 3D. Mas também disponibilizamos um orçamento para desenvolvimento para algumas ideias que podem parecer absurdas à primeira vista - simplesmente para ganhar mais segurança ao experimentá-las. E quais foram as surpresas positivas no caminho para os bicos Monolith? Na bancada de testes, reconhecemos resultados muito promissores em termos de resistência e propriedades do material. Afinal, os componentes têm de suportar uma pressão de 2.500 bar e cargas térmicas muito dinâmicas. Alguns preconceitos tiveram que ser superados nesta fase? Sim. Acho que todos os fabricantes de ferramentais já viram um inserto de molde sinterizado que rachou. No entanto, isto não se deve normalmente ao processo ou ao material, mas sim a uma tensão excessiva no entalhe, por exemplo, que não foi tida em conta durante a otimização do componente para a impressão 3D. Durante muito tempo, a fabricação de ferramentas nesta nova tecnologia baseou-se na intuição. E que obstáculos tiveram de ser ultrapassados antes do produto estar pronto? Conseguimos obter um bom desempenho muito rapidamente, mas o desgaste era uma questão fundamental, ou seja, a durabilidade em plásticos

altamente abrasivos, por exemplo, com um teor de fibra de vidro. No entanto, tudo isto foi resolvido porque não queremos oferecer apenas uma solução de nicho, mas um produto que pode fazer tudo. Por isso, também tivemos de fazer algum trabalho de desenvolvimento na tecnologia do processo de impressão 3D. De que maneira? Existem máquinas muito boas no mercado, mas para o bico Monolith precisamos de um processo para "casar" vários materiais. Tivemos de responder aos desafios metalúrgicos da nossa aplicação do lado da máquina, para podermos trabalhar de forma ideal com diferentes pós. Pedimos patentes para muitas coisas, incluindo este desenvolvimento. Quase se tem a sensação de que o bico Monolith também foi concebido deliberadamente, embora isso não seja visível no estado de funcionamento atual. Bem, o desenvolvimento ocorreu com colaboradores de todas as disciplinas - desde as compras até o marketing. Isto nos permitiu assegurar que o produto se caracterizava por muitas perspectivas diferentes e não apenas por abordagens técnicas e intelectuais de engenharia. É por isso que o bico Monolith recebeu um design relativamente cedo, que quase se tornou sua própria marca. No entanto, a estrutura em favo de mel do invólucro não tem apenas um objetivo estético. Serve

O Energy Blocker é uma peça hexagonal de pressão que isola o manifold de câmara quente da superfície do molde. As espessuras das paredes variam de acordo com a altura do componente. Na parte superior e inferior, as áreas de superfície para absorção de carga são grandes, enquanto a seção transversal se afunila no centro para conduzir o mínimo de calor possível. O parafuso de fixação escareado também é instalado no coletor com uma superfície de montagem minimizada.

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para manter o bico leve - com elevada rigidez. A otimização da utilização dos materiais conduz a custos de fabricação mais baixos e, sobretudo, a uma capacidade de controle térmico de resposta rápida. A exigência era: trazer melhor tecnologia ao mercado com o mesmo custo... Imprimimos o bico e usinamos os canais de transporte do material fundido e todas as superfícies de vedação. No entanto, o processo é agora altamente automatizado – para que possamos produzir de forma competitiva. Os bicos Monolith representam atualmente 50% do portfólio da Witosa. O objetivo é mudar gradualmente para produtos impressos em 3D, pois isso permite uma personalização precisa. Palavra-chave "personalização" - o bico Monolith pode ser concebido de acordo com o processo e a aplicação do cliente. Como é que o processo de concepção funciona aqui? Até então, os melhores bicos possíveis eram componentes selecionados a partir de uma gama de catálogo em uma estrutura de montagem. Analogicamente, é possível comprar um terno na loja masculina especificando o tamanho do colarinho e da cintura. Nesse caso, o terno fica aproximadamente bem, mas não perfeito. Porém podemos e queremos vender ternos por medida. No entanto, o alfaiate também precisa de mais dados do que o vendedor de ternos padrão... Sim. O bom é que hoje estamos cada vez mais digitalizados. Claro que perguntamos muito: materiais, pesos de injeção, tempos de ciclo, tempos de injeção, etc. Alguns clientes já sabem muito sobre o seu processo porque é um produto de acompanhamento ou foi criada uma boa simulação. Para outros que não estão tão profundamente envolvidos, podemos especificar uma estrutura de parâmetros. Em todos os casos, o bico é projetado de

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acordo com as especificações dos nossos dados. E como é o bico perfeito, quando você pode produzi-lo quase sem restrições em termos de geometria? De fato, a impressão 3D nos dá a oportunidade de nos afastarmos de um bico que é simplesmente um tubo de aço aquecido. O núcleo do bico Monolith é uma geometria de alta tecnologia que nos permite adaptar o perfil de temperatura precisamente à aplicação de moldagem por injeção. Deixamos uma grande quantidade de ar entre as camadas individuais para isolamento, mas também caminhos condutores térmicos totalmente definidos para influenciar o plástico da melhor maneira possível. O aquecimento sobe linearmente pelo bico e depois serpenteia ao redor da ponta. A partir deste caminho externo, a temperatura emitida é distribuída para o interior em um sistema de condução de calor 3D, de modo a atingir uniformemente a seção transversal do canal de fusão. Para encontrar a geometria, realizamos muitas séries reais de testes para determinar os dados, que então combinamos em uma nuvem de possibilidades. A inteligência artificial é então usada para interpolar os casos de uso que se enquadram entre esses pontos. A nuvem de dados também está se tornando cada vez mais densa e maior porque aquecemos todos os novos bicos Monolith e inserimos os parâmetros de processo medidos no sistema – esta é a verdadeira Indústria 4.0. Uma vez que você tenha se especializado em impressão 3D para a produção de bicos, existem outras características que podem ser podem ser implementados? Claro, por exemplo, a geometria da saída do bico. Aqui podemos determinar livremente o número de orifícios de saída e os diâmetros ou até mesmo ajustar o ângulo de pulverização continuamente. Esse último, em particular, é essencial para influenciar a capacidade de armazenamento de

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calor no ponto de injeção. Também é ótimo para os projetistas o fato de termos total liberdade em termos de comprimento do bico. Não há mais necessidade de derivar e processar dimensões "tortas" apenas para poder usar um bico padrão barato. Conosco, os custos são lineares à quantidade de material usado - nada mais. No entanto, os diâmetros externos dos Monolith são padronizados, mas com graduação muito fina. A fixação também foi impressa como uma porca de união... Sim, foi assim que conseguimos torná-lo à prova de perdas. E o bico também é fácil de fixar e ajustar, com aquecimento integrado. O alinhamento dos orifícios de saída pode ser feito livremente durante os testes, pois o bico pode ser solto, girado e recolocado em algumas etapas simples, sem a necessidade de desmontar e limpar tudo antes. Outro truque da impressão 3D é o fato dos recessos para a resistência e o termopar terem sido ligeiramente rebaixados. Isso significa que os cabos podem ser simplesmente encaixados. Esse é definitivamente um argumento de serviço, já que até mesmo funcionários não treinados podem fazer esse trabalho bem-feito. Além disso, os cabos também são protegidos porque estão sempre guardados com segurança sob o contorno externo do bico. Para quais aplicações o bico Monolith funciona particularmente bem? Bem, quando os pesos das injeções se tornam grandes e os bicos passam a ter paredes muito grossas e, portanto, são caros devido ao consumo de material na impressão 3D, eles não valem mais a pena. Com diâmetros de fusão de 14 a 16 mm, a vantagem da nossa tecnologia também diminui porque os sistemas convencionais usam muito aço para que o calor seja distribuído de forma homogênea. O maior desafio é construir um bico fino e longo para uma pequena janela de temperatura


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para um plástico de engenharia. Os materiais estão se tornando mais exigentes e a tendência é a miniaturização dos componentes e a integração funcional. Essas aplicações são exatamente o que o mercado exige e o que podemos atender particularmente bem com os bicos Monolith. E ao mesmo tempo economiza-se energia... Uma economia de energia de 35% em comparação com um sistema de bico padrão é um número realista. No entanto, a saída desse tipo de bico é de apenas 100 a 150W. É possível economizar muito mais energia com nossos "EnergyBlockers". Essas peças de pressão isolam o manifold de câmaras quentes, que é operado com vários quilowatts de potência, do molde - o potencial de economia absoluta aqui é correspondentemente maior com 30 a 50% de eficiência. Além disso, todo o calor que é introduzido no molde de injeção é perdido "duas vezes", pois

também precisa ser dissipado novamente com gasto de energia. Muitas peças de quebra-cabeça precisam ser montadas para uma produção ecologicamente correta. Como fabricante de ferramentas e empresa de moldagem por injeção, você vê uma exigência cada vez maior de comprovar a sua própria pegada de CO2 para ganhar pedidos no futuro? Ainda não há imposto sobre CO2 nem certificados de sustentabilidade em nosso setor, mas tudo isso virá. É por isso que decidimos claramente construir nossos bloqueadores de energia e sistemas de câmara quente sem titânio. Afinal de contas, 55 kg de CO2 são consumidos para produzir 1 kg de titânio - apenas 0,5 kg para o aço. Quais são os próximos passos? Ainda vemos um grande potencial na tecnologia Monolith. O melhor de

tudo é que podemos agir imediatamente no caso de uma modificação no produto. Porque a única coisa que temos em estoque é o pó metálico. Ou, em outras palavras: não precisamos vender produtos antigos antes que as inovações cheguem ao mercado. Como o bico Monolith é fabricado para aplicações específicas, ele se comporta mais como um software. E estamos constantemente atualizando-o. Como você pode ver, as coisas estão sempre avançando.

TORSTEN GLITTENBERG juntou-se à empresa dos pais em 2007 e, desde 2014, é diretor-geral e proprietário do Grupo Glittenberg, que inclui uma fábrica de ferramentas e moldes, uma loja de moldes por injeção, cada uma com cerca de 40 funcionários, e a Witosa, com cerca de 70 funcionários. O nome da empresa Witosa é composto pelas primeiras letras dos nomes de seu pai Willi, seu próprio nome e o de sua irmã Sabrina. Atualmente a empresa tem vários escritórios de vendas na Europa e no exterior – a produção ainda é realizada exclusivamente em Frankenberg, no norte de Hesse, Alemanha.

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PROCESSOS

GÊMEO DIGITAL – CONCEITOS E APLICAÇÕES POR ALEXANDRE MACHADO JÚNIOR

U

ALEXANDRE MACHADO - CHRISTIAN DIHLMANN

m gêmeo digital, ou Digital Twin em inglês, é uma representação virtual que serve como contrapartida digital em tempo real de um objeto ou processo físico. Os gêmeos digitais são o resultado da melhoria contínua na criação de projetos de produtos e atividades de engenharia. Desenhos de produto e especificações de engenharia progrediram de desenhos feitos à mão para desenhos auxiliados por computador e engenharia de sistemas baseada em modelo. Os gêmeos digitais foram antecipados no livro Mirror Worlds, de David Gelernter, de 1991. É amplamente reconhecido na indústria e nas publicações acadêmicas que Michael Grieves, do Instituto de Tecnologia da Flórida, aplicou pela primeira vez o conceito de gêmeo digital na manufatura. O conceito e o modelo do gêmeo digital foram apresentados publicamente em 2002 por Grieves, então da Universidade de Michigan, em uma conferência da Society of Manufacturing Engineers em Troy, Michigan, nos Estados Unidos da América. Grieves propôs o gêmeo digital como o modelo conceitual subjacente ao gerenciamento do ciclo de vida do produto. Embora o conceito tenha se originado anteriormente, a primeira definição prática de gêmeo digital surgiu da NASA em uma tentativa de melhorar a simulação de modelos físicos de espaçonaves em 2010. O conceito, que tinha alguns nomes diferentes, foi posteriormente chamado de "gêmeo digital" por John Vickers, da NASA, em um relatório de 2010 [wikipedia.org]. No entanto, naquela época, era difícil e caro implementar o conceito e torná-lo disponível para uso geral. A

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- STEPHAN DIHLMANN -

situação mudou na década de 2010, com o desenvolvimento impulsionador da IoT, Inteligência Artificial, Big Data e Computação em Nuvem [mjvinnovation.com]. CONCEITO TÉCNICO Resumidamente, o gêmeo digital é um protótipo virtual de um objeto “vivo” e dinâmico, o que significa que ele é atualizado toda vez que seu gêmeo físico sofre alterações. Também é capaz de aprender, absorvendo o conhecimento das pessoas, das máquinas e do ambiente em que ele existe. Os gêmeos digitais devem cumprir três requisitos primários: • Ter a aparência idêntica ao objeto original, incluindo todos os detalhes menores; • Comportar-se da mesma maneira que o objeto original durante a operação; • Analisar a informação sobre os prós e contras do objeto original, prever possíveis problemas e sugerir soluções. O conceito de gêmeo digital consiste em três partes distintas: o produto físico, o produto digital/virtual e as conexões entre os dois produtos. As conexões entre o produto físico e o produto digital/virtual são dados que fluem do produto físico para o produto digital/virtual e informações que estão disponíveis do produto digital/virtual para o ambiente físico. Além disso, o gêmeo digital pode ser tipificado em três subcategorias de acordo com os diferentes níveis de integração, principalmente os diferentes graus de fluxo de dados e informação que podem ocorrer entre a parte física e a cópia digital: modelo

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digital, sombra digital e gêmeo digital [wikipedia.org]. APLICAÇÕES DE GÊMEOS DIGITAIS São diversas as aplicações dessa tecnologia, divididas geralmente em produto, processo e sistema, todos visando: • Identificar: através de sensores, medidores e coletores captam dados para mapear a situação; • Pensar: o software inteligente, raramente com interferência humana, analisa os dados coletados e, identificando algum desvio do programado, busca alternativas possíveis para solucionar cada um deles; • Executar: aplicando os algoritmos inteligentes, seleciona a solução mais eficaz e apropriada e adota como solução do problema. Gêmeos digitais de produto É um protótipo virtual de um certo bem utilizado pelos fabricantes para analisar como ele será executado sob diferentes condições e quais problemas podem ocorrer antes de configurar uma linha de produção. Essa ação permite fazer os ajustes necessários e criar um projeto mais apropriado do produto, considerando o princípio da manufaturabilidade do projeto (design for manufacturing). Assim, os gêmeos digitais de produtos auxiliam a reduzir despesas de produção e o tempo de acesso ao mercado (time-to-market), enquanto melhoram a qualidade. Os gêmeos do produto também podem ser usados para controlar o desempenho do produto no mundo físico.


PROCESSOS

Gêmeos digitais de processo São aplicados para simular processos de fabricação, criando diferentes cenários e demonstrando o que está previsto acontecer em situações variadas, permitindo o desenvolvimento da metodologia de produção mais eficiente. Frequentemente a otimização é apoiada com o uso de gêmeos de produto para cada equipamento do processo. Dessa forma, será possível, por exemplo, realizar manutenção preventiva, evitando paradas dispendiosas. As operações de fabricação serão mais seguras, mais rápidas e mais eficientes. Gêmeos de sistemas Neste modelo, os diversos gêmeos digitais disponíveis são integrados e atuam simultaneamente, tornando o sistema extremamente complexo e eficaz. São reunidas quantidades gigantescas de informações e dados operacionais, gerados por dispositivos e equipamentos no sistema. O sistema é alimentado em tempo real (online e on time) gerando dados atualizados e fidedignos ao processo em operação, criando oportunidades de otimização real do processo de produção. GÊMEOS DIGITAIS NA PROGRAMAÇÃO CAM O departamento ou área de programação de máquinas-ferramenta de uma empresa é responsável por analisar os desenhos de peças a serem produzidas, selecionar a melhor estratégia de usinagem e os meios de produção (máquina, ferramenta de corte, dispositivo de fixação, fluido refrigerante), gerar o caminho das ferramentas de corte considerando as melhores condições técnicas de operação para o conjunto máquina, material, fixação, fluído de corte e ferramenta de corte, simular esta operação garantindo a segurança da operação, mapear os eventuais desvios para efetuar as devidas correções. O profissional que executa estas tarefas é o Programador CAM ou Programador de Máquinas Ferramenta com Comando Numérico, segundo a

CBO 3171-15 do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Este profissional tem papel crucial no resultado da produção industrial. Entretanto, há que se considerar que, a despeito de todo o preparo e conhecimento que o profissional possua, ele é afetado por fatores externos como cansaço, motivação, doença, emocional, entre outros. Esse impacto afeta diretamente o resultado que ele consegue entregar no desempenho de sua função. Resumidamente, o mesmo profissional tende a desempenhar a mesma função com resultados diferentes na segunda-feira ou na sexta-feira. E, para a empresa, este fator é ainda mais impactante quando comparados dois ou mais profissionais no desempenho de funções idênticas. Portanto, é uma tendência mundial que operações repetitivas sejam executadas de maneira estruturada, assegurada e padronizada. Neste ponto insere-se a geração de programas para máquinas de comando numérico. A padronização na programação CAM Os gêmeos digitais podem ser utilizados para simulação, monitoramento, análise, predição e otimização de processos, para além da capacidade de padronização dos programas gerados. Considerando que são intrinsecamente estruturados com recursos de inteligência artificial e bases de dados completas e confiáveis (através da

virtualização e maquinação de ferramentas de corte, das máquinas-operatrizes e dos dispositivos de fixação), eles asseguram o uso dos recursos físicos disponíveis e padronizados gerando repetibilidade e confiabilidade de processos. Podem ainda ser utilizados para acompanhar o processo, e verificar se o programa CAM está funcionando adequadamente. Através dos gêmeos digitais é possível testar diferentes abordagens e realizar melhorias, os quais seriam impeditivos em testes físicos, reduzindo assim custos e tempos de produção. Os gêmeos digitais vêm ganhando espaço na indústria, juntamente com os processos da indústria 4.0, buscando sempre diminuir os custos do processo e atingir altas produtividades. Com os avanços da indústria 4.0, os gêmeos digitais podem ser utilizados também no processo de aquisição de dados em tempo real, onde gestores podem acompanhar a produtividade das máquinas, e realizar as mudanças necessárias para aprimorar a produção. Além disso, com a aquisição de dados é possível examinar outros parâmetros como temperatura, rotação, força aplicada e desgaste do conjunto (máquina e ferramenta de corte). A figura 1 abaixo ilustra a ligação do modelo digital (gêmeo digital) com o modelo físico. Os dois modelos idênticos e trocando dados.

Figura 1 – Interrelação conceitual do modelo digital com o modelo físico (Fonte: autores)

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PROCESSOS

Gêmeo digital da máquina O gêmeo digital da máquina representa, de forma fidedigna, as características reais do equipamento em um modelo digitalizado no software. Nessa digitalização da máquina é importante criar um modelo em 3D que siga rigorosamente as características reais do produto como: dimensões gerais, dimensões da mesa, velocidade de avanço, rotação máxima do spindle, deslocamento máximo em cada eixo. Nas figuras de 2 a 7 são demonstrados os gêmeos digitais de algumas máquinas-operatrizes.

Figura 4 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Hexagon Work NC)

Figura 2 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Siemens NX) Figura 5 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Autodesk Power Mill)

Figura 2 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Siemens NX)

Figura 3 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Siemens NX)

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Figura 6 – Modelo virtual de centro de usinagem (Fonte: autores, Cimatron E16)

Essa digitalização do equipamento permite um processo de usinagem mais assertivo. Algumas das motivações para o uso de gêmeos digitais da máquina no processo de usinagem são: • Eficiência: Evitar a montagem de um setup ineficiente de uma peça na máquina, a qual não pode ser usinada devido ao seu tamanho ou a limitação do deslocamento dos eixos da máquina; • Redução de custo: Reduzir os custos do processo, evitando possíveis colisões da máquina com a peça, minimizando eventuais danos do equipamento e evitando paradas repentinas na produção para realização de manutenção devido a falha do equipamento ou colisão;


TECNOLOGIA

PROCESSOS

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PROCESSOS

Segurança: Mitigar riscos, principalmente devido a choques da ferramenta com a peça. A simulação prévia da usinagem previne possíveis danos a máquina e principalmente aos operadores.

A simulação é realizada sempre antes do programa ser enviado à máquina, evitando transtornos e contratempos no processo de usinagem. A figura 7 sinaliza a sequência para a criação de gêmeo digital da máquina.

Figura 8 – Modelos virtuais de ferramentas de corte e porta-ferramentas (Fonte: autores, Siemens NX)

Figura 9 – Modelo virtual de ferramenta de corte e porta-ferramenta (Fonte: autores, Hexagon WorkNC)

Figura 7 – Passo a passo para criação de um modelo virtual de máquina (Fonte: autores)

Gêmeo digital da ferramenta de corte e porta-ferramenta A criação dos gêmeos digitais das ferramentas de corte é um passo importante para uma usinagem mais acurada. A criação das ferramentas de corte pode ser realizada através dos arquivos 3D que são disponibilizados por alguns fornecedores das ferramentas ou realizar a modelagem manual da ferramenta. Para esse procedimento de digitalização é importante garantir que as medidas sejam iguais ao modelo real, principalmente: diâmetro, raio de canto, altura e número de dentes. Além da criação da ferramenta de corte, é importante realizar o processo de criação do conjunto de porta-ferramentas. O processo de criação pode seguir a mesma sequência do utilizado para a ferramenta de corte, através dos arquivos 3D disponibilizados por alguns fornecedores. Caso não exista os modelos 3D, devem ser modelados no software de CAD. Nas figuras de 8 a 11 a são ilustradas algumas ferramentas de corte e porta-ferramentas digitalizados.

Figura 10 – Modelo virtual de ferramenta de corte e porta-ferramenta (Fonte: autores, Cimatron E16)

Figura 11 – Modelo virtual de ferramenta de corte e porta-ferramenta (Fonte: autores, Autodesk PowerMill)

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PROCESSOS

Uma biblioteca de ferramentas de corte digitalizada com as medidas corretas permite uma usinagem mais apurada, possibilitando: • Precisão: Com as medidas exatas das ferramentas de corte, o software CAM pode gerar programas com maior precisão e evitar defeitos na peça devido a medidas incorretas na ferramenta; • Evitar choques: Com as medidas exatas dos porta-ferramentas e ferramenta de corte, previnem possíveis colisões. Em especial, colisões do holder com a peça, quando é necessário usinar em lugares de difícil acesso; • Eficiência: As medidas exatas da ferramenta possibilitam a geração de percursos da ferramenta mais precisos e eficientes. Outro ponto importante para a eficiência da usinagem é o tempo de voo da ferramenta, cujos tempos podem ser consideravelmente reduzidos com os gêmeos digitais; • Agilidade: A biblioteca de ferramentas permite maior agilidade no processo de criação dos programas. Além disso, a biblioteca de ferramentas diminui a chance de erros do operador na programação. Além do processo de digitalização da ferramenta de corte, outra estratégia que permite maior agilidade na programação é a criação dos parâmetros de cortes relacionados com as bibliotecas de materiais. A biblio-

Figura 12 – Passo a passo para criação de um modelo virtual de ferramenta de corte e/ou porta-ferramenta (Fonte: autores)

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PROCESSOS

teca dos materiais deve ser mantida atualizada com os principais materiais que são usinadas. No software CAM é possível criar associação entre os parâmetros de corte de cada ferramenta e os materiais da biblioteca, viabilizando a melhor condição de remoção de cavaco. Uma ferramenta de corte pode possuir parâmetros de corte distintos para cada material. Os parâmetros de corte podem ser criados para diversos métodos de corte. Esses parâmetros são encontrados nos sites ou catálogos das empresas fornecedoras de ferramenta. Algumas empresas já disponibilizam sites intuitivos, onde é possível encontrar com facilidade os parâmetros de corte. Esses padrões de corte agilizam o processo e permitem que a usinagem seja o mais eficiente possível, explorando o máximo da ferramenta e da máquina. No processo de maquinação das ferramentas de corte é indispensável a consulta das curvas de torque e potência do motor de cada máquina. Essas informações podem ser encontradas entrando em contato com o fornecedor da máquina. Os padrões de corte das ferramentas de corte sempre devem respeitar a rotação, torque e potência de cada máquina. A figura 12 demonstra os passos necessários para a digitalização das ferramentas de corte e porta-ferramentas. Gêmeo digital do sistema de sujeição O sistema de sujeição ou de fixação possui um papel importante na usinagem, responsável principalmente pela estabilidade e amortecimentos de vibrações. A criação do seu gêmeo digital permite mais segurança no processo de usinagem, principalmente na realização de simulações. Os gêmeos digitais podem ser criados através dos arquivos 3D, que frequentemente são fornecidos por empresas de equipamentos de fixação ou ser modelados manualmente através de um software CAD. Nas figuras de 13 a 14 são representados alguns modelos virtuais de dispositivos de fixação. Com a digitalização da fixação é possível simular a usinagem garantindo, desse modo, que não exista colisão entre ferramenta e fixação. Além disso, assegura que o sistema de fixação é eficiente para o processo de usinagem. Outro ponto importante para a utilização do gêmeo digital de fixação é a simulação para verificação se o tamanho ou o tipo da fixação é ideal para a máquina. A criação do gêmeo digital de sujeição segue a mesma sequência do processo de geração de ferramentas de corte e porta-ferramentas, apresentados na figura 12. AGRADECIMENTOS A equipe da Ágile2 Consulting agradece a ABINFER – Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais por financiar este estudo e viabilizar a disseminação do conteúdo para a indústria de ferramentais do Brasil como forma de preparar, capacitar e garantir a competitividade e consequente perpetuação do setor.

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Figura 13 – Modelo virtual de dispositivo de sujeição (Fonte: autores, Siemens NX)

Figura 14 – Modelo virtual de dispositivo de sujeição (Fonte: autores, Siemens NX)

Alexandre Machado Júnior - Engenheiro Mecânico pela Faculdade de Engenharia Mecânica - UNIVILLE. Técnico em Mecânica pelo SENAI Norte. Amplo conhecimento em ferramentas e processos de usinagem. Atualmente trabalha como engenheiro de manufatura na Agile² Consulting. Sócio fundador da Agile2 Consulting. junior@agile2.com.br Stephan Dihlmann - Engenheiro Mecânico pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Realizou estágio na Euro-Fer de trabalho em ferro forjado em Castelgomberto - Itália e no Instituto Fraunhofer - Pesquisa e desenvolvimento na área de microprodução, na cidade de Berlin - Alemanha. Atualmente trabalha como engenheiro de manufatura na Agile² Consulting. Sócio fundador da Agile2 Consulting. stephan@agile2.com.br Christian Dihlmann - Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Especialista em Administração de Empresas pela Fundação Educacional da Região de Joinville - FURJ/UNIVILLE. Diretor Presidente da SNBD Consultoria Ltda.; Editor-chefe da Revista Ferramental. Sócio fundador da Agile2 Consulting. Exerce ainda as funções de: Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais - ABINFER; Vice-Presidente da ISTMA International Special Tooling & Machining Association; Vice-Presidente da VDI Brasil - Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha SC - VDI Verein Deutscher Ingenieure. Lattes http://lattes.cnpq.br/0446222929419765. christian@agile2.com.br Alexandre Machado - Técnico em Mecânica pelo CIS - Dário G. Salles. Larga experiência em processo de manufatura para construção de moldes de injeção de plástico e alumínio sob pressão, processo de usinagem de eletrodos de cobre e grafite, processo de usinagem de cavidades e componentes, e implantação e gerência de laboratório para montagens de ferramentas. Sócio fundador da Agile2 Consulting. alexandre@agile2.com.br


MBE

A JORNADA PARA FAZER MAIS COM MENOS AINDA É LONGA POR CARLOS RODOLFO SCHNEIDER

O

Brasil vem crescendo muito abaixo do que poderia e deveria, já há muitos anos, com alguns esporádicos anos fora da curva. Motivo relevante é a baixa produtividade e reduzida competitividade da nossa economia, exceção feita especialmente ao agronegócio, onde temos expressivas vantagens comparativas internacionais. Uma série de fatores interligados explicam as nossas dificuldades de competir com economias mais dinâmicas nas demais cadeias de bens comercializáveis: alta carga tributária, baixa disponibilidade de poupança interna, baixa taxa de investimentos, infraestrutura precária, serviços públicos deficientes, excesso de burocracia, engessamento do orçamento público. Para melhorar o ambiente de negócios, temos que continuar fazendo mudanças, reformas micro e macroeconômicas, que preparem o país a liberar-se da armadilha da renda média. Já fizemos importantes avanços com as reformas previdenciária e trabalhista, e temos agora uma grande oportunidade de avançar em uma reforma tributária, mesmo que parcial, para simplificar a caótica estrutura de impostos. Necessário fazer o alerta para que se resista à pressão pelo aumento da carga tributária, e para a manutenção ou concessão de privilégios para segmentos ou agentes econômicos com maior capacidade de fazer lobby, levando a aumento de carga para os demais. Muitas das amarras podem ser resolvidas com reformas infraconstitucionais, de mais fácil aprovação, a exemplo das já aprovadas Lei de Liberdade Econômica, independência do Banco Central e minirreforma política que restabeleceu a cláusula de barreira, privatização da Eletrobrás. Temos que aumentar o ritmo de ajustes, dada a ainda grande defasagem em relação às economias mais eficientes. A própria Reforma Tributária precisa ter uma segunda tranche de simplificações, e um importante esforço para redução da pesada carga de impostos, a mais elevada entre os países emergentes, que penaliza empresas e famílias brasileiras. Isso requer que o Estado precise de menos recursos, isto é, que o gasto público

seja mais eficiente. A tão aguardada Reforma Administrativa é um passo importante nessa direção, juntamente com medidas apenas gerenciais, que melhorem processos administrativos, preenchendo os cargos com quadros qualificados, cujo desempenho seja reconhecido por uma meritocracia de fato, ao contrário do que hoje acontece. Outro ponto importante a enfrentar, apontado com frequência por analistas externos, é a falta de senso de urgência no Brasil, o hábito de procrastinar as mudanças necessárias. Como exemplo, a falta de regulamentação até hoje de vários artigos da importante Lei de Responsabilidade Fiscal editada no ano 2000. Como o artigo 67, que prevê a criação de um Conselho de Gestão Fiscal (CGF), que seria uma instituição fiscal independente, um xerife das contas públicas, composto por representantes da sociedade civil e do poder público, com a missão de orientar e vigiar tanto receitas como despesas públicas. É um instrumento que outros países, que têm uma boa equação fiscal, têm usado com sucesso para aumentar a eficiência do gasto público e por consequência reduzir o peso do Estado sobre a sociedade. O poder público deve aprender a fazer mais com menos, para que também a sociedade consiga fazer mais, e especialmente o setor industrial, o mais dinâmico da economia, possa cumprir o seu potencial de contribuir com o desenvolvimento do nosso país.

Carlos Rodolfo Schneider Empresário, um dos idealizadores do Movimento Brasil Eficiente (MBE). Membro do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo – ACSP e do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação da Confederação Nacional da Indústria – CNI. crs@brasileficiente.org.br

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CANTINHO DE IDEIAS

INTERCÂMBIO BRASIL-JAPÃO DA INDÚSTRIA DE FERRAMENTAIS

Etsujiro Yokota Presidente de Honra

Christian Dihlmann Presidente

Luís Eduardo Albano VP Relações Internacionais

Roberto Eiji Kimura Membro Associado

Roberto Monteiro Spada Diretor SENAI/SP

Paulo César Camargo Membro Associado

Stephan Dihlmann Engenheiro Agile2

Juvenil Membro Associado

Alexandre A V Morais Membro Associado

Júlio Harada Membro Associado

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17ª Reunião – Situação atual e destino da indústria japonesa de moldes e matrizes

exposição de que a indústria dourada do Japão está entrando em uma era de grandes mudanças, que só ocorrem a cada 100 anos, traz uma mensagem importante e acende uma luz amarela na estratégia empresarial da ferramentaria brasileira. Aproveitar a experiência e inteligência de uma autoridade mundial como o Prof. Etsujiro Yokota é uma oportunidade ímpar e reagir, de forma rápida e assertiva, é demonstração de maturidade e evolução. Essa palestra foi realizada em 19 de dezembro de 2023 no Programa de Compartilhamento de Experiências em Gestão Tecnológica e Administrativa das Indústrias de Ferramentais, realizado pelo SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo, em colaboração com a de ABINFER – Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais. Foi definido o próximo encontro virtual para o dia 07/02/2024 (quarta-feira), as 20:00h. O título sugerido para

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a próxima reunião foi sobre as ações de sustentabilidade que a indústria japonesa de ferramentais está implantando. INTRODUÇÃO A primeira colocação de Yokota foi a pergunta: Por que a indústria de moldes do Japão é a número 1 do mundo? E responde. Ainda que se diga isso, qual o ponto chave: Em quantidade de produção? Em número de empresas? Em quantidade de funcionários? A indústria japonesa não é a número 1 na comparação em números absolutos. Então, no número de empresas ou de funcionários em relação a população? Também não. Tem os melhores prazos de entrega do mundo? Ainda não. Afinal de contas, o que significa dizer que é a número 1 do mundo? Pois ninguém contesta. Os profissionais da indústria mundial de manufatura reconhecem essa “marca” e competência japonesa. E essa “marca” precisa


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ser mantida no futuro. Na época de consumo em grande quantidade, o Japão organizou a manufatura nacional, produzindo os mesmos produtos com a mesma qualidade, em grande quantidade e com baixo custo. Como resultado, o país construiu a “marca” de manufatura número 1 do mundo. E foram os moldes e matrizes do Japão que sustentaram essa “manufatura global número 1”. Isso porque, a produção de poucos tipos de produtos em grandes quantidades é exatamente onde os molde e matrizes são empregados e são mais eficazes. Produtos de alta qualidade nascem de ferramentais de alta qualidade.

MOLDES E MATRIZES JAPONESES COMO OS MELHORES DO MUNDO Fica então a questão do motivo de se formar a imagem de que os moldes e matrizes japoneses são os melhores do mundo. Na visão de Yokota, o diagrama 1 transcreve as principais razões. Como resultado dessa evolução, o Japão se tornou o principal país para fornecimento de ferramentais e a amplitude da base de clientes se tornou a maior do mundo. Dessa forma, transformou todos os setores em primeira linha. Não há outro país no mundo que tenha tantos mercados domésticos de clientes de moldes e matrizes (Diagrama 2). E

Diagrama 1 – Mudanças no desenvolvimento industrial e impacto no setor de ferramentais

Diagrama 2 – Principais áreas atendidas por ferramentais japoneses

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a variedade de tipos de ferramentais fabricada no Japão é a maior do mundo, portanto é a número 1. Nenhum outro país do mundo consegue fabricar tantos tipos diferentes de ferramentais (Diagrama 3). Associado a estes fatos, a cultura japonesa é adequada e altamente direcionada para a produção de ferramentais de alta qualidade. Uma das principais características é que as empresas são compostas de membros de famílias, parentes e amigos de confiança. Portanto, do projeto a usinagem e montagem, unem esforços tendo como lema “fazer bons produtos”. Assim, foi construído um sistema de fabricação de ferramentais de alta qualidade,

sem paralelo no mundo. Esta metodologia e característica surgiu da cultura japonesa de “norenwake”, que consiste em ajudar funcionários de longa fidelidade a estabelecerem filiais e compartilhar a clientela. Por menor que seja a empresa no Japão, é possível fornecer ferramental confiável e de alta qualidade. Isso ocorre porque a cultura japonesa de “confiança mútua”, que é única no mundo, é compatível com a cultura de fabricação de ferramentais. NOVA SITUAÇÃO Porém, a situação mudou! A produção em grande quanti-

Diagrama 3 – Setores de alto desempenho na indústria japonesa

Diagrama 4 – Linha do tempo das mudanças de mercado

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dade não é mais a tônica de mercado. É uma “batalha perdida”. A mudança do mercado japonês de clientes de ferramental é ilustrada no diagrama 4. A indústria de manufatura do Japão está entrando em uma era de mudança da produção de pequena variedade e grande voluma para produção de grande variedade e baixo volume. Até agora, os aspectos mais importantes da manufatura japonesa eram a qualidade (Q), o baixo custo (C) e os prazos de entrega (D). Essa característica de mercado é excelente para produção de altos volumes com baixa variedade, que começou a partir da era do alto crescimento. AMBIENTE DE FABRICAÇÃO ATUAL Globalmente, há várias mudanças em andamento, entre elas a estagnação da economia chinesa (e das economias do hemisfério norte) e ascensão do sul global, visível priorização do interesse próprio de cada país e colapso do sistema global de aquisição (suprimentos), aumento da importância das atividades com objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) em função da rápida mudança ambiental (as empresas estão sendo forçadas a se tornarem “neutras em carbono”), aumento das previsões de mudanças radicais no ambiente de negócios em função do desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial (IA) generativa e outras não menos importantes. No Japão, do ponto de vista doméstico, há uma mistura de dificuldades e esperança. No viés “estamos em apuros”, o aumento de vários riscos econômicos em função do declínio populacional. Por exemplo, diminuição da população ativa, redução do mercado consumidor geral, envelhecimento da população e outros). Ainda, o atraso na digitalização observada internacionalmente. No viés “olha a chance”, o retorno do setor de manufatura ao mercado interno, sob a perspectiva de uma moeda (Iene) mais fraco e segurança econômica e a mudança industrial drástica no setor automotivo, a força da indústria japonesa, em função da mudança para veículos elétricos (EV), gerando o início da reorganização da cadeia de suprimentos em grande escala. Mais especificamente, na indústria de ferramentais japonesa, além das mudanças radicais nos ambientes internacional e doméstico, há: • Mudança da produção de alto para baixo volume e grande variedade. O encolhimento do mercado de consumo geral e o aumento dos equipamentos eletrônicos também causaram impacto; • Grande elevação dos custos de fabricação, em materiais, infraestrutura, mão de obra e impostos; • Conversão para EV´s no setor automotivo, produto do maior segmento de clientes; • Envelhecimento dos administradores e funcionários e falta de recursos humanos a partir da geração mais jovem (estão deixando o setor de manufatura em direção ao setor de serviços). Hoje, em todo o Japão, há uma grande mudança em relação ao pensamento tradicional que era “se custa muito caro no Japão, não há necessidade de fabricar no país”. Há um grande boom de retorno ao mercado interno. O pensamento agora é: Tudo o que pode ser feito no Japão, deve ser feito no Japão O novo lema é “vamos para casa”. Isso está acontecendo rapidamente e é uma ótima notícia para a indústria de manufatura doméstica. A pergunta que remanesce é: haverá pessoas para produzir em casa? O segmento produtivo da população mudou muito em 60 anos (Diagrama 5). Para lidar com essa realidade, é preciso mais que dobrar a produção com a metade da população produtiva existente no momento.

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Hand in hand for tomorrow


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Diagrama 5 – Situação da manufatura japonesa frente ao retorno da produção “para casa”

No segmento de ferramentaria, o Japão também passou por mudanças significativas nos últimos 10 anos, conforme mostra o diagrama 6. E as mudanças apresentadas serão ainda mais intensas em futuro próximo. As mudanças estão ocorrendo rapidamente, com destaque nas empresas com até 10 funcionários. Assim sendo, o impacto é o declínio das microempresas e as eventuais fusões e aquisições com e por grandes empresas. Também no fator “valor de produção” percebe-se um decréscimo, apesar de a produção per capita (produti-

vidade) ter apresentado uma sensível melhora, como demonstra o tabela 7, resultado de um maior investimento de capital. Considerando as projeções baseadas nos dados apresentados, o que deverá ocorrer nas próximas duas décadas? O diagrama 8 traz um cenário estimado, que indica números desejáveis para o setor de produção de ferramentais. Entretanto, o pênalti será a mortalidade das microempresas e o aumento do número de grandes empresas.

Diagrama 6 – Situação da manufatura japonesa frente ao retorno da produção “para casa”

Diagrama 7 – Situação da manufatura japonesa frente ao retorno da produção “para casa”

Diagrama 8 – Projeções para os próximos 20 anos em número de empresas e funcionários

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Diagrama 9 – Projeções em termos de valor de produção e produtividade

Considerando que a margem de lucro marginal seja de 65% do valor do ferramental, o lucro marginal será de 14,3 bilhões de Ienes (476 milhões de Reais), cerca de 10 bilhões de Ienes podem ser pagos aos funcionários. JAPÃO 2040 Em 2040 ocorrerá um problema no Japão. O sistema de transportes entrará em colapso em função da escassez de motoristas de caminhão. E, naturalmente, a indústria de ferramentais está exatamente no mesmo ambiente. Empresas relacionadas à manufatura serão afetadas, a começar por empresas de materiais de pequeno porte. O diagrama 10 mostra a cadeia de suprimentos e o efeito da falta de profissionais. Na visão de Yokota, “o problema comum entre as indústrias afetadas é que não são setores populares para a opinião pública”. Na medida que “desce” no sentido da seta, o efeito do problema em 2040 será ainda maior. A resolução deste problema passa inevitavelmente pela redução e até eliminação do fluxo T1 ~ T3. Certamente as empresas T3 desaparecerão em breve. O desaparecimento das empresas T3 já começou no Japão. O diagrama 11 mostra essa “mecânica” que está ocorrendo. A divisão entre empresas de ferramental bem-sucedidas e decadentes se deve também a transformação na cadeia de suprimentos.

Diagrama 10 – Fluxo na cadeia de suprimentos

Diagrama 11 – Mecanismo de transformação na cadeia produtiva de ferramentais

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ONDAS DE DEMANDA Nas ferramentarias existe um desafio permanente. São as “ondas de demanda”. Essa foi a causa de algumas expressões populares serem criadas no Japão, como “ferramentarias e furúnculos estouram quando crescem” ou “ferramentarias e biombos tombam fácil quando são altos”. No Japão as ferramentarias não expandem facilmente seus negócios. O conceito de ferramentaria ser pequena ou média está enraizado na cultura do país. Mais de 80% das ferramentarias têm menos que 10 funcionários. No futuro há necessidade de ter a visão de expansão dos negócios, sob risco de ser afetado por ondas de demanda. E como enfrentar a onda de demanda? O caminho escolhido vai depender da diretriz estratégica pensada para a administração da empresa. O diagrama 12 orienta algumas estratégicas para encarar duas realidades: da expansão ou da redução. Perceba que expansão é

diferente de “inchamento”. A sigla M & A no diagrama significa fusão e aquisição (Merge & Aquisition). Seja qual for o caminho de opção, o desenvolvimento tecnológico e a coleta de informações são fundamentais e decisivos. CONCLUSÕES Este material é muito rico e denso e serve para orientar os leitores em direção à reflexão do futuro dos seus negócios, principalmente no segmento de ferramentaria. Na próxima edição vamos concluir esse conteúdo refletindo sobre os desafios futuros que a indústria de ferramentais enfrentará. O Brasil e os empresários brasileiros precisam aprender com estas lições e articular todas as ações possíveis e necessárias para acompanhar esse tsunami tecnológico, cultural e comercial que já chegou por aqui. Vamos seguir o exemplo japonês e pregar a frase: Tudo o que pode ser feito no Brasil, deve ser feito no Brasil

Diagrama 12 – Estratégias para redução ou expansão do negócio ferramentaria

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MITOS NAS VENDAS COMPLEXAS: VERDADES ESTIMULANTES

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POR RODRIGO PORTES

eil Rackham é mais conhecido como o autor de Spin Selling©, Major Account Sales Strategy e Rethinking the Sales Force, entre outros livros, e como o fundador da Huthwaite Inc., empresa que inicialmente era a detentora dos direitos sobre a consagrada metodologia SPIN®. O que talvez não seja tão conhecido é a forma pouco usual pela qual Neil entrou no campo da melhoria da performance de vendas. Após a conclusão de seu doutorado na Universidade de Sheffield, na Inglaterra, Neil passou a se interessar pelo tema da aplicação da análise comportamental às habilidades interativas complexas. A partir daí, ele desenvolveu técnicas para medir comportamentos on-the-job — e assim, identificar quais comportamentos distinguem as pessoas de alta performance de seus colegas de menor sucesso. Os primeiros beneficiários dessas técnicas de análises de comportamentos foram os professores e os terapeutas. Entretanto, logo se tornou visível que essa técnica sofisticada poderia ser útil também a profissionais de outras áreas. Neil não sabia naquele momento que estava a ponto de revolucionar o mundo das vendas complexas. Patrocinado pela IBM e outras corporações, ele investiu doze anos pesquisando visitas de vendas. Neil e seu grupo de pesquisadores do Projeto Sigma observaram 35.000 visitas de vendas em 23 países. “Cada especialista quer ser o ‘maior alguma coisa’ do mundo. Eu posso dizer que sou o ‘maior voyeur de vendas’ do mundo.” – brinca Neil, o autor do SPIN® Selling. A PESQUISA Até então, praticamente todas as pesquisas de vendas eram conduzidas através de entrevistas ou questionários. Pesquisadores treinados nunca tinham sido convocados para, efetivamente, observar e analisar visitas de vendas e verificar o que os vendedores de sucesso faziam que os medianos não. Uma empresa pode contratar dois vendedores, com formação e experiência similar, mandá-los ao mesmo treinamento de vendas, e descobrir que eles atingem resultados dramaticamente diferentes. Um deles pode exceder suas cotas

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de venda sem muito esforço enquanto o outro se mata para conseguir uma simples venda. E não adiantaria perguntar ao vendedor de alta performance o que ele fez que funcionou tão bem. Vendedores bem-sucedidos normalmente não sabem explicar o porquê — como outras pessoas de alta performance de qualquer campo, eles fazem as coisas naturalmente, sem se dar conta do que os está tornando mais bem-sucedidos. Na ausência de dados concretos sobre comportamentos eficazes de vendas, gerações de vendedores foram doutrinadas no “conhecimento comum” da profissão — e muito desse conhecimento, hoje, sabemos ser equivocado ou contraproducente. A pergunta para a qual a IBM e as outras grandes companhias patrocinadoras necessitavam de uma resposta urgente era: No ambiente atual, podemos confiar nos conselhos tradicionais de como vender? Os achados de Neil Rackham desafiaram os mitos mais consagrados no mundo dos negócios e, em alguns casos contrariaram suas próprias suposições mais antigas. Vamos então examinar dez desses mitos e oferecer uma recomendação prática do “maior voyeur de vendas” do mundo, e que também é um dos mais influentes e respeitados pensadores no campo da melhoria de performance em vendas. MITO #1 — “VENDA É VENDA – UM BOM VENDEDOR PODE VENDER QUALQUER COISA” Certamente é verdade que habilidades de venda desenvolvidas em uma indústria podem ser aplicadas em outra. Mas habilidades desenvolvidas em vendas simples podem na verdade prejudicar o vendedor em vendas complexas. Obviamente, as vendas complexas levam mais tempo, são mais complexas e requerem mais estratégia do que as vendas simples. Mas muitos profissionais de venda não têm consciência de que cada um dos dois tipos requer habilidades fundamentalmente diferentes. • Em vendas simples, o vendedor fala quase todo tempo, e pode obter a venda graças à sua alta energia, entusiasmo e apaixonadas descrições do produto. Uma enxurrada de características frequentemente


funciona. Em vendas complexas, o cliente precisa falar mais que o vendedor. A pesquisa de Neil demonstrou que os vendedores de alta performance tendiam a usar um padrão de perguntas (SPIN®) que permitem ao cliente falar enquanto, ao mesmo tempo, o vendedor move a venda na direção da conclusão.

Quando esses fatos começaram a emergir nas visitas observadas, os pesquisadores do Projeto Sigma se perguntaram se estes achados seriam consistentes, independentemente da indústria do cliente, nacionalidade ou formação cultural. O interessante é que os resultados nos 23 países foram uniformes. MITO #2 — “PARA OBTER MAIS PEDIDOS, FAÇA MAIS VISITAS” A primeira medida que usualmente gerentes tomam para melhorar seus resultados de vendas é pedir para que sua força de vendas faça mais visitas. Afinal, se a equipe dobrar o número de visitas, deveria dobrar o número de vendas… Bem, talvez não o dobro, mas certamente um aumento significativo, certo? “Trabalhando em duas divisões diferentes de uma mesma companhia de tecnologia”, diz Neil, “nós encontramos evidências de que isso era um mito quando se tratava de grandes vendas”. Na divisão que vendia equipamentos eletrônicos de preços relativamente baixos, havia uma correlação positiva entre uma maior atividade e o aumento das vendas. Porém, no setor mais avançado, de maior valor, havia uma correlação negativa entre o aumento de visitas e o resultados das vendas. Os vendedores que fizeram um número médio de visitas venderam mais do que aqueles que fizeram um número grande de visitas. “É claro que o contrário não é verdadeiro” — afirma Neil — quanto menos visitas, não será maior a quantidade de vendas. Se você não faz visitas, você não vende”. Mas em geral, aumentar o número de visitas que o vendedor faz, não irá ajudar suas vendas; irá prejudicá-las (existe uma exceção a essa regra, como vamos ver em breve). A chave para o sucesso é fazer boas visitas de venda. E boas visitas requerem boa preparação e uma estratégia. Com o objetivo de fazer mais visitas por dia, vendedores normalmente reduzem o tempo de planejamento e preparação, o que significa que as vendas têm menor chance de obter sucesso. Se, no entanto, um vendedor tem tempo para fazer mais visitas e para se preparar cuidadosamente para cada uma delas, mantendo a qualidade da interação com o cliente, ele deveria fazê-las pois, provavelmente, ele ainda não está fazendo um número ideal de visitas. MITO #3 — “SEMPRE FALE COM QUEM DECIDE” Antes da pesquisa do Projeto Sigma, a sabedoria convencional dizia que quanto mais alto na hierarquia da organização do cliente o vendedor pudesse estabelecer contato, melhor. Por que desperdiçar semanas ou até meses na subida da escada da decisão se você pode ir direto ao topo? Mas, a pesquisa demonstrou claramente que vendedores de sucesso não faziam contato com um nível mais alto do que seus colegas de menos sucesso. Pode ser um erro fatal visitar o topo antes de estar pronto para isso. Vendedores mal preparados desperdiçam seu tempo com compradores do topo da hierarquia falando sobre as características

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de seus produtos. Sem um bom entendimento dos problemas do cliente, eles não são capazes de mostrar como seu produto atende às reais necessidades da organização. Neil cita o caso do filho de um senador norte-americano que foi contratado para uma posição de vendas em uma empresa listada na Fortune 500. — “Eles argumentaram que seu acesso fácil aos CEOs das organizações, por todo o país, faria dele um vencedor certo. Sem dúvida ele não teve nenhum problema para marcar entrevistas com os ‘mandachuvas’, mas por não ter falado com mais ninguém, para entender que problemas necessitavam ser solucionados pelos clientes, ele não pode montar um caso convincente para a solução de que dispunha. Em vez de obter pedidos, ele simplesmente era solicitado a “dar lembranças ao seu pai”. Enquanto isso, seus despretensiosos colegas de trabalho fechavam negócios ao falarem com o nível em que os problemas existiam – em geral, na gerência média das organizações.” — Primeiro, entenda os problemas do cliente. Então você será capaz de construir um caso que você, ou alguém dentro da organização, possa levar para um decisor. MITO #4 — “USE BASTANTE PERGUNTAS ABERTAS – ELAS SÃO MAIS PODEROSAS DO QUE AS PERGUNTAS FECHADAS” Entre os profissionais de vendas, existem vendedores de campo, consultores, gerentes e treinadores que têm uma fé inabalável no poder das perguntas abertas. O objetivo de fazer perguntas abertas é levar o cliente a falar mais – para “abrí-lo” – encorajando-o a dar respostas longas, o que é melhor do que perguntas fechadas que seriam respondidas com um simples “sim” ou “não”. Foi com grande relutância que o time do Projeto Sigma concluiu que o “poder das perguntas abertas” era um mito. Neil escreveu em seu livro Managing Major Sales: “Nós ficamos surpresos de ver que não havia uma relação mensurável entre o uso das perguntas abertas e o sucesso. Visitas com muitas perguntas fechadas tinham a mesma proporção de fechamentos e avanços”. Isso não é tão estranho como pode parecer de início. Em teoria perguntas abertas resultam em respostas abertas, enquanto perguntas fechadas resultam em repostas de uma só palavra, mas esse não é sempre o caso na prática. No contexto de uma visita de venda, 60% de todas as perguntas fechadas recebem uma resposta mais longa do que uma palavra. Em outras palavras, perguntas fechadas, com maior frequência recebem respostas abertas e cerca de 10% das perguntas abertas recebem uma resposta fechada. Imagine um vendedor inexperiente fazendo uma pergunta aberta do tipo “O que você pode me dizer a

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respeito do seu Business Plan?” só para ter a resposta aborrecida do cliente, “Nada”. Até certo ponto, a divisão de perguntas em abertas e fechadas, é algo artificial, a coisa mais importante é fazer perguntas hábeis que movam a venda adiante. “Se você está preocupado com coisas do tipo ‘quantas perguntas abertas estou fazendo?’, você está arrumando as cadeiras no deck de um navio que está naufragando. O que deveria estar lhe preocupando é se as perguntas que você faz têm como foco os problemas que são importantes para o cliente.”, diz Neil. MITO #5 — “TENTE FECHAR LOGO, TENTE FREQUENTEMENTE” De acordo com o mito, fechar a venda seria a parte mais importante de uma visita — mas, a maneira como você fecha a venda determina o quão bem-sucedido você pode ser. De fato, o fechamento é muito menos importante do que aquilo que acontece antes em um ciclo de vendas. As vendas de maior sucesso fecham-se sozinhas. Durante minhas palestras e treinamentos de vendas, sempre destaco a relevância de fazer perguntas durante uma visita. No entanto, é interessante notar que vendedores de alta performance não perguntam pelo pedido em si. Na maior parte das vezes você deve sugerir ao invés de pedir. Existem três passos para tornar uma visita em uma conclusão de sucesso: • Verifique se existem preocupações. O comprador pode ter problemas que ainda não foram solucionados; • Sumarize e re-enfatize os pontos-chave (“Está claro então, que se implementarmos isso, na primeira fase, a eficiência vai aumentar em torno de 15%, gerando uma economia de R$ 480.000 no primeiro ano…”); • Proponha uma ação que faça a venda avançar (“Então, um próximo passo seria obtermos uma reunião com a sua chefia para verificarmos esses números…”). MITO #6 — “VOCÊ NUNCA TEM UMA SEGUNDA CHANCE DE CAUSAR UMA BOA PRIMEIRA IMPRESSÃO” Com relação ao terceiro passo do mito anterior, vale notar que o vendedor propõe, ou sugere, uma “ação”. Aqui, de novo, existe uma diferença entre as vendas simples e as complexas. Em vendas simples, a única ação é provavelmente o pedido. Em vendas complexas existe um grande número de possíveis ações intermediárias que levam para perto do pedido. Chamamos essas ações de “avanços”. Neil recomenda que, ao invés de se preocupar com o fechamento, o vendedor deveria se preparar para a visita pensando em tantas possibilidades de avanço quanto possível. A melhor prática aqui é planejar uma variedade de avanços flexíveis para cada visita, tendo como objetivo o maior


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“aumento de compromisso” que você imagine que seja realisticamente possível atingir. Entre os profissionais de vendas muitos estão convencidos de que a abertura, ou abordagem, é uma das partes mais importantes da visita. “Os primeiros 60 segundos fazem ou desfazem a venda”, eles diriam a você. Mas, a pesquisa não mostra qualquer correlação entre as aberturas e o sucesso – exceto em vendas simples. Os primeiros segundos são de fato importantes quando o ciclo completo da venda consiste de uma única visita, como na venda de porta em porta. Entretanto, na venda complexa os compradores irão negligenciar uma fraca primeira impressão caso eles entendam que o vendedor pode resolver um problema para eles. Se a parte mais importante da visita não é a abertura nem o fechamento, então, qual seria? Na metodologia SPIN®, uma visita de vendas tem quatro estágios: Abertura, Investigação (descobrindo as necessidades do cliente), Demonstração das capacidades (mostrando que você pode atender àquelas necessidades) e Obtenção do compromisso (obtendo o avanço). O estágio mais importante é a investigação – você não consegue fechar um negócio sem entender os problemas do seu cliente.

Ainda assim, uma abertura hábil é muito importante. Uma boa abertura precisa fazer duas coisas: • Estabelecer uma razão para a discussão; • Obter a permissão para o vendedor fazer perguntas. Uma abertura termina quando o comprador concorda em responder às suas perguntas. Suponha que você esteja fazendo uma venda por telefone, um primeiro contato frio, e cai em uma secretária eletrônica: você deixa sua abertura no gravador? Neil diz que nenhuma pesquisa foi feita nessa área, mas você deve sempre dar uma razão ao cliente para retornar sua ligação. Deixe uma mensagem que estabeleça uma razão para a discussão, mas não ofereça uma solução. MITO #7 — “NÃO SE FAZEM BONS VENDEDORES, ELES JÁ NASCEM PRONTOS” Existe um tipo de personalidade em particular que se encaixa melhor no perfil de vendedor? Em uma palavra: Não! Mas, alguns mitos se tornam profecias autorrealizáveis. Estudos feitos nos anos 40 e 50 mostraram haver mais pessoas extrovertidas entre vendedores do que na população em geral. Estudos mais recentes, entretanto, não mostram uma correlação muito forte. O que mudou? Nada – exceto o estereótipo! Companhias

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que antes buscavam ativamente por pessoas extrovertidas para as posições de vendas agora entendem que muitos tipos de personalidade podem aprender habilidades de vendas e terem o perfil de um vendedor eficaz. Pela perspectiva do cliente, o que ele quer de uma pessoa de vendas? A maioria esmagadora dos clientes deseja alguém em quem eles possam confiar. “Sinceridade é a coisa mais importante. Se você puder falsificar isso, você está feito!”, diz a velha piada. O fato é que mesmo vendedores genuinamente sinceros frequentemente são incapazes de gerar confiança. Clientes não conseguem enxergar a sinceridade ou sentir a integridade. Eles só podem ver as ações concretas. Clientes não estão procurando um tipo de personalidade em particular para ajudar a tocar o seu negócio — eles estão procurando alguém que demonstre capacidade de entregar a solução correta. MITO #8 — “OBJEÇÕES SÃO BEM-VINDAS, ELAS SÃO UM SINAL SEGURO DO INTERESSE DO COMPRADOR” Esse é um mito que persiste apesar das evidências em contrário serem muitas. Assim como outros mitos, a sua razão de existir é que ele é reconfortante. Permite que se pense que quando um cliente expressa ceticismo sobre o produto ou serviço, significa que se está entrando em um diálogo significativo. A realidade é que objeções são uma barreira entre você e o seu cliente – e você não quer uma barreira! Objeções não devem ser temidas, mas, com certeza, não devem ser bem-vindas. A objeção é uma declaração do cliente de que ele não quer o que você está oferecendo – possivelmente porque é muito caro, mas mais provavelmente porque ele não vê uma solução em seu produto ou serviço. “Nossa máquina é a mais rápida do mercado”, diz o vendedor, e o cliente replica, “Mas velocidade não é um fator importante para nós”. Vendedores de sucesso recebem muito menos objeções do que seus colegas de menos sucesso. Por quê? Porque em vez de manejar as objeções, eles previnem objeções. No exemplo acima, ao invés de falar sobre as características do produto (é mais rápido), um vendedor treinado e experiente empregaria a metodologia Spin® para perguntar: “Qual a importância da velocidade para você?” Então, sabendo que a velocidade não é importante, ele poderia evitar que a conversa fosse em direção a uma objeção do comprador. O número de objeções pode ser reduzido em mais de 50% quando os vendedores são treinados a: • Fazer perguntas que descubram as necessidades dos clientes; • Somente falar sobre características do que estão oferecendo no momento em que elas forem relevantes para as necessidades do cliente.

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Vendedores podem confirmar isso com sua própria experiência: Quando eram novos na profissão de vendas, não recebiam mais objeções do que recebem hoje? A maioria dos consultores de vendas concorda que as objeções diminuem com a experiência. As objeções que não podem ser prevenidas, em geral, são as mais sérias. A melhor forma de manejá-las é ser franco, reconhecer os pontos fracos e então se concentrar nos pontos fortes e mais competitivos. MITO #9 — “NUNCA ATAQUE A CONCORRÊNCIA!” Muitas organizações acreditam que não se deve sequer mencionar a concorrência, que qualquer comentário negativo a ela pode voltar-se contra o vendedor e causar danos a sua negociação. Esta costumava ser a política da IBM – a nenhum vendedor era permitido mencionar qualquer competidor ou produto concorrente pelo nome em qualquer ponto do ciclo da venda. Mas, a pesquisa feita por Neil demonstrou que vendedores de alta performance falavam da concorrência se o cliente quisesse. Apesar de não passarem informações sobre um competidor voluntariamente, se o cliente solicitasse uma comparação com um rival, eles não se esquivavam de responder. O fator crítico é como falar sobre a concorrência. A prática mais indicada é a de mudar os termos da discussão, das fraquezas do concorrente para os seus pontos fortes. Quando o cliente diz, “Fale-me sobre a máquina da SlowCo”, o vendedor pode ficar tentado a responder “É uma das máquinas mais lentas do mercado – 40% mais lenta do que a nossa!”. Mas, é melhor que ele diga: “SlowCo? Sim, nossa máquina é 40% mais rápida do que a deles. Na verdade, a nossa máquina é uma das mais rápidas do mercado!”. Outra tática pouco utilizada, porém muito eficaz para falar da concorrência, é a de salientar as fraquezas genéricas dos concorrentes sem ser crítico a uma companhia ou produto especificamente. Suponha, por exemplo, que um vendedor esteja representando uma pequena empresa que está brigando por uma fatia do negócio com uma das maiores indústrias do mercado. “Como você se compara com a GiantCo?” pergunta o cliente. Em vez de responder “A GiantCo é grande demais para oferecer um serviço personalizado”, o vendedor competente responde: “Bem, existem muitas diferenças entre uma grande companhia e uma pequena companhia. Nós somos uma pequena companhia, assim, nós somos capazes de dar uma atenção pessoal a cada uma das necessidades de nossos clientes. quando uma companhia cresce de tamanho, se torna mais difícil fazer isso, em vez de ser um dos 50 clientes você passa a ser apenas mais um dos seus 5.000 clientes”.


G E S TÃO

MITO #10 — “DÊ MAIS ATENÇÃO ÀS SUAS MAIORES CONTAS” Há pouco mais de dez anos, as maiores contas tendiam a ser as mais lucrativas. E, na medida em que recebiam mais atenção, mais lucrativas se tornavam. Entretanto, agora vivemos uma era em que as antigas regras basicamente não se aplicam mais. As contas mais rentáveis podem ser muito bem as contas médias. “Suas maiores contas podem se tornar em uma dor de cabeça, ao requererem uma série de recursos e espremerem você tão duramente em margens que você termina por operar com margens mínimas. Contas médias, por outro lado, podem ocupar um espaço onde a competição não é tão intensa e margens maiores são possíveis. Por conseguinte, oferecem potencial para um negócio mais lucrativo. Companhias inteligentes não estão mais fazendo coisas “obscenas” para seus clientes simplesmente por causa do tamanho da conta. Em vez disso, elas estão olhando para o potencial, a lucratividade e a habilidade de manter um fluxo de receita. E estão descobrindo que as contas mais valiosas, em termos de valor a longo prazo, não são necessariamente suas maiores contas. Aqui cabem duas perguntas estratégicas:

Como uma empresa aloca seus recursos de maior talento? Tradicionalmente, os vendedores de melhor performance têm sido alocados às maiores contas. Como vimos isso pode ser um erro; Muitos vendedores têm em seu território uma faixa de clientes: como eles investem o seu tempo e energia? Gerentes de vendas geralmente ensinam às suas equipes o “Princípio de Pareto”, ou “regra 80/20”: 80% dos lucros vêm de 20% dos clientes. Esse é um princípio básico importante, contanto que não se confunda clientes lucrativos com clientes grandes.

RODRIGO PORTES – Graduado em Eng. Elétrica, com MBA Executivo em Marketing e especializações em Gestão Executiva de Vendas, Negócios e Indústria 4.0. Trabalhou mais de 28 anos em posições de liderança na área comercial em renomadas empresas multinacionais do setor industrial, como Rockwell Automation, Siemens, Parker Hannifin, GE e Norgren. É autor de 4 Ebooks sobre Vendas B2B, Vendas Digitais e Indústria 4.0. Atualmente é palestrante, mentor e consultor de vendas B2B industriais e indústria 4.0. contato@rodrigoportes.com.br

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G E N T E & G E S TÃO

O FEEDBACK NOSSO DE CADA DIA!

O

P O R M I C H E L L E B O R C H A R D T - PA U L O S I LV E I R A

início de cada ano costuma ser um período de avaliação. Avaliação do planejamento, das metas, do orçamento e avaliação da performance dos colaboradores. E quando falamos em avaliação, a primeira palavra que nos vêm à mente é feedback. O feedback é qualquer informação que você recebe sobre si mesmo. Em sentido mais amplo, é a maneira como passamos a nos conhecer através das nossas próprias experiências e das de outras pessoas – ou seja, a maneira como aprendemos com a vida. Mas quando sentimos que um feedback severo se aproxima, não é incomum ficarmos tentados a dar meia-volta e sair correndo. Crescemos ouvindo: feedback é bom para você. Você cresce e fica melhor, não é isso? Por que razão então, se o feedback é algo bom, sentimos medo

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e repulsa? O grande ponto é que além de nosso desejo de aprender e evoluir, queremos algo mais, que é fundamental para os seres humanos: ser amados, aceitos e respeitados assim como somos, e o feedback em si normalmente indica que nosso jeito de ser não está tão bem. Organizações normalmente capacitam suas lideranças na prática de dar o feedback, com técnicas e roteiros que aprimoram a forma de conduzir a conversa para que seja o mais eficiente possível. No entanto, se a pessoa que recebe o feedback não está preparada para essa conversa ou não tem a habilidade necessária para extrair o melhor desse momento, qualquer técnica ou sistema se torna falível. Acreditamos que a capacidade de aceitar bem um feedback não é uma característica inata, mas uma competência que pode ser desenvol-

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vida. Receber bem o feedback não quer dizer que você tenha sempre de aceitá-lo. Significa envolver-se na conversa com habilidade, fazendo escolhas inteligentes sobre se vai usar e como usar a informação e o que você está aprendendo. Trata-se de administrar seus gatilhos emocionais de modo a poder assimilar o que a outra pessoa diz e estar aberto para se enxergar de uma forma nova. A maior parte das pessoas lida bem com feedback positivo, mas o feedback que nos deixa confusos, com raiva ou arrasados, esse tipo de retorno nos irrita. Nossa capacidade de comunicação fica comprometida, não conseguimos pensar direito, não conseguimos aprender, só defender, atacar ou sair em retirada. Mas deixar de lado nossas reações inflamadas ou fingir que elas não existem não resolve nada. Tentar ignorar uma reação dessas sem identificar sua


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causa é como combater um incêndio desligando o detector de fumaça. Os gatilhos são obstáculos, sim, mas não apenas isso. São também informações, um mapa, capaz de nos ajudar a localizar a raiz do problema. Entender nossos gatilhos e descobrir como desativá-los é o segredo para administrar nossas reações e encarar conversas de feedback com inteligência. Classificamos esses gatilhos em: gatilhos de verdade, gatilhos de relacionamento e gatilhos de identidade, cada um deles acionado por diferentes razões e que provocam reações e respostas diferentes. Os gatilhos de verdade são acionados pelo próprio conteúdo de um feedback sem cabimento, desnecessário ou simplesmente inverídico. Em resposta, nos sentimos indignados, ofendidos e raivosos. Há muitas e boas razões para não aceitar um feedback, e a primeira da lista é sempre a mesma: ele está errado. A recomendação é inadequada, a avaliação é injusta, a percepção que a pessoa tem a nosso respeito está desatualizada ou incompleta. Rejeitamos, nos defendemos ou contra-atacamos — às vezes verbalmente, mas sempre em pensamento. A primeira coisa a fazer para avaliar um feedback é tentar entender com que tipo de informação estamos lidando. Você decide mostrar a seu par na empresa o esboço da primeira apresentação que irá realizar para a diretoria. Nessa etapa da sua jornada, tudo o que você precisa é um pouco de incentivo, algo do tipo “Bacana, continue nesse caminho”. Mas, ao invés disso, você recebe uma lista de dez itens que precisa corrigir. Podemos inverter esse cenário: você mostrou o trabalho a seu par esperando uma lista de dez coisas para corrigir, mas ao invés disso recebe um “Bacana, continue nesse caminho”. Como isso vai ajudá-lo a melhorar? Saiba o que você quer e saiba o que está recebendo. A correspondência é importante. Parece óbvio, parece fácil, mas

antes de decidir o que fazer com a informação que recebeu no feedback, assegure-se de tê-la entendido. Entender o que a outra pessoa quer dizer — o que ela está enxergando, o que a preocupa, o que ela está propondo — não é tão simples. Na verdade, é bem difícil. Já ouviu falar em ponto cego? Na prática, o ponto cego é a faixa onde nosso campo de visão é obstruído. É claro que você não tem pontos cegos, mas com certeza sabe que seus colegas, sua família e seus amigos têm. Essa é a natureza dos pontos cegos. Além de sermos cegos para algumas coisas a respeito de nós mesmos, somos também cegos para o fato de sermos cegos. Há vezes em que o feedback que sabemos que está errado está de fato errado. Mas há vezes em que o feedback simplesmente entrou em nosso ponto cego. Administrar gatilhos de verdade não é fingir que há alguma coisa para aprender nem dizer que alguma coisa está certa quando você acha que está errada. Trata-se de reconhecer que as coisas são sempre mais complicadas do que parecem e esforçar-se para entender, inicialmente. Mesmo quando você conclui que 90% do feedback é fora de propósito, os 10% restantes podem ser exatamente aquilo de que você precisa para crescer. Os gatilhos de relacionamento são incitados pela mesma pessoa que está nos oferecendo o feedback. Todo feedback é influenciado (e às vezes contaminado) pela relação que existe entre quem dá e quem recebe. Podemos ficar alterados por alguma coisa a respeito do emissor — sua credibilidade (ou falta dela), sua integridade (ou sua ausência), seus motivos (questionáveis). Também podemos ficar nervosos pelo modo como nos sentimos tratados por essa pessoa. Ela tem consideração por mim? Está dando o feedback de forma respeitosa? Por e-mail? Está achando que isso é algum tipo de brincadeira? Não distorça: separe o quê de quem. Os gatilhos de

relacionamento provocam muitas vezes mágoa, desconfiança e até ódio. O único jeito de escapar disso é separar o feedback dos problemas de relacionamento que ele desencadeia, discutindo ambas as questões com clareza e separadamente. Na prática, quase nunca fazemos isso. Pelo contrário, na condição de receptores, nos prendemos às questões de relacionamento e deixamos o feedback original escapar. Quem dá o feedback nos diz que precisamos mudar, e em resposta pensamos: “Você acha que o problema sou eu? Engraçado, porque é óbvio que o problema é você”. Você estabelece metas de vendas muito altas para me motivar. Mas isso não me encoraja; ao contrário, me desanima. E quando não consigo bater a meta, sua solução é definir objetivos ainda mais altos para “me dar um gás”. Agora me sinto ainda mais desesperado. Cada um de nós aponta o dedo para o outro, mas nenhum de nós aponta o problema. Quando alguém põe a culpa em você — injustamente —, culpá-lo de volta não é a solução. Para o outro, isso vai parecer injusto; pior ainda, ele vai supor que você está procurando desculpas. Então, o melhor é tentar entender as coisas desta maneira: “Qual é a dinâmica entre nós e como cada um está contribuindo para o problema?”. Os gatilhos de identidade não estão focados nem no feedback e nem no emissor, mas em nós. Alguma coisa no feedback faz com que nossa identidade — a percepção de quem somos — fique estremecida. De repente, ficamos inseguros a respeito do que pensamos sobre nós mesmos e isso afasta as chances de uma avaliação de nossas forças e fraquezas. Identidade é a história que contamos a nós mesmos a respeito de quem somos e do que o futuro nos reserva. Quando recebemos um feedback crítico, essa história fica em perigo. Nossos alarmes de segurança soam, os mecanismos cerebrais de defesa se ativam e, antes mesmo que o

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emissor de feedback comece a pronunciar a segunda frase, já estamos nos preparando para o contra-ataque ou para entregar os pontos. Nossa reação pode ir de uma pequena descarga de adrenalina a uma profunda desestabilização. Nem todo mundo fica bloqueado da mesma forma, em reação às mesmas coisas ou durante o mesmo tempo. Essa é a primeira dificuldade para entender os gatilhos de identidade: em um âmbito estritamente biológico, cada um de nós tem “circuitos” distintos e reage à sua maneira a uma informação estressante, assim como cada um tem uma reação diferente a uma volta na montanha-russa. Algumas pessoas mal podem esperar para ir pela segunda ou terceira vez; outros acham que uma única volta pode ter acabado com sua vida. E será que existe algo errado com os comportamentos que acabamos de citar? Se o feedback está

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fora de propósito, ou se o emissor é uma pessoa indigna de confiança, ou se nos sentimos ameaçados, essas reações não são bastante razoáveis? Sem dúvida, são. Nossos gatilhos não representam obstáculos por serem irracionais, mas porque impossibilitam um envolvimento positivo na conversa. É mais fácil trabalhar e conviver com quem deseja olhar para si mesmo. Estar com pessoas de pé no chão e receptivas é revigorante. Quando se está aberto ao feedback, suas relações de trabalho têm mais confiança, mais humor, você contribui de forma mais produtiva e resolve problemas com mais facilidade. Nas relações pessoais, nossa capacidade de lidar com queixas, solicitações e orientação de pessoas queridas é fundamental. Mesmo nos melhores relacionamentos nos decepcionamos um com o outro, magoamos alguém sem querer ou

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— de vez em quando — de propósito. Nossa capacidade de compreender como estamos nos sentindo, por que nos aborrecemos e em quais situações nos chocamos com os demais impulsiona a saúde e a felicidade a longo prazo desses relacionamentos. O simples fato de sermos humanos acarreta uma vida de desafios quanto a nos vermos com clareza, administrar nossas reações emocionais e modificar velhos hábitos. As pessoas são capazes de aprender e mudar? Com certeza. É difícil para todos e, ao mesmo tempo, cada um de nós fazer isso? Pode apostar. A grande alavancagem será ajudar as pessoas a se comunicar com mais eficiência, sabendo que, entre emissor e receptor, é a habilidade do receptor que tem o maior impacto. À medida que o receptor fica mais habilitado a receber — criando impulso — a organização também fica melhor. Todos são impulsiona-


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dos juntos. E não é só o receptor que aprende. Durante uma conversa proveitosa, quem dá o feedback pode chegar a entender por que seus conselhos não estão ajudando ou por que sua avaliação é injusta, e então as duas partes podem enxergar seu relacionamento com mais clareza. Cada um percebe como está reagindo ao outro, mostrando um caminho mais produtivo do que ambos possam ter imaginado antes. Mas é quase impossível fazer qualquer uma dessas coisas de dentro de nossos gatilhos. Assim, cometemos erros que nos fazem descartar um feedback potencialmente útil ou, o que é tão ruim quanto, levamos a sério um feedback que estaria melhor na lata do lixo. Finalizamos com a Oração do feedback, e temos certeza de que você se conectará com a sua melhor entrega hoje, amanhã e sempre. Oração do Feedback Senhor, conceda-me a serenidade para aceitar o feedback que recebo, a coragem para compreender suas nuances e a sabedoria para discernir as informações valiosas que podem impulsionar meu crescimento. Assim como enfrentamos avaliações anuais em nosso planejamento e desempenho, que eu possa encarar o feedback com uma mente aberta e a habilidade

de extrair lições construtivas. Concede-me a humildade para reconhecer que a capacidade de aceitar feedback é uma competência a ser desenvolvida, não uma característica inata. Em momentos de avaliação, que eu possa administrar meus gatilhos emocionais, compreendendo os gatilhos de verdade, gatilhos de relacionamento e gatilhos de identidade que podem comprometer minha capacidade de receber feedback de maneira construtiva. Que eu seja capaz de separar o quê de quem, entendendo que os gatilhos de relacionamento muitas vezes surgem da relação entre quem dá e quem recebe o feedback. Concede-me a sabedoria para discutir claramente as questões de relacionamento e feedback separadamente, evitando que emoções obscureçam a verdadeira essência do retorno. Senhor, nas situações em que meu senso de identidade é desafiado pelo feedback crítico, dá-me a força para enfrentar essas inseguranças e reconhecer que, mesmo em momentos de desconforto, posso encontrar oportunidades de crescimento. Que minha jornada de autodescoberta seja guiada pela compreensão de que, ao lidar com feedback, posso melhorar não apenas como profissional, mas também como ser humano. Que eu possa ser receptivo ao

aprendizado, mesmo quando o feedback parece injusto, e que eu possa discernir as informações valiosas, mesmo nas críticas mais desafiadoras. Concede-me a clareza de mente para entender o que está em meu ponto cego, reconhecendo que, por vezes, as informações úteis podem ser obscurecidas por nossas próprias limitações. Senhor, que eu possa cultivar relacionamentos de trabalho e pessoais baseados na confiança mútua, humor e produtividade. Que minha capacidade de lidar com feedback contribua para a saúde e felicidade a longo prazo dessas relações. Concede-me a graça de compreender que, como ser humano, enfrento desafios constantes na jornada de me ver com clareza, administrar reações emocionais e modificar hábitos antigos. Neste dia e sempre, que eu possa lembrar que o mercado é do tamanho da minha competência, influência e reputação. Que eu possa contribuir positivamente para meu crescimento profissional e pessoal, utilizando o feedback como uma ferramenta valiosa para alcançar meu pleno potencial. Amém. Tenha um excelente dia e hoje e sempre. Pois o mercado é do tamanho da sua competência, influência e reputação.

Michelle Borchardt Silveira - Administradora de empresas com MBA em marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Atua na liderança da área de Customer Success na TOTVS, nos pilares de engajamento, retenção e expansão. Com foco no compromisso genuíno e contínuo com a geração de resultados de negócio para o cliente, conduz estratégias de plano de sucesso, voz do cliente (VoC) e análise de churn. Palestrante nos eventos TDC Business e TDC Innovation. Coautora no livro "Jornada da Experiência do Cliente". Autora do livro "Atitude - A Virtude dos Vencedores" e outros títulos da Coleção Atitude. Voluntária na comunidade luterana, como membro do conselho e diretoria, e no trabalho com crianças. michelle.silveira@totvs.com.br Paulo César Silveira - Criador do conceito mundial da Venda Sustentável. Fundador e professor da Escola da Venda Sustentável. Apaixonado por vendas, com mais de 30 anos de experiência de mercado. Conferencista com mais de 2.800 palestras realizadas em todo o Brasil e em alguns países da América Latina. Contratado por mais de 200 empresas das 500 melhores empresas eleitas pela Revista Exame. Autor best seller de 26 livros. Autor dos livros “A lógica da venda” e “Venda sustentável – A lógica da negociação”. Obras adotadas por centenas de empresas para as áreas comerciais, gestão e estratégia. Professor convidado da FGV/SP, FIA FEA/USP, UDESC e UFRGS. Mentor e um dos responsáveis pela implantação do Projeto Aeroshopping Excelência em aliança com a INFRAERO, em todo o território nacional. Articulista com mais de 1.200 artigos publicados. Realizou mais de 850 processos de consultoria de campo para implantar tanto a Cultura da Venda, como a Gestão do Processo de Venda em empresas nacionais e multinacionais. LinkedIn: Paulo Cesar Silveira. Instagram: @realpaulosilveira

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Matrizes Va

lmasser - Vi

sta aérea

VALMASSER: DA AMIZADE À SOCIEDADE POR GISÉLLE ARAUJO CEMIN

Inovação e avanço tecnológico são as apostas dos sócios para desenvolverem novos projetos

A

Matrizes Valmasser foi fundada em junho de 1989 nasceu da amizade dos atuais diretores Marcos Aurélio Perin e Nei José Costa. Eles se conheceram quando ingressaram em um curso de formação profissional no Senai Nilo Peçanha, por volta do ano de 1980, além da parceria nos estudos, ambos dividiam o ambiente de trabalho. Eles atuaram oito anos em uma mesma matrizaria da cidade. Nei na área de projetos e Marcos na ferramentaria. Enquanto desenvolviam conhecimentos no setor, o desejo de trabalhar por conta surgiu. A experiência adquirida serviu para que eles aplicassem o

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que aprenderam no próprio negócio, assim, criaram a Valmasser. Marcos é Diretor Industrial e Nei, Diretor Comercial. Na fundação, apenas os dois trabalhavam em um galpão pequeno – cedido, no bairro Cruzeiro de Caxias do Sul/RS, onde dividiam o aluguel com outras empresas. “O início foi muito modesto, principalmente porque as condições financeiras e técnicas eram limitadas. Nós executávamos todas as atividades como: compras, vendas, projetos, construção, fabricação de peças, manutenção de ferramentas usadas, ajustes e polimentos”, revela Nei. Com o tempo a empresa se

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transferiu para um espaço independente de aproximadamente 80m² na parte inferior de uma casa, no mesmo bairro, onde permaneceu por três anos. Depois decidiram voltar para o endereço inicial, porém, agora, utilizavam toda a estrutura de 260m². Em 1989, o primeiro projeto feito pela Valmasser foi uma ferramenta de estampo para produzir uma forma de pizza, o cliente era a empresa Brinox. Além disto, os empresários falaram de um dos maiores projetos desenvolvidos. “Foi para a empresa JEEP de Pernambuco. Trabalhamos simultaneamente em três grandes lotes de moldes para os veículos Toro, Renegade e


MEMÓRIAS

Compass”, completa Nei. Já no início da década de 1990, a empresa se destacava na produção de pequenos moldes e ferramentas com excelente padrão de qualidade e atendimento, até então os trabalhos eram destinados exclusivamente para a região de Caxias do Sul. “As peças eram usinadas em máquinas convencionais, muitas etapas de trabalhos eram feitas manualmente”, explica Marcos. Os empreendedores perceberam que podiam avançar, então passaram a diversificar os clientes, buscando novas oportunidades de negócios em mercados ao redor de grandes polos industriais, como Curitiba e São Paulo. “Apesar do mercado local garantir a sustentabilidade da empresa, pensamos em avançar”, comentam. Além de um maior número de clientes, as inovações tecnológicas aumentaram a variedade de produtos no portfólio de fabricação da Valmasser. A empresa começou a desenvolver ferramentas de médio porte como progressivas, transfers e moldes de injeção na linha branca, nesta época já se contava com 20 colaboradores. “Percebemos que era o momento de darmos mais um passo”, acrescenta Nei.

Matrizes V almasser -

Externo

Passados quase dez anos, final da década de 1990, decidiram investir em seu próprio espaço. Iniciou-se a construção da nova e atual sede localizada no bairro Bela Vista. Inicialmente o pavilhão construído tinha cerca de 1.400m² e, em 2010, foi ampliado para 3.400m² de área construída. “Apesar das dificuldades, continuamos investindo e contratando novos colaboradores”, aborda Marcos. Hoje, a empresa conta com 90 profissionais. O fortalecimento do potencial produtivo veio ao encontro de um novo posicionamento no setor. Com a nova sede, o empreendi-

mento estava preparado para atuar no setor automotivo, o que hoje representa uma parcela de 70% das vendas. A empresa está presente nos setores: linha branca (eletrodomésticos), linha automotiva (carros, caminhões e ônibus), linha amarela (retroescavadeiras, empilhadeiras, tratores, escavadeiras) e no setor de energias. Entre as principais atividades: projeto e fabricação de moldes de injeção plástica, projeto e fabricação de ferramentas de corte e estampo, progressivas e transfers,

tagem

e ajus

Setor d

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MEMÓRIAS

usinagem de grande porte para setores agrícolas, energias e demais segmentos. “Temos excelentes parcerias nos negócios. Alguns de nossos clientes são: General Motors, Marcopolo, Renault, Stellantis, Volkswagen, Electrolux, Esmaltec e Itatiaia”, elenca Nei. Para chegar onde está, a Valmasser precisou fortalecer ainda mais sua posição, foi necessário avaliar os setores e formular estratégias de trabalho, investindo em tecnologia e inovação e apresentando soluções técnicas competitivas e com alta qualidade para os seus clientes. “Em determinados períodos, o câmbio favoreceu as exportações, então abrimos mercado e comercializamos produtos para o México, o Equador e a Argentina”, aborda Marcos. Para ele, um divisor de águas na história da Valmasser foi no ano de 2010, quando foi feita a primeira exportação de um grande lote de ferramentas e moldes para o Equador e México. E, hoje, com o mercado globalizado, a Valmasser está homologada a fornecer mundialmente para alguns clientes. Somos direcionados a competir diretamente em preço, prazo e qualidade com alguns países do Leste Europeu, Portugal e, principalmente, Ásia. Atualmente a empresa tem capacidade fabril de 26.200 horas/ano na Engenharia, 28.500 horas/ano na Programação CNC, 158.600 horas/ ano na Usinagem e 58.200 horas/ ano na Montagem/Ajustagem. O FUTURO “Para o futuro, um dos objetivos principais é buscar novas tecnologias e inovações para que a Valmasser consiga ser ainda mais produtiva e competitiva, estudar formas para redução de tempo e custos, prezando sempre pela qualidade”, destacam. Planejam também aumentar o percentual de exportações. Além disso, o processo de sucessão familiar está nos planos do negócio. Atualmente seus filhos cursam faculdade nas aéreas de engenharia e já estão inseridos nos setores de projetos da empresa. 56

Sócios

Nei e

s

Marco

Marcos e Nei entendem que eles precisam conhecer o processo em todas as suas etapas, adquirir conhecimento técnico e experiência, que realmente vivenciem o dia a dia dentro da Valmasser. Nei destaca que já enfrentaram muitos desafios “Posso citar como maiores o de se adaptar às diversas mudanças no cenário econômico nacional e também a competitividade ferrenha perante a concorrência no mercado mundial”. Apesar delas, os empresários acrescentam que a inovação e os avanços tecnológicos auxiliam na criação de novos projetos e na construção dos ferramentais. “No decorrer destes anos foram muitas as melhorias neste sentido, porém também aumentaram e muito o número de concorrentes, fazendo com que hoje a Valmasser concorra com fornecedores a nível global”. O crescimento faz parte da cultura organizacional da empresa. “Porém, ele não existiria sem o esforço, a dedicação e o trabalho per-

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manente de todos os profissionais altamente qualificados, envolvidos e comprometidos em sempre entregar o melhor para os nossos clientes, fazendo com que a Valmasser ao longo desses quase 35 anos, ainda seja uma referência na produção de moldes e matrizes”, agradecem Nei e Marcos.

Matrizes Valmasser Ltda Rua Conde D”Eu, 741 – Bela Vista – Caxias do Sul/RS 95076-090 + 55 54 3228-4566 valmasser.com.br


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ENFOQUE

SEMPRE LIGADO

Fique por dentro das novidades tecnológicas do mundo da ferramentaria.

ROMI A mandrilhadora Romi Lazzati HBM 130T, com CNC Siemens, apresenta alta capacidade de remoção de cavacos, flexibilidade, precisão e produtividade nas operações de fresamento, furação e rosqueamento de peças de grande porte, como as utilizadas pelos setores de petróleo, etanol, naval, eólico, siderúrgico, ferramentais de grande porte e outros da indústria de base. Equipada com mesa rotativa NC (eixo B), permite o posicionamento de peças em qualquer ângulo, possibilitando a usinagem de peças complexas e com interpolações. Pode suportar peças de até 12.000 kg e altas cargas de usinagem, com excelente estabilidade do conjunto. Para manter a estabilidade térmica e precisão da usinagem, a máquina é equipada com sistema termo estabilizador, que dissipa o calor gerado pelos mancais de rolamentos do eixo-árvore. As principais características

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técnicas são: diâmetro da manga do cabeçote com 130 mm; cone da manga do cabeçote ISO 50; faixa de rotação da árvore de 5 a 3.000 rpm; curso vertical do cabeçote (eixo Y) de 2.000 (ou 2.500) mm; curso da mesa (eixo X) de 4.000 mm; curso longitudinal da coluna (eixo Z) de 1.800 mm; curso da manga (eixo W) com 800 mm; superfície da mesa rotativa NC com 1.500 x 2.000 mm; peso admissível (uniformemente distribuído) de 12.000 kg; magazine com capacidade de 60 ferramentas; e motor principal (regime S2 – 30 min) de 79 CV /58 kW.

moldes e matrizes e está entre as maiores do mundo. Atende os segmentos de cerâmica de pisos e revestimentos, telha via seca e úmida, artefatos de concreto e prensagem de louças. Em sua linha de produtos, desenvolve fixadores de moldes no sistema magnético. Recentemente lançou no mercado sua nova linha de placas com tecnologia eletro permanente. As placas eletromagnéticas Icon são construídas em aço de alta permeabilidade magnética, bobinas com condutores e isolação especial. Possuem forte campo magnético que proporciona uma fixação segura, tornando-se uma solução eficiente e econômica. Já as placas eletro permanentes Icon são desenvolvidas com imãs de alto desempenho, como Neodímio e Alnico. Estas placas são a resposta ideal para redução de tempos de setup, impulsionando a produtividade e garantindo segurança durante a usinagem. A empresas fornece atendimento personalizado e assistência técnica em todas as fases do pré e do pós-vendas. As placas podem ser fabricadas de acordo com as exigências do cliente, inclusive com definições específicas de dimensões, distribuição dos polos e do peso.

(19) 3455-9000 romi.com.br ICON A Icon Matrizes e Moldes é conhecida pelo pioneirismo e soluções inovadoras que fazem a diferença na produção das indústrias cerâmicas, considerada a maior especialista nacional no segmento de

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(48) 3431-1800 empresasicon.com.br


ENFOQUE

AUTOFORM A AutoForm oferece uma gama completa de treinamentos sobre tópicos que abrangem toda a cadeia de processamento de chapas metálicas. Nesses cursos são oferecidas informações mais detalhadas sobre os softwares, permitindo aos usuários tomarem as decisões corretas durante as simulações de conformação de chapas metálicas. Os cursos de treinamento são oferecidos em dois níveis: básico e avançado. A pedido, também podem ser ofertados cursos personalizados.

Todos os usuários de produtos AutoForm podem tirar proveito dos cursos, independentemente do seu nível de experiência. Usuários experientes podem ampliar seus conhecimentos e especialização técnica, assim como ter uma visão global sobre os recursos avançados do software. Além disso, a AutoForm oferece cursos de treinamento fundamentais em conformação de chapas metálicas para projetistas de produto, ferramenteiros e engenheiros de processos e métodos, de estampagem e de produção. A equipe de treinamento altamente qualificada está capacitada para demonstrar e ensinar os meios mais eficazes de uso do software AutoForm para qualquer aplicação na engenharia e manufatura de chapas metálicas. (11) 4122-6777 autoform.com CASAFER A estação para limpeza dos circuitos de refrigeração de moldes CDC, comercializada pela Casafer, foi projetada para remover calci-

ficações nos circuitos de refrigeração dos moldes. Durante o processo de moldagem, esse tipo de calcificação impregna nas paredes dos circuitos, obstruindo o fluxo de água e limitando a eficácia do resfriamento. O próprio calcário atua como uma camada de isolamento entre o fluido de refrigeração e o molde. Um milímetro de depósito de calcário isola 10 mm de aço, sendo assim, um circuito com calcificação tem efeito semelhante ao deslocamento dos canais em vários milímetros da superfície de moldagem. O equipamento é fornecido com dois tanques, um contendo solvente líquido e outro líquido neutralizador. O primeiro líquido descalcifica os depósitos de calcário, enquanto o neutralizador restringe a ação corrosiva do solvente ocasionalmente deixado no circuito.

A CDC é totalmente pneumática e equipada com um dispositivo de esvaziamento automático do circuito de refrigeração. É capaz de limpar os circuitos desde que seja garantida uma vazão mínima do solvente. Se o canal estiver completamente fechado, não é possível trabalhar com a CDC. Para otimizar o desempenho de limpeza do equipamento CDC, sugerimos a limpeza dos circuitos de refrigeração individualmente, para garantir a va-

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ENFOQUE

zão do solvente. Se mais circuitos forem conectados em paralelo, o solvente fluirá automaticamente onde a queda de pressão for menor e a eficácia de limpeza será menor nos canais obstruídos. No caso de manutenção padrão, no entanto, é possível usar um CDC com maior vazão, capaz de alimentar mais circuitos ao mesmo tempo. Focando nesse objetivo, o CDC C120-P100 foi desenvolvido, com fluxo de 45 litros/ minuto e tanque de 120 litros. (47) 3027-1019 casafer.com.br CIMACAD A Cimacad faz a comercialização, presta assistência técnica e ministra cursos de formação profissional para o software Cimatron, solução integrada CAD/CAM para ferramentarias e usinagens, o qual fornece total associatividade através do processo de fabricação desde o orçamento, passando pelo desenvolvimento, confecção até a entrega. Atualmente na versão 2024, o sistema oferece uma nova interface de usuário limpa e com maior automação para design de moldes mais rápido, criação de eletrodos e programação NC para fabricantes de ferramentas. Funcionalidade poderosa dedicada à fabricação de ferramentais inclui superfícies de adendo de matriz, manipulação de malha e detalhamento de desenho. O Cimatron 2024 continua a priorizar os principais recursos, enquanto incorpora novas tecnologias através da colaboração com Sandvik Coromant. Com inúmeras novas funcionalidades em todas as áreas do produto, o Cimatron 2024 é um lançamento significativo que se concentra em 5 áreas-chave: Automação, Experiência Simplificada do Utilizador (UX), Produtividade, Gestão de Processos e Conectividade Digital. As melhorias gerais da UI in-

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cluem atualizações avançadas para o fluxo de trabalho do utilizador, tais como o espaçamento entre múltiplas vistas, processamento em lote para atualizações no desenho 2D, controlo da tangência no Blend e uma nova opção no Cap Internal Island. também introduz uma nova interface gráfica de utilizador para melhor controlo no desenho, uma visualização melhorada da análise de saídas e uma seleção automática em cadeia de chanfros. Os utilizadores de CAD também desfrutarão de novas funções para desenho 2D, tal como a importação de PDFs como geometria e texto reais, o novo dimensionamento de distância mínima, melhorias na simbologia, dados geométricos e tolerância (GD&T). Os fabricantes de moldes adquirem melhorias poderosas de CAD para a construção de nervuras (rib), com a possibilidade adicional para trabalhar com várias linhas em uma única operação e extensão automática do rib até às paredes laterais da peça. Adicionalmente, na nova versão pode ser criado um rib parcial em cenários complexos onde um rib completo não consegue ser produzido. No projeto do molde, a construção de canais 3D foi melhorada, proporcionando um melhor controlo da conceção com base no volume constante, na orientação vertical ou na orienta-

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ção da seção. O desenho do elétrodo é um aspeto crítico no processo de produção do molde. A versão 2024 inclui automatismos na operação Burn Body, para otimizar a forma do corpo do elétrodo, o controlo das extensões do mesmo e das regras de corte. Os fabricantes de matrizes passam a conseguir facilmente construir geometria de drawbead 3D para controlar o fluxo de material durante a operação de desenho, a fim de alcançar a formação ideal de uma peça sem defeitos. A nova rotina gerará um drawbead com base no tipo de seção e automaticamente unir ao Binder. O Enhanced Automatic Feed Control (AFC) foi completamente reestruturado e otimizado para a remoção de stock em operações de desbaste, controlando automaticamente o avanço, o que resulta em um movimento mais suave, tempos de fresagem mais rápidos, maior vida útil da ferramenta e menos alterações no spindle e nos eixos da máquina. Os testes de benchmark, realizados pela Sandvik Coromant, reduziram o tempo de corte em mais de 10% em máquinas CNC. O Cimatron 2024 introduz um novo procedimento deburring de 3 eixos para criar chanfros ou raios ao longo de arestas. Os utilizadores de CAM podem produzir chanfros de largura ou profundidade constan-


ENFOQUE

tes, bem como raios de largura ou raio constantes. Para a fresagem a 5 eixos, o software permite agora o uso automático do stock restante, das operações a 3 eixos anteriores, durante o desbaste. Isto possibilita o uso de ferramentas mais curtas para maior estabilidade. O percurso 5-axis auto tilting foi significativamente melhorado no tempo de cálculo até 25 vezes em alguns casos. Este aumento significativo da eficiência aumenta a produtividade e reduz o tempo geral de maquinação. O sistema está 70% mais rápido no tempo de entrega e tem interface única entre CAD e CAM, contando com mais de 40 mil licenças distribuídas mundialmente.

denominado Bloco para Vácuo é conectado ao molde e possui refrigeração, cuja par te interna é formada por paredes finas e é ondulada com o objetivo de solidificar dentro do bloco o metal líquido que flui através deste. Antes que o líquido adentre o bloco, são sugados, por vácuo, o ar e os gases do interior do molde.

(47) 3435-6428 cimacad.com.br W FISCHER Na injeção sob pressão de alumínio e magnésio, especialidade da WFischer Técnica, ocorre uma condição que depende da aplicação da peça produzida no processo final, fazendo ela ser aprovada ou rejeitada. Essa condição diz respeito a porosidade incorporada na peça injetada, que surge principalmente pelos gases presos oriundos do interior da câmara e da cavidade do molde. Estes gases são compostos de ar, vapor e desmoldante. Pequenas saídas de ar são utilizadas comumente, mas muitas vezes insuficientes. Procedimentos quanto ao projeto do molde e recursos de regulagem da máquina injetora poderão reduzir consideravelmente o problema, porém não totalmente. Uma forma de minimizar este problema é “sugando” os gases, a par tir de um equipamento com tanque para vácuo, bomba à vácuo, conjunto de controles e dispositivo de fechamento para que o metal líquido não saia para a atmosfera. Este dispositivo

A Wfischer fornece este bloco com a aparelho, que tem capacidade de 40 m3/h de vácuo, tanque de 350 litros e automação através de CLP. O sistema é composto por dois controles distintos para dois blocos de vácuo e efetua medições, em cada injetada e em ambos os blocos, quanto ao vácuo obtido e a existência de obstrução com impurezas, quando da aber tura do molde. Os Blocos de Vácuo WFischer possuem os tamanhos pequeno, médio e grande. São várias as vantagens do uso da tecnologia WFischer, a saber: não possui peças móveis e permite a retirada de ar e gases até o total preenchimento do molde; controle preciso do avançamento do metal nas ondulações do bloco; o metal líquido em excesso aumentará a espessura do mas-

salote (bolacha/biscoito) dentro da câmara de injeção; e permite o uso de lubrificantes como óleo ou pelotas de cera sem interferência no processo de vácuo. (47) 3027-1605 wfischer.com.br COSA O torno multitarefa DL-20MH, comercializado pela COSA INTERMÁQUINAS, é uma máquina-ferramenta de controle de malha semifechada de três eixos utilizado para torneamentos, perfuração e fresamento. Está disponível com as seguintes características técnicas: máximo volteio sobre o barramento com Ø 400 mm; máximo comprimento torneável de 500/900 mm; máximo diâmetro torneável (eixo/disco) igual a 260/380 mm; dimensão da placa padrão de 8 polegadas; padrão do nariz do spindle ASA A2-6; diâmetro do furo do spindle de 76 mm; passagem de barras com Ø 65 mm; faixa de rotação do spindle de 4.000 rpm; potência do motor do spindle com 11 kW; cursos máximos dos eixos X e Z iguais a 265 e 640/1.040 mm respectivamente; torre por servomotor AC com 12 posições; dimensão do encaixe da ferramenta de 25 x 25 mm; manga do contra ponto com Ø 85 mm; curso da manga do contra ponto com 139 mm; CNC Fanuc Oi; barramento inclinado a 45º; guias lineares; peso total de 4.000 kg; e dimensões totais de 4.330 x 1.910 x 1.880 mm.

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CIRCUITO BUSINESS

CURSOS, EVENTOS E FEIRAS EVENTOS, FEIRAS E WEBINARS

JANEIRO 2024 05 a 08 - Bhopal, ìndia Indore Engineering & Manufacturing Expo - Tecnologias de Fabricação (+91) 89 5533 0467 tradeshows.tradeindia.com 05 a 08 - Faridabad, Índia Indus Tech Expo - Feira Internacional de Máquinas-Ferramenta (+91) 89 5533 0467 industechexpo.com 18 a 21 - St. Petersburg, Rússia Power and Sailboat Show - Feira Internacional de Náutica - Motor e Vela (+7) 954-463-6762 stpeteboatshow.com 18 a 21 - Los Angeles, EUA A&D Supply Chain Americas - Aviation Week - Feira Internacional de Fornecedores para Aviação (+1) 440 539 0728 adsupplychain.aviationweek.com 31 a 02/02 - Pasay City, Filipinas Propak Philippines - 4a Feira Internacional de Processamento e Embalagem (+44) 0 78 669 18897 propakphilippines.com FEVEREIRO 2024 01 a 03 - Pordenone, Itália SamuMetal - Feira Internacional de Solda, Metalúrgia e Fundição (+39) 434 232 111 samuexpo.com 05 a 08 - Dubai, EAU Medlab Middle East - Feira de Produtos e Serviços para Laboratórios Médicos (+971) 4 408 2888 medlabme.com 06 a 08 - Anaheim, EUA Excelência em Manufatura Avançada para Equip Médicos, Automação, Plás-

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ticos, Embalagem e Design (+1) 310 857-7365 imengineeringwest.com 14 a 15 - San Jose, Costa Rica MRO Latin America - Aviation Week Feira Internacional de Fornecedores para Aviação (+1) 561 279-4646 mrolatinamerica.aviationweek.com MARÇO 2024 13 a 15 - Cidade de Ho Chi Minh, Vietnã Plastic & Rubber Vietnam - Feira do Plástico e Borracha (+84) 28 3622-2588 plasticsvietnam.com ABRIL 2024 23 a 26 - Stuttgart, Alemanha Control - Feira Internacional para Garantia da Qualidade (+49)7025 9206-651 control-messe.de 23 a 26 - Wels, Áustria Intertool - Feira Austríaca de Tecnologia de Fabricação (+43) 1 72720 2022 intertool.at

08 a 11 - Pinhais, PR Autopar - Feira de Fornecedores da Indústria Automotiva (+55) 41 3075-1100 diretriz.com.br 14 a 17 - Stuttgart, Alemanha Grinding Hub - Feira Internacional de Retificação e Qualidade Superficial (+49) 711 18560 2641 grindinghub.de 15 a 18 - Bangcoc, Tailândia Intermach - Feira de Máquinas Industriais e Subcontratação (+66) 2036 0500 intermachshow.com 15 a 18 - Bangcoc, Tailândia Plastic & Rubber Thailand - Feira do Plástico e Borracha da Tailândia (+66) 2036 0500 plasticsrubberthailand.com 15 a 18 - Kuala Lumpur, Malásia Metaltech - Feira de Máquinas-Ferramenta, Processamento de Metais e Automação (+603) 9771 2688 metaltech.com.my JUNHO 2024

29 a 03/05 - Ribeirão Preto, SP Agrishow - Feira de Tecnologia Agrícola (+55) 11 5043-9680 agrishow.com.br

03 a 07 - Bilbao, Espanha BIEMH - 31 Feira Espanhola de Máquinas-Ferramenta (+34) 94 404 00 00 biemh.com

MAIO 2024

04 a 06 - Stuttgart, Alemanha Cast Forge 2024 - Feira de Metalúrgia e Fundição (+49)7025 9206-651 messe-stuttgart.de

06 a 10 - Orlando, EUA NPE 2024 - Feira do Plástico 805 610-0034 npe.org 07 a 11 - São Paulo, SP Feimec 2024 - Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos (11) 3164-1160 feimec.com.br

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18 a 20 - Stuttgart, Alemanha Electric & Hybrid Europe - Feira Européia de Tecnologia para Veículos Elétricos e Híbridos (+49)7025 9206-651 messe-stuttgart.de


CIRCUITO BUSINESS

17 a 21 - Joinville, SC Jornada Internacional ISTMA America 2024 (+55) 47 3227-5290 abinfer.org.br 18 a 20 - Stuttgart, Alemanha The Battery Show Europe - Feira Européia de Tecnologia em Baterias (+49)7025 9206-651 messe-stuttgart.de 18 a 21 - São Paulo, SP Fispal Tecnologia - Feira de Soluções para a Indústria de Alimentos e Bebidas (+55) 11 3164-1160 fispaltecnologia.com.br 20 a 21 - Joinville, SC ENAFER 2024 - Encontro Nacional de Ferramentarias (+55) 47 3227-5290 abinfer.org.br AGOSTO 2024 13 a 16 - Joinville, SC Interplast 2024 - Feira e Congresso de Integração de Tecnologia do Plástico (47) 3451-3000 messebrasil.com.br SETEMBRO 2024 09 a 14 - Chicago, EUA IMTS 2024 - Feira Internacional de Tecnologias em Manufatura (+1) 703 827-5215 imts.com 10 a 14 - Stuttgart, Alemanha AMB - Feira Internacional para o Processamento de Metais - Conformação (+49)7025 9206-651 messe-stuttgart.de

17 a 20 - Chapecó, SC EletroMetalMecânica - Feira e Congresso de Tecnologia para a Indústria EletroMetalMecânica (+55) 47 3451-3000 messebrasil.com.br OUTUBRO 2024 08 a 10 - São Paulo, SP FutureCom - Feira e Congresso de Tecnologias Emergentes (+55) 11 98900-5717 futurecom.com.br 08 a 10 - Düsseldorf, Alemanha Aluminium - Feira de Tecnologias para o Alumínio (+49) 211 90191-470 aluminium-exhibition.com 08 a 10 - Querétaro, México MexiMold 2024 - Feira Internacional de Moldes para Plásticos e Manufatura Aditiva (+52) 81 1553-7339 meximold.com 16 a 17 - Mineapolis, EUA Excelência em Manufatura Avançada para Equip Médicos, Automação, Plásticos, Embalagem e Design (+1) 310 445-4273 advancedmanufacturingminneapolis.com

MARÇO 2025 24 a 28 - São Paulo, SP Plástico Brasil - Feira Internacional do Plástico +55 11 99376-1322 plasticobrasil.com.br MAIO 2025 06 a 09 - Stuttgart, Alemanha Moulding Expo - Feira Internacional de Ferramentaria, Modelos e Máquinas (+49) 711 18560-0 messe-stuttgart.de 06 a 10 - São Paulo, SP Expomafe - Feira Internacional de Máquinas-Ferramenta e Automação Industrial (+55) 11 97245-3617 expomafe.com.br JULHO 2025 15 a 18 - Joinville, SC Intermach 2025 - Feira e Congresso de Tecnologia, Máquinas, Equipamentos, Automação e Serviços para Indústria MetalMecânica (+55) 47 3451-3000 messebrasil.com.br

22 a 25 - Hanover, Alemanha Euroblech - 27 Feira Internacional de Tecnologias em Processamento de Chapas Metálicas (+44) 1727 814-451 euroblech.com NOVEMBRO 2024 05 a 08 - Belo Horizonte, MG SIM - Semana Industrial Mineira Feira de Produtos e Serviços para a Indústria (+55) 41 3075-1100 diretriz.com.br

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E S PAÇO L I T E R Á R I O / CONEXÃO WWW

DICAS DE LEITURA Livros para você se inspirar

MANUAL DE TREFILAÇÃO - ABORDAGEM PRÁTICA O livro oferece conhecimentos práticos e de fácil compreensão, com dicas de produtividade e recomendações de segurança no ambiente de trabalho. Cálculos complexos foram transformados em fórmulas simples que podem ser resolvidas com uma calculadora básica. Há também tabelas e vasto material gráfico que proporcionarão ao leitor uma boa visualização dos processos envolvidos, contribuindo para o melhor entendimento da área. Aos que desejam um conhecimento mais profundo sobre o tema, as referências bibliográficas serão um ótimo ponto de partida. Tem 118 páginas. 1ª edição. 2023. ISBN 978-65-55066-10-4. blucher.com.br

THE DIGITAL TWIN (O GÊMEO DIGITAL) O livro aborda a importância dos gêmeos digitais, uma tecnologia que conecta o mundo real ao virtual, impulsionando inovação e solucionando problemas complexos. Viabilizado por conectividade, computação, armazenamento e dados digitais, o gêmeo digital influencia positivamente a produção, serviços, entretenimento e negócios, sendo fundamental para um futuro sustentável. A obra reúne especialistas para discutir seu impacto em várias indústrias, oferecendo insights sobre implementação e casos práticos. Destinado a profissionais e estudantes, possui 940 páginas e foi publicada pela Editora Springer em 2023. ISBN 978-30-31213-42-7. Em inglês. springer.com

WWWEBSITES SENAI Com mais de 80 anos de atuação, o SENAI-SP supera 1 milhão de matrículas anuais, abrangendo desde cursos para a qualificação básica até a pós-graduação, nas modalidades presencial, semipresencial e online. São 92 unidades de formação profissional distribuídas em todo o estado de São Paulo, além de 78 escolas móveis, que levam soluções customizadas para a indústria. A instituição oferece soluções em inovação e tecnologia, atuando nas mais diversas áreas de competência, como alimentos e bebidas, biotecnologia, energias renováveis, manufatura avançada e logística, reunindo profissionais qualificados e infraestruturas tecnológicas, como o Centro de Conectividade, o Laboratório de CyberSegurança, e o OpenLab da Indústria 4.0. Na área de empreendedorismo industrial, atua como o principal agente impulsionador da Inovação Aberta para a Indústria, dando suporte para que startups de base tecnológica desenvolvam suas tecnologias e modelos de negócios, promovendo a colaboração entre atores do ecossistema e impulsionando a transformação e a competitividade do setor industrial. sp.senai.br/cursos/0/fabricacao-mecanica-e-mecanica-industrial

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OPINIÃO

O PROPÓSITO NA PRÁTICA EMPRESARIAL P O R E M Í L I O D A S I LVA N E T O

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o recrutamento ao eventual desligamento em uma empresa, todos os colaboradores valorizam uma experiência humanizada e autêntica, em que o reconhecimento do valor de sua contribuição seja bem claro. Além disso, esperam que a empresa os enxergue em sua totalidade, com suas características e habilidades pessoais, e que exista respeito por seu contexto de vida. Nesse quesito, ações voltadas à diversidade e inclusão tornam-se fundamentais, não somente para dar voz a essas necessidades específicas, mas também para consolidar a posição da empresa como uma marca efetivamente sustentável do ponto de vista social. Também, é importante considerar que cada vez mais os profissionais buscam o difícil equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e esse, talvez, seja um dos critérios mais importantes para alguém se candidatar à determinada vaga. Em resposta a esse toque humanizado, os trabalhadores profissionais sentem-se mais conectados e engajados com suas atividades e o propósito da empresa, refletindo em um clima organizacional mais saudável e melhores índices de produtividade. Ainda nesse tópico, cabe ressaltar que a flexibilidade inclui também a possibilidade de executar o trabalho a partir de qualquer lugar. Essa prática da jornada híbrida ou remota, realizada às pressas e sem muita reflexão surgida no momento de uma crise sanitária (pandemia do Covid 19), se estabeleceu definitivamente entre os modelos de trabalho. E, hoje, com direcionais mais definidos, tende a ser um fator de “encantamento” e atração de profissionais altamente qualificados, que anseiam por oportunidades que permitam a realização de

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suas demandas de qualquer lugar do mundo, o que há pouco tempo era um privilégio raro dos chamados nômades digitais. Neste aspecto, os líderes devem ser o ponto de conexão entre a empresa e os colaboradores para possibilitar o desenvolvimento e o engajamento de toda a equipe e seus liderados, devendo, portanto, estar preparados para assumir com efetividade este papel. Assim, nesse sentido, é essencial investir na habilidade de pessoas para que se tornem líderes inspiradores e comprometidos com a cultura da empresa. De acordo com a McKinsey, colaboradores com experiências positivas têm 16 vezes mais engajamento do que funcionários infelizes com a empresa, além de 8 vezes mais chances de permanecer na empresa. Enfim, ainda que permeado por incertezas, o futuro do trabalho já está entre nós e se constrói rapidamente, sem muitas oportunidades de planejamento prévio e sem possibilidade de retorno ao que vivíamos antes. Nesse sentido, a parceria entre empresas, líderes e colaboradores nunca foi tão importante, já que essa força coletiva possibilita o estabelecimento de interesses comuns sem subjugar as necessidades individuais. Portanto, espera-se que, ao longo desse processo, persista uma cultura de colaboração, inclusão e responsabilidade, que beneficie o desempenho das empresas e a satisfação dos profissionais de maneira justa e equilibrada para ambos. Espera-se, enfim, em resumo, que a nova geração de líderes, além das tradicionais competências técnicas e analíticas voltadas para o negócio, desenvolva um olhar relacional e empático, estimule uma cultura social ampla, favoreça a autonomia, resultando disso tudo um generalizado

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senso de pertencimento à equipe. Em outras palavras, o estabelecimento de um propósito empresarial deve significar não só a criação de valor para os clientes externos da empresa, mas, também, para os seus clientes internos, isto é, os membros e líderes da equipe. E o resultado conjunto da colaboração para atingimento do propósito final, tanto para os profissionais quanto para as empresas e seus clientes, carece de alinhamento e resiliência, principalmente nas horas de (oxalá, não tão cedo, novamente) crises. O ano de 2023 foi instavelmente difícil para quase todas as empresas e profissionais líderes. E os comportamentos de cada indivíduo profissional foram também diversos, normalmente demonstrando confusão em meio às radicalidades políticas e, disto, muito medo com o futuro. Neste ponto vale lembrar, então, uma velha estória, com fundo moral, de uma filha de um cozinheiro que reclamava que quase tudo dava errado e que ela nunca saía do lugar. Então, sem falar uma palavra, o pai levou a menina para a cozinha, colocou 3 panelas em fogo alto, esperou a água ferver e colocou em cada uma delas, separadamente, batatas, ovos e grãos de café. Depois de 20 minutos, ele desligou o fogo e pediu para a filha tocar na batata macia, no ovo duro e dar uma olhada no cheiroso café diluído. A filha, intrigada, perguntou: “pai, o que você quer demonstrar com isso?". E o pai, rapidamente explicou: “minha filha, as batatas, os ovos e os grãos de café enfrentaram a mesma adversidade - a água fervente - e cada qual reagiu de uma forma diferente. Moral da estória: anos difíceis derrubam alguns, não fazem cócegas em outros, e para muitos os fortalecem ... Que sejamos mais fortes neste 2024, que ora se inicia!

Emílio da Silva Neto, PhD / Dr. Ing. Empresário e consultor emiliodsneto@gmail.com


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