O Livro do Ano 2011

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nossas vidas, para essa cidade, que o senhor contemple a questão do seu coração”. Em seu depoimento à polícia, Durval Barbosa disse ainda que os empresários já não aguentavam mais a cobrança de propina. Em outra gravação, a diretora da Uni Repro, Nerci Soares, uma empresa de São Paulo que prestava serviços ao governo, entrega uma sacola ao então secretário de relações institucionais e ele conta o dinheiro. Nerci deixa a sala e Durval mostra uma caixa cheia de dinheiro.

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Política

Barbosa, em uma gravação de agosto de 2006. O vídeo levava à suspeita de que o esquema começou antes mesmo de Arruda ser eleito governador. No inquérito, Barbosa diz que um funcionário de Paulo Octavio, Marcelo Carvalho, era quem buscava o dinheiro, que seria distribuído fartamente sempre a portas trancadas. Segundo ele, Leonardo Prudente, presidente da Câmara Legislativa, recebeu uma quantia tão grande de dinheiro que ficou sem espaço nos bolsos e escondeu nas meias. Na gravação, a líder do governo na Câmara Legislativa, Eurides Brito, também recebe. Momentos depois, o deputado distrital, corregedor da Câmara — responsável por investigar eventuais desvios de conduta de parlamentares —, que é também representante da bancada evangélica, Junior Brunelli (PSC), e o presidente da Câmara, Leonardo Prudente e Durval Barbosa, fazem oração para agradecer o dinheiro recebido: “Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos, mas é o teu sangue que nos purifica de todo bem. Pai, nós somos gratos pela vida do Durval, que tem sido um instrumento de benção para

meaçado de expulsão pelo partido, Arruda anuncia, no dia 10 de dezembro de 2009, seu desligamento do Democratas e sua desistência da vida pública, alegando ser alvo de “um triste espetáculo de cenas e imagens montadas com óbvias motivações políticas”. Arruda declarou deixar o partido a fim de poupar os companheiros de legenda de ter que decidir entre saciar a sede por atos radicias e mediáticos, ou “julgar com amplo direito de defesa e cumprimento dos prazos estatutários”. Na ocasião, o então governador alegou ainda que iria se dedicar “inteiramente à administração pública” local e “a trabalhar por Brasília”. Mas, em fevereiro de 2010, Arruda, já com a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de suborno, entregou-se à Polícia Federal. O pedido de prisão era relativo à tentativa de suborno do jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do escândalo, que teria sido para obstruir as investigações do esquema de arrecadação e pagamento de propina. O pedido foi feito em denúncia apresentada contra Arruda e os outros cinco acusados por formação de quadrilha e corrupção de testemunha.

Além dele, o deputado Geraldo Naves (DEM), Wellington Morais, ex-secretário de Comunicação do DF, Haroldo Brasil de Carvalho, ex-diretor da Companhia Energética de Brasília, e Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular de Arruda, tiveram suas prisões decretadas. Com a prisão de Arruda, o então vice-governador Paulo Octávio assumiu o governo. Enquanto isso, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou o mandato do ex-governador por infidelidade partidária. Paulo Octávio, no entanto, durou apenas 12 dias no cargo, uma vez que seu nome também estava envolvido nas denúncias. Paulo Octávio foi substituído pelo presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), que foi obrigado a convocar eleições indiretas. Em abril de 2010, o advogado Rogério Rosso foi eleito governador para um mandato tampão até o dia 1º de janeiro, quando assume o petista Agnelo Queiroz, eleito no segundo turno das eleições. Em abril de 2010, no entanto, Arruda teve a sua prisão revogada pela Corte Especial do STJ. “Não mais subsiste a necessidade de prisão. Não há mais como o preso influir na instrução criminal, mesmo porque ele não sustenta mais a condição de governador de Estado”, afirmou o relator do caso, ministro Fernando Gonçalves, cujo entendimento foi seguido por maioria. A decisão do STJ valeu também para os outros cinco denunciados que estavam presos. Foram soltos, além de Arruda, o suplente de deputado distrital Geraldo Naves, o ex-secretário de Comunicação, Wellington Moraes, o conselheiro do Metrô, Antônio Bento da Silva, o secretário particular de Arruda, Rodrigo Arantes Diniz, e o ex-diretor da CEB Haroaldo de Carvalho. n


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